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RESUMO
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1. CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E JUSTIFICATIVA
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processos são altamente custosos, o que implica na necessidade de pesquisas, com
objetivo de aproveitamento direto do glicerol bruto (RIVALDI, et al., 2007).
Considerando a oferta crescente de glicerol residual, o alto custo dos processos de
purificação e a necessidade de reaproveitar coprodutos do processo, promovendo uma
economia sustentável, a conversão deste substrato em produtos de maior valor agregado,
como biomassa e moléculas bioativas, por meio de tecnologia microbiana, é uma
oportunidade significativa para a biotecnologia industrial atual, além de viabilizar
economicamente o aumento da produção de biodiesel. Neste sentido, muitas pesquisas
têm demonstrado a bioconversão do glicerol bruto, mediante fermentação microbiana, em
ácido cítrico. Dedicaremos o tópico seguinte à abordagem do produto de interesse obtido
no bioprocesso.
1.2 Ácido cítrico
O ácido cítrico (AC), de fórmula química C6H8O7, é um dos principais
constituintes dos frutos cítricos. Apresenta como principais características: baixo ponto
de fusão, biodegradabilidade, solubilidade em água, atoxicidade e é um ácido orgânico
fraco. É encontrado sob o estado sólido em temperatura ambiente, possui cor branca ou
transparente, é inodoro, de sabor azedo e não inflamável (MATTEY, 1992).
Atualmente o principal meio de obtenção do AC é por fermentação,
principalmente por processo submerso, a partir de melaços de cana-de-açúcar e de
beterraba, empregando o fungo filamentoso Aspergillus niger (LEONEL; CE-REDA
1995). Quanto à aplicação, aproximadamente 70 % do ácido cítrico produzido é utilizado
na indústria alimentícia e de bebidas, 12 % na farmacêutica e 18 % é destinado a outros
usos industriais (LEONEL; CEREDA 1995). Sua ampla aplicação justifica a escolha
deste produto para a realização deste projeto, sendo que as respectivas funções do AC em
cada setor industrial estão citadas abaixo:
Bebidas: ajuste de pH, estimulante de sabor, acidulante.
Farmacêutico: anticoagulante, efervescente.
Agricultura: aumenta a disponibilidade de fosforo na planta.
Alimentos: ajuste de pH, conservante, acidulante, emulsificante,
antioxidante, estabilizante.
Cosméticos: antioxidante, agente tamponante.
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1.3 A levedura Yarrowia lipolytica
Devido à complexidade e prejuízo ecológico causado pelos métodos tradicionais
de produção de ácido cítrico a partir do melaço, pesquisas têm investigado o uso de fontes
de carbono, tais como resíduos e subprodutos agroindustriais (PAZOUKI et al., 2000;
PEKSEL; KUBICEK, 2003; DHILLON et al., 2011). O que também justifica o
desenvolvimento de estudos com microrganismos alternativos para o cultivo. Dentre eles,
dá- se destaque para Yarrowia lipolytica.
Algumas vantagens do uso da Yarrowia lipolytica são: (1) ampla utilização de
substratos, incluindo alcanos, ácidos graxos e orgânicos, proteínas e alguns açúcares,
devido à complexidade e multiplicidade de seus genes (KURTZMAN; FELL, 1988); (2)
taxa de respiração não é afetada por altas concentrações de substrato, isso porque por ser
aeróbia estrita, a respiração em presença de oxigênio é essencial para a obtenção do
produto de interesse (FLORES et al., 2000); (3) possuem alta taxa de conversão; (4) é
possível uso de substrato bruto (sem tratamento prévio), reduzindo problemas resultantes
de pré-tratamento (como abordado anteriormente); (5) permite um maior controle do
cultivo por serem as leveduras, seres unicelulares (MATTEY, 1992; MILSON, 1988); (6)
facilidade em se conseguir um melhoramento genético desses micro-organismos,
aumentando assim a sua produtividade e também sua resistência a longas e contínuas
operações numa alta velocidade de conversão sob elevadas condições aeróbias (SHAH et
al., 1993).
