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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE


CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

TRABALHO E SAÚDE: ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE CONDIÇÕES DE


TRABALHO E MOTIVAÇÃO NO EMPREGO E SUAS INTERFACES COM A
SAÚDE DOS PROFISSIONAIS NOS HOSPITAIS PÚBLICOS

IANA VASCONCELOS MOREIRA ROSADO

NATAL-RN
2015
IANA VASCONCELOS MOREIRA ROSADO

TRABALHO E SAÚDE: ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE CONDIÇÕES DE


TRABALHO E MOTIVAÇÃO NO EMPREGO E SUAS INTERFACES COM A
SAÚDE DOS PROFISSIONAIS NOS HOSPITAIS PÚBLICOS

Tese apresentada ao Programa de Pós-


graduação em Ciências da Saúde da
Universidade Federal do Rio Grande do
Norte como requisito para a obtenção do
título de Doutora em Ciências da Saúde.

Orientadora: Profª Drª Eulália Maria Chaves Maia


Co-orientadora: Profª Drª Gláucia Helena Araújo Russo

NATAL-RN
2015
ii
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE

Coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde:


Prof. Dr. Eryvaldo Socrates Tabosa do Egito

iii
IANA VASCONCELOS MOREIRA ROSADO

TRABALHO E SAÚDE: ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE CONDIÇÕES DE


TRABALHO E MOTIVAÇÃO NO EMPREGO E SUAS INTERFACES COM A
SAÚDE DOS PROFISSIONAIS NOS HOSPITAIS PÚBLICOS

Aprovada em 01/12/2014

Banca examinadora:

Presidente da Banca:
Profª Drª Eulália Maria Chaves Maia (UFRN)

Membros da Banca:
Profª Drª Divanise Suruagy Correia (UFAL)
Prof. Dr. Gilson de Vasconcelos Torres (UFRN)
Profª. Drª Sâmya Rodrigues Ramos (UERN)
Profª Drª. Tatiana de Lucena Torres (UFRN)

iv
DEDICATÓRIA

Aos profissionais e usuários do Sistema Único de Saúde,


que cotidianamente enfrentam inúmeras adversidades na
efetivação da assistência hospitalar de urgência e
emergência e que impregnam suas ações e relações com
o compromisso de materializar a universalidade do direito
à saúde.

v
AGRADECIMENTOS

Aos docentes do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da


Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela disposição em promover o
doutorado interinstitucional (Dinter) em parceria com a Universidade do Estado do
Rio Grande do Norte, demonstrando, assim, seu compromisso com a socialização
de conhecimentos e com a interiorização da formação profissional em nível stricto
sensu. Notadamente, à professora doutora TÉCIA MARANHÃO, pelo compromisso
com a construção deste Dinter e pela firmeza em valorizar o caráter multiprofissional
da formação em saúde; ao professor GILSON TORRES, pela disposição em
participar das bancas de qualificação e de defesa, apontando pertinentes e valiosas
sugestões nas análises dos resultados e na construção de artigos; à professora
SOCORRO FEITOSA, pelas relevantes contribuições assinaladas por ocasião da
sua participação na banca de qualificação; e, com especial deferência, à professora
EULÁLIA MAIA, pelos apoio, dedicação, disponibilidade e rigor científico, que
culminaram em relevantes aprendizados nos processos de investigação e de
construção desta tese, bem como pelos diálogos objetivos e densos de convicções,
pautados, sobretudo, na disposição em identificar, construir e valorizar afinidades e
no compromisso com a qualidade deste trabalho.
À equipe de docentes e técnicos da Faculdade de Serviço Social da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelos apoio, compreensão,
solidariedade e estímulo manifestados durante a nossa trajetória no doutorado,
especialmente à professora GLÁUCIA RUSSO, pelos compromisso, disposição,
rigor teórico-metodológico, criticidade, criatividade e amizade demonstrados no
processo de co-orientação desta tese, fundamentais para a concretização e a
qualificação deste trabalho; bem como à professora SÂMYA RAMOS, pela
contribuição na fase de construção do projeto de tese e pela disposição em
participar da banca de defesa e, assim, contribuir com a avaliação e o
aprimoramento deste trabalho.
Às professoras doutoras DIVANISE SURUAGY CORREIA e TATIANA DE
LUCENA TORRES, por haverem aceitado o convite para participar da banca de
defesa e contribuir para a melhoria da qualidade desta tese.
Aos professores PEDRO FERNANDES e WOGELSANGER OLIVEIRA, da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, pelo empenho em gestar e
vi
conduzir o processo de formação materializado neste curso de doutorado
interinstitucional.
Aos gestores e profissionais das instituições coparticipantes, especialmente
os profissionais que participaram da pesquisa e/ou que contribuíram para viabilizar
nossa inserção nesses espaços.
Ao professor JOSÉ WILTON QUEIROZ, pela contribuição na efetivação das
análises estatísticas.
A SUÊNIA CRUZ e BEATRIZ MENDES, graduandas em Psicologia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela contribuição na árdua tarefa da
pesquisa de campo no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel.
Aos amigos professores da UERN que integraram a turma de doutorado
interinstitucional em ciências da Saúde: CHRISTIANE, CLEBER, DANIELA,
DULCIAN, EDVAN, ELIANA, ELLANY, FABIANO, GILMARA, GIOVANNI,
MARINALDO HORÁCIO, LIBNE LIDIANNE, MARCELO, PAULO, ROBERTA e
RAIMUNDO ROSENDO, pelas agradável convivência e enriquecedora socialização
e construção coletiva de conhecimentos.
Aos meus filhos LUCAS, GABRIEL e DAVI e ao meu esposo JÚLIO, pelos
apoio e compreensão manifestados durante esse longo e árduo processo de
formação e, principalmente, por estarem incondicionalmente presentes em minha
vida, tornando-a muito mais interessante e alegre e, notadamente, por me fazerem
lembrar que existe vida, sentido e felicidade para além do estudo-trabalho.
Aos meus pais, DONIZETE (in memorian) e ILZA e aos meus irmãos INÊS e
DONIZETE JÚNIOR, pelos apoio, incentivo e demonstração de apreço e confiança
que me alicerçaram a alçar mais esse desafio de aprimoramento profissional e
pessoal.

MUITO OBRIGADA A TODOS VOCÊS!

vii
RESUMO
A saúde envolve a interação entre aspectos biológicos, sociais, econômicos,
políticos e culturais, de influência multifatorial, com destaque para o trabalho, tema
deste estudo, compreendido como elemento fundante do ser social e determinante
da qualidade de vida, com impacto no processo saúde-adoecimento. Objetivou-se
analisar as condições laborais e a motivação no trabalho em hospitais públicos de
urgência e emergência do Rio Grande do Norte e suas interfaces com a saúde dos
profissionais que o executam. A relevância deste estudo se concentra na sua
capacidade de enfatizar, concomitantemente, aspectos objetivos e subjetivos, bem
como de abranger diversas categorias profissionais que efetivam o trabalho coletivo
em saúde. Consiste em um estudo transversal, de natureza quantitativa, no qual se
utilizou questionário contendo informações sociodemográficas e profissionais; estilo
de vida; condições laborais; motivação no emprego; além da percepção sobre a
relação entre o trabalho que desempenham e sua condição de saúde. Foram
aplicadas, também, escalas de avaliação da qualidade de vida e saúde: SF36 e
QSG12. A amostra foi composta de 240 profissionais, incluindo médicos,
enfermeiros, assistentes sociais, dentistas, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. A pesquisa de campo foi realizada entre
novembro de 2012 e julho de 2013, no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel e no
Hospital Regional Tarcísio Maia. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (Protocolo nº
111/2011). Foi processada estatística descritiva e inferencial para a mensuração dos
dados quantitativos, como também se recorreu à técnica de análise de conteúdo
para interpretação das informações oriundas das questões abertas. Os discursos
dos sujeitos demonstraram reconhecimento da importância do trabalho para garantia
de condições favoráveis à saúde. Entretanto, destacaram seus efeitos no desgaste
físico e psíquico, por impulsionar estresse, ausência de hábitos saudáveis,
hipertensão arterial, distúrbios do sono, osteomusculares e gastrintestinais. Os
achados atinentes à qualidade de vida evidenciaram médias mais elevadas nos
domínios capacidade funcional (81,35 ± 19,71) e limitação por aspectos emocionais
(78,13 ± 35,57) e piores resultados em vitalidade (61,08 ± 21,16), não sendo
constatada diferença significativa (p˃0,005) entre as instituições em nenhum
domínio do SF36. Constatou-se associação significativa (p<0,005) entre qualidade
de vida e as variáveis: idade, sexo, renda familiar, consumo de bebidas alcoólicas,
prática de atividade física, condições de trabalho, motivação no emprego, satisfação
com a profissão, importância atribuída ao trabalho e estresse ocupacional. Inferiu-se
que 32,5% dos profissionais apresentaram resultados iguais ou superiores a três
pontos no QSG12, sinalizando tendência a transtornos psíquicos menores, os quais
se manifestam, por exemplo, em ansiedade, depressão, distúrbios do sono, dentre
outros sintomas de desconforto emocional. Testes multivariados demonstraram que,
dentre os aspectos objetivos e subjetivos relacionados ao trabalho, as variáveis que
apresentam maior correlação com os domínios do SF36 são: satisfação com a
profissão e estresse ocupacional. Conclui-se que a qualidade de vida relacionada à
saúde dos profissionais que atuam nos hospitais investigados esteve associada a
fatores sociodemográficos, hábitos de vida e fatores atinentes à inserção destes no
mundo do trabalho e no contexto institucional particularizado no estudo, com
destaque para a satisfação com a profissão.
Palavras-chave: Trabalho; Qualidade de Vida. Saúde do Trabalhador. Hospitais
Públicos.

viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAE Amostragem Aleatória Estratificada


GEST Grupo de Estudos de Saúde Mental e Trabalho
HMWG Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel
HRTM Hospital Regional Tarcísio Maia
IMST Inventário de Motivação e Significado do Trabalho
QSG Questionário de Saúde Geral
QVRS Qualidade de Vida Relacionada à Saúde
SF36 The Medical Outcomes Study Short-Form 36
SUS Sistema Único de Saúde
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TMC Transtornos Mentais Comuns
UERN Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

ix
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................11

2 JUSTIFICATIVA ...................................................................................................17

3 OBJETIVOS .........................................................................................................18

4 MÉTODO..............................................................................................................19

5 ARTIGOS PRODUZIDOS ....................................................................................27

6 COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES .................................................. 102

7 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 106

8 APÊNDICES...................................................................................................... 111

x
11

1 INTRODUÇÃO

A saúde do trabalhador se configura como um importante objeto de estudo e


de intervenção, em decorrência das evidências do desgaste na saúde (física e
psíquica) relacionado à vivencia laboral dos indivíduos no atual contexto. Esses
impactos negativos do trabalho na saúde afetam indivíduos de diversas áreas de
atuação e que vivenciam diferentes situações no mundo do trabalho, incluindo-se
aqueles que operacionalizam a assistência à população no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS)1.
Salienta-se que o processo de saúde-adoecimento dos seres humanos
resulta tanto de fatores biológicos e psíquicos, quanto de aspectos sociais,
econômicos, políticos e culturais. Por conseguinte, é influenciado pelas condições de
moradia, alimentação, educação, saneamento, meio ambiente, trabalho, renda, bem
como pelo acesso a serviços básicos, dentre os quais se inclui a assistência
prestada pelos serviços de saúde2-3. Tais fatores, por sua vez, são determinados
pela forma de organização das relações sociais que, na sociedade capitalista –
calcada na desigualdade e na exploração da classe trabalhadora –, se caracteriza
pela negação das condições materiais necessárias para uma vida saudável para um
grande contingente da população4.
Dentre os diversos fatores determinantes da condição de saúde dos seres
humanos, este estudo prioriza o trabalho, pelo seu caráter primordial para a garantia
de uma vida saudável. Com base na perspectiva marxiana, o trabalho é considerado
como elemento fundante do ser social e indispensável à reprodução dos indivíduos e
da sociedade. Nessa concepção, o trabalho possui uma dimensão teleológica que o
particulariza como atividade humana, uma vez que o trabalhador prefigura seus
resultados idealmente, antes de sua objetivação5.
O trabalho é, portanto, imprescindível à existência humana, tendo em vista
que, a partir dele – ou, na sociabilidade vigente, do dinheiro resultante da sua
comercialização –, o ser humano consegue suprir suas necessidades. Destarte, a
forma como esta atividade, eminentemente humana, se configura no âmbito da
sociedade capitalista - voltada primordialmente para a produção de valores de troca
e fundada na exploração do trabalho alheio – torna-a, simultânea e
contraditoriamente, fator de desgaste da saúde dos indivíduos4,6.
12

Dessa forma, no contexto capitalista, a força de trabalho é submergida de


maneira a fomentar o mundo consumista, vislumbrado como prenúncio de qualidade
de vida, sendo esta focalizada na dimensão material 7. Aqui reside uma das
contradições do trabalho na contemporaneidade: por meio dele, objetiva-se viver
bem. Entretanto, ele se configura como um processo de exploração que transforma
a capacidade laborativa do trabalhador em mercadoria e mercantiliza a vida social.
Para tanto, criam-se mecanismos ideológicos que incutem nas pessoas a ideia de
que o trabalho dignifica o homem8, assim como a necessidade insaturável de
consumo.
O trabalho pode ser fonte de prazer, assim como pode gerar sofrimento e
adoecimento9. Seu caráter desgastante se intensifica com a reestruturação do
capital, que visa se recompor de uma de suas crises cíclicas, a qual dissemina
precarização do trabalho, desconstrução dos direitos dos trabalhadores e
desemprego estrutural. Esse processo mundial, difundido no contexto brasileiro, a
partir dos anos 1990, segundo Netto e Braz10, compõe-se de estratégias articuladas
sobre o tripé: reestruturação produtiva, financeirização e ideologia neoliberal.
A reestruturação produtiva altera os modelos de gestão e de organização dos
processos de trabalho, visando intensificar a produtividade e reduzir custos, pelos
incremento dos recursos tecnológicos, redução das garantias legais e cooptação da
subjetividade dos trabalhadores. Concomitantemente, ampliam-se os domínios do
capital, com ênfase na hipertrofia dos processos de financeirização. Isso aprofunda a
concentração do poder econômico e político mundial, cujos mandatários, amparados
por entidades supranacionais representantes do grande capital, exercem forte poder
sobre as decisões dos estados capitalistas menos desenvolvidos, impondo “ajustes
estruturais”. Compõem esse processo de restauração do capital, ainda, de forma
indissociável e como expressão dos citados “ajustes”, as medidas estatais pautadas
no ideário neoliberal, que acentuam sua funcionalidade na viabilização da
reprodução do capital. Isso resulta em medidas regressivas de direitos, tais como a
desregulamentação das relações de trabalho e a minimização da atuação estatal na
área social, com incentivo à participação da esfera privada e do terceiro setor10.
Tal processo aprofunda a precarização, a fragmentação e a desarticulação
das políticas sociais, ao passo que favorece a privatização dos serviços sociais,
dentre os quais a saúde. Desse modo, a reestruturação capitalista de cunho
neoliberal tensiona a efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS), na
13

contracorrente dos avanços alcançados no âmbito legal, beneficiando o projeto


privatista em detrimento da perspectiva universalista subjacente à reforma
sanitária11. Assim, “a disputa no âmbito da Sociedade e no seio do Estado entre as
concepções de saúde como bem público ou campo para o livre mercado se mantém
viva como nos tempos da Constituinte” 12 (p.584).
Ressalva-se que a implantação do SUS a partir dos anos 1990 representou
significativos avanços em termos de expansão da rede de serviços, com impactos
favoráveis na morbimortalidade da população, a exemplo da diminuição da
mortalidade infantil e da elevação da expectativa de vida. No entanto, verificam-se
profundas fragilidades na efetivação da política de saúde no Brasil, no que tange à
insuficiente capacidade de atendimento, adversas condições de trabalho, problemas
na qualidade da assistência, diminuta valorização dos profissionais, dentre outras
situações que fragilizam a materialização da universalidade do direito à saúde12-15.
Nesse contexto, os profissionais dos hospitais públicos de urgência e
emergência, cuja dinâmica de trabalho demanda a efetivação de cuidados imediatos
a pessoas gravemente doentes, deparam-se com precárias condições de trabalho,
que dificultam a efetivação da assistência à saúde da população com as devidas
qualidade e efetividade15-17. Dentre as dificuldades que permeiam a dinâmica da
assistência nesses serviços, registra-se a superlotação, cujos determinantes incluem
a inversão da porta de entrada dos usuários no sistema de saúde, impulsionada
pelas dificuldades de acesso e resolubilidade no âmbito da atenção primária e
consequente busca por atendimento nos serviços de urgência e emergência como
alternativa ao atendimento primário, o que os sobrecarrega17. Além disso, esses
profissionais convivem com riscos de acidentes presentes nos serviços de saúde,
sobrecarga de trabalho, expediente noturno, extensas jornadas e ritmo intenso de
atividades, o que pode contribuir para elevar a suscetibilidade destes ao
adoecimento16.
Apesar da magnitude do adoecimento relacionado ao trabalho, sua
mensuração carece de maior precisão, haja vista ocorrer subnotificação 1 e, em
algumas situações, tornar-se complexa a constatação de nexos causais entre
adoecimento e experiências laborais. Isso porque a saúde-adoecimento é um
processo multifatorial, de forma que o perfil de adoecimento e morte dos
trabalhadores abrange fatores de risco compartilhados pela população em geral,
bem como aspectos intrínsecos ao trabalho18. Diante dessa problemática, diversas
14

pesquisas têm se debruçado sobre os processos de adoecimento associados à


inserção no mundo do trabalho, incluindo a realidade vivenciada pelos profissionais
de saúde, entre os quais o problema tem se verificado mundialmente1.
Expande-se, assim, a necessidade de se estudar e intervir em aspectos
relacionados à saúde dos trabalhadores do SUS, o que ocasionou, nas últimas
décadas, a produção de vários trabalhos científicos sobre o assunto 19-22. Dentre os
diversos estudos disponíveis na literatura, a avaliação da qualidade de vida se
apresenta como um dos indicadores utilizados nas análises acerca da relação entre
trabalho e processos de saúde-adoecimento23-25.
São diversas as definições atribuídas a esse construto, sendo comum entre
estas o enfoque na percepção dos sujeitos e no seu caráter multifatorial, visto que
abrange aspectos físicos, psicológicos e ambientais26. Para a Organização Mundial
de Saúde, a qualidade de vida é compreendida como a autopercepção do indivíduo
sobre sua posição na vida, a qual expressa seus objetivos, expectativas, padrões e
preocupações, bem como reflete o contexto cultural e de valores no qual esse sujeito
encontra-se inserido27.
Na área da saúde, a abordagem desse constructo enfatiza aspectos mais
estreitamente relacionados ao processo de saúde-adoecimento. Nesse horizonte,
um dos instrumentos amplamente utilizados para inferir a qualidade de vida
relacionada à saúde é denominado The Medical Outcomes Study Short-Form 36
(SF36), de caráter multidimensional, que avalia os componentes: capacidade
funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais,
aspectos emocionais e saúde mental28.
É crescente, também, o interesse dos pesquisadores pelo estudo da
deterioração da saúde mental relacionada ao trabalho em saúde. Sobre a dimensão
psíquica do processo saúde-adoecimento dos trabalhadores, verificam-se
dificuldades quanto à unificação de conceitos e indicadores entre os estudiosos da
temática, tendo em vista englobar situações de gravidade bastante distintas. Assim
sendo, emergiu a noção de transtornos psíquicos leves ou não psicóticos. Dentre os
instrumentos voltados para a identificação de transtornos de menor gravidade, inclui-
se o Questionário de Saúde Geral (QSG), indicado para medir o bem-estar
psicológico, o qual é utilizado em vários países, inclusive em estudos ocupacionais e
que consideram pessoas em situação de desemprego29.
15

Destarte, na literatura científica, encontram-se estudos que abordaram a


associação entre os processos de saúde-adoecimento dos profissionais de saúde e
diversos aspectos relacionados à sua vida laboral, incluindo condições de trabalho e
motivação23,30.
Múltiplos aspectos são considerados nas análises acerca das condições de
trabalho e da motivação com o trabalho. No que tange às condições de trabalho, na
literatura consultada, incluem-se os equipamentos e materiais disponíveis, as
relações de trabalho estabelecidas entre os profissionais e destes com os gestores,
a situação salarial, a intensidade e a multiplicidade das atividades demandadas,
dentre vários outros aspectos7,30-31.
Já em relação à motivação com a atividade laboral, a literatura explicita
divergências, de modo que os enfoques se voltam tanto para aspectos relacionados
à dimensão humana intrínseca ao indivíduo, quanto aos inerentes à atividade laboral
e ao ambiente organizacional32. Os estudos evidenciam vários aspectos
motivacionais no trabalho, tangentes às condições salariais e às relações
estabelecidas na equipe, como também a conteúdo, resultados e reconhecimento
inerentes à atividade em si, dentre outros fatores que influenciam na relação
subjetiva de cada trabalhador em particular com o seu trabalho 33-34. Inclusive as
condições de trabalho são apontadas entre os aspectos influenciadores do nível de
motivação35-37.
Dessa forma, explicita-se a relevância de compreender a relação entre
condições de trabalho e a motivação com o emprego e suas implicações na situação
de saúde-adoecimento dos profissionais do SUS. A importância deste estudo se
concentra no seu potencial para evidenciar os fatores que afetam a saúde dos
profissionais que atuam nos hospitais públicos e, assim, subsidiar a construção de
estratégias para o enfrentamento dessa situação, como forma de promover melhores
condições de saúde para esses profissionais. Ademais, as análises originadas a
partir desta investigação podem contribuir, também, para impulsionar a qualidade
dos serviços de saúde, como faces de um mesmo processo de responsabilização do
Estado com a proteção, a promoção, a prevenção e a recuperação da saúde de toda
a população, da qual esses trabalhadores são integrantes. Ressalva-se que, em um
espectro mais amplo, a busca da garantia de uma vida saudável deve abranger a
luta pela construção de uma nova sociabilidade na qual prevaleça a emancipação
humana e haja condições de uma vida saudável para a totalidade da população 4.
16

Nesse contexto extremamente adverso à concretização dos preceitos que


embasaram a construção do SUS e considerando as múltiplas determinações do
processo de saúde-adoecimento dos sujeitos, serão analisadas as condições de
trabalho e de saúde dos trabalhadores que atuam no âmbito dos hospitais públicos
do Rio Grande do Norte, buscando desvendar a seguinte questão: Existe associação
entre condições de trabalho e motivação e a situação de saúde-adoecimento dos
profissionais que trabalham nos hospitais públicos de urgência e emergência?
Para efeito desta pesquisa, foi assumida a hipótese de que os profissionais
que atuam nos hospitais públicos se deparam com condições de trabalho precárias,
no que se refere à disponibilidade de recursos materiais e humanos para a
consecução do atendimento aos usuários, baixos salários, elevadas demandas e
situações de sofrimento dos usuários e familiares, o que desencadeia prejuízos à
sua qualidade de vida e, consequentemente, à sua situação de saúde. Por outro
lado, a intensidade com a qual essas condições de trabalho afetam a saúde dos
profissionais é influenciada pela relação subjetiva estabelecida por cada um em
particular com o seu trabalho. Esclarece-se que os aspectos subjetivos aqui
estudados não são vislumbrados de forma autônoma em relação às condições
sócio-históricas concretas nas quais se realiza a atividade laboral, mas vistos de
forma imbricada e em permanente articulação entre si com a totalidade da vida
social.
17

2 JUSTIFICATIVA

Os estudos acerca do adoecimento relacionado ao trabalho em saúde


disponíveis na literatura, em grande parte, focalizam a análise de uma determinada
profissão, com destaque para os trabalhadores de enfermagem. Nesse sentido, na
expectativa de agregar contribuição à produção científica sobre o tema, este estudo
enfocou aspectos objetivos e subjetivos presentes na vida laboral, assim como
abrangeu diversas categorias profissionais partícipes do trabalho coletivo em saúde.
Observa-se que a significância desta investigação se concentra no fato de
possibilitar maior visibilidade aos processos de saúde-adoecimento relacionados ao
trabalho em hospitais públicos de urgência e emergência e, por conseguinte,
evidenciar a necessidade de construção e fortalecimento de estratégias para
promover a saúde dos profissionais que o efetivam.
Considera-se que os resultados apresentados poderão contribuir também
para o conhecimento e a análise das condições de trabalho no âmbito do Sistema
Único de Saúde e, por conseguinte, para uma reflexão coletiva sobre a necessidade
de enfrentamento das adversidades presentes nessa realidade. Salienta-se que
essa problemática se relaciona com a própria viabilização da qualidade da
assistência prestada nos serviços públicos de saúde, cujos desvelamento e
discussão poderão, em uma perspectiva mais ampla, fortalecer a luta pela efetivação
do direito universal a um sistema de saúde público e de qualidade. Essa discussão
se apresenta particularmente relevante perante as dificuldades que permeiam a
assistência na rede de serviços públicos no Estado do Rio Grande do Norte, onde foi
decretado, pelo governo estadual, no ano de 2012, estado de calamidade pública
nessa área38.
Evidencia-se a relevância desta investigação, inserida na linha de pesquisa
“Educação, Direitos e Saúde Coletiva”, a qual contribuirá para a análise acerca das
interfaces entre o trabalho e a saúde dos profissionais do SUS no contexto
contemporâneo, particularmente no âmbito dos hospitais públicos. Ressalta-se,
assim, que os resultados deste estudo fomentarão visibilidade a essa relação e a
necessidade de, efetivamente, se fortalecer iniciativas de atenção à saúde desses
sujeitos, bem como de implementar esforços para romper com a desigualdade sob a
qual se funda a sociabilidade capitalista, fator destruidor das possibilidades de saúde
dos indivíduos e da coletividade.
18

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral


- Analisar as condições laborais e a motivação no trabalho em hospitais públicos de
urgência e emergência do Rio Grande do Norte e suas interfaces com a saúde dos
profissionais que o executam.

