Vous êtes sur la page 1sur 12

Terapias Alternativas:

Uma Questão Contemporânea


em Psicologia
Controvérsias sobre a prática de psicoterapias alternativas por psicólogos
vêm provocando inúmeros debates. Estas práticas são criativamente
estudadas por meio de entrevistas com terapeutas e clientes a respeito de
suas experiências. As questões sobre a eficiência e eficácia das
terapêuticas convencionais e alternativas são discutidas, considerando-se
os aspectos metodológicos e as implicações epistemológicas dos
estudos.

O número de pessoas que praticam terapias ditas alternativas e de "centros de terapias Gustavo Gauer,
alternativas" é consideravelmente grande, e tende a aumentar, bem como suas clientelas. Mariane L. de
Como exemplo destas técnicas pode-se mencionar: "Cromoterapia", "Florais de Bach", "Terapia Souza,
de Regressão a Vidas Passadas" (TRVP), e "Psicologia Transpessoal". Em Cursos de Psicologia Fábio Dal Molin e
encontram-se muitos estudantes que são admiradores destas terapias, alguns que já são William B. Gomes
praticantes e outros que pretendem dedicar-se a essas atividades. Um indicativo desta
tendência é o grande número de cartazes anunciando cursos, encontros e serviços nos
corredores de nossas universidades, próximo aos cursos de psicologia.
Sobre as terapias alternativas, seus praticantes, seus clientes e sua proliferação, não há
dados estatísticos disponíveis e tampouco há conhecimento sobre a sua eficiência. Entende-se
por eficiência a indicação ou especificação da natureza do benefício obtido por pessoas que se
submentem a esses tratamentos (Gomes, Reck, & Ganzo, 1988). Marques (1994) interpretou o
movimento das práticas alternativas como tratando-se de efeito da pós-modernidade e das
Instituto de Psicologia
mudanças mundiais na Psicologia. Em seu estudo, emergiram como categorias a mudança de UFRGS
paradigma e a psicologia transpessoal, que reúne alguns dos estudos e investigações
relacionados às práticas alternativas.
Sabe-se que o campo da Psicologia caracteriza-se pela ausência de um vocabulário
comum e de um consenso sobre seus princípios básicos, além de haver um grande número de
escolas com propósitos distintos (Omer & abordagens seriam as mesmas, sob diferentes
Strenger, 1992). Se tal dificuldade em se traçar nomenclaturas. Na comparação entre o
padrões dentro do campo da Psicologia processo psicanalítico e a prática zen-budista
estende-se à psicoterapia convencional, mais encontrou-se convergências no entendimento
complicado ainda será fazê-lo com as terapias das relações entre dependência e hostilidade,
alternativas. Entende-se que as teorias na área e nas ênfases em relacionamento interpesso-
da Psicologia tidas por científicas são aquelas al, fortalecimento do ego e interpretação.
que incorporam, com uma ou outra variação, Estudos sugerem que as várias terapias
preceitos de uma lógica empírica-racional na ocidentais tornam-se mais eficientes quando
construção de seus aparatos teóricos e combinadas com sistemas orientais de auto-
subsistem submetendo esses aparatos a controle (Ikemi, 1990) e que há aspectos
avaliações que permitam demarcar seu positivos no uso de certas ervas pela medicina
escopo (Tourinho & Carvalho, 1995). Incluem- oriental no tratamento da depressão (Sarai,
se nesse grupo as teorias do campo da 1992).
Psicologia que, sem corresponder necessaria- Numerosos estudos sobre psicotera-
mente a um modelo de ciência natural, deram pia têm abordado o tema da importância do
origem a práticas de investigação, produção e contexto cultural no processo psicoterapêuti¬
validação de conhecimento que podem ser co, especialmente sobre a sua eficiência.
consideradas científicas. As práticas alternati- Comparações transculturais relativizam a
vas são contempladas, neste sentido, como validade dos métodos atuais de psicoterapia
alternativas à Psicologia na medida em que (Littlewood, 1990; Pfeiffer, 1991). As represen-
pretendem dar conta de problemas tradicio- tações de pacientes e terapeutas sobre
nalmente reservados à disciplina psicológica, conceitos de saúde e doença influenciam em
valendo-se, contudo, de recursos explicativos 60% a eficácia terapêutica; no entanto, o papel
que não se confundem com aqueles emprega- da cultura dificilmente é considerado pela
dos por teorias científicas. Os recursos maioria das teorias (Havenaar, 1990). Bergin e
explicativos das práticas alternativas, ao Jensen (1990) investigaram as mudanças nos
contrário das teorias científicas, contêm valores religiosos de psicoterapeutas america-
elementos místicos, religiosos ou supersticio- nos. Constataram que esses profissionais não
sos. O alternativo não se define, então, pela indicaram afiliações a organizações religiosas
atividade prescrita em si, nem pelo fato de se convencionais mas sim envolvimento em
constituir como uma experiência nova no práticas espirituais não convencionais. Os
campo da intervenção psicológica, mas pelo autores identificaram essa tendência como um
tipo de conhecimento veiculado e pelas "humanismo espiritual" e acreditam que esta
concepções de homem e de mundo a eles nova postura poderia aproximar a terapia de
subjacentes. (p. 85) um público mais religioso. Estudando-se a
Constata-se uma forte influência do relação entre a cura carismática católica e
pensamento oriental sobre as terapias psicoterapias, observou-se que os terapeutas
alternativas. Os tratamentos caracterizam-se que tentam integrar as duas visões vêm
pelo uso de meditação e de relaxamento, e por encontrando dificuldades práticas relaciona-
apresentarem pressupostos holísticos, das às diferenças nos pressupostos (Csordas,
entendidos como unidade entre corpo e alma, 1990). Pesquisados os chamados "tratamentos
sendo que o termo alma inclui tanto os nativos" da cultura africana, praticados por
aspectos mentais como espirituais. A compati- curandeiros e bruxos, através de exorcismo e
