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Aula 11
Bons estudos!
Prof. Renan Araujo
Estes crimes, assim como os crimes do cap’tulo anterior do CP, s‹o crimes
que possuem a administra•‹o pœblica como sujeito passivo, sempre,
podendo haver, ainda, casos em que, eventualmente, algum particular tambŽm
seja sujeito passivo do crime.
Naqueles crimes, no entanto, exige-se que o sujeito ativo seja
funcion‡rio pœblico, e tenha se valido do cargo para praticar o delito. Diz-se,
portanto, que s‹o crimes pr—prios, embora seja admitido o concurso de pessoas,
respondendo o particular pelo delito, desde que conhe•a a qualidade de
funcion‡rio pœblico do agente.
Aqui, os crimes s‹o comuns, ou seja, podem ser praticados por
qualquer pessoa.
ƒ necess‡rio que o agente pratique atos inerentes ˆ fun•‹o. N‹o basta que
apenas se apresente a terceiros como funcion‡rio pœblico.2
A consuma•‹o se d‡ quando o agente pratica qualquer ato inerente ˆ fun•‹o,
e a tentativa Ž plenamente poss’vel, uma vez que se pode fracionar o iter criminis
do delito.
O ¤ œnico estabelece, ainda, uma forma qualificada do delito:
Par‡grafo œnico - Se do fato o agente aufere vantagem:
Pena - reclus‹o, de dois a cinco anos, e multa.
1
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 193
2
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 194
1.2! Resist•ncia
Art. 329 - Opor-se ˆ execu•‹o de ato legal, mediante viol•ncia ou amea•a a
funcion‡rio competente para execut‡-lo ou a quem lhe esteja prestando aux’lio:
Pena - deten•‹o, de dois meses a dois anos.
3
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 767
4
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 200
5
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 200
6
ƒ irrelevante se o ato Ž ou n‹o manifestamente ilegal. Basta que seja ilegal para que esteja legitimada a
resist•ncia. BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 202/203
7
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 769
1.3! Desobedi•ncia
Est‡ tipificado no art. 330 do CP:
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcion‡rio pœblico:
Pena - deten•‹o, de quinze dias a seis meses, e multa.
Aqui o agente deixa de fazer algo que lhe fora determinado ou faz algo cuja
absten•‹o lhe fora imposta mediante ordem de funcion‡rio pœblico competente.
Trata-se, portanto, de crime omissivo ou comissivo, a depender da conduta do
agente.
Esse crime n‹o se configura quando o rŽu desobedece a ordem que
possa lhe incriminar, pois n‹o est‡ obrigado a contribuir para sua
incrimina•‹o.8
A tentativa s— ser‡ admitida nas hip—teses de desobedi•ncia mediante
atitude comissiva (a•‹o).
Diversas Leis Especiais preveem tipos penais que criminalizam
condutas espec’ficas de desobedi•ncia. Nesses casos, aplica-se a
legisla•‹o especial, aplicando-se este artigo do CP apenas quando n‹o houver
lei espec’fica tipificando a conduta.
1.4! Desacato
Nos termos do art. 331 do CP:
Art. 331 - Desacatar funcion‡rio pœblico no exerc’cio da fun•‹o ou em raz‹o dela:
Pena - deten•‹o, de seis meses a dois anos, ou multa.
8
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 774
9
(HC 104.921/SP, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA,
julgado em 21/05/2009, DJe 26/10/2009)
10
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 777
11
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 214.
12
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 778
13
Exemplo de possibilidade da ocorr•ncia da tentativa se d‡ quando o agente Ž impedido por alguŽm de
atirar objetos sobre o funcion‡rio pœblico (com a inten•‹o de ofender). CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit.,
p. 779
14
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 778
15
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 216
16
STJ - REsp n¼ 1640084
17
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 780. Em sentido contr‡rio, BITENCOURT. BITENCOURT, Cezar
Roberto. Op. Cit., p. 227
Este crime pode ser cometido de duas formas diferentes (Ž, portanto, crime
de a•‹o mœltipla): oferecer ou prometer vantagem indevida a funcion‡rio
pœblico.
O elemento subjetivo Ž o dolo, exigindo-se que o agente possua a finalidade
especial de agir consistente no objetivo de fazer com que, mediante a vantagem
oferecida ou prometida, o funcion‡rio pœblico aja de tal ou qual maneira.
18
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 781
Por fim, existe uma œltima modalidade de corrup•‹o ativa especial prevista
no CP, que Ž a corrup•‹o ativa de testemunha, perito, tradutor, contador ou
intŽrprete, que Ž um crime contra a administra•‹o da Justi•a, previsto no art.