3.2 Objetivos específicos


- Identificar as características sociodemográficas dos profissionais;
- Avaliar as condições de trabalho nos hospitais públicos de urgência e emergência;
- Verificar o nível de motivação dos profissionais com o trabalho;
- Apreender a concepção dos profissionais acerca do trabalho e da relação entre a
atividade laboral que desenvolvem e a sua saúde;
- Mensurar a autoavaliação dos profissionais sobre sua situação de saúde.
19

4 MÉTODO

4.1 Delineamento do estudo

A pesquisa consistiu em um estudo transversal, de natureza quantitativa, cujo


percurso metodológico incluiu revisão de literatura e pesquisa de campo efetivada
no Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) e no Hospital Regional Tarcísio
Maia (HRTM), situados, respectivamente, em Natal e Mossoró, as duas maiores
cidades do Estado do Rio Grande do Norte, no Nordeste brasileiro. Tais instituições
integram a rede hospitalar de urgência e emergência vinculada ao governo do
Estado, composta de sete hospitais, dos quais delimitamos os que absorvem maior
quantidade de profissionais e atendimentos.

4.2 População e amostra

A amostra aglutinou 240 trabalhadores, representando 28% do universo de


857 profissionais das áreas de Medicina, Enfermagem, Serviço Social, Odontologia,
Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional, conforme
distribuição explicitada na Tabela 1.

Tabela 1 – Composição da amostra por instituição e profissão

PROFISSIONAIS HMWG HRTM TOTAL


N n N n N (%) n (%)
Médicos 359 85 100 22 459 (53,3) 107 (44,6)
Enfermeiros 127 36 64 22 191 (22,2) 58 (24,2)
Fisioterapeutas 33 11 5 5 38 (4,4) 16 (6,7)
Assistentes Sociais 35 11 28 11 63 (7,3) 22 (9,2)
Cirurgiões-Dentistas 21 6 10 4 31 (3,6) 10 (4,2)
Nutricionistas 41 10 06 2 47 (5,5) 12 (5,0)
Psicólogos 10 3 04 2 14 (1,6) 05 (2,1)
Terapeutas Ocupacionais 03 1 03 3 06 (0,7) 04 (1,7)
Fonoaudiólogos 07 5 01 1 08 (0,9) 06 (2,5)
TOTAL 636 168 225 72 861 (100) 240 (27,9)
Dados da pesquisa, 2014
20

É interessante esclarecer que, inicialmente, o tamanho da amostra foi


calculado segundo a fórmula para Amostragem Aleatória Estratificada (AAE) com
alocação proporcional, assim definida:
2

N  i i
2

n k 1 ,
1 2
N  D   N i i2

N i 1

Onde Ni e são o tamanho e a variância dos estratos 1 (HMWG) e 2


(HRTM), respectivamente, e D é a variância desejada estabelecida pelo erro máximo
admissível na estimação da média de algumas variáveis foco e pelo grau de
confiança (95%). Na oportunidade, tomando como base os resultados obtidos ao se
iniciar a pesquisa e alcançarem-se 57 profissionais no hospital 1 e 49 no hospital 2,
foram calculadas as estimativas das médias das seguintes variáveis: influência do
trabalho na situação de saúde, aspectos laborais que impulsionam a motivação no
trabalho e aspectos laborais que arrefecem a motivação no âmbito dos hospitais
investigados. Com base nesses resultados, o tamanho da amostra foi determinado
para diferentes valores alternativos do erro relativo. Ao aplicar essas estimativas
amostrais na fórmula descrita anteriormente, para três diferentes níveis alternativos
de precisão (erro relativo 5, 7 ou 9%), foram encontrados diferentes tamanhos de
amostra e sua alocação nos dois estratos, conforme exibidos na Tabela 2.
Estabeleceu-se como meta alcançar uma precisão com erro máximo relativo de 7%
e grau de confiança de 95%. Para tanto, o cálculo amostral apontou a necessidade
de selecionar uma amostra de 207 indivíduos: 155 no estrato 1 e 52 no estrato 2.

Tabela 2 – Alocação da amostra estratificada por instituição


Erro Alocação
Variáveis N
Relativo n1 n2
Q28 0,05 325 243 82
0,07 207 155 52
0,09 140 105 35
Q34_motivação 0,05 249 187 63
0,07 150 112 38
0,09 98 73 25
Q34_desmotivação 0,05 219 164 55
0,07 129 97 32
0,09 84 63 21
21

No trabalho de campo, foi alcançada uma amostra de 168 indivíduos no


estrato 1 e 72 indivíduos no estrato 2, portanto, uma amostra global de 240, um
pouco maior que a planejada. Isso porque, diante das dificuldades encontradas para
viabilizar a participação dos profissionais em meio à dinâmica de trabalho na
urgência e na emergência, adotou-se a estratégia de convidar um número adicional
de profissionais até o limite que contemplaria o erro relativo de 5%, ou seja, 243
sujeitos no hospital 1 e 82 no hospital 2, o que permitiria considerar os dados
contidos em todos os questionários respondidos, mantendo boa qualidade das
análises.
A Tabela 3, elaborada com base na amostra alcançada, mostra as estimativas
das médias ponderadas das três variáveis foco, bem como o erro relativo da
estimativa calculado com 95% de confiança. Verifica-se que o maior erro é de 6,76,
portanto, atendendo ao que foi planejado.

Tabela 3 – Estimativas e sua precisão com base na amostra final

HRTM HMWG UNIVERSO


Variáveis* Desvio Desvio Média Erro
Média Média
padrão padrão ponderada relativo
Influência do trabalho na
saúde 3,8796 2,11788 3,5404 2,18608 3,6290 6,76

Aspectos que impulsionam


a motivadores 3,2628 1,47828 2,9630 1,55368 3,0413 5,74

Aspectos que arrefecem a


motivação 3,3862 1,44498 3,3064 1,74802 3,3273 5,74
* Essas variáveis integram o questionário sociodemográfico e laboral, contido no apêndice 2 desta
tese, assim especificadas: Questão 28 (influência – positiva e/ou negativa - do trabalho na saúde dos
sujeitos, Q34.a (aspectos laborais motivadores) e Q34.b (aspectos laborais desmotivadores).

Consistiram critérios de inclusão: a) atuação nas instituições mediante


relações de trabalho diversas; b) exercício de profissões de nível superior que
envolvem relação direta com usuários. Definiu-se, como critério de exclusão, a
inserção na dinâmica da assistência hospitalar mediante relações de ensino-
aprendizagem, de forma que os estudantes, em quaisquer níveis de formação, não
foram convidados a participar da pesquisa, inclusive os profissionais que cursam
residência médica na instituição.
22

4.3 Instrumentos

Aplicou-se questionário estruturado, elaborado pela equipe da pesquisa e


aperfeiçoado mediante estudo piloto, contendo informações: (i) sociodemográficas:
idade, sexo, estado civil, quantidade de filhos, religião e renda familiar; (ii) hábitos
relacionados à saúde: tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, prática de
atividades físicas; (iii) laborais: profissão, nível de formação, salário no hospital,
tempo de trabalho na saúde e na unidade hospitalar, vinculo empregatício, jornada
semanal na instituição investigada, total de horas semanais de trabalho profissional,
condições de trabalho e motivação no âmbito do hospital, aspectos motivadores e
desmotivadores atinentes à dinâmica laboral nas unidades hospitalares, satisfação
com a profissão, nível de estresse ocupacional, importância do trabalho na vida.
Este instrumento comtemplou, ainda, uma lista de aspectos relacionados ao
trabalho que, possivelmente, desencadeariam efeitos (favoráveis ou não) na saúde
dos profissionais, sendo solicitado que os participantes assinalassem as afirmações
com as quais concordassem, bem como acrescentassem outras informações que
julgassem relevantes e que não tivessem sido previamente contempladas. Ademais,
o referido questionário, continha as seguintes questões abertas: Como você define
trabalho? Na sua opinião, existe uma relação entre seu trabalho e suas condições
de saúde? Se sim, de que forma ou que tipo de relação? De alguma forma o seu
trabalho dificulta sua vida social/familiar? Por quê?
Utilizou-se também o questionário The Medical Outcomes Study Short-Form
36 (SF36) com o intuito de avaliar a qualidade de vida relacionada à saúde. O
cálculo do SF-36 foi feito, transformando as questões em domínios, sendo que, para
cada um deles, existe um cálculo diferente, que varia de zero a cem,
compreendendo um intervalo que vai do pior ao melhor estado de saúde. Consiste
em um instrumento genérico e multidimensional, composto de 36 itens, cujos
resultados compõem os domínios: capacidade funcional, aspectos físicos, dor,
estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde
mental. O SF36 é utilizado em diversos países do mundo, com diferentes segmentos
da população, inclusive profissionais de saúde. Foi traduzido para a língua
portuguesa e validado no Brasil por Ciconelli et al (1999)28.
Além disso, foi avaliado o bem-estar psicológico dos profissionais, por meio
da aplicação do Questionário de Saúde Geral em sua versão de 12 itens (QSG-12),
23

o qual possibilita identificar sinais de doenças psiquiátricas não severas. Trata-se de


versão resumida e validada no Brasil do General Health Questionnaire, composto de
60 questões (QSG-60), originalmente elaborado por Goldenberg & Williams com o
intuito de detectar doenças psiquiátricas não severas (não psicóticas)39.
O QSG-12 é um instrumento amplamente usado em diversos países, para
avaliar saúde psicológica, particularmente no que se refere à identificação de sinais
condizentes com deteriorações menores em saúde mental, havendo estudos com
diversos segmentos da população, em contexto clínicos ou não clínicos, sendo
amplamente utilizado em pesquisas em contexto ocupacionais40.
Esse instrumento é composto por 12 perguntas, respondidas em uma escala
de frequência, do tipo Likert. No caso dos itens negativos, as respostas variam de 1
(absolutamente não) a 4 (muito mais que de costume); e no caso de itens positivos,
variam de 1 (mais que de costume) a 4 (muito menos que de costume). Quanto
menor o escore, portanto, melhor a condição de saúde.
Inexiste consenso quanto à estrutura fatorial desse instrumento, sendo
encontrados na literatura estudos que apontam para a utilização de uma, duas ou
até três dimensões. Muito embora os resultados predominantes nos estudos
apontem para uma solução bifatorial, alguns autores corroboram com a viabilidade
da estrutura bifatorial, mas recomendam, prioritariamente, que o QSG-12 seja
considerado como uma medida unidimensional, provendo, assim, uma
representação do constructo desconforto psicológico39-40. Desse modo, optou-se
pelo uso de uma medida unidimensional (contabilizando um único fator), cujo
resultado expressará o nível de bem-estar psicológico dos profissionais. Foi
considerado o ponto de corte de três respostas negativas como sinalizador de sinais
sugestivos de desconforto psicológico ou propensão a transtornos mentais comuns,
tais como distúrbios do sono, sintomas depressivos, ansiedade.
Pretendia-se utilizar, também, o Inventário de Motivação e do Significado do
trabalho (IMST), desenvolvido pelo Grupo de Estudos de Saúde Mental e Trabalho
(GEST) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o qual se destina
a compreender as relações que os trabalhadores estabelecem com sua experiência
laborativa, a partir da avaliação destes sobre a condição ideal e a identificação de
suas expectativas e percepções sobre a realidade do seu trabalho e sobre o próprio
desempenho41. Contudo, durante o estudo piloto, foram identificadas dificuldades na
inclusão desse instrumento por ser extenso, o que motivou sua retirada e a inclusão,
24

no questionário elaborado pela pesquisadora, de algumas questões que


abrangessem o tema motivação.

4.4 Processo de coleta dos dados

A pesquisa de campo, realizada entre novembro de 2012 e julho de 2013, foi


iniciada com a realização de um pré-teste abrangendo 10 profissionais do HRTM, o
qual permitiu identificar algumas dificuldades relacionadas à elaboração e à
aplicação dos instrumentos de coleta dos dados. A escolha do HRTM para a
testagem dos instrumentos deveu-se ao fato de a pesquisadora residir no município
onde essa instituição se localiza, bem como participar, nesse mesmo município das
atividades acadêmicas no Doutorado Interinstitucional do Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte (UFRN), o que facilitou esse processo.
Pretendia-se recorrer ao sorteio para selecionar os profissionais que
integrariam a amostra. Contudo, no percurso inicial da pesquisa identificaram-se
dificuldades na operacionalização desse procedimento, diante dos percalços
relativos ao contato com os profissionais cujos nomes foram sorteados, devido a não
incomum troca de plantões e, principalmente, pela indisponibilidade de alguns
profissionais para dialogar sobre a pesquisa durante os plantões, em decorrência
das características do ambiente e da dinâmica do trabalho.
Dessa forma, optou-se pela composição da amostra mediante busca
espontânea por profissionais que se encontrassem nas instituições nos momentos
das visitas e se dispusessem a responder aos instrumentos de coleta dos dados.
Ressalta-se que, devido à intensidade e à celeridade da dinâmica de trabalho
no ambiente hospitalar, parte expressiva dos profissionais não dispuseram de tempo
para responder aos questionários imediatamente, no momento em que foram
contatados. Nesses casos, o material foi entregue aos profissionais para realizarem
o preenchimento e posterior devolução. Para tanto, a equipe da pesquisa se
disponibilizou a retornar em outro momento, para receber os questionários
preenchidos, em data e local sugeridos pelos próprios profissionais. Os instrumentos
foram organizados em envelope sem identificação dos sujeitos, contendo adesivo
para lacração do material respondido, visando à proteção das informações até a
devolução à pesquisadora. Em algumas situações, recorreu-se, ainda, à alocação de
25

uma caixa lacrada nas salas onde esses profissionais trabalhavam, para recolher o
material preenchido, com a devida concordância dos responsáveis pela
administração dos hospitais e/ou coordenação dos setores.
Foram visitados os diversos setores existentes nas unidades hospitalares, em
dias e turnos diversificados, inclusive em finais de semana e feriados. Durante essas
visitas, realizou-se divulgação para os profissionais acerca dos objetivos da
pesquisa, instrumentos a serem utilizados, esclarecendo-se sobre o compromisso de
não identificar os informantes, bem como sobre o destino dos dados obtidos. Em
seguida, fez-se o convite para participarem do processo investigativo. Portanto, o
contato com os sujeitos foi realizado nas instituições coparticipantes nas quais
ocorreu a aplicação dos instrumentos.

4.4 Análise dos resultados

Na análise dos resultados, os dados produzidos por meio da aplicação das


escalas foram mensurados segundo seus próprios critérios de avaliação, e as
informações oriundas das questões abertas foram interpretadas qualitativamente,
recorrendo-se à técnica de análise de conteúdo, conforme proposto por Bardin42.
Foi utilizada a estatística descritiva para verificação das frequências e testes
bivariados para verificar a homogeneidade de distribuições entre as instituições e a
correlação entre variáveis. Aplicou-se teste t de Student para comparar as médias de
variáveis quantitativas contínuas e quiquadrado no caso das variáveis categóricas.
Para comparar a média de cada domínio do SF36 entre as categorias profissionais,
foram aplicados modelos ANOVA-OneWay, e o teste de comparações múltiplas de
Sidak foi usado na rejeição da hipótese de igualdade.
Foram aplicados testes multivariados, sendo ajustados modelos MANCOVA,
tendo como resposta o vetor formado pelos oito domínios atinentes à saúde, obtidos
com base nos resultados do SF36. Como fatores de classificação, foram
consideradas variáveis categorizadas e correlatas e, como covariável, a idade.
Todos os modelos ajustados foram corrigidos pela idade, visto que esse teste
multivariado demonstrou associação significativa entre o perfil médio dos domínios e
a idade (W=0.84; p<0,001). Para os fatores de classificação que apresentaram
associação significativa com o vetor resposta, foram ajustados modelos ANCOVA
univariados para detalhamento das diferenças.
26

Por fim, foram ajustados modelos de regressão múltipla (tipo stepwise) para
relacionar condições de trabalho, motivação no emprego, satisfação com a
profissão, estresse ocupacional e importância atribuída ao trabalho com os escores
obtidos nos vários domínios do SF36. Para tanto, foram construídos os seguintes
indicadores: importância do trabalho na vida, mensurado em escala crescente de 1 a
10; estresse ocupacional, variando de 1 (muito estressante) a 4 (nada estressante);
satisfação com a profissão, demonstrada em níveis de 1 (nada satisfeito) a 4 (muito
satisfeito); condições de trabalho nos hospitais, compondo escore ascendente, que
varia de 1 (muito ruins) a 10 (muito boas), auferido como 49 - 9X/4, onde X é a
média dos escores obtidos em 10 quesitos que integraram a avaliação das
condições de trabalho; motivação no trabalho nos hospitais, variando de 1 (nada
motivado) a 4 (muito motivado). Para todos os testes estatísticos, foi considerado o
nível de significância de 5% (p<0,05).
Os resultados oriundos do QSG-12 foram analisados com a utilização da
estatística descritiva para verificação das frequências e sua distribuição, bem como
foram realizados testes bivariados para averiguar a associação entre variáveis
independentes (sociodemográficas e profissionais) e a variável dependente
(condição de saúde psíquica, mensurada pelo QSG12). Em se tratando de variáveis
categóricas, foram realizados cruzamentos 2x2, aplicado o teste de associação
Quiquadrado, o teste exato de Fischer e calculado o coeficiente de concordância τ –
Kendal. Para testar a associação com variáveis quantitativas, foram aplicados os
testes não paramétricos Mann-Whitney e Kolmogorov-Smirnov.

4.5 Aspectos éticos

A investigação foi concebida e efetivada considerando-se os princípios éticos


de pesquisa com seres humanos, cujos procedimentos respeitaram as indicações
contidas na Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº 466/2012. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, sob o protocolo nº 111/2011, expedido em 11/11/2011.
Dessa forma, aos profissionais que demonstraram concordância em participar
do processo, mediante prévio esclarecimento acerca da pesquisa, foi apresentado o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para leitura e assinatura,
sendo-lhes entregue uma via do referido documento.
27

5 ARTIGOS PRODUZIDOS

5.1 – Produzir saúde suscita adoecimento? As contradições do trabalho em


hospitais públicos de urgência e emergência (artigo submetido à Revista Ciência
& Saúde Coletiva).
28

18-Feb-2015

Dear Ms. Rosado:

Manuscript ID CSC-2014-1320 entitled "Produzir saúde suscita adoecimento? As contradições do trabalho em


hospitais públicos de urgência e emergência" which you submitted to the Ciência & Saúde Coletiva, has been
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Therefore, I invite you to respond to the reviewer(s)' comments and revise your manuscript.

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revision by this date, we may have to consider your paper as a new submission.

Once again, thank you for submitting your manuscript to the Ciência & Saúde Coletiva and I look forward to
receiving your revision.

Sincerely,
Dr. Romeu Gomes
Editor-in-Chief, Ciência & Saúde Coletiva
romeugo@gmail.com
29

Produzir saúde suscita adoecimento?


As contradições do trabalho em hospitais públicos de urgência e emergência

Produce health brings illness?


The contradictions of working in public hospitals

Resumo: A saúde resulta da interação de fatores biológicos, sociais, econômicos,


políticos e culturais. Nessa perspectiva, objetivou-se analisar a relação entre o
trabalho nos hospitais públicos de urgência e emergência e o processo de saúde-
adoecimento dos profissionais que o executam. Trata-se de uma pesquisa de
natureza quantiqualitativa, na qual foram aplicados questionários com 240
profissionais (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, dentistas,
nutricionistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais). Os
resultados demonstraram que os sujeitos reconhecem a importância do trabalho
para garantia de condições favoráveis à saúde. Entretanto, destacam seus efeitos
no desgaste físico e psíquico dos trabalhadores, por impulsionar estresse, ausência
de hábitos saudáveis, hipertensão arterial, distúrbios do sono, osteomusculares e
gastrintestinais. Torna-se premente enfrentar esta realidade, para potencializar a
saúde dos profissionais e, por conseguinte, a qualidade da assistência ao usuário,
visto que o adoecimento dos trabalhadores de saúde está fortemente relacionado
com o modelo de saúde existente na sociedade.

Palavras-chave: Saúde. Doença. Trabalho. Saúde do Trabalhador. Hospitais


Públicos.

Abstract: Health results from the interaction of biological, social, economic, political
and cultural factors. Under this perspective, we aim to analyze the relationship
among working in public emergency hospitals and the health-sickness of the
professionals who work there. We are based in a quantitative and qualitative
research, in which 240 health professionals (doctors, nurses, social workers,
psychologists, dentists, nutritionists, audiologists, physiotherapists and occupational
therapists) answered a survey. All of them recognize the importance of work to
guarantee favorable conditions to good health. However, they highlight its physical
and mental wear effects on workers like stress, absence of a healthy life-style, high
30

blood pressure, musculoskeletal, gastrointestinal and sleep disorders. It becomes


urgent to face this reality, to enhance professionals' health and, consequently, the
quality of user’s assistance, since the illness of health workers is strongly correlated
with the existing health model in society.

Key words: Health. Illness. Work. Workers’ Health. Public Hospital.