A Y. lipolytica é um microrganismo eucarioto, pertencente ao reino Fungi, classe
dos Ascomicetos e subclasse dos Hemiascomicetos (TSUGAWA et al., 1969). Devido a
sua capacidade de produzir vários intermediários metabólicos de interesse
biotecnológico, como proteases, lipases, proteínas, fosfatases e ácidos orgânicos, tem sido
estudada sua utilização em processos industriais (FICKERS, et al., 2004).Porém um
problema enfrentado no cultivo por leveduras é a produção simultânea de ácido isocítrico
em quantidades significativas (DHILLON et al., 2011), que pode ser controlado por
condições limitantes de nutrientes (KAMZOLOVA, et al., 2003; LEVINSON;
KURTZMAN; KUO, 2007). Esse ácido não é interessante ao processo, pois possui
capacidade tamponante e quelante inferior ao ácido cítrico, o que dificulta a cristalização
desse durante a etapa de purificação, quando se apresenta em níveis acima de 5% no meio
de cultivo (FORSTER et al., 2007).
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1.4 Processo de produção do ácido cítrico – cultivo submerso
A escolha do processo submerso foi feita analisando a sua utilização para
produção em larga escala. É possível destacar, como vantagens, as altas taxas de produção
alcançadas, a necessidade de menos mão-de-obra e espaço para operação, uso de uma
faixa maior de concentração de substrato, um melhor controle do cultivo e baixo consumo
de energia (MATTEY, 1992; MILSON, 1988). Podem ser utilizados reatores agitados,
fermentadores em torre ou airlift. Geralmente as indústrias utilizam-se do processo em
batelada alimentada (ROHR; KUBICEK; KOMINEK., 1983).
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célula. No final desse tem-se a produção de energia (ATP) e elementos para biossínteses
celulares (metabólitos), como o piruvato ou ácido pirúvico (YOKOYA, 1992; PANDEY
et al., 2001; AQUARONE et al., 2001).
Na terceira parte de processo temos o ciclo de Krebs (ou ciclo do ácido
tricarboxílico, ou ciclo do ácido cítrico), onde ocorre a formação de citrato a partir do
piruvato sendo catalisada por duas enzimas, sendo o isocitrato (subproduto indesejado) é
formado pela ação da enzima aconitase sobre o citrato. Ocorre na matriz da mitocôndria
dos eucariontes, como no caso da Y. lipolytica (MOO-YOUNG et al., 2011;
NELSON,2014).
O mecanismo de acúmulo de ácido cítrico é feito baseando-se na inibição da
enzima aconitase, favorecendo assim a formação do citrato e desfavorecendo a do
isocitrato. Estratégias para esse fim serão explicadas nas seções posteriores (KAPOOR;
CHAUDARY; TAURO, 1982; ROHR; KUBICEK; KOMINEK, 1983; ESTOPIER.;
GUILOUET, 2014).
Outro ponto a ser ressaltado é o mecanismo de transporte do ácido dentro da
célula. Este começa com uma proteína localizada na camada externa da mitocôndria,
proteína de transporte de citrato (CTP), que faz o translado do ácido cítrico para o
citoplasma. Após isso a enzima citrato permease (CT) faz o transporte do citrato para o
exterior da célula. Logo o ácido cítrico é um produto extracelular resultante do
metabolismo natural de sobrevivência da célula (MOO-YOUNG et al., 2011,
NELSON,2014).
A engenharia genética tem como intenção melhorar os microrganismos a fim de
tornar seu metabolismo mais favorável quanto à produção de AC, sendo que mutações
são feitas para tentar alcançar esses objetivos (MOO-YOUNG et al., 2011).
1.7 Scale up
O aumento de escala, do inglês scale up, implica em reproduzir em um
equipamento de maiores dimensões os resultados obtidos com sucesso em uma escala
menor, o que resulta no aumento de produção de um determinado produto. O scale up
consiste em três etapas básicas: análise laboratorial, projeto piloto e escala industrial
(SMITH,2009).