bilidade entre meditação e psicoterapia já foi sacrifícios, constatou-se a importância de se
estudada, concluindo-se que psicanalistas levar em consideração os aspectos culturais
consideram a prática da meditação como quando na transposição de uma teoria de uma
contraproducente para o processo terapêuti- cultura para outra (Vontress, 1991). Por outro
co, enquanto psicoterapeutas transpessoais lado, observa-se na literatura relatos de
acreditam no contrário (Bogart, 1991). A tentativas de compreensão de práticas nativas
psicologia transpessoal faz uso de técnicas africanas no sentido de saber o que estes
convencionais em conjunto com práticas tratamentos podem oferecer às terapias
conscientizadoras orientais, a fim de lidar com ocidentais (Straker, 1994). Os ritos afro-
o chamado "nível transpessoal" (Tabone, brasileiros e seus modelos míticos de compor-
1992). Elementos comuns entre psicanálise, tamento foram estudados por Monique Augras
psicologias humanista e transpessoal, e zen¬ (1983). A autora considera que num País como
budismo foram investigados (Rhee, 1990). O o Brasil, com a enorme riqueza de culturas e
autor constatou que as propostas dessas subculturas que se opõem, se interpenetram,
se chocam e se integram, não há muito sentido em aceitar os modelos euro-americanos como fontes
exclusivas do saber. (p. 12)
A teoria de Carl Gustav Jung (1964) apresenta notáveis considerações acerca das interações
entre cultura, mitologia, religião, psicologia e psicoterapia, introduzindo conceitos de uso relativa-
mente corrente, como inconsciente coletivo e arquétipo. Na verdade, Jung é um dos autores mais
citados pelos terapeutas alternativos. Fadiman e Frager (1979), em seu conhecido livro sobre teorias
da personalidade reconhecem o interesse nos sistemas filosóficos orientais ocorrido nos Estados
Unidos: Numa época de contínuo questionamento a respeito dos pontos de vista estabelecidos
sobre religião, ciência e sistemas políticos organizados, há uma busca correspondente por modelos
de comportamento humano alternativos, modelos que sejam baseados em uma observação
diferente e que conduzam a conclusões alternativas. (p. 281). Tal colocação parece pertinente à
situação de escalada que os sistemas alternativos experimentam atualmente no Brasil.
A proposta deste estudo é estabelecer uma primeira aproximação com as práticas psicote-
pêuticas alternativas. Neste trabalho, define-se como terapias alternativas aquelas técnicas cujos
pressupostos teóricos e filosóficos e os critérios de formação não estejam relacionados diretamente
com a tradição das psicoterapias adotadas por psicólogos e psiquiatras, conforme indicado por Dorin
(1978). Interessa saber quais os motivos que levam um leigo ou um psicólogo a tornar-se um
psicoterapeuta alternativo, qual a formação necessária para o exercício dessa prática, que tipo de
resultados tem-se alcançado e como os terapeutas descrevem suas experiências com essas terapias.
Sobre os pacientes, pretende-se descobrir por que eles procuram uma terapia alternativa, como eles
descrevem suas experiências e quais benefícios encontram nesse tipo de terapia.
MÉTODO
Participantes
Participaram deste estudo dez terapeutas e dez pacientes de psicoterapias alternativas. Os
primeiros terapeutas foram localizados a partir de indicações de estudantes de psicologia que
acompanham os movimentos de psicoterapia alternativa. Os demais terapeutas foram localizados
por indicação dos primeiros entrevistados. Estes terapeutas representavam quatro modalidades de
terapias alternativas (Tabela 1).
Instrumento/Procedimento estudo de uma maneira globalizante incluindo:
o acta (o que é feito), o data (o que é dado) e o
O instrumento utilizado na obtenção de dados capta (o que é tomado). No caso deste estudo
pela presente pesquisa constituiu-se de dois têm-se os depoimentos dos terapeutas e dos
protocolos tópicos de seqüência flexível pacientes (acta), obtido através de entrevistas
(Patton, 1990), para entrevistas individuais, (data) como entendido pelos pesquisadores
dirigidos a cada um dos grupos. O protocolo (capta). No entanto, a percepção dos pesquisa-
utilizado como roteiro para a entrevista dos dores não pode ser interpretada como a
pacientes é o mesmo utilizado em estudos expressão de uma subjetividade. A comunali¬
anteriores sobre a percepção de pacientes dade encontrada nos depoimentos valida-se na
sobre sua psicoterapia (Gomes, Reck & Ganzo, intersubjetividade de um mundo compartilha-
1988; e Gomes, Reck, Bianchi & Ganzo 1993). Os do, que é a especificação de um contexto de
protocolos (Anexo 1) têm conteúdo baseado relações interpessoais. Temos, portanto, o
em sondagem de campo e serviram à realiza- produto objetivo de um ato comunicativo,
ção de entrevistas semi-estruturadas, visando a entre entrevistador e entrevistado, que
livre expressão das experiências conscientes esclarece e explica o material estudado.
dos sujeitos a partir de perguntas formuladas
de modo a facilitar suas descrições. As entrevis-
DESCRIÇÃO
tas foram realizadas e gravadas em audioteipe
nas residências ou locais de trabalho dos A descrição das respostas dos entrevis-
participantes. Todos os participantes foram tados divide-se em duas partes. Primeiro
informados dos propósitos da pesquisa e apresenta-se as categorias (especificações
aceitaram dar a sua contribuição de forma tipificadoras) emergentes da leitura dos relatos
voluntária (consentimento informado). A dos terapeutas e dos pacientes, respectiva-
seguir, o material foi transcrito na íntegra, mente. As frases em itálicos indicam transcri-
totalizando cerca de 12 horas de entrevistas e ções literais das entrevistas. Em geral, são
300 páginas de transcrições. As entrevistas frases que sintetizam ou definem as posições
foram formatadas para o uso do software de dos entrevistados.
análise qualitativa Ethnograph 3.0, que
possibilita a delimitação e listagem das 1. Terapias Alternativas:
categorias de análise. A percepção dos terapeutas

