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K. D.

Machado

Sumário

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

1 Conceitos Iniciais 3
1.1 Vetores e o Sistema de Coordenadas
Retangulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Produto Escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.3 Produto Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
1.4 Outros Produtos Envolvendo Vetores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.5 Aplicações dos Conceitos Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.5.1 Diagonais de um Paralelogramo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.5.2 Medianas de um Triângulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.5.3 Lei dos Cossenos e Lei dos Senos para Triângulos Planos . . . . . . . . . . . . . . 44
1.5.4 Fórmula de Heron . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
1.5.5 Equação Vetorial da Reta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
1.5.6 Equação Vetorial do Plano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
1.5.7 Equação Geral da Esfera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
1.5.8 Desigualdades Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
1.5.9 Dependência e Independência Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
1.5.10 Bases Recı́procas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
1.5.11 Formas Usuais Para Alguns Tipos de Forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
I Força Gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
II Força Elétrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
III Força Magnética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
IV Força Elástica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
1.5.12 Estática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
1.5.13 Leis de Conservação de Momento Linear e Angular . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
1.6 Ferramentas Computacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
1.7 Outros Sistemas de Coordenadas Úteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
1.7.1 Sistema de Coordenadas Polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
1.7.2 Sistema de Coordenadas Cilı́ndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
1.7.3 Sistema de Coordenadas Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
1.8 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
2
Análise Vetorial

K. D. Machado
Apenas uso pessoal

SUMÁRIO
K. D. Machado

Capı́tulo 1

Apenas uso pessoal


Conceitos Iniciais
Análise Vetorial

Neste capı́tulo estabeleceremos os conceitos iniciais necessários ao estudo do Cálculo Vetorial, nota-
damente a idéia de vetor, e introduzimos alguns sistemas de coordenadas de grande aplicação em Fı́sica.

1.1 Vetores e o Sistema de Coordenadas


Retangulares
Considere as seguintes situações:

a) Você mede a largura da sua rua, e tem como resultado ℓ = 25 m.

b) Alguém pergunta para você onde fica o mercado. Você responde atenciosamente que, para chegar ao
mercado, a pessoa deve andar 15 m de onde está, em linha reta até a esquina mais próxima, dobrar à
esquerda na esquina, fazendo um ângulo de 90◦ com a direção inicial e caminhar mais 10 m em linha
reta.

As duas situações acima envolvem grandezas fı́sicas que são medidas na mesma unidade (em metros,
no SI), tendo portanto a mesma representação dimensional. No entanto, há algo que as diferencia. Se você
disser apenas que a pessoa deve andar 25 m, ela recebe uma informação incompleta, e não tem como chegar
ao mercado, pois surgem, imediatamente, algumas perguntas: 25 m em que direção e sentido? Numa única
direção e sentido ou os 25 m devem ser “parcelados”em mais de uma direção? Já se você falar para ela que a
rua tem 25 m de largura, a informação é completa, e ela entende perfeitamente o que você quer dizer. Então,
para algumas grandezas, informar apenas o valor numérico e a unidade de medida não basta para especificar
completamente a situação fı́sica. É preciso especificar também a orientação que a grandeza tem em relação
a algum ponto de referência, ou origem. No caso do mercado, você se orienta com relação ao lugar em que
você está, que faz o papel de origem. Tomando por base esse exemplo, vejamos como podemos tornar nossas
indicações de direção e sentido mais gerais e formais.
Para tentar resolver o nosso problema de como definir uma orientação, a primeira idéia que surge é
considerar uma reta, com algum ponto marcado para ser a origem, como na figura 1.1 abaixo.

A reta acima define uma direção x, orientada de forma que os valores de x crescem para a direita. Os
valores à direita da origem são positivos, enquanto que à esquerda eles são negativos. A origem corresponde
ao valor nulo de x. Esta reta pode representar a nossa rua, e os números estão associados às casas da rua.
Assim, considerando que a nossa casa está situada na origem, em x = 0, se alguém perguntar onde fica a
casa de João, diremos que fica em x = 10. Maria mora em x = −30, e as esquinas ficam em x = −35 e
4 1. CONCEITOS INICIAIS

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Figura 1.1: Uma reta orientada com uma origem, para um
sistema de orientação unidimensional.

x = 15 1 . Isto resolve o nosso problema de orientação, desde que nós só andemos pela nossa rua. Este é,

Apenas uso pessoal


basicamente, um problema em uma dimensão. No entanto, para ir ao mercado nossa reta é insuficiente. Uma
idéia para resolver este problema é colocar uma outra reta, perpendicular à primeira, como na figura 1.2.
Análise Vetorial

Figura 1.2: Duas retas orientadas com uma origem, para um


sistema de orientação em um plano.

Agora temos duas direções possı́veis, x e y. Observe que os valores de y crescem para cima, e são
positivos acima da origem, e negativos abaixo dela. Para ir ao mercado, dizemos para a pessoa: vá até
x = 15, e, depois, até y = 10. No nosso sistema de eixos formado pelas duas retas orientadas, os lugares
importantes são representados por pontos, na forma P(x, y). O mercado corresponde a P(15,10), e a nossa
casa, a P(0,0). A reta x é chamada eixo das abcissas, enquanto a reta y é o eixo das ordenadas. Os valores
de x e y para um certo ponto P são as coordenadas de P. Para o mercado, suas coordenadas são x = 15 e
y = 10. Temos agora um problema em duas dimensões e, em princı́pio, nosso problema de orientação está
resolvido, se considerarmos esses dois eixos.
O sistema de eixos apresentado na figura 1.2 chama-se sistema de coordenadas cartesianas ortogonais,
pois é um sistema de coordenadas baseado em retas ortogonais entre si, ou seja, há um ângulo de 90◦ entre
elas, e o primeiro a propor um sistema deste tipo foi o filósofo René Descartes. Esse sistema não se restringe
a duas dimensões. Para nossas necessidades usuais, precisamos incluir um eixo que represente uma terceira
dimensão. O mercado, por exemplo, poderia ter dois andares e, considerando que a seção de laticı́neos fica
no segundo andar, terı́amos que informar esse fato à pessoa, para darmos a indicação completa da direção
a seguir. Para fazer isso, acrescentamos mais um eixo, em geral representado por z, que deve ser ortogonal
aos dois anteriores, como mostra a figura 1.3. Este eixo é chamado cota, e então estamos agora no espaço
fı́sico tridimensional, que é aquele em que a maioria dos fenômenos fı́sicos ocorre.

Note que não necessariamente os eixos do sistema de coordenadas têm que ser ortogonais. Quando são, algumas operações

tornam-se mais simples, conforme veremos mais tarde, mas cada problema fı́sico tem suas caracterı́sticas especı́ficas e a idéia é sempre

adaptar o sistema de coordenadas ao problema, e não o contrário. Outra questão refere-se à dimensionalidade do espaço. Podemos

definir sistemas de coordenadas em espaços de N dimensões, ou seja, não estamos limitados a N = 3, e um exemplo simples diz respeito

à Relatividade, em que temos N = 4 (três dimensões espaciais e uma temporal). Entretanto, obviamente não podemos representar

graficamente esse sistema de coordenadas.

1 Note que não necessariamente nossa casa está exatamente a meio caminho entre as duas esquinas.
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 5

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Apenas uso pessoal


Análise Vetorial
Figura 1.3: Sistema de coordenadas cartesianas
ortogonais no espaço tridimendional.

O sistema de coordenadas cartesianas ortogonais também é conhecido por sistema de coordenadas


retangulares. Ele é um dos mais importantes sistemas de coordenadas utilizado em Fı́sica. Inicialmente,
vamos concentrar nossa atenção nele, mas outros sistemas existem, e oportunamente introduziremos tais
sistemas durante o texto.
Voltando ao nosso problema anterior, podemos representar diagramaticamente o caminho que a pessoa
deve fazer até o mercado da seguinte forma:

Figura 1.4: Representação do caminho percorrido pela pessoa até o mercado.

Os segmentos de reta orientados que aparecem na figura 1.4 são chamados vetores, e são uma cons-
trução matemática muito importante. A definição de vetor é a seguinte:

Definição 1.1. Um vetor é um segmento de reta orientado por uma flecha, que possui um tamanho e uma
orientação espacial. Representamos um vetor por uma letra com uma flecha em cima, como em ~a, ou B, ~ por
exemplo. Em certos casos, também podem ser usadas letras em negrito, como a ou B. Além disso, os vetores
têm algumas propriedades bastante interessantes. O tamanho ou módulo do segmento está relacionado ao
valor numérico da grandeza que ele representa. Na figura 1.4, o vetor horizontal, que vamos chamar de A, ~
~
é 1,5 vezes maior que o vetor vertical, que é o B, para representar que a pessoa anda na direção x uma
distância 1,5 vezes maior do que a que ela anda na direção y. A orientação deles é tal que a pessoa vai da
origem até x = 15 (com y = 0) e, depois, vai de (x = 15, y = 0) até o ponto P, em (x = 15, y = 10).
Esta orientação é dada pela direção e sentido dos vetores. A direção é especificada pela reta-suporte que
define o segmento de reta que representa o vetor. Isto permite dois sentidos possı́veis para o vetor. O sentido
desejado é obtido através da colocação da flecha na ponta do vetor, que indica o sentido correto para a
grandeza em questão. Assim, para o vetor A, ~ a direção é a direção x, e o sentido é para a direita. Já para o
~ a direção é a direção y, e o sentido é para cima. Além disso, considerando um dado vetor V
vetor B, ~ , que
tem um certo tamanho, uma certa direção e um certo sentido, todos os segmentos de reta paralelos à V ~,
6 1. CONCEITOS INICIAIS

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de mesmo tamanho e orientados no mesmo sentido que V ~ , são completamente equivalentes ao vetor V
~ . Em
outras palavras, os vetores podem ser transportados pelo espaço para a posição que for mais conveniente,
desde que suas caracterı́sticas (módulo, direção e sentido) se mantenham intactas.

Outra propriedade dos vetores é que a ordem deles numa soma pode ser invertida sem problemas, e o
resultado final da soma é o mesmo. Por exemplo, o caminho até o mercado também poderia ser representado
pela figura 1.5 2

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.5: Outra representação do caminho


percorrido pela pessoa até o mercado.

Assim, a soma de vetores é uma operação comutativa (como é também a soma de números), ou seja,
~+B
A ~ =B ~ + A.
~

Como se representa a soma de dois vetores? É simples: por um outro vetor, chamado de vetor-soma
ou vetor resultante, ou simplesmente resultante. O vetor resultante é obtido tomando a origem do primeiro,
~ é dado
e traçando um segmento de reta até a extremidade do segundo. Assim, no nosso caso, o vetor-soma C
~ ~ ~ ~ ~
por C = A + B = B + A, como mostra a figura 1.6.

~ eB
Figura 1.6: Representação da soma dos vetores A ~ pelo método do polı́gono.

Este modo de efetivar a soma de vetores é chamada método do polı́gono. Este método é um método
geométrico, pois envolve apenas Geometria. Observe que ele não permite que o módulo do vetor resultante
seja conhecido, a menos que o gráfico seja feito em escala em papel milimetrado, por exemplo, e depois,
utilizando uma régua, verificamos o tamanho do vetor. Além do método geométrico do polı́gono definido
acima, existe o método do paralelogramo, que também é baseado em Geometria. Neste método, para encontrar
a soma de dois vetores, primeiro as origens de ambos devem coincidir. Isso pode ser feito “transportando”
os vetores, mas mantendo a direção, o sentido e o módulo (tamanho) intactos. Depois, construimos um
paralelogramo, cujos lados são os vetores, como na figura 1.7. A diagonal maior deste paralelogramo é o
vetor-soma, cujo inı́cio está na origem dos vetores que estão sendo somados.

Para conhecermos o valor numérico do tamanho do vetor podemos usar um método analı́tico. O
~ é representado por |A|,
tamanho, ou módulo, do vetor A, ~ por |A| ou simplesmente por A, sem a flecha.

2 Abstraindo a presença de possı́veis casas, obviamente.


1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 7

K. D. Machado

~ eB
Figura 1.7: Soma dos vetores A ~ pelo método do paralelogramo.

Apenas uso pessoal


Note que o módulo de um vetor é sempre não-negativo, por definição. Para o caso da figura 1.6, os vetores
Análise Vetorial
~ e B)
formam um triângulo retângulo, sendo que os catetos (A ~ são os vetores que estão sendo somados, e a
~ é o vetor resultante. Assim, do Teorema de Pitágoras, temos que
hipotenusa C

~ 2 = |A|
|C| ~ 2 + |B|
~ 2

ou seja,

q
~ =
|C| ~ 2 + |B|
|A| ~ 2
p
~ = 152 + 102
|C|

= 225 + 100
√ √
~ = 325 = 5 13 m
|C|

Quando os vetores formam um triângulo que não é retângulo, não é possı́vel usar o Teorema de
Pitágoras para encontrar o módulo do vetor. Neste caso, usamos a lei dos cossenos, que é

a2 = b2 + c2 − 2bc cos θ (1.1)

onde ~a = ~b + ~c, a = |~a|, b = |~b| e c = |~c |, θ é o ângulo entre os vetores quando estão dispostos como mostra
a figura 1.8, lembrando que 0 6 θ 6 π.

Figura 1.8: Definição dos termos para a lei dos cossenos.

Observe que, na lei dos cossenos, estamos utilizando o primeiro método geométrico que foi definido,
o método do polı́gono, que é aquele em que colocamos o inı́cio do segundo vetor na ponta do primeiro. Se
utilizarmos o método do paralelogramo, o ângulo torna-se outro, como vemos na figura 1.9.

Nesta figura, vemos que o ângulo entre os vetores, quando eles são colocados na mesma origem, é
α. Se eles fossem colocados um na ponta do outro, o ângulo seria o ângulo θ da lei dos cossenos 1.1 vista
anteriormente. Entretanto, estes ângulos não são independentes um do outro, já que, da figura, é fácil
perceber que θ + α = π, ou θ = π − α. Colocando este ângulo na expressão 1.1, obtemos, para o módulo do
vetor ~a resultante da figura,
8 1. CONCEITOS INICIAIS

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Figura 1.9: Definição do ângulo entre os vetores na

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soma pelo método do paralelogramo.
Análise Vetorial

a2 = b2 + c2 − 2bc cos θ
= b2 + c2 − 2bc cos(π − α)
−1 0
2 2 z }| { z }| {
= b + c − 2bc(cos π cos α + sen π sen α)
a2 = b2 + c2 + 2bc cos α (1.2)
Quando o método do paralelogramo é utilizado, o sinal do termo que envolve o cosseno do ângulo é positivo,
enquanto que na lei dos cossenos dada pela equação 1.1, ele é negativo. A expressão 1.2 é derivada da lei dos
cossenos, mas ela não é esta lei. Aqui também temos 0 6 α 6 π.

Exemplo 1.1. Na figura 1.10, os vetores ~a e ~b fazem um ângulo α entre si. Qual o módulo do vetor
resultante ~c, para as condições dadas abaixo?

Figura 1.10: Vetores ~a e ~b para o exemplo 1.1.

π
a) a = 3, b = 4, α = 2 rad (ou 90◦ ).
Neste caso, a lei dos cossenos modificada 1.2 torna-se

π
c2 = a2 + b2 + 2ab cos
2
c2 = a2 + b 2
que é o teorema de Pitágoras. Assim, o teorema de Pitágoras é um caso particular da lei dos cossenos mo-
dificada 1.2, que ocorre quando o ângulo α entre os vetores que estão sendo somados, quando utilizamos o
método do paralelogramos, é igual a π2 radianos. O valor numérico do módulo de ~c é

c2 = a2 + b 2
c2 = 3 2 + 4 2
c2 = 25
c=5
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 9

b) a = 6, b = 1, α = 0.
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Quando α = 0, a lei dos cossenos 1.2 fica

c2 = a2 + b2 + 2ab cos 0
= a2 + b2 + 2ab
c2 = (a + b)2

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c=a+b
Análise Vetorial
e assim, quando α = 0, os vetores são paralelos, e têm o mesmo sentido, e o vetor resultante possui o maior
módulo possı́vel, dado pela soma escalar simples dos módulos dos vetores. No nosso caso, este valor é

c=a+b
c=7

c) a = 2, b = 8, α = π rad.
Se o ângulo α vale π radianos, então os vetores têm a mesma direção, mas têm sentidos contrários, e
são chamados anti-paralelos. Neste caso, a lei dos cossenos 1.2 torna-se

c2 = a2 + b2 + 2ab cos π
= a2 + b2 − 2ab
c2 = (a − b)2

A expressão acima pode ser simplificada, mas devemos lembrar que o módulo de um vetor é sempre não-
negativo por definição. Assim, temos que utilizar o módulo dos números, ou seja,

c = |a − b|

de forma que
(
a − b, a > b
c=
b − a, b > a

Assim, como a = 2 e b = 8, temos

c = |a − b|
= |2 − 8|
c=6

O vetor ~c tem módulo 6, e seu sentido é o mesmo que o do vetor ~b, já que este tem módulo maior do que o
vetor ~a.

d) a = b = 5, α = 3 rad.
Neste caso, os dois vetores têm mesmo módulo, e a lei dos cossenos 1.2 fornece
10 1. CONCEITOS INICIAIS

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c2 = a2 + a2 + 2a.a cos
3
1
= 2a2 − 2a2
2
= 2a2 − a2
c2 = a2

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c=a

ou seja, o módulo do vetor ~c resultante é igual ao módulo dos vetores que estão sendo somados. Isto ocorre
Análise Vetorial
apenas para o caso de vetores de módulos iguais, com um ângulo de 2π 3 radianos entre si.

Quando existem mais de dois vetores, a soma pelo método geométrico do polı́gono é idêntica, como
na figura 1.11.

~ =A
Figura 1.11: Representação de D ~+B
~ + C.
~

Exemplo 1.2. Considere três vetores ~a, ~b e ~c. Dadas as seguintes condições, responda:
a) a = b = 4, c = 3. Qual é o vetor resultante de maior módulo, e como ele ocorre?
A resultante de maior módulo ocorre quando os vetores são todos paralelos e orientados no mesmo
sentido, de modo que a soma deles torna-se uma soma escalar, e assim, o vetor resultante d~ tem módulo

d=a+b+c
=4+4+3
d = 11

b) a = b = 6, c = 2. Qual é o vetor resultante de menor módulo, e como ele ocorre?


Este problema é um pouco mais sutil. Como temos três vetores, podemos fazer várias combinações
entre eles, de modo a obter diversos vetores resultantes. Entretanto, como queremos obter o vetor de menor
módulo, podemos tentar combinar os vetores de modo a formar um polı́gono fechado. Se isso for possı́vel,
o vetor resultante será o vetor nulo, de módulo zero, que é o menor módulo possı́vel para um vetor. No
presente caso, temos dois vetores de módulos iguais, de modo que os três vetores podem formar um triângulo
isósceles, como mostra a figura 1.12.

Para que o triângulo seja formado, o ângulo α deve ser tal que ocorra
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 11

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Figura 1.12: Triângulo isósceles formado por três vetores ~a, ~b e ~c.
Análise Vetorial

c2 = a2 + b2 − 2ab cos α
sendo que, agora, devemos utilizar a lei dos cossenos 1.1, já que o método do polı́gono foi empregado. Assim,
temos

c2 = a2 + a2 − 2a2 cos α
2a2 cos α = 2a2 − c2
2a2 − c2
cos α =
2a2
2a2 − c2
α = arccos
2a2
ou, utilizando os valores numéricos,
2,36 − 4
α = arccos ≃ 0,335 rad
2,36


Continuando com nosso estudo das propriedades de vetores, partimos agora para a multiplicação de
um vetor por um número. O resultado dessa multiplicação é um outro vetor, cujo tamanho é o tamanho do
~ = kA
vetor inicial, multiplicado pelo número real 3 . Assim, o vetor B ~ pode ser maior do que A,
~ se |k| > 1;
~ se k = 1; e menor do que A,
igual a A, ~ se |k| < 1. Quando k < 0, a multiplicação resulta num vetor que
aponta no sentido contrário ao do vetor inicial. Quando k = 0, o resultado é um vetor nulo. A figura 1.13
ilustra os casos discutidos.
~ e A,
Quando efetuamos uma subtração de dois vetores B ~ isto é, B
~ − A,
~ na verdade o que ocorre é
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~
uma soma do vetor B com o vetor C = −1A = −A, ou seja, B + C, onde C = −A. ~ Simplesmente invertemos
o sentido do vetor (ou vetores, se houver mais de um) que é precedido pelo sinal negativo, e fazemos uma
soma por qualquer um dos métodos já discutidos.
A propriedade de multiplicação por um número faz com que seja possı́vel definir algo semelhante
a uma unidade para vetores. Podemos considerar um dado vetor padrão e os outros vetores que fossem
paralelos a esse vetor padrão poderiam ser escritos como múltiplos desse vetor especial. Para facilitar,
podemos escolher este vetor padrão como tendo módulo unitário, sendo, portanto, um vetor unitário. Tais
~ que define uma certa
vetores são chamados versores, e sua representação é a seguinte: dado um vetor A,

3 É possı́vel definir a multiplicação de um vetor por um número complexo, o resultado é um vetor com partes real e imaginária,

dadas pela multiplicação das partes real e imaginária do número pelo vetor.
12 1. CONCEITOS INICIAIS

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Figura 1.13: Multiplicação de um número por um vetor.
~ = 1 A,
B ~ C~ = 2A,
~ D~ = 1A
~eE
~ = −1A.
~
2
Análise Vetorial

direção e sentido no espaço, o versor correspondente é simbolizado por Â. Para a figura 1.13, considerando
que |A|~ = 1, podemos escrever A ~ = Â, B ~ = 2Â, D
~ = 1 Â, C ~ = Â e E
~ = −Â. Matematicamente, um dado
2
versor é obtido do vetor correspondente através de

~
A
 = (1.3)
A
~

Vamos relembrar agora a figura 1.6. Nesta figura, temos duas direções bem definidas, x e y. Por uma
convenção amplamente adotada em Fı́sica e Matemática, o versor da direção x é representado por ı̂, enquanto
que o versor da direção y é representado por ĵ. Em três dimensões, além dos dois já citados, é preciso mais
um versor, de modo que o versor da direção z é representado por k̂. O conjunto destes versores forma uma
base para o espaço tridimensional, e esta base é representada por R3 = {ı̂, ĵ, k̂}. A figura 1.14 apresenta os
três versores. Observe que eles possuem módulo 1, e são mutuamente ortogonais. Quando isso ocorre, a base
é chamada de ortonormal.

Figura 1.14: Os versores ı̂, ĵ e k̂ para o sistema de coordenadas retangulares.

~ = 15ı̂ e B
Assim, na figura 1.6, temos A ~ = 10 ĵ, e o vetor resultante é C
~ =A
~+B
~ = 15ı̂ + 10 ĵ.

Quando os vetores são escritos na forma V~ = Vx ı̂+Vy ĵ+Vz k̂, operações envolvendo vetores tornam-se
bastante simples de serem efetuadas. A sua soma consiste em somar algebricamente as componentes em ı̂, ĵ
e k̂, como se fossem números. Por exemplo, se tivermos os vetores ~a = ax ı̂ + ay ĵ + az k̂ e ~b = bx ı̂ + by ĵ + bz k̂,
o vetor-soma ~c é
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 13

K. D. Machado
~c = ~a + ~b
~c = ax ı̂ + ay ĵ + az k̂ + bx ı̂ + by ĵ + bz k̂
cx cy cz
z }| { z }| { z }| {
~c = (ax + bx ) ı̂ + (ay + by ) ĵ + (az + bz ) k̂ (1.4)
~c = cx ı̂ + cy ĵ + cz k̂

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Note que o esquema mostrado vale para a soma de qualquer número de vetores, não apenas para o caso de
dois.
Análise Vetorial
Além de simplificar a soma dos vetores, a decomposição nos sistemas de eixos também facilita o cálculo
do módulo do vetor. Vamos considerar o vetor C ~ da figura 1.6, que vale, nesta base, C ~ = 15ı̂ + 10 ĵ. Este
vetor é formado pela soma dos vetores A ~ = 15ı̂ e B~ = 10 ĵ, que são os catetos de um triângulo retângulo.
Em geral, este vetor bidimensional pode ser escrito como sendo C ~ = Cx ı̂ + Cy ĵ, onde Cx é a componente do
vetor na direção x e Cy é a componente do vetor na direção y, e, no nosso caso, Cx = 15 e Cy = 10. Estas
componentes formam um triângulo retângulo tendo o vetor resultante como hipotenusa, e assim, o módulo
do vetor é obtido através do teorema de Pitágoras, ou seja,

C 2 = Cx2 + Cy2
ou
q
C= Cx2 + Cy2
~ = 15ı̂ + 10 ĵ, resulta em
que, para o caso do vetor C
√ √
C = 225 + 100 = 5 13
Se tivermos dois vetores ~a = ax ı̂ + ay ĵ e ~b = bx ı̂ + by ĵ, a sua soma é ~c = (ax + bx )ı̂ + (ay + by ) ĵ e, como
mostra a figura 1.15, o vetor resultante é a hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos são dados
por (ax + bx ) e (ay + by ). Assim, o seu módulo é dado por
p
c = |~c | = (ax + bx )2 + (ay + by )2

~ e B.
Figura 1.15: Representação da soma de dois vetores A ~ O
vetor resultante é a hipotenusa de um triângulo
retângulo, de catetos ax + bx e ay + by .

A expressão acima vale para qualquer número de vetores, não apenas dois. Quando se está em três
dimensões, o módulo de um vetor V~ = Vx ı̂ + Vy ĵ + Vz k̂ é dado por
14 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado ~|=
q
V = |V Vx2 + Vy2 + Vz2 (1.5)
e a prova é deixada como um exercı́cio para o leitor.

Exemplo 1.3. Dados os vetores ~a = 3ı̂ + 5 ĵ − 2 k̂ e ~b = 2ı̂ − 4 ĵ + 6 k̂, determine:

1. |~a|.

Apenas uso pessoal


Para obtermos o módulo de ~a, utilizamos a expressão 1.5, lembrando que as componentes de ~a são
Análise Vetorial

ax = 3 ay = 5 az = −2

e então,

a = |~a|
q
= a2x + a2y + a2z
p
= 32 + 52 + (−2)2

= 9 + 25 + 4

a = 38

2. â.

Para encontrar o versor â correspondente ao vetor ~a, devemos utilizar a equação 1.3, ou seja,

~a
â =
|~a|
3ı̂ + 5 ĵ − 2 k̂
= √
38
3 5 2
â = √ ı̂ + √ ĵ − √ k̂
38 38 38

Vamos verificar se de fato â tem módulo unitário. Para isso, utilizamos a expressão 1.5, isto é,

s
 3 2  5 2  2 2
|â| = √ + √ + −√
38 38 38
r
9 25 4
= + +
38 38 38
r
38
=
38
|â| = 1

e vemos que, de fato, â é um versor, já que seu módulo é unitário.


1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 15

3. |~b|.
K. D. Machado
O módulo de ~b pode ser achado através da equação 1.5, sendo que as componentes de ~b são

bx = 2 by = −4 bz = 6

e assim,

Apenas uso pessoal


q
b= b2x + b2y + b2z
Análise Vetorial
p
= 22 + (−4)2 + 62

= 4 + 16 + 36

= 56

b = 2 14

4. b̂.

O versor b̂ é obtido mediante o uso da expressão 1.3, e então,

~b
b̂ =
|~b|
2ı̂ − 4 ĵ + 6 k̂
= √
2 14
1 2 3
b̂ = √ ı̂ − √ ĵ + √ k̂
14 14 14

5. ~a + ~b.

A soma dos dois vetores é bastante simples de efetuar, já que eles estão escritos numa base. Portanto,


~a + ~b = 3ı̂ + 5 ĵ − 2 k̂ + 2ı̂ − 4 ĵ + 6 k̂
= (3 + 2)ı̂ + (5 − 4) ĵ + (−2 + 6) k̂
~a + ~b = 5ı̂ + ĵ + 4 k̂

6. |~a + ~b|.

O módulo da soma dos vetores é

p
|~a + ~b| = 52 + 12 + 42

= 25 + 1 + 16

|~a + ~b| = 42
16 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Observe que o módulo da soma dos vetores não é igual à soma dos módulos dos vetores, já que
√ √ √
42 6= 38 + 2 14

7. ~a − ~b.

A subtração dos vetores também é simples de ser efetuada, e o resultado é

Apenas uso pessoal



~a − ~b = 3ı̂ + 5 ĵ − 2 k̂ − 2ı̂ − 4 ĵ + 6 k̂
Análise Vetorial
= (3 − 2)ı̂ + (5 + 4) ĵ + (−2 − 6) k̂
~
~a − b = ı̂ + 9 ĵ − 8 k̂

8. |~a − ~b|.

Para o módulo, usamos a equação 1.5, ou seja,

p
|~a − ~b| = 12 + 92 + (−8)2

= 1 + 81 + 64

|~a − ~b| = 146

Note que o módulo da diferença entre dois vetores também não é igual à diferença entre os módulos
dos vetores, pois
√ √ √
146 6= 38 − 2 14

Exemplo 1.4. Suponha que um vetor V~ seja uma função do tempo t, isto é, V~ = V~ (t), dada por

V~ (t) = 2ı̂ + t ĵ + t2 − 2 k̂
Calcule:

1. V~ (0).

O vetor V~ em t = 0 vale

V~ (0) = 2ı̂ − 2 k̂

Observe que ele não tem componente y em t = 0.

2. V~ (2).

O vetor no tempo t = 2 vale

V~ (2) = 2ı̂ + 2 ĵ + 2 k̂
1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 17

3. |V~ (t)|.
K. D. Machado
O módulo de V~ em qualquer tempo é dado por

q 2
|V~ (t)| = 2 2 + t2 + t2 − 2
p
|V~ (t)| = 4 + t2 + t4 − 4t2 + 4

Apenas uso pessoal


p
|V~ (t)| = t4 − 3t2 + 8
Análise Vetorial

4. Vˆ(t).
O versor Vˆ em qualquer tempo t é dado por

V~ (t)
Vˆ(t) =
|V~ (t)|

2ı̂ + t ĵ + t2 − 2 k̂
= √
t4 − 3t2 + 8
2 t t2 − 2
Vˆ(t) = √ ı̂ + √ ĵ + √ k̂ (1.6)
t4 − 3t2 + 8 t4 − 3t2 + 8 t4 − 3t2 + 8

5. Em qual instante de tempo o versor Vˆ não possui componente em z?

Se o versor Vˆ não tem componente em z, então o fator que multiplica k̂ na equação 1.6 deve se anular,
ou seja,

t2 − 2
√ =0
t4 − 3t2 + 8
t2 − 2 = 0

t=± 2


Supondo que a contagem dos tempos começou quando t = 0, obtemos t = 2 como sendo o tempo em
que o versor Vˆ não tem componente em z. Ele fica, para este valor de t,


2 2 2−2
Vˆ(t) = √ ı̂ + √ ĵ + √ k̂
4−3×2+8 4−3×2+8 4−3×2+8

2 2
= √ ı̂ + √ ĵ
6 6
√ √
6 3
Vˆ(t) = ı̂ + ĵ
3 3


18 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Recordando as proposições do inı́cio deste capı́tulo, verificamos que algumas grandezas necessitam
de algo mais do que apenas o valor numérico e a unidade de medida. Assim, as grandezas em Fı́sica são
divididas em dois grupos: as grandezas escalares e as grandezas vetoriais. As grandezas escalares ficam
completamente definidas quando apenas o seu valor numérico e a unidade de medida são especificadas.
Exemplos dessas grandezas são a massa de um objeto, a largura de uma rua, a altura de um poste, o
volume de uma caixa d’água. Já as grandezas vetoriais compreendem aquelas que não ficam completamente
especificadas se for dado apenas o seu valor numérico e a sua unidade, requerendo, além disso, que a sua
direção e sentido sejam estabelecidos em relação a algum sistema de coordenadas. Um exemplo claro de uma

Apenas uso pessoal


grandeza vetorial é a localização da padaria, que é uma grandeza vetorial chamada de posição. A posição
de um certo ponto no espaço é a localização espacial deste ponto em relação a um sistema de coordenadas.
Esta grandeza é vetorial, pois é preciso dizer, além da distância que este ponto está da origem do sistema de
Análise Vetorial
coordenadas (que é o módulo do vetor posição), a direção e o sentido no qual esta distância deve ser medida
(que são a direção e o sentido do vetor posição). A posição é representada, em geral, por ~r, que, no sistema
de coordenadas retangulares, é escrito como 4

~r = xı̂ + y ĵ + z k̂ (1.7)
como mostra a figura 1.16. Além disso, a posição tem dimensão de comprimento, ou seja, [posição] = L, e,
no SI, é medida em metros (m).

P (x, y, z)
r
z^
k

x ^i O y

x y ^j

Figura 1.16: Posição de um ponto P (x, y, z) em coordenadas retangulares.

Existe um modo bastante útil de obter a posição de um ponto P de coordenadas cartesianas (x, y, z)
num dado sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares. Note que a origem O do sistema de coorde-
nadas está localizada em (0, 0, 0), e sua posição é dada por

~ = 0ı̂ + 0 ĵ + 0 k̂
O (1.8)
−−→
A posição do ponto P pode ser representada pelo vetor OP, que tem origem em O e aponta em direção a
P. Esse vetor vale, por 1.7 (veja também a figura 1.16),
−−→
~r = OP = xı̂ + y ĵ + z k̂
Lembrando que P=P(x, y, z) e O=O(0, 0, 0), vamos calcular

P − O = (x, y, z) − (0, 0, 0) = (x, y, z)


Note que a subtração das coordenadas dos dois pontos resulta num terno ordenado cujas componentes
−−→
correspondem às componentes do vetor OP. Assim, podemos representar este vetor por

4 Note que estamos considerando um espaço tridimensional.


1.1. VETORES E O SISTEMA DE COORDENADAS RETANGULARES 19

K. D. Machado −−→
OP = P − O = (x, y, z)
e esse vetor corresponde à posição do ponto P. Partindo disso, podemos definir agora uma outra grandeza
relevante, relacionada à posição. Ela consiste na posição relativa de um ponto em relação a outro. Considere
dois pontos A(xA , yA , zA ) e B(xB , yB , zB ), cujas posições são dadas, respectivamente, por
−−→
~rA = OA = xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂ (1.9)

Apenas uso pessoal


e
−−→
~rB = OB = xB ı̂ + yB ĵ + zB k̂ (1.10)
Análise Vetorial

A posição relativa do ponto B em relação ao ponto A é dada por meio de


−−→
AB = ~rA,B = ~rB − ~rA
ou, usando 1.9 e 1.10,
−−→
AB = xB ı̂ + yB ĵ + zB k̂ − (xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂)
e então,
−−→
AB = (xB − xA )ı̂ + (yB − yA ) ĵ + (zB − zA ) k̂ (1.11)
que fornece a posição relativa de B em relação a A. Note que é um vetor que aponta de A para B, e o
módulo desse vetor é a distância em linha reta entre A e B. Podemos obter o mesmo resultado de outra
forma. Considere que
−−→ −−→ −−→
AB = ~rAB = ~rB − ~rA = OB − OA (1.12)
Então,
−−→
AB = B − O − (A − O)
ou
−−→
AB = B − A = (xB , yB , zB ) − (xA , yA , zA ) = (xB − xA , yB − yA , zB − zA )
Portanto, podemos obter a posição relativa mediante uma subtração envolvendo os dois pontos. Note que o
vetor acima é paralelo à reta que passa por A e B, de modo que ele é chamado também de vetor de direção,
por definir a direção da reta. O versor correspondente, que é dado por
−−→
d = AB
AB (1.13)
−−→
|AB|
é o versor da direção, e tem aplicações importantes em várias situações, como veremos a seguir. Uma questão
importante com relação à posição relativa é que ela é claramente uma grandeza vetorial. Note que existem
diferenças entre as grandezas posição relativa e deslocamento, apesar de ambas serem vetoriais e serem ambas
dadas por meio da diferença entre dois pontos. A posição relativa de um ponto em relação a outro não implica
em haver movimento de algum móvel de um ponto ao outro. O deslocamento, por outro lado, implica que
algum móvel se desloque do ponto inicial até o ponto final, e isso envolve um intervalo de tempo entre os
instantes de tempo em que o móvel está nos pontos inicial e final.
Além da posição, existem outras grandezas vetoriais de uso comum em nosso dia-a-dia. A tabela 1.1
apresenta mais alguns exemplos de grandezas escalares e vetoriais importantes.
20 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Grandezas Escalares Grandezas Vetoriais
distância percorrida posição
comprimento velocidade
tempo aceleração
temperatura força
energia campo elétrico
massa campo magnético

Apenas uso pessoal


potência momento linear
pressão momento angular
carga elétrica campo elétrico
Análise Vetorial
fluxo magnético torque
corrente elétrica densidade de corrente elétrica
potencial elétrico campo magnético
entropia magnetização
resistência momento de dipolo elétrico
intensidade luminosa momento de dipolo magnético
Tabela 1.1: Algumas grandezas fı́sicas escalares e vetoriais.

Quando as grandezas são escalares, as operações matemáticas feitas com elas são relativamente simples,
pois envolvem apenas a soma, multiplicação, potenciação, etc., de números. Já quando as grandezas são
vetoriais, a soma é uma soma vetorial, que é um pouco mais complicada. Além disso, mesmo que duas
grandezas sejam medidas na mesma unidade, uma pode ser escalar e a outra vetorial, e isso tem que ser
levado em conta na hora de efetivar cálculos. Assim, no nosso problema inicial, a pessoa, para chegar à
padaria, percorre uma distância
√ escalar de 10
√ + 15 = 25 √ m. No entanto, seu deslocamento vetorial (utilizando
a equação 1.1) foi de apenas 102 + 152 = 325 = 5 13 ∼ = 18, 02 m, menor do que a distância efetivamente
percorrida. Um caso que demonstra a grande diferença que existe entre grandezas escalares e vetoriais é o de
uma pessoa que sai de um ponto A e anda num cı́rculo de raio R até voltar ao ponto A. Ela percorre uma
distância escalar de C = 2πR, que é o comprimento da circunferência. No entanto, como ela volta ao lugar
de onde saiu, seu deslocamento vetorial é nulo, pois o ponto final corresponde ao inicial.
Já que é possı́vel multiplicar um vetor por um número, será permitido multiplicar um vetor por outro?
A resposta é positiva, e na verdade existem dois modos de se fazer o produto de dois vetores: através de um
produto escalar e por meio de um produto vetorial. De fato, estas operações são extremamente importantes
em Fı́sica e Matemática. Vejamos inicialmente o produto escalar.

1.2 Produto Escalar


O produto escalar 5 entre dois vetores tem como resultado um número real. Sua definição, considerando
~ e B,
dois vetores A ~ é

A~·B~ = |A||
~ B|
~ cos θ = AB cos θ (1.14)
de onde se vê que, de fato, o produto escalar de dois vetores resulta num número. O ângulo θ, para o produto
escalar, é definido como sendo o ângulo que os vetores formam entre si quando suas origens são colocadas
num ponto comum, como mostra a figura 1.17.