Introdução

A saúde, em sua acepção ampliada, consiste em um processo dinâmico e


multifacetado, o qual deriva de mecanismos biológicos, influenciados pelas
condições de vida e ambientais, pela assistência prestada pelos serviços de saúde e
pelo estilo de vida dos sujeitos sociais em determinado contexto histórico 1.
Sob este prisma, o trabalho configura-se como sendo um dos fatores
determinantes da situação de saúde dos trabalhadores, podendo contribuir para seu
fortalecimento ou sua deterioração2. Como categoria fundante do ser social, ao
impulsionar a transformação da realidade, indispensável à reprodução da existência
humana, o trabalho intermedia e constrói relações, fomenta a autoprodução do
indivíduo e impele a construção de formas de sociabilidade erigidas pelos sujeitos
sociais3.
Na sociedade capitalista em particular, o trabalho representa um veículo de
exploração e desigualdade social e, por conseguinte, atua muitas vezes como
desencadeador ou intensificador de desgaste da saúde 4. Nesse contexto, o dinheiro
oriundo da comercialização da força de trabalho é indispensável à subsistência,
sendo um dos determinantes das condições de vida e saúde dos seres humanos.
Desse modo, o trabalho encontra-se onipresente na totalidade da vida social,
definindo a posição ocupada pelo trabalhador em uma estrutura social hierárquica,
com distintas possibilidades de consumo, prazer, saúde-adoecimento e morte5.
Porém, é relevante salientar que a saúde e a doença são situações inerentes
aos organismos vivos e, portanto, aos seres humanos. Nesse sentido, não são
processos específicos do sujeito que trabalha, muito embora, ratificamos, o trabalho
seja um dos determinantes deste processo. Por conseguinte, os trabalhadores
vivenciam formas de adoecer e morrer definidas pelo estilo de vida, sexo, idade,
31

características genéticas e condições ambientais, as quais sobrevêm na população


em geral, ao mesmo tempo em que estão propensos a acidentes e doenças cujas
incidências decorrem de fatores intrínsecos ao trabalho efetuado 6.
No caso do adoecimento dos profissionais de saúde relacionado ao trabalho,
é importante considerar que, além de vivenciarem os efeitos nefastos à saúde
atinentes à forma de estruturação das relações sociais capitalistas, estes se
deparam também com situações particulares à atividade laborativa. Na área da
saúde, a efetivação do trabalho não depende exclusivamente da competência e
compromisso do trabalhador; mas também das condições de trabalho, da interação
com o usuário e da adesão, acesso e reação deste aos procedimentos e
orientações7.
Importa salientar que, na realidade brasileira, os profissionais de hospitais
públicos de urgência e emergência, de um modo geral, lidam com precárias
condições de trabalho, no que tange à insuficiência de profissionais, materiais,
equipamentos, estruturas físicas inadequadas, falta de leitos hospitalares,
superlotação e defasagem salarial8,9.
Assim, sem desconsiderar os avanços conquistados a partir da implantação
do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente em termos de ampliação do
acesso aos serviços e consequente melhoria no perfil epidemiológico, persistem
diversas fragilidades em sua operacionalização, tais como: subfinanciamento,
lacunas na equidade da oferta dos serviços e das condições de saúde e uma
modalidade de relação entre o público e o privado que fragiliza a concretização de
um sistema de saúde universal, público, participativo, descentralizado e integral, tal
como preconizado nos documentos legais e normativos brasileiros10.
Tal situação impõe limitações exógenas à vontade e competência dos
profissionais e, ao mesmo tempo, indispensáveis à consecução da sua capacidade
laborativa, sujeitando-os ao estresse e sofrimento no trabalho, ao atuar em meio a
condições adversas à materialização de uma assistência capaz de atender, com a
devida efetividade e qualidade, às demandas da população usuária 2,11.
Estes fatores, somados aos riscos de acidentes nos serviços de saúde12,13 e
às situações inerentes ao âmbito hospitalar – a exemplo do expediente noturno,
trabalho em turnos, prolongadas jornadas, excesso e complexidade das tarefas –
tornam o trabalho estressante e cansativo, impulsionando o desgaste físico e
emocional dos trabalhadores9,14.
32

Nesse contexto, diversos estudos têm se debruçado sobre os processos de


adoecimento relacionados ao trabalho em saúde. Grande parte destes particulariza
a análise sobre determinada profissão, sobretudo os trabalhadores de enfermagem,
sendo priorizado o enfoque quantitativo. A abordagem quantitativa é imprescindível
ao conhecimento do perfil epidemiológico de morbidade e mortalidade associada ao
trabalho; entretanto, é relevante agregar a estas informações a apreensão dos
sentidos atribuídos pelos próprios trabalhadores à relação entre o trabalho que
executam e sua situação de saúde-adoecimento, tal como nos propomos a efetivar
neste artigo.
Dessa forma, acreditamos que as análises aqui empreendidas acrescentam
contribuições à produção científica sobre o tema, especialmente por evidenciarem os
discursos dos sujeitos pertencentes a diversas categorias profissionais que efetivam
o trabalho coletivo no âmbito da política pública de saúde. Sua significância se
concentra, ainda, no fato de desvelar a realidade particular vivenciada pelos
profissionais em hospitais públicos de urgência e emergência no Rio Grande do
Norte, em um contexto de profundas limitações na qualidade e efetividade da
assistência à saúde, tendo sido decretado, no ano de 2012, estado de calamidade
pública nessa área, conforme documento expedido pelo governo estadual 15.
Diante do exposto, objetiva-se analisar a relação entre o exercício profissional
nos hospitais públicos de urgência e emergência e as situações de saúde-
adoecimento dos sujeitos que o executam, considerando as múltiplas determinações
desse processo.

Metodologia

Esta pesquisa consiste em um estudo quantiqualitativo, efetivado no Hospital


Monsenhor Walfredo Gurgel (HMWG) e no Hospital Regional Tarcísio Maia (HRTM),
situados, em Natal e Mossoró, respectivamente, no Estado do Rio Grande do Norte,
nordeste brasileiro. Tais instituições integram a rede hospitalar de urgência e
emergência vinculada ao governo do Estado, composta de sete hospitais, dos quais
foram delimitados os que absorvem maior quantidade de profissionais e de
atendimentos.
A opção metodológica de recorrer concomitantemente a dados quantitativos e
qualitativos assenta-se no entendimento de que o desvelamento dos determinantes
33

da saúde-adoecimento dos profissionais nos serviços públicos de urgência e


emergência não prescinde da mensuração quantitativa do perfil sociodemográfico e
das condições de trabalho destes, ao mesmo tempo em que estes elementos são
insuficientes para captar a multiplicidade de aspectos subjetivos que interagem neste
processo. Por conseguinte, o fenômeno estudado incorpora processos históricos,
culturais, políticos e ideológicos incapazes de se desvelarem completamente, em
sua dinamicidade, complexidade e multidimensionalidade, em um dado numérico ou
cálculo estatístico16.
Daí a necessidade de atribuir ênfase à análise qualitativa, visando adentrar o
mundo dos significados, motivações, valores e atitudes que mobilizam ações e
interações humanas em suas particularidades e interseções com a totalidade social,
as quais não são perceptíveis nem captáveis por meio de quantificações e análises
estatísticas. Logo, esta análise fundamenta-se na compreensão da inexistência de
oposição e/ou dicotomia entre as técnicas quantitativas e qualitativas, vislumbrando-
as como complementares e essenciais no percurso da sucessiva e inacabada
aproximação do conhecimento acerca da dinâmica e contraditória realidade
social16,17.
Assim, do ponto de vista quantitativo, a população alvo do estudo constituiu-
se de 861 profissionais. Diante desse universo, a amostra foi definida de forma
estratificada proporcional, aglutinando 240 trabalhadores, sendo 155 inseridos no
HMWG e 52 atuantes no HRTM. Os participantes foram abordados nas próprias
instituições, entre novembro de 2012 a julho de 2013, por meio da busca
espontânea nos diversos setores, contemplando os vários turnos e dias, inclusive
finais de semana e feriados.
Foram delimitados como critérios de inclusão: a) atuação nas instituições
mediante vínculos de trabalho, não abrangendo a inserção atinente aos processos
de ensino-aprendizagem; b) exercício de profissões de nível superior com contato
direto com usuários, especificamente: Medicina, Enfermagem, Serviço Social,
Odontologia, Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia
Ocupacional.
Com base nesses pressupostos metodológicos, na pesquisa de campo
utilizou-se questionário autoaplicável elaborado pelas pesquisadoras alicerçadas em
revisão da literatura sobre o objeto de estudo, o qual foi aperfeiçoado por meio de
estudo piloto. Este instrumento compõe-se de uma parte objetiva, contemplando
34

dados sociodemográficos e profissionais, além de uma lista de fatores intrínsecos ao


trabalho que possivelmente influenciariam (favorável ou desfavoravelmente) a saúde
dos participantes, na qual os sujeitos explicitariam concordância ou não com tais
assertivas, bem como poderiam inscrever outros aspectos que não estivessem
previamente listados. Utilizou-se a estatística descritiva para a mensuração dos
dados que emergiram destas questões.
Neste questionário foram contempladas, ainda, perguntas abertas. Tendo em
vista sua pertinência e relação com as análises contidas neste artigo, delimitaram-
se, portanto, as seguintes: (i) existe relação entre o seu trabalho e suas condições
de saúde? Se sim, de que forma ou que tipo de relação? (ii) De alguma forma o seu
trabalho dificulta sua vida social/familiar? Por quê?
Os conteúdos que emergiram de tais questões foram interpretados
qualitativamente, mediante análise de conteúdo, conforme proposto por Bardin 18. Na
fase de pré-análise foi realizada leitura flutuante, no desígnio de alcançar uma
aproximação preliminar com os dados. Assim, por meio de atentas e reiteradas
leituras, foi possível apropriar-se processualmente de sua riqueza e complexidade.
Em seguida, a exploração do material contemplou procedimentos de sistematização,
codificação e categorização, em busca de identificar semelhanças e dissonâncias
expressas nos discursos, sendo selecionadas as respostas mais significativas.
Finalizando este processo, efetivou-se a interpretação dos resultados fundamentada
na revisão da literatura sobre o tema.
Na apreensão e interpretação dos dados, considerou-se não apenas sua
frequência, mas prioritariamente as subjetividades neles presentes, posto que a
análise qualitativa se debruça sobre os significados dos discursos, reconhecendo
sua relevância para desvelar o fenômeno estudado, o que nem sempre se explicita
pela sua repetição.
Importa ressaltar que os sujeitos apresentam heterogeneidades sociais,
econômicas, culturais e profissionais. Encontram-se imersos, na condição de
construtos e construtores de um trabalho coletivo que os aproxima, mas que pode
também distanciá-los em vários aspectos e situações. Por subsecutivo, apresentam
singularidades em suas vivências no trabalho e fora dele, assim como nas formas de
concebê-las e significá-las.
Tal fato, somado ao elevado número de participantes, nos demandou grande
esforço de análise para compreender, interpretar e sistematizar os resultados,
35

evitando menosprezar as semelhanças, diferenciações e divergências de


perspectivas expressas pelos profissionais. Sob este prisma, conforme enfatiza
Minayo19, um relato coletivo não apresenta homogeneidade, mas abrange e visibiliza
diversos interesses e visões envolvidas, atribuindo-lhes lugar e expressão.
A investigação foi efetivada em consonância com os princípios éticos de
pesquisa com seres humanos, conforme as indicações da Declaração de Helsinque
e das Resoluções do Conselho Nacional de Saúde n. 196/1996 e n. 251/1997. O
estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado
do Rio Grande do Norte, sob o protocolo nº 111/2011, expedido em 11/11/2011. Os
participantes foram esclarecidos acerca dos objetivos e procedimentos da pesquisa
e, após manifestação de aceite, responderam os questionários, mediante assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados e Discussão

Caracterização dos sujeitos que vivenciam e atribuem significado aos


processos de saúde-adoecimento relacionados ao trabalho

Os sujeitos integram diferentes profissões envolvidas no trabalho coletivo em


saúde, conforme demonstra a Tabela 1. Apresentam faixa etária diversificada,
registrando-se média de 44,5 anos (desvio padrão ± 11,24). A maioria vivencia
relação conjugal (63,4%) e possui filhos (67,1%).
Predominam (60,4%) mulheres na totalidade da amostra, fato que se registra
na maioria das profissões abrangidas neste estudo, exceto Medicina e Odontologia
(cirurgia bucomaxilofacial), nas quais 66,4% e 100% dos participantes,
respectivamente, são homens. A preponderância de mulheres na amostra coaduna
com registros da feminização da força de trabalho envolvida na assistência à saúde,
amplamente explicitada na literatura11,20-22.
No âmbito da religiosidade, a maioria (74,3%) declarou-se católica. Quanto à
frequência da participação em atividades religiosas, 39,6% dos profissionais
costuma frequentá-las semanalmente ou diariamente, enquanto 54,2% participam
em datas especiais, raramente ou nunca.
36

Tabela 1. Perfil ocupacional dos profissionais de hospitais públicos de


urgência e emergência do Estado do Rio Grande do Norte, Nordeste brasileiro,
2013.

HRTM HMWG TOTAL


VARIÁVEIS
N % n % n %
PROFISSÃO
Médico 22 30,6 85 50,6 107 44,6
Enfermeiro 22 30,6 36 21,4 58 24,2
Assistente Social 11 15,3 11 3,6 22 9,2
Fisioterapeuta 5 6,9 11 6,5 16 6,7
Nutricionista 2 2,8 10 6,0 12 5,0
Cirurgião-Dentista 4 5,6 6 3,6 10 4,2
Fonoaudiólogo 1 1,4 5 3,0 6 2,5
Psicólogo 2 2,8 3 1,8 5 2,1
Terapeuta Ocupacional 3 4,2 1 6 4 1,7
NÍVEL DE FORMAÇÃO
Graduação 20 28,6 37 22,0 57 23,9
Especialização/residência 47 67,1 120 71,4 167 70,2
Mestrado/Doutorado 3 4,3 11 6,6 14 5,8
TEMPO DE TRABALHO NA SAÚDE
Inferior a 1 ano
1 a 2 anos 2 2,8 2 1,2 4 1,7
3 a 5 anos 9 12,5 24 14,3 33 13,8
6 a 10 anos 10 13,9 25 14,9 35 14,6
Acima de 10 anos 51 70,9 117 69,7 168 70
Inferior a 1 ano 3 4,2 18 10,8 21 8,8
1 a 2 anos 13 18,1 9 5,4 22 9,2
3 a 5 anos 17 23,6 50 29,9 67 28.0
6 a 10 anos 6 8,3 12 7,2 18 7,5
Acima de 10 anos 33 45,8 78 46,7 111 46,4
JORNADA DE TRABALHO SEMANAL NA INSTITUIÇÃO
40 h 43 60,6 106 66,3 149 64,5
30 h 24 33,8 27 16,9 51 22,1
20 h 10 6,3 10 4,3
Outra 4 5,6 17 10,6 21 9,1
TOTAL DE HORAS DEDICADAS AO TRABALHO SEMANALMENTE
Até 40 horas 19 8,1 53 22,5 72 30,6
˃ 40 até 60 horas 26 11,0 61 25,8 87 36,9
˃ 60 até 80 horas 18 7,6 29 12,3 47 19,9
˃ 80 até 100 horas 5 2,1 10 4,2 15 6,4
˃ 100 horas 3 1,3 8 3,4 11 4,7

Registrou-se, ainda, que 95,4% dos participantes possuem vínculo


empregatício efetivo, enquanto a remuneração pelo trabalho nos hospitais varia
entre R$1.200,00 e R$16.000,00, contabilizando-se uma média salarial de
37

R$5.369,34 (desvio padrão ± R$ 2.500,93). Apesar da elevada incidência de não


resposta neste item (30,8%), os resultados sinalizam expressiva diferenciação
salarial entre a equipe. Identificou-se, também, heterogeneidade na renda familiar,
haja vista que alguns profissionais (7,1%) relataram dispor de valores entre 1 a 5
salários mínimos mensais para o sustento familiar, estando as maiores
concentrações nas faixas de 6 a 10 (27,1%) e acima de 25 salários mínimos
(23,8%).
Acerca da frequência do usufruto de férias, considerando o afastamento
simultâneo de todas as atividades, constatou-se que 25% dos profissionais nunca ou
apenas raramente o fazem. Por outro lado, uma quantidade significativa (78,5%)
trabalha de forma frequente em finais de semana e feriados e participa (53,4%) de
plantões noturnos.
Concernente à experiência de trabalho, grande parte dos profissionais atua há
bastante tempo na saúde, bem como nos hospitais estudados, o que os qualifica a
analisar o trabalho nestes espaços e os impactos deste na sua saúde.

Interfaces entre trabalho e processos de saúde-adoecimento dos profissionais:


no limiar da proteção e do desgaste

Os profissionais, em sua maioria, vislumbram haver relação entre o trabalho


que desenvolvem e sua situação de saúde, muito embora esta associação seja vista
de formas distintas. Vale assinalar que 13,8% dos sujeitos não se manifestou sobre
esta questão, o que pode ser explicado pela indisponibilidade de tempo para
preenchimento dos questionários em meio à jornada de trabalho, especialmente por
se tratar de questão aberta e que demanda certo tempo para sistematização das
respostas.
De acordo com os dados exibidos na Tabela 2, destacaram-se
posicionamentos acerca dos impactos negativos do trabalho na saúde, não obstante
alguns profissionais o tenham enaltecido como potencializador da qualidade de vida,
enquanto outros explicitaram, concomitantemente, influências favoráveis e
desfavoráveis na sua situação de saúde.
38

Tabela 3 – Interfaces entre trabalho e saúde na perspectiva dos profissionais


de hospitais públicos de urgência e emergência no Rio Grande do Norte, 2013

O TRABALHO AFETA A SAÚDE... HRTM HMWG TOTAL


Favoravelmente, porque a remuneração permite acesso à n 47 81 128
moradia, educação, alimentação, saneamento, transporte, % 65,3 49,4 54,2
serviços de saúde, atividades de lazer...
Favoravelmente em decorrência da satisfação que sente em n 43 79 122
realizá-lo. % 59,7 48,2 51,7
Favoravelmente, por outros motivos. n 5 9 14
% 6,9 5,5 5,9
Desfavoravelmente, devido ao estresse ocupacional. n 39 84 123
% 54,2 51,2 52,1
Desfavoravelmente, devido aos riscos de acidentes e n 29 61 90
acometimento de doenças. % 40,3 37,2 38,1
Desfavoravelmente, devido ao excesso de horas trabalhadas n 28 75 103
e/ou ao ritmo intenso de atividades. % 38,9 45,7 43,6
Desfavoravelmente, por lidar constantemente com a dor, o n 32 54 86
sofrimento e a morte. % 44,4 32,9 36,4
Desfavoravelmente, devido ao trabalho noturno e/ou durante n 30 55 85
várias horas seguidas (plantões). % 41,7 33,5 36,0
Desfavoravelmente, devido à pressão em relação aos n 17 42 59
resultados. % 23,6 25,6 25,0
Desfavoravelmente, devido à falta de tempo para descanso, n 20 65 85
lazer e relacionamentos. % 27,8 39,6 36,0
Desfavoravelmente, por outros motivos. n 13 22 35
% 18,1 13,4 13,8

Esta quantificação dos dados esboça um panorama da percepção dos


sujeitos sobre a relação entre o trabalho que exercem e sua condição de saúde-
adoecimento, possibilitando uma preliminar aproximação com o fenômeno
observado. Compreensão mais aprofundada acerca dos processos vivenciados
pelos profissionais e da significação atribuída a estes, será explanada mediante
análise dos depoimentos destes sujeitos.
Desse modo, observou-se que prevaleceu o entendimento do trabalho como
fonte de desgaste da saúde, em função de atributos inerentes à própria atividade
profissional e ao ambiente em que ela se realiza. Dentre os aspectos intrínsecos às
funções desempenhadas, destacaram-se como potenciais impulsionadores de
problemas osteomusculares: esforço físico, procedimentos repetitivos e extenuante
permanência em pé. Fatores especialmente relevantes se considerados os registros
emitidos pelos profissionais acerca das condições não ergonômicas nos serviços
investigados.
Pela condição de trabalho adquiri dores lombares crônicas e déficit de
audição (dentista, HMWG). O processo de trabalho tem se refletido em dores
musculares, coluna e cefaleias que não sentia antes daqui (fisioterapeuta, HRTM).
39

(...) ficar muito tempo em pé provoca dor nos membros inferiores, articulação, etc.
(enfermeira, HMWG).
Os distúrbios osteomusculares vêm se apresentando, no âmbito nacional e
internacional, como preocupante problema relacionado ao trabalho em saúde.
Apesar de sua etiologia multifatorial, tem demonstrado associação com situações
que perpassam o trabalho em várias profissões de saúde, marcadas pela
mobilização excessiva do sistema musculoesquelético, devido ao empenho
constante de esforço físico, movimentos repetitivos e posições inadequadas 22,23.
Por outro lado, foram apontados riscos atinentes ao espaço hospitalar, tais
como ambiente insalubre, turnos prolongados e expedientes noturnos.
Devido à exposição a doenças infecto-contagiosas tenho muitas sinusites e
também, por passar muito tempo em pé, dores na coluna (enfermeira, HMWG); [...]
Gera estresse, ansiedade, fiquei hipertensa e tinha enxaqueca após plantão noturno.
Fiquei obesa de tanto comer à noite nos plantões e ao longo da vida comer
"correndo" de um plantão para outro (médica, HMWG).
A literatura registra várias manifestações do caráter nefasto do trabalho para
a saúde, incluindo-se a influência deste no desencadeamento da hipertensão
arterial. Ainda que este problema resulte da interação entre mecanismos genéticos,
biológicos, comportamentais e ambientais, lidar continuamente com condições de
trabalho estressantes pode impulsionar episódios de elevação dos níveis pressóricos
e contribuir para a instalação do quadro hipertensivo. Ilustra essa associação um dos
achados apontados em estudo realizado com profissionais de serviços de
atendimento pré-hospitalar no Sudeste brasileiro, no qual se constatou que trabalhar
frequentemente cansado elevou a chance dos sujeitos apresentarem pressão
arterial alterada14.
No que concerne ao trabalho noturno, este foi bastante explicitado pelos
sujeitos como fator de desgaste da saúde, principalmente por acarretar distúrbios do
sono; mas, também, irritabilidade, cefaleia, cansaço, obesidade, entre outros. Eis
alguns relatos: [...] tenho dificuldade para dormir, devido a questão dos noturnos.
(enfermeira, HMWG); Após aderir à escala noturna, aumentou minha irritabilidade e
as crises de gastrite (enfermeira, HMWG).
Este resultado condiz com estudos que relatam acentuação do desgaste
gerado pelo trabalho quando desenvolvido durante a noite, em decorrência da
ruptura do ciclo circadiano, das dificuldades em usufruir do descanso diurno após
40

plantão, dentre outros problemas. É notório que os serviços de urgência e


emergência não prescindem do expediente noturno; contudo, este horário de
trabalho demanda estratégias institucionais e pessoais que minimizem o desgaste
ocasionado por ele, tais como: reorganização da rotina, ambientes adequados,
remuneração diferenciada e iniciativas propiciadoras da qualidade de vida dos
trabalhadores24.
A menor concentração de atividades durante a noite condiz com a
necessidade de minimização do desgaste para plantonistas noturnos. Porém, é
premente também evitar o acúmulo extenuante de tarefas na rotina diurna e o
desgaste dele subsequente. Esta reflexão se fundamenta em pesquisa com
enfermeiros no âmbito hospitalar, cujos resultados demonstraram curiosamente que
níveis mais elevados de estresse e pior qualidade do sono prevaleceram entre os
profissionais diurnos, fato relacionado com a concentração das atividades sob sua
responsabilidade neste horário25.
Não obstante, a sobrecarga de trabalho apareceu coesamente nos relatos das
diversas categorias profissionais, com queixas de cansaço e indisponibilidade de
tempo para descanso, lazer, atividades físicas, práticas alimentares saudáveis,
convívio social e familiar, além de outros cuidados com a própria saúde.
Muitas vezes sou impedida de realizar atividades que fazem bem à saúde
devido ao tempo que preciso estar no trabalho, como por exemplo, mais atividade
física, aula de violão, etc. (assistente social, HMWG). A sobrecarga de trabalho
interfere de forma significativa nas condições de saúde (especialmente psíquica) e
em minha qualidade de vida (psicóloga, HMWG); Muito trabalho diminui a minha
qualidade de vida (nutricionista, HMWG).
Os relatos sobre extenuantes cargas de trabalho denotam a importância da
manutenção de profissionais em número suficiente para atender às demandas
institucionais, bem como a necessidade de remunerações condizentes com o
esforço e necessidades dos trabalhadores, o que poderia minimizar a necessidade
de acúmulo de compromissos laborais. Destarte, a sobrecarga resulta das
configurações do trabalho nos hospitais investigados, mas as transcende, pois é
influenciada pela forma de organização e significação do trabalho (e seu equivalente
monetário) na sociabilidade em que vivemos. Por conseguinte, a sobrecarga denota,
também, cumulativamente, as vivências em diferentes espaços profissionais 26-27.
41