343 do CP:
Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a
testemunha, perito, contador, tradutor ou intŽrprete, para fazer afirma•‹o falsa, negar
ou calar a verdade em depoimento, per’cia, c‡lculos, tradu•‹o ou interpreta•‹o:
(Reda•‹o dada pela Lei n¼ 10.268, de 28.8.2001)
19
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 783
20
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 783
21
(AgRg no REsp 1493968/PR, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, QUINTA TURMA, julgado em 07/05/2015,
DJe 26/05/2015)
22
Importante lembrar, ainda, que devem estar presentes os demais requisitos que autorizam o
reconhecimento da insignific‰ncia, dentre eles o fato de NÌO ser o agente um criminoso ÒcontumazÓ. A
reitera•‹o delitiva impede o reconhecimento da insignific‰ncia, conforme entendimento do STJ e do STF:
STF - HC 124867 AgR / PR
STJ - AgRg no REsp 1511445 / RS
23
(RHC 43.558/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 05/02/2015, DJe 13/02/2015)
Podemos dizer que esta tenha sido a altera•‹o mais sens’vel da nova lei.
A nova lei trouxe, ainda, algumas outras inova•›es.
Tanto no crime de descaminho quanto no crime de contrabando, a reda•‹o
anterior do CP considerava que a pena seria aplicada em dobro se o delito
fosse cometido mediante transporte AƒREO. Pois bem, a nova lei estendeu esta
previs‹o tambŽm para os transportes mar’timos ou fluviais (mares ou
rios). Vejamos:
Art. 334 (...)
¤ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho Ž praticado em transporte
aŽreo, mar’timo ou fluvial. (Reda•‹o dada pela Lei n¼ 13.008, de 26.6.2014)
(...)
Art. 334-A (...)
¤ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando Ž praticado em transporte
aŽreo, mar’timo ou fluvial. (Inclu’do pela Lei n¼ 13.008, de 26.6.2014)
A Doutrina entende que este artigo foi parcialmente revogado pela Lei
8.666/93, que estabeleceu diversos crimes em processos licitat—rios. No entanto,
Ž pac’fico o entendimento de que o crime permanece em vigor em rela•‹o
ˆ conduta referente ˆ venda em Hasta Pœblica, pois n‹o se insere no bojo
de procedimento licitat—rio.24
As condutas podem ser de fraude, impedimento ou perturba•‹o da
pr—pria venda em hasta pœblica, promovida pela administra•‹o federal, ou,
ainda, de tentativa de afastamento de concorrente mediante fraude,
vantagem, viol•ncia ou amea•a.
Na primeira conduta, exige-se apenas o dolo. Na segunda, exige-se,
ainda, a finalidade especial de agir, consistente na finalidade de afastar
o concorrente do certame. Na primeira, trata-se de crime material, pois se
24
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 798
25
BITENCOURT, Cezar Roberto. Op. Cit., p. 289
26
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 804/805
27
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 806
28
CUNHA, RogŽrio Sanches. Op. Cit., p. 809
3! JURISPRUDæNCIA CORRELATA
Ä STJ - HC 104.921/SP Ð O STJ decidiu no sentido de que o funcion‡rio pœblico
que desacata outro funcion‡rio pœblico Ž, neste momento, apenas mais um
particular, devendo responder pelo crime de desacato. Exige-se, apenas, que o
infrator n‹o esteja no exerc’cio de suas fun•›es:
2 de desacato por funcion‡rio pœblico contra
(...) ƒ poss’vel a pr‡tica do crime
pessoa no exerc’cio de fun•‹o pœblica, pois se trata de crime comum em que
a v’tima imediata Ž o Estado e a mediata aquela que est‡ sendo ofendida.
(...) Ordem denegada. (HC 104.921/SP, Rel. Ministra JANE SILVA
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em
21/05/2009, DJe 26/10/2009)
4! RESUMO
CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRA‚ÌO EM
GERAL
Usurpa•‹o de fun•‹o pœblica - O agente n‹o possui qualquer v’nculo com a
administra•‹o pœblica ou, caso possua, suas fun•›es s‹o absolutamente
estranhas ˆ fun•‹o usurpada.
OBS.: ƒ necess‡rio que o agente pratique atos inerentes ˆ fun•‹o. N‹o
basta que apenas se apresente a terceiros como funcion‡rio pœblico.
Resist•ncia
Conduta Ð Opor-se ˆ execu•‹o de ato LEGAL de funcion‡rio pœblico (viol•ncia
contra coisa n‹o caracteriza o delito), mediante viol•ncia ou grave amea•a. O
agente responde de, ainda, de maneira aut™noma, pela viol•ncia ou amea•a
OBS.: O ato deve ser legal, ou seja, deve estar fundamentado na Lei ou em
decis‹o judicial. Assim, a decis‹o judicial injusta Ž considerada ato legal.
! E se o particular resistir ˆ pris‹o em flagrante executada por um
particular (atitude permitida pelo art. 301 do CPP)? Nesse caso, n‹o
pratica o crime em quest‹o, pois o particular n‹o Ž considerado funcion‡rio
pœblico, n‹o podendo ser realizada analogia in malam partem.
Desobedi•ncia
Conduta - O agente deixa de fazer algo que lhe fora determinado ou faz algo
cuja absten•‹o lhe fora imposta mediante ordem de funcion‡rio pœblico
competente.
! A tentativa s— ser‡ admitida nas hip—teses de desobedi•ncia mediante
atitude comissiva (a•‹o).