O produto escalar é utilizado em várias situações. Em particular, podemos determinar o módulo de


um vetor por meio dele pois, para o vetor V~ , temos

5 O produto escalar é um tipo de produto interno, e também é conhecido como produto ponto.
1.2. PRODUTO ESCALAR 21

K. D. Machado

~ e B.
Figura 1.17: Definição do ângulo θ para o produto escalar entre os vetores A ~

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial
V~ · V~ = |V~ ||V~ | cos 0
V~ · V~ = |V~ |2
p
V = |V~ | = V~ · V~
Um caso de especial interesse ocorre quando os vetores do produto escalar são os versores da base
R3 = {ı̂, ĵ, k̂}. Neste caso especial, como |ı̂| = |ĵ| = |k̂| = 1, e ı̂ ⊥ ĵ, ı̂ ⊥ k̂ e ĵ ⊥ k̂, temos

ı̂ ·ı̂ = 1 ĵ · ĵ = 1 k̂ · k̂ = 1 (1.15a)
ı̂ · ĵ = ĵ ·ı̂ = 0 ı̂ · k̂ = k̂ · ı̂ = 0 ĵ · k̂ = k̂ · ĵ = 0 (1.15b)
Como já foi dito, uma base que tenha as propriedades acima é chamada de ortonormal, porque, além
de os vetores da base serem ortogonais, eles têm módulo 1. Isto vale para qualquer sistema de coordenadas
ortonormal, não apenas o sistema de coordenadas retangulares. Em geral, deseja-se que a base para um
sistema de coordenadas qualquer seja ortonormal, para simplificar as operações vetoriais.
Quando dois vetores estão escritos numa mesma base ortonormal, o produto escalar entre eles é
bastante simples de se efetuar. Considere os vetores ~a = ax ı̂ + ay ĵ + az k̂ e ~b = bx ı̂ + by ĵ + bz k̂. O produto
escalar entre eles é dado por

~a · ~b = (ax ı̂ + ay ĵ + az k̂) · (bx ı̂ + by ĵ + bz k̂)


ou

~a · ~b = ax bx ı̂ ·ı̂ + ax by ı̂ · ĵ + ax bz ı̂ · k̂ + ay bx ı̂ · ĵ + ay by ĵ · ĵ
+ ay bz ĵ · k̂ + az bx k̂ ·ı̂ + az by k̂ · ĵ + az bz k̂ · k̂
ou ainda,

~a · ~b = ax bx + ay by + az bz (1.16)
pois utilizamos as equações 1.15a e 1.15b. Se ~a = ~b, temos

~a · ~a = |~a|2 = a2x + a2y + a2z


q
|~a| = a = a2x + a2y + a2z
Assim, numa base ortonormal, que siga as propriedades dadas nas equações 1.15a e 1.15b, o módulo de um
vetor é dado pela raiz quadrada da soma dos quadrados das suas componentes.
O produto escalar também pode ser obtido de outra forma. Um vetor pode ser representado por uma
matriz coluna 6 , e os elementos das linhas são as componentes do vetor. Assim, o vetor V~ = Vx ı̂ + Vy ĵ + Vz k̂

6 Uma matriz coluna é uma matriz que possui apenas uma coluna, enquanto que uma matriz linha possui apenas uma linha.
22 1. CONCEITOS INICIAIS

é escrito como
K. D. Machado
 
Vx
V~ = Vy  (1.17)
Vz
Quando se faz o produto escalar de um vetor por outro, é preciso tomar a matriz transposta 7 do
primeiro vetor, o que resulta numa matriz linha, ou seja,
 

Apenas uso pessoal


 bx
~a · ~b = ax ay az · by  = ax bx + ay by + az bz (1.18)
bz
Análise Vetorial
e o resultado é idêntico à equação 1.16. O produto escalar tem vários outros usos, e na seqüência veremos
alguns deles, sendo que esta é uma operação que será usada freqüentemente ao longo do texto. Para começar,
digamos que precisamos saber qual o ângulo que dois vetores fazem entre si. A resposta é obtida facilmente
através do uso do produto escalar pois, da equação 1.14, obtemos

~·B
A ~ = |A||
~ B|
~ cos θ
A~·B~
cos θ =
AB
~·B
A ~
θ = arccos (1.19)
AB
~ eB
e, se os vetores A ~ forem escritos numa base ortonormal, os cálculos tornam-se muito simples de serem
efetuados. Se esta base for a base de coordenadas retangulares, dada por R3 = {ı̂, ĵ, k̂}, temos

~ = Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂
A ~ = Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂
B
~ eB
Os módulos de A ~ são

p
A= A~·A
~
q  
= Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂ · Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂
q
A = A2x + A2y + A2z
e
p
B= B~ ·B
~
q  
= Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂ · Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂
q
B = Bx2 + By2 + Bz2

7 A matriz transposta de uma matriz A é dada pela seguinte regra: At = A , onde i representa as linhas e j as colunas da
i,j j,i
matriz A, e Ai,j é o elemento da i-ésima linha e da j-ésima coluna de A. Por exemplo, se a matriz A for
 
1 2
A=
3 4
sua transposta será
 
1 3
At =
2 4
1.2. PRODUTO ESCALAR 23

~eB
O produto escalar entre A ~ é
K. D. Machado
 
~ ·B
A ~ = Ax ı̂ + Ay ĵ + Az k̂ · Bx ı̂ + By ĵ + Bz k̂
~ ·B
A ~ = Ax Bx + Ay By + Az Bz

e assim,

Apenas uso pessoal


~·B
A ~
θ = arccos
Análise Vetorial
AB
Ax Bx + Ay By + Az Bz
= arccos q q
Ax + A2y + A2z Bx2 + By2 + Bz2
2

Ax Bx + Ay By + Az Bz
θ = arccos q  
A2x + A2y + A2z Bx2 + By2 + Bz2

Exemplo 1.5. Considere dois vetores, dados por ~a = ı̂ + 2 ĵ + 4 k̂ e ~b = ı̂ − ĵ − k̂. Qual o ângulo que estes
vetores formam entre si?
Para encontrar o ângulo, utilizamos a equação 1.19, isto é,

~a · ~b
θ = arccos
ab
O módulo de ~a é


a= ~a · ~a
q
= (ı̂ + 2 ĵ + 4 k̂) · (ı̂ + 2 ĵ + 4 k̂)

= 1 + 4 + 16

a = 21

enquanto o de ~b fica


a= ~a · ~a
q
= (ı̂ − ĵ − k̂) · (ı̂ − ĵ − k̂)

= 1+1+1

b= 3

O produto escalar entre ~a e ~b fornece

~a · ~b = (ı̂ + 2 ĵ + 4 k̂) · (ı̂ − ĵ − k̂) = 1 − 2 − 4 = −5

Portanto, o ângulo entre os vetores é


24 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
~a · ~b
θ = arccos
ab
−5
= arccos √ √
21 3
 
5
= arccos − √

Apenas uso pessoal


3 7
θ ≃ 2, 25 rad = 129◦


Análise Vetorial

Uma outra aplicação importante do produto escalar consiste na determinação da projeção de um vetor
sobre outro. Vamos supor que precisamos da componente de um vetor ~a na direção definida por um outro
vetor ~b. Para obter esta grandeza, devemos realizar o produto escalar entre o vetor ~a e o versor b̂, o que
resulta na componente de ~a na direção de ~b. Para demonstrarmos isto, vamos considerar a figura 1.18.

Figura 1.18: Dois vetores, para o cálculo da componente


de um vetor na direção de outro.

A componente de um vetor ~a na direção do vetor ~b é representada por a~b , e pode ser obtida se
lembrarmos que o cosseno de θ é dado pelo cateto adjacente, que é a componente a~b , dividido pela hipotenusa,
dada por a. Assim,
a~b
cos θ =
a
ou seja,

a~b = a cos θ
O cosseno do ângulo formado entre os dois vetores pode ser obtido através do produto escalar, como mostra
a equação 1.19

~a · ~b
θ = arccos
ab
ou

~a · ~b
cos θ =
ab
1.2. PRODUTO ESCALAR 25

K. D. Machado
e então, voltando à expressão para a componente do vetor, temos

~a · ~b
a~b = a
ab
ou

~a · ~b
a~b =
b

Apenas uso pessoal


ou ainda, recordando que

~b
Análise Vetorial
b̂ =
b

a~b = ~a · b̂ (1.20)

Se quisermos o vetor-componente de ~a na direção de ~b, devemos multiplicar a expressão acima pelo versor
b̂, que define a direção de ~b, ou seja,

~a~b = (~a · b̂) b̂ (1.21)

Exemplo 1.6. Utilizando a decomposição de um vetor na direção de outro, mostre que os ângulos α, β e γ
da figura 1.19 estão relacionados através de

cos2 α + cos2 β + cos2 γ = 1 (1.22)

^ V
k
g
b
^i ^j y
a

Figura 1.19: Definição dos cossenos diretores de um vetor.

Os ângulos α, β e γ que um vetor V~ faz com os eixos x, y e z, respectivamente, são chamados de


ângulos diretores. Seus cossenos, cos α, cos β e cos γ, são conhecidos como cossenos diretores do vetor V~ .
Estes ângulos não são todos independentes entre si, como vamos demonstrar em seguida. Para isso, vamos
considerar que o vetor V~ tenha módulo V , e vamos encontrar os vetores-componentes de V~ nas direções x,
y e z, ou seja, utilizando a expressão 1.21, temos, para o vetor-componente em x,

V~x = (V~ ·ı̂)ı̂


= (V |ı̂| cos α)ı̂
V~x = V cos αı̂
26 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Para o vetor-componente em y, obtemos

V~y = (V~ · ĵ) ĵ


= (V |ĵ| cos β) ĵ
V~y = V cos β ĵ

Apenas uso pessoal


E, para V~z , encontramos
Análise Vetorial
V~z = (V~ · k̂) k̂
= (V |k̂| cos γ) k̂
V~z = V cos γ k̂

O vetor V~ é igual à soma de todas as suas componentes, pois o sistema de eixos no qual ele foi decomposto
é ortonormal, e assim,

V~ = V~x + V~y + V~z


ou

V~ = V cos αı̂ + V cos β ĵ + V cos γ k̂ (1.23)

Vamos agora fazer o produto escalar de V~ com ele mesmo, isto é

V~ · V~ = (V cos αı̂ + V cos β ĵ + V cos γ k̂) · (V cos αı̂ + V cos β ĵ + V cos γ k̂)
o que resulta em

V 2 = V 2 cos2 α + cos2 β + cos2 γ
de modo que, dividindo a equação por V 2 , temos

cos2 α + cos2 β + cos2 γ = 1


e a expressão 1.22 fica então demonstrada. Os cossenos diretores mostrar-se-ão bastante úteis em algumas
situações ao longo do texto.

Após estudar algumas aplicações envolvendo o produto escalar, vejamos agora o produto vetorial entre
dois vetores.

1.3 Produto Vetorial


~eB
O produto vetorial de dois vetores A ~ resulta num terceiro vetor C,
~ cujas caracterı́sticas dependem
~ ~
dos vetores A e B. Representa-se essa operação através de

~ =A
C ~
~×B (1.24)
1.3. PRODUTO VETORIAL 27

K. D. Machado
~ temos que considerar o módulo, a direção e o sentido de C.
Com relação às caracterı́sticas de C,
~ 8
~ O
módulo do vetor C definido pelo produto vetorial acima é dado por

~ = |A
|C| ~ = |A||
~ × B| ~ B|~ sen θ (1.25)
sendo que o ângulo θ é definido da mesma forma que para o caso do produto escalar (veja a figura 1.17).
~ temos que os vetores A
Com relação à direção e ao sentido de C, ~eB ~ definem um plano no espaço. Por
~ ~
definição, o vetor que resulta do produto vetorial entre A e B deve ser ortogonal a este plano, e, portanto,

Apenas uso pessoal


é ortogonal, ao mesmo tempo, aos vetores A ~ e B.
~ Isto define a direção do vetor resultante. O sentido do
vetor é definido pela regra da mão direita: considere os dedos indicador e médio da mão direita. Represente o
primeiro vetor do produto vetorial pelo dedo indicador, e o segundo pelo dedo médio (a ordem é importante).
Análise Vetorial
Disponha estes dedos da mesma forma que os vetores estão no espaço. Agora, coloque o polegar da mão
direita formando um ângulo de 90◦ com o plano formado pelos outros dedos. O sentido do vetor é o mesmo
que é indicado pelo polegar. Note que o produto vetorial não é comutativo. Na verdade A ~×B ~ = −B ~
~ × A.
O leitor deve ser capaz de provar isso utilizando a regra da mão direita para os dois vetores da figura 1.20,
que ilustra um produto vetorial.

Figura 1.20: Definição do ângulo θ para o produto


~ e B.
vetorial entre os vetores A ~

Note que o produto vetorial de dois vetores que tenham a mesma direção, ou seja, sejam um múltiplo
um do outro, é nulo, já que nesse caso eles não definem um plano e o ângulo θ entre eles é nulo ou vale π.
Quando os vetores são escritos numa base, como por exemplo a base R3 = {ı̂, ĵ, k̂}, o cálculo do produto
vetorial também é facilitado, como no caso do produto escalar. No entanto, inicialmente precisamos saber
como se faz o produto vetorial dos versores da base. O produto vetorial de um versor por ele mesmo é nulo,
pois são vetores paralelos, ou seja,

ı̂ × ı̂ = 0 ĵ × ĵ = 0 k̂ × k̂ = 0 (1.26)
Agora, considerando novamente a figura 1.14, vejamos o que ocorre quando efetuamos, por exemplo,
ı̂ × ĵ. O módulo do resultado vale
π
|ı̂ × ĵ| = |ı̂||ĵ| sen
2
ou seja,

|ı̂ × ĵ| = 1

8 O produto vetorial também é chamado produto-cruz.


28 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Assim, o vetor resultante desse produto vetorial é na verdade um versor, já que possui módulo 1. Agora temos
que, como ı̂ e ĵ definem um plano, o plano xy, o vetor resultante do produto vetorial deve ser ortogonal a
esse plano, e só pode estar na direção z. Se considerarmos a regra da mão direita obteremos o sentido do
vetor como sendo o de z positivo. Lembrando que o versor k̂ possui as três caracterı́sticas descritas acima,
achamos, finalmente,

ı̂ × ĵ = k̂

Apenas uso pessoal


Efetuando o mesmo procedimento com os outros pares de versores, temos

ı̂ × ĵ = +k̂ ĵ × k̂ = +ı̂ k̂ × ı̂ = +ĵ (1.27a)


Análise Vetorial

ĵ × ı̂ = −k̂ k̂ × ĵ = −ı̂ ı̂ × k̂ = −ĵ (1.27b)

Note que, quando uma base é escolhida de forma que os produtos vetoriais entre os vetores dessa base seguem uma regra de

mão direita, ela é chamada dextrógira. Pode-se definir uma regra da mão esquerda para produtos vetoriais, de uma forma similar ao
~ e B,
que foi feito para a regra da mão direita. Nesse caso, diz-se que o sistema é levógiro. Dados dois vetores A ~ num sistema dextrógiro

~ =A
teremos C ~ × B,
~ e num levógiro achamos D
~ =A
~ × B.
~ O leitor deve ser capaz de verificar que C
~ = −D.
~

O produto vetorial dos vetores ~a = ax ı̂ + ay ĵ + az k̂ e ~b = bx ı̂ + by ĵ + bz k̂ é dado por

~a × ~b = (ax ı̂ + ay ĵ + az k̂) × (bx ı̂ + by ĵ + bz k̂)


ou

~a × ~b = ax bx ı̂ × ı̂ + ax by ı̂ × ĵ + ax bz ı̂ × k̂ + ay bx ĵ × ı̂ + ay by ĵ × ĵ
+ ay bz ĵ × k̂ + az bx k̂ × ı̂ + az by k̂ × ĵ + az bz k̂ × k̂

ou ainda,

~a × ~b = ax by k̂ − ax bz ĵ − ay bx k̂ + ay bz ı̂ + az bx ĵ − az by ı̂
~a × ~b = (ay bz − az by )ı̂ + (az bx − ax bz ) ĵ + (ax by − ay bx ) k̂ (1.28)

O produto vetorial acima pode ser ordenado de uma forma mais concisa como um determinante de
uma matriz, na qual os elementos da primeira linha são os versores da base, na ordem ı̂, ĵ e k̂, os elementos
da segunda linha são as componentes do primeiro vetor e a terceira linha é dada pelo segundo vetor, ou seja,

ı̂ ĵ k̂

~a × ~b = ax ay az (1.29)
bx by bz
O produto vetorial possui uma interpretação geométrica bastante simples. Considere um paralelogramo
definido pelos pontos A, B, C e D, como mostra a figura 1.21. Os lados do paralelogramo são dados pelos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
vetores AB e AD, sendo que AB = DC e AD = BC.

A área S♦ desse paralelogramo é obtida através de


−−→
S♦ = h |AB|
onde h é a altura do paralelogramo relativamente ao lado AB. Agora, note que
1.3. PRODUTO VETORIAL 29

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Figura 1.21: Paralelogramo definido pelos pontos A, B, C e D.
Análise Vetorial

h
sen θ = −−→
|AD|
de modo que podemos escrever
−−→
h = |AD| sen θ
Portanto, a área do paralelogramo fica
−−→ −−→
S♦ = |AB||AD| sen θ
−−→ −−→
Considere agora o módulo do produto vetorial entre os vetores AB e AD, dado pela equação 1.25,
−−→ −−→ −−→ −−→
|AB × AD| = |AB||AD| sen θ
−−→ −−→
Portanto, a área do paralelogramo formado por lados paralelos aos vetores AB e AD equivale ao módulo
do produto vetorial entre os dois vetores, ou seja,
−−→ −−→
S♦ = |AB × AD| (1.30)
Essa é a interpretação geométrica do produto vetorial. Assim, se dois vetores forem paralelos, eles não
definem um paralelogramo, de modo que o produto vetorial de dois vetores paralelos resulta num vetor nulo.
Podemos obter ainda um outro resultado importante. Considere que sejam dados três pontos, A, B e C, de
forma a definir um triângulo, como o mostrado na figura 1.22.

Figura 1.22: Triângulo definido pelos pontos A, B e C.

Da figura 1.22 vemos que a área do triângulo ABC corresponde à metade da área do paralelogramo definido
−−→ −−→
pelos vetores AB e BC, de modo que temos, então,
−−→ −−→
|AB × BC|
S△ = (1.31)
2
30 1. CONCEITOS INICIAIS

Vejamos agora alguns exemplos.


K. D. Machado
Exemplo 1.7. Um paralelogramo é formado por lados que são paralelos e tem mesmo módulo que os vetores
~a = 2ı̂ + 4 ĵ − k̂ e ~b = −ı̂ + 4 ĵ + 2 k̂. Qual a área do paralelogramo?
Podemos determinar a área do paralelogramo por meio da equação 1.30,

S♦ = |~a × ~b|

Apenas uso pessoal


Inicialmente calculamos o produto vetorial mediante 1.29,

ı̂ ĵ k̂

~a b = 2 4
~ −1
Análise Vetorial
×
−1 4 2
ou

~a × ~b = 8ı̂ + ĵ + 8 k̂ + 4 k̂ + 4ı̂ − 4 ĵ
e então,

~a × ~b = 12ı̂ − 3 ĵ + 12 k̂
Portanto,
√ √ √
|~a × ~b| =
144 + 9 + 144 = 297 = 3 33

Portanto, a área do paralelogramo vale S♦ = 3 33 unidades de área 9 .


Exemplo 1.8. O lado que forma a base de um triângulo equilátero tem um comprimento ℓ = 3 m. Determine
a área desse triângulo através de um produto vetorial.
Para determinar a área do triângulo precisamos fazer algumas considerações. A primeira consiste em
supor que o triângulo está no plano xy, como mostra a figura 1.23 abaixo.

Figura 1.23: Um triângulo equilátero.

Note que um triângulo equilátero é aquele no qual todos os lados têm o mesmo comprimento e todos
os ângulos dos vértices são iguais. Conseqüentemente, o ângulo θ mostrado na figura vale 60◦ ou π3 rad.
Assim, para o lado horizontal podemos escrever

9 No SI terı́amos m2 para a unidade de área.


1.4. OUTROS PRODUTOS ENVOLVENDO VETORES 31

K. D. Machado
~a = ℓı̂ = 3ı̂ (1.32)
Para o vetor ~b, paralelo ao lado esquerdo do triângulo, podemos escrever

~b = ℓ cos π ı̂ + ℓ sen π ĵ
3 3
ou

Apenas uso pessoal



~b = 3 ı̂ + 3 2 ĵ (1.33)
2 2
Agora, usamos a equação 1.31, ou seja,
Análise Vetorial

|~a × ~b|
S△ =
2
Calculamos inicialmente o produto vetorial

ı̂ ĵ k̂

~a × b = 3
~ 0

0
3 3 3
0
2 2
ou

9 2
~a × ~b = k̂
2
Assim,

9 2
S△ =
4
é a área procurada.

Combinando produtos escalares e vetoriais podemos obter operações envolvendo três ou mais vetores.
Os mais importantes são apresentados a seguir.

1.4 Outros Produtos Envolvendo Vetores


Além do produto escalar e do produto vetorial, existem combinações especiais destes dois, formando
alguns produtos especiais. O primeiro deles é o chamado produto misto. O produto misto de três vetores é
denotado por

prod. misto = ~a · ~b × ~c , (1.34)


onde primeiro se faz o produto vetorial e depois o escalar, pois o inverso não tem sentido. O produto misto
resulta num número, e também pode ser escrito como um determinante, na forma

ax ay az

~a · ~b × ~c = bx by bz (1.35)
cx cy cz

Vamos demonstrar essa relação.


32 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Demonstração. Para verificar a relação 1.35, façamos primeiro o produto vetorial ~b × ~c, utilizando a equa-
ção 1.29,

ı̂ ĵ k̂

~b × ~c = bx by bz = (by cz − bz cy )ı̂ + (bz cx − bx cz )ĵ + (bx cy − by cx )k̂ (1.36)

cx cy cz

Agora, efetuamos o produto escalar ~a · (~b × ~c), ou seja,

Apenas uso pessoal


~a · (~b × ~c ) =
 
Análise Vetorial
(ax ı̂ + ay ĵ + az k̂) · (by cz − bz cy )ı̂ + (bz cx − bx cz )ĵ + (bx cy − by cx )k̂

e obtemos

~a · (~b × ~c ) = ax (by cz − bz cy ) + ay (bz cx − bx cz ) + az (bx cy − by cx ) (1.37)


Agora, vamos desenvolver o determinante dado em 1.35, ou seja,

ax ay az

bx by bz = ax by cz + ay bz cx + az bx cy − az by cx − ay bx cz − ax bz cy

cx cy cz
Vamos reescrevê-lo da seguinte forma:

ax ay az

bx by bz = ax (by cz − bz cy ) + ay (bz cx − bx cz ) + az (bx cy − by cx ) (1.38)

cx cy cz

Comparando as equações 1.37 e 1.38 vemos que a equação 1.35 é verdadeira.

Além de 1.35, para o produto misto vale também a seguinte propriedade:

~a · ~b × ~c = ~b · ~c × ~a = ~c · ~a × ~b (1.39)
conforme demonstramos abaixo.

Demonstração. A prova desta propriedade é bastante simples e utiliza a expressão 1.35. Vamos mostrar que
~a · ~b × ~c = ~b · ~c × ~a. Para tanto, temos

ax ay az

~a · ~b × ~c = bx by bz
cx cy cz
Agora, vamos trocar a segunda linha com a terceira, o que, por uma propriedade do determinante de qualquer
matriz, troca o sinal do determinante. Assim,

ax ay az bx by bz

~a · ~b × ~c = bx by bz = − ax ay az
cx cy cz cx cy cz

Trocando agora a segunda linha com a terceira, obtemos



ax ay az bx by bz bx by bz

~a · b × ~c = bx
~
by bz = − ax ay az = cx cy cz
cx cy cz cx cy cz ax ay az
1.4. OUTROS PRODUTOS ENVOLVENDO VETORES 33

K. D. Machado
e o determinante troca de sinal novamente. No entanto,

bx by bz

~b · ~c × ~a = cx cy cz

ax ay az
e assim

~a · ~b × ~c = ~b · ~c × ~a

Apenas uso pessoal


que completa esta parte da prova. As outras igualdades são deixadas para o leitor, como exercı́cio.
Análise Vetorial

O produto misto também tem uma interpretação geométrica interessante. Considere um paralelepı́pedo
formado pelos pontos A, B, C, D, E, F, G e H, como mostra a figura 1.24.

Figura 1.24: Paralelepı́pedo definido pelos pontos A, B, C, D, E, F, G e H.

O volume desse paralelepı́pedo é dado pela área da base multiplicada pela altura h relativa a essa base.
Já vimos que a área da base pode ser calculada através de um produto vetorial, ou seja, pela equação 1.30,
temos
−−→ −−→
S♦ = |AB × AD| (1.40)
Note que o produto vetorial resulta num vetor perpendicular ao plano formado pelos dois vetores. Vamos
chamar esse vetor de ~v . Assim, obtemos
−−→ −−→
~v = AB × AD (1.41)
Agora, da figura achamos também

h
cos θ = −−→
|AE|
ou seja,
−−→
h = |AE| cos θ (1.42)
Em seguida, devemos notar que
−−→ −−→
AE · ~v = |AE||~v | cos θ
34 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
ou, usando as expressões 1.40–1.42, encontramos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
AE · (AB × AD) = |AB × AD|h
ou
−−→ −−→ −−→
AE · (AB × AD) = S♦ h
O lado direito da equação acima corresponde ao volume do paralelepı́pedo. Portanto,

Apenas uso pessoal


−−→ −−→ −−→
V = AE · (AB × AD) (1.43)
ou seja, o produto misto entre três vetores fornece o volume do paralelepı́pedo formado por esses três vetores.
Análise Vetorial
Assim, se os três vetores forem coplanares, eles não definem um paralelepı́pedo, e o produto misto entre eles
se anula. Essa é a interpretação geométrica do produto misto. Esse interpretação mostra-se muito útil, como
veremos na seqüência. Vejamos agora um exemplo.

Exemplo 1.9. Considere os vetores ~a = 2ı̂ − 4 k̂ e ~b = ĵ + k̂. Determine cx , cy e cz tal que um vetor
~c = cx ı̂ + cy ĵ + cz k̂ pertença ao plano formado pelos outros dois.
Conforme vimos há pouco, se três vetores são coplanares o produto misto entre eles se anula, de modo
que vamos inicialmente calcular o produto misto entre ~a, ~b e ~c por meio da equação 1.35,

2 0 −4

~a · ~b × ~c = 0 1 1
cx cy cz
ou

~a · ~b × ~c = cz − 4cx − 2cy
Para que tenhamos vetores coplanares, o produto misto deve ser nulo, isto é,

cz − 4cx − 2cy = 0
ou

cz = 4cx + 2cy
Assim, qualquer vetor da forma

~c = cx ı̂ + cy ĵ + (4cx + 2cy ) k̂
pertence ao plano formado por ~a e ~b. Por exemplo, o vetor ~c = 2ı̂ + ĵ + 10 k̂ pertence ao plano desejado.

O segundo produto especial é o duplo produto vetorial, dado por

duplo produto vetorial = ~a × (~b × ~c) (1.44)


O duplo produto vetorial tem as seguintes propriedades:

~a × (~b × ~c) = (~a · ~c)~b − (~a · ~b)~c (1.45a)


(~a × ~b) × ~c = ~b(~a · ~c) − ~a(~b · ~c) (1.45b)

Vamos demonstrar a primeira delas, dada pela equação 1.45a, e a outra fica a cargo do leitor. Vamos à prova.
1.4. OUTROS PRODUTOS ENVOLVENDO VETORES 35

K. D. Machado
Demonstração. Já calculamos ~b × ~c anteriormente, na equação 1.36, que fica

~b × ~c = (by cz − bz cy )ı̂ + (bz cx − bx cz )ĵ + (bx cy − by cx )k̂

Agora, façamos o produto vetorial ~a × (~b × ~c ), através de 1.29,



ı̂ ĵ k̂

× ~ ×
~a (b ~c ) = ax ay az

Apenas uso pessoal


(by cz − bz cy ) (bz cx − bx cz ) (bx cy − by cx )
ou
Análise Vetorial
 
~a × (~b × ~c ) = ay (bx cy − by cx ) − az (bz cx − bx cz ) ı̂
 
+ az (by cz − bz cy ) − ax (bx cy − by cx ) ĵ
 
+ ax (bz cx − bx cz ) − ay (by cz − bz cy ) k̂

ou ainda,

 
~a × (~b × ~c ) = (ay cy + az cz )bx − (ay by + az bz )cx ı̂
 
+ (ax cx + az cz )by − (ax bx + az bz )cy ĵ
 
+ (ax cx + ay cy )bz − (ax bx + ay by )cz k̂ (1.46)

Agora, relembramos a equação 1.16, de modo que

~a · ~b = ax bx + ay by + az bz ~a · ~c = ax cx + ay cy + az cz (1.47)

Com o uso de 1.47, podemos reescrever 1.46 como sendo

 
~a × (~b × ~c ) = (~a · ~c − ax cx )bx − (~a · ~b − ax bx )cx ı̂
 
+ (~a · ~c − ay cy )by − (~a · ~b − ay by )cy ĵ
 
+ (~a · ~c − az cz )bz − (~a · ~b − az bz )cz k̂

ou, fazendo algumas simplificações,

 
~a × (~b × ~c ) = (~a · ~c )bx − (~a · ~b)cx ı̂
   
+ (~a · ~c )by − (~a · ~b)cy ĵ + (~a · ~c )bz − (~a · ~b)cz k̂

ou ainda,

~a × (~b × ~c ) = (~a · ~c )(bx ı̂ + by ĵ + bz k̂) − (~a · ~b)(cx ı̂ + cy ĵ + cz k̂)


e, finalmente,

~a × (~b × ~c ) = (~a · ~c )~b − (~a · ~b)~c


que é a equação 1.45a, agora demonstrada. A propriedade 1.45b fica como exercı́cio para o leitor.
36 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Por fim, existe um último produto importante, chamado de identidade de Lagrange, que envolve o
produto escalar de dois vetores, os quais, por sua vez, são o resultado de produtos vetoriais. Para este
produto, existe a propriedade

(~a × ~b) · (~c × d~ ) = (~a · ~c)(~b · d~ ) − (~a · d~ )(~b · ~c) (1.48)


Vejamos sua demonstração.

Demonstração. O produto vetorial ~a × ~b é dado por 1.28,

Apenas uso pessoal


~a × ~b = (ay bz − az by )ı̂ + (az bx − ax bz ) ĵ + (ax by − ay bx ) k̂
Análise Vetorial
Assim, o produto ~c × d~ fica

~c × d~ = (cy dz − cz dy )ı̂ + (cz dx − cx dz ) ĵ + (cx dy − cy dx ) k̂ (1.49)


Façamos agora o produto escalar (~a × ~b) · (~c × d~ ), isto é,

(~a × ~b) · (~c × d~ ) =


 
(ay bz − az by )ı̂ + (az bx − ax bz ) ĵ + (ax by − ay bx ) k̂
 
· (cy dz − cz dy )ı̂ + (cz dx − cx dz ) ĵ + (cx dy − cy dx ) k̂

ou

(~a × ~b) · (~c × d~ ) = (ay bz − az by )(cy dz − cz dy )


+ (az bx − ax bz )(cz dx − cx dz ) + (ax by − ay bx )(cx dy − cy dx )

ou ainda,

(~a × ~b) · (~c × d~ ) = ay bz cy dz − ay bz cz dy − az by cy dz + az by cz dy


+ az bx cz dx − az bx cx dz − ax bz cz dx + ax bz cx dz
+ ax by cx dy − ax by cy dx − ay bx cx dy + ay bx cy dx

que pode ser reescrita como

(~a × ~b) · (~c × d~ ) =


az cz (bx dx + by dy ) + ay cy (bx dx + bz dz ) + ax cx (by dy + bz dz )
− az dz (bx cx + by cy ) − ay dy (bx cx + bz cz ) − ax dx (by cy + bz cz )

ou

(~a × ~b) · (~c × d~ ) =


az cz (~b · d~ − bz dz ) + ay cy (~b · d~ − by dy ) + ax cx (~b · d~ − bx dx )
− az dz (~b · ~c − bz cz ) − ay dy (~b · ~c − by cy ) − ax dx (~b · ~c − bx cx )

ou ainda,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 37

K. D. Machado
(~a × ~b) · (~c × d~ ) =
(az cz + ay cy + ax cx )(~b · d~ ) − az cz bz dz − ay cy by dy − ax cx bx dx
− (az dz + ay dy + ax dx )(~b · ~c) + az dz bz cz + ay dy by cy + ax dx bx cx

e, finalmente,

Apenas uso pessoal


(~a × ~b) · (~c × d~ ) = (~a · ~c)(~b · d~ ) − (~a · d~ )(~b · ~c)
que é a equação 1.48, agora demonstrada. Note que ela também pode ser escrita na forma de um determinante,
Análise Vetorial
através de

~
~a ~
c ~a d
(~a × ~b) · (~c × d~ ) = ~
· ·
(1.50)
b · ~c ~b · d~

1.5 Aplicações dos Conceitos Iniciais


Nosso objetivo agora é demonstrar o uso das idéias iniciais vistas até o momento em várias aplicações
importantes. Vamos iniciar com um pouco de Geometria.

1.5.1 Diagonais de um Paralelogramo


Nosso objetivo aqui é mostrar que as diagonais de um paralelogramo cortam-se ao meio. Considere
inicialmente a figura 1.25.

Figura 1.25: Diagonais de um paralelogramo.

Da figura, temos
−−→ −−→ −−→
BA + AD = BD
ou
−−→ −−→ −−→
BD = AD − AB (1.51)
−−→ −−→
Então, como BP corresponde a uma fração de BD, temos
38 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
−−→ −−→ −−→ −−→
BP = rBD = r(AD − AB) (1.52)
onde r é um número real. Da figura, obtemos também
−−→ −−→ −−→
AB + AD = AC
−−→ −−→
O vetor AP também é uma fração de AC, ou seja,

Apenas uso pessoal


−−→ −−→ −−→ −−→
AP = sAC = s(AB + AD) (1.53)
onde s é um outro número real. Além disso, temos também
Análise Vetorial
−−→ −−→ −−→
AD = AP + PD (1.54)
e
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
BD = BP + PD = rBD + PD
onde usamos 1.52. Assim,
−−→ −−→
PD = (1 − r)BD
e, usando 1.51,
−−→ −−→ −−→
PD = (1 − r)(AD − AB) (1.55)
Empregando as equações 1.53 e 1.55 em 1.54, achamos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
AD = s(AB + AD) + (1 − r)(AD − AB)
ou
−−→  −−→  −−→
AD = s − (1 − r) AB + s + (1 − r) AD
ou ainda,
−−→ −−→
(s + r − 1)AB + (s − r)AD = 0
−−→ −−→
Como AB e AD não são colineares por hipótese, já que, nesse caso, não haveria um paralelogramo, cada
coeficiente entre parênteses deve se anular. Portanto, temos

s−r =0 →s=r
e
1
2s + 1 = 0 →s=r=
2
Conseqüentemente, as equações 1.52 e 1.53 tornam-se, respectivamente,
−−→ 1 −−→ 1 −−→ −−→
BP = BD = (AD − AB) (1.56)
2 2
e
−−→ 1 −−→ 1 −−→ −−→
AP = AC = (AB + AD) (1.57)
2 2
ou seja, as diagonais cortam-se ao meio, conforme querı́amos mostrar. Vejamos outra aplicação interessante.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 39

1.5.2
K. D. Machado
Medianas de um Triângulo
Desejamos agora mostrar que as medianas de um triângulo encontram-se num ponto comum, e que a
distância entre esse ponto e o vértice de onde parte a mediana vale dois terços do comprimento dela. Para
isso, considere a figura 1.26.

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.26: Definição dos pontos importantes para determinar o


encontro das medianas de um triângulo qualquer.

Note que, na figura, supusemos que as medianas não se encontram num mesmo ponto, e devemos provar que
os pontos G, H e I são coincidentes. Vamos escrever algumas relações para resolver o problema. Inicialmente
vemos que podemos escrever
−−→ −→ − → −−→
AG + GI + IF = AF (1.58)
−−→
Agora, temos que os três vetores do lado esquerdo da expressão acima são múltiplos do vetor AF. Vamos
definir então

−−→ −−→ −→ −−→ −


→ −−→
AG = rAF GI = sAF IF = tAF (1.59)

Assim, substituindo as expressões 1.59 em 1.58, obtemos


−−→ −−→ −−→ −−→
rAF + sAF + tAF = AF
ou

r+s+t=1 (1.60)
De forma similar, temos
−−→ −→ − → −−→
EH + HI + IC = EC (1.61)
Novamente temos a questão da proporcionalidade entre os vetores do lado esquerdo da expressão acima e o
−−→
vetor EC. Definimos agora

−−→ −−→ −→ −−→ −→ −−→


EH = xEC HI = y EC IC = z EC (1.62)

Fazendo uso das equações 1.62, a expressão 1.61 torna-se


40 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado −−→ −−→ −−→ −−→


xEC + y EC + z EC = EC
ou

x+y+z = 1 (1.63)
Por fim, seguindo os mesmos passo para a última mediana, temos

Apenas uso pessoal


−−→ −−→ −−→ −−→
DG + GH + HB = DB (1.64)
Pela questão da proporcionalidade entre os vetores, temos
Análise Vetorial

−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→


DG = lDB GH = mDB HB = nDB (1.65)

Com isso, a expressão 1.64 fica


−−→ −−→ −−→ −−→
lDB + mDB + nDB = DB
ou

l+m+n=1 (1.66)
Nas equações 1.59, 1.62 e 1.65, os coeficientes l, m, n, r, s, t, x, y e z são números reais. Agora, vamos
considerar a soma vetorial
−−→ −−→ −−→
AG + GD = AD (1.67)
Note que a mediana é a linha reta que parte de um vértice e divide um lado em duas partes iguais. Portanto,
−−→ 1 −−→
AD = AC (1.68)
2
Assim, usando as equações 1.59, 1.65 e 1.68 em 1.67, encontramos
−−→ −−→ 1 −−→
rAF − lDB = AC (1.69)
2
Da figura, podemos escrever também
−−→ −−→ −→
AF = AB + BF
Mas, lembrando que AF é uma mediana,
−→ 1 −−→
BF = BC (1.70)
2
Portanto,
−−→ −−→ 1 −−→
AF = AB + BC (1.71)
2
Outra relação derivada da figura é
−−→ −−→ −−→
AD + DB = AB
que pode ser reescrita, mediante 1.68, como
−−→ −−→ 1 −−→
DB = AB − AC (1.72)
2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 41

K. D. Machado
Reunindo agora as equações 1.71 e 1.71 em 1.69, achamos
−−→ 1 −−→ −−→ 1 −−→ 1 −−→
r AB + BC − l AB − AC = AC
2 2 2
ou
−−→ r −−→ l −−→ 1 −−→
(r − l)AB + BC + AC = AC (1.73)
2 2 2

Apenas uso pessoal


Uma outra relação vetorial importante é
−−→ −−→ −−→
AC = AB + BC (1.74)
Análise Vetorial
Assim, mediante o uso de 1.74 em 1.73, ficamos com
−−→ r −−→ l −−→ −−→ 1 −−→ −−→
(r − l)AB + BC + AB + BC = AB + BC
2 2 2
ou
 l −−→ r + l −−→ 1 −−→ 1 −−→
r− AB + BC = AB + BC
2 2 2 2
de modo que achamos o sistema de equações

 l 1
r − =
2 2

 r + l 1
=
2 2
ou
(
2r − l = 1
r+l =1
Somando as duas equações, obtemos

3r = 2
de forma que
2
r= (1.75)
3
e
2 1
=
l =1− (1.76)
3 3
Portanto, determinamos dois dos nove coeficientes desconhecidos. Vamos considerar agora a relação vetorial
−−→ −−→ −−→
EH + HB = EB
Note que, como CE é uma mediana, temos
−−→ 1 −−→
EB = AB (1.77)
2
Por meio das equações 1.62, 1.65 e 1.77, obtemos
−−→ −−→ 1 −−→
xEC + nDB = AB (1.78)
2
Combinando as expressões 1.72 e 1.74 encontramos
42 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado −−→ −−→ 1 −−→ −−→


DB = AB − (AB + BC)
2
ou
−−→ 1 −−→ −−→
DB = (AB − BC) (1.79)
2
Além disso, da figura temos também

Apenas uso pessoal


−−→ −−→ −−→
EB + BC = EC
ou, empregando 1.77, temos
Análise Vetorial

−−→ 1 −−→ −−→


EC = AB + BC (1.80)
2
Agora, utilizamos as equações 1.79 e 1.80 em 1.78, obtendo
 1 −−→ −−→ 1 −−→ −−→ 1 −−→
x AB + BC + n (AB − BC) = AB
2 2 2
ou
x + n −−→  n −−→ 1 −−→
AB + x − BC = AB
2 2 2
o que resulta no sistema de equações

 x+n 1
 =
2 2
 n
x − = 0
2
ou

x + n = 1
2x = n

Assim, temos
1
x= (1.81)
3
e
2
n= (1.82)
3
Assim, determinamos mais duas incógnitas. A próxima relação vetorial importante é

→ −→ − →
IF + FC = IC (1.83)
Note que
−→ −→ 1 −−→
FC = BF = BC (1.84)
2
Mediante o uso das expressões 1.59, 1.62 e 1.84 na equação 1.83, achamos
−−→ 1 −−→ −−→
tAF + BC = z EC
2
Agora, reescrevemos essa expressão por intermédio das equações 1.71 e 1.80, ou seja,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 43

K. D. Machado
−−→ 1 −−→ 1 −−→  1 −−→ −−→
t AB + BC + BC = z AB + BC
2 2 2
ou

−−→ t + 1 −−→ z −−→ −−→


tAB + BC = AB + z BC
2 2
o que resulta no sistema

Apenas uso pessoal


 z

t =
2
t+1
Análise Vetorial

 =z
2
ou

2t = z
t + 1 = 2z

que resulta em

t + 1 = 4t
ou

1
t= (1.85)
3
e

2
z= (1.86)
3
Combinando as equações 1.60, 1.75 e 1.85, obtemos

2 1
+s+ =1 →s=0
3 3
Considerando agora 1.66, 1.76 e 1.82, achamos

1 2
+m+ =1 →m=0
3 3
Por fim, de 1.63, 1.81 e 1.86, ficamos com

1 2
+y+ =1 →y=0
3 3
Reunindo todos os coeficientes obtidos, temos

2 1
r= s=0 t=
3 3
1 2
x= y=0 z= (1.87)
3 3
1 2
l= m=0 n=
3 3
De modo que as equações 1.59, 1.62 e 1.65 tornam-se
44 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
−−→ 2 −−→ −→ −
→ 1 −−→
AG = AF GI = 0 IF = AF
3 3
−−→ 1 −−→ −→ −→ 2 −−→
EH = EC HI = 0 IC = EC
3 3
−−→ 1 −−→ −−→ −−→ 2 −−→
DG = DB GH = 0 HB = DB
3 3

Apenas uso pessoal


Conseqüentemente, mostramos que as medianas se encontram no mesmo ponto (G = H = I) e a distância do
vértice de onde parte a mediana até o ponto de encontro corresponde a dois terços do tamanho da mediana.
Análise Vetorial

1.5.3 Lei dos Cossenos e Lei dos Senos para Triângulos Planos
Existem duas relações geométricas muito importantes em se tratando de trigonometria plana. Vamos
obtê-las considerando a figura 1.27 abaixo.

Figura 1.27: Elementos de um triângulo qualquer.