O elevado nível de estresse no trabalho também foi amplamente destacado


como um dos grandes vilões no que se refere à saúde: Já enfartei por stress
(médico, HMWG); Às vezes, a sobrecarga e o estresse me influenciam com
resfriados, dores gástricas etc. (nutricionista, HMWG).
Logo, o estresse ocupacional deprecia a qualidade de vida e, por
conseguinte, a situação de saúde dos trabalhadores, sendo reconhecida sua
significância, por exemplo, no desencadeamento da insônia. Esta correlação
apresentou-se significativa em estudo com enfermeiros de hospital universitário no
Sudeste brasileiro, no qual níveis mais elevados de estresse estiveram associados a
piores qualidades do sono25.
Além dos aspectos mencionados, foram explicitados fatores de desgaste
relacionados ao ambiente institucional e que são passíveis de alteração, a depender
da forma de gestão da política de saúde. São estes: precárias condições de
trabalho, inexistência de planejamento ergonômico, relações autoritárias,
inadequações na estrutura física e na higienização da central de ar condicionado;
pouco reconhecimento e baixos salários, entre outros. Sob este prisma,
sobressaem-se relatos acerca das condições de trabalho adversas e,
principalmente, das suas consequências para a saúde de profissionais e usuários.
No meu trabalho estou exposta a muitos riscos ocupacionais (biológicos,
químicos, ergonômicos etc.) como também fico com o lado emocional fragilizado
pelas injustiças, negligências, desrespeito com os pacientes, bem como com as
relações entre os profissionais desarmônicas (enfermeira, HRTM); As grandes
limitações e condições precárias de trabalho nos determina ansiedade, tristeza,
sentimento de impotência (médica, HMWG). [...] desde dores na coluna, geradas
pela atividade até o mal-estar psíquico com as más condições de trabalho e
remuneração não condizente (fisioterapeuta, HMWG).
Percebe-se, assim, que lidar com estas adversidades no ambiente de
trabalho, especialmente em serviços de urgência e emergência, gera conflitos
pessoais, dilemas éticos e sofrimento psíquico nos profissionais ao protagonizarem
uma assistência à saúde imersa em incongruências entre os procedimentos
necessários para recuperar a saúde dos usuários e os entraves institucionais
impeditivos de sua plena efetivação2.
Concernente ao desgaste psíquico associado ao trabalho, estudos apontam
os profissionais de saúde entre os trabalhadores propensos a desenvolverem
42

síndrome de Burnout, manifestada pela junção de exaustão emocional,


despersonalização (expressa em sentimentos e atitudes negativas em relação ao
trabalho) e baixa realização pessoal. Apesar de multifatorial, esta síndrome mantém
estreita relação com níveis elevados de tensão e desgaste no trabalho,
impulsionados por fatores como sobrecarga, estresse e dissonância entre esforço
desprendido e seus resultados e recompensas21,28. Observe-se que tais aspectos
perpassam o cotidiano de trabalho dos participantes desta pesquisa, o que sinaliza a
importância de se atentar também para o risco destes profissionais serem
acometidos pelo Burnout.
Quanto ao desgaste físico associado ao trabalho, foram relatados problemas
cardiovasculares; osteomusculares; gastrointestinais; respiratórios; distúrbios do
sono; episódios de amigdalite; redução da capacidade auditiva; cefaleia; cansaço e
mal estar psíquico. Desse modo, segundo os profissionais, o trabalho está
relacionado com o desgaste físico e emocional vivenciado por eles, além de
ocasionar falta de tempo para cuidar da sua própria saúde, especialmente no que
tange à adoção de hábitos saudáveis, como praticar atividades físicas, consumir
alimentação adequada e desfrutar de lazer.
Resultados similares foram encontrados em estudo qualitativo enfocando os
impactos do trabalho na saúde de médicos da Estratégia Saúde da Família no
Nordeste brasileiro, os quais aludem comprometimento na dimensão mental,
referindo ansiedade, irritabilidade, depressão, frustração, dentre outros; assim como
relatam sintomas físicos, tais como: hipertensão arterial, cefaleia, enxaqueca, fadiga,
dores musculares e articulares, insônia, tendinite, infecções na orofaringe, gripes
frequentes e distúrbios gastrintestinais21.
Numa outra perspectiva, a positividade do trabalho foi destacada por alguns
profissionais, os quais evidenciaram tanto aspectos objetivos quanto subjetivos: [...]
o trabalho proporciona qualidade de vida - viagem, casa, carro etc. Saúde e bem-
estar (médica, HMWG); Atualmente minha relação com o trabalho é favorável, pois
me dá satisfação pessoal não afetando minha saúde (psicóloga, HRTM).
Conforme explicitado, o trabalho possui uma dimensão objetiva expressa na
recompensa financeira, propiciadora de bens entendidos como necessários a uma
vida saudável, assim como uma dimensão subjetiva, referente à satisfação gerada
pela atividade profissional, a qual favorece a autoestima e o equilíbrio emocional e
define a identidade e o reconhecimento social.
43

Vale salientar que o reconhecimento, aliado ao valor simbólico contido na


sensação de ser útil ao contribuir para subverter o adoecimento dos usuários,
potencializa a saúde dos profissionais ao gerar prazer, mesmo diante das
adversidades2,29. Por outro lado, em nossa sociedade calcada na mercantilização
das diversas esferas da vida humana, muitas vezes a dimensão material aparece
como a mais importante, ao possibilitar a sobrevivência, mas, para além dela,
permitir a aquisição de bens materiais que transformam o ser humano em
consumidor e, portanto, ser necessário e importante para a sociedade 30. Isto tende a
impelir ao acúmulo de vínculos empregatícios e ao excesso de horas dedicadas ao
trabalho, o que pode acabar subsumindo o prazer dele decorrente.
Os discursos apontam, ainda, para o caráter contraditório do trabalho, haja
vista ser imprescindível e prazeroso, ao mesmo tempo em que se torna desgastante
e influencia no adoecimento daqueles que o executam. Apesar de ser cansativo,
existem momentos bons e a sensação do dever cumprido (nutricionista, HMWG).
Exerço minhas atividades com prazer, no entanto, por ser estressante e
desgastante, ao longo de quase 3 décadas desenvolvi doenças relacionadas ao
stress (médica, HMWG).
Esta dualidade do trabalho como fonte de prazer e sofrimento encontra-se
relatada na literatura, demonstrando que inexiste neutralidade na relação entre
trabalho e saúde, na medida em que este favorecerá a saúde ou o adoecimento 2.
Condizente com estas assertivas, segundo demonstra a Tabela 3, a maioria
dos profissionais identificou, concomitantemente, aspectos favoráveis e
desfavoráveis nas interfaces entre a atividade laborativa e a condição de saúde
deles.

Tabela 3 – Interfaces entre trabalho e saúde na perspectiva dos profissionais


de hospitais públicos de urgência e emergência no Rio Grande do Norte, 2013

O TRABALHO AFETA A SAÚDE... HRTM HMWG TOTAL


Favoravelmente, porque a remuneração permite acesso à n 47 81 128
moradia, educação, alimentação, saneamento, transporte, % 65,3 49,4 54,2
serviços de saúde, atividades de lazer...
Favoravelmente em decorrência da satisfação que sente em n 43 79 122
realizá-lo. % 59,7 48,2 51,7
Favoravelmente, por outros motivos. n 5 9 14
% 6,9 5,5 5,9
Desfavoravelmente, devido ao estresse ocupacional. n 39 84 123
% 54,2 51,2 52,1
Desfavoravelmente, devido aos riscos de acidentes e n 29 61 90
44

acometimento de doenças. % 40,3 37,2 38,1


Desfavoravelmente, devido ao excesso de horas trabalhadas n 28 75 103
e/ou ao ritmo intenso de atividades. % 38,9 45,7 43,6
Desfavoravelmente, por lidar constantemente com a dor, o n 32 54 86
sofrimento e a morte. % 44,4 32,9 36,4
Desfavoravelmente, devido ao trabalho noturno e/ou durante n 30 55 85
várias horas seguidas (plantões). % 41,7 33,5 36,0
Desfavoravelmente, devido à pressão em relação aos n 17 42 59
resultados. % 23,6 25,6 25,0
Desfavoravelmente, devido à falta de tempo para descanso, n 20 65 85
lazer e relacionamentos. % 27,8 39,6 36,0
Desfavoravelmente, por outros motivos. n 13 22 35
% 18,1 13,4 13,8

Dentre os itens positivos, a maioria destacou a remuneração – ou, mais


especificamente, as condições de vida dela decorrentes – e a satisfação gerada pelo
desempenho das atividades profissionais. Além desses, foram evidenciados
aspectos subjetivos, a saber: possibilidade de contribuir para a melhoria do estado
de saúde dos usuários, convivência com outros profissionais e reconhecimento
social oriundo da atividade laborativa.
Dentre os aspectos negativos, em consonância com os resultados das
questões abertas, destacou-se estresse, excesso de horas trabalhadas e ritmo
intenso de atividades. Foi assinalado, ainda, que o trabalho desfavorece a saúde
devido à ausência de reconhecimento e baixa remuneração, associada à
necessidade de acumular atividades profissionais, o que restringe o tempo para as
demais dimensões da vida, inclusive para o autocuidado. Neste aspecto, foram
destacadas principalmente as condições inadequadas para a efetivação da
assistência: Má condição de trabalho, má assistência por falta de materiais [...]
(enfermeira, HRTM); Falta de instrumental cirúrgico adequado para dar
resolutividade necessária aos casos atendidos (dentista, HMWG); Lidar com mortes
evitáveis ou resultados desfavoráveis por falta de estrutura dos serviços (médica,
HMWG).
São perceptíveis, portanto, as fragilidades institucionais e a gravidade de suas
consequências não apenas para os profissionais, mas também para a saúde da
população usuária.
É importante evidenciar que o trabalho está imbricado às demais dimensões
da vida, as quais, de forma interrelacionada, influenciam na saúde-adoecimento dos
indivíduos. Nesse sentido, considerou-se relevante apreender a percepção dos
45

sujeitos acerca das implicações do trabalho no convívio familiar e social, cujos


achados estão quantitativamente demonstrados no Gráfico 1.

Gráfico 1. Impactos do trabalho na vida familiar/social na percepção dos profissionais de


hospitais públicos de urgência e emergência do Rio Grande do Norte, 2013

Conforme evidenciam majoritariamente os sujeitos (64,6%), o trabalho deles


dificulta o convívio familiar/social. Esta dificuldade decorre da sobrecarga, marcada
por jornadas extensas, em forma de plantões; do trabalho noturno e em finais de
semana, feriados e datas comemorativas; do estresse e cansaço; além da falta de
tempo para o não-trabalho. Estes fatores os afastam do convívio familiar e dificulta o
acompanhamento mais efetivo da educação dos filhos e a participação em
momentos de lazer e eventos comemorativos.
Sobre os impactos do trabalho na vida familiar, estudo efetivado com
profissionais de hospital universitário e seus filhos na faixa etária entre 2 e 10 anos,
identificou que estas crianças apresentaram baixa qualidade de vida relacionada à
saúde, principalmente nos aspectos psicossociais. Desvelou-se que a maioria estava
envolta em hábitos cotidianos não saudáveis, com excessiva exposição a
computadores, videogames e televisores e ausência de atividades físicas regulares
extraescolares. Subsecutivamente, as características laborais dos profissionais além
46

de afetarem sua própria qualidade de vida e saúde, influenciam, também, na rotina


dos seus familiares31.

Considerações finais

A relação saúde-adoecimento vivenciada incessantemente pelo ser humano


no percurso da vida constitui-se um fenômeno complexo e dinâmico que expressa a
interação de múltiplos processos, dentre os quais o trabalho é um dos
determinantes.
Os resultados permitem inferir que os profissionais reconhecem a importância
do trabalho para garantia de condições materiais e subjetivas favoráveis à saúde.
Entretanto, destacam predominantemente seus efeitos no desgaste físico e psíquico
decorrentes de sobrecarga, turnos prolongados, expediente noturno e precárias
condições de trabalho, dentre outros fatores impulsionadores de estresse, cansaço,
ausência de hábitos saudáveis, hipertensão arterial, distúrbios do sono,
cardiovasculares, osteomusculares e gastrintestinais.
Conclui-se, portanto, que o trabalho em saúde é permeado por contradições,
pois ao passo que os trabalhadores participam da produção de saúde dos indivíduos
e da coletividade, esta atividade pode ocasionar efeitos negativos na sua própria
saúde, cujos impactos se espraiam na fragilização da assistência prestada à
população, bem como podem interferir na qualidade de vida dos seus familiares.
Destarte, os elementos ressaltados pelos participantes desse estudo
precisam ser pensados, também, como inerentes à sociabilidade capitalista e às
configurações do trabalho no bojo de suas relações, não podendo ser relacionadas
somente às características dos espaços de urgência e emergência, a particularidade
da área da saúde ou a vinculação ao setor público, embora esses sejam elementos
imprescindíveis nessa análise.
Estes problemas na gestão da política de saúde brasileira e suas interfaces
com o desgaste físico e psíquico dos profissionais que trabalham neste âmbito são
extremamente importantes. Com efeito, esta relação adquire maior significância pelo
fato do SUS, responsável pela promoção, proteção e recuperação da saúde da
população, em sua operacionalização, paradoxalmente, influenciar no desgaste da
saúde dos seus trabalhadores.
47

Ressalva-se que o estudo particulariza a realidade de ambientes hospitalares


específicos e apesar de apresentar resultados condizentes com outros trabalhos
disponíveis na literatura, não possibilita maiores generalizações. Salienta-se, ainda,
que no decurso da pesquisa estas instituições estavam sendo alvo de reformas na
sua estrutura física, o que pode ter alterado as condições de trabalho aqui relatadas.
Por fim, acredita-se que os resultados desta pesquisa podem contribuir para
dar maior visibilidade ao adoecimento relacionado ao trabalho em saúde,
particularmente no âmbito dos hospitais públicos de urgência e emergência, bem
como para subsidiar a implementação e ampliação de ações preventivas e
assistenciais direcionadas à saúde destes trabalhadores.

Colaboradoras
Rosado IVM participou da concepção do estudo, da coleta e análise dos dados e da
redação do manuscrito; Russo, GHA contribuiu no planejamento da pesquisa, na
análise dos dados e na redação e revisão final do artigo; Maia EMC participou da
concepção do estudo, contribui na análise dos dados e aprovou a versão final do
artigo.

Agradecimentos
Aos integrantes das instituições co-participantes, especialmente os profissionais que
participaram da pesquisa e/ou que contribuíram para viabilizar nossa inserção
nestes espaços; à professora Sâmya Ramos pelas relevantes contribuições na
concepção do estudo; ao professor José Wilton Queiroz pela efetivação das análises
estatísticas e a Beatriz Pereira e Suênia Cruz, pela colaboração na coleta de dados.

Referências

1. Carvalho AI, Buss PM. Determinantes sociais na saúde, na doença e na


intervenção. In: Giovanella L, Escorel S, Lobato LVC, Noronha JC, Carvalho AI,
organizadores. Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz;
2008. p. 141-166.
2. Pai DD, Lautert L. O trabalho em urgência e emergência e a relação com a
saúde das profissionais de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem 2008;
16(3):439-444.
48

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51

5.2 – Prazer e sofrimento: a dualidade do trabalho em hospitais públicos (artigo


a ser submetido à Revista Ciência, Cuidado & Saúde)
52

Prazer e sofrimento: a dualidade do trabalho em hospitais públicos

Resumo: Este estudo objetivou identificar as características do trabalho em


hospitais públicos de urgência e emergência, bem como desvelar a concepção de
trabalho da equipe multiprofissional envolvida na sua efetivação. Fundamenta-se em
pesquisa realizada em dois hospitais públicos de urgência e emergência, no Rio
Grande do Norte, na qual foram aplicados questionários com 240 profissionais
(assistentes sociais, dentistas, enfermeiros, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
médicos, nutricionistas, psicólogos e terapeutas ocupacionais), cujos resultados
foram analisados mediante utilização da estatística descritiva e da análise temática.
Os profissionais apresentam diferentes concepções acerca do trabalho, alguns
apontando-o como fonte de prazer, de renda e de garantia de sobrevivência; outros,
como gerador de estresse, sofrimento e desgastes físico e mental; outros, ainda,
como atividade permeada por duplo caráter: prazer e sofrimento. Conclui-se que o
trabalho em hospitais públicos de urgência e emergência é permeado por
adversidades em termos de condições de trabalho, sendo estressante, mas também
representa satisfação e realização profissional para os trabalhadores, especialmente
pelo seu potencial de contribuir para recuperação dos pacientes em situação de
saúde crítica.
Palavras-chave: Trabalho. Saúde pública. Hospitais públicos.

Abstract: This study aimed to identify the characteristics of working in public


hospitals for emergency care, as well as unveiling the design work of the
multidisciplinary team involved in its execution. It is based on research, conducted in
two public emergency rooms in Rio Grande do Norte, in which questionnaires were
administered to 240 professionals (social workers, dentists, nurses, physiotherapists,
speech therapists, doctors, nutritionists, psychologists and occupational therapists)
whose results were analyzed by using descriptive statistics and thematic analysis.
The professionals have different conceptions of work, some pointing to the source of
pleasure and income guarantee of survival; others as to cause stress, suffering and
physical and mental exhaustion; besides being appointed, by subject, such activity
permeated by double character: pleasure and suffering. We conclude that working in
public hospitals in emergency rooms is permeated by adversity in terms of working
conditions, and stressful; but also represents professional satisfaction and motivation
for workers, especially for its potential to contribute to the recovery of patients in
critical health situation.
Keywords: Job. Public Health. Public hospitals.

Resúmen: Este estudio tuvo como objetivo identificar las características del trabajo
en salas de emergencia de hospitales públicos, así como revelar el concepto de
trabajo del equipo multidisciplinario que participa en su ejecución. Se administraron
cuestionarios a 240 profesionales de las salas de emergencia de dos hospitales de
Rio Grande del Norte (trabajadores sociales, odontólogos, enfermeras,
fisioterapeutas, logopedas, médicos, nutricionistas, psicólogos y terapeutas
ocupacionales) cuyos resultados se analizaron utilizando estadística descriptiva y
análisis temático. Los profesionales tienen diferentes concepciones de trabajo,
algunas como fuente de placer y de garantía de ingresos de supervivencia; otros
para causar estrés, el sufrimiento y el cansancio físico y mental; tal actividad está
permeada por doble carácter: placer y sufrimiento. Llegamos a la conclusión de que
53

el trabajo en los hospitales públicos en salas de emergencia no solo está permeado


por adversidad en términos de condiciones de trabajo y estrés; sino que representa
satisfacción profesional y motivación de los trabajadores, sobre todo por su potencial
para contribuir con la recuperación de los pacientes en situación de salud crítica.
Palabras clave: Trabajo. Salud Pública. Los hospitales públicos.

Introdução

Na sociabilidade capitalista, a comercialização da força de trabalho é


indispensável à subsistência, sendo determinante das condições de vida dos seres
humanos. Nesse modelo societário, a força de trabalho é submetida a um processo
de exploração que transforma a capacidade laborativa do trabalhador em
mercadoria, cuja magnitude do valor de troca define as possibilidades de acesso aos
bens e serviços disponíveis no mercado e que atendem às necessidades dos
indivíduos(1).
Para viabilizar a reprodução dessa forma de organização das relações sociais
e das atividades laborais, nas sociedades capitalistas, assentadas na exploração de
indivíduos formalmente livres, espraia-se um discurso ideológico pautado na
exaltação do trabalho como fonte de virtude e de riqueza, o que contribui para
escamotear a exploração e o desgaste do trabalhador. Isso porque, em uma
sociedade cujas vivências no trabalho estão comumente associadas ao sofrimento, a
subjugação dos indivíduos aos processos de exploração vigentes requer o
abrandamento dessa percepção negativa sobre o trabalho, por meio da
disseminação de uma concepção que o vincula à dignidade e, por conseguinte,
atrela a ausência deste ao fracasso(2). Concomitantemente, forjam-se valores
pautados na necessidade insaturável do consumo, propagando-se a ideia de uma
suposta qualidade de vida, atrelada estritamente à aquisição de bens materiais(3).
Acredita-se que tais processos ideológicos se proliferam na atualidade e
influenciam a forma como os indivíduos concebem e se dedicam ao trabalho. Na
realidade contemporânea, são implementados modelos de gestão e organização do
trabalho focados na busca incessante de intensificar a produtividade e reduzir os
custos da produção. Para tanto, recorre-se ao incremento de recursos tecnológicos,
à redução e à flexibilização das contratações, além de à implementação de
estratégias de cooptação da subjetividade dos trabalhadores(4).
54