Critério de Análise/Síntese 1.1-Da Procura pelo Tratamento

Os depoimentos recolhidos nas De acordo com os depoimentos dos


entrevistas foram analisados através de terapeutas, suas clientelas formam-se por
critérios qualitativos (Gomes, 1997; Lanigan, indicação de outros pacientes ou de outros
1988; Patton, 1990). O critério de análise e profissionais; através de divulgação em
síntese foi organizado em três etapas sinérgi- palestras, programas de rádio e televisão ou
cas. Essas etapas são conhecidas como encaminhamento por orientadores de
descrição qualitativa, redução ou especificação entidades religiosas que oferecem tratamen-
da descrição e interpretação. Note-se que é um tos.
critério de análise porque consiste, primeira-
mente, numa separação de partes de um todo, 1.2-Dos Sintomas dos Pacientes
e numa demarcação de unidades de sentido do
texto original (descrição). Mas é também uma A maior demanda, na percepção dos
síntese porque agrupa as partes separadas terapeutas, está na esfera das relações
(redução) em novas partes (tipologias, interpessoais. São dificuldades no casamento,
categorias) que são acrescentadas ao todo
na família ou no trabalho. São mencionados
(interpretação). Na passagem da descrição para
a redução vivencia-se uma experiência que é a ainda problemas de depressão, fobias,
presença de um novo objeto para a consciên- ansiedade, dificuldades de aprendizagem,
cia, que é definida como interpretação. Trata- insegurança, frigidez e pânico. Há, contudo,
se, na verdade, de uma interpretação herme- pessoas que buscam atendimento por causa
nêutica, isto é, circunscrita ao contexto da de problemas físicos. Nestes casos, as maiores
experiência em foco e que tem a função incidências são dores musculares, problemas
metodológica de especificar o valor da relação de coluna, problemas digestivos e obesidade.
entre a descrição e a redução. É bom lembrar Foram também mencionados problemas
que esta metodologia focaliza seu objeto de ginecológicos, articulares e circulatórios.
1.3-Dos Pacientes gem. Na TRVP, são utilizados o relaxamento, a
visualização criativa e a hipnose ericksoniana,
Na percepção dos terapeutas, as que é definida como uma "hipnose conscien-
pessoas que procuram os tratamentos te", na qual o paciente se lembra de tudo o que
alternativos estão todas em um processo de aconteceu. Considera-se que as técnicas agem
busca pessoal. Há aqueles que estão apenas conjuntamente no processo. A visualização
procurando solução para um problema físico, criativa é utilizada como uma preparação para o
como por exemplo uma dor localizada, e que paciente entrar no processo hipnótico, e
nem sempre integram o sintoma ao processo ambos só ocorrem em um estado de total
psicológico pelo qual estão passando. Outros relaxamento. Nesta técnica, o terapeuta pede
estão buscando alguma coisa que não sabem o para o paciente fechar os olhos e imaginar
que é ou trazem problemas que não sabem lugares ou situações que lhe sejam agradáveis.
definir exatamente. Há situações de crise Os terapeutas de regressão concordam sobre a
existencial e há aqueles que simplesmente necessidade de uma anamnese para
buscam um terapeuta mais compreensivo. Em determinar se o paciente necessita ou não da
conseqüência, a terapia às vezes funciona para técnica regressiva.
o paciente como catalisadora de um processo Os terapeutas que centram a sua
de autoconhecimento. Sua permanência em prática nos Florais de Bach ressaltam a impor-
terapia é breve. Em outros casos, o terapeuta tância da conversa com o paciente e de que ele
aponta que o tratamento serve como a base acredite que aquela essência que ele tomou irá
que o paciente procurava para levar adiante o lhe fazer bem.
seu processo de busca interior. "Elas não Os terapeutas de abordagem
buscam mais aquele psicólogo tradicional, né psicossomática utilizam a massagem em
(...) mas que eles possam falar da religião conjunto com os florais e óleos aromáticos
deles, que eles possam ouvir, de vez em essenciais (aromaterapia) os quais, segundo os
quando, uma coisa diferente e isso não estar depoentes, possuem efeitos sobre a psique. As
dentro da loucura" (T8). técnicas fazem parte de uma estrutura
relativamente bem definida. Inicia-se com uma
1.4-Da Prática Terapêutica anamnese para se definir quais problemas
devem ser tratados. Enfatiza-se que são sempre
As definições de terapia oferecidas considerados os níveis psíquico, energético e
pelos terapeutas variaram de acordo com sua corporal. Para tanto, utiliza-se massagem e
versão de identificação da abordagem. Houve exercícios físicos.
definições mais abertas, como por exemplo, "é Nas terapias de abordagem holística,
uma abordagem psicossomática" (T2) e os terapeutas possuem um repertório de
definições mais específicas, como, por técnicas e as utilizam conforme o caso, como
exemplo, "a terapia regressiva a vivências informa T9: "Olha, eu aprendi muito com a
passadas consiste no seguinte: a pessoa relaxa antropossofia... a usar aquarela com pessoas
e, através do relaxamento, a pessoa revive um muito rígidas. Trabalha com a estrutura das
acontecimento traumático do seu passa- cores. Eu gosto de usar argila, uso a regressão,
do"(T7). Em contraste, houve definições uso o floral, uso a pintura, guache, também... e
fragmentadas baseadas nas técnicas utilizadas, a verbalização". Como recurso técnico desta
em descrições de certas qualidades do trabalho abordagem é citada, ainda, a cromoterapia
ou em comparações com a psicoterapia (terapia das cores), que pode ser associada à
tradicional. Por fim, apareceram também musicoterapia, onde um determinado estímulo
definições contraditórias no que se refere à luminoso é aliado a uma freqüência sonora, o
identidade com a terapia: que produziria efeitos curativos. Além da
iritervenção verbal, utiliza-se a "visualização
"Então, eu tô fazendo uma terapia, uma criativa", "eletromagnetoterapia", recursos
medicina que é alternativa, não é uma orientais (como histórias do I Ching) e vendas
terapia, é uma companhamento terapêu- nos olhos do paciente.
tico no tratamento de florais de Bach" (T10). Coordenadora de grupos de auto-
ajuda espírita, T6 diferencia-se dos demais
Os recursos técnicos utilizados pelos terapeutas, pois não utiliza nenhuma técnica
terapeutas em suas práticas estão aqui específica, valendo-se da sua intuição e da
agrupados conforme a sua linha ou aborda- experiência em coordenar grupos.
1.5 - Das Crenças e Sentimentos sobre a pessoa, pois cada essência representaria a
Terapia Alternativa energia positiva em relação ao mal-estar
sentido pelo paciente, visto como uma
Os terapeutas descrevem seu trabalho "energia negativa". O processo tem por base
e seu envolvimento com os tratamentos uma tomada de consciência dos próprios
alternativos como uma experiência de elabora- problemas, do mais superficial ao mais
ção dos próprios conflitos. Essa elaboração é profundo: "Como toda terapia, a terapia floral é
vista como uma necessidade ou mesmo como como o descascar de uma cebola, vai tratando
uma convicção, como relata o sujeito T2: "Me dá as partes mais superficiais, vai aparecendo, de
vontade, assim, defalar agora, do quanto a uma forma assim, dá pra se dizer, as partes
