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O livro objetiva tirar o foco das instituições para os homens: os intelectuais, das ideias
para as estruturas sociais, práticas e mentalidades.
“A divisão do trabalho, a cidade, instituições novas, um espaço cultural comum a toda a
cristandade e não mais representado pela repartição geográfica e política da Alta Idade
Média, eis os traços essenciais da nova paisagem intelectual da cristandade ocidental na
virada do século XII para o século XIII. ” (p.8)
O intelectual medieval está ligado diretamente à cidade. Revolução escolar ligada à
revolução urbana – X ao XIII.
Escola monástica (monges) e escolas urbanas (aberta a todos os estudantes leigos).
Atração das escolas urbanas sobre o meio monástico > as ordens mendicantes
(franciscanos) se integram a elas e algumas ordens monásticas (Cister) fundam colégios
nas cidades universitárias, se rendendo ao ensino universitário.
Os intelectuais são homens de ofício, exercem seu trabalho em troca de remuneração.
Caráter revolucionário do currículo universitário – questão da ascensão social permitida
pelo sistema universitário (antes apenas por nascimento, riqueza e funções na Igreja).
A promoção social se dá através de um processo novo: o exame.
Os intelectuais como servidores da Igreja e do Estado.
Citação 10
As universidades são espaços onde os intelectuais, embora como servidores da Igreja e
do Estado, tem certa liberdade de pensamento e crítica, o que as vezes acaba em heresia.
XIII ao XIV: quatro intelectuais “críticos” são destacados: Abelardo, Tomás de Aquino,
Siger de Brabante e Wyclif.
Georges Dumezil – sistema trifuncional de poderes: clerical, monárquico e
universitário.
A questão de o intelectual brigar pela sua valorização social, assegurar influência
política e distinção frente ao trabalho manual.
“A compilação, hoje desvalorizada, foi, na Idade Média, um exercício fundamental da
atividade intelectual e não apenas da difusão, mas também da criação das ideias. “ (p.
12)
Conflitos ideológicos da Universidade de Paris no séc. XIII – aspectos importantes da
“mentalidade universitária”: tendência para raciocinar, espírito corporativo,
anticlericalismo (dirigido contra as ordens mendicantes), contestação.
[ver] ordens mendicantes citadas nas obras de Rutebeuf e Jean de Meung.
A questão da cultura no desenvolvimento das cidades medievais, ao lado da política,
economia, etc.
A estagnação da escolástica clássica e da teologia e o controle eclesiástico que
paralisava pela censura numerosas faculdades não ocorreu em toda parte [melhorar essa
parte].
Clérigo: a palavra do francês tem sentido de, além de membro do clero, erudito, de
sábio.
Os clérigos são os intelectuais medievais, diferente dos monges e dos sacerdotes, esses
intelectuais são mestres de escolas: ensinam o ofício de pensar.
O intelectual nasce com a cidade, com o desenvolvimento comercial e industrial ele
aparece como um homem de ofício.
Antes os clérigos podiam assumir a figura de professores, eruditos, apenas como um
aspecto secundário. Pelas classes sociais estabelecidas por Adalberon de Laon só há 3
(oratore, laboratore, belatore), as outras funções eram sempre secundárias.
“Um homem cujo ofício é escrever ou ensinar, e de preferência as duas coisas a um só
tempo, um homem que, profissionalmente, tem uma atividade de professor e de erudito,
em resumo, um intelectual – esse homem só aparecerá com as cidades.” (p.30)
O intelectual surge de verdade no século XII.
As cidades renascem incentivadas, em grande parte, pela demanda muçulmana, se
desenvolvem autônomas ou ligadas as pequenas cidades episcopais ou aos burgos
militares ainda no séc. X, atingindo amplitude no XII, modificando as estruturas
políticas, sociais, econômicas e culturais.
Para Le Goff não houve renascimento carolíngio (fim do VIII-início do IX), pois a
educação foi apenas voltada para uma pequena elite. Cultura fechada e economia
fechada: (citação o renascimento carolíngio). No entanto ele contribui com o
renascimento do XII (onde sua cultura entesourada será reposta e circulação).
Goliardos: grupo de intelectuais – Le Goff diz que para eles Paris é o paraíso na terra, a
rosa do mundo, o bálsamo do universo. (p.47)
É difícil definir quem são eles, a maioria escreve no anonimato. Sobre eles existem
muitas lendas criadas por eles próprios e por aqueles que os criticavam.
Foram condenados em sínodos e concílios.
Le Goff diz que muitos historiadores modernos trataram deles como figuras caricatas,
exagerando ou na característica de boêmios, vagabundos errantes, revolucionários ou
como perigosos e desafiadores da ordem pública.
Origem do nome: derivado de Golias (para Le Goff esta etimóloga é fantasiosa), ou de
gula.
As fontes mais comuns para estudar os goliardos são seus poemas anônimos (Carmina
Burana) ou os textos de seus contemporâneos que a eles se referem.
Meio de crítica à sociedade estabelecida.
Contexto de desenvolvimento urbano, comercial, etc.
São errantes, mas também intelectuais: origem urbana ou camponesa.
São fruto desse contexto do XII.
Fogem às estruturas medievais que atribuem a cada indivíduo seu lugar, são alguns
estudantes pobres que muitas vezes vivem de mendicância, outros vivem como jograis,
na corte de príncipes ou às custas de algum prelado. (Fazer ligação com Verger quando
fala da crise do XII-falta de moradia na cidade, desafios à ordem pública, etc.)
Não se constituem uma classe, têm origem e ambições diversas.
Le Goff parece concordar com Verger que os goliardos criticam a sociedade, mas não
querem muda-la e sim viver às suas custas. “O sonho deles é um mecenas generoso,
uma gorda prebenda, vida folgada e feliz. Querem antes, parece, tornar-se os novos
beneficiários de uma ordem social do que mudá-la. ” (p.50)
Os temas de suas poesias criticam firmemente a sociedade da época, o jogo, o vinho e o
amor estão no centro de suas canções.
Críticas voltadas para o eclesiástico, o nobre e o camponês. Na Igreja se voltam para os
que estão mais ligados à estruturada sociedade (social/política/ideológica), ou seja,
papas, bispos monges (chefes de uma ordem social hierárquica).
Inspiração antipontifícia ligada a corrente dos gibelinos (na origem tratava-se de uma
disputa entre os partidários do papado, os guelfos, e os partidários do Sacro Império
Romano-Germânico, os gibelinos, após a morte do imperador do SIRG sem deixar
herdeiros no XII).
As sátiras goliárdicas apresentam os eclesiásticos como animais: o papa como leão
devorador, o bispo bezerro, etc.
Fortes acusações contra os monges: como concorrentes dos párocos, estes últimos
considerados vítimas da hierarquia em miséria e exploração. Crítica ao estilo de vida
afastado do século, em ascetismo e solidão (oposta à vida do goliardo).
O goliardo como precursor do humanista do renascimento.
Por ser homem da cidade o goliardo também satiriza o camponês e despreza o mundo
rural.
Na crítica aos nobres, o militar tem destaque especial: “Para o intelectual urbano, as
batalhas do espírito, as justas da dialética substituíram pela dignidade as proezas
militares e as façanhas guerreiras. ” (p.57)
Abelardo é um dos maiores poetas goliardos.
Os goliardo foram empurrados para as margens do movimento intelectual. (p.58)
Liberdade de espírito, dos costumes e da linguagem.
Desaparecem com o século XIII atingidos pelas perseguições e condenações.