Na análise laboratorial temos o estudo de caso e obtenção dos parâmetros do
processo (temperatura, o pH, a aeração, a agitação, a composição do meio de cultivo, a
concentração do substrato e do produto). O projeto piloto é uma planta laboratorial de
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larga escala e tem como objetivo fazer uma otimização e adaptação do processo com base
nos parâmetros, escolher o tipo de ampliação desejada para propagação e alguns dos
equipamentos que serão usados posteriormente, estimar os processos de downstream e ter
uma base de custo material e energético do processo .Por fim ocorre a passagem para a
escala industrial. Nessa etapa, é visado a perspectiva econômica do processo, ou seja, uma
produção comercial; além disso procura-se operar o biorreator nas mesmas condições que
o do projeto piloto, permitindo assim a obtenção de um desempenho adequado e
consequentemente de um processo mais eficiente (VOGEL; TODARO, 1997,
ARMILIATO,2004).
A viabilidade da produção do bioproduto dependerá do controle e monitoramento
dos parâmetros de processo. Sendo assim, quaisquer variações realizadas podem gerar
perda de produtividade, contaminações, degradação do bioproduto ou morte do
microrganismo produtor. Um processo bem definido deve gerar um produto que atende a
especificação em todas as etapas e não falhar nos testes de qualidade (NAJAFPOUR,
2007).
2. OBJETIVOS
2.2 Objetivos gerais
Este projeto tem por objetivo geral, a produção de ácido cítrico em escala
comercial, a partir do glicerol residual oriundo da produção de biodiesel de uma empresa
localizada em Canoas-RS.
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tecnologia de fermentação e estudar a cinética de crescimento e produção
de ácido cítrico pela Y. lipolytica em escala industrial;
Atender a uma fatia da demanda mundial de ácido cítrico,
sobretudo no Brasil.
Contribuir pra a biotecnologia industrial, inserindo um
processo viável comercialmente, que só há registros de experimentos em
escalas laboratorial e de bancada.
3. DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
3.2 Preparo do inóculo
Ativação do microrganismo
Obtenção do inóculo
A partir dos tubos contendo as células preservadas em meio sólido YPD serão
inoculadas, de forma estéril com uma alça de platina, 200 mL de meio de cultivo YPD
em Erlenmeyer de 500 ml (FERREIRA et al., 2015) que será incubado em um agitador
rotatório a 28°C, 160 rpm de agitação por 72 h. Após este período, uma alíquota será
retirada da amostra e será centrifugada a 3000 rpm durante 5 min, sendo o sobrenadante
congelado (-4°C) para posterior análise da produção de ácidos cítrico e isocítrico ,
determinação do pH (SILVA, 2010) e demais experimentos. O volume centrifugado desse
pré-inóculo deve ser suficiente para se obter uma concentração inicial de 1 g de células/L
de mosto (SILVA, 2014).
Fonte: Os autores.
Observa-se maior produção de ácido cítrico pela cepa Wratislavia 1.31, com
rendimento de 63%. Sendo assim, baseado na bibliografia estudada para elaboração deste,
a cepa adotada na produção de AC é a Wratislavia 1.31.
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3.3 Propagação de cultura e acompanhamento do cultivo
Após a verificação laboratorial de que era viável produzir ácido cítrico com Y.
lipolytica ocorrerá a propagação do inóculo. Nesta etapa será refeito o experimento
laboratorial, porém ocorrerão transferências de volume durante a fase logarítmica. Elas
têm como objetivo aumentar o volume total de microrganismo. O último cultivo servirá
como inóculo da etapa seguinte, o pré-reator, e ocorrerá em uma proporção de 10% do
volume útil do mesmo. Sendo assim, o número de vezes em que ocorrerá esse processo
de transferência dependerá do volume útil do pré-reator. A cada etapa o microrganismo
tende a se adaptar mais aos parâmetros do processo. Após a adaptação, transfere-se uma
quantidade de cerca de 10% do volume útil do pré-reator para o reator airlift, o qual
contém condições semelhantes ao anterior (REGULY, 2000).
O cultivo será acompanhado através de análises de amostras retiradas do
biorreator a cada 24h. Essas amostras serão levadas para o laboratório e lá serão
quantificadas as concentrações de AC e ácido isocítrico, quantidade de biomassa gerada,
quantidade de glicerol consumido.