gente como terapeuta tem que ser um paciente mais profundas, aquelas do núcleo" (T10).
(...) Você não vai conseguir tratar a pessoa,
naquilo que pra ti ainda tá mal resolvido". Eles 1.7-Da alta
declaram agir na relação com o paciente como
um agente facilitador. No entanto, alguns A alta é decidida em conjunto com o
sujeitos caracterizam a situação de terapeuta paciente; tanto um terapeuta pode observar a
também como de liderança e até mesmo de remissão dos sintomas e as mudanças
poder. "Então, eu vejo assim, que muitas substanciais no modo de ser do paciente,
pessoas me dão um tremendo poder, eu sou quanto este explicitar que sente-se bem e
curado.
quase o... sei lá, o mago que ajuda elas, um
religioso, o grande doutor, né" (T5). Outra
constante nos relatos dos terapeutas é a 2. Terapias Alternativas:
descrição de uma postura de questionamento
A percepção dos pacientes
do próprio trabalho, dúvidas sobre sua eficácia
ou sobre a própria atuação, e o cuidado com a 2.1 - Do Procura pelo Tratamento e seus
reputação profissional.
motivos
1.6-Do Processo Terapêutico Os pacientes informaram que a
aproximação de uma terapia alternativa deu-se
As descrições do processo terapêutico através da indicação, por um familiar ou
variam de acordo com as respectivas aborda- conhecido, de uma instituição ou terapeuta;
gens. Na TRVP o processo terapêutico consiste ou por acaso, através de anúncios, palestras e
em uma regressão de memória a uma situação meios de comunicação. Os pacientes referem-
passada onde ocorreu um trauma, e uma se à percepção de seus problemas como
consequente elaboração desta vivência do motivo principal da busca pelo tratamento.
paciente. Tal processo se daria pelo fato de a Eles definiram-se, na época da procura do
pessoa estar ligada à situação traumática de tratamento, como pessoas desorganizadas,
forma pouco saudável, por tê-la vivenciado sem muito rígidas, "fechadas", com baixa auto-
refletir. Nesse processo, o terapeuta ajudaria o estima, muito tensas, com muitos medos.
paciente a adquirir a consciência do trauma e a Essas pessoas podiam estar, ainda, conforme
interpretar todos os simbolismos que aparecem suas descrições, em um período de questiona-
durante a regressão. A partir daí, seria possível mento e "angústia existencial", e decepciona-
fazer uma "reprogramação" e "dár uma nova das com terapias convencionais.
ordem para o inconsciente" (T8). Segundo os
terapeutas de regressão, o processo de cura 2.2- Dos Terapeutas
completo se dá, em média, em dez sessões.
Nos tratamentos psicossomáticos, o processo Os pacientes descrevem os terapeu-
terapêutico ocorre quando a pessoa trata seu tas como estimuladores da reflexão e dos
problema físico e, conjuntamente, descobre questionamentos. Os terapeutas demonstram
que as causas destes problemas podem ser vontade de curar o mais rápido possível: "a
gente vê que ela conduz de uma forma
psíquicas. Um exemplo é o relato de T2: "As realmente para resolver os problemas, (...) sem
técnicas, elas agem a cada nível, sinergetica- se preocupar com a quantidade de tempo"
mente. Só no físico não adianta tu tratares, que (P7). São profissionais que apóiam o paciente
voltam os sintomas". As técnicas agiriam no fora do ambiente terapêutico, como em
sentido de equilibrar "o corpo físico" e o "corpo telefonemas fora do horário de atendimento:
energético" da pessoa. "Eu me senti bem apoiada por ela; é uma
No caso da terapia floral (T10), os florais pessoa super atenciosa, tipo... dá os florais, se
atuariam também como forma de equilibrar a dá algum efeito colateral ou se tu te sente
angustiada, tu telefona pra ela" (P3). melhoras na capacidade de lidar com os
A relação terapêutica foi considerada próprios problemas, mudanças na visão de
muito boa pelos pacientes. Quando algum mundo e na relação com as outras pessoas e a
aspecto negativo foi apontado ressalvou-se que remissão de sintomas físicos. Tais mudanças,
não comprometeu o tratamento: "Acho ela uma segundo os pacientes, foram percebidas não
pessoa autoritária, bem prepotente, mas eu só por eles mesmos, mas também por familia-
acho que ela conduz muito..." (P5). Houve res e amigos.
relatos de mal-estar passageiro na relação com
o terapeuta, posteriormente interpretado como
uma reação natural à abordagem de alguma 2.6-Da alta
questão delicada, necessária ao bom andamen-
to da terapia. Houve menção de amizade com A alta é descrita pelos pacientes como
terapeuta, de sentir-se identificado com ele, ou o resultado de um acordo entre os sentimentos
de tomá-lo como modelo. do paciente e a determinação do terapeuta. O
paciente pode ter a consciência de ter mudado
certos comportamentos, de não mais
depender do terapeuta, ou, simplesmente,
2.3-Do Vivência Terapêutica
"estar pronto." Os pacientes relatam, contudo,
Sobre a vivência terapêutica os dificuldades em fazer uma previsão exata
sobre um eventual final de tratamento. Eles
pacientes destacaram a liberdade que o
vinculam esse prognóstico a uma avaliação dos
terapeuta dá para falar, sendo isso entendido
objetivos já alcançados e de sua capacidade de
como um dos fatores que caracterizam a terapia
viver sem a terapia ou sem o terapeuta.
como alternativa: "eu considero, assim, que
seja alternativa, porque eu posso falar do que
eu quiser, sabe, ele não conduz a entrevista em Redução Qualitativa e Interpretação
nenhum momento" (P10). O assunto tratado em
A análise indutiva (redução)
cada sessão, segundo os entrevistados, é
concentrou-se na investigação do sentido que
trazido de improviso, sem um planejamento
vai sendo construído entre as três fases da
prévio, a não ser quando há algum assunto
pesquisa. Assim, detém-se no exame das
pendente de uma sessão anterior. Os pacientes
seguintes relações: 1) procedimentos para
geralmente sentem-se bem após as sessões, criação de evidência, isto é, a entrevista
com a impressão de que conseguiram resolver enquanto recuperação de uma experiência
alguma coisa, ou de que estão mais conscien- retrospectiva (acta); 2) procedimentos de
tes dos próprios problemas. Os exercícios de documentação de evidência, a gravação em
relaxamento ou meditação, presentes em todas audioteipe da entrevista (data, incluindo
as abordagens, são considerados eficazes transcrição e entonação); 3) procedimentos
pelos pacientes. para interpretação da mensagem, tanto na
perspectiva compreensiva da fala dos entrevis-
2.4 - Das Crenças e Sentimentos sobre a tados (descrição) quanto na perspectiva crítica
Terapia Alternativa dos pesquisadores (redução e interpretação).
Note-se neste critério de análise a ocorrência
A terapia é considerada pelos de duas etapas distintas de pesquisa. A
pacientes como um momento de reflexão, para primeira foi a composição de uma descrição
"pensar coisas da gente" ou para dedicar-se a si enquanto síntese das entrevistas que é um
mesmo. Esses momentos, então, propiciam procedimento interpretativo. Segundo, a
uma tomada de consciência, com a orientação análise da descrição apresentada enquanto
do terapeuta e com o auxílio das técnicas uma proposta para debate de uma interpreta-
utilizadas. Os pacientes relatam que a terapia é ção crítica, apresentada a seguir.