O triângulo da figura tem vértices nos pontos A, B e C, e seus lados medem a, b e c. Os lados formam
ângulos descritos por α, β e γ. Inicialmente, vamos considerar a seguinte relação vetorial:
−−→ −−→ −−→
AC + CB = AB
que pode ser reescrita como
−−→ −−→ −−→
CB = AB − AC
Vamos efetuar o produto escalar dessa equação com ela mesma, ou seja,
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
CB · CB = (AB − AC) · (AB − AC)
ou
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
|CB|2 = |AB|2 + |AC|2 − 2AB · AC
Como

−−→ −−→ −−→


|CB| = a |AB| = c |AC| = b

temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 45

K. D. Machado −−→ −−→


a2 = c2 + b2 − 2AB · AC
−−→ −−→
Usando a definição do produto escalar 1.14 e lembrando que o ângulo entre AB e AC é dado por α, temos
−−→ −−→
a2 = c2 + b2 − 2|AB||AC| cos α
ou ainda,

Apenas uso pessoal


a2 = b2 + c2 − 2bc cos α
que é a lei dos cossenos 1.1, citada anteriormente. Assim, demonstramos essa relação por meio do uso do
Análise Vetorial
produto escalar. Vejamos agora uma outra relação importante e, para isso, considere a seguinte relação
vetorial:
−−→ −−→ −−→
AB + BC + CA = 0 (1.88)
ou seja, saı́mos de um ponto, demos a volta no triângulo e voltamos para o mesmo ponto. Vamos efetuar o
−−→
produto vetorial da equação 1.88 com o vetor AB, ou seja,
−−→ −−→ −−→ −−→
(AB + BC + CA) × AB = 0
ou, como o produto vetorial de dois vetores paralelos é nulo,
−−→ −−→ −−→ −−→
BC × AB + CA × AB = 0
ou ainda,
−−→ −−→ −−→ −−→
BC × AB = −CA × AB
Trocando a ordem do primeiro produto vetorial, temos
−−→ −−→ −−→ −−→
AB × BC = CA × AB (1.89)
−−→
Façamos agora o produto vetorial de 1.88 com o vetor BC, isto é,
−−→ −−→ −−→ −−→
(AB + BC + CA) × BC = 0
que fica
−−→ −−→ −−→ −−→
AB × BC + CA × BC = 0
ou
−−→ −−→ −−→ −−→
AB × BC = −CA × BC
ou ainda,
−−→ −−→ −−→ −−→
AB × BC = BC × CA (1.90)
Assim, reunindo as equações 1.89 e 1.90, temos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
AB × BC = BC × CA = CA × AB (1.91)
Note que, sendo os vetores iguais, seus módulos também são iguais, ou seja,
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
|AB × BC| = |BC × CA| = |CA × AB|
Agora, podemos reescrever essa expressão de uma forma mais interessante, se lembrarmos que
46 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
AB = −BA AC = −CA BC = −CB

de modo que podemos escrever


−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
| − BA × BC| = | − CB × CA| = | − AC × AB|
ou, como | − 1| = 1,

Apenas uso pessoal


−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
|BA × BC| = |CB × CA| = |AC × AB| (1.92)
Análise Vetorial
O módulo de um produto vetorial é dado pela equação 1.25, e envolve o ângulo formado pelos dois vetores,
quando são colocados numa mesma origem. Portanto, temos

−−→ −−→ −−→ −−→


|BA × BC| = |BA||BC| sen β
−−→ −−→ −−→ −−→
|CB × CA| = |CB||CA| sen γ
−−→ −−→ −−→ −−→
|AC × AB| = |AC||AB| sen α

ou

−−→ −−→
|BA × BC| = ac sen β
−−→ −−→
|CB × CA| = ab sen γ
−−→ −−→
|AC × AB| = bc sen α

Retornando na equação 1.92, temos

ac sen β = ab sen γ = bc sen α


ou, dividindo tudo por abc,

sen β sen γ sen α


= = (1.93)
b c a
que é a lei dos senos, a qual estabelece que, num triângulo, o seno de um dos ângulo internos é proporcional
ao tamanho do lado oposto a esse ângulo. Vejamos agora exemplos de aplicação.

Exemplo 1.10. Verifique a lei dos cossenos e a dos senos para um triângulo equilátero de lado ℓ.
Um triângulo equilátero tem os três lados iguais e também os três ângulos internos são iguais entre si
e valem 60◦ . Verificando a lei dos cossenos, temos
?
a2 = b2 + c2 − 2bc cos α
ou
?
ℓ2 = ℓ2 + ℓ2 − 2ℓℓ cos 60◦
e então,

? 1
ℓ2 = 2ℓ2 − 2ℓ2
2
ou
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 47

K. D. Machado
ℓ2 = ℓ2
de modo que a lei dos cossenos é verificada. A lei dos senos é automaticamente verificada pois os lados são
todos iguais e os ângulos também.

Apenas uso pessoal


1.5.4 Fórmula de Heron
Análise Vetorial
Uma outra relação interessante envolvendo triângulos planos consiste na fórmula de Heron para a área
de um triângulo, que é
p
S△ = s(s − a)(s − b)(s − c) (1.94)
onde

a+b+c
s= (1.95)
2
e a, b e c são os tamanhos dos lados dos triângulos. Vamos demonstrar agora a fórmula de Heron.

Demonstração. Para iniciar a demonstração, considere novamente a figura 1.27, e a equação 1.88,
−−→ −−→ −−→
AB + BC + CA = 0
Podemos reescrever essa equação como
−−→ −−→ −−→
−AB = BC + CA
e, efetuando o produto escalar dessa expressão com ela mesma, temos
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
(−AB) · (−AB) = (BC + CA) · (BC + CA)
ou
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→
|AB|2 = |BC|2 + |CA|2 + 2BC · CA
ou ainda,
−−→ −−→
c2 = a2 + b2 + 2BC · CA (1.96)
Agora, devemos lembrar que a área do triângulo corresponde à metade da área definida pelo paralelogramo
formado por dois vetores que formam o triângulo, ou seja, relembrando a equação 1.31,
−−→ −−→
|AB × BC|
S△ =
2
de modo que achamos
−−→ −−→
2S△ = |BC × CA|
Multiplicando essa expressão por ela mesma, ficamos com
2 −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
4S△ = |BC × CA|2 = (BC × CA) · (BC × CA) (1.97)
Agora, vamos relembrar a expressão 1.48,
48 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
(~a × ~b) · (~c × d~ ) = (~a · ~c)(~b · d~ ) − (~a · d~ )(~b · ~c)
que fica, para o nosso caso,
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
(BC × CA) · (BC × CA) = (BC · BC)(CA · CA) − (BC · CA)(CA · BC)
ou

Apenas uso pessoal


−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
(BC × CA) · (BC × CA) = a2 b2 − (BC · CA)2
ou ainda,
Análise Vetorial
−−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→ −−→
(BC × CA) · (BC × CA) = (ab + BC · CA)(ab − BC · CA) (1.98)
Utilizando a expressão 1.98 na equação 1.97, obtemos
2 −−→ −−→ −−→ −−→
4S△ = (ab + BC · CA)(ab − BC · CA) (1.99)
Agora, reescrevemos a expressão 1.96 como

−−→ −−→ c2 − a2 − b2
BC · CA =
2
Com isso, a expressão 1.99 pode ser escrita como
 c2 − a2 − b2  c2 − a2 − b 2 
2
4S△ = ab + ab −
2 2
ou

2 2ab + c2 − a2 − b2 2ab − c2 + a2 + b2
4S△ =
2 2
ou ainda,

2 c2 − (a − b)2 (a + b)2 − c2
4S△ =
2 2
que pode ser escrita como

2 [c − (a − b)][c + (a − b)] [(a + b) + c][(a + b) − c]


4S△ =
2 2
ou então, rearranjando alguns termos,

2 a+b+c c−a+b
4S△ = (a + b − c) (c + a − b) (1.100)
2 2
Lembrando agora a definição 1.95,

a+b+c
s=
2
temos

a + b + c = 2s
e

a + b = 2s − c a + c = 2s − b b + c = 2s − a
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 49

Assim, a equação 1.100 fica


K. D. Machado
2 2s − 2a
4S△ = s(2s − 2c) (2s − 2b)
2
ou
2
4S△ = 4s(s − c)(s − a)(s − b)
e, então,

Apenas uso pessoal


2
S△ = s(s − a)(s − b)(s − c)
Análise Vetorial
e, finalmente,
p
S△ = s(s − a)(s − b)(s − c)
que é a fórmula de Heron 1.94, agora demonstrada.

Exemplo 1.11. Verifique a fórmula de Heron para um triângulo retângulo de lados a = 3, b = 4 e c = 5.


Inicialmos calculando s, dado por
a+b+c 3+4+5
s= = =6
2 2
Aplicando a fórmula de Heron 1.94, temos
p
S△ = 6(6 − 3)(6 − 4)(6 − 5) = 6
A área do triângulo retângulo é dada por metade do produto entre base e altura, ou seja,
3×4
S△ = =6
2
e a fórmula de Heron está verificada.


50 1. CONCEITOS INICIAIS

1.5.5
K. D. Machado
Equação Vetorial da Reta
Vamos obter uma representação vetorial para uma dada reta no espaço através do uso de vetores. Para
tanto, vamos considerar dois pontos A e B situados no espaço, com coordenadas cartesianas (xA , yA , zA ) e
(xB , yB , zB ), respectivamente, com relação a alguma origem O de um sistema de coordenadas cartesianas,
como mostra a figura 1.28.

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.28: Elementos para obtenção da equação vetorial


da reta que passa pelos pontos A e B.

−−→ −−→
Na figura vemos os vetores ~rA = OA e ~rB = OB, que são as posições dos pontos A e B com relação
−−→
a O, e a posição ~r = OP de um ponto P qualquer da reta. As posições dos pontos A e B podem ser escritas
como
−−→
~rA = OA = xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂ (1.101)
e
−−→
~rB = OB = xB ı̂ + yB ĵ + zB k̂ (1.102)
−−→
Lembrando que o ponto A é dado por A(xA , yA , zA ), podemos escrever o vetor OA através de
−−→
~rA = OA = A − O (1.103)
ou seja, utilizando as coordenadas de A e O,
−−→
~rA = OA = (xA , yA , zA ) − (0, 0, 0) = (xA , yA , zA )
ou, reescrevendo em termos dos versores da base de coordenadas retangulares,
−−→
~rA = OA = xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂
que é a equação 1.101. De forma análoga, podemos escrever para o vetor ~rB
−−→
~rB = OB = B − O (1.104)
e, para um ponto P qualquer do espaço, de coordenadas (x, y, z), temos que a posição ~r desse ponto é dada
por
−−→
~r = OP = P − O (1.105)
o que resulta em

~r = (x, y, z) = xı̂ + y ĵ + z k̂ (1.106)


1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 51

K. D. Machado −−→
que é a equação 1.7 vista anteriormente. Voltando à figura 1.28, vemos que o vetor AB é um vetor que é
−−→
paralelo à reta que passa por A e B 10 . O vetor AP é também um vetor que é paralelo à reta, e ele é um
−−→
múltiplo do vetor AB, de modo que podemos escrever
−−→ −−→
AP = t AB (1.107)
sendo que o parâmetro t é um número real qualquer. Agora, podemos escrever também, considerando a
figura 1.28,

Apenas uso pessoal


−−→ −−→ −−→
OP = OA + AP
ou, usando 1.107,
Análise Vetorial
−−→
~r = ~rA + t AB (1.108)
que pode ser escrito como

~r = A + t (B − A) (1.109)
ou como

~r = (xA , yA , zA ) + t[(xB , yB , zB ) − (xA , yA , zA )] (1.110)


ou ainda como

~r = (xA , yA , zA ) + t(xB − xA , yB − yA , zB − zA ) (1.111)


As expressões 1.108–1.111 são todas versões da equação vetorial da reta, que é obtida conhecendo-se dois
−−→
pontos pelos quais a reta passa (A e B), ou então um ponto da reta (A) e um vetor paralelo a ela (AB).
Ela pode ser explicitamente escrita em termos vetoriais através de

~r = xA ı̂ + yA ĵ + zA k̂ + t[(xB − xA )ı̂ + (yB − yA ) ĵ + (zB − zA ) k̂]


ou

~r = [xA + t(xB − xA )]ı̂ + [yA + t(yB − yA )] ĵ + [zA + t(zB − zA )] k̂ (1.112)


Considerando agora a equação 1.106, podemos escrever

xı̂ + y ĵ + z k̂ = [xA + t(xB − xA )]ı̂ + [yA + t(yB − yA )] ĵ + [zA + t(zB − zA )] k̂


ou então,


x = xA + t(xB − xA )
y = yA + t(yB − yA ) (1.113)


z = zA + t(zB − zA )
que são as equações paramétricas da reta. Elas podem ser escritas ainda de uma outra forma, se isolarmos o
parâmetro t nas equações 1.113, ou seja,

x − xA y − yA z − zA
t= t= t=
xB − xA yB − yA zB − zA
de modo que

10 −−→ −−→ −−→


Note que o vetor BA também é paralelo à reta, e existe a relação AB = −BA. Assim, os resultados obtidos permanecem
−−→
válidos para BA.
52 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
x − xA y − yA z − zA
= = (1.114)
xB − xA yB − yA zB − zA
que é outra forma da equação paramétrica da reta. Note que estamos em três dimensões. Se nossa reta estiver
num plano, numa geometria bidimensional, então os pontos A e B terão apenas duas coordenadas, e nesse
caso a equação vetorial da reta 1.112 torna-se

~r = [xA + t(xB − xA )]ı̂ + [yA + t(yB − yA )] ĵ (1.115)

Apenas uso pessoal


onde foi feita a hipótese de que a reta está num plano paralelo ao plano xy. Neste caso, a equação paramétrica
da reta 1.114 torna-se
Análise Vetorial
x − xA y − yA
= (1.116)
xB − xA yB − yA
que pode ser ainda reescrita como
yB − yA
y − yA = (x − xA ) (1.117)
xB − xA
Definindo o coeficiente angular m através de
yB − yA
m= (1.118)
xB − xA
vemos que a equação 1.117 pode ser escrita na forma mais conhecida

y − yA = m(x − xA ) (1.119)
ou ainda, reescrevendo essa equação como

y = mx − mxA + yA
e definindo o coeficiente linear b através de

b = yA − mxA (1.120)
temos

y = mx + b (1.121)
que é a famosa equação geral da reta em duas dimensões. O coeficiente linear b corresponde ao ponto em que
a reta corta o eixo y (eixo das ordenadas), o que ocorre quando x = 0. O coeficiente angular m corresponde
à tangente do ângulo θ que a reta faz com o sentido positivo do eixo dos x (eixo das abcissas) medido no
sentido anti-horário, conforme ilustra a figura 1.29 abaixo. Vejamos agora alguns exemplos de aplicação das
idéias acima.

Exemplo 1.12. Obtenha a equação vetorial da reta que passa pelos pontos A(1,0,2) e B(2,-1,3).
Inicialmente, vamos determinar um vetor que pertence à reta, dado por
−−→
AB = B − A
ou
−−→
AB = (2, −1, 3) − (1, 0, 2) = (1, −1, 1) (1.122)
Então, usando o ponto A para escrever a equação vetorial, temos, da equação 1.109,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 53

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial
Figura 1.29: Elementos de uma reta numa geometria bidimensional.

~r = (1, 0, 2) + t(1, −1, 1)


ou

~r = (1 + t, −t, 2 + t)
que pode ser escrita em termos da base cartesiana como

~r = (1 + t)ı̂ − t ĵ + (2 + t) k̂ (1.123)
que é a equação vetorial da reta que passa por A e B, como pode ser explicitamente verificado se fizermos

−−→
t = 0 ⇒ ~r = ı̂ + 2 k̂ = (1, 0, 2) = OA
−−→
t = 1 ⇒ ~r = 2ı̂ − ĵ + 3 k̂ = (2, −1, 3) = OB

Em termos das equações paramétricas, essa reta é descrita por




x = 1 + t
y = −t (1.124)


z =2+t

Exemplo 1.13. Determine a equação de uma reta que seja perpendicular à reta obtida no exemplo anterior,
sendo que a reta a ser obtida deve passar pelo ponto C(4,-2,1) e deve cruzar a reta daquele exemplo.
O primeiro passo consiste em verificar se o ponto dado pertence ou não à reta descrita pelas equações 1.123
e 1.124. Note que xC = 4, o que, pela equação 1.124, faz com que t = 3. Entretanto, isso forneceria yC = −3
e zC = 5, o que não corresponde ao ponto C. Assim, C não pertence à reta obtida anteriormente. Para
obtermos uma reta perpendicular à reta dada, vamos considerar um vetor pertencente a ela como sendo
dado por

~v = (vx , vy , vz ) = vx ı̂ + vy ĵ + vz k̂ (1.125)
Agora, lembramos que um possı́vel vetor paralelo à reta original é dado por 1.122,
−−→
AB = (1, −1, 1)
−−→
Se ~v e AB devem ser perpendiculares, então deve ocorrer
54 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado −−→
~v · AB = 0
ou

(vx , vy , vz ) · (1, −1, 1) = 0


o que fornece

Apenas uso pessoal


vx − vy + vz = 0
ou
Análise Vetorial
vz = vy − vx (1.126)
Agora, como a reta deve passar pelo ponto C(4,-2,1), deve ocorrer, para essa reta,

~r⊥ = C + t⊥~v
onde t⊥ é o parâmetro associado à reta perpendicular, cujos pontos estão nas posições ~r⊥ . Usando a
equação 1.126, achamos

~r⊥ = (4, −2, 1) + t⊥ (vx , vy , vy − vx )


ou, em componentes cartesianas,

~r⊥ = (4 + vx t⊥ )ı̂ + (vy t⊥ − 2) ĵ + [1 + (vy − vx )t⊥ ] k̂ (1.127)


que é a equação vetorial de todas as retas que são perpendiculares à reta do exemplo anterior, e que passam
pelo ponto C. Agora, devemos considerar que as duas retas devem se interceptar em algum ponto. As
equações paramétricas das retas perpendiculares são


x⊥ = 4 + vx t⊥
y⊥ = vy t⊥ − 2 (1.128)


z⊥ = 1 + (vy − vx )t⊥
No ponto de intersecção deve ocorrer a igualdade entre as equações 1.124 e 1.128, de modo que temos


1 + t = 4 + vx t⊥
−t = vy t⊥ − 2


2 + t = 1 + (vy − vx )t⊥
ou ainda,


vx t⊥ = t − 3
vy t⊥ = 2 − t (1.129)


(vy − vx )t⊥ = t + 1
Combinando as primeiras duas equações em 1.129, temos

vy t⊥ − vx t⊥ = 2 − t − (t − 3)
ou

(vy − vx )t⊥ = 5 − 2t
e assim, a última equação em 1.129 pode ser resolvida para achar t, por meio de
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 55

K. D. Machado
t + 1 = 5 − 2t
ou
4
t=
3
o que faz com que o ponto D de intersecção das duas retas seja dado por

Apenas uso pessoal


 4 7

 xD = 1 + =

 3 3

4
yD = −
Análise Vetorial

 3


zD = 2 + 4 = 10

3 3
onde usamos 1.124 para determinar o ponto. Nesse caso, o vetor da reta perpendicular pode ser obtido
mediante
7 4 10 
~v = C − D = (4, −2, 1) − ,− ,
3 3 3
ou
5 2 7
~v = ı̂ − ĵ − k̂
3 3 3
Portanto, comparando com 1.125, achamos

5 2 7
vx = vy = − vz = −
3 3 3
Note que a relação 1.126 é satisfeita pelo vetor ~v obtido acima. Por fim, a equação da reta perpendicular
à reta do exemplo anterior, que passa pelo ponto C e ainda intercepta a reta inicial torna-se, fazendo uso
de 1.127,
5  2  7 
~r⊥ = 4 + t⊥ ı̂ − 2 + t⊥ ĵ + 1 − t⊥ k̂ (1.130)
3 3 3
que equivale às equações paramétricas

 5

 x⊥ = 4 + t⊥

 3

2
y⊥ = −2 − t⊥

 3


 z ⊥ = 1 − 7 t⊥

3

Após esses exemplos, podemos passar a outro assunto importante em Geometria.

1.5.6 Equação Vetorial do Plano


Na seção anterior obtivemos a equação vetorial de uma reta que passa por dois pontos A e B ou,
−−→
de forma equivalente, a equação da reta que passa por um ponto A e que é paralela a um dado vetor AB.
Agora, vamos determinar a equação vetorial de um plano que é definido por três pontos A(xA , yA , zA ),
−−→ −−→ −−→
B(xB , yB , zB ) e C(xC , yC , zC ), situados nas posições ~rA = OA, ~rB = OB e ~rC = OC com relação a um
sistema de coordenadas de origem em O, conforme mostra a figura 1.30.
56 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial
Figura 1.30: Elementos para obtenção da equação vetorial
do plano que passa pelos pontos A, B e C.

Nesse caso, a questão relevante é que podemos chegar a um ponto qualquer P(x, y, z) do plano partindo
de qualquer um dos pontos dados através de um caminho que seja feito paralelamente a dois vetores que
estejam no plano e que sejam não colineares. Por exemplo, a figura 1.31 ilustra dois possı́veis caminhos feitos
−−→ −−→
a partir do ponto A seguindo por segmentos paralelos aos vetores AB e AC e que terminam no ponto P.

Figura 1.31: Caminhos do ponto A até P feitos seguindo segmen-


−−→ −−→
tos de retas paralelas aos vetores AB e AC.

−−→
Na figura, vemos que podemos partir de A, seguir ao longo da reta paralela ao vetor AB até atingir o
−−→
ponto D e, a partir daı́, seguir pela reta paralela ao vetor DP até atingir o ponto P. Note que a reta DP
é paralela à reta AC, e o ponto E pertence à reta AC. Outra possibilidade consiste em partir de A, seguir
pela reta AC até atingir o ponto E e, a partir desse ponto, prosseguir ao longo da reta EP, que é paralela,
−−→
por construção, à reta AB, terminando então em P. Devemos lembrar que o vetor AD é um múltiplo do
−−→ −−→ −−→
vetor AB, e que o vetor AE é um múltiplo do vetor AC. Além disso, temos também

−−→ −→ −−→ −−→


AD = EP DP = AE

Assim, podemos escrever


−−→ −−→
AD = t AB (1.131)
e
−−→ −−→
AE = u AC (1.132)
onde t e u são números reais. Agora, temos que
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 57

K. D. Machado −−→ −−→ −−→ −−→


OP = OA + AD + DP
ou também, usando 1.131 e 1.131,

~r = A + t(B − A) + u(C − A) (1.133)


que pode ser reescrita como

Apenas uso pessoal


~r = (xA , yA , zA ) + t(xB − xA , yB − yA , zB − zA )
+ u(xC − xA , yC − yA , zC − zA ) (1.134)
Análise Vetorial

ou ainda, explicitando o caráter vetorial

~r = [xA + t(xB − xA ) + u(xC − xA )]ı̂ + [yA + t(yB − yA ) + u(yC − yA )] ĵ


+ [zA + t(zB − zA ) + u(zC − zA )] k̂ (1.135)

As expressões 1.133–1.135 são formas diferentes da equação vetorial do plano, envolvendo dois parâmetros,
−−→ −−→
t e u, um ponto qualquer do plano (A) e dois vetores quaisquer do plano, não-colineares (AB e AC),
os quais são conhecidos porque conhecemos os pontos B e C. Podemos obter as equações paramétricas se
considerarmos que ~r = (x, y, z), de modo que, da expressão 1.135, temos


x = xA + t(xB − xA ) + u(xC − xA )
y = yA + t(yB − yA ) + u(yC − yA ) (1.136)


z = zA + t(zB − zA ) + u(zC − zA )
Considerando a primeira equação em 1.136, podemos fazer

x − xA = t(xB − xA ) + u(xC − xA )
ou
x − xA xC − xA
t= −u (1.137)
xB − xA xB − xA
Usando 1.137 para escrever t na segunda equação em 1.136, temos
h x−x xC − xA i
A
y = yA + −u (yB − yA ) + u(yC − yA )
xB − xA xB − xA
ou

(x − xA )(yB − yA ) (xC − xA )(yB − yA )


y − yA = −u + u(yC − yA )
xB − xA xB − xA
ou ainda,

(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) (x − xA )(yB − yA )


u = y − yA −
xB − xA xB − xA
que fica

 
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) u =
(y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA )
58 1. CONCEITOS INICIAIS

e, finalmente,
K. D. Machado
(y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA )
u= (1.138)
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
o que faz com que 1.137 torne-se

x − xA (y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA ) xC − xA
t= −
xB − xA (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) xB − xA

Apenas uso pessoal


ou
Análise Vetorial
(x − xA )[(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )]
t=
[(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )](xB − xA )
(y − yA )(xB − xA )(xC − xA ) − (x − xA )(yB − yA )(xC − xA )

[(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )](xB − xA )
ou ainda,

(x − xA )(yC − yA )(xB − xA ) − (y − yA )(xB − xA )(xC − xA )


t=
[(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )](xB − xA )
e, por fim,

(x − xA )(yC − yA ) − (y − yA )(xC − xA )
t= (1.139)
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
Agora usamos as equações 1.138 e 1.139 na última equação em 1.136, ou seja,

h (x − x )(y − y ) − (y − y )(x − x ) i
A C A A C A
z = zA + (zB − zA )
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
h (y − y )(x − x ) − (x − x )(y − y ) i
A B A A B A
+ (zC − zA )
(yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
Temos assim,

 
(z − zA ) (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) =
 
(x − xA )(yC − yA ) − (y − yA )(xC − xA ) (zB − zA )
 
+ (y − yA )(xB − xA ) − (x − xA )(yB − yA ) (zC − zA )
ou

 
(z − zA ) (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) =
 
(x − xA ) (yC − yA )(zB − zA ) − (yB − yA )(zC − zA )
 
+ (y − yA ) (xB − xA )(zC − zA ) − (xC − xA )(zB − zA )
ou ainda,

 
(x − xA ) (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA )
 
+ (y − yA ) (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA )
 
+ (z − zA ) (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) = 0 (1.140)
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 59

Vamos definir os coeficientes


K. D. Machado
a = (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA )
b = (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA ) (1.141)
c = (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )

e assim, a expressão 1.140 torna-se

Apenas uso pessoal


a(x − xA ) + b(y − yA ) + c(z − zA ) = 0
Análise Vetorial
ou

ax − axA + by − byA + cz − czA = 0


ou ainda,

ax + by + cz = axA + byA + czA


e, definindo o coeficiente d através de

d = axA + byA + czA (1.142)


achamos, finalmente,

ax + by + cz = d (1.143)
que é conhecida como equação geral do plano, sendo que os coeficientes a, b, c e d são dados através das
equações 1.141 e 1.142, e envolvem três pontos que pertencem ao plano e que sejam não-colineares. Outro
modo de obtê-la consiste em considerar novamente a equação 1.140, que pode ser reescrita de uma forma
mais interessante. Primeiro, considere que
−−→
AB = B − A = (xB , yB , zB ) − (xA , yA , zA ) = (xB − xA , yB − yA , zB − zA ) (1.144)
e que
−−→
AC = C − A = (xC , yC , zC ) − (xA , yA , zA ) = (xC − xA , yC − yA , zC − zA ) (1.145)
Além disso, temos também que, observando a figura 1.31, achamos
−−→
AP = P − A = (x, y, z) − (xA , yA , zA ) = (x − xA , y − yA , z − zA ) (1.146)
−−→ −−→
Assim, o produto vetorial de AB com AC resulta em

ı̂ ĵ k̂
−−→ −−→
AB × AC = xB − xA yB − yA zB − zA
xC − xA yC − yA zC − zA

onde usamos 1.144 e 1.145. Desenvolvendo o produto, temos

−−→ −−→  
AB × AC = (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA ) ı̂
 
+ (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA ) ĵ
 
+ (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) k̂ (1.147)
−−→ −−→ −−→
Agora, efetuando o produto misto AP · AB × AC obtemos, usando as equações 1.146 e 1.147,
60 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
−−→ −−→ −−→  
AP · AB × AC = (x − xA )ı̂ + (y − yA ) jvec + (z − zA ) k̂
n 
· (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA ) ı̂
 
+ (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA ) ĵ
  o
+ (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA ) k̂

Apenas uso pessoal


ou, desenvolvendo os produtos,
Análise Vetorial
−−→ −−→ −−→  
AP · AB × AC = (x − xA ) (yB − yA )(zC − zA ) − (yC − yA )(zB − zA )
 
+ (y − yA ) (xC − xA )(zB − zA ) − (xB − xA )(zC − zA )
 
+ (z − zA ) (yC − yA )(xB − xA ) − (xC − xA )(yB − yA )
Comparando essa expressão com a equação 1.140 vemos que a condição para obtermos a equação do plano
é dada por
−−→ −−→ −−→
AP · AB × AC = 0 (1.148)
ou seja, o produto misto entre os três vetores deve se anular, isso por causa da interpretação geométrica do
−−→ −−→
produto misto, que fornece o volume do paralelepı́pedo definido pelos três vetores. Nessa equação, AB e AC
−−→
são dois vetores não-colineares pertencentes ao plano e AP é a posição de um ponto qualquer P do plano
−−→ −−→
em relação a um ponto A conhecido pertencente ao mesmo. Os vetores AB e AC podem ser dois vetores
dados ou então podemos obtê-los conhecendo três pontos A, B e C pertencentes ao plano. Vejamos agora
exemplos de aplicação.

Exemplo 1.14. Considerando os pontos A(2, 1, −2), B(0, 3, 2) e C(1, −1, 2), obtenha a equação vetorial do
plano que passa por eles.
Primeiramente vamos obter dois vetores que pertencem ao plano. O primeiro vetor é
−−→
AB = B − A = (0, 3, 2) − (2, 1, −2) = (−2, 2, 4) (1.149)
O segundo vetor fica
−−→
AC = C − A = (1, −1, 2) − (2, 1, −2) = (−1, −2, 4) (1.150)
Considerando o ponto B do plano, podemos escrever a equação vetorial do plano que passa pelos três pontos,
dada por 1.133, como
−−→ −−→
~r = B + tAB + uAC
ou, substituindo 1.149 e 1.150,

~r = (0, 3, 2) + t(−2, 2, 4) + u(−1, −2, 4)


ou

~r = (−2t − u, 3 + 2t − 2u, 2 + 4t + 4u)


ou ainda, explicitando os vetores,

~r = (−2t − u)ı̂ + (3 + 2t − 2u) ĵ + (2 + 4t + 4u) k̂


que é a equação vetorial do plano que é definido pelos três pontos A, B e C dados acima.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 61

K. D. Machado 

Exemplo 1.15. Considere um vetor ~v = aı̂ + b ĵ + c k̂ e um ponto P(x0 , y0 , z0 ). Determine a equação do


plano que é perpendicular ao vetor ~v e contém o ponto P.
Para determinarmos a equação do plano, vamos considerar um ponto Q qualquer do plano, que tem
uma posição dada por Q(x, y, z), ou também por

Apenas uso pessoal


~r = xı̂ + y ĵ + z k̂
Obtemos um vetor pertencente ao plano por meio de
Análise Vetorial

−−→
PQ = Q − P = (x, y, z) − (x0 , y0 , z0 ) = (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) (1.151)
Se ~v é um vetor perpendicular ao plano, então deve ocorrer que o produto escalar de ~v com qualquer vetor
do plano deve se anular. Portanto, devemos ter
−−→
~v · PQ = 0
ou, usando 1.151,

(a, b, c) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0
que fica

a(x − x0 ) + b(y − y0 ) + c(z − z0 ) = 0


Podemos reescrever essa expressão como

ax − ax0 + by − by0 + cz − cz0 = 0


ou

ax + by + cz = ax0 + by0 + cz0


Podemos identificar o lado direito com o coeficiente d definido pela expressão 1.142,

d = axA + byA + czA


de modo que achamos

ax + by + cz = d
que possui a mesma forma que a equação geral do plano dada por 1.143. Note que isso indica que, dado
um vetor qualquer ~v = (a, b, c), os planos que são perpendiculares a esse vetor terão como equação geral de
plano uma equação similar à obtida acima, ou seja, os coeficientes de x, y e z serão dados pelas respectivas
componentes do vetor ~v nessas direções. O termo independente d dependerá do ponto P por onde o plano
deve passar, e é ele que diferencia um plano perpendicular a ~v de outro. Ele será dado por
−−→
d = ~v · OP


62 1. CONCEITOS INICIAIS

1.5.7
K. D. Machado
Equação Geral da Esfera
Vejamos agora como obter a equação geral de uma esfera de raio R cujo centro se localiza no ponto C
dado pelo vetor ~c = x0 ı̂+y0 ĵ+z0 k̂. Devemos lembrar que a esfera é o local geométrico definido pelo conjunto
de pontos P do espaço tridimensional que estão todos a uma mesma distância R do centro C da esfera. Essa
condição será usada para obter a equação geral da esfera. Para definirmos quantidades relevantes, considere
a figura 1.32.

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.32: Elementos de uma esfera de raio R.

Na figura, vemos um ponto qualquer P da esfera, cuja posição é dada pelo vetor
−−→
~r = OP = xı̂ + y ĵ + z k̂ = (x, y, z)
A posição relativa de P em relação ao centro C da esfera é dada pelo vetor
−−→
CP = P − C = (x, y, z) − (x0 , y0 , z0 ) = (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = ~r − ~rC (1.152)
O módulo desse vetor corresponde à distância entre C e P, que é o raio da esfera. Assim, devemos ter
−−→
|CP| = R
ou, elevando ao quadrado,
−−→
|CP|2 = R2
O módulo ao quadrado do vetor é dado pelo produto escalar dele com ele mesmo, de modo que

(~r − ~rC ) · (~r − ~rC ) = R2 (1.153)


ou, usando 1.152,

(x − x0 , y − y0 , z − z0 ) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = R2
que fica

(x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 = R2 (1.154)
A equação 1.153 representa a forma geral da equação vetorial da esfera de raio R e centro C situado em
~c = (x0 , y0 , z0 ), enquanto a expressão 1.154 corresponde à equação geral da esfera. Em duas dimensões, temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 63

K. D. Machado
um caso importante para essa equação, que corresponde à equação geral de uma circunferência. Considerando
que a circunferência esteja num plano paralelo ao plano xy, fazemos z = z0 = 0 na expressão acima e obtemos

(x − x0 )2 + (y − y0 )2 = R2 (1.155)
que descreve uma circunferência de raio R e centro C(x0 , y0 ) num plano paralelo ao plano xy. Note que
estamos usando o sistema de coordenadas retangulares. Estas equações mudam se mudarmos o sistema de
coordenadas, conforme veremos depois. Vejamos agora um exemplo.

Apenas uso pessoal



Exemplo 1.16. Uma esfera está centrada no ponto C(1, 1, 1) e passa pelo ponto A(2, 1, 1 + 3). Determine
a equação geral dessa esfera.
Análise Vetorial
O primeiro passo consiste em determinarmos o raio da esfera e, para fazer isso, devemos lembrar que
a distância entre o centro e o ponto A é igual ao raio. A posição relativa de A em relação a C vale
−−→ √ √
CA = A − C = (2, 1, 1 + 3) − (1, 1, 1) = (1, 0, 3)
Seu módulo vale

q
−−→ −−→ −−→
|CA| = CA · CA
q √ √
= (1, 0, 3) · (1, 0, 3)

= 1+3
−−→
|CA| = 2

Portanto, o raio da esfera vale R = 2. Agora, aplicamos a equação 1.154, e obtemos

(x − 1)2 + (y − 1)2 + (z − 1)2 = 4


que é a equação geral da esfera procurada.

Após estudarmos algumas equações de figuras geométricas importantes, vamos passar a algumas de-
sigualdadas vetoriais de grande aplicação.

1.5.8 Desigualdades Vetoriais


Existem algumas desigualdades vetoriais importantes não apenas em Matemática, mas também em
Fı́sica, que podem ser facilmente demonstradas usando as propriedades dos vetores já vistas. A primeira
delas consiste na desigualdade de Cauchy, que estabelece que, dados dois vetores ~a e ~b, deve ocorrer

|~a · ~b| 6 |~a||~b| (1.156)


Vejamos a demonstração dessa desigualdade.

Demonstração. Para mostrar a desigualdade de Cauchy dada pela equação 1.156, vamos escrever um vetor
~c tal que

~c = ~a + α~b (1.157)
Agora, vamos considerar o produto escalar de ~c com ele mesmo. O resultado dessa operação é
64 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
~c · ~c = c2
Agora, temos que o módulo de ~c deve ser não-negativo, ou seja,

c2 > 0
Portanto,

Apenas uso pessoal


~c · ~c > 0
Utilizando agora a expressão 1.157, obtemos
Análise Vetorial

(~a + α~b ) · (~a + α~b ) > 0


ou

~a · ~a + ~a · α~b + α~b · ~a + α~b · α~b > 0


ou ainda,

a2 + 2α~a · ~b + α2 b2 > 0 (1.158)


Agora, consideramos que

~a · ~b
α=− (1.159)
b2
sendo que devemos ter b 6= 0. Nesse caso, a inequação 1.158 torna-se

~a · ~b ~ (~a · ~b )2 2
a2 − 2 ~a · b + b >0
b2 b4
ou

(~a · ~b )2 (~a · ~b )2
a2 − 2 + >0
b2 b2
ou ainda,

a2 b2 − (~a · ~b )2 > 0
de modo que

a2 b2 > (~a · ~b )2
ou, extraindo a raiz quadrada,

|~a · ~b| 6 |a||b|


e, finalmente,

|~a · ~b| 6 |~a||~b|


que é a desigualdade de Cauchy dada pela inequação 1.156, agora demonstrada. Note que, se b = 0, então
~b = 0, e nesse caso a desigualdade 1.156 torna-se trivialmente uma igualdade, pois ~a · ~b = 0 e |~b| = 0.

Após essa demonstração, vejamos um exemplo simples de aplicação.


1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 65

K. D. Machado
Exemplo 1.17. Verifique a desigualdade de Cauchy para os vetores ~a = 2ı̂ − 5 ĵ + 3 k̂ e ~b = −3ı̂ − ĵ + 2 k̂.
Vamos calcular primeiro

a2 = ~a · ~a = (2ı̂ − 5 ĵ + 3 k̂) · (2ı̂ − 5 ĵ + 3 k̂)


ou

a2 = 4 + 25 + 9 = 38

Apenas uso pessoal


Portanto,

a = |~a| = 38
Análise Vetorial

Agora, determinamos

b2 = ~b · ~b = (−3ı̂ − ĵ + 2 k̂) · (−3ı̂ − ĵ + 2 k̂)


ou
√ √
b= 9 + 1 + 4 = 14
Por fim, calculamos

~a · ~b = (2ı̂ − 5 ĵ + 3 k̂) · (−3ı̂ − ĵ + 2 k̂)


ou

~a · ~b = −6 + 5 + 6 = 5
Assim, temos

√ √ √
|~a · ~b| = 5 |~a||~b| = 38 14 = 2 133

|~a · ~b| < |~a||~b|


em acordo com a desigualdade de Cauchy 1.156.

Após a desigualdade de Cauchy, podemos passar à desigualdade de Schwarz, que estabelece que, dados
dois vetores ~a e ~b, deve ocorrer

~a · ~b 6 |~a||~b| (1.160)
Vejamos sua demonstração.
Demonstração. Para demonstrar a desigualdade de Schwarz 1.160, vamos considerar o vetor

~c = α~a + β~b (1.161)


2
Já sabemos que ~c · ~c = c > 0. Portanto, mediante o uso da expressão 1.161, temos

~c · ~c = (α~a + β~b ) · (α~a + β~b )


ou
66 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
~c · ~c = α2 a2 + β 2 b2 + 2αβ~a · ~b
de modo que

α2 a2 + β 2 b2 + 2αβ~a · ~b > 0 (1.162)


Agora, vamos considerar que

Apenas uso pessoal


α = |~b| = b
e
Análise Vetorial
β = −|~a| = −a
onde, por hipótese, a 6= 0 e b 6= 0. Nesse caso, a expressão 1.162 torna-se

b2 a2 + a2 b2 − 2ab~a · ~b > 0
ou

2a2 b2 > 2ab~a · ~b


11
ou ainda ,

ab > ~a · ~b
Reescrevendo ligeiramente essa expressão, temos

~a · ~b 6 |~a||~b|
que é a desigualdade de Schwarz 1.160, agora demonstrada. Note que se a ou b forem nulos, então a desi-
gualdade torna-se trivialmente uma igualdade.

Tendo demonstrado a desigualdade de Schwarz, vamos aplicá-la em um exemplo.


Exemplo 1.18. Verifique se os vetores definidos no exemplo 1.17 satisfazem a desigualdade de Schwarz 1.160.
Utilizando os valores numéricos já determinados no exemplo 1.17, temos


~a · ~b = 5 |~a||~b| = 2 133

e a desigualdade é satisfeita.

A última desigualdade a ser demonstrada é a desigualdade triangular, que estabelece que, dados dois
vetores ~a e ~b, devemos ter

|~a + ~b| 6 |~a| + |~b| (1.163)


Vamos à prova!

11 Lembre-se que a = |~a| > 0 e b = |~b| > 0, de modo que o sinal da desigualdade não é alterado ao dividirmos os dois lados da
equação por ab.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 67

K. D. Machado
Demonstração. Começamos a demonstração definindo

~c = ~a + ~b
e calculando

~c · ~c = (~a + ~b ) · (~a + ~b )
ou

Apenas uso pessoal


c2 = a2 + b2 + 2~a · ~b
ou ainda,
Análise Vetorial

|~a + ~b|2 = a2 + b2 + 2~a · ~b


Agora, da desigualdade de Schwarz 1.160, temos

~a · ~b 6 |~a||~b|
Portanto, podemos escrever

a+~b|2
|~ a|+|~b|)2
(|~
z }| { z }| {
a2 + b2 + 2~a · ~b 6 a2 + b2 + 2|~a||~b|
ou

|~a + ~b|2 6 (|~a| + |~b|)2


Extraindo a raiz quadrada de ambos os lados, temos

|~a + ~b| 6 |~a| + |~b|


que é a desigualdade triangular 1.163, que está agora demonstrada. Essa desigualdade tem uma interpretação
geométrica simples se imaginarmos que os vetores ~a, ~b e ~a + ~b formam um triângulo, de modo que a soma
dos tamanhos de dois lados de um triângulo é sempre maior que o terceiro lado.

Exemplo 1.19. Usando novamente os vetores dados no exemplo 1.17, verifique se eles satisfazem a desi-
gualdade triangular.
Vamos determinar o vetor

~c = ~a + ~b
ou

~c = 2ı̂ − 5 ĵ + 3 k̂ + (−3ı̂ − ĵ + 2 k̂) = −ı̂ − 6ĵ + 5 k̂


Seu módulo vale
√ √
|~c| = |~a + ~b| = 1 + 36 + 25 = 62 ≈ 7, 9
Para os módulos de ~a e ~b temos

√ √
|~a| = 38 |~b| = 14

e assim,
68 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado √ √
|~a| + |~b| = 38 + 14 ≈ 9, 9
e então,

|~a + ~b| 6 |~a| + |~b|


e a desigualdade triangular é verificada para os vetores ~a e ~b.

Apenas uso pessoal



Análise Vetorial
1.5.9 Dependência e Independência Linear
Uma questão relevante sobre vetores consiste em sabermos se um dado conjunto de vetores é formado
por elementos que são linearmente dependentes ou não, pois, dependendo da situação, tal conjunto pode ser
uma base para o espaço vetorial considerado. Assim, temos algumas definições.

Definição 1.2 (Combinação Linear). Considere um conjunto consistindo de n elementos formado pelos
vetores {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn }. O vetor V~ dado por

V~ = a1~v1 + a2~v2 + · · · + an~vn (1.164)


é chamado de combinação linear dos vetores pertencentes ao conjunto {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn } com coeficientes
a1 , a2 , . . . , an .