Tais medidas, disseminadas no contexto brasileiro a partir dos anos 1990,


inserem-se em um processo mundial de reestruturação do capital que, segundo
Netto e Braz(1), se compõe de estratégias articuladas sobre o tripé: reestruturação
produtiva, financeirização do capital e ideologia neoliberal. Esse processo resulta em
medidas regressivas de direitos atinentes ao trabalho em sentido mais estrito e se
espraia nas diversas dimensões da vida social, posto que aprofunda a precarização,
a fragmentação e a desarticulação das políticas sociais, ao passo que favorece a
privatização/mercantilização dos serviços sociais, dentre os quais a saúde (5).
O trabalho em saúde integra o setor de serviços, no qual produção e consumo
ocorrem concomitantemente e o valor (seja de uso, seja de troca) do trabalho se
concentra na atividade em si, a qual é indissociável do seu produto. O trabalho em
serviços de saúde, portanto, consiste em uma produção não material, cujo resultado
é a própria prestação da assistência, produzida e consumida simultaneamente (6).
Assim, a assistência em saúde depende, em grande parte, ainda que não
exclusivamente, do dispêndio e da habilidade da força de trabalho. Nem mesmo a
utilização de tecnologias complexas abala a imperatividade do trabalho vivo no
campo da assistência à saúde, muito embora o incremento de recursos tecnológicos
imponha novas exigências ao trabalhador dessa área ao intensificar a necessidade
de qualificação para lidar com equipamentos mais sofisticados(7). Isso faz com que,
sem menosprezar a imprescindibilidade das condições de trabalho disponíveis para
a materialização da assistência, a atividade do sujeito concentre grande
responsabilidade, já que muitas vezes o produto, diferentemente da produção
material, por exemplo, não pode ser corrigido ou refeito, o que possui grande
relevância quando se trata da intervenção na situação de saúde dos seres humanos.
É relevante destacar que, nos serviços públicos de saúde brasileiros, salvo
algumas exceções, os profissionais atuam em meio a condições precárias, pois a
estrutura física, o quadro funcional, os materiais e os equipamentos nem sempre são
adequados e/ou suficientes para atender, com qualidade, às demandas dos
usuários(8-9). Nesse sentido, Krug assinala que o trabalho em saúde é bastante
desgastante para os sujeitos que o efetivam, os quais se deparam com elevadas
cargas de trabalho e adversas condições ambientais, o que os submete a
demasiadas responsabilidades, até mesmo no plano legal(6).
Essa situação se complexifica ainda mais no caso do trabalho em urgência e
emergência, pelas intensidade e imediaticidade das demandas em meio a situações
55

marcadas pelo limiar da vida e da morte, o que implica celeridade e convivência com
o sofrimento dos usuários e seus familiares. Isso pode tanto desencadear satisfação
pela possibilidade de salvar vidas, quanto suscitar frustrações diante da
impossibilidade de alcançar tal objetivo, bem como pelo desgaste oriundo das
fragilidades institucionais, ou seja, uma dialética de prazer e sofrimento. Além disso,
os profissionais atendem a vítimas de acidentes e agressões de diversos tipos e
gravidades, práticas suicidas, dentre tantas expressões da violência presentes em
nosso cotidiano. Esses fatores, somados aos riscos de acidentes, ao expediente
noturno e a longas jornadas, tornam o trabalho estressante e cansativo, podendo,
inclusive, elevar sua suscetibilidade ao adoecimento(8-9).
Importa ressalvar que “No cotidiano de cada indivíduo, o trabalho assume
diferentes perspectivas, para alguns representa orgulho e prazer, para outros
(10, p.229)
obrigação e aprisionamento, entre inúmeros significados” . Pode, ainda,
(9,11)
significar, simultaneamente, prazer e sofrimento .
Salienta-se que o prazer-sofrimento emerge da relação subjetiva estabelecida
com o trabalho e da intersubjetividade experimentada nas relações interpessoais
que o permeiam, de forma que inexiste neutralidade do trabalho em relação às
emoções dos indivíduos e ao processo saúde-doença vivenciado por estes(11). Não
obstante, tais sentimentos de prazer e/ou sofrimento são influenciados pelas
condições concretas que engendram a atividade e o ambiente laboral (8-9,11).
O modo como os sujeitos concebem o trabalho expressa e, ao mesmo tempo,
influencia a maneira como o vivenciam e o delineiam. Assinala-se, portanto, que as
configurações do trabalho resultam de uma construção coletiva protagonizada pelos
sujeitos sociais e inflexionada pelas condições objetivas, historicamente
(12)
determinadas . Dessa forma, é fundamental a reflexão acerca do significado e das
características do trabalho como forma de visibilizar seus percalços, contradições e
desafios a serem enfrentados, bem como suas potencialidades a serem fortalecidas.
Nessa perspectiva, objetivou-se desvelar a compreensão dos profissionais de
saúde sobre trabalho, na expectativa de contribuir para o aprofundamento do
conhecimento sobre essa atividade laborativa, bem como suas particularidades no
âmbito dos hospitais de urgência e emergência integrantes do Sistema Único de
Saúde.
56

Metodologia

A construção deste artigo se fundamenta na pesquisa “Trabalho e Saúde:


uma análise da relação entre condições de trabalho e motivação com o emprego e
suas interfaces com a saúde dos profissionais nos hospitais públicos”, efetivada em
dois hospitais públicos de urgência e emergência localizados no Estado do Rio
Grande do Norte.
A amostra aglutina 240 trabalhadores, representando 28% do universo de 857
profissionais, das seguintes áreas: Medicina, Enfermagem, Serviço Social,
Odontologia, Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia
Ocupacional. Os dados foram coletados entre agosto de 2012 e julho de 2013, por
meio da aplicação de questionário contendo perguntas fechadas e abertas. Neste
artigo, serão analisadas as concepções de trabalho dos participantes, as quais
foram apreendidas com base nas respostas atribuídas à seguinte questão: Como
você define trabalho?
As informações foram analisadas por meio da técnica de análise de
conteúdo(13), de maneira que se efetivou, inicialmente, a leitura flutuante de todas as
respostas, seguida de categorização e seleção dos conteúdos e, por fim, foi
realizado o tratamento dos resultados mediante inferência e interpretação das
informações produzidas.
No decurso da pesquisa e da análise dos dados, atentou-se para os princípios
éticos de pesquisa com seres humanos, conforme indicações da Resolução do
Conselho Nacional de Saúde n° 466/2012. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, sob o
protocolo CEP/UERN nº111/2011.

Resultados e discussão

Perfil dos sujeitos e caracterização do ambiente laboral

Na composição da amostra, demonstrada na Tabela 1, buscou-se aproximar


a proporcionalidade da distribuição entre as categorias profissionais existentes no
57

quadro funcional dos hospitais, resultando em um maior número de médicos (44,6%)


e enfermeiros (24,2%).

Tabela 1 – Composição da amostra por instituição e profissão

PROFISSIONAIS HOSPITAL 1 HOSPITAL 2 TOTAL


N N N N N n
Médicos 359 85 100 22 459 107
Enfermeiros 127 36 64 22 191 58
Assistentes Sociais 35 11 28 11 63 22
Fisioterapeutas 33 11 5 5 38 16
Nutricionistas 41 10 06 2 47 12
Cirurgiões-Dentistas 21 6 10 4 31 10
Fonoaudiólogos 07 5 01 1 08 06
Psicólogos 10 3 04 2 14 05
Terapeutas Ocupacionais 03 1 03 3 06 04
TOTAL 636 168 225 72 861 240

Os sujeitos da pesquisa são, majoritariamente (60,4%), do sexo feminino, o


que se registra na maior parte das profissões abrangidas no estudo, exceto Medicina
e Odontologia (com área de atuação em cirurgia bucomaxilofacial), nas quais 66,4%
e 100%, respectivamente, são homens. Esses dados são condizentes com outros
estudos realizados com trabalhadores de saúde, evidenciando a feminização
presente nas diversas atividades voltadas para o cuidado com o outro, culturalmente
reproduzidas como vocação inerente à condição feminina (6). Outrossim, a literatura
científica registra diferenciações na participação de homens e mulheres em
determinadas áreas da Medicina e da Odontologia, com predominância masculina
em algumas especialidades de maior prestígio e remuneração, a exemplo das
especialidades cirúrgicas(14-15). Acredita-se que este fato contribua para elucidar a
preponderância de homens entre os participantes destas profissões.
Quanto ao nível de formação profissional, todos são graduados, sendo que a
maior parte deles (70,2%) cursou especialização ou residência e alguns (5,8%)
obtiveram título de mestre ou doutor. A faixa etária é diversificada: 30,8% tinham até
35 anos, enquanto 31,7% somavam entre 36 e 50 anos e outros 35% estavam com
mais 50 anos. Parcela considerável destes (46,4%) registra tempo superior a 10
anos de inserção nas unidades hospitalares.
58

No que tange aos hospitais investigados, a avaliação realizada pela equipe


multiprofissional evidencia que as condições de trabalho são insatisfatórias em
vários aspectos, segundo demonstram os dados apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 – Condições de trabalho, segundo profissionais de hospitais


públicos. Rio Grande do Norte, RN, 2012-2013.

VARIÁVEIS ESCALA DE AVALIAÇÃO (%)*


Condições de trabalho Muito Muito
Boa Regular Ruim
boa ruim
Relação com usuários 11,8 58,8 25,2 2,9 1,3
Relação entre a equipe 14,3 50,0 29,0 3,8 2,9
Relação com a gerência 11,8 44,1 34,0 5,5 4,6
Materiais (insumos) 2,1 20,3 48,3 17,8 11,4
Medicamentos 2,1 19,8 46,8 21,5 9,7
Equipamentos 2,1 19,0 46,0 20,3 12,7
Possibilidade de qualificação 3,1 19,2 43,9 29,7 13,1
Higiene e segurança no 4,0 11,8 41,0 29,7 17,0
trabalho
Remuneração 9,0 9,6 38,9 33,6 17,0
Estrutura física 4,0 6,3 37,4 37,0 18,9

Registrou-se, portanto, concentração de piores avaliações em estrutura física,


remuneração, higiene e segurança no trabalho e possibilidade de qualificação.
Esses dados coadunam com estudos disponíveis na literatura, que apontam
condições de trabalho adversas nos serviços públicos de saúde brasileiros.
Dessarte, apesar dos importantes avanços alcançados a partir da implantação
do SUS, tais como a expansão e a reorganização da rede de serviços e a criação de
instâncias de participação social, perduram problemas como focalização e
fragmentação das políticas de seguridade social, limitações no financiamento e
distorções nas relações público-privado, os quais obstaculizam a efetivação de um
sistema efetivamente público e universal(5,16-17).
Nesse contexto, registram-se fragilidades no funcionamento dos serviços de
saúde, inclusive na rede de atendimento às urgências, expressas na restrita
capacidade de atendimento, inadequadas condições de trabalho, deficiências
quantitativas e qualitativas de funcionários e reduzida valorização desses
profissionais(18).
Por outro lado, foi constatada avaliação favorável das relações interpessoais,
sobretudo no que tange aos usuários. Ressalta-se a importância dessas relações na
59

assistência à saúde, haja vista que a dimensão relacional é inerente ao trabalho


nessa área, bem como que o paradigma de atenção vigente propugna uma
assistência usuário-centrada, que valorize o indivíduo em suas integralidade e
condição de sujeito da produção de sua própria saúde(19).
Embora a materialização desse modelo de atenção demande alterações no
funcionamento e na organização da rede de serviços e nas concepções e práticas
da equipe multiprofissional, na perspectiva de romper com a tecnificação e a
fragmentação dos procedimentos e com o arraigado modelo curativo e biologicista,
entende-se que a qualidade das relações entre profissionais e usuários é passo
fundamental nesse percurso. Ressalva-se, contudo, que este estudo não pretendeu
analisar a forma como os profissionais vislumbram e concretizam essas relações, o
que demandaria outras investigações capazes de desvelar tal processo.

O significado do trabalho para os profissionais de saúde: a urgência do


trabalho e a emergência das contradições

Os profissionais apresentaram concepções diferentes e até divergentes sobre


trabalho, enquanto 12% optaram por não responder a essa questão. Parte deles o
enfoca como atividade indispensável à vida humana, por meio da qual os indivíduos
transformam a realidade para suprir suas necessidades. Conforme esses sujeitos, o
trabalho constitui

Atividade inerente ao humano, essencial para reprodução da espécie


(Médico).

Trabalho é a atividade física ou intelectual com o objetivo de transformar ou


obter algo (Fisioterapeuta).

O trabalho é vislumbrado como uma atividade carregada de intencionalidade,


por meio da qual os indivíduos transformam a realidade, visando ao atendimento de
necessidades individuais e coletivas. Nessa perspectiva, os sujeitos assinalaram,
também, que a efetivação do trabalho impulsiona o desenvolvimento das habilidades
do ser humano, além da sua sobrevivência. Os depoimentos apontam aspectos
condizentes com a dimensão concreta do trabalho, evidenciada por Marx(13),
caracterizada pelo seu direcionamento para produção de valores de uso e seu
60

reconhecimento como atividade ineliminável da existência humana e, portanto,


presente em quaisquer formas de organização societária.
Por outro lado, predominantemente, os profissionais enfatizam características
inerentes à organização social capitalista, ao registrarem a mercantilização da força
de trabalho e a vinculação da atividade laboral à contrapartida monetária. Desse
modo, contemplam a dimensão abstrata do trabalho, também discutida por Marx(13),
marcada pela subsunção dessa atividade à produção de valores de troca e que se
encontra disseminada nesse modelo de sociabilidade, alicerçado na comercialização
de produtos e na transformação da força de trabalho em mercadoria.

São atividades realizadas mediante remuneração e com regularidade e


objetivo definido previamente (Médico).

É uma atividade desenvolvida pelo homem com o objetivo de obter uma


remuneração para garantir acesso a alimentação, saúde, educação, entre
outros, além da possibilidade de crescimento pessoal (Enfermeira).

É uma atividade que desempenhamos no dia-a-dia para sobrevivência,


devido à necessidade de remuneração. (Enfermeiro)

Os depoimentos anteriores enfocaram o controle sobre a força de trabalho,


inerente à situação de assalariamento, bem como a necessidade do dinheiro em
nossa sociedade, como equivalente universal e, por conseguinte, como meio de
acesso às condições objetivas de subsistência e a outros bens materiais tidos como
essenciais.
Nessa mesma vertente, alguns profissionais se concentraram em apontar
características negativas do trabalho:

Extremamente desgastante e estressante. Somos muito cobrados e nunca


recebemos elogios. Desvalorização. Sofri abuso de poder (Enfermeira).

Sofrido por causa das condições de trabalho. (Médico)

Cansativo, desmotivante. (Fisioterapeuta)

Hoje em dia, me sinto muito explorada e injustiçada. (Médica)

Os discursos retratam nível elevado de estresse e ritmo intenso de atividades,


bem como ausência de reconhecimento e existência de relações opressoras.
Observa-se que, muito embora a exploração e a opressão tenham suas raízes na
produção industrial, se espraiam na totalidade da vida social, estando presentes,
61

também, no âmbito dos serviços públicos de saúde. Assim, a qualidade de vida que
circunda o trabalho como promessa, muitas vezes, não ocorre, prevalecendo, na
prática, seus efeitos extenuantes.
Em outra direção, parte dos profissionais enfatiza o trabalho como algo
genericamente bom ou relacionado a uma vocação. Veja-se:

Função, ofício em que demorei e me dediquei muito para aprender, e que


faço com muito prazer, felicidade e seriedade (Médico).

Atividade da vida adulta referente à vocação profissional para provimento


das necessidades do indivíduo (Psicóloga).

Esses discursos explicitam aspectos positivos ligados à satisfação e ao


compromisso presentes no exercício da profissão e às necessidades do outro;
entretanto, parecem descolados do enraizamento do trabalho nas relações sociais
de produção vigentes, nas quais essa atividade encontra-se, inevitavelmente,
atrelada a uma série de condicionantes relacionados à comercialização da força de
trabalho - condições laborais, vínculo empregatício, remuneração, jornada,
hierarquia institucional, dentre outros aspectos - que inflexionam esse processo de
cuidado com o outro e a satisfação dele decorrente.
Algumas definições de trabalho apresentadas pelos sujeitos explicitaram
características inerentes ao exercício de sua profissão em específico, bem como
evidenciaram aspectos relacionados ao local onde desempenham suas atividades
profissionais:

Trabalho é a oportunidade de desempenhar nossas funções beneficiando


os pacientes com nossos conhecimentos. (Médico)

Local onde eu transfiro os meus conhecimentos para o cuidado com o


paciente, para alívio de suas dores e sofrimento. (Cirugião-dentista)

São atividades realizadas por pessoas de várias áreas, para atingir um


objetivo. O nosso, por exemplo, é diminuir a dor, promover relaxamento
muscular e inconsciência para que pessoas possam ser operadas e se
curem de doenças ou sequelas de acidentes. (Médico)

O trabalho é caracterizado como atividade direcionada para o


restabelecimento da saúde dos usuários, aliviando dores, superando sintomas de
adoecimento e amenizando suas sequelas. Destaca-se, aqui, o enfoque na
assistência à saúde como trabalho coletivo, no qual interagem diversas profissões
que devem estar articuladas em função de um objetivo comum.
62

Por fim, outra parcela dos profissionais manifestou, como se pode observar
nos discursos a seguir, uma definição de trabalho que enfatiza suas contradições e a
dualidade de sentimentos que emergem dessa atividade, apresentando-o como
fonte de satisfação, mas também de sofrimento.

Fonte de prazer, de renda para o sustento, crescimento pessoal e coletivo,


transformação do mundo, fonte também de cansaço, competição,
exploração... (Assistente Social)

Primeiro como essencial ao ser humano em sociedade; gratificante, mas


também carregado por muito estresse... (Enfermeira).

É a libertação, alegria do homem, porém como está sendo administrado


hoje, é a escravidão. (Médica)

Era para ser realização profissional, porém nos frustramos muito,


principalmente no serviço público. (Nutricionista)

Os sentimentos díspares que emergem nos trabalhadores de saúde em sua


vivência laboral estão evidenciados na literatura científica sobre o tema, a exemplo
de estudo realizado com enfermeiros de hospital universitário da rede pública no Rio
de Janeiro, no qual esses profissionais, cotidianamente, realizam improvisações e
adaptações de materiais e equipamentos para garantir a materialização da
assistência em meio às inadequadas condições de trabalho. Identificou-se que essa
prática gera satisfação pelo fato de viabilizar a realização de procedimentos
necessários à assistência aos pacientes, ao mesmo tempo em que impulsiona
sofrimento, decorrente do maior dispêndio de tempo e de esforço físico e mental
para contemplar a efetivação das tarefas atribuídas a esses profissionais (20),
demonstrando, como foi apontado anteriormente, que o prazer e o sofrimento não
estão dissociados da concretude e da dialética da vida humana e social.
É importante ressaltar, ainda, que o significado do trabalho pode se
apresentar de forma diferenciada entre homens e mulheres. Isso porque, além das
desigualdades historicamente presentes na divisão sexual do trabalho, com
impactos negativos na inserção e na valorização das mulheres no mercado de
trabalho, os papéis socialmente atribuídos a elas no contexto da sociedade
patriarcal/sexista sustentam também uma distribuição desigual do trabalho
doméstico que comumente as sobrecarrega(6). Desse modo, para as mulheres, o
envolvimento em atividades profissionais pode significar preocupação mais intensa
em termos do seu distanciamento dos cuidados com a reprodução social de sua
63

família. É o que foi possível apreender na definição de trabalho de uma profissional,


ao evidenciar, dentre outros aspectos, seu incomodo em relação à separação dos
filhos durante o expediente.

Primeiro como essencial ao ser humano em sociedade; gratificante, mas


também carregado por muito estresse e às vezes sentimento de culpa em
relação aos filhos. (Enfermeira)

Apesar das lutas das mulheres para romper com as desigualdades de gênero
e de suas conquistas em termos de inserção no mercado de trabalho, as relações
desiguais ocorridas neste âmbito e no espaço doméstico ainda se encontram
arraigadas, levando-as ao acúmulo de múltiplas tarefas e a uma jornada extenuante
de trabalho(6). Essa problemática se apresenta relevante no âmbito institucional
investigado, em decorrência da elevada participação feminina no trabalho coletivo
em saúde.

Considerações finais

Com base nos dados produzidos nesta pesquisa, foi possível inferir que o
trabalho em saúde configura-se como um processo permeado por contradições.
Assim, ao passo que os trabalhadores participam da assistência à saúde dos
indivíduos e da coletividade, essa atividade desencadeia sentimentos de prazer pela
possibilidade de contribuir para o restabelecimento da saúde dos usuários, bem
como pode produzir sofrimento, cansaço, estresse e outras formas de desgaste
físico e psíquico desses profissionais.
Os elementos ressaltados pelos participantes deste estudo precisam ser
pensados também como inerentes à sociedade capitalista e às configurações do
trabalho no bojo de suas relações, não podendo ser relacionadas somente às
características do trabalho na urgência e na emergência, à particularidade da área
da saúde ou à vinculação ao setor público.
Acredita-se que os resultados desta pesquisa podem contribuir para o
desvelamento do significado do trabalho em saúde, assim como para atribuir maior
visibilidade às contradições e fragilidades que permeiam essa atividade no âmbito
dos hospitais investigados e, por conseguinte, do sofrimento desencadeado por este
naqueles que o efetivam.
64

Agradecimentos
Aos profissionais das instituições coparticipantes, especialmente aos que
participaram da pesquisa e a Beatriz Pereira e Suênia Cruz pela colaboração na
coleta de dados.

Referências

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enfermagem e a criatividade: adaptações e improvisações hospitalares. Rev Enferm
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66

5.3 – Qualidade de vida e fatores associados em equipe multiprofissional de


hospitais públicos no Brasil: uma abordagem multifatorial baseada em estudo
transversal (artigo a ser submetido ao periódico BMC Health Services Research)
67

Quality of life and work-related factors in public hospitals of emergency care in


Brazil: a multifactorial approach based on a cross-sectional study

Abstract
OBJECTIVE: Measuring the quality of life of the staff working in public hospitals of
emergency care and identifying its correlation with work conditions and subjective
aspects manifested through the motivation and professional satisfaction.
METHODS: It was carried out a cross-sectional study in Northeastern Brazil between
2012 and 2013. The sample included 240 professionals (doctors, nurses, dentists,
social workers, psychologists, nutritionists, physiotherapists, speech therapists and
occupational therapists). A questionnaire was applied to collect information about the
sociodemographic characteristics, health-related habits and aspects related to work.
Another questionnaire applied was The Medical Outcomes Study Short-Form 36.
Some tests were applied, such as: Student T-test, Pearson’s Chi-square and
ANOVA-One Way, all followed by Sidak’s multiple comparisons test. The MANCOVA
models were adjusted having as a result a vector formed by the scales obtained with
the SF36 as variable factors of classification categorized and correlated, and having
the age as covariate factor, all adjusted by the ANCOVA model to specify the
differences. It was resourced to stepwise regression to relate the explanatory
variables important to the study with the scores obtained of the SF36 scales.
RESULTS: The findings related to quality of life showed higher mean scores in the
physical functioning scale (81.35 ± 19.71) and limitations in the role-emotional (78.13
± 35.57) and worse results in vitality. It was rejected the hypothesis of equality
between the means of the professions in the following scales: physical functioning
(p=0.023), role-physical limitations (p=0.026), bodily pain (p<0.001), vitality (p=0,007)
and social functioning (p=0.037). The findings showed a significant correlation
(p<0.005) between quality of life and the variables: age, sex, income, alcohol
consumption, physical activity, working conditions, job motivation, satisfaction with
the profession, importance given to work and occupational stress. Among the
aspects related to work, the variables with the highest correlation with the SF-36
scales are: satisfaction with the profession and occupational stress.
CONCLUSIONS: The quality of the life of the professionals who work in the hospitals
studied is associated to the lifestyle, sociodemographic aspects and objective and
subjective factors related to the entry in the world of work and in the specific
institutional context reported in this study, highlighting the workers’ satisfaction in
their professions.
KEYWORDS: Quality of Life. Work. Worker’s Health. Public Hospitals.