"uma coisa boa", que sentem-se bem, na
maioria das vezes, com exceção de algumas 1. A compreensão e interpretação das
sessões, aquelas em que experimentaram descrições e informações teóricas sobre
momentos dolorosos decorrentes de muita terapias alternativas tomou como contexto a
exposição a temas delicados. especificidade comunicativa das relações
consideradas terapêuticas em geral (acta).
2.5 - Das Mudanças Decorrentes do 2. O critério de explicação está
Tratamento. baseado em um pressuposto "cético" do não
reconhecimento de poderes místicos ou
Os pacientes atribuem ao tratamento
mágicos, mas sim do reconhecimento do uso teórica assegure maior habilidade de perfor-
da retórica mítica ou mágica enquanto fortaleci- mance técnica, principalmente se por ação
mento de poder pessoal de influência (acta). técnica se entenda um modo peculiar de se
3. As descrições oferecidas pelos colocar em uma comunicação interpessoal
pacientes trazem as mesmas características dominante (acta).
narrativas e metafóricas de descrições ofereci- 8. Qual a validade destas interpreta-
das por pacientes de terapias convencionais ções? Qual a fidedignidade dos recortes das
(data) (vide Gomes el al, 1988; 1993), o que entrevistas efetuados pelos pesquisadores?
permite identificá-las como constituindo-se em Qual a confiabilidade das descrições ofereci-
uma mesma forma estrutural (capta). Assim, as das pelos participantes da pesquisa? A fala da
características descriminatórias destes experiência terapêutica remete necessaria-
tratamentos, conforme descrição de terapeutas mente à consciência do benefício terapêutico?
e pacientes não foram consideradas como Mas, afinal, o que é benefício terapêutico?
especificadoras (acta). Seria o desaparecimento do sintoma? Ou, ao
4. Os terapeutas mostraram, em suas contrário, seria a exacerbação do sintoma? Ou,
entrevistas, como articulam teoria e técnica ainda, a convivência amistosa com o sintoma?
(data), deixando transparecer a sincronia entre Ou, quem sabe, a aceitação do sintoma como a
ação técnica e ação comunicativa (capta) em mais legitima expressão de si? Ou, todavia, a
diacronias como, por exemplo, a ênfase numa discriminação do sintoma como um hábito
associação forçada entre uma essência floral e arraigado? Enfim, o que na experiência de
a crença no seu efeito (data), o que sugere a conjunções entre expressão (como respondo
realização de estudos focais sobre essas ao outro e a mim mesmo) e percepções (como
associações (capta). penso as minhas respostas ao outro e a mim
5. Os terapeutas não indicaram em mesmo) deve ser considerado sintoma? Estas
suas respostas elementos mágicos ou místicos perguntas abrem um imenso leque para
mas mostraram-se conscientes de aspectos interpretações a partir do grande número das
convencionais de estruturas terapêuticas teorias terapêuticas convencionais. Na
(diferenciação de expressão de sintoma vs. verdade, a comunalidade das respostas
percepção de processo psicológico - data). No apresentadas com estudos similares sobre
entanto, tal comportamento verbal pode estar eficiência terapêutica levantam questões
associado à percepção da vinculação dos metodológicas importantes.
pesquisadores ao saber convencional, ou a 9. Descrições qualitativas são apenas
procura de uma linguagem conhecida e indicadores de tipicalidades. Apontam para
respeitada pelos pesquisadores ou, ainda, ao ocorrências e recorrências no mundo sem
modo de acesso a este grupo seleto de nenhuma força universalizadora. Se estudos
terapeutas. Eles foram indicados por estudan- similares com terapias convencionais trazem
tes de psicologia ao serem por estes classifica- alguma verdade, alguma verdade existe nas
. dos como "alternativos sérios" o que, por conclusões apresentadas. Caso contrário, ou o
oposição, conota a existência de alternativos método é inadequado ou sabemos muito
não-sérios, que não foram mas deveriam ter pouco do processo e eficiência terapêutica. De
sido entrevistados (capta). qualquer forma, as conclusões deste estudo
6. As articulações entre teoria, sugerem, de acordo com a literatura, que o
psicopatologia, técnica e processo, nas diferencial terapêutico não está na teoria
diferentes modalidades de tratamento (data), (ideologia) mas na pessoa que está em um
foram tipificadas como especificadoras (os lugar dito terapêutico (retórica), mesmo em
tratamentos apresentam características situações que surpreendem o status quo.
próprias - capta), o que sugere a realização de Nestes termos, tomando-se as teorias estuda-
estudos específicos para cada tratamento das como integrantes de um mesmo contexto
(acta). Tais estudos devem considerar também repete-se a premissa de que diferentes
a literatura de referência destas teorias para concepções teóricas dos terapeutas não
restabelecer os alegados e subjacentes tipicalizam percepções de experiências
pressupostos ontológicos e epistemológicos terapêuticas para os pacientes.
(construção versus desconstrução). 10. Reconheça-se, todavia, que estes
7. Ressalte-se nas respostas (data) a terapeutas mostraram-se preocupados com a
supremacia explicativa dos psicólogos em regulamentação de suas práticas, com a
comparação com os terapeutas que não são legitimidade de sua formação alternativa, com
psicólogos (capta). Todavia, não podemos os limites de seu conhecimento técni-
sustentar que maior habilidade de explicação co/teórico e com a pesquisa da eficiência de
suas técnicas.
Discussão As conclusões de Seligman são
importantes para um exame crítico da metodo-
Implicações lógico-metodológicas dos logia em uso nesta pesquisa. Na avaliação de
resultados. Seligman a metodologia do estudo da "Con-
sumer Reports" vai ao encontro da prática que
A Revista "American Psychologist" (1996) trouxe ocorre de fato no mundo real das psicoterapias.
na capa de um número dedicado à avaliação de Nesse mundo, não há número de sessões
resultados de psicoterapia o seguinte comentá- previamente determinado, o tratamento é
rio de Hans H. Strupp, um dos mais importantes autocorretivo, pacientes em geral tendem a ser
pesquisadores em eficiência psicoterapêutica: ativos (iniciativa própria de buscar o tratamen-
O problema de avaliação de resultados da to) e não passivos (encaminhado por algum
psicoterapia continua incomodando a área profissional ou serviço), os problemas são
como fazia há um século atrás, quando a múltiplos e há uma preocupação clínica com a
psicoterapia moderna estava apenas começan- melhoria geral do paciente.
do. Apesar de centenas de estudos e de Os dois aspectos mais questionáveis
demonstrações frequentemente repetidas de da metodologia do presente estudo são: 1) a
que pessoas que passam por tratamentos utilização de auto-relatos e 2) referir-se a
psicoterapêuticos se beneficiam de uma forma experiências retrospectivas. Seligman argu-
ou de outra, ainda persiste um ceticismo menta então que pode haver incorreções em
generalizado, e cada estudo adicional é tratado auto-relatos sobre o que levou a pessoa ao
como se fosse o primeiro. tratamento, o tipo de terapia que ela fez ou está
Na verdade, o número especial do fazendo, dificuldades em avaliar suas melhoras