Exemplo 1.20. Dados {~v1 , ~v2 , ~v3 }, onde ~v1 = ı̂ + 2 k̂, ~v2 = 2 ĵ e ~v3 = 4 ĵ − k̂, e os coeficientes a1 = 1,
a2 = −2 e a3 = 2, obtenha o vetor V~ que é combinação linear dos vetores dados com estes coeficientes.
Precisamos calcular o vetor V~ tal que

V~ = 1(ı̂ + 2 k̂) − 2(2 ĵ) + 2(4 ĵ − k̂)


ou

V~ = ı̂ + 2 k̂ − 4 ĵ + 8 ĵ − 2k̂
ou ainda,

V~ = ı̂ + 4 ĵ
é uma combinação linear dos vetores dados com os coeficientes definidos acima.


Após definirmos uma combinação linear, podemos falar sobre dependência e independência linear.

Definição 1.3 (Dependência Linear ou LD). Considere um conjunto de vetores dado por {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn },
que geram um vetor V~ por meio de uma combinação linear com coeficientes a1 , a2 , . . . , an , ou seja,

V~ = a1~v1 + a2~v2 + · · · + an~vn (1.165)


Considere que V~ seja o vetor nulo, isto é, temos a combinação linear

a1~v1 + a2~v2 + · · · + an~vn = 0 (1.166)


Se a equação 1.166 for satisfeita com pelo menos um dos coeficientes a1 , a2 , . . . , an não-nulos, o conjunto de
vetores {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn } é dito ser linearmente dependente, ou LD.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 69

K. D. Machado
Exemplo 1.21. Verifique se os vetores ~v1 = ı̂, ~v2 = ĵ e ~v3 = 2ı̂ − 3 ĵ são LD.
Precisamos verificar se a equação 1.166,

a1~v1 + a2~v2 + · · · + an~vn = 0


pode ou não ser satisfeita por coeficientes {an } não todos nulos. Então, fazendo a combinação, temos

a1 ı̂ + a2 ĵ + a3 (2ı̂ − 3 ĵ) = 0

Apenas uso pessoal


ou

(a1 + 2a3 )ı̂ + (a2 − 3a3 ) ĵ = 0


Análise Vetorial

o que é satisfeito se

a1 = −2a3 a2 = 3a3

Portanto, para qualquer conjunto de coeficientes (−2a3 , 3a3 , a3 ), a combinação linear resulta no vetor nulo.
O resultado (0, 0, 0) é possı́vel, mas também (−2, 3, 1), por exemplo, de modo que os vetores são linearmente
dependentes, ou LD.

Definição 1.4 (Independência Linear ou LI). Considere um conjunto de vetores dado por {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn },
que geram um vetor V~ por meio de uma combinação linear com coeficientes a1 , a2 , . . . , an , ou seja,

V~ = a1~v1 + a2~v2 + · · · + an~vn


Considere que V~ seja o vetor nulo, isto é, temos a combinação linear

a1~v1 + a2~v2 + · · · + an~vn = 0


Se a equação 1.166 for satisfeita apenas quando todos os coeficientes a1 , a2 , . . . , an são nulos, sem exceção,
então o conjunto de vetores {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn } é dito ser linearmente independente, ou LI.

Exemplo 1.22. Verifique se os vetores definidos no exemplo 1.20 são LI.


Do exemplo 1.20, temos

~v1 = ı̂ + 2 k̂ ~v2 = 2 ĵ ~v3 = 4 ĵ − k̂

Montando a combinação linear 1.166, achamos

a1 (ı̂ + 2 k̂) + a2 (2 ĵ) + a3 (4 ĵ − k̂) = 0


ou

a1 ı̂ + 2a1 k̂ + 2a2 ĵ + 4a3 ĵ − a3 k̂ = 0


ou ainda,

a1 ı̂ + (2a2 + 4a3 ) ĵ + (2a1 − a3 ) k̂ = 0


de modo que
70 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
a1 = 0 a3 = 0 a2 = 0

Como todos os coeficientes devem ser necessariamente nulos para termos uma combinação linear nula, os
vetores são linearmente independentes, ou LI.

Apenas uso pessoal


Note que, em duas dimensões, dois vetores são LI desde que um não seja múltiplo do outro, ou seja,
eles não devem ser colineares. Portanto, o produto vetorial deles não pode ser nulo. Se for nulo, então, os
dois vetores são LD. Em três dimensões, por sua vez, três vetores são LI desde que eles não sejam todos
Análise Vetorial
coplanares, ou seja, o produto misto entre eles não pode se anular para que eles sejam LI. Se isso ocorrer,
então os vetores são LD. Vejamos agora uma aplicação importante envolvendo as idéias acima.

1.5.10 Bases Recı́procas


Uma base de um espaço vetorial é um conjunto mı́nimo de vetores que permite que qualquer vetor
pertencente ao espaço vetorial seja escrito como uma combinação linear dos vetores da base. Conforme já
vimos, os versores ı̂, ĵ e k̂ formam uma base para o espaço tridimensional, e essa base é ortonormal, ou seja,
os vetores da base são ortogonais entre si e além disso estão normalizados. Entretanto, nem sempre os vetores
da base são ortogonais entre si ou estão normalizados. Nesse caso, temos uma base genérica {~v1 , ~v2 , . . . , ~vn },
e um vetor V~ qualquer pode ser escrito como uma combinação linear dos vetores da base, com coeficientes
ai , i = 1, . . . , n, isto é,
n
X
V~ = ai~vi (1.167)
i=1

Em particular, em três dimensões, temos

V~ = a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 (1.168)


~1 , V
Considere agora que tenhamos uma segunda base em três dimensões dada pelos vetores {V ~2 , V
~3 }, e os
vetores das duas bases satisfazem as seguintes equações:

~v1 · V~1 = 1 ~v1 · V~2 = 0 ~v1 · V~3 = 0 (1.169a)


~v2 · V~1 = 0 ~v2 · V~2 = 1 ~v2 · V~3 = 0 (1.169b)
~v3 · V~1 = 0 ~v3 · V~2 = 0 ~v3 · V~3 = 1 (1.169c)

Definindo a delta de Kronecker δij através de


(
1, i = j
δij = (1.170)
0, i =
6 j
podemos escrever as relações 1.169 como

~j = δij
~vi · V (1.171)
Agora, considere as equações

~1 = 0
~v2 · V ~1 = 0
~v3 · V
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 71

K. D. Machado
Essas duas expressões indicam que V ~1 é ortogonal tanto a ~v2 como a ~v3 , de modo que ele deve ser paralelo
ao vetor que resulta de ~v2 × ~v3 . Assim, considerando que ele possa ser um múltiplo desse vetor, temos

~1 = t ~v2 × ~v3
V
onde t é um coeficiente. Com isso, a relação

~v1 · V~1 = 1

Apenas uso pessoal


torna-se

~v1 · (t ~v2 × ~v3 ) = 1


Análise Vetorial
ou

t ~v1 · ~v2 × ~v3 = 1


ou ainda,
1
t=
~v1 · ~v2 × ~v3
~1 fica
de modo que V

~1 = ~v2 × ~v3
V (1.172)
~v1 · ~v2 × ~v3
Agora, considerando 1.171, podemos escrever

~2 = 0
~v1 · V ~2 = 0
~v3 · V

~2 é ortogonal ao plano formado por ~v1 e ~v3 , o que faz com que possamos escrever
ou seja, V

V~2 = r ~v3 × ~v1


onde r é um coeficiente, que podemos determinar considerando a relação

~v2 · V~2 = 1
ou

~v2 · (r ~v3 × ~v1 ) = 1


ou ainda,

r ~v2 · ~v3 × ~v1 = 1


Usando a propriedade 1.39 para produtos mistos, temos
1
r=
~v1 · ~v2 × ~v3
~2 seja
o que faz com que V

~2 = ~v3 × ~v1
V (1.173)
~v1 · ~v2 × ~v3
~3 , vemos que ele satisfaz as relações
Por fim, para o vetor V
72 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
~3 = 0
~v1 · V ~3 = 0
~v2 · V

de modo que ele é ortogonal ao plano formado por ~v1 e ~v2 . Portanto,

~3 = s ~v1 × ~v2
V
onde s é um outro coeficiente, obtido da relação

Apenas uso pessoal


~v3 · V~3 = 1
Análise Vetorial
ou

~v3 · (s ~v1 × ~v2 ) = 1


ou ainda,

s ~v3 · ~v1 × ~v2 = 1


Usando novamente a propriedade 1.39 para produtos mistos, temos
1
s=
~v1 · ~v2 × ~v3
e então,

~3 = ~v1 × ~v2
V (1.174)
~v1 · ~v2 × ~v3
Portanto, a base recı́proca de uma base {~v1 , ~v2 , ~v3 } é dada pelas equações 1.172–1.174, isto é,

~1 = ~v2 × ~v3
V (1.175a)
~v1 · ~v2 × ~v3
~2 = ~v3 × ~v1
V (1.175b)
~v1 · ~v2 × ~v3
~3 = ~v1 × ~v2
V (1.175c)
~v1 · ~v2 × ~v3

É interessante notar que a idéia de base recı́proca é muito utilizado em Fı́sica do Estado Sólido, especifi-
camente em Cristalografia. Um caso particular importante ocorre quando a base é a base de coordenadas
retangulares, ou seja, {ı̂, ĵ, k̂}. Nesse caso, temos

ı̂ · ĵ × k̂ = ı̂ ·ı̂ = 1
e as equações 1.175 tornam-se

~1 = ĵ × k̂
V
ı̂ · ĵ × k̂
~2 = k̂ × ı̂
V
ı̂ · ĵ × k̂
~3 = ı̂ × ĵ
V
ı̂ · ĵ × k̂
ou seja,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 73

K. D. Machado
~1 = ı̂
V
~2 = ĵ × ı̂
V
~3 = k̂
V

Conseqüentemente, a base recı́proca da base retangular é ela própria. Note que a base recı́proca da base

Apenas uso pessoal


recı́proca é a base original, ou seja,

~2 × V
V ~3
Análise Vetorial
~v1 = (1.176a)
~1 · V
V ~2 × V~3
~3 × V
V ~1
~v2 = (1.176b)
~1 · ~v2 × V~3
V
~1 × V
V ~2
~v3 = (1.176c)
~1 · V
V ~3
~2 × V

Agora, considerando as expressões 1.175a e 1.176a, temos

~1 · ~v1 = ~v2 × ~v3 V~2 × V~3


V · (1.177)
~v1 · ~v2 × ~v3 V~1 · V
~2 × V~3
O lado esquerdo, pela equação 1.171, vale 1. O lado direito pode ser reescrito se relembrarmos a identi-
dade 1.48,

(~a × ~b) · (~c × d~ ) = (~a · ~c)(~b · d~ ) − (~a · d~ )(~b · ~c)


de modo que

(~v2 × ~v3 ) · (V ~3 ) = (~v2 · V


~2 × V ~2 )(~v3 · V
~3 ) − (~v2 · V
~3 )(~v3 · V
~2 )

ou, usando a equação 1.171,

~2 × V~3 ) = 1
(~v2 × ~v3 ) · (V
Portanto, a expressão 1.177,
1
1=
~1 · V
(~v1 · ~v2 × ~v3 )(V ~3 )
~2 × V
ou

~1 · V
(~v1 · ~v2 × ~v3 )(V ~3 ) = 1
~2 × V

de modo que

~1 · V ~3 =
~2 × V 1
V (1.178)
~v1 · ~v2 × ~v3
ou seja, o volume do paralelepı́pedo definido pelos vetores da base recı́proca é o inverso (ou recı́proco) do
volume do paralelepı́pedo definido pelos vetores da base inicial, o que também justifica o nome de base
recı́proca. Considere agora que escrevemos um vetor qualquer V~ na base original, que é uma base qualquer,
não necessariamente ortogonal, mediante

V~ = a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 (1.179)


74 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
onde os ai , i = 1, . . . , 3 são coeficientes apropriados. Com o uso da base recı́proca podemos determinar estes
~1 da base recı́proca, ou seja,
coeficientes. Considere o produto escalar entre essa equação e o vetor V

V~ · V~1 = (a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 ) · V


~1

ou
1 0 0
z }| { z }| { z }| {

Apenas uso pessoal


V~ · V ~1 +a2 ~v2 · V
~1 = a1 ~v1 · V ~1 +a3 ~v3 · V
~1

ou ainda,
Análise Vetorial

V~ · V
~ 1 = a1

Efetuando o produto escalar da equação 1.179 sucessivamente com V~2 e V~3 , é imediato mostrar que

ai = V~ · V
~i (1.180)
que é a expressão que fornece os coeficientes ai da combinação linear 1.179. De forma similar, podemos
escrever o vetor V~ em termos da base recı́proca, ou seja,

V~ = A1 V ~3
~1 + A2 V~2 + A3 V (1.181)
onde Ai , i = 1 . . . , 3 são coeficientes apropriados à base recı́proca. Nesse caso, efetuando o produto escalar
dessa expressão com ~v1 , temos

V~ · ~v1 = (A1 V ~3 ) · ~v1


~1 + A2 V~2 + A3 V

ou
1 0 0
z }| { z }| { z }| {
~ ~ ~ ~3 · ~v1
V · ~v1 = A1 V1 · ~v1 +A2 V2 · ~v1 +A3 V
ou ainda,

V~ · ~v1 = A1
Procedendo do mesmo modo para os outros coeficientes, temos

Ai = V~ · ~vi (1.182)
É importante notar que, se a base recı́proca for idêntica à original, como ocorre com a base retangular, então
os coeficientes ai e Ai serão idênticos. Considere agora que queremos efetuar o produto escalar entre dois
vetores V~ e U~ . Ao estudarmos o produto escalar, na seção 1.2, vimos que um modo simples de representá-lo
consiste em utilizar matrizes, na forma dada pela equação 1.18,
 
 bx
~a · ~b = ax ay az · by  = ax bx + ay by + az bz
bz
Note que o primeiro vetor aparece transposto. O significado disso é que o primeiro vetor (~a) deve ser escrito
em termos da base recı́proca à base em que o segundo vetor (~b) está expresso. Portanto, se quisermos obter
o produto escalar entre os vetores V~ e U~ , ou seja, V~ · U~ , devemos escrever um deles na base original e o
outro na base recı́proca. Como o produto escalar é comutativo, podemos optar por escrever qualquer um dos
dois numa das bases. Por exemplo, considere que
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 75

K. D. Machado
V~ = A1 V~1 + A2 V~2 + A3 V~3 (1.183a)
U~ = b1~v1 + b2~v2 + b3~v3 (1.183b)

onde os coeficientes Ai e bi são obtidos por meio das expressões 1.180 e 1.182, podemos obter o produto
escalar V~ · U~ mediante

Apenas uso pessoal


V~ · U~ = (A1 V~1 + A2 V ~3 ) · (b1~v1 + b2~v2 + b3~v3 )
~2 + A3 V

ou
Análise Vetorial

V~ · U~ = A1 b1 V ~1 · ~v3 + A2 b1 V
~1 · ~v1 + A1 b2 V~1 · ~v2 + A1 b3 V ~2 · ~v2
~2 · ~v1 + A2 b2 V
+ A2 b3 V ~3 · ~v1 + A3 b2 V
~2 · ~v3 + A3 b1 V ~3 · ~v3
~3 · ~v2 + A3 b3 V

Considerando a relação 1.171, a equação acima se simplifica tornando-se

V~ · U~ = A1 b1 + A2 b2 + A3 b3 (1.184)
que é similar à forma dada em 1.16, válida para coordenadas retangulares. Podemos também considerar que
os vetores são escritos como

V~ = a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 (1.185a)


U~ = B1 V~1 + B2 V~2 + B3 V~3 (1.185b)

e assim,

U~ · V~ = (B1 V ~2 + B3 V~3 ) · (a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 )


~ 1 + B2 V

ou, desenvolvendo os produtos, já usando a relação 1.171 para efetuar as devidas simplificações, obtemos

U~ · V~ = a1 B1 + a2 B2 + a3 B3 (1.186)
Os produtos escalares dados pelas expressões 1.184 ou 1.186, apesar de envolverem coeficientes diferentes,
resultarão no mesmo valor. Quando a base recı́proca é idêntica à original, como ocorre com a base de
coordenadas retangulares, os coeficientes ai e Ai são iguais, bem como bi e Bi , e não é preciso fazer distinção
entre eles. Com relação ao produto vetorial entre os vetores, temos, escrevendo-os na mesma base 12 ,

12 Note que, em princı́pio, poderı́amos ter calculado os produtos escalares entre V~ e U~ usando as formas dadas pelas
equações 1.187. Nesse caso, terı́amos

V~ · U~ = (a1 ~v1 + a2 ~
v2 + a3 ~
v3 ) · (b1 ~
v1 + b2 ~
v2 + b3 ~
v3 )
ou, desenvolvendo,

V~ · U~ = a1 b1~v1 · ~v1 + a1 b2~v1 · ~v2 + a1 b3~v1 · ~v3 + a2 b1 ~


v2 · ~v1 + a2 b2 ~
v2 · ~v2 + a2 b3 ~
v2 · ~
v3
+ a3 b1~v3 · ~v1 + a3 b2~v3 · ~v2 + a3 b3~v3 · ~v3
Agora, devemos lembrar que a base é qualquer, não necessariamente ortogonal, e nem os vetores da base estão normalizados.
Portanto, podemos efetuar apenas algumas simplificações, ou seja,

V~ · U~ = a1 b1 v12 + (a1 b2 + a2 b1 )~ v2 + (a1 b3 + a3 b1 )~


v1 · ~ v3 + a2 b2 v22 + a2 b3~v2 · ~
v1 · ~ v3 + a3 b3 v32
Essa forma para o produto escalar não é semelhante à dada em 1.16, e, por isso, não é utilizada.
76 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
V~ = a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 (1.187a)
U~ = b1~v1 + b2~v2 + b3~v3 (1.187b)

de modo que

V~ × U~ = (a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 ) × (b1~v1 + b2~v2 + b3~v3 )

Apenas uso pessoal


ou, desenvolvendo,
Análise Vetorial

V~ × U~ = a1 b1~v1 × ~v1 + a1 b2~v1 × ~v2 + a1 b3~v1 × ~v3 + a2 b1~v2 × ~v1 + a2 b2~v2 × ~v2
+ a2 b3~v2 × ~v3 + a3 b1~v3 × ~v1 + a3 b2~v3 × ~v2 + a3 b3~v3 × ~v3

Efetuando algumas simplificações, temos

V~ × U~ = (a1 b2 − a2 b1 )~v1 × ~v2 + (a1 b3 − a3 b1 )~v1 × ~v3 + (a2 b3 − a3 b2 )~v2 × ~v3 (1.188)
Agora, relembramos as equações 1.175, que definem uma base recı́proca em termos da base original,

~1 = ~v2 × ~v3
V
~v1 · ~v2 × ~v3
~2 = ~v3 × ~v1
V
~v1 · ~v2 × ~v3
~3 = ~v1 × ~v2
V
~v1 · ~v2 × ~v3
Portanto, a expressão 1.188 torna-se

V~ × U~ = (a1 b2 − a2 b1 )(~v1 · ~v2 × ~v3 )V


~3 + (a1 b3 − a3 b1 )(~v1 · ~v2 × ~v3 )(−V
~2 )
~1
+ (a2 b3 − a3 b2 )(~v1 · ~v2 × ~v3 )V

ou, utilizando a relação 1.178,

~1 · V ~3 =
~2 × V 1
V
~v1 · ~v2 × ~v3
obtemos, efetuando algumas manipulações,

~1
V
V~ × U~ = (a2 b3 − a3 b2 )
~1 · V~2 × V~3
V
V~2 V~3
+ (a3 b1 − a1 b3 ) + (a1 b2 − a2 b1 )
~1 · V
V ~3
~2 × V ~1 · V
V ~3
~2 × V

que pode ser reescrita como


1 h i
V~ × U~ = ~1 + (a3 b1 − a1 b3 )V
(a2 b3 − a3 b2 )V ~2 + (a1 b2 − a2 b1 )V
~3 (1.189)
~1 · V
V ~3
~2 × V
ou, na forma de um determinante de matrizes, como
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 77

K. D. Machado
V~ ~2
V ~3
V

1 1
~ ~
V ×U = a a2 a3 (1.190)
~1 · V
V ~3 1
~2 × V
b1 b2 b3
Note que as formas dadas pelas equações 1.189 e 1.190 acima são similares às dadas pelas expressões 1.28
e 1.29, válidas para coordenadas retangulares. De fato, lembrando que a base recı́proca da base retangular
é ela mesma, e ela está normalizada, vemos que as expressões 1.189 e 1.190 recaem nas equações 1.28 e 1.29
quando a base {ı̂, ĵ, k̂} é utilizada. Outro fato a comentar é que, nas expressões 1.189 e 1.190, os vetores V~ e

Apenas uso pessoal


U~ aparecem expressos na base original ({~v1 , ~v2 , ~v3 }), mediante os coeficientes ai e bi , respectivamente, mas
o resultado final para o produto vetorial fica escrito na base recı́proca {V ~1 , V
~2 , V
~3 }. Isso é importante porque,
~
Análise Vetorial
ao efetuarmos um produto misto com um terceiro vetor W , escrito na base original em termos de

W~ = c1~v1 + c2~v2 + c3~v3


obtemos, usando a expressão 1.189,

W~ · V~ × U~ = (c1~v1 + c2~v2 + c3~v3 )


1 h i
· ~1 + (a3 b1 − a1 b3 )V
(a2 b3 − a3 b2 )V ~2 + (a1 b2 − a2 b1 )V
~3
~1 · V
V ~2 × V~3

ou, empregando a relação 1.171,


1 h i
W~ · V~ × U~ = c1 (a2 b3 − a3 b2 ) + c2 (a3 b1 − a1 b3 ) + c3 (a1 b2 − a2 b1 )
~1 · V~2 × V
V ~3
que pode ser reescrito como

c1 c2 c3
1
W~ · V~ × U~ = a1 a2 a3 (1.191)

V1 · V2 × V~3
~ ~ b1 b2 b3
ou, usando a relação 1.178,

c1 c2 c3

W~ · V~ × U~ = ~v1 · ~v2 × ~v3 a1 a2 a3 (1.192)
b1 b2 b3
Ambas as formas acima são similares à expressão 1.35 obtida anteriormente para o produto misto, e nela
recaem quando a base considerada é a base retangular, pois ı̂ · ĵ × k̂ = 1. Vejamos agora um exemplo de
aplicação.

Exemplo 1.23. Uma base é definida pelos vetores ~v1 = ĵ, ~v2 = ı̂ + ĵ e ~v3 = ı̂ + k̂. Considerando essa base,
pede-se sua base recı́proca, os coeficientes do vetor V~ = 2ı̂ − 3 ĵ + k̂ nas duas bases e os produtos escalar e
vetorial entre os vetores V~ e U~ = ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂, feitos nestas bases.
O primeiro passo consiste em determinar a base recı́proca de

~v1 = ĵ ~v2 = ı̂ + ĵ ~v3 = ı̂ + k̂ (1.193)

Para isso, usamos as relações 1.175. Inicialmente vamos calcular, usando a expressão 1.35,

0 1 0

~v1 · ~v2 × ~v3 = 1 1 0 = −1 (1.194)
1 0 1
78 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Agora, determinamos, mediante 1.29,

ı̂ ĵ k̂

~v2 ~v3 = 1
× 1 0 = ı̂ − k̂ − ĵ
1 0 1
ou

~v2 × ~v3 = ı̂ − ĵ − k̂ (1.195)

Apenas uso pessoal


Em seguida, calculamos

ı̂ ĵ k̂
Análise Vetorial

~v3 × ~v1 = 1 0 1 = k̂ − ı̂
0 1 0
ou

~v3 × ~v1 = −ı̂ + k̂ (1.196)


Por fim, determinamos

ı̂ ĵ k̂

~v1 × ~v2 = 0 1 0 = −k̂ (1.197)
1 1 0
Assim, reunindo as expressões 1.194–1.197 em 1.175, achamos

~1 = ı̂ − ĵ − k̂
V
−1
~2 = −ı̂ + k̂
V
−1
~3 = −k̂
V
−1
ou

~1 = −ı̂ + ĵ + k̂
V (1.198a)
~2 = ı̂ − k̂
V (1.198b)
~3 = k̂
V (1.198c)

que é a base recı́proca da base original. É interessante calcularmos



−1 1 1

~1 · V~2 × V~3 = 1 0 −1 = −1
V (1.199)

0 0 1
de modo que verificamos que

~1 · V ~3 =
~2 × V 1
V
~v1 · ~v2 × ~v3

Aqui é interessante ressaltar um aspecto importante. Na seção 1.3, definimos a regra da mão direita para produtos vetoriais,

a qual fornece a direção e sentido do produto vetorial entre dois vetores no espaço. Essa regra vale apenas para sistemas dextrógiros.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 79

K. D. Machado
Um sistema dextrógiro, definido por uma base {~
v1 , ~ v3 }, é aquele em que ocorre ~
v2 , ~ v2 × ~
v1 · ~ v3 > 0, ou seja, o produto misto dos três

vetores da base é positivo quando os vetores que formam o produto misto são considerados na mesma ordem em que aparecem na

definição da base, e corresponde ao volume do paralelepı́pedo descrito pelos vetores da base. Quando o produto misto é negativo, ou

seja, ~ v2 × ~
v1 · ~ v3 < 0, temos uma base levógira, e um sistema de coordenadas levógiro, no qual o produto vetorial segue uma regra

da mão esquerda, que é idêntica à regra da mão direita, só que se usam os dedos da outra mão. Em princı́pio, a menos que seja

explicitamente dito, todas as bases usadas em sistemas fı́sicos são bases dextrógiras.

Apenas uso pessoal


O próximo passo consiste em determinar os coeficientes do vetor

V~ = 2ı̂ − 3 ĵ + k̂
Análise Vetorial

nas bases original e recı́proca. Considerando inicialmente a base original, temos

V~ = a1~v1 + a2~v2 + a3~v3 (1.200)


Há dois modos de proceder. No primeiro deles, usamos a equação 1.180,

ai = V~ · V
~i

para determinar os coeficientes em 1.200. Temos, então, para o primeiro coeficiente,

a1 = V~ · V
~1 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (−ı̂ + ĵ + k̂) = −2 − 3 + 1 = −4

onde fizemos uso de 1.198a. O segundo coeficiente fica, empregando 1.198b,

a2 = V~ · V~2 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (ı̂ − k̂) = 2 − 1 = 1


e, por fim, o terceiro coeficiente torna-se, mediante 1.198c,

a3 = V~ · V
~3 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (k̂) = 1

de modo que a expressão 1.200 fica

V~ = −4~v1 + ~v2 + ~v3 (1.201)


O segundo modo de proceder consiste em considerar o vetor V~ como uma combinação linear dos vetores ~vi ,
os quais, por sua vez, são expressos em termos de {ı̂, ĵ, k̂} por meio de 1.193. Nesse caso, temos, usando as
equações 1.200 e 1.193,

V~ = a1 (ĵ) + a2 (ı̂ + ĵ) + a3 (ı̂ + k̂)


ou, substituindo o valor de V~ ,

2ı̂ − 3 ĵ + k̂ = a1 ĵ + a2 ı̂ + a2 ĵ + a3 ı̂ + a3 k̂
que fica

2ı̂ − 3 ĵ + k̂ = (a2 + a3 )ı̂ + (a1 + a2 )ĵ + a3 k̂


Portanto,

a3 = 1 a2 = 1 a1 = −4

em acordo com o obtido anteriormente. Os coeficientes na base recı́proca são obtidos de forma semelhante.
Primeiro escrevemos V~ por intermédio de
80 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
V~ = A1 V
~1 + A2 V~2 + A3 V
~3 (1.202)
Em seguida, usamos a relação 1.182,

Ai = V~ · ~vi
de modo que achamos

Apenas uso pessoal


A1 = V~ · ~v1 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (ĵ) = −3

A2 = V~ · ~v2 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (ı̂ + ĵ) = 2 − 3 = −1


Análise Vetorial

A3 = V~ · ~v3 = (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) · (ı̂ + k̂) = 2 + 1 = 3


o que faz com que a expressão 1.202 torne-se

V~ = −3V
~1 − V
~2 + 3V
~3 (1.203)
Após termos obtido o vetor V~ em termos das duas bases, o próximo passo é escrever o vetor U~ , dado por

U~ = ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂
em termos das duas bases. Em relação à base original, temos

U~ = b1~v1 + b2~v2 + b3~v3 (1.204)


Agora, usamos as equações 1.180 e 1.198 para obter o coeficiente b1 , mediante

b1 = U~ · V
~1 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (−ı̂ + ĵ + k̂) = −1 − 2 + 5 = 2

O coeficiente b2 fica

b2 = U~ · V
~2 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (ı̂ − k̂) = 1 − 5 = −4

e o coeficiente b3 torna-se

b3 = U~ · V
~3 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (k̂) = 5 = 5

de modo que a expressão 1.204 fica

U~ = 2~v1 − 4~v2 + 5~v3 (1.205)


Em termos da base recı́proca, o vetor U~ pode ser escrito como

U~ = B1 V ~3
~1 + B2 V~2 + B3 V (1.206)
Em seguida, usamos a relação 1.182, e achamos, para B1 , o valor

B1 = U~ · ~v1 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (ĵ) = −2


O coeficiente B2 fica

B2 = U~ · ~v2 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (ı̂ + ĵ) = 1 − 2 = −1

B3 = U~ · ~v3 = (ı̂ − 2 ĵ + 5 k̂) · (ı̂ + k̂) = 1 + 5 = 6


1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 81

K. D. Machado
Portanto, a expressão 1.206 torna-se

U~ = −2V
~1 − V
~2 + 6V
~3 (1.207)
que expressa o vetor U~ em termos da base recı́proca. Podemos efetuar agora o produto escalar V~ · U~ .
Considerando V~ na base original, dado por 1.201, e U~ na base recı́proca, dado por 1.207, temos

V~ · U~ = (−4~v1 + ~v2 + ~v3 ) · (−2V


~1 − V~2 + 6V
~3 )

Apenas uso pessoal


ou

V~ · U~ = 8 − 1 + 6 = 13
Análise Vetorial

Considerando agora V~ na base recı́proca, dado por 1.203, e U~ na base original, dado por 1.205, obtemos

V~ · U~ = (−3V
~1 − V
~2 + 3V
~3 ) · (2~v1 − 4~v2 + 5~v3 )

ou

V~ · U~ = −6 + 4 + 15 = 13
Note que, conforme dissemos anteriormente, o resultado final para o produto escalar independe de qual vetor
está escrito em qual base. Vejamos agora o produto vetorial, que é dado pela expressão 1.190,

V ~2 V
~1 V ~3
1
V~ × U~ = a1 a2 a3
~1 · V
~3
~2 × V
V b1 b2 b3
Portanto, considerando as expressões 1.199, 1.201 e 1.205, temos

V~1 V ~2 V ~3

1
V~ × U~ = −4 1 1 = −(5V~1 + 2V~2 + 16V
~3 − 2V
~3 + 4V
~1 + 20V
~2 )
−1
2 −4 5
ou

V~ × U~ = −9V
~1 − 22V
~2 − 14V
~3

Podemos expressar esse resultado em termos da base retangular se usarmos as equações 1.198, de modo que

V~ × U~ = −9(−ı̂ + ĵ + k̂) − 22(ı̂ − k̂) − 14 k̂


ou

V~ × U~ = −13ı̂ − 9 ĵ − k̂ (1.208)
Note que também podemos efetuar o produto vetorial considerando que V~ e U~ estejam expressos na base
~i }. Nesse caso, a expressão 1.190 fica
{V

~v1 ~v2 ~v3
1
V~ × U~ = A1 A2 A3

~v1 · ~v2 × ~v3
B1 B2 B3
ou, usando 1.203 e 1.207,

~v1 ~v2 ~v3
1
V~ × U~ = −3 −1 3 = −(−6~v1 − 6~v2 + 3~v3 − 2~v3 + 18~v2 + 3~v1 )

−1
−2 −1 6
82 1. CONCEITOS INICIAIS

ou ainda,
K. D. Machado
V~ × U~ = 3~v1 − 12~v2 − ~v3
Substituindo os valores dos ~vi , dados pela equação 1.193, temos

V~ × U~ = 3ĵ − 12(ı̂ + ĵ) − (ı̂ + k̂) = −13ı̂ − 9 ĵ − k̂


que é um resultado idêntico ao obtido quando os vetores estão inicialmente escritos na base {~vi }, e expresso

Apenas uso pessoal


pela equação 1.208. Podemos passar agora a um exemplo importante em Cristalografia.


Análise Vetorial

Exemplo 1.24. Uma rede cristalina bastante comum e importante é dada pela rede cúbica de face centrada
(CFC), que é formada por células cúbicas contendo elementos nos seus vértices e também nos centros das
faces, como mostra a figura 1.33. Alguns exemplos de cristais que se organizam nesse sistema são os formados
por cristais de nı́quel (Ni), de prata (Ag), de chumbo (Pb), de ouro (Au), etc. A célula da rece CFC é descrita
por vetores de base dados por

Figura 1.33: Uma célula cúbica de face centrada. As esferas


cinzas estão nos centros das faces, e as pretas nos
vértices do cubo.

a
~a1 = (ĵ + k̂) (1.209a)
2
a
~a2 = (k̂ + ı̂) (1.209b)
2
a
~a3 = (ı̂ + ĵ) (1.209c)
2
onde a é o parâmetro de rede, que corresponde à aresta do cubo, como mostra a figura 1.34. Determine os
vetores da base recı́proca à base CFC.

Para determinar a base recı́proca da rede CFC, vamos precisar das equações 1.175. Inicialmente vamos
calcular

0 a a

2 2
a a a3 a3 a3
~a1 · ~a2 × ~a3 = 0 = + = (1.210)
2 2 8 8 4
a a
0
2 2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 83

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Figura 1.34: Base da rece CFC.
Análise Vetorial

onde usamos as equações 1.209. Agora, vamos calcular os vetores da base recı́proca. Iniciamos com a equa-
ção 1.175a,

~b1 = ~a2 × ~a3


~a1 · ~a2 × ~a3
ou, usando 1.209 e 1.210,

~b1 = 13 a (k̂ + ı̂) × a (ı̂ + ĵ)


a 2 2
4

que fica
2
~b1 = 4 a (ĵ − ı̂ + k̂)
a3 4
ou

~b1 = 1 (ĵ + k̂ − ı̂) (1.211)


a
O próximo vetor da base é obtido usando a equação 1.175b e os vetores dados em 1.209a e 1.209c, isto é,

~b2 = ~a3 × ~a1


~a1 · ~a2 × ~a3
ou

~b2 = 13 a (ı̂ + ĵ) × a (ĵ + k̂)


a 2 2
4

que fica
2
~b2 = 4 a (k̂ − ĵ + ı̂)
3
a 4
ou

~b2 = 1 (ı̂ + k̂ − ĵ) (1.212)


a
Por fim, o último vetor da base recı́proca é obtido mediante o uso de 1.175c, 1.209a e 1.209b, e fica

~b3 = ~a1 × ~a2


~a1 · ~a2 × ~a3
ou
84 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
~b3 = 13 a (ĵ + k̂) × a (k̂ + ı̂)
a 2 2
4

ou ainda,
2
~b3 = 4 a (ı̂ − k̂ + ĵ)
3
a 4

Apenas uso pessoal


e, finalmente,

~b3 = 1 (ı̂ + ĵ − k̂) (1.213)


Análise Vetorial
a
Assim, a base recı́proca é dada pelos vetores 1.211–1.213, ou seja,

~b1 = 2 ĵ + k̂ − ı̂ (1.214a)
a 2
~b2 = 2 ı̂ + k̂ − ĵ (1.214b)
a 2
~b3 = 2 ı̂ + ĵ − k̂
(1.214c)
a 2
onde apenas reescrevemos os vetores de uma forma que será mais interessante posteriormente. O exercı́cio ??
trata de outra rede cúbica relevante, a rede cúbica de corpo centrado (CCC).

1.5.11 Formas Usuais Para Alguns Tipos de Forças


Certamente uma das aplicações mais importantes envolvendo as idéias de vetores consiste na descri-
ção das forças que podem agir nos sistemas fı́sicos. Nesse sentido, formas matemáticas para alguns tipos
de forças que surgem com muita frequência tem muita relevância, e a manipulação de tais formas envolve,
naturalmente, operações vetoriais. Vejamos, então, algumas dessas forças.

I Força Gravitacional
A primeira forma de força que vamos considerar consiste na força gravitacional produzida por uma
partı́cula pontual 1, de massa m1 , sobre uma partı́cula pontual 2, de massa m2 , situada a uma distância d
de m1 . A figura 1.35 ilustra as grandezas relevantes.

Figura 1.35: Sistema formado por duas partı́culas


interagindo gravitacionalmente.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 85

K. D. Machado
A força gravitacional entre as duas partı́culas é atrativa, e orienta-se de tal modo que ela é paralela à reta
que une as duas partı́culas. O módulo da força gravitacional é dado por

Gm1 m2
F= (1.215)
d2
onde G é a constante de gravitação universal, que vale, no SI,

Apenas uso pessoal


G = 6,67 × 10−11 N.m2 /kg2 (1.216)
Para escrever uma expressão vetorial para a força produzida pela partı́cula 1 sobre a 2, vamos precisar
Análise Vetorial
introduzir mais algumas grandezas, que são as posições ~r1 e ~r2 das duas partı́culas, medidas com relação a
alguma origem O, e a posição relativa ~r12 entre elas, dada pela equação 1.12, conforme mostra a figura 1.36.

Figura 1.36: Grandezas para determinação da força


gravitacional entre duas partı́culas.

Da figura, vemos que a distância entre as partı́culas é dada pelo módulo do vetor ~r12 , ou seja,

d = |~r12 | = r12
A força produzida pela partı́cula 1 sobre a 2 é paralela e no sentido oposto ao de ~r12 . Podemos criar um
versor r̂12 mediante a equação 1.13, ou seja,

~r12 ~r12 ~r12


r̂12 = = = (1.217)
|~r12 | r12 d

Assim, temos que F ~ k r̂12 . Com essa informação, e com o módulo da força sendo dado por 1.215, podemos
escrever a força gravitacional produzida pela partı́cula 1 sobre a partı́cula 2 por meio de

~1→2 = − Gm1 m2 r̂12


F (1.218)
2
r12
Note que a força produzida pela partı́cula 2 sobre a 1, usando as mesmas grandezas, vale

~2→1 = Gm1 m2 r̂12


F (1.219)
2
r12
de modo que

~2→1 = −F
F ~ 1→2

Vejamos agora um exemplo de aplicação.


86 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado

Figura 1.37: Dois objetos pontuais de massas m e

Apenas uso pessoal


3m interagindo gravitacionalmente.
Análise Vetorial
Exemplo 1.25. Dois objetos pontuais de massas m e 3m estão separados por uma distância d, como mostra
a figura 1.37.

1. Determine a força gravitacional que um objeto exerce sobre o outro. Todas as unidades são do SI.

2. Supondo que o objeto de massa 3m seja afastado para uma distância 3d, quais os novos valores para
as forças gravitacionais?

Para responder o item 1, vamos considerar como objeto 1 aquele que tem massa m, e o objeto 2 é o
que tem massa 3m. Vamos inicialmente calcular a força exercida por 1 sobre 2, mediante 1.218, isto é, como
r12 = d e r̂12 = ı̂,

~1→2 = − Gm(3m) ı̂
F
d2
ou
2
~1→2 = − 3Gm ı̂
F (1.220)
d2
A força de 2 sobre 1 fica, por sua vez, usando r̂21 = −ı̂,

~2→1 = − Gm(3m) (−ı̂)


F
d2
ou
2
~2→1 = 3Gm ı̂
F (1.221)
d2

Agora, considere que o objeto 2 seja transferido para uma distância 3d do objeto 1. Nesse caso, a força
de 1 sobre 2 fica

~1→2 = − Gm(3m) ı̂
F
(3d)2
ou
2
~1→2 = − Gm ı̂
F (1.222)
3d2
enquanto a força de 2 sobre 1 fica

~2→1 = − Gm(3m) (−ı̂)


F
(3d)2
ou
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 87

K. D. Machado 2
~2→1 = Gm ı̂
F (1.223)
3d2
Em termos dos módulos das forças, a razão entre a situação final e a situação final é
Gm2
Ffinal 3d2
= 3Gm2
Finicial

Apenas uso pessoal


d2
ou

Ffinal Gm2 d2 1
Análise Vetorial
= =
Finicial 3d2 3Gm2 9
onde usamos as equações 1.220 e 1.222. Vejamos outro exemplo interessante.

Exemplo 1.26. Um objeto esférico de massa m1 = 2 kg está situado em A(1, 1, 1). Um segundo objeto
esférico, de massa m2 = 4 kg, está situado em B(2, −2, 3). Determine a força gravitacional exercida por um
sobre o outro. Todas as unidades são do SI.
Para determinar a força gravitacional, inicialmente vamos precisar determinar posição relativa entre
eles, para, em seguida, obter a distância de separação. Precisamos usar a equação 1.11 para determinar a
posição relativa, ou seja,
−−→
~rAB = AB = (2 − 1)ı̂ + (−2 − 1) ĵ + (3 − 1) k̂
ou

~rAB = ı̂ − 3 ĵ + 2 k̂
de modo que
√ √
rAB = |~rAB | = 1 + 9 + 4 = 14 m
Assim, o versor r̂AB fica

~rAB ı̂ − 3 ĵ + 2 k̂
r̂AB = = √
rAb 14
Agora, utilizando a equação 1.218 para determinar a força da esfera 1 sobre a 2, achamos

~1→2 = − Gm1 m2 r̂AB


F 2
rAB
ou
−11
~1→2 = − 6,67 × 10
F
× 2 × 4 ı̂ − 3 ĵ + 2 k̂

14 14
que fica

~1→2 = −1,02 × 10−11 (ı̂ − 3 ĵ + 2 k̂) N


F
Note que a força gravitacional entre objetos de massas comuns no dia-a-dia é pouco intensa. A situação
torna-se diferente quando objetos astronômicos são considerados, como mostra o próximo exemplo.