Introduction

Under a broad perspective, the health-illness process is constituted of a


multifactorial and dynamic phenomenon resulting from the interaction of biological
factors (both physical and psychic), permeated by social, economic, politic, cultural
and environmental determinations1. Hence, according to the definition adopted by the
68

Brazilian Unified Health System (better known by the acronym SUS) health is
influenced by nutrition, habitation, sanitation, environment, work, income, education,
transportation, leisure and access to basic goods and services related to health and
quality of life2.
In this sense, work stands in a central position of the life of the social
individuals3 and falls as one of the determiners of the health-illness process of the
workers, either in a way of providing the necessary conditions to a healthy life, as in
promoting health problems, depending on the way that it is done4. In the capitalist
corporate model, illnesses related to work has been affecting many different kinds of
workers, including healthcare professionals, for whom this problem has been
acquiring a global amplitude5.
However, even with the magnitude of the negative impacts that work brings to
health, this is classified as a problem hard of measurement due to underreporting
and, in some cases, due to the difficulty in finding causal links between illness and
labor activity. This difficulty stems from, among other factors, the multicausality of the
health-illness process, since the profiles of illness and death of the workers result
from the interaction between the risk factors common to the community and the ones
inherent to work, what make their recognition more complex6.
From this perspective, the disclosure of the interfaces between work and
health-illness processes in professionals who work within the Brazilian public health
services does not dispense considering the current configurations of the working
environments, understanding them as one of the determinants of the standards of
health and life of these individuals.
Hence, according to the Federal Constitution from 1988 and the laws 8.080
and 8.142 from 1990, the Brazilian health policy must ensure the promotion,
prevention, recovery and rehabilitation of the people’s health, universally,
decentralized, integrated and with the participation of the people. Such policy
constitutes, alongside with social assistance and social security, the Brazilian Social
Welfare2,7,8.
The Brazilian sanitary reform, whereby the Unified Health System was
established, expresses the prominence of fight and claims of the working class and
represents significant progress in overcoming the privatist, excluding and fragmented
nature that marked the path of the health policy in the country. However, its
implementation is tensioned by the neoliberal refunctionalisation of the capitalist
69

State that spreads strongly in Brazil since the mid-nineties. In this context, the public
health is hindered by underfunding, segmentation of the policies constituents of the
social welfare, and a public-private relationship marked by the fostering of the
mercantile interests and dependence regarding the private service providers9.
Nevertheless, in the following decades after the implementation of SUS, which
happened in the nineties, many relevant achievements regarding the broaden of the
service’s network came, subsequently improving the population’s morbidity and
mortality profiles, notably in terms of reduction of child mortality, fertility rate and
increase in life expectancy. Nonetheless, there are still difficulties and inequalities in
the access to health services due to the limited capacity of assistance and low
appreciation for the professionals, among others circumstances that face the idea of
an inclusive social security underlain the sanitary reform project9-12.
In spite of such adverse conditions, the response to emergencies improve
expressively, especially from 1998 onwards, with the establishment of regulations
and the creation, in 2003, of the National Policy on Emergency Care. Between 2004
and 2008 priority was given, to the implementation and expansion of the Mobile First-
Aid Service (as known as SAMU). While, since 2009, funding has been focused on
the implementation of 24-hour emergency care units of medium complexity, aiming to
provide intermediate health services, between the primary health care and hospital
services, becoming a qualified base to stabilization of the users attended by SAMU12.
Even with the extension and diversification of the emergency care, though, still
difficulties remain caused by the incapacity of the Care to reach the needs of the
other levels of the service, subsequently accumulating demands in the services of
greater complexity, which cannot overcome problems such as lack of hospital beds,
overcrowding, inadequate working conditions and quantitative and qualitative
professional deficiency12,13.
Such difficulties affect in the everyday work of the professionals of public
hospitals of emergency care, subjecting them to the precariousness of work
conditions and complicating the efficiency in the population’s healthcare 12,13. This
situation, plus the risk of accidents in the healthcare services, work overload,
nighttime work, long work journeys, unpredicted and intense work pace, make the
work stressing and exhausting and lead to increase their susceptibility to illnesses 13.
Under this perspective, the assessment of the quality of life becomes an
important indicator of the health conditions of the workers. It is worth noting that the
70

definition of quality of life may have different connotations according to different


groups or areas. Thus, quality of life consists in a multifactorial broaden concept that,
according to the World Health Organization, comprises the way the individual
understands its position in life, influenced by its immersion in a cultural context with
its own values, which express its intentions, paradigms and preocupations 14 .
Within healthcare, the aspects of quality of life, connected to the process of
health-illness in people, are prioritized. Therefore, in spite of the diversity of factors
considered during the assessment of quality of life, there is an agreement in the
emphasis given to the perception of the subjects and in the acceptance of the
multidimensionality of this matter, since it embraces physical, psychological and
environmental aspects15.
It is important to highlight that there are, in the scientific literature, many
studies considering the correlation between work and the health-illness process in
the healthcare professional, even using instruments of measuring the quality of
life16,17,18. However, such studies usually define a specific professional group, mainly
nursing professionals, as much as they report limitations regarding generalizations.
Thereby, this study contribution is in the fact of including, simultaneously, many
different professions belonging to the group of professions participants in the public
healthcare; at the same time that focus on interfaces of quality of life with objective
and subjective aspects of their work experiences.
Given the above, we aim to measure the quality of life of the professionals
who work in public hospitals of emergency care in Northeastern Brazil, as well as to
identify its correlations to work conditions, sociodemographic points and subjective
aspects expressed in the motivation inside the institutional context and in the
satisfaction of the professionals with their professions. Assuming that these aspects
are related to the quality of life of the multiprofessional healthcare team.

Methods

This work is a cross-sectional study of quantitative nature performed in two


hospitals; both members of the network of public hospitals of emergency care in the
State of Rio Grande do Norte, Northeastern Brazil.
The sample consists in 168 individuals in Hospital A (NA= 636) and 72 in
Hospital B (NB= 225), total of 240 professionals stratified by professions, as follows:
71

107 physicians; 58 nurses; 22 social workers; 16 physiotherapists; 12 nutritionists; 10


orthodontists; 6 speech-language pathologists; 5 psychologists; 4 occupational
therapists. The inclusion criteria were: a) the professionals should work in the
institution under several different work relations; b) they should have major degree
and should practice their profession directly with the users of the service of both
hospitals studied. The exclusion criteria was: a) proceeding in the institution
dynamics under teaching-learning process.
After visits paid between November 2012 and July 2013, in different days of
the week, shifts and departments, the professionals were invited to participate of the
study in the very hospitals they worked, mostly for general convenience.
A structured questionnaire was tested and perfected in a pilot study, then was
applied. It held the following information: (i) sociodemographic data: age, gender,
marital status, quantity of children, religion and family income; (ii) health-related
habits: smoking, drinking, physical activities; (iii) relative to work: profession, hospital
wage, time working in healthcare and in the hospital, employment bond, weekly
hours on the institution, total workweek in hours, work conditions, satisfaction with the
profession, level of occupational stress, relevance of the work in life.
To measure the quality of life it was applied the Medical Outcomes Study
Short-Form 36 (SF36), translated and validated in Brazilian Portuguese by Ciconelli
et al. (1999)19. It is an easily understandable, self-administrated, generic and
multidimensional instrument. Used in many countries, the SF36 is broadly used in
different segments in Brazil, including healthcare workers. It is constituted of 36
items, which the results vary from 0 (worst health state) to 100 (best health state)
covering eight scales: physical functioning, role-physical, bodily pain, general health,
vitality, social functioning, role-emotional and mental health19.
From this were considered multiple factors determinant in the quality of life,
consequently, in the health condition of the healthcare workers. As it is possible to
see on the conceptual map presented on Figure 1.
72

Figure 1 – Illustrative conceptual map of the multifactorial aspects existing


between work and quality of life regarding the health of healthcare
professionals in public hospitals of emergency care in the State of Rio Grande
do Norte, Northeastern Brazil, 2013.

* The biologic factors (genetic inheritance and biological process inherent to human
life), although not explored in this study, are considered fundamental determiners in
the health-illness process lived by humans, as well as their operating conditions
present this dynamic and multifaceted process.

To the data analysis, the descriptive statistic was used to verify the
frequencies and bivariate tests were applied to verify the homogeneity of the
distributions between the institutions and the correlation between the variables. The
Student T-test was applied to compare the means of the continuous quantitative
variables; and Chi-Squared test to the categorical variables. One-Way ANOVA was
used to compare the mean of each SF36 scale in the professional categories. Sidak’s
multiple comparisons test was used to reject the hypothesis of equality.
Many multivariate tests were applied and adjusted to the MANCOVA models,
resulting in a vector formed by the eight scales, as variable classification factors
categorized and correlated, and age as a covariate. All the models adjusted were
age-adjusted, since this multivariate test showed a significant association between
the average profile of the scales and the age (W=0.84; ρ<0.001). ANCOVA univariate
73

models were adjusted to detail the differences of the classification factors that
presented significant association to the response vector.
Finally, stepwise regression models were adjusted to correlate to the scores
obtained in the many SF36 scales to work conditions, motivation, satisfaction with the
profession, occupational stress and importance attributed to the work. To do so, the
following indicators were created: importance of the work in life, measured in an
ascending scale from 1 to 10; occupational stress, varying from 1 (very stressful) to 4
(not stressful); satisfaction with the profession, varying from 1 (not satisfied) to 4
(very satisfied); motivation in the hospital work, varying from 1 (not motivated) to 4
(very motivated); work conditions in the hospitals, an ascending score from 1 (very
bad) to 10 (very good) obtained by 49 – 9X/4, where X is the mean of the scores
result in 10 questions belonging to the assessment of work conditions: physical
structure, remuneration, hygiene and safety at work, possibility of professional
qualification, materials/supplies, medications, equipment, relationship with the users,
relationship in the professional team and relationship with the management. To all
statistic tests the significance level was considered 5% (ρ<0.05).
The study was approved by the Ethics in Research Committee of the State
University of Rio Grande do Norte (Protocol No. 111/2011). Meaning that the
investigation was designed and performed considering the ethical principles of
researches with human beings, according to the Resolution of the National Health
Council No. 466/2012. Hence, the participants were duly informed and, after their
agreement, they signed a Free and Clarified Consent Term (a form needed to
consent in a research with human beings with all the clarifications regarding the
research and the signed consent of the volunteers in participating).
Following on this introduction, this article considers the methodological steps,
followed by the presentation and discussion of the results and ends with an
explanation of the conclusions and considerations about the limits and contributions
of the study.

Results

The participants are mostly women (60.4%) in different age groups (between
24 and 68) and, in general, already work for a long time in the hospitals studied in
this research, given the fact that 46.4% work in the institutions for more than 10
74

years. This number goes to 81.9% if considered three or more years of insertion of
these professionals in the institutions researched.
The findings show that 21.7% of the respondents do not drink alcohol, 48.8%
claim to drink occasionally and 26.4% say they drink only during the weekends. A
more frequent use is not reported. About smoking, 4.2% are smokers, most of them
have never smoked (75.8%) and 15.8% overcame the addiction. Approximately half
the professionals practice physical activity regularly (50.6%); this percentage reduces
to 36.7% if the frequency considered is equal or higher than three times a week.
About the indicators related to the working life, Table 1 shows that there is a
significant difference between the institutions investigated only regarding the working
conditions (ρ=0.001), which were assessed as significantly worse in Hospital A

Table 1 – Statistics of the indicators regarding the professional life by


institution

Hospital A Hospital B
Indicators p(*)
Standard Standard
N Mean N Mean
deviation deviation

Working conditions (↑Best) 166 5.31 1.23 72 5.88 1.13 0.001

Motivation (↑Highest) 166 2.62 0.767 63 2.62 0.705 0.796

Satisfaction with the profession


164 2.94 0.671 62 3.08 0.685 0.161
(↑ Highest)

Occupational stress (↑ Best) 166 1.89 0.691 72 1.89 0.779 0.974

Importance of the work (↑ Highest) 159 7.48 1.61 60 7.78 1.26 0.188

(*) Student T-test

The SF36 results, presented in Table 2, showed lower average scores in the
scale vitality, and higher in physical functioning and limitations in the role-emotional.
Applying the Student T-test to compare the means of the scales no significant
difference was found between the hospitals in any of them (ρ>0.005).

Table 2 – Mean scores in the SF36 scales in professionals of public hospitals in


the State of Rio Grande do Norte, Northeastern Brazil. 2012-2013.
75

Scales Mean Standard deviation Median

Physical functioning 81.35 19.71 90.00

Role-physical limitations 75.23 34.11 100.00


Bodily pain 67.77 22.89 72.00

General Health 68.90 19.90 72.00

Vitality 61.08 21.16 60.00

Social Functioning 70.81 23.89 75.00


Role-emotional limitations 78.13 35.57 100.00
Mental health 74.33 18.50 76.00

(*) Missing values excluded (n=218).

The results obtained with the One-Way ANOVA showed no significant


difference among the professions regarding general health (ρ=0.972), social
functioning (ρ=0.065), role-emotional limitations (ρ=0.114) and mental health
(ρ=0.220). Contrasting, the test showed that the hypotheses of equality of the means
was rejected to the scales: physical functioning (ρ=0.021), role-physical limitations
(ρ=0.025), bodily pain (ρ<0.001) and vitality (ρ=0.013).
As shown on Graphic 1, the professional categories present average scores in
different SF36 scales. Regarding the physical functioning, it is possible to see that
the psychologists and occupational therapists present lower means, if compared to
the other professionals. About the role-physical limitations, the orthodontists
presented higher mean scores than the other categories, while the occupational
therapists presented lower mean scores than the other professionals; the same is
true regarding bodily pain. Regarding vitality, the best health conditions were found
among the physicians, which, along with the orthodontists, presented the higher
mean scores in the different scales when compared to the other professions.
Interestingly, the psychologists had a better mean in social functioning. While the
physiotherapists presented the worst health conditions regarding role-emotional
limitations.

Graphic 1 – Mean scores in the SF36 scales by professional categories of


healthcare workers in public hospitals in Rio Grande do Norte, 2013.
76

Analyzing the association between quality of life, sociodemographic and


professional aspects, the results of the MANCOVA test age-adjusted, showed a
significant association between the average profile of the scales and the gender
(W=0.84; ρ=0.009), where the worst scores were from women. The ANCOVA test
presented a higher mean in men in all scales; however the difference is significant in
the following: physical functioning (ρ=0.001), bodily pain (ρ=0.007), vitality (ρ=0.001)
and mental health (ρ=0.003). The MANCOVA model, including factors such as wage,
family income and covariate age, found a significant association between the scales
and the family income (W=0.890; ρ=0.029). Regarding wage the test was not
significant (W=0.914; ρ=0.105).
Concerning a correlation between quality of life and health-related habits, a
similar model covering smoking, alcohol consumption and physical activity did not
identify a significant association with smoking (W=0.902; ρ=0.421). Adjusting the
model removing the smoking factor of the list, the test resulted in a significant
association with alcohol consumption (W=0.866; ρ=0.021) and physical activity
(W=0.805; ρ=0.001). It is important to highlight that higher means were found in non-
smoking participants than in smokers or former smokers in several SF36 scales;
however, the differences were not significant in any of them.
77

Regarding the association between quality of life and objective/subjective


aspects of the professional life, Table 3 shows the results of the multivariate analysis
adjusting multiple regression models resulting in the outcomes of the scales and
explanatory variables, those included in the model for showing significant
associations, all according to stepwise selection criteria.

Table 3 – Correlation between the scores of the SF36 scales and the variables *
considering objective/subjective aspects of the professional life, according to
stepwise regression models (α = 10%). Rio Grande do Norte, RN, 2012-2013.
**
Explanatory variables
Satisfaction
Occupational Work Importance of the
Scales Intercept with the
stress conditions work
profession
β ρ β ρ β ρ β ρ β ρ
Physical
85.003 <0.001 5.628 0.008 -2.841 0.003
functioning
Role-physical 2.39
61.461 <0.001 0.209
limitations 3
Bodily pain 48.493 <0.001 6.249 0.008

General Health 45.271 <0.001 4.800 0.024 4.797 0.015

Vitality 19.876 0.001 9.982 0.001 5.786 0.003


Social 2.68
31.838 <0.001 4.250 0.094 5.657 0.018 0.052
Functioning 5
Role-emotional 5.04
36.046 0.001 6.929 0.034 0.009
limitations 4
1.84
Mental health 35.781 <0.001 6.601 0.001 4.597 0.010 0.070
4

(*) Variables: Degree of importance of the work in life ↑ Higher; Stress in work ↑ Not
stressing; Level of satisfaction with the profession ↑ Very satisfied; Work conditions in
the hospital ↑ Very good; Motivation in work ↑ Very motivated
(**) The variable motivation in work, inserted during the step of composition of this
multivariate model, was not included according to stepwise selection criteria.

It is important to note that the level of motivation in the Hospitals is correlated


to the scores of all the eight scales, and this correlation was statistically significant in
vitality (r=0.234; ρ=0.001), social functioning (r=0.166; ρ=0.021) and mental health
(r=0.161; ρ=0.025).

Table 4 – Matrix of correlation of the scales* with the explanatory variables.


Explanatory variables SF-36 scales
78

PF RP BP GH VT SF RE MH
Importance of the r -0.209 -0.022 -0.047 0.049 0.122 0.004 0.124 0.073
work ρ 0.003 0.762 0.516 0.493 0.089 0.959 0.085 0.312
r 0.110 0.092 0.160 0.251 0.325 0.269 0.236 0.325
Occupational stress
ρ 0.128 0.202 0.026 0.000 0.000 0.000 0.001 0.000
Satisfaction with the r 0.148 0.038 0.182 0.259 0.409 0.235 0.216 0.367
profession ρ 0.039 0.599 0.011 0.000 0.000 0.001 0.002 0.000
Motivation in the r 0.078 -0.002 0.095 0.112 0.234 0.166 0.136 0.161
hospital work ρ 0.279 0.976 0.186 0.121 0.001 0.021 0.059 0.025
r -0.067 0.089 0.025 0.113 0.252 0.256 0.273 0.295
Work conditions
ρ 0.355 0.215 0.729 0.118 0.000 0.000 0.000 0.000
(*) PF: Physical Functioning; RP: Role-Physical; BP: Bodily Pain; GH: General
Health; VT: Vitality; SF: Social Functioning; RE: Role-Emotional; MH: Mental Health.
N=194.

Yet, this variable was passed over from the model due to the selection
criterion, since it establishes a significant correlation to work conditions (r=0.456;
ρ<0.001), occupational stress (r=0.359; ρ<0.001) and satisfaction with the profession
(r=0.351; ρ<0.001), also for the fact of these variables have a higher correlation with
the scales.

Discussion

The data show that there is not a big difference between the institutions
concerning the health status of the professionals. The higher scores in physical
functioning scale and lower outcomes in vitality are consistent with other studies,
especially those not directed to individuals stricken by a specific disease 16, 20. In the
same way, the association between the scores measured in SF36 scales and
gender, resulting in higher scores for men, agree with many national and international
studies covering different population segments20,21,22,23.
Comparing to studies applied to the general population 20 and to nursing
professionals in a private hospital17, it is noticeable that the participants of this study
presented a better average score in role-emotional limitation. Although it is also
possible to identify lower average scores in physical functioning and general health.
79

Concerning the work conditions, worse assessment indexes in Hospital A may


reflect some particularities of this institution. Namely: the fact of its localization be
placed in the state the capital; be the largest public hospital of emergency care in Rio
Grande do Norte; serve users from the many places in the state, including those
which the needs were not fully attended in others state hospitals.
Still on the work conditions, a study performed in different kinds of hospitals in
Natal, capital city of Rio Grande do Norte, found worse conditions in the public
sector, where many deficiencies were reported. Mainly related to comfort, to the
benefits offered to the professionals, to the safety against risks to the healthcare
workers’ health, to the equipment, work materials and salary24.
Thereby, with some exception, in Brazilian public healthcare the professionals
work in poor work conditions, inasmuch the physical infrastructure, supplies and
equipment not always are adequate and/or enough to meet the demand of the users
satisfactorily25,26,27.
This study showed the existence of a strong correlation between quality of life
and occupational stress, data consistent to studies that reported adverse effects of
stress in health28,29. Regarding the negative association between the degree of
importance of the work and the average scores of physical functioning, it is possible
to believe that a greater importance assigned to the work may bring a greater effort
applied in the labor activities and, consequently, lean to a decrease in this aspect of
quality of life.
Considering an association of the quality of life with the feelings of the subjects
regarding their work, despite of the significant correlation between motivation and the
scales: vitality (r=0.234; ρ=0.001), social functioning (r=0.166; ρ=0.021) and mental
health (r=0.161; ρ=0.025); the satisfaction with the profession presented a strong
correlation with almost all the scales (except role-physical limitations), as well as it
showed the higher decrease in those scores. Consequently, the findings suggest
that, in the hospitals, the satisfaction with the profession influences more in the
quality of life than motivation. Such observation comes from the amount of works
performed by the healthcare professionals, which generally have a professional life
much wider than working in only one institution30,31.
The results present similarities with other studies with healthcare professionals
about the association between quality of life and work conditions 16, as well as
satisfaction with the profession32.
80

Conclusion

The results allow us to conclude that the quality of life of the professionals who
work in the hospitals studied is associated to sociodemographic and professional
factors; life habits and objective and subjective labor aspects. Both work conditions
and motivation in the work, as much as satisfaction with the profession, are
significantly positively associated to the SF36 scales, ratifying the hypothesis
believed in this study.
It is important to highlight that, since it is a cross-sectional study, the results of
this research are not possible to induce causal relations. Moreover, it focused on
specific hospital environments, not allowing possible generalizations. In addition, the
work conditions discussed in the hospitals studied might have been changed, since
in the moment of the data collection was happening reforms in the physical structure.
We believe that the findings may bring a greater visibility to the problems
related to the work in the public hospitals of emergency care and their relation to the
health of the multiprofessional team, as much as help in the planning of strategies to
the promotion of the health of the professionals. Lastly, the realization of other
longitudinal investigations combining the assessment of the quality of life to clinical
indicators and biochemical parameters would be recommended, as a way of
ascertain causal relations between the work in healthcare and the possible illness
process of its workers.

Authors contributions in the construction of the manuscript.


IR participated in the conception of the study, data collection and analysis and in the
writing; EM participated in the conception of the study, contributed in the data
analysis, reviewed and approved the final version.

Acknowledgements
We would like to extend our gratitude to the employees of the hospitals researched,
specially the professionals who participated in the research and/or helped in our
integration in those environment. To Sâmya Ramos for her important contributions in
the conception of this study; to Gláucia Russo for her reviews and suggestions
pointed throughout the research and during the creation of this manuscript; to José
81

Wilton Queiroz for the ratification of the statistical analysis; to Gilson Torres for his
critical review of the content; and Beatriz Pereira and Suênia Cruz, for their help
during the data collection.

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85

5.4 – Trabalho e (des)conforto psicológico entre profissionais de hospitais


públicos de urgência e emergência: uma análise multifatorial (artigo a ser
submetido à Revista Texto & Contexto Enfermagem)
86

TRABALHO E (DES)CONFORTO PSICOLÓGICO ENTRE PROFISSIONAIS DE


HOSPITAIS PÚBLICOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA: UMA ANÁLISE
MULTIFATORIAL

Resumo: Este artigo fundamenta-se em dados quantitativos oriundos de estudo


transversal, tendo o objetivo de mensurar a prevalência de Transtornos Mentais
Comuns (TMC) em equipe multiprofissional de hospitais públicos de urgência e
emergência e averiguar a existência de associações destes com aspectos laborais,
sociodemográficos e hábitos relacionados à saúde. Aplicou-se questionário com
informações sociodemográficas e laborais, bem como o Questionário de Saúde
Geral (QSG-12), com 240 profissionais. Inferiu-se que 32,5% dos sujeitos
apresentaram TMC, cuja presença não se associou significativamente com fatores
sociodemográficos e hábitos relacionados à saúde. Condições de trabalho e renda
familiar apresentaram associação significativa com TMC. Não foi constatada
associação significativa entre a presença de TMC com profissão e motivação no
trabalho nos hospitais, muito embora estas variáveis tenham apresentado
associação significativa com as médias da pontuação do QSG12. Conclui-se que o
desconforto psíquico apresenta interfaces com o trabalho, demandando a promoção
da saúde mental dos profissionais de hospitais públicos.
Palavras-chave: Trabalho. Saúde mental. Transtornos mentais comuns. Hospitais
públicos.

Abstract: This article is based on quantitative data derived from cross-sectional


study aiming to measure predomination of Common Mental Disorders (CMD) among
multidisciplinary team of public hospitals and ERs, and investigate the existence of
associations with labor, habits and demographic aspects to health. Questionnaire on
sociodemographic and employment information applied, even as the General Health
Questionnaire (GHQ-12), with 240 professionals. 32.5% of subjects had TMC, whose
incidence was significantly associated with working conditions and family income.
There was no significant association between the presence of TMC with
sociodemographic factors, health-related profession or work motivation in hospitals
habits. Nevertheless, the motivational levels were significantly associated with the
average score of QSG12. Psychic discomfort presents association with work,
requiring promotion of mental health professionals in public hospitals.
Keywords: Job. Mental Health. Common Mental Disorders. Public hospitals.