"American Psychologist" dedicado à avaliação em problemas específicos, na produtividade no
dos resultados das psicoterapias traz as trabalho e nas relações interpessoais. Contudo,
repercussões de um artigo polêmico publicado estas incorreções são aletórias e não sistemáti-
um ano antes na mesma revista. Neste artigo, cas, e estão sempre presentes nas relações
Seligman (1995) apresenta e discute um entre terapeuta e paciente. Complementa
conjunto de dados sobre eficiência psicotera- Seligman que a correlação entre diagnósticos e
pêutica obtidos através de uma pesquisa de auto-relatos é alta.
opinião do "Consumer Reports" (1995, Os principais comentários referentes
November). Os principais resultados são os às posições de Seligman (1995) que aparecem
seguintes: pacientes beneficiam-se substanci- no número especial do "American Psychologist"
almente dos tratamentos psicológicos; (1996) apontam, principalmente, para defesas
tratamentos de longa duração (entre seis a de preferências metodológicas na avaliação de
dezoito meses) apresentaram melhores resultados de psicoterapias. Há defesas
resultados que tratamentos de curta duração; ardorosas de estudos de eficácia (Hollon, 1996,
resultados de psicoterapia não diferem em e Jacobson & Christensen, 1996). Por outro lado,
eficiência de resultados de psicoterapia há um consenso entre os pesquisadores de que
combinada com medicação; nenhuma dados obtidos por auto-relatos, desde que
modalidade terapêutica mostrou-se melhor do complementados por outros tipos de estudo,
que outra em qualquer tipo de desordem; como, por exemplo, estudos de caso único
psicólogos, psiquiatras e assistentes sociais (Goldfried & Wolfe, 1996) ou um modelo tríplice
não se diferenciam em sua eficiência como constituindo-se em: 1) observação para
terapeutas. No entanto, o aspecto de particular verificação de comportamento adaptativo, 2)
interesse neste artigo é de que a pesquisa de auto-relato para comunicação de senso de bem
opinião do "Consumer Reports" mostrou-se um estar e 3) exame de estrutura de personalidade
complemento importante para os estudos (Strupp, 1996). Ressalte-se contudo que
tradicionais e bem controlados sobre eficácia Jacobson e Christensen (1996) reconheceram
terapêutica. Por pesquisa de eficácia (efficacy) que estudos de caso único e métodos de
entende-se aqueles estudos que utilizam pesquisa qualitativa "são especialmente
grupos de controle, número fixo de sessões, relevantes para os terapeutas e que nesta área
técnicas determinadas por manuais e que os terapeutas podem desempenhar um papel
selecionam sujeitos com problemas psicológi- importante no delineamento e execução de
cos muito bem definidos e minuciosamente seus estudos" (p. 1038). Estudos defendem o
diagnosticados. Por pesquisa de eficiência uso de métodos diferentes na avaliação de
(effectiveness) entende-se aqueles estudos eficiência terapêutica, considerando que se
retrospectivos que abordam as pessoas no deve estender os delineamentos das pesquisas
mundo real, onde não existem controles de resultados de psicoterapias a fim de que se
previamente determinados.
alcance com eles tópicos dos estudos de Carvalho (1995) identificaram nos tratamentos
eficiência (Walsh, 1995). Há, ainda, a proposta alternativos uma incompatibilidade lógica
de uma abordagem hermenêutica da questão entre a conjunção de caso e resultado com o
dos valores em jogo na avaliação de resultados enunciado de regras explicativas. Para os
de psicoterapias (Clarke, 1995). autores as explicações apresentadas como
Por meio do uso de métodos qualitati- justificativas da relação entre caso (sintoma e
vos de pesquisa em psicoterapia (Gomes, Reck, intervenção) e resultado terapêutico contrari-
Bianchi & Ganzo, 1993) adquire-se uma am os pressupostos aceitos pela tradição de
perspectiva que é concomitantemente mais
ciência natural ou de ciência humana em
abrangente e mais rigorosa do que a tradição
psicologia.
de ciência natural comum aos estudos da
eficácia psicoterapêutica. Trabalha-se com Os resultados do presente estudo,
auto-relatos e experiências retrospectivas, mas embora atrelados a uma lógica de ciência
o modo de abordagem é clínico. As entrevistas, humana rigorosa, mas sem negar a importân-
ao contrario dos questionários, não demarcam cia do uso da lógica da ciência natural no
contextos, mas oferecem pistas para que estudo de fenômenos psicológicos, apontam
contextos sejam construídos. O entrevistador para a necessidade da investigação empírica
acompanha a formulação das respostas das técnicas alternativas. Primeiro, reconhece
esclarecendo com o entrevistado os sentidos que influências tidas como terapêuticas estão
da mensagem. Assim, a pesquisa qualitativa, presentes em uma grande variedade de
da mesma forma que a boa psicoterapia, é relações interpessoais, artísticas, religiosas,
também autocorretiva. A atitude fenomenoló- culturais e reflexivas. Segundo, entende que é
gica da suspensão de pressupostos e a dever dos pesquisadores em psicologia
evidência semiótica das descrições levam-nos investigarem e dominarem as propriedades
a análises estruturais que detectam possíveis
psicológicas destas influências. As técnicas
incorreções. Transformações de "capta"
usadas nestes tratamentos, seja através de
(interpretações qualitativas) em dados
(interpretações quantitativas) e o reverso retórica, reagentes químicos ou exercícios
asseguram aos nossas achados (conclusões físicos devem ser cuidadosamente investiga-
empíricas) e tomados (conclusões eidéticas) a do. Deve-se focalizar o fenômeno em si e não
validação nos termos definidos por Guba as possíveis explicações destes fenômenos.
(1981): coerência geral da pesquisa resultará Terceiro, este estudo não vê nestes tratamen-
em credibilidade (validade interna); descrições tos nenhum prenúncio de pós-modernidade,
paralelas resultarão em transferibilidade pois o que parece ocorrer é a substituição de
(validade externa), uso de instrumentos dogmas convencionais por dogmas não
simultâneos resultará em estabilidade convencionais. Não há uma preocupação em
(fidedignidade); e apresentação de interpreta- manter qualquer pressuposto sempre sorre
ções baseada em diferentes perspectivas suspeita (vide, por exemplo, Gadamer, 19S9).
produzira análises confirmatórias. Quarto, espera-se que estas pesquisas
Desta forma, as interpretações ampliem a compreensão destes fenômenos e
apresentadas devem ser vistas com cautela subsidiem programas preventivos e remedia¬
mas apontam para uma avenida de possibilida- dores de intervenções psicológicas, tendo
des no estudo destes tratamentos. Novos como contexto o universo de crenças culturais.
estudos devem ser realizados comparando-se Por último, interpreta-se que a procura dos
casos clínicos de uma única abordagem e psicólogos por formação em terapias alternati-
também procurando esclarecer a contribuição vas pode estar relacionada com dificuldades
que profissionais com formação em psicologia
na clarificação de pressupostos pessoais e das
estão levando para estas práticas.
relações destes com pressupostos históricos e
científicos da psicologia.
Implicações epistemológicas dos resultados

