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O questionamento que baliza o capítulo de Kershaw, é o de saber como o poder do estado

alemão foi colocado à disposição de Hitler. Para tanto, três aspectos devem ser distinguidos: o
primeiro é como Hitler veio a adquirir um poder indiscutível no Partido Nazista. O segundo é como
Hitler conseguiu ampliar seu poder de atração, no início da década de 1930, a ponto de atingir mais de
um terço da população votante. E o terceiro é como os grupos de elite não-nazistas, mais sensatos, se
interessaram por Hitler e dispuseram-se a guindá-lo à cadeira de chanceler.
Ao analisar esses três aspectos, Kershaw objetiva desconstruir o entendimento da ascensão do
Nazismo como como uma heróica lenda partidária, onde sua guinada ao poder fora realizada
exclusivamente através do triunfo da vontade. Portanto argumenta, “nada houve inevitável na vitória
de Hitler em 1933. Cinco anos antes o partido nazista fora apenas um incômodo periférico na política
alemã”. Para Kershaw é patente, “na guindagem de Hitler ao poder, os acontecimento fortuitos e os
erros de avaliação dos conservadores desempenharam um papel maior do que qualquer ato do líder
nazista em si”.
Para Kershaw, a história do partido nazista até 1933 fora instável, abarcando diferentes facções
com interesses diversificados, demonstrara fortes tendências centrífugas e desintegradoras. Por isso
mesmo, o culto a liderança de Hitler fora central a todo desenvolvimento do Movimento Nazista. A
acentuação da autoridade suprema de Hitler, o desenvolvimento do culto ao Führer, e a
centralização/resolução das discordâncias intrapartidárias em sua pessoa, foram aspectos
preponderantes para o fortalecimento do partido e sua consequente chegada ao poder. Portanto, a
autoridade carismática foi transformada na própria base organizacional do movimento - não à toa ficou
sendo genericamente conhecido como o “Movimento de Hitler”.
Para o autor, o marketing da imagem de Hitler - produzidos pela imprensa, fortalecido por
grandes comícios - e a predisposição inicial dos seus votantes em aceitar essa imagem - já que suas
questões prosaicas “feijão com arroz” nada tinham de nova, seus imperativos vagos já eram
corriqueiros na extrema direita antes que o Partido Nazista monopolizasse o mercado nacionalista;
eram “semi-convertidos” ao Nazismo -, foram os aspectos que permitiram atrair as massas. Portanto,
as técnicas e a administração da propaganda - segundo Hitler, “a tarefa mais importante do partido
nascente” - teriam tido pouco êxito sem as condições externas que expusera o mercado eleitoral à
alternativa política do Nazismo: depressão econômica, crise de Estado e desintegração de partidos
liberal-conservadores burgueses. Por fim, acabaram por construir um corpo de seguidores socialmente
heterogêneos.
Mas, o domínio de Hitler sobre o Partido e o controle das massas tinham-se mostrado
insuficientes para alçá-lo poder. Sem o patrocínio, a proteção e o apoio da burguesia e das autoridades
políticas e militares, a passagem de Hitler para uma posição de destaque na direita radical bávara
dificilmente teria sido realizada. Poucos dos não-nazistas, entre os articuladores do poder e os grupos
de elite da indústria, comércio, finanças, agricultura, funcionalismo público e exército, tinham Hitler
como primeira opção. Mas, em 1933, estando aparentemente esgotadas as outras opções, a maioria
deles estava disposta a considerar um governo Hitlerista.
Hitler necessitava do apoio das elites para chegar ao poder. E este, por sua vez, aparecia no
cenário como o único capaz de fornecer o apoio das massas exigido para que se impusesse uma
solução autoritária, que as elites acreditavam ser a única forma de solucionar a crise do capitalismo e
do Estado. Essa foi a base do acordo que levou Hitler ao poder.
Qualquer explicação do caráter e da extensão do poder de Hitler que não enfatize a coerção e a
repressão seria gravemente falha. Mas este terror não foi totalitário, para Kershaw, é inquestionável: o
terror e repressão foram de aplicação sumamente seletiva.
Enquanto poderosos da economia e das finanças, como industriais, proprietários de terras e
banqueiros, permaneceram intocados, a repressão se deu sobre uma minoria impotente e impopular.
Judeus, trabalhadores filiados a partidos de esquerda, intelectuais, ciganos, homossexuais, mendigos e
qualquer “elemento anti-social” - o termo é vago propositalmente, pois poderia ser aplicado a qualquer
um que apresentasse ameaça a homogeneidade da unidade nacional - caíram sob o açoite da opressão
nazista.
Logo nos seus seis primeiros meses no poder Hitler tratou de destruir as formas
organizacionais de oposição política. Mais um ano e ele destruiu os vestígios de autonomia regional e
a ameaça potencial da SA que pairava dentro do próprio Movimento Hitlerista.
Nas semanas seguidas a sua nomeação de chanceler, em janeiro de 1933, Hitler tratou de
esmagar a esquerda, diluir a oposição partidária e estabelecer um governo unipartidário. Também
mandou proibir jornais e reuniões que atacassem o Estado. E, em um decreto de emergência, mandou
suspender indefinidamente todos os direitos e liberdades pessoais, inclusive a liberdade de expressão,
de associação e de imprensa. Com tantas proibições era inevitável que muitos caíssem na
“ilegalidade”, e o que se seguiu nas semanas e meses seguintes foi uma drástica escalada de violência
sob controle nazista. Já em meados de 1933, o “espaço organizacional” necessário a qualquer oposição
política eficaz tinha sido eliminado.
Devido a crueza de sua política contraproducente, logo o alvo se deslocou dos “inimigos do
Estado” para os pilares do próprio poder estatal - a burocracia do funcionalismo público, a chefia da
polícia e o exército. Logo que os líderes da SA descobriram que a “revolução nazista” fora apenas uma
meia revolução - pois a velha guarda ainda controlava as verdadeiras trilhas do poder -, ameaçaram
fazer uma “segunda revolução”. Diante da situação Hitler não titubeou, num assalto rápido e dramático
prendeu e fuzilou em 30 de Junho de 1934 - episódio que ficou conhecido como A Noite das Facas
Longas - diversos líderes da SA.
O fuzilamento de parcela de seu próprio movimento foi crucial na consolidação do poder de
Hitler. Simultaneamente eliminou a única força capaz de fazer uma séria oposição interna, fortaleceu a
SS - guarda pretoriana de Hitler sumamente leal - e ganhou maciça estima popular - visto que a SA era
universalmente odiada.
Todos esses atos só foram possíveis pela subjugação da legalidade. Nota-se, poucas mudanças
foram feitas na legislação. Sobretudo, o que deveria imperar era a vontade do Fuhrer. Quando a
legislação criava obstáculos eram contornadas, ignoradas ou simplesmente descartadas - o que só foi
possível pela disposição dos legalistas de aceitar a natureza do poder ilimitado do Fuhrer.
Hitler odiava a “ideia artificial de lei”. Qualquer perspectiva de limitação de seu poder era
impensável. As crescentes intervenções pessoais arbitrárias no processo legal e o apoio a autonomia
policial executiva moldaram a estrutura da legalidade no Terceiro Reich. O corolário do declínio da
força convencional da lei, portanto, foi a expansão maciça do poder da fusão entre a polícia e a SS.
Com a erosão da lei e força de uma polícia política imbuída do espírito da ideologia nazista, estava
criado o clima e forjado o instrumento para o completo favorecimento do poder de Hitler.

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