Resúmen: Este artículo se basa en datos cuantitativos derivados de estudio


transversal con objetivo de medir predominio de Trastornos Mentales Comunes
(TMC) entre equipo multidisciplinario de hospitales públicos y exigencias
ambientales; e investigar existencia de asociaciones con el trabajo, hábitos y
aspectos demográficos para la salud. Un cuestionario sobre información
sociodemográfica y empleo fue aplicado. 32,5% de los sujetos tenía TMC, cuya
incidencia fue significativamente asociada con condiciones de trabajo e ingresos de
la familia. No se encontró asociación significativa entre presencia de TMC con
factores sociodemográficos, hábitos de trabajo o profesión, con motivación. Niveles
de motivación fueron significativamente asociados con puntaje promedio de QSG12.
Malestar psíquico presenta asociación con trabajo, requiriéndose promoción de
profesionales de salud mental en hospitales públicos.
Palabras clave: Trabajo. Salud Mental. Trastornos Mentales Comunes. Hospitales
públicos.
87

Introdução
O percurso do conhecimento acerca da saúde e da doença é perpassado por
diferentes perspectivas, abrangendo visões metafísicas, concepções pautadas no
pensamento religioso e conhecimentos alicerçados na racionalidade científica 1.
Estes últimos, por sua vez, oscilam entre uma perspectiva mais restrita aos aspectos
biológicos e naturais e outra que reconhece a saúde como processo multicausal, no
qual se interrelacionam, indissociavelmente, mecanismos biológicos e
determinações sociais.
Em meio a esse processo de construção dos conhecimentos e práticas no
campo da saúde, a ideia de multicausalidade da saúde-doença se dissemina no
século XX, com o reconhecimento de que os determinantes das doenças estão
relacionados ao agente etiológico, ao hospedeiro e ao meio ambiente. Nesse
contexto, o indivíduo passa a ser reconhecido como ser biopsicossocial. Entretanto,
o predomínio da racionalidade científica arraigada à objetividade e à fragmentação,
promove uma visão isolada dessas múltiplas causas2. Esse paradigma influenciou
fortemente o campo da saúde, fortalecendo o modelo biomédico, centrado na
doença e na medicalização.
Em sentido adverso às percepções biologicistas, a compreensão acerca dos
múltiplos determinantes do processo saúde-adoecimento, associada à ideia de
saúde como direito universal e dever do Estado, amplamente disseminada no Brasil
a partir de meados da década de 1980, impulsiona a reforma sanitária e a
incorporação desse ideário no âmbito da política de saúde brasileira, como reflexo
das lutas e conquistas da classe trabalhadora. Nessa perspectiva, o Sistema Único
de Saúde brasileiro se alicerça na compreensão de que a saúde é influenciada,
dentre outros fatores, por fatores como alimentação, moradia, saneamento, meio
ambiente, trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços
essenciais3.
Consoante com essa concepção e, portanto, sem desconsiderar os diversos
aspectos que interferem na saúde, este estudo enfatiza o trabalho, considerando-o
elemento fundamental nesse processo, pela sua capacidade de viabilizar a
satisfação das necessidades humanas, bem como influenciar na construção da
socialização e da identidade dos indivíduos. Assim, pela sua centralidade na vida
social, influencia na saúde-adoecimento dos indivíduos, podendo impulsionar o
desgaste ou o fortalecimento da saúde4.
88

Em meio aos problemas atinentes ao adoecimento dos trabalhadores,


destaca-se atualmente a deterioração da saúde mental 4,5. Essa conjuntura
neoliberal, cingida por alterações no mundo do trabalho intensificadas e
intensificadoras da flexibilização e da precarização das relações de trabalho e do
desemprego, tem proliferado intenso sofrimento psíquico entre os segmentos
trabalhadores, bem como doenças, acidentes e suicídio6.
Contudo, o desgaste psíquico inclui várias situações com sintomas e níveis de
gravidade distintos, o que ocasiona dificuldades em termos de conceitos e
indicadores a serem utilizados entre os estudiosos da temática. Destarte, emergiu a
noção de transtornos psíquicos leves ou não psicóticos, tendo em vista
compreender-se que a saúde mental não significa apenas a ausência de distúrbios
graves7. Ressalva-se que os transtornos psíquicos configuram um problema
recorrente em nossa sociedade e exigem atenção em quaisquer de suas
manifestações e níveis de gravidade, pois, mesmo quando considerados leves,
afetam a qualidade de vida e podem ser preditores de transtornos psíquicos de
maior gravidade.
Nessa perspectiva, Goldberg e Huxley propuseram a expressão Transtornos
Mentais Comuns (TMC) para se referirem a alguns sintomas que sinalizam desgaste
da saúde e que demandam intervenção, mas aludem a transtornos de menor
gravidade, os quais abrangem, por exemplo, insônia, fadiga, irritabilidade,
esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas 8. Na literatura
científica, tais problemas são também denominados como distúrbios psíquicos
menores e transtornos mentais não psicóticos9.
No caso do adoecimento relacionado ao trabalho em hospitais públicos de
urgência e emergência, é importante considerar que, além de vivenciarem os efeitos
nefastos à saúde atinentes à forma de estruturação das relações sociais capitalistas,
os sujeitos que atuam nesses espaços se deparam, também, com situações
particulares a essa atividade laborativa. Dessa forma, ressalta-se que, apesar da
ampliação do acesso e da consequente melhoria no perfil epidemiológico, persistem
diversas fragilidades na operacionalização da política de saúde, tais como
subfinanciamento, lacunas na equidade da oferta dos serviços e das condições de
saúde e uma relação entre o público e o privado que fragiliza a concretização de um
sistema universal, público, participativo, descentralizado e integral, tal como
preconizado nos documentos legais e normativos. Essas dificuldades impactam o
89

cotidiano desses profissionais, pois realizam seu trabalho em meio a precarização e


terceirizações, sem ser garantida a efetivação de planos de carreiras, cargos e
salários10.
Diante do exposto e considerando as múltiplas determinações da saúde-
adoecimento, objetivou-se mensurar a prevalência de Transtornos Mentais Comuns
entre profissionais de hospitais públicos de urgência e emergência do Rio Grande do
Norte e averiguar a existência de associações entre estes e aspectos profissionais,
sociodemográficos e hábitos de vida relacionados à saúde. Espera-se que os
resultados contribuam para atribuir maior visibilidade ao adoecimento psíquico entre
profissionais de saúde e suas interfaces com a inserção destes no mundo do
trabalho, particularmente no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Métodos
Este artigo fundamenta-se em dados quantitativos produzidos por meio de
estudo transversal, efetivado em dois hospitais públicos integrantes da rede
hospitalar de urgência e emergência vinculada ao governo do Estado do Rio Grande
do Norte.
A amostra aglutina 240 participantes, dentre médicos, enfermeiros,
assistentes sociais, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos,
nutricionistas e terapeutas ocupacionais, integrantes de um universo de 857
profissionais. Os participantes foram contatados nas próprias instituições, por
acessibilidade, mediante os critérios de inclusão: a) atuar nas instituições mediante
relações de trabalho diversas; b) desempenhar profissões de nível superior que
envolvam relação direta com usuários. A participação na dinâmica da assistência
hospitalar em situação de ensino-aprendizagem foi considerada critério de exclusão,
por não se caracterizar como relação de trabalho.
A coleta dos dados ocorreu no período de novembro de 2012 a julho de 2013,
mediante aplicação de questionário estruturado, contemplando informações
sociodemográficas, laborais e hábitos relacionados à saúde.
Para avaliar o bem-estar psicológico dos profissionais, utilizou-se o
Questionário de Saúde Geral, em sua versão de 12 itens (QSG-12), o qual possibilita
identificar sinais de risco para o acometimento de doenças psiquiátricas não
severas. Trata-se de versão resumida e validada no Brasil do General Health
Questionnaire, composto de 60 questões (QSG-60), originalmente elaborado por
90

Goldberg & Williams. Posteriormente, foram desenvolvidas versões reduzidas,


contendo 30, 20 e 12 itens, de comprovada confiabilidade 11. Tal instrumento é
utilizado em vários países para identificar a vulnerabilidade a transtornos psíquicos
não psicóticos, havendo estudos com diferentes segmentos da população, inclusive
em contextos ocupacionais e que consideram pessoas em situação de desemprego.
Consiste, portanto, um instrumento de medida de bem-estar psicológico12.
O referido instrumento é composto por 12 perguntas, respondidas em uma
escala de frequência de quatro pontos, cujas opções são representativas do quanto
o indivíduo tem experimentado, nas últimas semanas, os sintomas narrados em
cada item. Inexiste consenso quanto à estrutura fatorial desse instrumento 8, sendo
encontrados na literatura estudos que apontam para a utilização de uma, duas ou
até três dimensões13. Contudo, não se verificou dissenso acerca da confiabilidade de
utilizá-lo como uma medida unidimensional apropriada para mensurar o nível de
bem-estar psicológico7,11. Desse modo, neste estudo, foi contabilizado um único
fator e a apuração das respostas foi feita reagrupando-as em duas categorias, de
maneira que se atribuiu zero para os dois primeiros níveis de respostas e um para as
opções de níveis três e quatro. O escore QSG12 foi computado a partir do somatório
dos itens, cujo valor varia no intervalo [0; 12], de maneira que menores valores
representam melhor estado de saúde. Foi adotado o parâmetro equivalente a três
pontos ou mais como sinalizador de desconforto psicológico, ou seja, da propensão
ou do acometimento de transtornos mentais comuns, tais como distúrbios do sono,
sintomas depressivos, ansiedade, dentre outros problemas psíquicos de menor
gravidade.
Utilizou-se a estatística descritiva para verificação das frequências e sua
distribuição, bem como foram realizados testes bivariados para averiguar a
associação entre as variáveis independentes (sociodemográficas e profissionais) e a
dependente (condição de saúde mental, mensurada pelo QSG12). Em se tratando
de variáveis categóricas, foram realizados cruzamentos 2x2 e aplicados os teste de
associação Quiquadrado, Exato de Fischer e calculado o coeficiente de
concordância τ – Kendal. Para testar a associação com variáveis quantitativas,
foram aplicados os testes não paramétricos Mann-Whitney e Kolmogorov-Smirnov.
Realizou-se, ainda, teste ANOVA para averiguar a associação entre a condição de
saúde mental, aferida por meio da média da pontuação obtida no QSG12, e o nível
de motivação no trabalho nos ambientes hospitalares investigados.
91

A investigação foi concebida e efetivada considerando os princípios éticos


de pesquisa com seres humanos, cujos procedimentos respeitaram as indicações
contidas na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. O estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte, sob o protocolo nº 111/2011, expedido em 11/11/2011. Os
participantes foram esclarecidos acerca dos objetivos e procedimentos da pesquisa
e, após manifestação de aceite, responderam aos questionários, mediante
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Resultados/discussão

Perfil dos sujeitos e características da atividade e do ambiente laboral

Na composição da amostra, demonstrada detalhadamente na Tabela 1,


buscou-se aproximá-la da proporcionalidade de distribuição entre as categorias
profissionais existente no quadro funcional dos hospitais.

Tabela 1 – Composição da população e da amostra por profissão


PROFISSIONAIS N (%) n (%)
Médicos 459 (53,3) 107 (44,6)
Enfermeiros 191 (22,2) 58 (24,2)
Assistentes Sociais 63 (7,3) 22 (9,2)
Fisioterapeutas 38 (4,4) 16 (6,7)
Nutricionistas 47 (5,5) 12 (5,0)
Cirurgiões-Dentistas 31 (3,6) 10 (4,2)
Fonoaudiólogos 08 (0,9) 06 (2,5)
Psicólogos 14 (1,6) 05 (2,1)
Terapeutas Ocupacionais 06 (0,7) 04 (1,7)
TOTAL 861 (100) 240 (27,9)

Os participantes apresentam diversificada faixa etária, com média de 44,5


anos (± 11,24), sendo a maior parte (60,4%) do sexo feminino. Sobre a remuneração
pelo trabalho desempenhado, 10,5% dos profissionais opinaram que a consideram
92

boa e muito boa, 38,9% regular e 50,6% ruim e muito ruim. Não foi identificada
associação significativa entre a avaliação do salário e a instituição (p=0,121), o que
se mostra coerente, haja vista que os profissionais estão todos vinculados ao
governo estadual.
Em geral, os sujeitos acumulam outros compromissos laborais além do
trabalho nos hospitais investigados, de maneira que 69% dedicam acima de 40
horas ao trabalho e parte expressiva (45%) exerce a profissão em outros locais, sem
vínculo empregatício. Somado o tempo dedicado à totalidade dos compromissos
profissionais, parcela equivalente a 31% dos profissionais costuma passar mais de
60h semanais trabalhando.
Tangente às condições de trabalho, foram avaliados os seguintes aspectos:
equipamentos, materiais (insumos), medicamentos, estrutura física, higiene e
segurança no trabalho, remuneração, possibilidade de qualificação, além das
relações interpessoais estabelecidas com a gerência, os usuários e a equipe
multiprofissional. Os resultados foram calculados de maneira a compor um escore
médio abrangendo estes dez itens, variável de 1 (pior condição) a 10 (melhor
condição), de forma que a mensuração do total das avaliações resultou em média
equivalente a 5,48.
Referente à motivação, 56,3% dos profissionais afirmaram sentir-se pouco ou
nada motivados em relação ao trabalho, no âmbito dos hospitais abrangidos no
estudo. Tal resultado se aproxima da situação apresentada em estudo realizado com
enfermeiros de um hospital de urgência em Aracaju-SE, cujos dados apontaram que
60% dos pesquisados consideraram que as equipes de enfermagem não são
motivadas14.
Compreende-se que a motivação emerge de fatores intrínsecos aos seres
humanos, impulsionada por suas necessidades e expectativas, sendo influenciada
também pela interação de cada indivíduo com as condições do ambiente e as
situações vivenciadas. Nessa perspectiva, envolve fatores motivacionais - inerentes
aos sujeitos e às características da atividade laboral - e fatores higiênicos –
referentes ao ambiente de trabalho14-15. Por conseguinte, considerou-se relevante
apreender os aspectos laborais considerados motivadores, os quais estão
apresentados na Tabela 2.
93

Tabela 2 – Influencia dos fatores laborais na motivação nas instituições


investigadas, segundo profissionais de hospitais públicos do Rio Grande do
Norte, 2014.

Aspectos laborais analisados Potencializa Arrefece a


a motivação motivação
n % N %
Resultados do trabalho 147 64,5 23 10,1
Contribuição do trabalho para o desenvolvimento 125 54,8 24 10,5
pessoal/profissional
Relações interpessoais no trabalho 122 53,5 38 16,7
Conteúdo do trabalho em si 110 48,2 25 11
Condições de trabalho 6 2,6 188 82,5
Remuneração 19 8,3 153 67,1
Forma de organização do trabalho 13 5,7 113 49,6
Reconhecimento/valorização do trabalho 70 30,7 104 45,6

Dentre os fatores predominantemente vislumbrados como potencializadores


da motivação, sobressaíram-se aspectos relacionados a conteúdo, resultados e
relações interpessoais que integram a atividade laboral. Além dos aspectos
explicitados acima, listados no questionário, parcela (5,7%) dos profissionais
assinalou a existência de outros fatores motivacionais, os quais realçaram: a
oportunidade de exercer atividade de ensino, visto que a instituição atua como
espaço de formação profissional; a possibilidade de contribuir para a recuperação da
saúde dos pacientes; o desejo de ver funcionando um serviço público com
qualidade; além do gosto pela profissão exercida.
No que se refere aos fatores apontados primordialmente como arrefecedores
da motivação, destacaram-se aqueles mais vinculados ao funcionamento dos
serviços e à gestão do trabalho no âmbito do Sistema Único de Saúde,
particularmente na instância governamental a que os hospitais se encontram
vinculados. Também foram apontados por alguns sujeitos (6,6%) outros aspectos
desmotivadores: fragilidades na operacionalização da política de saúde brasileira e
seus perversos desdobramentos nas condições de trabalho dos profissionais e na
assistência prestada aos usuários, a exemplo da insuficiência de leitos, de vagas na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e outros recursos para viabilizar o atendimento
às demandas da população, assim como a reduzida valorização dos profissionais,
inclusive em termos salariais.
94

(Des)conforto psíquico entre profissionais de hospitais públicos de urgência e


emergência e fatores associados
Com base nos dados obtidos a partir da aplicação do QSG-12, constatou-se
que, considerado o ponto de corte ≥ 3 pontos, 32,5% dos profissionais apresentaram
resultados condizentes com Transtornos Mentais Comuns, o que explicita a
necessidade de medidas voltadas para promoção da saúde psíquica desses
sujeitos.
O QSG12 contempla questões atinentes a capacidade de concentração,
perda do sono, sentimento de ser útil, capacidade de tomar decisões, sensação de
esgotamento e tensão, capacidade de superar as dificuldades e de enfrentar
adequadamente os problemas, satisfação ao realizar as atividades cotidianas, perda
da autoconfiança, sentimento de felicidade/infelicidade e depressão. Os dados
obtidos nesta pesquisa explicitaram que as situações negativas mais
frequentemente vivenciadas pelos sujeitos se referem à diminuição na capacidade
de concentração e à sensação de esgotamento e de estar submetido à tensão.
Os resultados do teste Likelihood Ratio, obtidos após o agrupamento das
respostas, pontuando-as como zero e um, conforme demonstra a Tabela 1,
demonstraram inexistência de diferença significativa (p=0,560) entre o escore obtido
no QSG12 e a instituição.

Tabela 3 – Pontuação no QSG12 entre profissionais de hospitais públicos do


RN.

Pontuação no QSG-12 HMWG HRTM TOTAL


N % n % N %
0 25 35.21 58 36.25 83 35,93
1 16 22.54 26 16.25 42 18.18
2 6 8.45 25 15.63 31 13.42
3 5 7.04 15 9.38 20 8.66
4 4 5.63 10 6.25 14 6.06
5 2 2.82 4 2.50 6 2.60
6 2 2.82 5 3.13 7 3.03
7 5 7.04 4 2.50 9 3.90
8 3 4.23 2 1.25 5 2.16
9 2 2.82 5 3.13 7 3.03
10 0 0.00 3 1.88 3 1.30
11 0 0.00 1 0.63 1 0.43
12 1 1.41 2 1.25 3 1.30
Total 71 100.00 160 100.00 231 100.00
95

Os resultados dos testes Quiquadrado, Exato de Fischer e Coeficiente de


concordância τ – Kendal, utilizados para verificar a existência de associação entre
TMC e as variáveis categóricas apresentaram resultados coerentes. Nesse sentido,
para ilustrar os achados, serão apontados os resultados referentes ao Quiquadrado.
Os testes demonstraram inexistência de associação significativa de TMC com
vida conjugal (p=0,192), existência de filhos (p=0,949) e frequência de participação
em atividades religiosas (p=0,481). Também não foi identificada diferença
significativa, nos resultados condizentes com o referido transtorno, entre homens e
mulheres (p=0,401). Diversamente, outros estudos realizados com a utilização do
QSG12 abrangendo distintos segmentos populacionais demonstraram associação
entre TMC e sexo16,17.
Os resultados do teste quiquadrado permitiram inferir também que não houve
diferença significativa entre a presença de TMC e hábitos relacionados à saúde,
particularmente no que se refere a tabagismo (p=0,269), consumo de bebidas
alcoólicas (p=0,421) e prática de atividade física (p=0,089).
Um dos aspectos circundados nos denominados distúrbios psíquicos menores
diz respeito à qualidade do sono. Sobre esse assunto, os profissionais informaram
que dormem, em média, 6,5 horas por dia (desvio padrão ± 1,2), sendo a qualidade
do sono considerada como regular ou ruim por 43,1% destes, enquanto os demais a
avaliaram como boa. Conforme o teste Quiquadrado, não foi constatada diferença
significativa em termos de qualidade do sono entre as instituições (p=0,772);
conquanto, confirmando o previsto, foi identificada associação significativa entre
TMC e a qualidade do sono (p<0,001), de maneira que, na ausência do citado
problema de saúde mental, a qualidade do sono é melhor. Ainda relativamente ao
sono, inexistiu associação significativa entre a média de horas que os sujeitos
costumam dormir e a presença de DPM, conforme demonstraram os testes não
paramétricos de Mann-Whitney (p=0,593) e Kolmogorov-Smirnov (p=0,987).
No que tange às interfaces entre a ocorrência de TMC e os aspectos laborais,
não foi identificada diferença significativa em relação ao total de horas semanais
dedicadas ao trabalho (p=0,601), frequência no usufruto de férias (p=0,279),
constância do trabalho em finais de semana e feriados (p=0,250), turnos de trabalho
(p=0,431), tempo de trabalho nos hospitais (p =0,720) e na área da saúde (p=0,272)
O resultado do teste Quiquadrado evidenciou que inexiste associação
significativa entre a presença de Transtornos Mentais Comuns e a profissão
96

(p=0,377). Entretanto, os dados apresentados na Figura 1 explicitam que foram


encontradas menores médias na pontuação do QSG12 - ou seja, melhores
condições de bem-estar psíquico - entre dentistas, médicos e enfermeiros - em
relação às demais profissões. Na totalidade da equipe multiprofissional, foi obtida
média 2,316 (±2,885).

Figura 1 – resultados obtidos no QSG12 por profissão

Salienta-se que os dados originados nesta pesquisa apontaram diferença


significativa entre as profissões no tocante à renda familiar, com registros de
melhores condições financeiras entre o grupo de médicos e dentistas, o que pode ter
influenciado os resultados obtidos no QSG12. Isso porque, condizente com outros
estudos em que foi utilizado esse mesmo instrumento13-16, o resultado do teste
quiquadrado apontou associação significativa de TMC em relação à renda familiar,
de forma que existem maiores frequências desses transtornos entre os que
mencionaram níveis de renda inferiores.
É interessante destacar que os médicos que participaram desta pesquisa
apresentaram melhores condições de saúde mental se comparados esses
resultados aos obtidos por meio de pesquisa realizada pelo Conselho Federal de
Medicina, abrangendo 7.690 médicos de diversas localidades do Brasil, na qual se
identificou que 44% desses profissionais apresentaram distúrbios psiquiátricos não
severos, quando considerado idêntico ponto de corte no QSG12 (pontuação igual ou
maior que 3)19.
Acerca da associação entre os resultados do QSG12 e a motivação dos
profissionais na esfera dos hospitais, quando considerada a dicotomia presença
97

versus ausência de transtornos mentais comuns, os resultados apontaram


inexistência de associação significativa ou, mais especificamente, situaram-se no
limiar da significância (p=0,058). Já o teste Anova, baseado nas médias obtidas na
pontuação geral do referido questionário, apontou que essa associação é
significativa (p=0,0189), conforme ilustra a Figura 2.

Figura 2 – Associação entre motivação e média da pontuação obtida no QSG12

Pode-se observar, portanto, que as condições de saúde mental pioram com o


aumento da desmotivação, de maneira que a média obtida no QSG12 dos sujeitos
pouco motivados no trabalho (2,944) é significativamente maior que a média dos
motivados (1,667), ou seja, suas condições de saúde mental são melhores.
Curiosamente, a presença dos citados transtornos não se associou
significativamente (p=0,082) com nível de estresse ocupacional, conquanto a
literatura registre estreita relação entre TMC e estresse20. Por outro lado, verificou-se
associação significativa quanto à opinião de que o trabalho atrapalha a vida
social/familiar (p<0,001), de maneira que, na presença de TMC, 89,3% afirmaram
que sim, enquanto que, na ausência destes, somente 59,4% fizeram essa afirmação.
O coeficiente de concordância de Kendall equivaleu a 0.309 com p<0.0001, o que
significa dizer que a probabilidade de selecionar um par concordante na população é
em torno de 30%.
Os testes Mann-Whitney e Kolmogorov-Smirnov, aplicados com o intuito de
verificar a associação entre TMC e as variáveis quantitativas, apresentaram
resultados coerentes. Para ilustrar os resultados, serão expostos os dados obtidos
no primeiro. Relata-se, por conseguinte, que os resultados desses testes não
98

paramétricos explicitaram a existência de associação significativa entre TMC e o


salário referente ao trabalho nos hospitais investigados (p=0,022), bem como entre
esses transtornos e a avaliação dos profissionais acerca das condições de trabalho
nessas instituições (p=0,007). Tais testes, contudo, demonstraram inexistência de
associação significativa entre a ocorrência de TMC e a idade (p=0,082).