Na revisão de literatura no início deste


texto foram apresentadas duas interpretações
radicais sobre os tratamentos alternativos.
Lembre-se que Marques (1994) reconheceu
nestes tratamentos indícios de novos
paradigmas psicológicos decorrentes da pós-
modernidade. Ao contrário, Tourinho e
Augras, M. (1983). O duplo e a metamorfose: A Jung, C. G. (1964). O homem e seus símbolos. Rio de Referências
identidade mítica em comunidades Nagô. Petrópolis: Janeiro: Nova Fronteira. bibliográficas
Vozes.
Lanigan, R.L. (1988). Phenomenology of communica-
Bergin, A. E., & Jensen, J. P. (1990). Religiosoty of tion: Merleau-Ponty's thematics in communicology and
psychtherapists: A national survey. Psychotherapy. semiology. Pittsburgh: Duquesne University Press.
Theory Res. Pract. Train. 27, 3-7.
Littlewood, R. (1990). How universal is something we
Bogart, G. (1991). The use of meditation in psychother- can call 'Therapy'? Some implications of non-western
apy: A review of literature. American Journal of healing systems for intercultural work. Holistic
Psychotherapy, 45, 383-412. Medicine. 5, 49-65.

Clarke, G. N. (1995). Improving the transition from Marques, L. F. (1994). Práticas alternativas em
basic efficacy research to effectiveness studies: psicoterapia num cenário de mudança de paradigma.
methodological issues and procedures. Journal of Dissertação de mestrado não publicada, PUCRS, Porto
Consulting and Clinical Psychology, 63, 718-725. Alegre, RS.