88 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Exemplo 1.27. Determine a força gravitacional exercida pela Terra sobre a Lua quando a Lua está no
perigeu e no apogeu, sabendo que a massa da Terra vale MT = 5,97 × 1024 kg, a massa da Lua é de
ML = 0,073 × 1024 kg, a distância entre elas no perigeu vale dp = 0,363 × 106 km e a distância no apogeu é
de da = 0,406 × 106 km 13 .
Vamos iniciar determinando a força gravitacional para o perigeu, que é a posição em que Terra e Lua
estão mais próximas, e que fornece, portanto, o maior valor para a força. Nesse caso, usando a equações 1.215
e 1.216 para determinar o módulo da força, temos, lembrando de usar as grandezas no SI,

Apenas uso pessoal


p 6,67 × 10−11 × 5,97 × 1024 × 0,073 × 1024
FT→L =
(0,363 × 109 )2
ou
Análise Vetorial

p
FT→L = 2,206 × 1020 N (1.224)
Note que a Lua exerce uma força de mesma intensidade sobre a Terra. Vetorialmente poderı́amos escrever

~p
F 20 p
T→L = −2,206 × 10 r̂T-L (1.225)
onde r̂pT-L é um versor orientado da Terra para a Lua, no perigeu. Para o apogeu, situação na qual é máxima
a distância entre Terra e Lua, temos

a 6,67 × 10−11 × 5,97 × 1024 × 0,073 × 1024


FT→L =
(0,406 × 106 )2
ou
p
FT→L = 1,763 × 1020 N (1.226)
e, vetorialmente,

~a
F 20 a
T→L = −1,763 × 10 r̂T-L (1.227)
onde r̂aT-L é um versor orientado da Terra para a Lua, no apogeu. Note que há uma diminuição em 20% na
força gravitacional exercida pela Terra sobre a Lua entre os dois extremos de aproximação. De forma similar,
há a mesma diminuição na força exercida pela Lua sobre a Terra.


~ asso-
Ligado ao conceito de força gravitacional, podemos introduzir a idéia de campo gravitacional G,
ciado a cada massa e definido operacionalmente mediante

~M→m
F
G~ = lim (1.228)
m→0 m
onde F ~M→m é a força gravitacional produzida por um objeto de massa M (chamado de massa geradora
ou massa-fonte) sobre outro objeto, de massa m (chamado de massa de prova ou massa-teste). Na defini-
ção 1.228, ao dividir a força pela massa m, obtemos uma grandeza que é independente de m, estando
associada apenas à massa geradora M . Utilizando a expressão 1.218, podemos obter o campo gravitacional
produzido por uma massa pontual M mediante

− GMm
r2
r̂Mm
G~ = lim Mm

m→0 m

13 Estes dados foram obtidos da NASA (National Aeronautics and Space Administration), e estão disponı́veis em
http://nssdc.gsfc.nasa.gov/planetary/factsheet/
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 89

que fica
K. D. Machado
GM
G~ = − 2 r̂ (1.229)
r
onde r é a distância entre o objeto de massa M e o ponto do espaço em que queremos o campo, e r̂ é o versor
posição-relativa, que parte de M em direção ao ponto onde queremos o campo. Note que, se um objeto de
massa m for colocado num campo gravitacional, surge uma força gravitacional sobre ele, dada por

Apenas uso pessoal


~ = mG~
F (1.230)
Se estivermos muito próximos à superfı́cie da Terra (ou de qualquer outro planeta ou satélite), então a
distância r entre o planeta e um ponto próximo a sua superfı́cie pode ser escrita como
Análise Vetorial

r =R+d
onde d é a distância do ponto até a superfı́cie do astro e R é o raio do mesmo. Como R ≫ d, podemos
aproximar

r =R+d≈R (1.231)
e a equação 1.229 pode ser aproximada por
GM
G~ = − 2 n̂ (1.232)
R
onde n̂ é um versor normal à superfı́cie do astro, para fora do mesmo. Como G, R e M são fixos, a fração que
aparece em 1.232 tem um valor numérico caracterı́stico para cada astro. No caso da Terra (suposta sendo
uma esfera perfeita), temos, no SI,
GMT
gT = ≈ 9,80 m/s2 (1.233)
RT2
e então, podemos escrever

~gT = G~ = −9,80 n̂ m/s2 (1.234)


O campo gravitacional tem unidade de aceleração de fato, pode ser interpretado como sendo a aceleração
que é produzida sobre um objeto de massa m que seja sujeito apenas à força gravitacional produzida por
outro objeto. Assim, a força gravitacional agindo sobre objetos situados próximos à superfı́cie de um astro
pode ser dada por, recordando 1.229,

~ = m~g
F (1.235)
Note que essa expressão só vale se a condição 1.231 for válida. Podemos agora passar a alguns exemplos
interessantes. A tabela 1.2 será útil nesses exemplos.
Exemplo 1.28. Determine o campo gravitacional produzido pel Sol, cuja massa vale MS = 1,989 × 1030 kg,
sobre a Terra, quando a Terra está no periélio.
Para determinar o campo gravitacional pedido, vamos utilizar a equação 1.229, ou seja,
GMS
G~S = − 2 r̂pS-T
rS-T
onde r̂S-T é um versor orientado do Sol em direção à Terra, no periélio. Considerando os dados da tabela 1.2,
temos

6,67 × 10−11 × 1,989 × 1030 p


G~S = − r̂S-T
(147, 1 × 109 )2
90 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Planeta Massa
(×1024 kg)
Periélio
(×106 km)
Afélio
(×106 km)
Dist. média ao Sol
(×106 km)
Mercúrio 0,330 46,0 69,8 57,9
Vênus 4,87 107,5 108,9 108,2
Terra 5,97 147,1 152,1 149,6
Marte 0,642 206,6 249,2 227,9
Júpiter 1899 740,5 816,6 778,6
Saturno 568 1352,6 1514,5 1433,5

Apenas uso pessoal


Urano 86,8 2741,3 3003,6 2872,5
Netuno 102 4444,5 4545,7 4495,1
Plutão 0,0125 4435,0 7304,3 5870,0
Análise Vetorial

Tabela 1.2: Dados planetários para o sistema solar (obtidos


da NASA, ver nota de rodapé na pág. 88).

ou

G~S = −6,13 × 10−3 r̂pS-T m/s2 (1.236)


Em módulo, temos

GS = 6,13 × 10−3 m/s2 (1.237)


Este é o campo gravitacional produzido pelo Sol que a Terra, e os objetos nela, incluindo este livro e o leitor,
sentem quando a Terra está no periélio. É interessante lembrar que o campo gravitacional produzido pela
Terra sobre objetos próximos dela é dado por 1.233,

gT ≈ 9,80 m/s2
ou seja, o campo gravitacional da Terra sobre este livro, sobre o leitor, sobre quaisquer objetos próximos a
ela, é cerca de 1600 vezes mais intenso que o campo gravitacional produzido pelo Sol sobre esses objetos. É
importante ter em mente esses valores e ordens de grandeza. Vejamos mais um exemplo relevante.

Exemplo 1.29. Dois planetas do sistema solar tem a máxima aproximação entre si quando ambos estão
(aproximadamente) em seus periélios. Supondo essa condição, determine os campos gravitacionais produzidos
pelos planetas dados na tabela 1.2 e pela Lua (no perigeu) sobre a Terra e, consequentemente, sobre objetos
sobre ela. Compare os valores obtidos com o campo gravitacional produzido pela própria Terra sobre objetos
próximos a ela.
Vamos iniciar os cálculos determinando, a partir dos dados na tabela 1.2, as distâncias entre a Terra
e os outros objetos. A distância Terra-Mercúrio fica

rMe-T = 147,1 × 109 − 46,0 × 109 = 101,1 × 109 m


Para a distância Terra-Vênus, temos

rV-T = 147,1 × 109 − 107,5 × 109 = 39,6 × 109 m


Note que essa é a menor distância entre a Terra e outro planeta. A distância Marte-Terra vale

rMa-T = 206,6 × 109 − 147,1 × 109 = 59,5 × 109 m


1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 91

A distância Terra-Júpiter fica


K. D. Machado
rJ-T = 740,5 × 109 − 147,1 × 109 = 593,4 × 109 m
Para a distância Terra-Saturno, temos

rS-T = 1352,6 × 109 − 147,1 × 109 = 1205,5 × 109 m


A distância Urano-Terra vale

Apenas uso pessoal


rU-T = 2741,3 × 109 − 147,1 × 109 = 2594,2 × 109 m
Com relação à distância Netuno-Terra, ficamos com
Análise Vetorial

rN-T = 4444,5 × 109 − 147,1 × 109 = 4297,4 × 109 m


Por fim, a distância Plutão-Terra é dada por

rP-T = 4435,0 × 109 − 147,1 × 109 = 4287,9 × 109 m


Do exemplo 1.27 a distância Terra-Lua vale rL−T = 0,363 × 109 m. Vamos iniciar calculando o campo
produzido por Mercúrio, ou seja,
GMMe p
G~Me = − 2 r̂
rMe-T Me-T
onde r̂pMe-T é um versor orientado de Mercúrio para a Terra. Utilizando os valores numéricos, temos
−11 24
6,67 × 10 × 0,330 × 10
G~Me = − r̂pMe-T
(101,1 × 109 )2
que fica

G~Me = −2,15 × 10−9 r̂pMe-T


e, em módulo,

GMe = 2,15 × 10−9 m/s2 (1.238)


Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 4,6 × 109
GMe 2,15 × 10−9
Passamos agora para o campo gravitacional de Vênus, que é o planeta que mais se aproxima da Terra. Temos
GMV p
G~V = − 2 r̂
rV-T V-T
que torna-se

6,67 × 10−11 × 4,87 × 1024 p


G~V = − r̂V-T
(39,6 × 109 )2
ou

G~V = −2,07 × 10−7 r̂pV-T


e, em módulo,

GV = 2,07 × 10−7 m/s2 (1.239)


92 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 4,73 × 107
GV 2,07 × 10−7
Em seguida, vamos calcular o campo produzido por Marte, mediante
GMMa p
G~Ma = − 2 r̂
rMa-T Ma-T

Apenas uso pessoal


ou

6,67 × 10−11 × 0,642 × 1024 p


G~Ma = − r̂Ma-T
Análise Vetorial
(59,5 × 109 )2
ou ainda,

G~Ma = −1,21 × 10−8 r̂pMa-T


cujo módulo é

GMa = 1,210 × 10−8 m/s2 (1.240)


e, comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 8,1 × 108
GMa 1,210 × 10−8
O próximo é o campo de Júpiter, que é o gigante do sistema solar. O campo fica
GMJ
G~J = − 2 r̂pJ-T
rJ-T
ou
−11 24
6,67 × 10 × 1899 × 10
G~J = − r̂pJ-T
(593,4 × 109 )2
e então,

G~J = −3,597 × 10−7 r̂pJ-T


e, em módulo,

GJ = 3,597 × 10−7 m/s2 (1.241)


Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 2,7 × 107
GJ 3,597 × 10−7
Na sequência, temos Saturno, e
GMS
G~S = − 2 r̂pS-T
rS-T
que torna-se
−11 24
6,67 × 10 × 568 × 10
G~S = − r̂pS-T
(1205,5 × 109 )2
e então,
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 93

K. D. Machado
G~S = −2,61 × 10−8 r̂pS-T
e, em módulo,

GS = 2,61 × 10−8 m/s2 (1.242)


Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos

Apenas uso pessoal


g 9,8
= ≈ 3,75 × 108
GS 2,61 × 10−8
O campo seguinte é o de Urano, que fica
Análise Vetorial

GMU p
G~U = − 2 r̂
rU-T U-T
ou
−11 24
6,67 × 10 × 86, 8 × 10
G~U = − r̂pU-T
(2594,2 × 109 )2
e então,

G~U = −8,60 × 10−10 r̂pU-T


e, em módulo,

GU = 8,60 × 10−10 m/s2 (1.243)


Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 1,14 × 1010
GU 8,60 × 10−10
O campo de Netuno vale
GMN p
G~N = − 2 r̂
rN-T N-T
ou
−11 24
6,67 × 10 × 102 × 10
G~N = − r̂pN-T
(4297,4 × 109 )2
e então,

G~N = −3,68 × 10−10 r̂pN-T


e, em módulo,

GN = 3,68 × 10−10 m/s2 (1.244)


Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 2,66 × 1010
GN 3,68 × 10−10
Por fim, partindo agora para Plutão, que é o planeta mais leve, temos
GMP p
G~P = − 2 r̂
rP-T P-T
94 1. CONCEITOS INICIAIS

ou
K. D. Machado
−11 24
6,67 × 10 × 0,0125 × 10
G~P = − r̂pP-T
(4287,9 × 109 )2
ou ainda,

G~P = −4,53 × 10−14 r̂pP-T

Apenas uso pessoal


cujo módulo é

GP = 4,53 × 10−14 m/s2 (1.245)


Análise Vetorial
Comparando novamente com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 2,16 × 1014
GP 4,53 × 10−14
Falta determinar o campo da Lua, dado por
GML p
G~L = − 2 r̂
rL-T L-T
que fica
−11 24
6,67 × 10 × 0,073 × 10
G~L = − r̂pL-T
(0,363 × 109 )2
ou

G~L = −3,70 × 10−5 r̂pL-T


cujo módulo é

GL = 3,70 × 10−5 m/s2 (1.246)


Comparando com o campo gravitacional da Terra, temos
g 9,8
= ≈ 2,65 × 105
GL 3,70 × 10−5
Recordando o módulo do campo gravitacional gerado pelo Sol e calculado no exercı́cio anterior, dado pela
equação 1.237,

GS = 6,13 × 10−3 m/s2


vemos que, comparativamente, um objeto na Terra (como este livro ou o leitor) sente campos gravitacionais
devidos, em ordem decrescente, à Terra, Sol, Lua, Júpiter, Venus, Saturno, Marte, Mercúrio, Urano, Netuno
e Plutão, sendo que o campo da Terra é 1600 vezes mais intenso que o do Sol, o qual é cerca de 200 vezes
mais intenso que o da Lua, que é aproximadamente 100 vezes mais intenso que o de Júpiter e Vênus, que
são 10 vezes mais intensos que os de Saturno e Marte. Em seguida, temos um nova redução por um fator
de 10 para os campos de Mercúrio e Urano, outro fator de 10 para o campo produzido por Netuno, e uma
redução por um fator de 104 para o campo de Plutão, que é o menos intenso de todos. Sendo assim, ao
estudar efeitos gravitacionais produzidos sobre objetos próximos à Terra, o campo relevante é apenas o da
Terra, os outros astros originando correções cada vez mais desprezı́veis. Vejamos agora uma outra forma de
força importante.


1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 95

II Força Elétrica
K. D. Machado
A próxima força que podemos considerar é a força eletrostática que surge entre dois objetos pontuais
com cargas Q1 e Q2 , considerados estáticos ou, pelo menos, que se movam com velocidades muito pequenas
quando comparadas com a velocidade da luz c, separadas por uma distância r. Experimentalmente se observa
que a força eletrostática F~1→2 produzida por Q1 sobre Q2 é dada, no SI, por
1 Q1 Q2
F~1→2 = 2 r̂12 (1.247)

Apenas uso pessoal


4πǫ r12
onde ε é a permissividade elétrica, uma grandeza associada ao meio material no qual estão imersas as
cargas 14 . Nessa expressão, a carga Q1 , que produz a força sobre a carga Q2 , é dita carga geradora ou
carga-fonte, enquanto Q2 é a carga de prova, ou carga-teste 15 . A carga-fonte está, por hipótese, situada em
Análise Vetorial
~r1 , enquanto a carga-teste Q2 situa-se numa posição dada pelo vetor ~r2 , de modo que r̂12 = ~rr12
12
e podemos
generalizar a expressão 1.247 para
1 Q1 Q2
F~1→2 = (~r2 − ~r1 ) (1.249)
4πε |~r2 − ~r1 |3
ou, definindo o versor R̂ mediante

~r2 − ~r1
R̂ = (1.250)
|~r2 − ~r1 |
obtemos
1 Q1 Q2
F~1→2 = R̂ (1.251)
4πε R2
É interessante notar que a força eletrostática dada por 1.247 guarda semelhança matemática com a força
gravitacional entre duas massas pontuais dada por 1.218,

~1→2 = − Gm1 m2 r̂12


F 2
r12
Duas diferenças importantes devem ser destacadas. A primeira é que a força eletrostática pode ser repulsiva,
ao contrário da força gravitacional, que é sempre atrativa. A segunda é que a força gravitacional ocorre
mesmo entre objetos sem carga, mas que tenham massa, ao passo que a força eletrostática necessita de
que haja carga. Como não existe a possibilidade de haver carga num local sem ter massa, sempre há força
gravitacional entre os objetos carregados, que pode ser ou não desprezı́vel quando comparada com a força
eletrostática. Vejamos um exemplo relevante.

Exemplo 1.30. Um próton tem carga Qp = e, onde e = 1,6 × 10−19 C, e massa mp = 1,67 × 10−27 kg. Um
elétron tem uma carga Qe = −e e massa me = 9,11 × 10−31 kg. Determine a força elétrostática e a força
gravitacional produzidas pelo próton sobre o elétron quando eles estão separados por uma distância de 1 Å,
e compare os módulos das duas forças.
Iniciamos determinando a força gravitacional produzida pelo próton sobre o elétron, mediante 1.218,

~p→e = − Gmp me r̂pe


F 2
rpe

14 No vácuo, e no SI, essa grandeza vale ε0 = 8,85 × 10−12 C2 /Nm2 .


15 ~2→1 sobre a carga Q1 . Essa força tem mesmo módulo, mesma
Note que a carga Q2 também produz uma força eletrostática F
~1→2 , sendo dada por
direção e sentido oposto ao de F

1 Q1 Q2
F~2→1 = 2
~1→2
(−r̂12 ) = −F (1.248)
4πǫ r12
96 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
onde r̂pe é um versor orientado do próton para o elétron. Incluindo os valores numéricos, temos
−11
~p→e = − 6,67 × 10 × 1,67 × 10−27 × 9,11 × 10−31
F r̂pe
(1 × 10−10 )2
ou

~p→e = −1,01 × 10−47 r̂pe


F

Apenas uso pessoal


cujo módulo é

Fp→e = 1,01 × 10−47 N


Análise Vetorial
Agora, vamos calcular a força elétrica entre eles, dada por 1.247,
1 Qp Qe
F~p→e = 2
r̂pe
4πǫ0 rpe
que fica

1 1,6 × 10−19 × −1,6 × 10−19


F~p→e = −12
r̂pe
4π × 8,85 × 10 (1 × 10−10 )2
ou

F~p→e = −2,3 × 10−8 r̂pe


e, em módulo,

Fp→e = 2,3 × 10−8 N


A razão entre os módulos das forças fica

Fp→e 2,3 × 10−8


= = 2,3 × 1039
Fp→e 1,01 × 10−47
indicando que a força gravitacional é completamente desprezı́vel nesse caso. De fato, as forças gravitacionais
tornam-se apreciáveis apenas em situações astronômicas.

Exemplo 1.31. Duas cargas pontuais estão colocadas nas posições A(0, 0) e B(L, 0). As cargas são iguais,
e valem ambas Q. Uma terceira carga q, de mesmo sinal que Q, é colocada na posição C( L2 , y), conforme
a figura 1.38. Todas estão estáticas. Determine a força elétrica resultante sobre a carga q como função de
y. Para qual valor de y a força é mı́nima? Para qual valor é máximo? Ache os valores mı́nimo (Fmin ) e
máximo (Fmax ) para o módulo da força elétrica resultante.
Para poder determinar as forças necessárias, vamos precisar definir alguns termos, como mostra a
figura 1.39.

Vamos iniciar determinando a força F~13 que a carga na origem exerce sobre a carga q. Para isso,
precisamos de
L L
~r13 = ~r3 − ~r1 = ( , y) − (0, 0) = ( , y)
2 2
ou seja,
L
~r13 = ı̂ + y ĵ (1.252)
2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 97

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.38: Carga pontual q sujeita à ação de duas cargas


pontuais Q dispostas num triângulo isósceles.

Figura 1.39: Grandezas relevantes para o exemplo 1.31.

Precisamos do módulo, que é


r p
L2 L2 + 4y 2
r13 = + y2 = (1.253)
4 2
e também do versor correspondente, ou seja,
L
~r13 2 ı̂ + y ĵ
r̂13 = = √
r13 L2 +4y 2
2
ou

Lı̂ + 2y ĵ
r̂13 = p (1.254)
L2 + 4y 2
Agora, podemos utilizar a expressão 1.247 para a força elétrica,

1 Q1 Q2
F~1→2 = 2 r̂12
4πǫ r12
e, usando 1.253 e 1.254,
98 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado 1 qQ
F~13 = 2 r̂13
4πǫ0 r13
ou

1 qQ Lı̂ + 2y ĵ
F~13 = L2 +4y 2
p
4πǫ0 L2 + 4y 2
4

Apenas uso pessoal


ou ainda,

1 4qQ
F~13 = (Lı̂ + 2y ĵ) (1.255)
Análise Vetorial
4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 32
Para determinar a outra força, devemos determinar

L L
~r23 = ~r3 − ~r2 = ( , y) − (L, 0) = (− , y)
2 2
ou seja,

L
~r23 = − ı̂ + y ĵ (1.256)
2
Precisamos do módulo, que é
r p
L2 L2 + 4y 2
r23 = + y2 = (1.257)
4 2
e também do versor correspondente, ou seja,

~r23 − L ı̂ + y ĵ
r̂23 = = √2 2 2
r23 L +4y
2
ou

−Lı̂ + 2y ĵ
r̂23 = p (1.258)
L2 + 4y 2
Utilizando a expressão 1.247 para a força elétrica e também 1.257 e 1.258, achamos

1 qQ
F~23 = 2 r̂23
4πǫ0 r23
ou

1 qQ −Lı̂ + 2y ĵ
F~23 = L2 +4y 2
p
4πǫ0 L2 + 4y 2
4

ou ainda,

1 4qQ
F~23 = (−Lı̂ + 2y ĵ) (1.259)
4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 23
A força resultante é dada pela soma das equações 1.255 e 1.259, ou seja,

F~ = F~13 + F~23
que fica
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 99

K. D. Machado
1 4qQ 1 4qQ
F~ = (Lı̂ + 2y ĵ) + (−Lı̂ + 2y ĵ)
4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 32 4πǫ0 (L2 + 4y 2 ) 32
ou

4qQ y
F~ = ĵ (1.260)
πǫ0 (L + 4y 2 ) 23
2

Apenas uso pessoal


Da expressão acima, vemos que Fmin ocorre para y = 0, e vale Fmin = 0. Para achar Fmax , derivamos o
módulo de 1.260 em relação a y e igualamos a zero, obtendo os extremos de F , ou seja,
   
dF 4qQ 1 12y 2 4qQ 12y 2
Análise Vetorial
= − = 1 − =0
dy πǫ0 (4y 2 + L2 ) 32 5
(4y 2 + L2 ) 2
3
πǫ0 (4y 2 + L2 ) 2 4y 2 + L2
ou

12y 2
1− =0
4y 2 + L2
ou ainda,

L
ymax = ± √
2 2
e o valor Fmax é

√L
4qQ 2 2 4qQ
Fmax = L 2 3 = √
πǫ0 (4 8 + L ) 2
2 3 3πǫ0 L2

De forma similar ao que ocorre no caso gravitacional, a força eletrostática F~ é produzida por um
campo elétrico (eletrostático) que está associado a cada carga. Assim, o campo elétrico de um objeto com
carga Q atua sobre um objeto com carga q produzindo a força F~Q→q , e o campo elétrico produzido por q
gera a força F~q→Q ao agir sobre Q. Operacionalmente define-se o campo elétrico produzido pela carga Q
mediante

F~Q→q
E~Q = lim (1.261)
q→0 q
onde supõe-se que q é uma carga de prova positiva. Adaptando a equação 1.247, obtemos
1 1 Qq
E~Q = lim r̂Qq
q→0 q 4πǫ r2

onde r̂Qq é um versor que aponta do objeto de carga Q para a posição onde situa-se a carga-teste q. Efetuando
o limite, temos

1 Q
E~Q = r̂Qq
4πǫ r2
ou, eliminando o ı́ndice Q por ser redundante,

1 Q
E~ = r̂ (1.262)
4πǫ r2
que expressa o campo elétrico de uma carga pontual produzido em sua vizinhança. Vejamos um exemplo de
aplicação.
100 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Exemplo 1.32. Determine o campo elétrico produzido por uma carga pontual Q = 6,4 µC situada, no vácuo,
em A(0, 1, −2) sobre o ponto B(1, −1, 0). As coordenadas estão dadas em centı́metros.
Inicialmente vamos determinar o vetor posição relativa de B em relação a A, ou seja,

~rAB = ~rB − ~rA = (1, −1, 0) − (0, 1, −2) = (1, −1, 2)


ou seja,

Apenas uso pessoal


~rAB = ı̂ − ĵ + 2 k̂
cujo módulo vale
Análise Vetorial
√ √
rAB = 1+1+4= 6 cm
O versor correspondente é, então,

~rAB ı̂ − ĵ + 2 k̂
r̂AB = = √
rAB 6
Note que o versor é adimensional. Para determinar o campo elétrico, usamos 1.262,

1 Q
E~B = 2 r̂AB
4πǫ0 rAB
ou, lembrando de usar unidades SI,

1 6,4 × 10−6 ı̂ − ĵ + 2 k̂
E~B = −12
√ √
4π × 8,85 × 10 ( 6 × 10−2 )2 6
que fica

E~B = 3,92 × 107 (ı̂ − ĵ + 2 k̂)


cujo módulo é

EB = 9,59 × 107 N/C

III Força Magnética


Outra força relevante no Eletromagnetismo é a força magnética, que surge quando um objeto com
~ Nesse caso, a força magnética é dada por
carga elétrica Q é submetido a um campo magnético B.

~
~F = Q ~v × B (1.263)
onde ~v é a velocidade medida para a carga Q no sistema de referência considerado. Como ~F é o resultado
de um produto vetorial, é perpendicular aos dois vetores do produto, de modo que ~F ⊥ ~v e ~F ⊥ B. ~ Note
que não é suficiente que exista um campo magnético na região considerada, é necessário que a carga Q se
mova nessa região e que, além disso, a velocidade da carga tenha uma orientação tal que não seja paralela
ao campo magnético B, ~ posto que, se ~v k B,
~ ocorre ~F = 0 por causa do produto vetorial. Tais condições
são diferentes daquelas necessárias para haver força elétrica. No caso elétrico, basta haver campo elétrico E~
para que uma carga sinta uma força F~ = QE~ sobre ela, independente de se mover ou não, ou da direção e
sentido do movimento. A dependência com a velocidade que aparece em 1.263 estabelece, explicitamente, a
necessidade de estabelecer claramente qual o referencial utilizado para o cálculo da força, pois referenciais
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 101

K. D. Machado
diferentes medem, em geral, velocidades diferentes para o mesmo objeto, conforme veremos na seção ??. De
fato, efeitos magnéticos são intrinsecamente relativı́sticos, e a soma das forças elétrica e magnética agindo
num dado sistema, ou seja,

F~ = F~ + ~F (1.264)
é a grandeza que permanece invariante quando consideramos referenciais diferentes. A força dada por 1.264
é chamada de força de Lorentz. Vejamos um exemplo de aplicação.

Apenas uso pessoal


Exemplo 1.33. Um objeto de carga Q = −3,2 µC tem uma velocidade ~v = 2ı̂ − 3 ĵ + k̂ m/s quando entra
~ = (3ı̂− 4 ĵ)× 10−3 T. Determine a força magnética
numa região em que há um campo magnético dado por B
agindo sobre o objeto.
Análise Vetorial

Para determinar a força magnética, usamos a equação 1.263,

~
~F = Q ~v × B

que fica

~F = 3,2 × 10−6 (2ı̂ − 3 ĵ + k̂) × (3ı̂ − 4 ĵ) × 10−3

ou

~F = 3,2 × 10−3 (−8 k̂ + 9 k̂ + 3 ĵ + 4ı̂)

ou ainda,

~F = 3,2 × 10−3 (4ı̂ + 3 ĵ + k̂)

cujo módulo é

F = 3,2 × 10−3 × 16 + 9 + 1
ou

F = 1,6 × 10−2 N

IV Força Elástica
Existe ainda uma outra força que costuma aparecer com frequência em problemas fı́sicos. Tal força é
a força elástica produzida por uma mola, elástico, etc. Esta força pode ser modelada, de forma aproximada,
por uma expressão razoavelmente simples. Fenomenologicamente, a força produzida por uma mola que tem
um comprimento original (não-deformada) L0 e um comprimento L ao ser deformada, envolve a deformação
∆L = L − L0 , sendo que a mola está estirada quando L > L0 (∆L > 0) e comprimida quando L < L0
(∆L < 0). A força produzida pela mola, em seus extremos, é proporcional ao módulo de ∆L, ou seja, a |∆L|,
de modo que o módulo da força é dado por

F = K |∆L| (1.265)
que é conhecida como lei de Hooke, e onde K é uma constante associada com as propriedades mecânicas
(elásticas) da mola. Supondo que uma das extremidades da mola esteja fixa num dado ponto, enquanto a
outra pode se mover ao longo de uma reta e esteja conectada a algum objeto, como mostra a figura 1.40,
podemos escrever uma expressão vetorial para a força mediante
102 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.40: Força elástica exercida por uma


mola distendida sobre um objeto.

~F = −K (x − x0 )ı̂ (1.266)

onde representamos a reta ao longo da qual a mola pode se mover pelo eixo x, sendo a origem situada no
extremo fixo da mola, x0 (x0 > 0) corresponde à coordenada x do extremo livre quando a mola não está
deformada, e x é a posição do extremo livre num instante de tempo qualquer (ou seja, ∆L = x − x0 ). Assim,
quando x > x0 , a mola está esticada, e a força produzida pela mola sobre um objeto preso ao extremo
livre estará orientada puxando o objeto em direção à origem. Quando x < x0 , a mola está comprimida, e
empurra o objeto para longe da origem. Note que o outro extremo da mola produz uma força de mesmo
módulo, direção, mas sentido oposto, agindo nesse caso sobre o ponto em que a mola está fixada. Além
disso, a expressão 1.266 é válida desde que ∆L, também chamado elongação, não seja muito grande e o
limite elástico da mola não seja atingido. Outro ponto é a definição do eixo como sendo o eixo x, o que foi
feito apenas por comodidade, e a escolha pode ser adaptada para o problema especı́fico. Vejamos agora um
exemplo de aplicação.

Exemplo 1.34. Uma mola está disposta na vertical, como mostra a figura 1.41, e suspende um objeto de
massa M que está em equilı́brio próximo à superfı́cie da Terra, onde a aceleração gravitacional vale ~g. A
mola tem uma constante de mola K. Determine a elongação ∆L da mola na situação mostrada.

Figura 1.41: Objeto em equilı́brio suspenso por uma mola.


1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 103

K. D. Machado
Para resolver o problema, devemos considerar que existem duas forças atuando sobre o objeto, uma
produzida pela mola (força elástica) e a outra produzida produzida pela Terra (força gravitacional). Na
situação de equilı́brio, a soma das duas deve se anular. A força gravitacional produzida pela Terra, em
pontos próximos a ela, é dada por 1.235,

~ = M~g
F

ou, utilizando o eixo definido na figura,

Apenas uso pessoal


~ = M g ĵ
F (1.267)
Análise Vetorial
A força elástica produzida pela mola, dada por 1.266, fica, fazendo as devidas adaptações,

~F = −K (y − y0 ) ĵ

onde ∆L = y − y0 > 0, pois y > y0 . Assim, temos

~F = −K∆L ĵ (1.268)

A força resultante deve ser nula, de modo que a soma de 1.267 e 1.268 deve se anular, ou seja,

M g ĵ − K∆L ĵ = 0

ou

(M g − K∆L) ĵ = 0

Efetuando o produto escalar dessa equação com ĵ, temos

M g − K∆L = 0

ou

Mg
∆L = (1.269)
K

Esse exemplo nos sugere um modo de determinar a constante K de uma mola qualquer. Vamos reescrever a equação 1.269 como

Mg
K= (1.270)
∆L

Nessa forma vemos que podemos determinar K pendurando objetos de massa M conhecida (o que pode ser feito por meio de uma

balança) e medindo a elongação ∆L apresentada pela mola. Esse método é conhecido como método estático.

Após apresentarmos alguns tipos relevantes de forças comuns em problemas fı́sicos, vamos passar a
outro tópico importante, que trata justamente de problemas envolvendo forças.
104 1. CONCEITOS INICIAIS

1.5.12 Estática
K. D. Machado
Uma aplicação muito importante dos conceitos vistos consiste no estudo da Estática de corpos rı́gidos,
envolvendo a determinação das forças e torques atuando sobre os diversos constituintes de estruturas, como
vigas, cabos, engastes, etc. A idéia fı́sica básica é que tais objetos devem permanecer em equilı́brio estático
e, para que isso ocorra, devemos ter uma força resultante nula sobre os objetos, isto é,
X
F~R = F~i = 0 (1.271)

Apenas uso pessoal


i
e, além disso, o torque resultante produzido sobre os objetos também deve se anular, ou seja, devemos ter
X
Análise Vetorial
T~R = T~i = 0 (1.272)
i

É interessante relembrar que torque é uma grandeza vetorial, assim como força, e é dado por

T~ = ~r × F~ (1.273)
onde F~ é a força aplicada a um dado ponto do espaço, situado na posição ~r em relação a uma dada origem.
Assim, em geral o torque de uma força depende da origem escolhida, pois ~r depende da origem em questão.
Vamos estudar agora um exemplo simples de aplicação dessas equações.

Exemplo 1.35. Um suporte é formado por três barras e sustenta estaticamente uma caixa de massa m = 10
kg por meio de um cabo inextensı́vel, conforme mostra a figura 1.42. O suporte está fixo no chão e as conexões
entre as barras, que têm massas desprezı́veis, são feitas por pinos rebitados. Determine a força produzida
pelo pino C na barra BC. Considere que o módulo da aceleração da gravidade vale g = 9, 8 m/s2 .

Figura 1.42: Objeto suspenso por um suporte.

Podemos estudar detalhadamente esse problema que é relativamente simples, de modo a desenvolver-
mos as idéias que serão utilizadas para problemas mais complexos. No presente caso, temos um problema
bidimensional, onde as forças terão, no máximo, duas componentes. A primeira consideração a fazer é que o
suporte não ficaria numa situação estática se ele não fosse engastado no chão, ou seja, parte da barra vertical
deve perfurar o solo. Isso pode ser claramente percebido se considerarmos uma origem no ponto de contato
da barra com o solo, representado pelo ponto E. Nesse caso, as forças externas agindo no suporte como um
todo são a força exercida pelo cabo no ponto D, que é igual ao peso do objeto suspenso, e as eventuais forças
produzidas pelo solo. O módulo do peso do objeto é dado por

P = mg = 10 × 9, 8 = 98 N
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 105

K. D. Machado
Considerando um eixo y vertical com sentido positivo para cima, podemos escrever 16

P~ = −98 ĵ
Portanto, para que o suporte satisfaça a condição 1.271, é necessário que o solo produza uma força vertical
sobre ele dada por

F~s = 98 ĵ (1.274)

Apenas uso pessoal


Note que essa força é aplicada à barra vertical AE. Além da condição 1.271, devemos também satisfazer
a condição 1.272 para os torques. Com a origem em E, a força produzida pelo cabo é aplicada no ponto
de coordenadas D(10, 10), considerando um eixo x horizontal e com sentido positivo para a direita. Assim,
Análise Vetorial
temos um torque

T~P = (10ı̂ + 10 ĵ) × (−98 ĵ) = −980 k̂


Esse torque não pode ser o único a agir no suporte, caso contrário ele não estaria em equilı́brio estático. O
solo deve produzir um torque de mesmo módulo mas sentido oposto, ou seja,

T~s = 980 k̂ (1.275)


~
para que o equilı́brio estático seja verificado. Note que a força Fs é vertical e sua linha de ação passa pelo
ponto E, de modo que ela não gera torque pois ~rs k F~s . Surge então a questão: que forças produzem o torque
do solo? Se a barra vertical AE do suporte apenas tocasse o solo, sem perfurá-lo, não haveria como o solo
produzir esse torque, pois o contato se daria apenas na parte inferior horizontal da barra. Entretanto, se ela
perfurar o solo, a parte vertical que entra nele fica em contato com o solo, e sofre a ação de forças, conforme
ilustra a figura 1.43, que mostra uma ampliação da parte engastada no solo.

Figura 1.43: Ampliação da região da barra vertical engastada no solo.

Note que a soma das forças horizontais é nula, mas elas geram um torque que tende a girar a barra
no sentido anti-horário, se opondo, portanto, ao torque gerado pelo peso do objeto suspenso.

É interessante ressaltar que, ao fazer um projeto de uma estrutura, os engenheiros devem determinar com precisão as forças

que vão agir sobre ela, incluindo possı́veis efeitos não esperados, como ventos, chuva, etc, que podem alterar as condições do problema.

Uma chuva torrencial, por exemplo, pode alterar a resistência mecânica do solo, fazendo com que ele não exerça mais as forças e

torques necessários para manter o equilı́brio estático, de modo que a estrutura pode desabar. Outra questão consiste em não extrapolar

16 Note que, a menos que seja dito explicitamente em contrário, sempre usaremos unidades do SI.
106 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
os limites de uso dos equipamentos. Por exemplo, nossa estrutura foi projetada para uma carga de 10 kg. Se uma massa de 20 kg for

suspensa, ela fatalmente ruirá, já que o solo não foi preparado para essa solicitação.

Continuando com nossa discussão, vamos agora “desmembrar”nosso suporte para estudarmos cada
uma das barras separadamente, o que nos permitirá determinar a força produzida pelo pino C na barra BC.
Note que devemos lembrar que cada barra está em equilı́brio estático, e que elas interagem através dos pinos.
Assim, temos um esquema como o apresentado na figura 1.44 abaixo.

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.44: Desmembramento da estrutura do suporte da figura 1.42.

Note que temos três barras e o objeto que é suspenso pelo cabo inextensı́vel. As barras interagem
por pares de forças de ação e reação, e devemos considerar todas as forças e torques exercidos pelas outras
barras, pelo solo e pelo cabo em cada barra. O torque do solo, já calculado acima, tende a girar a barra no
sentido anti-horário, conforme mostrado na figura, próximo ao ponto E. Outra questão refere-se à barra BC,
na qual agem apenas duas forças. Nesse caso, é preciso que a linha de ação das forças passe pela reta definida
pelos dois pontos nos quais atuam forças. Podemos mostrar isso facilmente considerando a figura 1.45.

Figura 1.45: Uma barra qualquer submetida a forças


aplicadas em apenas dois pontos.

Na figura vemos uma barra de formato qualquer onde são aplicadas forças nos pontos A e B. Estando a
barra em equilı́brio estático, devemos ter

F~A + F~B = 0
ou seja,

F~A = −F~B
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 107

K. D. Machado
de modo que as forças devem ser paralelas uma à outra. Devemos satisfazer também a equação do torque
resultante. Nesse caso, escolhendo qualquer um dos dois pontos como origem, vemos que o torque produzido
pela força que age no ponto escolhido se anula, pois ~r = 0 nesse caso. Assim, o torque gerado pela outra
força, que está aplicada no outro ponto, deve se anular já que o torque resultante deve ser nulo, o que só
ocorre se a força estiver na direção da reta definida pelos dois pontos pois, neste caso, ~r k F~ e ~r × F~ = 0.
Como as duas forças devem ser paralelas entre si, temos que as duas forças devem ser paralelas à reta que
une os dois pontos, em acordo com o que desenhamos na figura 1.44.

Apenas uso pessoal


Voltando à figura 1.44, é importante frisar que, em geral, não conhecemos o sentido correto das forças
de ação e reação que atuam entre os constituintes de uma estrutura, mas isso não constitui um impedimento
para a resolução do problema. Podemos simplesmente arbitrar sentidos e depois verificamos se estão corretos
ou não, ou ainda podemos usar nossa intuição fı́sica para definir os sentidos. Vamos começar a obtenção
Análise Vetorial
das grandezas relevantes pela barra AE. Note que é interessante observar o problema atentamente para
verificar a melhor maneira de proceder, visando diminuir o número de cálculos necessários para a obtenção
das incógnitas. Assim, se considerarmos um sistema de eixos horizontal (x) e vertical (y) com origem no
ponto A, e calcularmos os torques em relação a esse ponto, vemos que as forças que agem em A não produzem
torque, pois ~rA = 0 nesse sistema de eixos. Além disso, a força do solo F~s também não produz torque pois
sua linha de ação passa por A, ou, de forma equivalente, ~rE k F~s . Restam a força F~B e o torque T~s produzido
pelo solo. Portanto,

T~S + ~rB × F~B = 0 (1.276)


Vamos representar a força F~B através de

F~B = −FBx ı̂ − FBy ĵ (1.277)


onde −FBx e −FBy são as componentes de F~B nas direções x e y 17
. A posição de B em relação a A pode
ser escrita como

~rB = −3 ĵ (1.278)
Portanto, reunindo as equações 1.275–1.278, temos

980 k̂ − 3 ĵ × (−FBx ı̂ − FBy ĵ) = 0


ou

980 k̂ − 3FBx k̂ = 0
ou ainda,
980
FBx = N
3
Sabendo-se essa componente, é imediato achar a componente F~Ax , já que apenas essas duas forças estão
agindo na barra AE na direção x, e a sua soma, que é a força resultante na direção x, deve se anular.
Portanto,
980
F~Ax = ı̂
3
Podemos determinar FBy utilizando trigonometria. Note na figura 1.44 que a força F~B é paralela à barra
BC, a qual faz um ângulo θ com a direção x. Este ângulo pode ser determinado mediante o cálculo de sua
tangente, ou seja, utilizando a figura 1.42,

17 Note que esperamos que FBx e FBy sejam ambas positivas.


108 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado −−→
|AB| 3
tg θ = −−→ =
|AC| 4

Este ângulo é o mesmo que F~B faz com a horizontal (ângulos opostos pelo vértice). Portanto,
FBy
tg θ =
FBx

Apenas uso pessoal


de modo que
980 3
FBy = FBx tg θ =
Análise Vetorial
3 4
ou

FBy = 245 N

e então, a força F~B dada em 1.277 torna-se


980
F~B = − ı̂ − 245 ĵ (1.279)
3
Com isso, podemos determinar a componente FAy , já que a resultante na direção y deve se anular, o que
implica em

F~Ay + F~By + F~s = 0


ou, fazendo uso de 1.274 e 1.279,

F~Ay − 245 ĵ + 98 ĵ = 0
Portanto,

F~Ay = 147 ĵ

Note que o sentido arbitrado para essa força na figura 1.44 foi o contrário do sentido correto. A força F~A
fica, então,
980
F~A = ı̂ + 147 ĵ (1.280)
3
Por fim, podemos determinar agora a força exercida pelo pino C na barra BC. Da figura 1.44, obtemos

−F~B + (−F~C ) = 0
ou

F~C = −F~B
e então, usando a expressão 1.279,
980
F~C = ı̂ + 245 ĵ (1.281)
3
sendo que devemos lembrar que a força do pino na barra BC é dada por −F~C , ou seja,
980
F~pino = −F~C = − ı̂ − 245 ĵ (1.282)
3
Considerando os módulos das forças, temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 109

K. D. Machado r
980 2
FA = + 1472 ≈ 358 N
3
r
980 2
FB = + 2452 ≈ 408 N
3
FC = FB ≈ 408 N

Apenas uso pessoal


É interessante conferirmos os cálculos, o que pode ser feito se considerarmos as forças agindo na barra
horizontal AD. Nela, assim como nas outras, devemos ter uma resultante nula para as forças, ou seja,
Análise Vetorial
−F~A + F~C + F~D = 0
ou
980 980

ı̂ − 147 ĵ + ı̂ + 245 ĵ − 98 ĵ = 0
3 3
de modo que os cálculos conferem e o problema está resolvido. Na próxima seção analisamos uma estrutura
tridimensional. Antes, porém, vamos investigar outro exemplo.

