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RESUMO
ABSTRACT
This work aims to promote a debate, based on the Marxist critique of law, on the category
of violation and its possible mobilization in the public policies analysis. We present two
situations to be studied in this perspective: the cases of the Ford Pinto model and of the
Serpos Report. In both narratives, it’s possible to analyze the relationship between the
phenomenon of violation and the implementation of public policies by the state
organization. From a brief exposition on the main elements of Marxist criticism of the law
in the work of Evguiéni Pachukanis, we debate the hypothesis that the category of
violation can contribute to increase the capacity of explanation of the public policies
analysis in its moment of implementation. The reported cases are analyzed as way of
verifying partially and provisionally this hypothesis, although exploratorily, given the
time and space limits in which the work is situated.
KEYWORDS: Law violation; Public policies analysis; Marxist critique of law; Evguiéni
Pachukanis.
INTRODUÇÃO
IPAMERI
[...] pagamos o valor total de R$ 33.692,00. Sendo que nesse valor está
incluído o valor de todas as rescisões [...], considerando que em todos
os casos, como o empregado já tinha dado sinais que iria entrar na
justiça, não fizemos o acerto rescisório na empresa, deixando para
acertar tudo na justiça do trabalho. [...] a multa de 40% do FGTS
somente foi paga na ação acima citada (nº 01 de Ipameri), tendo o
Grupo Serpos economizado a multa de 40% do FGTS em todas as
outras ações. Quanto ao aviso prévio indenizado, somente foi pago na
ação nº 1 de Ipameri e na ação nº 01 de Porangatu, em todas as outras
ações o Grupo Serpos economizou o aviso prévio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos de políticas públicas constituem-se, cada vez mais, como um campo de
pesquisa que centra a sua capacidade explicativa nas ideias: crenças, valores, visões de
mundo ou entendimentos compartilhados (CAPELLA, 2015). Nosso argumento, porém,
com base nos casos analisados, é que, sem buscar os fundamentos estruturais dos
fenômenos, a análise corre o risco de ser insuficiente ou mesmo falsa.
A implementação das políticas públicas é um momento condicionado pela
estrutura da forma jurídica, seja em sua forma essencial, seja em sua forma aparente nos
momentos legal e judicial. A violabilidade que caracteriza o direito, neste contexto, pode
ser observada em seu movimento real, o qual não se reduz – conforme notamos na análise
dos casos do modelo Ford Pinto e do Relatório Serpos – à circulação de ideias e
argumentos. Ao revés, as formas sociais são o resultado de processos históricos
complexos e desenvolvem-se na dinâmica material das relações sociais.
O que produz políticas públicas, ou seja, o que condiciona as ações da organização
estatal é exatamente o conjunto de relações sociais em movimento, estando estas
condicionadas a formas sedimentadas historicamente. Nesta perspectiva, a compreensão
da violabilidade como característica do direito apresenta um grande potencial de elevar a
capacidade explicativa do momento de implementação das políticas públicas.
Isso porque, na perspectiva da crítica marxista, torna-se possível desmistificar a
normatividade das relações jurídicas, das leis e das decisões judiciais. Torna-se possível
perceber que as normas condicionadas pela forma jurídica, pela qual geralmente se
regulamenta uma política pública, não devem ser cumpridas, mas meramente
materializam um índice de equivalência e, portanto, conformam uma lógica de
violabilidade e elegibilidade. Percebê-lo pode ser um ponto de partida para, por exemplo,
iniciar o diagnóstico da baixa efetividade de determinada política pública.
Por outro lado, pelas limitações de espaço, apenas pudemos tratar aqui da teoria
marxista-pachukaniana, bem como da exposição da análise dos casos do modelo Ford
Pinto e do Relatório Serpos, de forma bastante resumida e sintética. Com isso, tratando-se
este estudo de uma pesquisa exploratória e preliminar, por ora apenas podemos apresentar
estes resultados provisórios como proposta de abertura do debate e convite para críticas,
aprofundamentos, testes e confrontos com a realidade.
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ago./1999.
1
Elaborado a partir da tradução do documento original, reproduzido na reportagem citada (DOWIE,
1977).
2
Cabe observar que, apesar de ser inédito o emprego da expressão “Relatório Serpos”, Uchimura
(2016a) realizou breve estudo exploratório sobre o caso em O uso eficiente da Justiça do Trabalho no
planejamento empresarial: um estudo de caso, trabalho mencionado como literatura de apoio em
outros artigos do autor (UCHIMURA, 2016b; UCHIMURA e COUTINHO, 2018). O enfoque e o
nível de detalhamento da análise, por outro lado, não foram abordados nos trabalhos citados tal como
propostos aqui.
3
Informações obtidas na página eletrônica do Grupo Serpos (http://serpos.com.br/).
4
Documento registrado na Junta Comercial do Estado de Goiás sob o nº 52110856252.
5
No caso da pesquisa de Adalberto Moreira Cardoso (2003), trata-se de rara pesquisa empírica de
fôlego no campo desta temática, na qual o sociólogo confrontou como indicadores a queda na
proporção de assalariados com carteira assinada e o aumento do número de demandas na Justiça do
Trabalho na década de 1990.
6
O relatório pode ser consultado na íntegra no endereço eletrônico
https://pje.trt18.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=1303221052571
0700000000246924. Acesso em: 30 mar. 2018.
7
O processo teve trâmite perante a Terceira Vara do Trabalho de Anápolis/GO, órgão jurisdicional
pertencente ao Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região. A petição inicial da Ação Civil Pública,
da qual foram transcritos os trechos acima, pode ser acessada no endereço eletrônico:
https://pje.trt18.jus.br/primeirograu/Processo/ConsultaDocumento/listView
.seam?nd=13092717021240000000001405869. Acesso em: 31 mar. 2018.
8
O acordo pode ser acessado no endereço eletrônico: https://pje.trt18.jus.br/primeirograu/Processo/
ConsultaDocumento/listView.seam?nd=16030413564729100000010807911. Acesso em: 31 mar.
2018.
9
As verbas rescisórias são previstas esparsamente em dispositivos da CLT e orientações
jurisprudenciais do Tribunal Superior do Trabalho. O valor da indenização compensatória é fixado em
quarenta por cento do montante de todos os depósitos realizados pelo empregador durante a vigência
do contrato de trabalho na conta de FGTS – Fundo de Garantia do Tempo de Serviço do empregado
(Ato de Disposições Constitucionais Transitórias, art. 10, I; Lei nº 8.036/1990, art. 18, § 1º).
10
Neste sentido, sobre a possível intersecção da crítica marxista com a vertente da sociologia
organizacional proposta por Diane Vaughan, conferir Uchimura e Coutinho (2018).
11
“A organização social detentora dos meios de coerção é a totalidade concreta à qual devemos
caminhar após compreendida previamente a relação jurídica em sua forma mais pura e simples”
(PACHUKANIS, 2017, p. 109)