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A solução contendo ácido cítrico será tratada com carvão ativado e passará através
de uma coluna de troca iônica, para desmineralização. Posteriormente a cristalização será
realizada em cristalizadores a vácuo a 20-25º C para obtenção de cristais de ácido cítrico
monohidratados; e a 36,5 ºC para o produto anidro. Por fim ocorrerá uma centrifugação
para separação de AC da solução e uma secagem a 40 ºC para retirar a água residual do
ácido cítrico purificado. O mesmo será armazenado em tanques para ser empacotado e
vendido em outras ocasiões (GREWAL; KALRA, 1995; SOCCOL et al., 2006).
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𝑑𝑖𝑎𝑠 1 𝑐𝑢𝑙𝑡𝑖𝑣𝑜 𝑐𝑢𝑙𝑡𝑖𝑣𝑜𝑠
330 ∗ = 66
𝑎𝑛𝑜 5 𝑑𝑖𝑎𝑠 𝑎𝑛𝑜
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depois das 48 h a curva de biomassa entra na fase estacionária , de produção de AC, e a
alimentação é cessada.
Figura 1. Variação de concentrações do processo ao longo do período de cultivo
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que não é economicamente viável realizá-lo, sendo assim mais uma vez o glicerol residual
se mostrou uma ótima matéria prima (SILVA, 2010)
Os processos de separação constituem uma gama de operações unitárias que tem
como objetivo separar e purificar o produto. Sendo assim, dependendo do fim ao qual o
AC se destinará poderemos encontrar ácido cítrico anidro e ácido cítrico seco, ambos em
forma de pó ou pastilhas; o produto desejado afetará os processos finais de purificação.
Por ser um produto extracelular, escolhemos o processo de separação convencional já
usado nas indústrias produtoras de ácido cítrico. Esse fato fará com que as empresas
tenham menos gastos caso resolvam mudar seu processo para o de produção de ácido
cítrico com Yarrowia lipolytica usando o glicerol como substrato.
Em 2016, foram gerados 341,9 mil m3 de glicerina como subproduto da produção
de biodiesel (B100), porém, o consumo interno do país, gira em torno de 40 mil toneladas
anuais (ABIQUIM, 2008). Para agravar este cenário, estima-se que no mundo cerca de
700 mil toneladas de glicerol por ano já sejam consideradas excedente de mercado
(BIODIESELBR, 2008). Em 2020, é esperado o dobro da geração de glicerol bruto
produzido, atingindo uma produção global de 2,6 bilhões de kg (VALERIO et al., 2015),
este aumento é devido a uma produção maior de biodiesel e ocasiona em uma pressão no
mercado em que o glicerol já é considerado em excesso. Devido a isso seu preço diminuiu
drasticamente de $400 por tonelada em 2001 para menos de $100 por tonelada em 2011,
fato que ressalta o baixo custo da matéria prima de nossa indústria (VALERIO et al.,
2015).
Este sobressalto se torna preocupante, já que o glicerol gerado pelo processo de
biodiesel é altamente poluente. Segundo Biodieselbr (2008), este coproduto por ser
insolúvel, quando em contato com rios e lagos, se precipita na água e dificulta a
oxigenação dos animais aquáticos, e se for queimado pode resultar em emissão de
acroleina, um composto químico bastante tóxico e cancerígeno (CÉSAR; BATALHA,
2007).
Nosso novo método de produção diminuirá a quantidade de glicerol residual
excedente e consequentemente os impactos ambientais e ainda poderá ser utilizado em
muitos processos industriais o que consequentemente gerará empregos e beneficiará a
economia da região em que a indústria for implementada. Outro ponto benéfico será o
incentivo da livre concorrência, pois atualmente no Brasil existem poucas industrias
produtoras de ácido cítrico. Sendo assim, com o novo processo ocorrerá uma expansão
do número de empresas produtoras, aumentando a qualidade, a competitividade e a
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diversidade dos produtos. Além disso representará uma inovação tecnológica a qual
incentivará novas pesquisas na área, fazendo com que os parâmetros de processo sejam
refinados.
5. CRONOGRAMA
O cronograma com a realização das atividades em um período de um ano (48
semanas) está descrito no quadro 2. A duração das atividades foi dada nos respectivos
meses em que serão realizadas, pois prazos curtos não permitem o gerenciamento das
tarefas e prazos maiores tendem a perder clareza na informação da atividade a ser
detalhada.
Quadro 2. Cronograma de atividades do projeto.
Atividade Tempo
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