Exemplo 1.36. Considere uma barra de comprimento L e massa desprezı́vel, presa pelo centro a um suporte,
como mostra a figura 1.46. A haste possui esferas com cargas iguais a Q em seus extremos, que ficam sobre
esferas com cargas 2Q e Q, como mostra a figura. Um objeto de massa m é suspenso a uma distância X do
centro da haste. Considerando estas informações, responda:

Figura 1.46: Esquema para o exemplo 1.36.

1. Qual é o valor de X para que a barra permaneça horizontal? O módulo da aceleração da gravidade no
local vale g, e a força entre as cargas nas extremidades opostas da barra pode ser desprezada. As cargas
estão imersas em ar, de modo que ǫ = ǫ0 .
2. Qual é o valor da força exercida pelo apoio sobre a haste no ponto de apoio?
3. Qual o valor da distância d para que a força exercida pelo ponto de apoio se anule?

Iniciando pelo item 1, temos que, para a barra permanecer na horizontal, é preciso que os torques
gerados pelas forças se anulem, de forma que o torque total seja zero. A força elétrica entre as cargas em A
e B é repulsiva e vale, utilizando a equação 1.247,
110 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado 1 Q×Q
F~A→B = ĵ
4πǫ0 d2
ou

1 Q2
F~A→B = ĵ (1.283)
4πǫ0 d2
A força entre as cargas em C e D também é repulsiva, e fica

Apenas uso pessoal


1 (2Q)Q
F~D→C = ĵ
4πǫ0 d2
Análise Vetorial
ou

1 2Q2
F~D→C = ĵ (1.284)
4πǫ0 d2
A força exercida pelo objeto suspenso vale

F~ = −mg ĵ (1.285)
Para o cálculo do torque, usamos a equação 1.273,

T~ = ~r × F~
e vamos colocar a origem do sistema de eixos no ponto de apoio. Assim, temos, para o torque gerado pela
força produzida sobre a carga em B,

L
~rB = − ı̂ (1.286)
2
e

T~B = ~rB × F~A→B


Usando 1.283 e 1.286, obtemos

L 1 Q2
T~B = − ı̂ × ĵ
2 4πǫ0 d2
ou

1 Q2 L
T~B = − k̂ (1.287)
4πǫ0 2d2
Considerando agora a carga em C, temos

L
~rC = ı̂ (1.288)
2
e

T~C = ~rC × F~D→C


Usando 1.284 e 1.288, obtemos

L 1 Q2
T~C = ı̂ × ĵ
2 4πǫ0 d2
ou
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 111

K. D. Machado 1 Q2 L
T~C = k̂ (1.289)
4πǫ0 d2
Por fim, o torque gerado pelo objeto suspenso é obtido de

~rX = X ı̂ (1.290)
e

Apenas uso pessoal


T~X = ~rX × F~
Usando 1.285 e 1.290, obtemos
Análise Vetorial

T~X = X ı̂ × (−mg ĵ)


ou

T~X = −mgX k̂ (1.291)


Somando as equações 1.287, 1.289 e 1.291, temos, no equilı́brio,

T~B + T~C + T~X = 0


ou

1 Q2 L 1 Q2 L
− k̂ + k̂ − mgX k̂ = 0
4πǫ0 2d2 4πǫ0 d2
ou ainda,
h 1 Q2 L i
− mgX k̂ = 0
4πǫ0 2d2
Efetuando o produto escalar dessa equação com k̂, e manipulando, temos

1 Q2 L
= mgX
4πǫ0 2d2
ou

1 Q2 L
X=
4πǫ0 2mgd2
Para responder ao item 2, devemos ter a condição de equilı́brio estático para forças sendo satisfeita,
de modo que a resultante sobre a haste deve ser nula. Chamando de N ~ a força exercida pelo apoio sobre a
haste, temos

~ + F~A→B + F~D→C + F~ = 0
N
ou, utilizando as equações 1.283–1.285,
2 2
~ = − 1 Q ĵ − 1 2Q ĵ + mg ĵ
N
4πǫ0 d2 4πǫ0 d2
e então,
h 1 3Q2 i
~ = mg −
N ĵ
4πǫ0 d2
~ = 0, ou seja,
Para o item 3, devemos ter N
112 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
h 1 3Q2 i
mg − ĵ = 0
4πǫ0 d2
de modo que

1 3Q2
mg =
4πǫ0 d2
ou

Apenas uso pessoal


1 3Q2
d2 =
4πǫ0 mg
Análise Vetorial
e então,
s
1 3Q2
d=
4πǫ0 mg

Vejamos agora mais um ponto importante no que se refere a aplicações envolvendo vetores.

1.5.13 Leis de Conservação de Momento Linear e Angular


Existem duas leis de conservação vetoriais em Fı́sica que são extremamente relevantes e úteis para o
estudo de sistemas fı́sicos. A primeira é a lei de conservação do momento linear, apropriada para o estudo
de translações, e a outra é a forma correspondente para rotações, a lei de conservação do momento angular.
Estas duas leis naturais são independentes, podendo ser verificadas simultaneamente ou não, dependendo do
problema considerado. A primeira pode ser estabelecida da seguinte forma:

Definição 1.5 (Lei de Conservação do Momento Linear). Num sistema sujeito a força externa resultante
nula, o momento linear total do sistema se conserva.

A segunda lei, que é similar, pode ser formulada mediante

Definição 1.6 (Lei de Conservação do Momento Angular). Num sistema sujeito a torque externo resultante
nulo, o momento angular total do sistema se conserva.

Note que as condições são parecidas, uma envolvendo a força externa aplicada ao sistema, a outra
envolvendo o torque externo aplicado. O momento linear de uma partı́cula é dado por

~p = m~v (1.292)
sendo o produto da massa pela velocidade da partı́cula. Um dado sistema, formado por muitas partı́culas,
tem um momento linear dado pela soma dos momentos lineares de cada partı́cula, ou seja,
X X
P~ = p~i = mi~vi (1.293)
i i

Essa soma, em geral, é diferente para diferentes instantes de tempo, visto que os momentos lineares de cada
partı́cula podem mudar com o tempo de forma, em princı́pio, independente uns dos outros. Porém, se o
sistema estiver sujeito a uma força externa resultante nula, a lei de conservação do momento linear indica
que a soma dada em 1.293 é independente do tempo, ou seja, as partı́culas dentro do sistema interagem,
eventualmente alterando seus momentos lineares individuais, mas a soma permanece constante ao longo do
tempo, enquanto a força externa resultante permanecer sendo nula. Tal sistema é dito isolado com relação
a forças externas.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 113

K. D. Machado
No caso da outra lei de conservação, primeiro precisamos definir o momento angular de uma partı́cula
com relação a uma dada origem O, o qual é dado por

~ℓO = ~rO × p~ (1.294)


ou seja, é o produto vetorial entre a posição da partı́cula medida com relação a O e o momento da partı́cula.
Portanto, é perpendicular a ambos. Em geral, essa grandeza será uma função do tempo, já que ao mover-se,
a partı́cula, em geral, altera sua posição e momento linear. Dado um sistema de partı́culas, a soma dos

Apenas uso pessoal


momentos angulares num dado instante de tempo é dada por
X X
L~ = ~ℓi = mi~ri × ~vi (1.295)
Análise Vetorial
i i
onde consideramos que todos os vetores são medidos pelo referencial O. Em geral, essa soma resultará num
vetor L~ que muda com o tempo. Porém, não havendo torque externo resultante agindo sobre o sistema, a
lei de conservação do momento angular estabelece que o vetor dado em 1.295 é constante. As partı́culas no
sistema interagem, tem momentos angulares que se alteram mas a soma permanece fixa enquanto o torque
externo resultante permanecer nulo. Tal sistema está isolado com relação a torques.
As duas leis de conservação acima permitem que vários problemas fı́sicos intessantes sejam tratados
de forma relativamente simples. Note que um dado sistema pode estar isolado numa dada direção, mas não
em outra, de modo que as leis se aplicam às componentes do momento linear ou angular na direção em que
o sistema está isolado. Vejamos alguns exemplos de aplicação.
Exemplo 1.37. Considere um sistema formado por duas partı́culas de massas M1 e M2 que colidem ao
longo de uma reta, como mostra a figura 1.47.

Figura 1.47: Colisão unidimensional entre duas


partı́culas de massas M1 e M2 .

As partı́culas tem velocidades iniciais ~v1,i e ~v2,i antes da colisão. Elas colidem num dado ponto e,
após a colisão, as partı́culas tem velocidades finais ~v1,f e ~v2,f . Por hipótese, a força resultante externa sobre
o sistema é nula. Determine uma equação envolvendo as velocidades finais e iniciais das partı́culas.
Este exemplo simples mostra o poder da lei de conservação do momento linear. Note que não sabemos
nada sobre as forças que uma das partı́culas exerce sobre a outra durante a colisão mas, mesmo assim, somos
capazes de relacionar as velocidades finais adquiridas por elas com as velocidades iniciais. Vamos iniciar
calculando o momento linear inicial do sistema, ou seja,

P~i = ~p1,i + p~2,i


114 1. CONCEITOS INICIAIS

ou, usando 1.292,


K. D. Machado
P~i = M1~v1,i + M2~v2,i
ou ainda, considerando o eixo x como na figura,

P~i = (M1 v1,i + M2 v2,i )ı̂ (1.296)


onde v1,i e v2,i são as componentes das velocidades, podendo eventualmente ser negativas. Não são os módulos

Apenas uso pessoal


das velocidades. Na situação final, depois da colisão, temos

P~f = p~1,f + p~2,f


Análise Vetorial
ou

P~f = M1~v1,f + M2~v2,f


ou ainda,

P~f = (M1 v1,f + M2 v2,f )ı̂ (1.297)


Agora, como o sistema está isolado, as equações 1.296 e 1.297 são iguais, ou seja,

(M1 v1,i + M2 v2,i )ı̂ = (M1 v1,f + M2 v2,f )ı̂


ou, efetuando o produto escalar com ı̂,

M1 v1,i + M2 v2,i = M1 v1,f + M2 v2,f (1.298)


Essa equação, em conjunto com hipóteses sobre o que acontece com a energia cinética do sistema, permite
determinar as velocidades finais das partı́culas em função das velocidades iniciais. A energia cinética de uma
partı́cula de massa mi e velocidade ~vi é dada por

mi vi2
Ki = (1.299)
2
Por exemplo, considere que a energia cinética das partı́culas do sistema se mantenha constante durante a
colisão. Essa colisão é chamada de choque elástico, de modo que ocorre

Ki = Kf (1.300)
onde Ki é a energia cinética total inicial, antes da colisão, e Kf é a energia cinética total final, depois da
colisão. Para o nosso sistema, temos
2 2 2 2
M1 v1,i M2 v2,i M1 v1,f M2 v2,f
+ = +
2 2 2 2
ou
2 2 2 2
M1 v1,i + M2 v2,i = M1 v1,f + M2 v2,f (1.301)
Vamos agora manipular a equação 1.298, isolando v2,f , isto é,

M1 M1
v2,f = v1,i + v2,i − v1,f (1.302)
M2 M2
ou

M1
v2,f = (v1,i − v1,f ) + v2,i (1.303)
M2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 115

K. D. Machado
Elevando essa expressão ao quadrado, temos

2 M12 M1
v2,f = 2 (v1,i − v1,f )2 + 2 2
(v1,i − v1,f )v2,i + v2,i (1.304)
M2 M2
Substituindo 1.304 em 1.301, obtemos
hM2 M1 i
2 2 2 1
M1 v1,i + M2 v2,i = M1 v1,f + M2 (v1,i − v1,f )2 + 2 2
(v1,i − v1,f )v2,i + v2,i
M22 M2

Apenas uso pessoal


ou

M12
Análise Vetorial
2 2 2
M1 v1,i + M2 v2,i = M1 v1,f + (v1,i − v1,f )2 + 2M1 (v1,i − v1,f )v2,i + M2 v2,i
2
M2
ou ainda,

2 2 M1
v1,i = v1,f + (v1,i − v1,f )2 + 2(v1,i − v1,f )v2,i
M2
que pode ser escrito também como

2 2 M1
v1,i − v1,f = (v1,i − v1,f )2 + 2(v1,i − v1,f )v2,i
M2
ou
M1
(v1,i − v1,f )(v1,i + v1,f ) = (v1,i − v1,f )2 + 2(v1,i − v1,f )v2,i
M2
ou ainda,
M1
v1,i + v1,f = (v1,i − v1,f ) + 2v2,i
M2
de modo que
M1 M1
v1,i + v1,f = v1,i − v1,f + 2v2,i
M2 M2
ou
M1 M1
v1,f + v1,f = v1,i − v1,i + 2v2,i
M2 M2
ou ainda,
M  M 
1 1
+ 1 v1,f = − 1 v1,i + 2v2,i
M2 M2
o que resulta em
M1 + M2 M1 − M2
v1,f = v1,i + 2v2,i
M2 M2
ou
M2 M1 − M2 M2
v1,f = v1,i + 2 v2,i
M1 + M2 M2 M1 + M2
ou, finalmente,
M1 − M2 2M2
v1,f = v1,i + v2,i (1.305)
M1 + M2 M1 + M2
116 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Multiplicando essa equação por ı̂, ficamos com
M1 − M2 2M2
v1,f ı̂ = v1,i ı̂ + v2,i ı̂
M1 + M2 M1 + M2
ou
M1 − M2 2M2
~v1,f =~v1,i + ~v2,i (1.306)
M1 + M2 M1 + M2

Apenas uso pessoal


Podemos determinar v2,f utilizando a equação 1.305 em 1.303, isto é,
 M − M 
M1 1 2 2M2
v2,f = v1,i − v1,i + v2,i + v2,i
Análise Vetorial
M2 M1 + M2 M1 + M2
ou
M1  M1 − M2  M1 2M2
v2,f = v1,i 1 − − v2,i + v2,i
M2 M1 + M2 M2 M1 + M2
ou ainda,

M1 M1 + M2 − (M1 − M2 )  2M1 
v2,f = v1,i + v2,i 1 −
M2 M1 + M2 M1 + M2
que fica
M1 2M2 M1 + M2 − 2M1
v2,f = v1,i + v2,i
M2 M1 + M2 M1 + M2
ou
2M1 M2 − M1
v2,f = v1,i + v2,i (1.307)
M1 + M2 M1 + M2
Multiplicando por ı̂, achamos
2M1 M2 − M1
v2,f ı̂ = v1,i ı̂ + v2,i ı̂
M1 + M2 M1 + M2
ou, finalmente,
2M1 M2 − M1
~v2,f = ~v1,i + ~v2,i (1.308)
M1 + M2 M1 + M2
Assim, numa colisão elástica entre duas partı́culas, as velocidades finais são dadas em função das velocidades
iniciais por meio de 1.306 e 1.308,

M1 − M2 2M2
~v1,f = ~v1,i + ~v2,i (1.309a)
M1 + M2 M1 + M2
2M1 M2 − M1
~v2,f = ~v1,i + ~v2,i (1.309b)
M1 + M2 M1 + M2
Note que há uma simetria entre as equações 1.309, envolvendo a troca dos ı́ndices 1 e 2 entre si. Vejamos
agora alguns casos particulares importantes. Se a partı́cula 2 está inicialmente parada, ou seja, ~v2,i = 0,
temos

M1 − M2
~v1,f = ~v1,i (1.310a)
M1 + M2
2M1
~v2,f = ~v1,i (1.310b)
M1 + M2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 117

K. D. Machado
Nesse caso, se M1 > M2 , as duas partı́culas movem-se no mesmo sentido após a colisão, sendo que v2,f > v1,f .
Se M1 < M2 , a partı́cula 1 retorna. Se M1 = M2 , a partı́cula 1 para e a 2 adquire a velocidade inicial de 1,
ou seja, v2,f = v1,i , havendo apenas uma “troca”de velocidades entre elas.
Se M1 ≫ M2 , então podemos desconsiderar M2 em comparação com M1 , e as equações 1.310 ficam

~v1,f ≈ ~v1,i (1.311a)


~v2,f ≈ 2~v1,i (1.311b)

Apenas uso pessoal


ou seja, a partı́cula 1 não altera seu movimento, e a 2 sai com o dobro da velocidade de 1. Essa seria uma
aproximação para uma colisão frontal entre um caminhão e uma pessoa, por exemplo. Por outro lado, se
Análise Vetorial
M1 ≪ M2 , então desprezamos M1 quando comparado com M2 em 1.310, obtendo

~v1,f ≈ −~v1,i (1.312a)


2M1
~v2,f ≈ ~v1,i (1.312b)
M2
Nessa colisão, a partı́cula 1 reverte seu movimento, enquanto a 2 adquire uma pequena velocidade. Note que,
se M1 → 0, então 2 fica parada. É o que ocorre, aproximadamente, ao jogar uma bolinha de tênis contra
uma parede.
Se a partı́cula 2 não está inicialmente parada, então temos basicamente três casos interessantes para
estudar, considerando a equação 1.309. Primeiro, se M1 = M2 , obtemos

~v1,f = ~v2,i (1.313a)


~v2,f = ~v1,i (1.313b)

e ocorre a “troca”de velocidades entre as partı́culas. Se M1 ≫ M2 , então as equações 1.309 ficam

2M2
~v1,f ≈ ~v1,i + ~v2,i (1.314a)
M1
~v2,f ≈ 2~v1,i − ~v2,i (1.314b)

Por fim, se M1 ≪ M2 , então temos

~v1,f ≈ −~v1,i + 2~v2,i (1.315a)


2M1
~v2,f ≈ ~v1,i + ~v2,i (1.315b)
M2

É importante ressaltar que todos os resultados acima são para colisões elásticas unidimensionais entre
duas partı́culas de massas M1 e M2 . Se a colisão não for elástica, então outras equações são obtidas. O
exercı́cio ?? estuda um desses casos. Vejamos agora um exemplo bidimensional envolvendo a lei de con-
servação do momento linear.

Exemplo 1.38. Considere duas partı́culas de massas M1 e M2 que colidem como mostra a figura 1.48. A
colisão é bidimensional, e o sistema está isolado com relação a forças externas. Determine os módulos das
velocidades finais em função das velocidades iniciais.
118 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.48: Colisão bidimensional entre duas partı́culas.

A figura 1.48 mostra as várias grandezas relevantes, em particular os ângulos que serão necessários
para o desenvolvimento das equações. O primeiro passo é escrever vetorialmente as velocidades em termos
desses ângulos. Para ~v1,i , temos

~v1,i = v1,i (cos αı̂ − sen α ĵ)


Para ~v1,i , ficamos com

~v2,i = v2,i (cos βı̂ + sen β ĵ)


A velocidade ~v1,f fica

~v1,f = v1,f (cos γı̂ + sen γ ĵ)


e velocidade ~v2,f torna-se

~v2,f = v2,f (cos δı̂ − sen δ ĵ)


de modo que temos

~v1,i = v1,i (cos αı̂ − sen α ĵ) (1.316a)


~v2,i = v2,i (cos βı̂ + sen β ĵ) (1.316b)
~v1,f = v1,f (cos γı̂ + sen γ ĵ) (1.316c)
~v2,f = v2,f (cos δı̂ − sen δ ĵ) (1.316d)

Portanto, como a lei de conservação do momento linear é válida, já que o sistema está isolado, temos
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 119

K. D. Machado
P~i = P~f
ou seja,

M1~v1,i + M2~v2,i = M1~v1,f + M2~v2,f


que fica, usando 1.316,

Apenas uso pessoal


M1 v1,i (cos αı̂ − sen α ĵ) + M2 v2,i (cos βı̂ + sen β ĵ)
= M1 v1,f (cos γı̂ + sen γ ĵ) + M2 v2,f (cos δı̂ − sen δ ĵ)
Análise Vetorial

ou

(M1 v1,i cos α + M2 v2,i cos β)ı̂ + (M2 v2,i sen β − M1 v1,i sen α) ĵ
= (M1 v1,f cos γ + M2 v2,f cos δ)ı̂ + (M1 v1,f sen γ − M2 v2,f sen δ) ĵ

Dessa expressão obtemos duas equações escalares, multiplicando respectivamente por ı̂ e por ĵ, ou seja,

M1 v1,i cos α + M2 v2,i cos β = M1 v1,f cos γ + M2 v2,f cos δ (1.317a)


M2 v2,i sen β − M1 v1,i sen α = M1 v1,f sen γ − M2 v2,f sen δ (1.317b)

Agora, vamos manipular a equação 1.317a para isolar v2,f , isto é,

M2 v2,f cos δ = M1 v1,i cos α + M2 v2,i cos β − M1 v1,f cos γ


ou
M1 cos α cos β M1 cos γ
v2,f = v1,i + v2,i − v1,f (1.318)
M2 cos δ cos δ M2 cos δ
Vamos substituir 1.318 em 1.317b,

M2 v2,i sen β − M1 v1,i sen α


M cos α cos β M1 cos γ 
1
= M1 v1,f sen γ − M2 sen δ v1,i + v2,i − v1,f
M2 cos δ cos δ M2 cos δ
ou

M2 v2,i sen β − M1 v1,i sen α


= M1 v1,f sen γ − M1 v1,i cos α tg δ − M2 v2,i tg δ cos β + M1 v1,f cos γ tg δ

ou ainda,

M2 v2,i (sen β + tg δ cos β) + M1 v1,i (cos α tg δ − sen α)


= M1 v1,f (cos γ tg δ + sen γ)

ou então,
120 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado M2 cos β tg δ + sen β cos α tg δ − sen α


v1,f = v2,i + v1,i (1.319)
M1 cos γ tg δ + sen γ cos γ tg δ + sen γ
Substituindo agora 1.319 em 1.318, obtemos

M1 cos α cos β
v2,f = v1,i + v2,i
M2 cos δ cos δ

Apenas uso pessoal


M1 cos γ  M2 cos β tg δ + sen β cos α tg δ − sen α 
− v2,i + v1,i
M2 cos δ M1 cos γ tg δ + sen γ cos γ tg δ + sen γ
Análise Vetorial
ou

M1 cos α cos β
v2,f = v1,i + v2,i
M2 cos δ cos δ
cos β tg δ + sen β M1 cos α tg δ − sen α
− v2,i − v1,i
sen δ + cos δ tg γ M2 sen δ + cos δ tg γ

ou ainda,

M1  cos α cos α tg δ − sen α   cos β cos β tg δ + sen β 


v2,f = − v1,i + − v2,i
M2 cos δ sen δ + cos δ tg γ cos δ sen δ + cos δ tg γ
ou então,

M1 cos α  tg δ − tg α  cos β  tg δ + tg β 
v2,f = 1− v1,i + 1− v2,i
M2 cos δ tg δ + tg γ cos δ tg δ + tg γ
Efetuando mais uma manipulação,

M1 cos α tg γ + tg α cos β tg γ − tg β
v2,f = v1,i + v2,i
M2 cos δ tg δ + tg γ cos δ tg δ + tg γ
e, por fim,

M1 cos α tg γ + sen α cos β tg γ − sen β


v2,f = v1,i + v2,i (1.320)
M2 cos δ tg γ + sen δ cos δ tg γ + sen δ
Assim, as expressões 1.319 e 1.320 fornecem os módulos das velocidades finais em termos das velocidades
iniciais, ângulos e massas das partı́culas. Substituindo em 1.316 encontram-se as velocidades vetorialmente.
Dada a complexidade dessas equações, vamos analisar apenas um caso particular, correspondendo a
α = β = 0 e ~v2,i = 0, ou seja, um choque em que uma das partı́culas está inicialmente parada. Nesse caso,
as expressões 1.319 e 1.320 tornam-se

1
v1,f = v1,i (1.321a)
cos γ + sen γ cotg δ
M1 1
v2,f = v1,i (1.321b)
M2 cos δ + sen δ cotg γ

Se a colisão for elástica, um novo vı́nculo é introduzido, pois deve-se ter

Ki = Kf
e uma relação entre os ângulos, ou entre as massas, é obtida. Esse exercı́cio fica para o leitor (veja o
exercı́cio ??). Vejamos agora um exemplo envolvendo a conservação do momento angular.
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 121

K. D. Machado 

Para desenvolvermos exemplos utilizando a lei de conservação do momento angular, vamos precisar
introduzir algumas relações úteis e uma grandeza importante e necessária a estes problemas, que é o momento
de inércia I. O momento de inércia é uma grandeza que, em problemas envolvendo rotações, faz o papel
da massa nas translações. Ele está associado à forma como a massa de um objeto está distribuı́da em
torno de um dado eixo, de modo que objetos com mesma massa, mas com formas diferentes de distribuição

Apenas uso pessoal


dessa massa, terão momentos de inércia diferentes e exibirão comportamentos rotacionais distintos quando
sujeitos ao mesmo torque. Em situações simples, e simétricas, o momento angular de um dado objeto pode
ser relacionado a sua velocidade angular mediante
Análise Vetorial
~ℓ = I ~ω (1.322)

Essa expressão vale quando o eixo de rotação do objeto está fixo, e a origem para o cálculo de ~ℓ está nesse
eixo. O momento de inércia I é dado em relação a esse eixo fixo e, nessa expressão, é uma grandeza escalar.
Veremos, no capı́tulo ??, que o momento de inércia é na verdade um tensor que, em alguns casos simples,
pode ser representado por um escalar I, valendo então a expressão 1.322. Note a semelhança entre essa
equação e a expressão 1.292,

~p = m~v
que define o momento linear de uma partı́cula de massa m e velocidade ~v .
O momento de inércia de uma partı́cula pontual de massa m em relação a um eixo é dado

I = md2 (1.323)
onde d é a distância ao eixo em torno do qual a partı́cula se move (e não a distância até a origem do sistema de
coordenadas). A partir desse valor, é possı́vel determinar os momentos de inércia de vários objetos, conforme
veremos na seção ??. Podemos agora investigar um exemplo envolvendo a conservação do momento angular
e as relações vistas acima.

Exemplo 1.39. Um projétil, com massa m e velocidade ~v1 , atinge a borda de um disco maciço de um
carrossel horizontal, de raio R e massa M , inicialmente parado, como mostra a figura 1.49. O projétil
encrusta-se no disco, que começa a girar com velocidade angular de módulo ω. Sabe-se que, na colisão, age
uma força no eixo do carrossel, mas essa força não produz torque se a origem do sistema de referência
for considerada no eixo, de modo que o sistema não está sujeito a torques externos, apesar de estar sujeito
a uma resultante externa. Determine o módulo de ~v1 em termos das grandezas relevantes do problema. O
momento de inércia de um disco de raio R e massa M em relação a um eixo que passa pelo seu centro e é
2
perpendicular ao plano do disco é I = MR2 (veja o exemplo ??, pág. ??).

Como foi dito que o torque externo é nulo em relação a uma origem definida em algum ponto do eixo
do carrossel, vamos utilizar o centro do disco como origem, de modo que o sistema está isolado com relação
a torques externos e o momento angular não varia durante os processos internos que ocorrem no sistema.
Além disso, o eixo que passa no centro do disco será nosso eixo de rotação, o que faz com que o momento
de inércia do disco seja conhecido. A lei de conservação do momento angular fica, então,

L~i = L~f
ou, expressando os momentos angulares em termos de suas parcelas,

~ℓi,projétil + ~ℓi,disco = ~ℓf,projétil + ~ℓf,disco (1.324)


Como o disco antes da colisão está parado, seu momento angular é nulo, ou seja,
122 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.49: Colisão entre um projétil e um disco.

~ℓi,disco = 0 (1.325)
Para obter o momento angular do projétil em relação à origem no centro do disco, precisamos utilizar a
equação 1.294,

~ℓO = ~rO × p~

A posição do projétil, em qualquer ponto antes da colisão, pode ser escrita, utilizando os eixos definidos na
figura 1.49, como

~rprojétil = −R ĵ + xı̂
onde x 6 0 (x = 0 corresponde ao ponto de colisão). Como p~projétil = m~v1 = mv1 ı̂, temos

~ℓi,projétil = (−R ĵ + xı̂) × (mv1 ı̂)

ou

~ℓi,projétil = mv1 R k̂ (1.326)


Note que o momento angular do projétil é constante antes da colisão, sendo independente de x. Depois da
colisão, disco e projétil começam a girar juntos, com velocidade angular ~ω . O momento angular do disco
pode ser escrito mediante a equação 1.322,

~ℓ = I ~ω

que fica

~ℓf,disco = Idisco ω k̂

ou
2
~ℓf,disco = M R ω k̂ (1.327)
2
1.5. APLICAÇÕES DOS CONCEITOS INICIAIS 123

K. D. Machado
Para o momento angular final do projétil, vamos considerá-lo como pontual, de modo que podemos utilizar
a equação 1.323 para o momento de inércia de uma partı́cula, e assim achamos

~ℓf,projétil = Iprojétil ω k̂

ou

~ℓf,projétil = mR2 ω k̂ (1.328)

Apenas uso pessoal


Reunindo as equações 1.325–1.328 em 1.324, temos

M R2
mv1 R k̂ = mR2 ω k̂ + ω k̂
Análise Vetorial
2
ou
 M
mv1 k̂ = R m + ω k̂
2
Efetuando o produto escalar com k̂, ficamos com
M + 2m
mv1 = Rω
2
de modo que
M + 2m
v1 = Rω (1.329)
2m
Note que, por meio de 1.329, é possı́vel estimar a velocidade do projétil, se for possı́vel determinar a velocidade
angular do disco, além das massas do disco e do projétil. Por outro lado, sabendo-se a velocidade do projétil,
o disco do carrossel passará a girar com uma velocidade angular (em módulo)
1 2m
ω=
v1 (1.330)
R M + 2m
O resultado acima será usado novamente no exemplo ?? (pág. ??). Vejamos mais um exemplo importante.

Exemplo 1.40. O sistema mostrado na figura 1.50 consiste numa vareta horizontal fina e leve, de massa m e
comprimento L, suspensa pelo seu centro em um eixo de rotação vertical. A vareta tem duas pequenas esferas
de massa M cada uma colocadas simetricamente em relação ao seu centro, e inicialmente gira livremente
com uma velocidade angular de módulo ω0 , como indicado na figura, pois o eixo de rotação é muito bem
lubrificado. As massas estão fixadas em suas posições por pinos, e distam d0 do centro. Num certo momento,
os pinos quebram, e as massas escorregam pela vareta. Determine o módulo ω da velocidade angular em
função da distância d das esferas ao centro e das outras grandezas relevantes ao problema.

Como o eixo está girando livremente, não há torques externos atuando sobre o sistema, de modo que
podemos utilizar a lei de conservação do momento angular nesse caso. Temos, então,

L~i = L~f
e os momentos angulares inicial e final são dados pelos momentos angulares das duas esferas e da vareta, ou
seja,

~ℓi,1 + ~
ℓi,2 + ~ℓi,vareta = ~ℓf,1 + ~ℓf,2 + ~ℓf,vareta (1.331)
Vamos utilizar a equação 1.322,
124 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.50: Sistema rotativo formado por uma


vareta e massas esféricas presos a ela.

~ℓ = I ~ω

para relacionar os momentos angulares com a velocidade angular. Para as esferas, utilizamos a equação 1.323,
já que elas podem ser consideradas como partı́culas, de modo que, inicialmente,

~ℓi,1,2 = M d2 ω0 k̂ (1.332)
0

e, após as esferas se moverem,

~ℓf,1,2 = M d2 ω k̂ (1.333)
onde o eixo z é perpendicular ao plano da figura, orientado para fora. Para a vareta, vamos precisar de seu
momento de inércia, que vale, de acordo com o exemplo ?? (pág. ??),

mL2
I= (1.334)
12
Assim, inicialmente temos
2
~ℓi,vareta = mL ω0 k̂ (1.335)
12
e depois,
2
~ℓf,vareta = mL ω k̂ (1.336)
12
Utilizando as equações 1.332–1.336 em 1.331, obtemos

mL2 mL2
M d20 ω0 k̂ + M d20 ω0 k̂ + ω0 k̂ = M d2 ω k̂ + M d2 ω k̂ + ω k̂
12 12
ou
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 125


K. D. Machado
mL2   mL2 
2M d20 + ω0 k̂ = 2M d2 + ω k̂
12 12
Efetuando o produto escalar com k̂ ficamos com

24M d20 + mL2 24M d2 + mL2


ω0 = ω
12 12
ou

Apenas uso pessoal


24M d20 + mL2
ω= ω0 (1.337)
24M d2 + mL2
Análise Vetorial
Note que, à medida que a distância d entre as esferas aumenta, aumenta também o momento de inércia do
conjunto formado por elas e pela vareta e, como há conservação do momento angular, a velocidade angular
do sistema diminui. Esse exemplo é um modelo simples para entender o que ocorre quando um patinador de
gelo executa uma rotação em torno de si mesmo, cada vez mais rápido. Para fazer isso, ele encolhe os braços,
diminuindo seu momento de inércia (o que seria equivalente a aproximar as esferas, no presente exemplo) e
aumenta sua velocidade angular. Ao esticar os braços, o momento de inércia aumenta e a velocidade angular
diminui, e tudo ocorre dessa forma por causa da conservação do momento angular.

Nosso próximo assunto consiste em introduzir algumas ferramentas que serão extremamente úteis na
resolução de problemas envolvendo Cálculo Vetorial.

1.6 Ferramentas Computacionais


O uso de softwares relacionados à manipulação algébrica de expressões, como Mapler , Mathematicar ,
Matlabr , MathCadr , etc, tornou-se bastante popular no meio cientı́fico e tecnológico e hoje é uma ferramenta
indispensável ao pesquisador, ao engenheiro e também ao professor, pois é também um recurso didático
extremamente poderoso. Várias empresas e universidades usam tais softwares no desenvolvimento de suas
pesquisas. Assim, torna-se evidente que, tendo tais ferramentas à disposição, devemos usá-las. É o que
faremos ao longo do livro. A idéia é mostrar a aplicação desses programas resolvendo exercı́cios simples e
também não tão simples, de modo a apresentar comandos e opções básicas, permitindo aos interessados se
aprofundar quando for de seu interesse. No nosso caso, vamos nos concentrar no software Maple em sua
versão 10. Assim, incluiremos, ao longo do texto, aplicações computacionais envolvendo esse programa e,
à medida que formos necessitando, apresentaremos os comandos básicos necessários aos cálculos. Portanto,
nenhum conhecimento prévio de Maple será necessário 18 , mas tanto melhor se houver. Inicialmente, vamos
mostrar como definir uma variável qualquer, digamos x. No Maple, a definição de uma variável é similar a

> x:=2;
x := 2
Note que as linhas que você deve digitar são precedidas pelo sinal de maior (>), enquanto as linhas que
correspondem à saı́da do Maple são centralizadas e não há o sinal de maior. Para definirmos x como sendo
o número 2, utilizamos o sinal de igual (=) precedido pelos dois pontos (:), ou seja, :=. Além disso, a linha
termina com um ponto-e-vı́rgula (;), que é o que indica ao Maple que essa linha de comando terminou.
Podemos conferir se x efetivamente vale 2 digitando

18 Exceto, é claro, noções elementares, como ligar o computador e executar o programa Maple.
126 1. CONCEITOS INICIAIS

> x;
K. D. Machado
2
Conforme esperado, a saı́da do Maple confirma que nossa variável x vale 2. Se quisermos liberar a variável
de seu valor, usamos o comando
unassign
como abaixo

Apenas uso pessoal


> unassign(’x’);
Note que a variável é colocada entre apóstrofos (’) e, nesse caso, o Maple não gera nenhuma saı́da, ou mais
Análise Vetorial
precisamente, gera uma saı́da nula 19 . Podemos conferir se a variável foi liberada mediante

> x;
x
No Maple, as variáveis podem ter nomes como equacao, soma_parcial, joao, xy10, xy_10, nome_muito_longo,
etc. Entretanto, algumas formas não podem ser usadas, como palavras com hı́fen (nome-separado, por √ exem-
plo), e nomes de variáveis pré-definidas, como Pi (que é o número π), I (que é o número complexo i = −1),
e nomes de funções, como exp, que é a função exponencial ex . À medida que formos avançando, apresenta-
remos mais funções importantes e de uso comum.
O próximo passo consiste em definir um vetor no Maple. O Maple possui “bibliotecas”que acrescentam
funções extras às suas funções básicas, e os comandos associados a cálculos vetoriais estão definidos numa
dessas bibliotecas, chamada de VectorCalculus. Assim, inicialmente precisamos “carregar”essa biblioteca,
o que é feito com o comando
> with(VectorCalculus);
o que produz a saı́da
Warning, the assigned names <,> and <|> now have a global binding
Warning, these protected names have been redefined and unprotected: *,
+, -, ., D, Vector, diff, int, limit, series

[&x , ∗, +, −, ., <, >, < | >, AddCoordinates, ArcLength, BasisFormat , Binormal ,


CrossProd , CrossProduct , Curl , Curvature, D, Del , DirectionalDiff , Divergence,
DotProd , DotProduct , Flux , GetCoordinateParameters , GetCoordinates,
Gradient , Hessian, Jacobian , Laplacian , LineInt, MapToBasis , Nabla, Norm,
Normalize, PathInt , PrincipalNormal , RadiusOfCurvature, ScalarPotential ,
SetCoordinateParameters , SetCoordinates, SurfaceInt , TNBFrame, Tangent ,
TangentLine, TangentPlane, TangentVector, Torsion, Vector , VectorField ,
VectorPotential , Wronskian, diff , evalVF , int, limit , series]
A biblioteca VectorCalculus define (em alguns casos, ela redefine) os vários comandos que estão listados
acima, e que são utilizados para cálculos vetoriais. Veremos vários deles oportunamente. Note que, se utilizar-
mos dois pontos (:) ao invés do ponto-e-vı́rgula (;) no comando, a saı́da do comando será nula, e não haverá
a saı́da mostrada acima, mas ele será executado. À medida que nos familiarizarmos com os comandos, vamos
preferir usar os dois pontos, para produzir uma saı́da mais clara. Quando a biblioteca VectorCalculus é
carregada pela primeira vez, ela define, por padrão, o sistema de coordenadas como sendo o sistema de coor-
denadas cartesianas, de modo que, se formos realizar cálculos envolvendo esse sistema de coordenadas, não é

19 Não confundir com um resultado que vale 0 (zero). Numa saı́da nula, o Maple executa o comando, mas não apresenta nada
na tela como resposta.
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 127

K. D. Machado
preciso definir o sistema de coordenadas. Podemos definir agora um vetor tridimensional ~a = ax ı̂+ ay ĵ+ az k̂
por meio de
> a:= <a_x,a_y,a_z>;
a := a x ex + a y ey + a z ez
Note que o vetor é definido de forma que suas componentes cartesianas são listadas entre os sinais de menor
que (<) e maior que (>), separadas por vı́rgulas. O Maple mostra o resultado usando versores ei , onde i

Apenas uso pessoal


pode ser x, y ou z, correspondendo, respectivamente, a ı̂, ĵ e k̂. Por exemplo, o vetor ~v = ı̂ + 2 ĵ + k̂ ficaria
> v:=<1,2,1>;
Análise Vetorial
v := êx + 2 êy + êz

Vamos definir agora um vetor ~b = bx ı̂ + by ĵ + bz k̂, mediante


> b:= <b_x,b_y,b_z>;

b := b x êx + b y êy + b z êz


Podemos agora somar esses dois vetores, por meio de
> a+b;

(a x + b x ) êx + (a y + b y) êy + (a z + b z ) êz


o que concorda com a expressão 1.4. A multiplicação por um escalar λ pode ser escrita como
> lambda*a;
λ a x êx + λ a y êy + λ a z êz
e o módulo de um vetor usa a função

Norm(V)

onde V é um vetor, como se vê em


> Norm(a);
p
a x 2 + a y2 + a z 2
que reproduz a equação 1.5. Aqui é interessante observar que o Maple fornece dados sobre as suas funções
se usarmos o comando

help(comando)

onde comando é o comando ou função sobre a qual queremos informações. Por exemplo,
> help(Norm);
fornecerá uma descrição do comando Norm, incluindo alguns exemplos de uso. Pode ser usado, também, um
ponto de interrogação (?) antes do comando, ou seja,
> ?Norm;
Podemos agora passar a outro comando importante no que diz respeito a vetores. Já vimos que uma operação
importante envolve o produto escalar de dois vetores, definido em geral pela equação 1.14,

~·B
A ~ = |A||
~ B|~ cos θ = AB cos θ
128 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
ou, em coordenadas retangulares, pela equação 1.16,

~a · ~b = ax bx + ay by + az bz
No Maple, podemos efetuar produtos escalares usando a função

DotProd(V1,V2)

Apenas uso pessoal


onde V1 e V2 são os dois vetores cujo produto escalar é desejado. Como exemplo, temos, fazendo o produto
escalar ~a · ~b,
> DotProd(a,b);
Análise Vetorial
a xb x +a yb y +a z b z
que reproduz a expressão 1.16, lembrando que estamos usando o sistema de coordenadas retangulares tridi-
mensionais. Dois outros comandos podem ser usados para produtos escalares, a saber,

DotProduct(V1,V2) e V1.V2

Ambos calculam produtos escalares, assim como DotProd. Exemplificando a última forma, temos
> a.b;
a xb x +a yb y +a z b z
Outro produto importante, conforme já vimos, é o produto vetorial, cujo módulo é dado por 1.25,

~ = |A
|C| ~ = |A||
~ × B| ~ B|~ sen θ

e que, em coordenadas retangulares, pode ser expresso através da equação 1.28,

~a × ~b = (ay bz − az by )ı̂ + (az bx − ax bz ) ĵ + (ax by − ay bx ) k̂


No Maple, podemos efetuar o produto vetorial através do comando

CrossProd(V1,V2)

onde V1 e V2 são os dois vetores do produto vetorial. Exemplificando, temos


> CrossProd(a,b);
(a y b z − a z b y) êx + (a z b x − a x b z ) êy + (a x b y − a y b x ) êz
que reproduz a equação 1.28. Outros dois comandos podem ser usados

CrossProduct(V1,V2) e V1 &x V2

Exemplificando a última forma, temos


> a &x b;
(a y b z − a z b y) êx + (a z b x − a x b z ) êy + (a x b y − a y b x ) êz
O produto misto, dado pela expressão 1.37, pode ser rapidamente obtido. Iniciamos definindo o vetor ~c =
cx ı̂ + cy ĵ + cz k̂, ou seja,
> c:=<c_x,c_y,c_z>;
c := c x êx + c y êy + c z êz
Em seguida, calculamos
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 129

> a.(b &x c);


K. D. Machado
a x (b y c z − b z c y) + a y (b z c x − b x c z ) + a z (b x c y − b y c x )
que reproduz a equação 1.37. Note que o cálculo de operações envolvendo vetores torna-se muito simples e
rápido com o uso de softwares como o Maple. Vejamos um exemplo simples de aplicação.