Conclusão
Os achados desta pesquisa evidenciaram que cerca de um terço (32,5%) dos
profissionais que atuam nos hospitais investigados apresentou resultado condizente
com o risco ou o acometimento de Transtornos Mentais Comuns, o qual consiste em
um processo multifatorial, que envolve aspectos biológicos e determinações sociais,
incluindo-se a vivência nos ambientes de trabalho.
A incidência de TMC não se associou significativamente a fatores
sociodemográficos e hábitos relacionados à saúde. Não obstante, a relação entre
esses distúrbios e fatores relacionados ao trabalho foi confirmada neste estudo,
especialmente no que tange às condições de trabalho. Também foi encontrada
associação significativa entre a pontuação obtida no QSG12 e a renda familiar que,
na nossa sociedade, apresenta estreita relação com a vida laboral, já que resulta da
comercialização da força de trabalho. Esse dado aglutina o dinheiro obtido pelos
diversos partícipes da família e, nesse sentido, está relacionado, também, com a
vivência dos outros familiares no trabalho. Ressalta-se, ainda, que é relevante
considerar a relação entre a motivação no trabalho nos hospitais e a saúde mental,
pois ficou evidenciado que os níveis motivacionais apresentaram associação
significativa com as médias da pontuação neste instrumento utilizado para avaliação
da saúde psíquica.
Alguns aspectos merecem ser investigados mais profundamente em estudos
posteriores, como é o caso da interrelação entre TMC e profissão, pois, embora não
tenha se verificado associação significativa entre a presença desses transtornos e a
profissão, as médias de pontuação obtidas no QSG12 se diferenciaram entre as
categorias profissionais, apresentando-se mais elevadas entre médicos, cirurgiões-
dentistas e enfermeiros. Nesse sentido, aponta-se a necessidade de investigações
que esmiúcem as particularidades atinentes ao conteúdo das atividades de cada
profissão e suas interfaces com a saúde mental dos profissionais. Além disso,
suscita-se que a associação entre TMC e estresse também demande investigações
99

mais amiúde e que considerem outros estressores da vida diária, haja vista que a
vivência no ambiente ocupacional se soma a várias outras situações cotidianas
deflagradoras de estresse – no trânsito, nas relações familiares, dentre outras – as
quais podem impulsionar desconforto emocional e não foram contemplados neste
estudo.
Ressalva-se que, por se tratar de estudo transversal, não possibilita inferir
nexos causais, pois os resultados possuem a capacidade de identificar associações
entre as variáveis estudadas sem, contudo, apontar causalidade em tal relação.
Por fim, considera-se o estudo relevante pela sua capacidade de visibilizar a
existência de desgaste na saúde psíquica dos profissionais que atuam em hospitais
públicos de urgência e emergência no Rio Grande do Norte e, por consecutivo,
desvelar a necessidade de cuidados direcionados à saúde mental destes sujeitos.

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102

6 COMENTÁRIOS, CRÍTICAS E SUGESTÕES

Inicialmente, esta pesquisa previa abranger quatro categorias profissionais


que atuam no âmbito dos hospitais investigados, a saber: assistentes sociais,
enfermeiros, médicos e psicólogos. Tal escolha intencionou incluir profissões que
exigem qualificação em nível de graduação e se destacam em quantidade e
centralidade na assistência hospitalar de urgência e emergência, bem como as
áreas de atuação da pesquisadora e orientadoras.
No decurso do estudo piloto, observou-se que várias outras categorias
atuavam em condições semelhantes e, por vezes, apresentavam-se dispostos a
participar do estudo, chegando a indagar sobre os motivos pelos quais não seriam
incluídos entre os informantes. Assim, ampliou-se a quantidade de profissões, no
intuito de possibilitar maior aproximação com a realidade do trabalho coletivo
desenvolvido nas instituições coparticipantes.
Acredita-se que a opção de abranger várias profissões envolvidas na
efetivação do trabalho em saúde contribuiu para atribuir mérito e originalidade ao
estudo, assim como fortaleceu a perspectiva multidisciplinar inerente à assistência à
saúde e que norteia o Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde. Isso
porque a literatura publicada acerca dos processos de saúde-adoecimento dos
profissionais dessa área, em grande parte, prioriza uma categoria profissional
específica, sobretudo os trabalhadores da enfermagem. Daí a importância de
empreender análises abrangendo diversas profissões envolvidas na assistência à
saúde, enfocando-os sob a ótica do trabalhador coletivo que operacionaliza a
política pública de saúde, tal como foi priorizado nesta investigação.
Por outro lado, isso demandou um maior esforço para alcançar uma amostra
satisfatória, bem como exigiu alterações metodológicas na efetivação dos testes
estatísticos, visto que algumas categorias abrangidas no estudo são compostas por
reduzida quantidade de profissionais. A assistência de urgência e emergência se
caracteriza pelo atendimento curativo e, portanto, demanda indeclinavelmente a
atuação de profissões que lidam mais diretamente com procedimentos clínicos,
medicamentosos e cirúrgicos, o que explica o fato de as áreas de Medicina e
Enfermagem aglutinarem maior quantidade de profissionais, ainda que isso não
signifique, necessariamente, que a quantidade de contratados dessas categorias
seja suficiente. Contudo, tal contexto não prescinde da atuação de diversas
103

profissões que lidam com outros aspectos – sociais, psíquicos, nutricionais, dentre
outros – que interagem no processo de saúde-adoecimento, mas, muitas vezes, não
estão devidamente contempladas e valorizadas nesses espaços laborais.
A contribuição científica deste estudo se concentra, portanto, no fato de
contemplar diversas profissões, além de abranger a vivência no trabalho no que
tange aos aspectos objetivos relacionados às condições de trabalho, assim como
aspectos subjetivos presentes nas relações interpessoais que permeiam os
processos de trabalho e inerentes à relação dos sujeitos com a atividade e o
ambiente laboral.
Salienta-se que os dados produzidos neste estudo demonstraram a existência
de diferentes concepções de trabalho entre os profissionais, porquanto parte da
equipe o define como fonte de prazer, renda e garantia de sobrevivência; outra
parcela o conceitua como causador de estresse, sofrimento e desgaste físico e
mental; enquanto outros vislumbram ser essa atividade permeada por antagonismos
e contradições que a fazem impelir, concomitantemente, prazer e sofrimento.
Identificou-se, também, que os sujeitos enfatizam uma intrínseca relação
entre o trabalho e o processo de saúde-adoecimento humano, ao mesmo tempo em
que explicitam que sua atividade laboral tem impulsionado desgaste físico e
psíquico, ao desencadear ou intensificar estresse, ausência de hábitos saudáveis,
hipertensão arterial, distúrbios do sono, osteomusculares e gastrintestinais.
Nos espaços hospitalares investigados, os profissionais exercem suas
atividades em meio a condições de trabalho adversas no tocante a estrutura física,
remuneração, higiene e segurança no trabalho, possibilidade de qualificação e
disponibilidade de medicamentos, de materiais e de equipamentos.
O nível de estresse ocupacional é elevado, enquanto a motivação com o
trabalho no âmbito desses hospitais se apresenta reduzida. Tais condições se
interrelacionam com a qualidade de vida, ocorrendo concomitantemente à sua
fragilização. Entretanto, os profissionais relataram elevado grau de satisfação com a
profissão exercida, o que se associaram positivamente com os resultados do SF36,
admitindo identificá-lo como fator de proteção ao desgaste da qualidade de vida
relacionada à saúde.
Tangente à saúde mental, os dados oriundos do QSG12 demonstraram que
32,5% dos sujeitos apresentam resultados condizentes com a presença de
104

transtornos mentais comuns, os quais se associaram significativa e inversamente


com condições de trabalho e renda familiar.
Por conseguinte, conclui-se que o trabalho em hospitais públicos de urgência
e emergência é permeado por adversidades em termos de condições de trabalho e
por elevado estresse ocupacional. Não obstante, impele satisfação e realização
profissional para esses trabalhadores, especialmente pelo seu potencial de contribuir
para recuperação dos pacientes em situação de saúde crítica. A qualidade de vida
relacionada à saúde dos profissionais que atuam nos hospitais investigados está
associada a fatores sociodemográficos, hábitos de vida e fatores objetivos e
subjetivos atinentes à inserção destes no mundo do trabalho e no contexto
institucional particularizado no estudo, com destaque para a satisfação deles com a
profissão. O desconforto psíquico incidente entre parcela da equipe também
apresenta interfaces com a vida laboral, particularmente em relação às condições de
trabalho e à renda familiar.
Dessa forma, acredita-se que os resultados desta pesquisa impelem maior
visibilidade aos processos de saúde-adoecimento relacionados ao trabalho no
âmbito dos hospitais públicos de urgência e emergência, particularmente no Estado
do Rio Grande do Norte, no Nordeste brasileiro, bem como podem subsidiar a
construção de estratégias para a promoção da saúde física e mental dos
profissionais e, subsequentemente, potencializar a qualidade da assistência ao
usuário. Nesse sentido, considera-se importante fortalecer a identidade desses
trabalhadores da saúde como sujeitos coletivos e a percepção das condições e
relações de trabalho como edificadas, vivenciadas e passíveis de transformação
pelos indivíduos, que são, ao mesmo tempo, produto e produtores dessas relações.
Importa salientar que, por se tratar de um estudo transversal, os resultados
desta pesquisa não possibilitam inferir relações causais. Além disso, a pesquisa
delimitou ambientes hospitalares específicos, impossibilitando generalizações. Por
outro lado, muitas situações identificadas neste estudo são comuns a outros serviços
de saúde públicos e, nesse sentido, precisam ser pensados no contexto mais amplo
da política de saúde brasileira e da totalidade da vida social. Ademais, as condições
de trabalho nos hospitais abrangidos neste estudo podem haver sido alteradas, visto
que, no momento da coleta de dados, estavam passando por reformas na estrutura
física.
105

Por fim, recomenda-se a efetivação de outras investigações com desenho


longitudinal e que combinem medidas de avaliação da qualidade de vida e da saúde
psíquica com indicadores clínicos e parâmetros bioquímicos, como forma de
averiguar relações causais entre o trabalho em saúde e o adoecimento daqueles
que o executam e, assim, ampliar o conhecimento acerca deste objeto de estudo,
adensando-o com outros fatores que esta pesquisa não se propôs investigar.
Os resultados desta pesquisa possibilitaram a construção de artigos
científicos, os quais serão publicados em periódicos, bem como a publicação de
trabalho nos anais da V Jornada Internacional de Políticas Públicas, ocorrida em
2011. Outrossim, as possibilidades de análise dos dados que emergiram da
pesquisa não se esgotam no conteúdo desta tese, contendo elementos que
possibilitam o incremento da produção acadêmico-científica e que poderão subsidiar
outras análises acerca do trabalho e da qualidade de vida e (des)conforto emocional
dos profissionais que efetivam a política de saúde no Estado.
Ressalta-se, ainda, a importância do curso de doutorado em Ciências da
Saúde, por possibilitar o aprofundamento do conhecimento acerca dos processos de
saúde-adoecimento e da política de saúde. Outro aspecto relevante foi o
fortalecimento dos estudos sobre metodologia da pesquisa, particularmente no que
se refere aos conteúdos de bioestatística. Tais conhecimentos serão socializados
com discentes, docentes, assistentes sociais e outros profissionais da área de
saúde, por meio de aulas, palestras, divulgação de trabalhos em eventos científicos
nacionais e internacionais, bem como publicação de artigos em periódicos.
Desse modo, é válido realçar a importância deste douramento em Ciências da
Saúde para o curso de Serviço Social da UERN, tendo em vista que isso contribuirá
para o fortalecimento da formação de assistentes sociais para atuar no campo da
saúde, o qual, historicamente, vem se apresentando como um dos significativos
espaços de inserção destes profissionais, além de propiciar a intensificação de
experiências interdisciplinares com outros cursos da área da saúde existentes na
UERN e na UFRN, cujos docentes participaram, seja como professores, seja como
estudantes, do DINTER em Ciências da Saúde.
Também será importante para fomentar a proposição de novas pesquisas
sobre aspectos relacionados à saúde, além de propiciar uma futura inserção desta
pesquisadora em Programas de Pós-graduação Stricto Sensu, bem como em grupos
de pesquisa multiprofissionais vinculados à área da saúde.
106

7 REFERÊNCIAS

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de seu trabalhador? Rev Bras Saúde Ocup. 2012 jul/dez; 37(126):290-305.

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42. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; 2007.


111

APÊNDICES

Apêndice 1 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

Apêndice 2 - QUESTIONÁRIO: PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, CONDIÇÕES DE


TRABALHO E MOTIVAÇÃO
112

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO


Esclarecimentos
Este é um convite para você participar da pesquisa “Trabalho e saúde: uma análise da
relação entre condições de trabalho e motivação no emprego e suas interfaces com a
saúde dos profissionais nos hospitais públicos”, que é coordenada por Iana Vasconcelos
Moreira Rosado e que segue as recomendações da Resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde e suas complementares. Sua participação é voluntária, o que significa que você
poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga
nenhum prejuízo ou penalidade.
Esta pesquisa procura analisar a relação entre condições de trabalho e motivação com o
emprego no âmbito dos hospitais públicos do Rio Grande do Norte e seus impactos na saúde
dos profissionais que atuam nessas instituições. Caso decida aceitar o convite, você irá
responder a alguns questionários com perguntas abertas e fechadas. Os riscos envolvidos com
sua participação são mínimos, tais como possíveis constrangimentos ou desconfortos durante a
aplicação dos questionários, os quais serão evitados ou minimizados por meio da garantia do
anonimato nos resultados da pesquisa, da aplicação dos questionários em ambientes em que a
privacidade dos participantes seja respeitada, da possibilidade de não responder a alguma
pergunta que considere inconveniente ou desnecessária ou interromper sua participação na
pesquisa a qualquer momento.
Você terá os seguintes benefícios ao participar da pesquisa: contribuirá para desvelar aspectos
relacionados aos impactos do trabalho no processo de saúde-adoecimento dos profissionais que
trabalham no âmbito hospitalar, atribuindo maior visibilidade às questões relacionadas à saúde
dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde e servindo de subsídio para a construção de
estratégias para fortalecê-la.
Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em nenhum
momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita
de forma a não identificar os voluntários.
Você ficará com uma cópia deste Termo e qualquer dúvida que você tiver a respeito desta
pesquisa poderá direcioná-la diretamente a Iana Vasconcelos Moreira Rosado, no endereço Rua
Manoel Cristino de Morais, n.77, Nova Betânia, Mossoró-RN ou pelo telefone (84)88375376.
Dúvidas a respeito da ética desta pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em
Pesquisa da UERN no endereço: Rua Atirador Miguel Antônio da Silva Neto, S/N Aeroporto.
Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte ou pelo
telefone (84) 3315-2248.
Consentimento Livre e Esclarecido
Estamos de acordo com a participação no estudo acima descrito. Fomos devidamente
esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa, aos procedimentos aos quais seremos
submetidos e dos possíveis riscos que possam advir de tal participação. Foram-nos garantidos
esclarecimentos que venhamos a solicitar durante o curso da pesquisa e o direito de desistir da
participação em qualquer momento, sem que nossa desistência implique qualquer prejuízo a
nossa pessoa ou a nossa família. A nossa participação na pesquisa não implicará custos ou
prejuízos adicionais, sejam esses custos ou prejuízos de caráter econômico, social, psicológico
ou moral. Autorizamos, assim, a publicação dos dados da pesquisa a qual nos garante o
anonimato e o sigilo dos dados referentes a nossa identificação.
Participante da pesquisa ou responsável legal:
Nome: ____________________________________________________
__________________________________________________________
Assinatura
Pesquisadora responsável: Iana Vasconcelos Moreira Rosado
__________________________________________________________
Assinatura
Endereço profissional: Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio Grande
do Norte. Av. prof. Antonio Campos, S/N, Costa e Silva, Mossoró-RN. Telefone: (84)33152212
Comitê de ética e Pesquisa - Rua Atirador Miguel Antônio da Silva Neto, S/N Aeroporto. 3°
Pavimento da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte ou pelo telefone (84) 3315-2248.
113

QUESTIONÁRIO: PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, CONDIÇÕES DE TRABALHO E


MOTIVAÇÃO
PESQUISA: Trabalho e saúde: uma análise da relação entre condições de trabalho e motivação
no emprego e suas interfaces com a saúde dos profissionais nos hospitais públicos
PESQUISADORA RESPONSÁVEL: Iana Vasconcelos

1) Profissão: _______________________________________

2) Sexo:
( ) masculino ( ) feminino

3) Idade: ____________

4) Nível de escolaridade/formação profissional:


( )superior ( )especialização/residência ( )mestrado ( )doutorado ( )pós-doutorado

5) Estado civil:
( ) solteiro ( ) casado ( ) separado/divorciado ( ) viúvo

6) Tem filhos?
( ) Não. ( ) Sim. Quantos?_____

7) Religião:
( )católica. ( )evangélica. ( )espírita. ( )nenhuma. ( )outra:____________________

8) Com que frequência costuma participar de atividades religiosas?


( ) Diariamente. ( ) Semanalmente. ( ) Em datas especiais.
( ) Raramente. ( ) Nunca. ( ) Outra:______________________

9) Você fuma?
( ) Não, nunca fumei.
( ) Sim, fumo. Especifique a quantidade de cigarros/dia: ______________________
( ) Já fumei durante ____ anos, mas parei de fumar há aproximadamente_________

10) Você costuma consumir bebidas alcoólicas?


( ) Nunca.
( ) Esporadicamente. Quantidade consumida (aproximadamente):_______________
( ) Nos finais de semana. Quantidade consumida (aproximadamente):___________
( ) Diariamente. Quantidade consumida (aproximadamente):___________________

11) Você pratica alguma atividade física?


( ) Nunca. ( ) Esporadicamente. ( ) Sim, regularmente.Quantos dias por semana?__

12) Quantas horas costuma dormir diariamente? _______________


_
13) Você considera que a qualidade do seu sono é:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.

14) Há quanto tempo trabalha na área da saúde?


( ) Menos de 1 ano. ( ) De 1 a 2 anos. ( ) De 3 a 5 anos.
( ) Mais de 5 a 10 anos. ( ) Mais de 10 a 20 anos. ( ) Mais de 20 anos.
114

15) Há quanto tempo de trabalha neste hospital?


( ) Menos de 1 ano.
( ) De 1 a 2 anos.
( ) De 3 a 5 anos.
( ) Mais de 5 a 10 anos.
( ) Mais de 10 a 20 anos.
( ) Mais de 20 anos.

16) Tipo de vínculo empregatício neste hospital:


( ) temporário. ( ) efetivo/concursado. ( ) terceirizado. ( )outro:_____________

17) Qual a sua jornada semanal de trabalho neste hospital?


( ) 20 horas. ( ) 30 horas. ( ) 40 horas. ( ) Outra: ______________________

18) Sua jornada de trabalho neste hospital é trabalhada:


( ) em plantões diurnos. ( ) em plantões noturnos.
( ) em plantões diurnos e noturnos. ( ) Outra forma:_______________________

19) Você costuma trabalhar nos finais de semana e feriados?


( ) Frequentemente. ( ) Esporadicamente. ( ) Raramente. ( ) Nunca.

20) Considerando todas as suas atividades profissionais, qual o total de horas


dedicadas ao trabalho semanalmente?
( ) 20 a 30 horas.
( ) Acima de 30 até 40 horas.
( ) Acima de 40 até 60 horas.
( ) Acima de 60 até 80 horas.
( )Acima de 80 até 100 horas.
( ) Mais de 100 horas.

21) Realiza trabalho autônomo (sem vínculo empregatício)?


( ) Sim. ( ) Não.

22) Salário referente ao trabalho neste hospital: R$______________

23) Total da renda familiar mensal:


( ) 1 a 5 salários mínimos
( ) 6 a 10 salários mínimos
( ) 11 a 15 salários mínimos
( ) 16 a 20 salários mínimos
( ) 20 a 25 salários mínimos
( ) mais de 25 salários mínimos

24) Você tem usufruído de férias (afastamento de todas as atividades de


trabalho)?
( ) Nunca ( ) Raramente ( ) Anualmente ( ) Outra:___________________
115

25) Como você define trabalho?


___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

26) Assinale, na escala abaixo, o grau de importância que o trabalho ocupa na


sua vida.
Menor 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Maior10
importância importância

27) Existe relação entre seu trabalho e suas condições de saúde? Se sim, de
que forma ou que tipo de relação?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________

28) Na sua opinião, o seu trabalho afeta sua saúde... (múltipla escolha):
( ) favoravelmente porque a remuneração lhe permite acesso a moradia, educação,
alimentação, saneamento, transporte, serviços de saúde, atividades de lazer...
( ) favoravelmente em decorrência da satisfação que sente em realizá-lo.
( ) favoravelmente por outros motivos. Especificar: __________________________
( ) desfavoravelmente devido ao estresse ocupacional.
( ) desfavoravelmente devido aos riscos de acidentes e acometimento de doenças.
( ) desfavoravelmente devido ao excesso de horas e/ou ao ritmo intenso de
atividades.
( ) desfavoravelmente por lidar constantemente com a dor, o sofrimento e a morte.
( ) desfavoravelmente devido ao trabalho noturno e/ou durante extensas jornadas.
( ) afeta desfavoravelmente devido à pressão em relação aos resultados.
( ) desfavoravelmente devido à falta de tempo para descanso, lazer e
relacionamentos.
( ) desfavoravelmente por outros motivos. Especificar:_______________________

29) Você considera que seu trabalho é:


( )muito estressante. ( )estressante. ( )pouco estressante. ( )nada estressante.

30) De alguma forma, seu trabalho atrapalha/dificulta sua vida social/familiar?


( ) Não
( ) Sim. Por quê?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
116

31) Qual o seu nível de satisfação em relação à sua profissão?


( )Muito satisfeito. ( )Satisfeito. ( )Pouco satisfeito. ( )Nada satisfeito.

32) Como você avalia as condições de trabalho neste hospital em relação a:


a) equipamentos disponíveis para exames e outros procedimentos:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
b) disponibilidade de medicamentos:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
c) disponibilidade de materiais (materiais de expediente, seringas, gazes...):
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
d) estrutura física:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
e) higiene e segurança no trabalho:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
f) possibilidade de qualificação profissional:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
g) remuneração pelo trabalho que desempenha:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
h) relação entre a equipe profissional:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
i) relação com a gerência/direção:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.
j) relação com os usuários:
( ) muito boa. ( ) boa. ( ) regular. ( ) ruim. ( ) muito ruim. ( ) não sei.

33) Qual o seu grau de motivação em relação ao trabalho neste hospital?


( )Muito motivado. ( )Motivado. ( )Pouco motivado. ( )Nada motivado.

34) No dia a dia do trabalho neste hospital, quais aspectos contribuem para
você se sentir... (múltipla escolha):
a) MOTIVADO: b) DESMOTIVADO:
( ) o conteúdo do trabalho em si; ( ) o conteúdo do trabalho em si;
( ) os resultados do trabalho; ( ) os resultados do trabalho;
( ) o quanto reconhecem/valorizam seu ( ) o quanto reconhecem/valorizam seu
trabalho; trabalho;
( ) a forma de organização do trabalho; ( ) a forma de organização do trabalho;
( ) as relações interpessoais; ( ) as relações interpessoais;
( ) as condições de trabalho; ( ) as condições de trabalho;
( ) a remuneração; ( ) a remuneração;
( ) o quanto o trabalho contribui para o seu ( ) o quanto o trabalho contribui para o seu
desenvolvimento pessoal/profissional; desenvolvimento pessoal/profissional;
( ) outros:_____________________________________ ( ) outros:_____________________________________
________________________________________________ ________________________________________________

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