Desacato
Conduta Ð Ocorre quando um particular desacata (falta de respeito, humilha•‹o,
com gestos ou palavras, vias de fato, etc.) funcion‡rio pœblico. Exige-se que o
ato seja praticado na presen•a do funcion‡rio pœblico.
OBS.: Mas e se quem cometer o desacato for funcion‡rio pœblico? Tr•s
correntes existem, mas prevalece que:
¥! ƒ poss’vel, em qualquer caso Ð Essa Ž a predominante, e entende
que o funcion‡rio pœblico que desacata outro funcion‡rio pœblico, Ž,
neste momento, apenas mais um particular, devendo responder pelo
crime. Exige-se, apenas, que o infrator n‹o esteja no exerc’cio de suas
fun•›es.
Tr‡fico de influ•ncia
Conduta Ð Conduta daquele que pretende obter vantagem em face de um
particular, sob o argumento de que poder‡ influenciar na pr‡tica de determinado
ato por um servidor pœblico. ƒ uma espŽcie de ÒestelionatoÓ, pois o agente
promete usar uma influ•ncia que n‹o possui.
E o particular que Òcontrata os servi•osÓ? Doutrina entende que NÌO ƒ
SUJEITO ATIVO, mas sujeito PASSIVO do delito, pois, embora sua conduta
seja imoral, n‹o Ž penalmente relevante, tendo sido ele tambŽm lesado pela
conduta do agente, que o enganou (considerado corruptor putativo).
Corrup•‹o ativa
Conduta - Este crime pode ser cometido de duas formas diferentes (Ž, portanto,
crime de a•‹o mœltipla): oferecer ou prometer vantagem indevida a funcion‡rio
pœblico.
Elemento subjetivo Ð DOLO. Exige-se, ainda, a finalidade especial de agir
consistente no objetivo de fazer com que, mediante a vantagem oferecida ou
prometida, o funcion‡rio pœblico aja de tal ou qual maneira.
ATEN‚ÌO! Se o funcion‡rio pœblico solicita a vantagem indevida e o
particular a fornece (paga uma quantia, por exemplo), o particular NÌO
comete o crime de corrup•‹o ativa, eis que o tipo somente prev• os
verbos de OFERECER e PROMETER vantagem indevida, que pressup›em
que o particular tome a iniciativa.
Contrabando
Conduta - Importar ou exportar mercadoria proibida. Ou seja, a importa•‹o
ou exporta•‹o da mercadoria, por si s—, Ž vedada.
Consuma•‹o - O contrabando se consuma quando a mercadoria il’cita ultrapassa
a barreira alfandeg‡ria, sendo liberada pelas autoridades.
Insignific‰ncia Ð NÌO CABE APLICA‚ÌO do princ’pio da insignific‰ncia ao
contrabando (STF e STJ).
T—picos importantes
! Com a Lei 13.008/14 a pena do delito de contrabando foi
AUMENTADA para 02 a 05 anos de reclus‹o. Essa altera•‹o na quantidade
da pena produz consequ•ncias negativas para o rŽu (e, portanto, sabemos que
NÌO IRç RETROAGIR):
¥! N‹o cabe mais suspens‹o condicional do processo (a pena m’nima
ultrapassa um ano)
Descaminho
Conduta Ð Ocorre quando o agente ilude, no todo em parte, o pagamento de
direito ou imposto devido pela entrada, sa’da ou consuma da mercadoria.
Burla ao sistema tribut‡rio.
Consuma•‹o - Com a libera•‹o na alf‰ndega, sem o pagamento dos impostos
devidos. Trata-se de crime FORMAL.
Insignific‰ncia Ð CABêVEL! STF e STJ possuem entendimento no sentido de
que o patamar para considera•‹o da insignific‰ncia Ž de R$ 20.000,00.
Perd‹o judicial
S‹o tr•s os requisitos para o perd‹o judicial ou aplica•‹o apenas da pena
de multa:
a)! Ter o agente bons antecedentes
d)! Ser prim‡rio
e)! O valor das contribui•›es n‹o ser superior ao valor estabelecido pela
Previd•ncia Social como o m’nimo ao ajuizamento de execu•›es fiscais
ATEN‚ÌO! Apesar de ser essa a previs‹o legal, o STF entende que se o valor
das contribui•›es sonegadas for inferior a este valor, n‹o h‡ hip—tese de
perd‹o judicial ou aplica•‹o da pena de multa, mas sim ATIPICIDADE DA
CONDUTA, em raz‹o do princ’pio da insignific‰ncia.
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Bons estudos!
Prof. Renan Araujo
6! EXERCêCIOS COMENTADOS
29
STJ - REsp n¼ 1640084
26.6.2014)
7! GABARITO
1.! ERRADA
2.! ERRADA
3.! CORRETA
4.! ERRADA
5.! ALTERNATIVA C
6.! ERRADA
7.! CORRETA
8.! ERRADA
9.! ERRADA
10.! ERRADA
11.! CORRETA
12.! ERRADA
13.! ERRADA
14.! CORRETA