Exemplo 1.41. Determinar um vetor unitário ortogonal ao vetor ~a = 2ı̂ + ĵ.

Apenas uso pessoal


Vamos utilizar o Maple para resolver esse problema em coordenadas retangulares bidimensionais. Neste
caso, definimos inicialmente o vetor ~a, mediante
> with(VectorCalculus):a:=<2,1>;
Análise Vetorial
a := 2 êx + êy
A primeira coisa a notar é que, ao utilizar o Maple nos exemplos, supomos que nenhum cálculo foi pre-
viamente executado, ou seja, ele foi recém aberto e não foi ainda usado. Assim, carregamos a biblioteca
VectorCalculus, e agora utilizamos dois pontos (:), ao invés de ponto-e-vı́rgula (;), de modo que sua
execução não será mostrada na tela. Logo em seguida, na mesma linha, definimos o vetor ~a. Em seguida,
definimos um vetor ~b = bx ı̂ + by ĵ, isto é,
> b:=<b_x,b_y>;
b := b x êx + b y êy
Agora, calculamos o produto escalar entre eles, ou seja,
> pe:=a.b;
pe := 2 b x + b y
onde pe é uma variável que representa o produto escalar ~a · ~b. Esse produto escalar deve se anular, ou seja,
devemos ter pe=0. Então, introduzimos um novo comando,

solve(equaç~
ao, variável)

para resolver a equação desejada. O comando solve tem os seguintes argumentos:

ao: equação ou sistema de equações, ou ainda inequações, envolvendo a variável ou conjunto de


equaç~
variáveis se quer determinar.

variável: incógnita ou conjunto de incógnitas a determinar.

Este comando manipula a equaç~


ao de forma a determinar o valor da variável que a resolve. Para o presente
caso, vamos achar a componente by em termos da componente bx . Assim, temos
> b_y:=solve(pe=0,b_y);
o que produz, como resultado,
b y := −2 b x
No exemplo acima, a equação era pe=0, ou seja, o produto escalar deveria se anular, e com isso
achamos quanto deveria valer by em termos de bx , o que, nesse caso, corresponde a by = −2bx. Continuando,
podemos verificar que by foi substituı́do pelo valor achado acima, fazendo
> b;
b x êx − 2 b x êy

Vamos agora calcular o módulo de ~b, mediante


130 1. CONCEITOS INICIAIS

> modulob:=Norm(b);
K. D. Machado
o que resulta em
√ √ 2
modulob := 5 b x
Vamos agora definir uma variável auxiliar bxr tal que o modulo de ~b seja 1, ou seja,

> b_xr:=solve(modulob=1,b_x);

Apenas uso pessoal


Assim, o comando solve acha o valor de bx que faz com que a equação modulob = 1 seja verificada, e coloca
o resultado em bxr , conforme vemos abaixo.
Análise Vetorial
√ √
5 5
b xr := ,−
5 5
O motivo de usarmos uma variável auxiliar bxr é que existem dois possı́veis valores para a solução, ou seja,
para bx , que fazem com que |~b| = 1. O primeiro pode ser visualizado através de

> b_xr[1];

5
5
onde acrescentamos ao nome da variável, bxr , o número 1 entre colchetes, ou seja, bxr [1], para indicar a
primeira solução. A segunda solução, de maneira análoga, é obtida através de

> b_xr[2];

5

5
Podemos agora selecionar a primeira raiz para bx , fazendo

> b_x:=b_xr[1];

5
b x :=
5
de modo que ~b se torna

> b;
√ √
5 2 5
êx − êy
5 5
Podemos conferir o módulo de ~b através de

> Norm(b);
1
e verificamos que obtivemos um versor unitário ortogonal ao vetor ~a, conforme pretendı́amos inicialmente.
O leitor deve agora utilizar a segunda raiz para obter o outro versor unitário ortogonal a ~a. Vejamos agora
um outro exemplo muito interessante.

Exemplo 1.42. Uma prateleira retangular ABCD para colocação de vasos de flores foi presa a uma parede
como mostra a figura 1.51.
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 131

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.51: Um prateleira para vasos de flores.

A prateleira retangular está suspensa por meio de dois cabos EG e CH e duas dobradiças I e J. Os
cabos, que são inextensı́veis, foram presos a ganchos G e H, que são iguais e cuja altura pode ser desprezada
com relação às outras dimensões do problema. As dobradiças também têm dimensões muito menores que as
outras dimensões relevantes, podendo ser desprezadas, e sabe-se que as dobradiças não produzem forças na
direção x indicada na figura (direção axial das dobradiças). A chapa é uniforme e possui uma massa M = 2
kg. Sabe-se que os cabos suportam tensões máximas de 250 N cada um. Além disso, as dobradiças, que são
iguais, foram projetadas para tensões máximas de 400 N. Um vaso de flores de massa m = 6 kg foi colocado
sobre a prateleira em F, conforme indicado. Verifique se, nessas condições, o sistema satisfaz os requisitos
de segurança. Considere que o módulo da aceleração da gravidade vale g = 9, 8 m/s2 .
Para responder a pergunta feita, ou seja, se o vaso de flores colocado ultrapassa as normas de segurança,
vamos supor que um vaso de massa m seja colocado na posição considerada e vamos determinar qual o maior
valor possı́vel seguro para essa massa. Para tanto, precisamos inicialmente considerar todas as forças agindo
no sistema, que é a prateleira retangular. Aqui precisamos lembrar que cabos, fios, cordas, etc, só podem ser
submetidos a forças de tração, pois eles não oferecem resistência a forças compressivas. Além disso, a força
deve estar paralela a estes elementos. Com relação ao peso da prateleira, ele deve agir no seu centro, pois
ela é homogênea. Então, considerando novamente a figura 1.51, só que agora desenhando apenas as forças,
temos a figura 1.52 abaixo.
132 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado

Apenas uso pessoal


Análise Vetorial

Figura 1.52: Forças agindo na prateleira para vasos de flores.

Na figura, P~ representa o peso da prateleira, e P~v , o peso do vaso. Ambos são verticais. As dobradiças
produzem forças nas direções y e z, dadas por F~Iy e F~Iz , para a dobradiça I, e F~Jy e F~Jz , para a dobradiça J,
e os cabos produzem forças F~C e F~E . Vamos usar o Maple para resolver esse problema. Iniciamos carregando
o pacote de cálculo vetorial, ou seja,
> with(VectorCalculus):
Note que a saı́da não será mostrada na tela. Em seguida, definimos o peso da prateleira mediante
> P:=<0,0,-196/10>;
Observe que usamos valores na forma de frações ao invés de números decimais, para favorecer a visualização
dos resultados. Como saı́da, temos
−98
P := (
) êz
5
Definimos também o peso do vaso de massa m por meio de
> Pv:=<0,0,-m*g>;
Pv := −m g êz
Podemos escrever a força produzida pela dobradiça I como

F~I = FIy ĵ + FIz k̂ (1.338)


ou, no Maple,
> FI:=<0,FIy,FIz>;
FI := FIy êy + FIz êz
Para a dobradiça J, temos

F~J = FJy ĵ + FJz k̂ (1.339)


ou
> FJ:=<0,FJy,FJz>;
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 133

K. D. Machado FJ := FJy ey + FJz ez


Para os cabos, vamos precisar primeiro dos versores de direção que estão associados às retas paralelas aos
cabos. Para o cabo CH, a reta passa pelos pontos 20 C(0; 1,5; 0) e H(0,05; 0; 0,4). Então,
> rC:=<0,15/10,0>;
3
rC := êy
2

Apenas uso pessoal


e
> rH:=<5/100,0,4/10>;
1 2
Análise Vetorial
rH := êx + êz
20 5
de modo que
> rHC:= rH-rC;
1 3 2
rHC :=
êx − êy + êz
20 2 5
Esse é um vetor paralelo à reta CH. Assim, um versor paralelo à reta CH, que aponta de C para H, é dado
por
> versorHC:= rHC/Norm(rHC);
√ √ √
965 6 965 8 965
versorHC :=êx − êy + êz
965 193 965
sendo que devemos lembrar que a função Norm fornece o módulo do vetor. Agora, podemos escrever a força
F~C da seguinte forma

F~C = FCm n̂C


onde n̂C é um versor paralelo à reta CH, que aponta de C para H, e FCm é o módulo de F~C . Portanto,
FC:= simplify(FCm * versorHC);
>
√ √ √
FCm 965 6 FCm 965 8 FCm 965
FC := êx − êy + êz
965 193 965
Aqui usamos uma nova função do Maple, a função
simplify(express~
ao)
que executa simplificações em express~
ao, de modo a simplificar a saı́da do comando. Continuando, pro-
cedemos do mesmo modo para achar a força produzida pelo cabo EG. Temos os pontos E(1,2; 1,0; 0) e
G(1,15; 0; 0,3), ou seja,
> rE:=<12/10,1,0>;
6
rE := êx + êy
5
e
> rG:=<115/100,0,3/10>;
23 3
rG := êx + êz
20 10

20 Já fazendo as devidas conversões para unidades do SI.


134 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
de modo que um vetor paralelo à reta EG é
> rGE:=rG-rE;
−1 3
rGE := ( ) êx − êy + êz
20 10
d fica
e assim, o versor EG

versorGE:=rGE/Norm(rGE);

Apenas uso pessoal


>
√ √ √
437 20 437 6 437
versorGE := − êx − êy + êz
437 437 437
Análise Vetorial
Agora, a força F~E pode ser escrita como

F~E = FEm n̂E


onde FEm é o módulo de F~E e n̂E é o versor da direção EG. Assim, temos
> FE:=simplify(FEm*versorGE);
√ √ √
FEm 437 20 FEm 437 6 FEm 437
FE := − êx − êy + êz
437 437 437
Agora temos todas as forças relevantes escritas em termos de componentes cartesianas. O próximo passo
consiste em obter relações envolvendo essas grandezas, visando determinar as incógnitas. A primeira equação
a considerar é a condição de força resultante nula, ou seja, devemos ter

F~C + F~E + F~I + F~J + P~ + P~v = 0


ou, usando o Maple,
> F:=P+Pv+FI+FJ+FE+FC;
√ √
FEm 437 FCm 965
F := (− + ) êx
437 965
√ √
20 FEm 437 6 FCm 965
+(FIy + FJy − − ) êy
437 193
√ √
98 6 FEm 437 8 FCm 965
+(− − m g + FIz + FJz + + ) êz
5 437 965
o que resulta em três equações, uma para cada componente. A primeira equação fornece FEm em termos de
FCm , ou seja, considerando o comando solve, temos
> solve(F[1]=0,FEm);
√ √
FCm 965 437
965
Note que cada componente da força resultante deve ser nula, por isso usamos o comando solve na forma
acima. Para selecionar a componente x da força resultante, usamos F[1], pois a componente x é a primeira
componente do vetor força resultante. O resultado acima é o valor de FEm , obtido em termos de FCm .
Podemos definir agora FEm em termos desse resultado, o que é feito mediante
> FEm:=%;
√ √
FCm 965 437
FEm :=
965
Aqui usamos mais um comando do Maple, o comando
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 135

K. D. Machado %

Esse comando equivale à saı́da do último cálculo efetuado pelo Maple, seja ele qual for. O comando

%%

equivale à saı́da do penúltimo cálculo efetuado pelo Maple, e o comando

Apenas uso pessoal


%%%

fornece a saı́da do antepenúltimo comando executado. A partir de agora, o valor de FEm será
Análise Vetorial
√ √
FCm 965 437
FEm =
965
Em seguida, achamos uma relação que envolve FIy e FJy , conforme se vê se considerarmos a segunda
componente da força resultante, ou seja,
> F[2];

10 FCm 965
FIy + FJy −
193
Essa componente, que é a componente em y, deve ser nula, o que permite encontrar FIy em termos de FJy
e FCm , isto é,
> solve(F[2]=0,FIy);

10 FCm 965
−FJy +
193
> FIy:=%;

10 FCm 965
FIy := −FJy +
193
Portanto, agora temos

10 FCm 965
FIy = −FJy +
193
Efetuamos o mesmo processo para a componente em z da força resultante, que é
> F[3];

98 14 FCm 965
− − m g + FIz + FJz +
5 965
Ela fornece FIz em termos de FJz e FCm , ou seja,
> solve(F[3]=0,FIz);

98 14 FCm 965
+ m g − FJz −
5 965
> FIz:=%;

98 14 FCm 965
FIz := + m g − FJz −
5 965
Portanto, agora temos

98 14 FCm 965
FIz = + m g − FJz −
5 965
136 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Precisamos determinar ainda outras equações, e para isso devemos considerar relações envolvendo torques,
o que necessita da definição de origens apropriadas para os cálculos. Podemos obter algumas relações inte-
ressantes usando como origem para o cálculo de torques o ponto J. Nesse caso, precisamos definir
> rI:=<105/100,0,0>;
21
rI := êx
20
e

Apenas uso pessoal


> rJ:=<1/10,0,0>;
1
rJ :=
Análise Vetorial
êx
10
de modo que, em relação ao ponto J, o ponto I fica em
> rIJ:=rI-rJ;
19
rIJ := êx
20
Portanto, o torque gerado pelas forças em I em relação a J é, lembrando que o comando para produto
vetorial no Maple é &x,
> TIJ:=rIJ &x FI;

931 19 m g 19 FJz 133 FCm 965
TIJ := (− − + + ) êy
50 20 20 9650

19 FJy 19 FCm 965
+(− + ) êz
20 386
Em relação a J, o ponto E fica em
> rEJ:= rE-rJ;
11
rEJ := êx + êy
10
O torque gerado por F~E em relação a J fica, então,
> TEJ:=rEJ &x FE;
√ √ √
6 FCm 965 33 FCm 965 21 FCm 965
TEJ := êx − êy − êz
965 4825 965
O ponto C, em relação a J fica em
> rCJ:=rC-rJ;
−1 3
rCJ := ( ) êx + êy
10 2
Com isso, o torque gerado por F~C em relação a J torna-se
> TCJ:=rCJ &x FC;
√ √ √
12 FCm 965 4 FCm 965 3 FCm 965
TCJ := êx + êy + êz
965 4825 1930
Precisamos agora do torque gerado pelo peso da prateleira e também do torque gerado pelo peso do vaso. O
ponto F, onde fica o vaso, está em
> rF:=<45/100,12/10,0>;
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 137

K. D. Machado rF :=
9 6
êx + êy
20 5
e, em relação a J, este ponto fica em
> rFJ:=rF-rJ;
7 6
rFJ := êx + êy
20 5

Apenas uso pessoal


Então, o torque gerado pelo vaso vale
> TFJ:=rFJ &x Pv;
6mg 7mg
Análise Vetorial
TFJ := − êx + êy
5 20
Por fim, o centro da praleteira fica em
> rP:=<6/10,75/100,0>;
3 3
rP := êx + êy
5 4
e, em relação a J, esse ponto fica em
> rPJ:=rP-rJ;
1 3
rPJ := êx + êy
2 4
Portanto, o torque gerado pelo peso da prateleira, em relação a J, fica
> TPJ:=rPJ &x P;
−147 49
TPJ := ( ) êx + êy
10 5
Agora, somando os torques exercido por cada força em relação a J, temos o torque resultante em relação a
J, ou seja,
> TJ:=TIJ + TEJ + TCJ + TPJ + TFJ;

18 FCm 965 147 6 m g
TJ := ( − − ) êx
965 10 5

441 3 m g 19 FJz 3 FCm 965
+(− − + + ) êy
50 5 20 386

19 FJy 28 FCm 965
+(− + ) êz
20 965
Cada componente desse torque resultante deve se anular. Começando com a componente x, que é

> TJ[1];

18 FCm 965 147 6 m g
− −
965 10 5
vemos que podemos determinar FCm em termos de m, ou seja,
> simplify(solve(TJ[1]=0,FCm));

(49 + 4 m g) 965
60
> FCm:=simplify(%);
138 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado FCm :=

(49 + 4 m g) 965
60
de modo que achamos

(49 + 4mg) 965
FCm =
60

Apenas uso pessoal


A segunda componente do torque resultante é

> TJ[2];
539 m g 19 FJz
Análise Vetorial
− − +
200 10 20
e, a partir dela, podemos achar FJz , ou seja,

> solve(TJ[2]=0,FJz);
539 2 m g
+
190 19
> FJz:=%;
539 2 m g
FJz := +
190 19
Por fim, a terceira componente de T~J é

> TJ[3];
19 FJy 343 28 m g
− + +
20 15 15
o que faz com que achemos FJy , por meio de

> solve(TJ[3]=0,FJy);
1372 112 m g
+
57 57
> FJy:=%;
1372 112 m g
FJy := +
57 57
Com isso, todas as forças estão em função de m, a massa do vaso, conforme podemos ver considerando

> FE;
49 m g 49 4 m g 49 2 m g
(− − ) êx + (− − ) êy + ( + ) êz
60 15 3 3 10 5
> FI;
637 26 m g 1519 11 m g
( + ) êy + ( − ) êz
38 19 285 285
> FJ;
1372 112 m g 539 2 m g
( + ) êy + ( + ) êz
57 57 190 19
> FC;
49 m g 49 98 8 m g
( + ) êx + (− − 2 m g) êy + ( + ) êz
60 15 2 15 15
ou seja,
1.6. FERRAMENTAS COMPUTACIONAIS 139

K. D. Machado
 49 mg   49 4mg   49 2mg 
F~E = − + ı̂ − + ĵ + + k̂
60 15 3 3 10 5
 637 26mg   1519 11mg 
F~I = + ĵ + − k̂
38 19 285 285
 1372 112mg   539 2mg 
F~J = + ĵ + + k̂
57 57 190 19
 49 mg   49   98 8mg 

Apenas uso pessoal


F~C = + ı̂ − + 2mg ĵ + + k̂
60 15 2 15 15
Agora que temos as equações para as forças, podemos determinar o valor de m que faz com que cada força
Análise Vetorial
atinja o valor máximo. Primeiro, vamos calcular o módulo da força F~E , usando o comando subs, dado por

subs(valores,equaç~
oes)

Os argumentos desse comando são

valores: valor ou valores a serem substituı́dos na equação ou equações.

oes: equação ou conjunto de equações onde os valores das incógnitas devem ser substituı́dos.
equaç~

Assim, substituindo o valor de g na expressão para o módulo de F~E obtido pelo comando Norm, achamos
> moduloFE:=subs(g=9.8,Norm(FE));
√ p
437 (49 + 39.2 m)2
moduloFE :=
60
A tensão máxima no cabo preso em E vale 250 N, de modo que podemos obter o valor máximo de m
por meio de
> solve(moduloFE=250,m);
17.05477831, −19.55477831
Apenas a raiz positiva faz sentido, então a massa máxima para o vaso, para esse cabo, fica em torno de
m = 17 kg. Considere agora o módulo da força na dobradiça I,
> moduloFI:=subs(g=9.8,Norm(FI));

100527469 + 0.1447668544 109 m + 0.5847721936 108 m2
moduloFI :=
570
Essa dobradiça suporta uma força máxima de intensidade 400 N, portanto,
> solve(moduloFI=400,m);
28.57451794, −31.05012906
e massa máxima para essa dobradiça é de m = 28, 6 kg. Entretanto, o cabo EG limita a massa máxima em
17 kg, de modo que se este cabo estiver em segurança, a dobradiça também estará. Vamos verificar agora a
outra dobradiça, em J. O módulo de F~J é
> moduloFJ:=subs(g=9.8,Norm(FJ));

190853089 + 0.3030830320 109 m + 0.1208183200 109 m2
moduloFJ :=
570
e assim, a massa máxima vale
> solve(moduloFJ=400,m);
140 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado 19.48840385, −21.99698891


Essa dobradiça resiste a uma massa máxima m = 19, 5 kg, mas o cabo EG a restringe a m = 17 kg, portanto
quem governa a segurança até agora é o cabo EG. Por fim, podemos ver o que ocorre com o outro cabo, o
cabo CH. O módulo de F~C é
> moduloFC:=subs(g=9.8,Norm(FC));
p √
(49 + 39.2 m)2
965

Apenas uso pessoal


moduloFC :=
60
Lembrando que os cabos suportam apenas 250 N, temos uma massa máxima de
Análise Vetorial
> solve(moduloFC=250,m);
11.06803788, −13.56803788
ou seja, o cabo CH resiste a uma massa máxima de valor m = 11 kg. Esse é o valor máximo permitido
para o vaso colocado na plataforma, de modo a seguir as especificações dela e garantindo a sua segurança.
Considerando a massa efetivamente colocada, ou seja, m = 6 kg, além do valor de g,
> m:= 6;
m := 6
> g:=98/10;
49
g :=
5
temos as forças
> FE;
−1421 1421 1421
( ) êx − êy + êz
300 15 50
> FI;
18473 4361
êy + êz
190 1425
> FJ;
39788 343
êy + êz
285 38
> FC;
1421 1421 2842
êx − êy + êz
300 10 75
cujos módulos são
> evalf(moduloFE);
99.01786130
> evalf(moduloFI);
97.27446853
> evalf(moduloFJ);
139.8985122
> evalf(moduloFC);
147.1419407
onde usamos a função

evalf(variável)
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 141

K. D. Machado
que apresenta o valor em números decimais (ponto flutuante) da variável. Resumindo tudo, temos

1421 1421 1421


F~E = − ı̂ − ĵ + k̂ FE = 99 N
300 15 50
18473 4361
F~I = ĵ + k̂ FI = 97 N
190 1425
39788 343
F~J = ĵ + k̂ FE = 140 N
285 38

Apenas uso pessoal


1421 1421 2842
F~C = ı̂ − ĵ + k̂ FC = 147 N
300 10 75
e assim, resolvemos o problema completamente, utilizando uma ferramenta bastante útil, o Maple, e o
Análise Vetorial
resultado é que o vaso colocado não causará problemas à segurança da prateleira.


1.7 Outros Sistemas de Coordenadas Úteis


Conforme dissemos anteriormente, além do sistema de coordenadas retangulares, ou cartesianas, exis-
tem vários outros sistemas de coordenadas que têm uso mais ou menos freqüente em aplicações cientı́ficas.
Em particular, três sistemas de coordenadas, um em duas dimensões e dois em três, têm larga aplicação em
Fı́sica e Matemática. Nosso objetivo aqui é introduzir esses sistemas, suas bases e suas relações com os siste-
mas de coordenadas cartesianas bi e tridimensionais. É interessante notar que todos os três são sistemas que
têm bases ortogonais normalizadas, ou seja, são ortonormais. Vamos começar com o sistema bidimensional
de coordenadas polares.

1.7.1 Sistema de Coordenadas Polares


O sistema de coordenadas polares é um sistema de coordenadas bidimensional bastante utilizado, e
um exemplo de aplicação é no estudo do movimento de planetas em torno de uma estrela, onde o uso deste
sistema de coordenadas facilita muito o desenvolvimento dos cálculos. A idéia por trás do sistema é simples.
Em coordenadas retangulares usamos as coordenadas x e y para representar um dado ponto P(x, y) no plano.
Assim, o ponto P situa-se na posição

~r = xı̂ + y ĵ
A distância do ponto P à origem é dada pelo módulo de ~r, que vamos representar por ρ, ou seja,
p
ρ = |~r | = x2 + y 2 (1.340)
Podemos usar essa distância para especificar o ponto P no plano. A questão é que, se fornecermos apenas a
distância ρ, especificaremos um conjunto de pontos que estão a essa distância da origem, o que resulta numa
circunferência de raio ρ. Para definir completamente o ponto P precisamos de mais alguma coordenada, e
essa coordenada corresponde ao ângulo θ que aparece na figura 1.53 abaixo.

O ângulo θ é o ângulo entre o segmento de reta OP e o eixo x, sendo que o sentido anti-horário é considerado
como sendo positivo 21 . Assim, um ponto, em coordenadas polares, é representado por P(ρ, θ). Da figura,
vemos que as relações entre as coordenadas polares e as cartesianas são dadas por

21 No caso do ângulo ser negativo, a interpretação é de que ele está sendo medido no sentido horário a partir do sentido positivo
do eixo x. Nesse caso, para ilustrar um exemplo, um ângulo θ = − π2 corresponde ao ângulo θ = 3π 2
.
142 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado y
P(x, y) = P(r,q)

r
r (t)

Apenas uso pessoal


O x
Análise Vetorial
Figura 1.53: Coordenadas do sistema de coordenadas polares.

p
ρ= x2 + y 2 (1.341a)
y
θ = arctg (1.341b)
x
Podemos obter também as relações inversas entre as coordenadas cartesianas e as coordenadas polares,
mediante

x = ρ cos θ (1.342a)
y = ρ sen θ (1.342b)
Com o uso das equações 1.341 e 1.342 podemos expressar um ponto qualquer dado numa das coordenadas
em termos da outra.

Exemplo 1.43. Os pontos abaixo são dados em coordenadas retangulares. Transforme-os para coordenadas
polares.
1. A(2, 2).
2. B(−4, 0).

3. C(−1, 3).

4. D( 3, −1).
√ √
5. E( 2, 3).

Para converter os pontos acima para coordenadas polares, usamos as equações 1.341. Começamos com
o ponto A. Nesse caso, temos

√ √ 2 π
ρA = 4+4=2 2 θA = arctg =
2 4

Portanto, o ponto fica A(2 2, π4 ). Vejamos agora o ponto B. Nesse caso, temos

√ 0
ρB = 16 + 0 = 4 θA = arctg =π
−4
e o ponto se torna B(4, π). Para o próximo ponto, podemos utilizar o Maple, como forma de ilustrar seu uso.
Nesse caso, precisaremos do comando
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 143

K. D. Machado MapToBasis(V, coordenadas)

o qual faz parte da biblioteca VectorCalculus. Os argumentos desse comando são

V: corresponde às coordenadas de um ponto ou a um campo vetorial V~ .

coordenadas: sistema de coordenadas em que V deve ser escrito.

Apenas uso pessoal


O comando MapToBasis pode ser usado de duas formas. Se V corresponder às coordenadas de um dado ponto,
estas coordenadas serão transformadas para o sistema de coordenadas dado pela opção coordenadas. Se V for
um campo vetorial, ou seja, V~ é uma função das coordenadas atuais, o resultado do comando MapToBasis será
Análise Vetorial
o campo vetorial escrito no sistema de coordenadas dado pela opção coordenadas. Note que as coordenadas
para V são cartesianas por padrão, mas isso pode ser alterado usando-se o comando SetCoordinates, que
será descrito posteriormente. Assim, o primeiro passo é carregar a biblioteca VectorCalculus, ou seja,
> with(VectorCalculus):
Warning, the assigned names <,> and <|> now have a global binding

Warning, these protected names have been redefined and unprotected: *,


+, -, ., D, Vector, diff, int, limit, series

Em seguida, usamos o comando MapToBasis para converter o ponto C para coordenadas polares, achando
> MapToBasis(<-1,sqrt(3)>,’polar’);
√ 2π
4 er +

3
Note o uso do sistema de coordenadas polar em MapToBasis. Outras opções comuns são cylindrical e
spherical, e o Maple tem muitos outros sistemas pré-definidos. Efetuando uma simplificação,
> simplify(%);

2 er + eθ
3
de modo que, em polares, obtemos C(2, 2π
3 ). Continuando, temos, para D,

> MapToBasis(<sqrt(3),-1>,’polar’);
√ π
4 er − eθ
6
ou
> simplify(%);
π
2 er − eθ
6
ou seja, achamos D(2, − π6 ), o que equivale a D(2, 2π − π6 ) = D(2, 11π
6 ). Por fim, para E temos

> MapToBasis(<sqrt(2),sqrt(3)>,’polar’);
ou
√ √
√ 3 2
5 er + arctan( ) eθ
2
√ √
e temos E( 5, arctg 26 ).


144 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Além de transformar um conjunto de coordenadas no outro, é importante também podermos relacionar
as bases dos dois sistemas de coordenadas. O sistema de coordenadas retangulares tem a base R2 = {ı̂, ĵ},
formada por dois versores ortogonais ı̂ e ĵ. O sistema de coordenadas polares também precisa de uma base
com dois vetores, e tanto melhor se ela for ortonormal. Vamos escolher um dos versores de modo que ele seja
paralelo ao segmento de reta OP que une a origem ao ponto P considerado, com sentido de O para P, como
mostra a figura 1.54 abaixo. O outro versor será ortogonal a este, orientado de forma a seguir o crescimento
do ângulo θ, como mostra a figura.

Apenas uso pessoal


y P(r, q)
^
q
Análise Vetorial
^j
^
q
bq br ^
r
q
O ^i x

Figura 1.54: Base do sistema de coordenadas polares.

Temos, então, os versores ρ̂ e θ̂, e precisamos agora expressá-los em termos da base R2 . Para isso, vamos
utilizar a equação 1.23, que estabelece como escrever um vetor qualquer V~ em termos dos seus cossenos
diretores, isto é,

V~ = V cos αı̂ + V cos β ĵ + V cos γ k̂


Relembrando a figura 1.19 que mostra os ângulos diretores, vemos que, para um vetor que esteja no plano
xy, o ângulo γ vale π2 rad, de modo que cos γ = 0. Esse é o caso dos versores ρ̂ e θ̂. Além disso, temos
também que |ρ̂| = |θ̂| = 1. Então, para ρ̂ podemos escrever

ρ̂ = cos αρ ı̂ + cos βρ ĵ (1.343)


onde αρ e βρ são os ângulos entre ρ̂ e os eixos x e y, respectivamente, medidos a partir do lado positivo do
eixos. Agora, relembramos que, pela equação 1.22, ocorre

cos2 α + cos2 β + cos2 γ = 1


ou, no nosso caso,

cos2 αρ + cos2 βρ = 1
de modo que

cos2 βρ = 1 − cos2 αρ
ou

| cos βρ | = | sen αρ |
Agora, da figura vemos que, quando θ ∈ [0, π], αρ = θ, e βρ ∈ [0, π2 ], de modo que cos βρ = sen αρ = sen θ.
Quando θ ∈ [π, 2π], αρ = 2π − θ, o que faz com que αρ ∈ [0, π]. Além disso, βρ ∈ [ π2 , π]. Nesse caso, também
ocorre cos βρ = sen θ, pois ambos são negativos. Então, podemos escrever, para qualquer θ e βρ ,

cos βρ = sen θ
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 145

e a equação 1.343 fica


K. D. Machado
ρ̂ = cos θı̂ + sen θ ĵ (1.344)
isso porque

cos αρ = cos(2π − θ) = cos θ


Para o versor θ̂, escrevemos

Apenas uso pessoal


θ̂ = cos αθ ı̂ + cos βθ ĵ (1.345)
Análise Vetorial
onde αθ e βθ são os ângulos diretores do versor θ̂, os quais correspondem aos ângulos entre θ̂ e os lados
positivos dos eixos x e y, respectivamente. Utilizando novamente a equação 1.22, ficamos com

cos2 αθ + cos2 βθ = 1
ou

cos2 βθ = 1 − cos2 αθ
ou ainda,

| cos βθ | = | sen αθ | (1.346)


π π
Agora temos que analisar o comportamento desses ângulos. Quando θ ∈ [0, 2 ], αθ = θ + 2, de modo que
π
cos αθ = cos(θ + ) = − sen θ
2
e
π
sen αθ = sen(θ +) = cos θ
2
Como βθ ∈ [0, π2 ], temos cos βθ = cos θ. Passando ao próximo intervalo, onde θ ∈ [ π2 , π], temos que βθ ∈ [ π2 , π]
e αθ = 3π π
2 − θ, de modo que αθ ∈ [ 2 , π]. Nesse caso,


cos αθ = cos( − θ) = − sen θ
2
e

− θ) = − cos θ
sen αθ = sen(
2
Como nesse intervalo cos βθ é negativo, achamos, da equação 1.346,

cos βθ = cos θ

O intervalo seguinte ocorre quando θ ∈ [π, Nesse caso, αθ = 3π
2 ].
π
2 − θ, de modo que αθ ∈ [0, 2 ]. Para βθ ,
π
temos βθ ∈ [ 2 , π]. Portanto, temos os mesmos resultados do intervalo anterior, ou seja,

cos αθ = − sen θ
e

cos βθ = cos θ
Por fim, para o último intervalo, isto é, para θ ∈ [ 3π
2 , 2π], temos αθ = θ −

2 , de modo que αθ ∈ [0, π2 ], e
βθ ∈ [0, π2 ]. Então,
146 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado 3π
cos αθ = cos(θ − ) = − sen θ
2
e

sen αθ = sen(θ − ) = cos θ
2
e, novamente, podemos escrever,

Apenas uso pessoal


cos βθ = cos θ
Então, finalmente podemos escrever θ̂ como
Análise Vetorial

θ̂ = − sen θı̂ + cos θ ĵ (1.347)


de modo que a base do sistema de coordenadas polares fica sendo

ρ̂ = cos θı̂ + sen θ ĵ (1.348a)


θ̂ = − sen θı̂ + cos θ ĵ (1.348b)

É importante notar que os versores ρ̂ e θ̂ dependem do ângulo θ considerado, de modo que a base de
coordenadas polares não é uma base fixa, como a base retangular. Para cada θ há um conjunto de versores
ρ̂ e θ̂ associado, e isso tem que ser levado em conta quando precisarmos efetuar derivadas desses versores,
por exemplo.
Podemos escrever essa equação de uma forma mais interessante, na forma de um produto de matrizes,
ou seja,
    
ρ̂ cos θ sen θ ı̂
= (1.349)
θ̂ − sen θ cos θ ĵ
Esquematicamente, podemos representar essa equação mediante

P̃ = T̃R2 →P R̃2 (1.350)


onde

     
ρ̂ cos θ sen θ ı̂
P̃ = T̃R2 →P = R̃2 = (1.351)
θ̂ − sen θ cos θ ĵ

são matrizes que representam, respectivamente, a base polar, a matriz de transformação da base retangular
para a base polar, e a base retangular. Note que as duas bases são ortogonais, e o determinante da matriz
de transformação vale

cos θ sen θ

det T̃R2 →P = =1
− sen θ cos θ
Assim, a matriz T̃R2 →P é uma matriz ortogonal. Matrizes ortogonais têm uma propriedade importante, que
relaciona sua transposta com sua inversa, isto é, para uma matriz ortogonal vale

Ã-1 = ÃT (1.352)


Desse modo, ao multiplicarmos a equação 1.350 por T̃R−1
2 →P
, obtemos

T̃R-12 →P P̃ = T̃R-12 →P T̃R2 →P R̃2


1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 147

ou
K. D. Machado
T̃R-12 →P P̃ = I˜R̃2
onde I˜ é a matriz identidade. Então, achamos

R̃2 = T̃R-12 →P P̃ (1.353)


e, utilizando as equações 1.351 e 1.352, obtemos

Apenas uso pessoal


    
ı̂ cos θ − sen θ ρ̂
= (1.354)
ĵ sen θ cos θ θ̂
Análise Vetorial
de modo que podemos expressar a base retangular em termos da base polar, por intermédio de

ı̂ = cos θ ρ̂ − sen θ θ̂ (1.355a)


ĵ = sen θ ρ̂ + cos θ θ̂ (1.355b)

Podemos agora escrever a posição de um ponto P no sistema de coordenadas polares. Observando as figu-
ras 1.53 e 1.54, e lembrando que a coordenada ρ é a distância entre o ponto P e a origem, vemos que a
posição de um ponto em coordenadas polares é dada, simplesmente, por

~r = ρ ρ̂ (1.356)
Esse resultado pode ser obtido formalmente se considerarmos as equações 1.342 e 1.355, lembrando que

~r = xı̂ + y ĵ
Fazendo as devidas substituições, temos

~r = ρ cos θ(cos θ ρ̂ − sen θ θ̂) + ρ sen θ(sen θ ρ̂ + cos θ θ̂)


ou

~r = ρ cos2 θ ρ̂ − ρ cos θ sen θ θ̂ + ρ sen2 θ ρ̂ + ρ sen θ cos θ θ̂


ou ainda,

~r = ρ ρ̂
que é a equação 1.356. Note que a escrita do vetor posição torna-se simples, mas existe um preço a pagar.
Essa questão será vista na seção ??. Vejamos agora um exercı́cio que fornece um resultado interessante.

Exemplo 1.44. Considere dois pontos no plano, descritos pelas posições ~r1 e ~r2 . Obtenha o produto escalar
~r1 · ~r2 em coordenadas polares.
Esse exemplo é importante porque mostra que é preciso ter um certo cuidado ao realizar operações
vetoriais quando não estamos usando o sistema de coordenadas cartesianas. As posições dos pontos são
mostradas na figura 1.55.

Note, na figura, que cada ponto possui seu versor ρ̂ correspondente. As posições podem ser escritas mediante

~r1 = ρ1 ρ̂1 ~r2 = ρ2 ρ̂2

Queremos calcular
148 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado y
r1 P1
P2 r2 ^
r q2 ^
r
2 1

q1
O x

Apenas uso pessoal


Figura 1.55: Posições de dois pontos quaisquer em coordenadas polares.
Análise Vetorial

~r1 · ~r2 = ρ1 ρ̂1 · ρ2 ρ̂2

ou

~r1 · ~r2 = ρ1 ρ2 ρ̂1 · ρ̂2 (1.357)

Para efetuar o produto escalar, vamos escrever os versores em termos da base R2 , usando a equação 1.348a,
isto é,

ρ̂1 · ρ̂2 = (cos θ1 ı̂ + sen θ2 ĵ) · (cos θ2 ı̂ + sen θ2 ĵ)

ou

ρ̂1 · ρ̂2 = cos θ1 cos θ2 + sen θ2 sen θ2

ou então,

ρ̂1 · ρ̂2 = cos(θ1 − θ2 ) = cos(θ2 − θ1 ) (1.358)

Note que esse é um resultado esperado, pois, da definição de produto escalar dada em 1.14, temos

ρ̂1 · ρ̂2 = |ρ̂1 ||ρ̂2 | cos α

onde α é o ângulo entre os dois versores, de modo que α = θ2 − θ1 . Então,

ρ̂1 · ρ̂2 = cos(θ2 − θ1 )

Retornando à equação 1.357, e usando a equação 1.358, achamos

~r1 · ~r2 = ρ1 ρ2 cos(θ2 − θ1 ) (1.359)

Vejamos agora um sistema de coordenadas tridimensional importante relacionado ao sistema de coor-


denadas polares.
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 149

K. D. Machado z

P(x, y, z) = P(r, q, z)
r
z

Apenas uso pessoal


O
r y
q
Análise Vetorial

Q
x

Figura 1.56: Coordenadas do sistema de coordenadas cilı́ndricas.

1.7.2 Sistema de Coordenadas Cilı́ndricas


O sistema tridimensional de coordenadas cilı́ndricas faz uso de três coordenadas para descrever a
posição de um ponto no espaço. Duas dessas coordenadas são idênticas às coordenadas polares ρ e θ, e a
terceira corresponde à coordenada z do sistema de coordenadas retangulares em três dimensões. A figura 1.56
ilustra o sistema de coordenadas cilı́ndricas.

É importante notar que a coordenada ρ não é mais o módulo do vetor posição ~r. O segmento OP,
quando projetado no plano xy, dá origem ao segmento OQ. O comprimento desse segmento é a coordenada
ρ, e o ângulo θ é o ângulo que esse segmento faz com o sentido positivo do eixo x, medido no sentido anti-
horário. A coordenada z é a altura do ponto P em relação ao plano xy. Assim, as coordenadas cilı́ndricas,
em termos das coordenadas retangulares, são dadas por

p
ρ= x2 + y 2 (1.360a)
y
θ = arctg (1.360b)
x
z=z (1.360c)
Com as transformações inversas

x = ρ cos θ (1.361a)
y = ρ sen θ (1.361b)
z=z (1.361c)
Precisamos também da base de coordenadas cilı́ndricas. Dois versores da base são os mesmos da
base de coordenadas polares, e o terceiro versor vem de coordenadas retangulares. A figura 1.57 ilustra a
base de coordenadas cilı́ndricas. Como os versores ρ̂ e θ̂ são os mesmos da base polar P, temos, usando as
equações 1.348, as seguintes equações de transformação entre a base cilı́ndrica e a base retangular:

ρ̂ = cos θı̂ + sen θ ĵ (1.362a)


θ̂ = − sen θı̂ + cos θ ĵ (1.362b)
k̂ = k̂ (1.362c)
150 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado z

^
k
^j

^i y
q r
^
^
q

Apenas uso pessoal


x
Análise Vetorial
Figura 1.57: Base do sistema de coordenadas cilı́ndricas.