Csordas, T. J. (1990). The psychotherapy analogy and Omer, H., & Strenger, C. (1992). Pluralistic criteria for
charismatic healing. Psychother. Theory Res. Pract. psychotherapy: an alternative to sectarianism, anarchy,
Train. 27, 79-90. and Utopian integration. American Journal of
Psychotherapy, 46, 111-130.
Dorin, E.(1978). Dicionário de Psicologia. São Paulo:
Edições Melhoramentos. Patton, M.G. (1990). Qualitative evaluation methods.
Beverly Hills, CA: Sage.
Fadiman, J., & Frager, R. (1979). Teorias da
Pfeiffer, W. (1991). What does make a conversation
personalidade. São Paulo: Harper & Row do Brasil.
therapeutic?. Psychother. Psychosom. Med. Psychol. 41,
Goldfried, M. R., & Wolfe, B. E. (1996). Psychotherapy 93-101.
practice and research: repairing a strained alliance.
Rhee, D. (1990). The Tao, Psychoanalysis and
American Psychologist, 51, 1007-1016.
existential thought. Psychother. Psychosom. 53, 21-27.
Gadamer, H. G. (1989). Truth and method (2nd rev.
Sarai, K. (1992). Oriental medicine as therapy for
ed.). (J. Weinsheimer & D. G. Marshall, trans.). New
resistant depression: use of some herbal drugs in the
York: Corssroads. far east. Prog. Neuro. Psychopharmacol. Biol.
Psychiatry. 16, 171-180.
Gomes, W. (1997). A entrevista fenomenológica e o
estudo da experiência consciente. Psicologia USP, 8(2), Seligman, M. E. P (1995). The effectiveness of
305-336. psychotherapy: the Consumer Reports study. American
Psychologist, v. 50, 965-974.
Gomes, W. Reck, A., & Ganzo, C. (1988). A experiência
retrospectiva de estar em psicoterapia: um estudo Seligman, M. E. E (1996). Science as an ally of practice.
empírico fenomenológico. Psicologia: Teoria e Pesquisa, American Psychologist,. 51, 1072-1079.
4, 187-206.
Straker, G. (1994). Integrating african and western
Gomes, W Reck, A. Bianchi, A., & Ganzo, C. (1993). O healing practices in South Africa. American Journal of
uso de indicadores quantitativos e descritores Psychotherapy, 48, 455-467.
qualitativos na pesquisa em psicoterapia. Psicologia:
Teoria e Pesquisa, 9, 415-433. Strupp, H. H. (1996). The Tripartite Model and the
Consumer Reports study. American Psychologist, 51,
Guba, E. G. (1981). CriteriaJor assessing the 1017-1024.
trustworthiness of naturalistic inquires. ECTG, 29(2),
Tabone, M. (1992). A Psicologia Transpessoa:
75-91.
Introdução à nova visão da consciência em psicologia e
Havenaar, J. M. (1990). Psychotherapy: healing by educação. São Paulo: Cultrix.
culture. Psychother. Psychosom. 53, 8-13.
Tourinho, E. Z., & Carvalho, M. B. N. (1995). As
fronteiras entre a Psicologia e as práticas alternativas:
Hollon, S. D. (1996). The efficacy and effectiveness qf
algumas considerações. Psicologia no Brasil: Direções
psychotherapy relative to medications. American
epistemológicas. (pp. 81-110). Brasília: Conselho
Psychologist, 51, 1025-1030. Federal de Psicologia.
Ikemi, Y. (1990). Psychosomatic medicine as a core of Vontress, C. E. (1991). Traditional healing in Africa:
holistic medicine: present state andjuture qfPSM. implications for cross-cultural counseling. Journal of
Psychosom. Med., 30, 251-260. Counseling and Development, 70, 242-249.
Jacobson, N. S. & Christensen, A. (1996). Studying the
effectiveness qf psychotherapy: How well can clinical Walsh, R. A. (1995). The study of values in
trials do the job? American Psychologist, 51, 1031- Psychotherapy: a critique and call for an alternative
1039. method. Psychotherapy Research, 5(4), 313-326.
Anexo 1 PROTOCOLOS TÓPICOS DAS ENTREVISTAS

PROTOCOLO DE ENTREVISTA COM TERAPEUTA

Abertura: Estou desenvolvendo uma pesquisa com o objetivo de levantar dados sobre a experiência de
praticar terapia alternativa e a de estar em terapia alternativa. Eu tenho um roteiro de entrevista, mas o
importante é o teu depoimento. A entrevista será gravada, e o que disseres permanecerá confidencial. Tens
alguma dúvida?

1. Como foi isso, de seguir um caminho alternativo em terapia?


2. E comojoi a tua formação (onde, quanto tempo durou, formal/informal)?
3. Tu recebeste outro tipo deformação (como, onde,formal/informal)?
4. Tu ainda participas de algumaformação (cursos, workshops, intercâmbio com colegas...)?
5. Se não, gostarias de fazê-lo?
6. O que peculiariza a tua prática?
7. Quai são os recursos técnicos que tu usas no tratamento?
8. Em que sentido issofacilita o processo?
9. O que caracteriza o processo, como evolui o tratamento, de sessão a sessão?
10. Quais problemas são mais freqüentemente trazidos pelos teus pacientes?
11. Quanto tempo dura, em média, uma sessão?
12. Quem fala mais na sessão?
13. Como tu consegues teus pacientes?
14. Quantos pacientes tu vês por semana?
15. Como tu decides quando terminar o tratamento?
16. Como tu acreditas que se dá a cura por esse método?

PROTOCOLO DE ENTREVISTA COM PACIENTE

Abertura: Estou desenvolvendo uma pesquisa com o objetivo de levantar dados sobre a experiência de
praticar terapia alternativa e a de estar em terapia alternativa. Eu tanho um roteiro de entrevista, mas o
importante é o teu depoimento. A entrevista será gravada, e o que disseres permanecerá confidencial. Tens
alguma dúvida?

1. Como é isso de estar em psicoterapia?


2. O que acontece quando tu estás com teu/tua terapeuta, por exemplo, o que passa nos teus pensamentos,
sentimento...?
3. Quando termina a sessão, como tu em geral te sentes, o que passa nos teus pensamentos, sentimentos,
corpo...?
4. O que acontece na sessão quando ao final tu te sentes bem, ou ao contrário, quando tu te sentes mal?
5. Em geral, qual das duas situações é mais freqüente?
6. O que se passa contigo entre uma sessão e outra?
7. Tu pensas muito no que foi dito ou ouvido?
8. As coisas ditas e ouvidas ficam, assim, indo e vindo na tua cabeça?
9. Tu consegues notar alguma relação entre essas lembranças da terapia com os muitos pensamentos
decorrentes e alguma modificação na tua meneira de pensar, agir, sentir...?
10.0 que acontece quando se aproxima a terapia, assim, quando tu estás indo falar com o terapeuta, ou
quando tu estás na sala de espera?
11. Como tu te descreves, digamos, antes de começar a terapia?
12. Comojoi que tu decidistefazer terapia?
13. Como tu te descreves hoje?
14. (Se for o caso) Tu falaste de mudança; dá para dizer como acontecem, quando acontecem e em que
acontecem?
15. Como tu descreves o teu terapeuta, como ele/ela é contigo?
16. Como é o teu relacionamento com ele/ela?
17. Como começa a sessão, quemjala primeiro?
18. Como termina a sessão?
19. Qual relação tu vês entre as coisas de que o teu terapeuta fala e as mudanças que ocorrem contigo?
20. Como tu anteciparias o fim da terapia?
21. Como tu acreditas que serás depois da terapia; vai ser possível viver sem ela?

Vous aimerez peut-être aussi