É interessante verificarmos que os versores têm módulos unitários, ou seja,

ρ̂ · ρ̂ = (cos θı̂ + sen θ ĵ) · (cos θı̂ + sen θ ĵ)


|ρ̂|2 = cos2 θ + sen2 θ
|ρ̂|2 = 1
e

θ̂ · θ̂ = (− sen θı̂ + cos θ ĵ) · (− sen θı̂ + cos θ ĵ)


|θ̂|2 = sen2 θ + cos2 θ
|θ̂|2 = 1

Além disso, vamos verificar a ortogonalidade, começando com ρ̂ e θ̂, isto é,

ρ̂ · θ̂ = (cos θı̂ + sen θ ĵ) · (− sen θı̂ + cos θ ĵ)


ρ̂ · θ̂ = − cos θ sen θ + sen θ cos θ
ρ̂ · θ̂ = 0

de modo que ρ̂ ⊥ θ̂. Considerando agora k̂, temos

ρ̂ · k̂ = (cos θı̂ + sen θ ĵ) · k̂


ρ̂ · k̂ = 0
e

θ̂ · k̂ = (− sen θı̂ + cos θ ĵ) · k̂


θ̂ · k̂ = 0

e assim, ρ̂ ⊥ k̂ e θ̂ ⊥ k̂. Portanto, resumindo, temos

ρ̂ · ρ̂ = 1 ρ̂ · θ̂ = 0 ρ̂ · k̂ = 0
θ̂ · ρ̂ = 0 θ̂ · θ̂ = 1 θ̂ · k̂ = 0 (1.363)
k̂ · ρ̂ = 0 k̂ · θ̂ = 0 k̂ · k̂ = 1
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 151

K. D. Machado
Precisamos efetuar agora os produtos vetoriais entre os versores da base. O primeiro resultado imediato é
que

ρ̂ × ρ̂ = 0 θ̂ × θ̂ = 0 k̂ × k̂ = 0

já que um dado vetor é paralelo a si próprio. Vamos calcular agora, usando as equações 1.362a e 1.362b, o
produto

Apenas uso pessoal


ρ̂ × θ̂ = (cos θı̂ + sen θ ĵ) × (− sen θı̂ + cos θ ĵ)
ou, lembrando das equações 1.27,
Análise Vetorial

ρ̂ × θ̂ = cos2 θ k̂ + sen2 θ k̂ = k̂
O próximo produto usa as equações 1.362a e 1.362c, isto é,

ρ̂ × k̂ = (cos θı̂ + sen θ ĵ) × k̂


ou

ρ̂ × k̂ = − cos θ ĵ + sen θı̂ = −θ̂


e, por fim, o último produto importante utiliza as equações 1.362b e 1.362c, e fica

θ̂ × k̂ = (− sen θı̂ + cos θ ĵ) × k̂


ou

θ̂ × k̂ = sen θ ĵ + cos θı̂ = ρ̂


Reunindo tudo, temos

ρ̂ × ρ̂ = 0 ρ̂ × θ̂ = k̂ ρ̂ × k̂ = −θ̂ (1.364a)
θ̂ × ρ̂ = −k̂ θ̂ × θ̂ = 0 θ̂ × k̂ = ρ̂ (1.364b)
k̂ × ρ̂ = θ̂ k̂ × θ̂ = −ρ̂ k̂ × k̂ = 0 (1.364c)

Voltando às equações 1.362, podemos escrevê-las na forma matricial, isto é,
    
ρ̂ cos θ sen θ 0 ı̂
θ̂  = − sen θ cos θ 0  ĵ  (1.365)
k̂ 0 0 1 k̂
Esquematicamente, podemos representar essa equação mediante

C̃ = T̃R3 →C R̃3 (1.366)


onde

     
ρ̂ cos θ sen θ 0 ı̂
C̃ = θ̂  T̃R3 →C = − sen θ cos θ 0 R̃3 =  ĵ  (1.367)
k̂ 0 0 1 k̂
152 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
são matrizes que representam, respectivamente, a base cilı́ndrica, a matriz de transformação da base retan-
gular para a base cilı́ndrica, e a base retangular. Note que as duas bases são ortogonais, e o determinante da
matriz de transformação vale

cos θ sen θ 0

det T̃R3 →C = − sen θ cos θ 0 = 1
0 0 1

Apenas uso pessoal


de modo que T̃R3 →C é uma matriz ortogonal. Com isso, podemos obter as relações inversas entre as bases,
multiplicando T̃R-13 →C pela equação 1.366, ou seja,

T̃R-13 →C C̃ = T̃R-13 →C T̃R3 →C R̃3


Análise Vetorial

ou, usando a propriedade 1.352,

T̃RT3 →C C̃ = I˜R̃3
de modo que

R̃3 = T̃RT3 →C C̃
e, utilizando as relações 1.367
    
ı̂ cos θ − sen θ 0 ρ̂
 ĵ  = sen θ cos θ 0 θ̂  (1.368)
k̂ 0 0 1 k̂
Explicitando os termos, achamos

ı̂ = cos θ ρ̂ − sen θ θ̂ (1.369a)


ĵ = sen θ ρ̂ + cos θ θ̂ (1.369b)
k̂ = k̂ (1.369c)

De posse das equações 1.361 e 1.369 podemos escrever a posição de um ponto em coordenadas
cilı́ndricas, lembrando que, em retangulares,

~r = xı̂ + y ĵ + z k̂
Das figuras 1.56 e 1.57, é fácil ver que

~r = ρ ρ̂ + z k̂ (1.370)
Esse resultado pode ser obtido formalmente de forma análoga àquela utilizada para coordenadas polares.
Vejamos agora um exemplo importante.

Exemplo 1.45. Obtenha o produto escalar entre as posições ~r1 e ~r2 de dois pontos quaisquer escritas em
coordenadas cilı́dricas, como mostra a figura 1.58.
Da figura, vemos que as posições são dadas por

~r1 = ρ1 ρ̂1 + z1 k̂ ~r2 = ρ2 ρ̂2 + z2 k̂

Então, fazendo o produto escalar, temos

~r1 · ~r2 = (ρ1 ρ̂1 + z1 k̂) · (ρ2 ρ̂2 + z2 k̂)


1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 153

K. D. Machado z
z1

P1
z2
P2
r1
r2

Apenas uso pessoal


O
q2 y
q1 r2
r1
Análise Vetorial
x

Figura 1.58: Posições de dois pontos quaisquer


em coordenadas cilı́ndricas.

ou

~r1 · ~r2 = ρ1 ρ2 ρ̂1 · ρ̂2 + z1 z2


Utilizando a equação 1.358, obtemos

~r1 · ~r2 = ρ1 ρ2 cos(θ2 − θ1 ) + z1 z2 (1.371)


que é o resultado procurado. Vejamos um outro exemplo interessante.

Exemplo 1.46. O campo gravitacional de um cilindro longo de comprimento L, raio R e massa M dis-
tribuı́da de forma homogênea em seu volume é dado, em coordenadas cilı́ndricas, por

~ r ) = − 2GM ρ̂ ,
G(~ ρ>R (1.372)
ρL
onde o eixo z está paralelo ao eixo do cilindro e ρ é a distância entre um ponto do espaço e o eixo do cilindro.
Determine o campo gravitacional gerado por um cilindro com M = 80 kg, R = 25 cm e L = 1,80 m a uma
distância de 50 cm de seu eixo.
O cálculo pedido é relativamente simples e imediato. Convertendo as grandezas para o SI, e aplicando
a equação 1.372, ficamos com

2 × 6,67 × 10−11 × 80
G~ = − ρ̂
0,5 × 1,80
ou

G~ = −1,19 × 10−8 ρ̂
e, em módulo, temos

G = −1,19 × 10−8 m/s2 (1.373)


Para uma comparação, no exemplo 1.29 determinamos os campos produzidos por vários objetos astronômicos
sobre a Terra. Recordando o módulo do campo produzido por Marte, dado pela equação 1.240, temos
154 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
GMa = 1,210 × 10−8 m/s2
o que indica que o cilindro considerado produz, a 50 cm de seu eixo, aproximadamente o mesmo efeito
gravitacional que Marte, sendo maior, portanto, que o de Mercúrio, Urano, Netuno e Plutão. Note que, se a
distância entre o cilindro e o ponto considerado for menor, o campo 1.373 acima aumenta, o mesmo ocorrendo
se a massa for maior ou se o comprimento L diminuir. Além disso, como o campo gravitacional do cilindro
cai com o inverso da distância a partir do eixo, se a distância aumentar 10 vezes, ou seja, passar para 5 m, o

Apenas uso pessoal


campo cairá por um fator 10, sendo ainda comparável ao campo de Mercúrio e maior que o campo de Urano,
Netuno e Plutão produzidos no mesmo local considerado. Mesmo que aumentemos a distância mais 10 vezes,
ou seja, passemos a considerar 50 m a partir do cilindro, ainda assim o campo é da ordem do campo de
Análise Vetorial
Netuno, e cerca de 10000 vezes mais intenso que o campo de Plutão. Com base nessas considerações, podemos
agora tentar interpretar melhor estes resultados. O campo do cilindro acima é uma estimativa para o campo
gravitacional produzido por uma pessoa ao seu redor, como, por exemplo, o campo que o leitor produz e que
age sobre outras pessoas à sua volta. Assim, uma estimativa interessante é a de que o leitor produz, a 5 m,
tanta influência gravitacional quanto Mercúrio, e pelo menos 10 vezes maior que Urano, Netuno e Plutão.
Considere agora a seguinte situação: o nascimento de um bebê. À sua volta temos pelo menos uma pessoa,
obviamente a mãe. Podemos ter também um médico obstetra, um enfermeiro, talvez o pai da criança, um
médico anestesista, eventualmente outro enfermeiro, todos dentro da faixa de 5 m ao redor da criança, alguns
deles muito mais próximos que isso, em alguns momentos. Ampliando um pouco mais a faixa, para uns 15
m, temos outros familiares, outras mães em trabalho de parto, outros médicos, enfermeiras, etc, isso sem
considerar paredes, móveis, etc. Todos produzindo interações gravitacionais pelo menos da ordem de um dos
planetas e maiores que três. Porém, todos os campos produzidos são muito menores do que o campo da Terra,
Com base nesses dados, há como justificar astrologia, que está baseada na posição e influência dos astros
sobre as pessoas na Terra? Do ponto de vista cientı́fico, fı́sico, a única influência possı́vel gerada por astros é
a gravitacional, a qual é da mesma ordem que a influência gravitacional de qualquer pessoa suficientemente
próxima de um bebê, e o número de pessoas que pode satisfazer esse critério pode ser bastante grande. A
relevância de tais efeitos é completamente desprezı́vel quando comparada com o efeito exercido pela Terra.
Porém, a Terra age antes, durante e depois do parto, em todas as pessoas, indistintamente, de modo que
a posição da Terra no parto torna-se irrelevante. Sugere-se ao leitor pensar criticamente nos argumentos
acima, de modo a ficarem mais claros.

Partimos agora para o próximo sistema de coordenadas tridimensional de grande aplicação em Fı́sica.

1.7.3 Sistema de Coordenadas Esféricas


O sistema de coordenadas polares utiliza, como uma de suas coordenadas, a distância entre um ponto
qualquer P do plano e a origem. O sistema de coordenadas esféricas segue o mesmo princı́pio, só que agora
estamos no espaço. Assim, é necessário mais duas coordenadas, que são dadas na forma de ângulos. A
figura 1.59 mostra as coordenadas esféricas.
Da figura vemos que uma das coordenadas é dada pelo módulo do vetor posição do ponto P consi-
derado, ou seja, r = |~r |. Ao especificar essa coordenada, restringimos o ponto a estar sobre a superfı́cie de
uma esfera de raio r. A segunda coordenada corresponde ao ângulo entre o sentido positivo do eixo z e o
segmento OP, medido a partir do eixo z. Essa coordenada é equivalente ao ângulo diretor γ da figura 1.19 e,
por convenção, é representada por θ, e é chamada de colatitute ou ângulo polar. Essa coordenada restringe
o ponto P a estar na superfı́cie de um cone de ângulo de abertura θ e, se r também for especificado, P
pode estar numa circunferência de raio r sen θ. Ao projetar o ponto P no plano xy, temos o ponto Q, e o
ângulo entre o sentido positivo do eixo x e o segmento OQ corresponde à terceira coordenada necessária para
especificar completamente o ponto P, representada por φ, que e é chamada de azimute ou ângulo azimutal.
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 155

K. D. Machado z

| r | sen q
P(x, y, z) = P(r, q, f)
r
q

Apenas uso pessoal


O
Análise Vetorial
y
f

Q
x

Figura 1.59: Coordenadas do sistema de coordenadas esféricas.

Esse ângulo é medido no plano xy, e restringe o ponto P a estar num semi-plano perpendicular ao plano xy
e limitado pelo eixo z.

Com relação às coordenadas esféricas, é importante ressaltar alguns pontos. Primeiro, a convenção de se adotar os ângulos θ e

φ como aparecem na figura 1.59 é amplamente utilizada em Fı́sica, mas em Matemática, em alguns casos, pode ocorrer uma inversão

entre esses dois ângulos, de modo que θ passa a ser φ e φ passa a ser θ. Segundo, de acordo com nossa convenção, o ângulo azimultal φ

corresponde ao ângulo θ do sistema de coordenadas polares e cilı́ndricas. Terceiro, os domı́nios das coordenadas são r > 0, 0 6 θ 6 π

e 0 6 φ 6 2π. Como última observação, o Maple segue a convenção matemática para o sistema de coordenadas esféricas predefinido

nele, ou seja, um ponto em coordenadas esféricas é representado, no Maple, por P(r, φ, θ). Assim, ao usarmos esse sistema, podemos

proceder de dois modos. Seguimos a convenção do Maple ou criamos um sistema de coordenadas esféricas que siga a convenção fı́sica.

Veremos como fazer isso logo em seguida.

Precisamos agora das equações de conversão entre o sistema de coordenadas esféricas e retangulares.
Da figura 1.59, vemos que

p
r= x2 + y 2 + z 2 (1.374a)
p
x2 + y 2
θ = arctg (1.374b)
z
y
φ = arctg (1.374c)
x
As relações inversas, que transformam coordenadas retangulares em coordenadas esféricas, são dadas por

x = r sen θ cos φ (1.375a)


y = r sen θ sen φ (1.375b)
z = r cos θ (1.375c)
Podemos agora aplicar essas relações em alguns exemplos.

Exemplo 1.47. Os pontos abaixo estão escritos em coordenadas retangulares. Obtenha as coordenadas
esféricas correspondentes.
156 1. CONCEITOS INICIAIS


1. A(1, 1, 2).
K. D. Machado
2. B(3, 0, 3).
3. C(3, −4, 0).
4. D(0, −1, 0).
5. E(−2, −4, −5).

Apenas uso pessoal


Vamos iniciar com o ponto A. Nesse caso, utilizando as equações 1.374, obtemos
Análise Vetorial

√ 1+1 π 1 π
rA = 1+1+2=2 θA = arctg = φA = arctg =
2 4 1 4
de modo que A(2, π4 , π4 ). Na seqüência, vamos utilizar o Maple para efetuar as transformações. Nesse caso,
temos que definir um sistema de coordenadas esféricas que use a nossa convenção de ângulos, lembrando que
no Maple a ordem é (r, φ, θ), e não (r, θ, φ). Podemos, então, introduzir dois comandos. O primeiro comando

SetCoordinates(sistema[coordenada1, coordenada2,...])

que muda o sistema de coordenadas em uso para o sistema definido em sistema, sendo que alguns tipos co-
muns pré-definidos são cartesian (retangulares em duas ou três dimensões), polar (polares), cylindrical
(cilı́ndricas) e spherical (esféricas, na ordem P(r, φ, θ)), e coordenada1, coordenada2, etc, são as coorde-
nadas de cada sistema. Por exemplo, para definir o sistema de coordenadas retangulares em três dimensões,
executamos
> SetCoordinates(cartesian[x,y,z]);
o que resulta em
cartesian x, y, z
Podemos conferir o sistema em uso mediante o comando

GetCoordinates()

isto é,
> GetCoordinates();
o que fornece
cartesian x, y, z

Com relação ao comando SetCoordinates e aos sistemas de coordenadas, é importante destacarmos que esse comando apenas

muda de um sistema de coordenadas para outro, do atual em uso para o novo, chamado de sistema, o qual pode ser um sistema de

coordenadas previamente definido pelo Maple ou criado pelo usuário. Quando o sistema é um pré-definido, não é necessário utilizar

as coordenadas do sistema entre colchetes, exceto quando se trata do sistema de coordenadas retangulares, pois o nome do sistema

(cartesian) é o mesmo em duas ou três dimensões. Assim, para definir o sistema de coordenadas cilı́ndricas, é suficiente executar

> SetCoordinates(cylindrical);

o que dá origem a


1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 157

K. D. Machado cylindrical r, θ, z

O outro comando relevante é o comando que permite definir um sistema de coordenadas de acordo
com a necessidade. Em particular, podemos definir um sistema de coordenadas esféricas de acordo com nossa
convenção usual, utilizando, para isso, o comando AddCoordinates. Esse comando tem a seguinte forma:

AddCoordinates(sistema[coord1,coord2,...],[eq1,eq2,...], opç~
ao)

Apenas uso pessoal


onde sistema é o nome que será dado ao sistema de coordenadas, coord1, coord2, etc, são as coordenadas
do sistema em questão e eq1, eq2, etc, são as equações que definem as coordenadas retangulares x, y e
Análise Vetorial
z em termos das coordenadas do sistema de coordenadas que está sendo criado. Se sistema for o nome
de algum sistema já pré-definido, então, para que ele seja redefinido é preciso que a variável opç~ ao seja
definida como true, caso contrário ocorrerá uma mensagem de erro. Se o sistema tiver um nome diferente
dos já existentes, então a colocação da variável opç~
ao é desnecessária. Considere então que vamos definir
um sistema de coordenadas esféricas do modo como estamos acostumados. Nesse caso, o primeiro passo é
carregar a biblioteca VectorCalculus, ou seja,

> with(VectorCalculus):
Warning, the assigned names ‘<,>‘ and ‘<|>‘ now have a global binding
Warning, these protected names have been redefined and unprotected:
‘*‘, ‘+‘, ‘-‘, ‘.‘, D, Vector, diff, int, limit, series

Agora, como sabemos que r deve ser não-negativo, 0 6 θ 6 π e 0 6 φ 6 2π, podemos definir estas faixas de
valores para as coordenadas, mediante o comando

assume(restriç~
oes)

onde restriç~
oes indicam as restrições para o domı́nio das variáveis. No presente caso, temos r > 0, 0 6 θ 6 π
e 0 6 φ 6 2π, isto é,

> assume(r>= 0, 0<= theta, theta<=Pi,0<=phi,phi< 2*Pi);


Portanto, agora podemos definir o sistema de coordenadas esféricas, por meio do comando
> AddCoordinates(esfericas[r,theta,phi],[r*sin(theta)*cos(phi),
> r*sin(theta)*sin(phi),r*cos(theta)]);
Note que o nome do sistema é esfericas, as coordenadas são r, theta, phi, e as equações para x, y e z
são dadas pelas equações 1.375 (x = r sen θ cos φ, y = r sen θ sen φ, z = r cos θ). Como resultado, teremos

esfericas
Podemos agora definir o sistema de coordenadas a ser usado como sendo o sistema de coordenadas esféricas
por nós criado, ou seja,

> SetCoordinates(esfericas[r,theta,phi]);
esfericas r ˜, θ˜, φ˜
e, conferindo, temos

> GetCoordinates();
o que resulta em
esfericas r ˜, θ˜, φ˜
158 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Note que as coordenadas aparecem com um til (˜) ao lado porque sobre elas foram feitas as considerações de-
finidas no comando assume. Passando agora à escrita dos pontos em coordenadas esféricas, temos, utilizando
o ponto B,
> simplify(MapToBasis(<3,0,3>,’esfericas’));
√ π
3 2 er + eθ
4
√ π

Apenas uso pessoal


ou seja, B em coordenadas esféricas torna-se B(3 2, 4 , 0). O próximo ponto fica
> simplify(MapToBasis(<3,-4,0>,’esfericas’));
π 4
Análise Vetorial
5 er + eθ − arctan( ) eφ
2 3
de modo que temos C(5, π2 , arctg 43 ). Em seguida, obtemos
> simplify(MapToBasis(<0,-1,0>,’esfericas’));
π π
er + 2 eθ − 2 eφ
isto é, D(1, π2 , − π2 )=D(1, π2 , 3π
2 ). Por fim, temos

> simplify(MapToBasis(<-2,-4,-5>,’esfericas’));
√ √
3 5 er + (−arctan( 2 5 5 ) + π) eθ + (arctan(2) − π) eφ
Usando o comando evalf para simplificar a expressão, temos
> evalf(%);
6.708203931 er + 2.411864998 eθ − 2.034443936 eφ
ou seja, aproximadamente temos E(6,7; 2,4; −2,0).

Devemos considerar agora a base para o sistema de coordenadas esféricas. Como o ângulo φ é equi-
valente ao θ de coordenadas polares, um versor da base de coordenadas esféricas corresponde ao θ̂ de
coordenadas polares, lembrando que esse versor pertence ao plano xy. Outra escolha natural consiste em
considerar algo equivalente ao versor ρ̂ em polares, ou seja, um versor orientado da origem para o ponto P,
representado por r̂. O terceiro versor deve ser ortogonal aos dois primeiros. A figura 1.60 apresenta a base
de coordenadas esféricas.

Os versores θ̂ e φ̂ orientam-se no sentido do crescimento dos ângulos θ e φ, respectivamente. Precisamos


agora escrevê-los em termos da base retangular. O versor φ̂ já é conhecido das equações 1.348b ou 1.362b,
e ele vale

φ̂ = − sen φı̂ + cos φ ĵ (1.376)


Para obter o versor r̂, lembramos a equação 1.23,

V~ = V cos αı̂ + V cos β ĵ + V cos γ k̂


e consideramos a figura 1.61 abaixo.

Da figura, vemos que γr = θ para V~ = r̂, e podemos escrever também

|r̂x |
cos αr =
|r̂|
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 159

K. D. Machado z

^
f

^
r
^ ^
k q q

Apenas uso pessoal


^j
O
y
^i f ^
Análise Vetorial
f
x

Figura 1.60: Base do sistema de coordenadas esféricas.

^
rz ^
r
q
O
ar br r^y
r^x r^xy y
f
x

Figura 1.61: Versor r̂ do sistema de coordenadas esféricas.

onde r̂x é o vetor componente de r̂ na direção x. Podemos reescrever essa equação como

|r̂x | |r̂xy |
cos αr =
|r̂xy | |r̂|
sendo que r̂xy é o vetor componente de r̂ no plano xy. Da figura 1.61, vemos que

|r̂x | |r̂xy |
cos φ = sen θ =
|r̂xy | |r̂|

de modo que

cos αr = sen θ cos φ


Procedendo de modo similar para o ângulo βr , obtemos

cos βr = sen θ sen φ


o que faz com que r̂ torne-se

r̂ = sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂ (1.377)


160 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Podemos obter o versor θ̂ de uma forma similar. Primeiro, notamos, na figura 1.62, que o ângulo diretor γ
corresponde, para θ̂, ao ângulo θ + π2 , de modo que

z
q
q^xy

f O gq

Apenas uso pessoal


q^y
q^x y
bq
Análise Vetorial
aq
x
q^z q^

Figura 1.62: Versor θ̂ do sistema de coordenadas esféricas.

π
cos γθ = cos(θ + ) = − sen θ
2
Com relação ao ângulo αθ , temos

|θ̂ x |
cos αθ =
|θ̂|
sendo que θ̂x é o vetor componente de θ̂ na direção x. Podemos reescrever essa equação como

|θ̂x | |θ̂xy |
cos αθ =
|θ̂xy | |θ̂|
onde θ̂ xy é o vetor componente de θ̂ no plano xy. Da figura 1.62, achamos

|θ̂ x | |θ̂ xy |
cos φ = cos θ =
|θ̂ xy | |θ̂|

o que faz com que obtenhamos

cos αθ = cos θ cos φ


e, para o ângulo βθ , ficamos com

cos βθ = cos θ sen φ


de modo que o versor θ̂ fica

θ̂ = cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂ (1.378)


Reunindo as equações 1.376–1.378, temos

r̂ = sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂ (1.379a)


θ̂ = cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂ (1.379b)
φ̂ = − sen φı̂ + cos φ ĵ (1.379c)
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 161

K. D. Machado
que são as equações que relacionam a base E de coordenadas esféricas com a base retangular. Note que, no
sistema de coordenadas esféricas, a posição de um ponto é dada simplesmente por

~r = |~r | r̂ = r r̂ (1.380)
onde r = |~r | é a distância do ponto à origem e r̂ é o versor que aponta da origem para o ponto considerado.
Novamente aqui há um preço a pagar pela simplicidade com que a posição é escrita, conforme veremos
oportunamente.

Apenas uso pessoal


O próximo passo consiste em verificar a normalização dos versores, por meio do produto escalar, ou
seja, iniciando com r̂, temos
Análise Vetorial
r̂ · r̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) · (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂)
ou

|r̂|2 = sen2 θ cos2 φ + sen2 θ sen2 φ + cos2 θ = 1


Passando agora a θ̂, temos, usando a equação 1.379b,

θ̂ · θ̂ = (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂) · (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂)
ou

|θ̂|2 = cos2 θ cos2 φ + cos2 θ sen2 φ + sen2 θ = 1


Por fim, para φ̂, temos, fazendo uso de 1.379c,

φ̂ · φ̂ = (− sen φı̂ + cos φ ĵ) · (− sen φı̂ + cos φ ĵ)


ou

|φ̂|2 = sen2 φ + cos2 φ = 1


de modo que a base esférica E é normalizada. Vamos conferir agora a ortogonalidade dos versores. Iniciamos
calculando

r̂ · θ̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) · (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂)
o que resulta em

r̂ · θ̂ = sen θ cos θ cos2 φ + sen θ cos θ sen2 φ − cos θ sen θ = 0


de modo que r̂ ⊥ θ̂. Calculamos agora

r̂ · φ̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) · (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
ou

r̂ · φ̂ = − sen θ cos φ sen φ + sen θ sen φ cos φ = 0


o que indica que r̂ ⊥ φ̂. Por fim, calculamos

θ̂ · φ̂ = (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂) · (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
ou

θ̂ · φ̂ = − cos θ cos φ sen φ + cos θ sen φ cos φ = 0


162 1. CONCEITOS INICIAIS

K. D. Machado
Assim, comprovamos que a base do sistema de coordenadas esféricas E é ortogonal. Vejamos agora os produtos
vetoriais entre os versores da base. É imediato que

r̂ × r̂ = 0 θ̂ × θ̂ = 0 φ̂ × φ̂ = 0

O próximo produto relevante é

Apenas uso pessoal


r̂ × θ̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) × (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂)
ou seja,
Análise Vetorial

r̂ × θ̂ = sen θ cos θ cos φ sen φ k̂ + sen2 θ cos φ ĵ − sen θ cos θ sen φ cos φ k̂
− sen2 θ sen φı̂ + cos2 θ cos φ ĵ − cos2 θ sen φı̂

ou

r̂ × θ̂ = − sen φı̂ + cos φ ĵ = φ̂


Vamos determinar agora

r̂ × φ̂ = (sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂) × (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
isto é,

r̂ × φ̂ = sen θ cos2 φ k̂ + sen θ sen2 φ k̂ − cos θ sen φ ĵ − cos θ cos φı̂


e então,

r̂ × φ̂ = − cos θ cos φı̂ − cos θ sen φ ĵ + sen θ k̂ = −θ̂


Por fim, o último produto vetorial importante é

θ̂ × φ̂ = (cos θ cos φı̂ + cos θ sen φ ĵ − sen θ k̂) × (− sen φı̂ + cos φ ĵ)
ou

θ̂ × φ̂ = cos θ cos2 φ k̂ + cos θ sen2 φ k̂ + sen θ sen φ ĵ + sen θ cos φı̂


e então,

θ̂ × φ̂ = sen θ cos φı̂ + sen θ sen φ ĵ + cos θ k̂ = r̂


Portanto, a base de coordenadas esféricas E = {r̂, θ̂, φ̂} forma um sistema dextrógiro com os versores da
base dispostos nessa ordem, de modo que ocorre

r̂ × r̂ = 0 r̂ × θ̂ = φ̂ r̂ × × φ̂ = −θ̂ (1.381a)
θ̂ × r̂ = −φ̂ θ̂ × θ̂ = 0 θ̂ × × φ̂ = −r̂ (1.381b)
φ̂ × r̂ = θ̂ φ̂ × θ̂ = −r̂ φ̂ × × φ̂ = 0 (1.381c)

Podemos escrever as equações de transformação 1.379 numa forma matricial, do mesmo modo como
fizemos para o caso de coordenadas cilı́ndricas, de modo que
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 163

K. D. Machado
  
r̂ sen θ cos φ sen θ sen φ cos θ
 
ı̂
 θ̂  =  cos θ cos φ cos θ sen φ − sen θ   ĵ  (1.382)
φ̂ − sen φ cos φ 0 k̂
De forma esquemática, podemos escrever

Ẽ = T̃R3 →E R̃3 (1.383)

Apenas uso pessoal


onde Ẽ, T̃R3 →E e R̃3 são dadas por

     
r̂ ı̂
Análise Vetorial
sen θ cos φ sen θ sen φ cos θ
Ẽ =  θ̂  T̃R3 →E =  cos θ cos φ cos θ sen φ − sen θ R̃3 =  ĵ  (1.384)
φ̂ − sen φ cos φ 0 k̂

e correspondem, respectivamente, à matriz que representa a base do sistema de coordenadas esféricas, a


matriz que transforma de coordenadas retangulares para coordenadas esféricas e a matriz que representa
a base de coordenadas retangulares. Precisamos obter as relações inversas, ou seja, precisamos expressar
os versores da base retangular em termos dos versores da base esférica. Para isso, vamos verificar se a
matriz T̃R3 →E é ortogonal, o que simplifica o procedimento. Para isso, vamos usar o Maple para calcular o
determinante da matriz, além de sua inversa. Aqui precisamos de uma subbiblioteca de uma biblioteca muito
útil do Maple, voltada ao ensino dos comandos, chamada Student. A subbiblioteca necessária no momento
é a LinearAlgebra. Assim, começamos carregando essa biblioteca mediante
> with(Student[LinearAlgebra]);

[&x , ., AddRow , AddRows, Adjoint , ApplyLinearTransformPlot ,


BackwardSubstitute, BandMatrix , Basis, BilinearForm ,
CharacteristicMatrix , CharacteristicPolynomial , ColumnDimension,
ColumnSpace, CompanionMatrix , ConstantMatrix , ConstantVector,
CrossProductPlot , Determinant, Diagonal , DiagonalMatrix , Dimension,
Dimensions, EigenPlot , EigenPlotTutor , Eigenvalues, EigenvaluesTutor ,
Eigenvectors, EigenvectorsTutor , Equal , GaussJordanEliminationTutor ,
GaussianElimination , GaussianEliminationTutor , GenerateEquations,
GenerateMatrix , GramSchmidt , HermitianTranspose, Id , IdentityMatrix ,
IntersectionBasis, InverseTutor, IsDefinite, IsOrthogonal , IsSimilar ,
IsUnitary, JordanBlockMatrix , JordanForm, LUDecomposition,
LeastSquares, LeastSquaresPlot , LinearSolve, LinearSolveTutor ,
LinearSystemPlot , LinearSystemPlotTutor , LinearTransformPlot ,
LinearTransformPlotTutor , MatrixBuilder , MinimalPolynomial , Minor ,
MultiplyRow , Norm, Normalize, NullSpace, Pivot , PlanePlot ,
ProjectionPlot , QRDecomposition, RandomMatrix , RandomVector , Rank,
ReducedRowEchelonForm, ReflectionMatrix , RotationMatrix ,
RowDimension, RowSpace, SetDefault, SetDefaults, SumBasis, SwapRow ,
SwapRows, Trace, Transpose, UnitVector, VectorAngle, VectorSumPlot,
ZeroMatrix , ZeroVector]
Note que vários comandos são definidos quando carregamos essa subbiblioteca. O próximo passo consiste em
definir a matriz T̃R3 →E , o que é feito por meio de
> T:=< <sin(theta)*cos(phi) | sin(theta)*sin(phi) | cos(theta)>,
> <cos(theta)*cos(phi) | cos(theta)*sin(phi) | -sin(theta)>,
> <-sin(phi) | cos(phi)| 0> >;
164 1. CONCEITOS INICIAIS

o que resulta em
K. D. Machado
 
sin(θ) cos(φ) sin(θ) sin(φ) cos(θ)
T :=  cos(θ) cos(φ) cos(θ) sin(φ) −sin(θ) 
−sin(φ) cos(φ) 0
Note que, para definirmos a matriz, listamos seus elementos de modo que elementos em colunas adjacentes são
separados por uma barra vertical (|). Cada linha da matriz é ordenada entre sinais de menor (<) e maior (>),

Apenas uso pessoal


e as linhas são separadas por vı́rgulas. Por fim, englobando todas as linhas, temos o primeiro sinal de menor
(<) e o último sinal de maior (>). Essa não é a única forma de definir matrizes no Maple, e eventualmente
veremos outras mas, para o nosso cálculo atual, ela serve perfeitamente. Queremos o determinante da matriz
T, o que envolve o comando
Análise Vetorial

Determinant(M)

onde M é a matriz da qual se quer o determinante, ou seja, no nosso caso,


> simplify(Determinant(T));
o que resulta em
1
indicando que a matriz é ortogonal, de modo que sua transposta é igual a sua inversa. Podemos verificar
explicitamente que a transposta de T̃R3 →E é igual a sua inversa calculando, por intermédio do Maple, as duas
matrizes. Vamos calcular inicialmente a inversa de T, ou seja,
> simplify(T^(-1));
o que fornece
 
sin(θ) cos(φ) cos(θ) cos(φ) −sin(φ)
 sin(θ) sin(φ) cos(θ) sin(φ) cos(φ) 
cos(θ) −sin(θ) 0
Vamos usar agora o comando

Transpose(M)

para obter a matriz transposta da matriz qualquer M. No presente problema, queremos achar

> Transpose(T);
Obtemos, então,
 
sin(θ) cos(φ) cos(θ) cos(φ) −sin(φ)
 sin(θ) sin(φ) cos(θ) sin(φ) cos(φ) 
cos(θ) −sin(θ) 0

e verificamos que as duas matrizes são iguais, como deveria ser. Vamos multiplicar agora T̃R-13 →E pela
equação 1.383, ou seja,

T̃R-13 →E Ẽ = T̃R-13 →E T̃R3 →E R̃3


o que resulta em

R̃3 = T̃RT3 →E Ẽ
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 165

K. D. Machado
Utilizando agora as equações 1.384, temos
    
ı̂ sen θ cos φ cos θ cos φ − sen φ r̂
 ĵ  = sen θ sen φ cos θ sen φ cos φ   θ̂ 
k̂ cos θ − sen θ 0 φ̂

de modo que obtemos

Apenas uso pessoal


ı̂ = sen θ cos φ r̂ + cos θ cos φ θ̂ − sen φ φ̂ (1.385a)
ĵ = sen θ sen φ r̂ + cos θ sen φ θ̂ + cos φ φ̂ (1.385b)
Análise Vetorial

k̂ = cos θ r̂ − sen θ θ̂ (1.385c)

É importante relembrar que os versores r̂, θ̂ e φ̂ não são fixos, ao contrário dos versores da base retangular.
Vejamos agora alguns exemplos de aplicação.

Exemplo 1.48. Considere as funções vetoriais abaixo.

1. V~ = xı̂ + y ĵ + z k̂.

2. U~ = zı̂ + x ĵ + y k̂.

Escreva essas funções em coordenadas esféricas.


Para escrever a função V~ vamos precisar das equações 1.375 e 1.385, de modo que temos

V~ = r sen θ cos φ(sen θ cos φ r̂ + cos θ cos φ θ̂ − sen φ φ̂)


+ r sen θ sen φ(sen θ sen φ r̂ + cos θ sen φ θ̂ + cos φ φ̂)
+ r cos θ(cos θ r̂ − sen θ θ̂)

ou

V~ = r sen2 θ cos2 φ r̂ + r sen θ cos θ cos2 φ θ̂ − r sen θ sen φ cos φ φ̂


+ r sen2 θ sen2 φ r̂ + r sen θ cos θ sen2 φ θ̂ + r sen θ sen φ cos φ φ̂
+ r cos2 θ r̂ − r cos θ sen θ θ̂

ou ainda,

V~ = r r̂

Passando agora à função U~ , vamos utilizar o Maple para efetuar a conversão. Primeiro precisamos
definir o sistema de coordenadas esféricas, conforme mostramos no exemplo 1.47, ou seja,

> with(VectorCalculus):
Warning, the assigned names ‘<,>‘ and ‘<|>‘ now have a global binding
Warning, these protected names have been redefined and unprotected:
‘*‘, ‘+‘, ‘-‘, ‘.‘, D, Vector, diff, int, limit, series
166 1. CONCEITOS INICIAIS

>
K. D. Machado
assume(r>= 0, 0<= theta, theta<=Pi,0<=phi,phi< 2*Pi);
> AddCoordinates(esfericas[r,theta,phi],[r*sin(theta)*cos(phi),
> r*sin(theta)*sin(phi),r*cos(theta)]);

esfericas
Agora vamos definir a função, ou campo vetorial, U~ . Para isso, utilizamos o comando

Apenas uso pessoal


VectorField(<comp1,comp2,...>,’sistema’[coord1,coord2,...])

O comando VectorField cria um campo vetorial utilizando o sistema de coordenadas definido em sistema
(notar que o nome do sistema deve estar entre apóstrofos), o qual utiliza as coordenadas coord1, coord2,
Análise Vetorial
.... As componentes do campo vetorial são dadas entre os sinais de < e >, na ordem comp1, comp2, ...,
onde comp1 é a primeira componente, comp2 é a segunda, e assim sucessivamente. Assim, para definir o
campo vetorial U~ = zı̂ + x ĵ + y k̂, temos
> U:=VectorField(<z,x,y>,’cartesian’[x,y,z]);
U := z ex + x ey + y ez
Em seguida, usamos o comando MapToBasis, isto é,
> simplify(MapToBasis(U,’esfericas’[r,theta,phi]));

r ˜ sin(θ˜) (cos(φ˜) cos(θ˜) + sin(θ˜) sin(φ˜) cos(φ˜) + cos(θ˜) sin(φ˜)) êr + r ˜


(cos(φ˜) cos(θ˜)2 + cos(θ˜) sin(φ˜) sin(θ˜) cos(φ˜) − sin(φ˜) + sin(φ˜) cos(θ˜)2 )
êθ + r ˜ (−cos(θ˜) sin(φ˜) + cos(φ˜)2 sin(θ˜)) êφ

ou seja,

U~ = r sen θ(cos φ cos θ + sen θ sen φ cos φ + cos θ sen φ) r̂


+ r(cos φ cos2 θ + cos θ sen φ sen θ cos φ − sen φ + sen φ cos2 θ)θ̂
+ r(− cos θ sen φ + cos2 φ sen θ) φ̂

Exemplo 1.49. Determine o produto escalar entre as posições ~r1 e ~r2 de dois pontos quaisquer escritas em
coordenadas esféricas.
A figura 1.63 ilustra o problema. A posição dos pontos em coordenadas esféricas é obtida da equa-
ção 1.380, ou seja,

~r1 = r1 r̂1 ~r2 = r2 r̂2


Então, queremos calcular

~r1 · ~r2 = r1 r2 r̂1 · r̂2 (1.386)


Para efetuar o produto escalar, vamos utilizar a equação 1.379a, de modo a expressar r̂ em coordenadas
retangulares, ou seja,

r̂1 · r̂2 = (sen θ1 cos φ1 ı̂ + sen θ1 sen φ1 ĵ + cos θ1 k̂)


· (sen θ2 cos φ2 ı̂ + sen θ2 sen φ2 ĵ + cos θ2 k̂)
1.7. OUTROS SISTEMAS DE COORDENADAS ÚTEIS 167

K. D. Machado z
P1
r1
P2
q1
q2 r2
O
f2 y

Apenas uso pessoal


f1
x
Análise Vetorial
Figura 1.63: Posições de dois pontos quaisquer em coordenadas esféricas.

ou

r̂1 · r̂2 = sen θ1 sen θ2 cos φ1 cos φ2 + sen θ1 sen θ2 sen φ1 sen φ2 + cos θ1 cos θ2
ou ainda,

r̂1 · r̂2 = sen θ1 sen θ2 (cos φ1 cos φ2 + sen φ1 sen φ2 ) + cos θ1 cos θ2
que fica

r̂1 · r̂2 = sen θ1 sen θ2 cos(φ1 − φ2 ) + cos θ1 cos θ2 (1.387)


Portanto, a equação 1.386 torna-se, com o uso de 1.387,
 
~r1 · ~r2 = r1 r2 sen θ1 sen θ2 cos(φ1 − φ2 ) + cos θ1 cos θ2 (1.388)

É interessante notar que, sendo Θ o ângulo entre ~r1 e ~r2 quando tomados na mesma origem, o produto
escalar entre eles é, formalmente, dado por

~r1 · ~r2 = r1 r2 cos Θ


Comparando essa equação com a expressão 1.388, obtemos o resultado

cos Θ = sen θ1 sen θ2 cos(φ1 − φ2 ) + cos θ1 cos θ2 (1.389)


que expressa o ângulo Θ entre dois vetores quaisquer, orientados nas direções definidas por r̂1 e r̂2 .

Vimos nesse capı́tulo vários tópicos essenciais sobre vetores, definimos algumas operações elementares
entre eles, introduzimos uma ferramenta computacional importante, o Maple, a qual será utilizada ao longo
do livro e definimos três sistemas de coordenadas curvilı́neas extremamente importantes, além do sistema
de coordenadas retangulares. No próximo capı́tulo passamos ao estudo das derivadas vetoriais, incluindo
sempre aplicações.
168 1. CONCEITOS INICIAIS

1.8 Exercı́cios
K. D. Machado
1.1 ~ = 2ı̂ − 4 ĵ − 3 k̂, B
Sendo dados os vetores A ~ = 4ı̂ + 2 ĵ + 8 k̂, C
~ = −2ı̂ − 8 ĵ + 2 k̂ e D
~ = 9ı̂ + ĵ − 6 k̂,
22
calcule
a) Os módulos dos vetores.
b) Todas as possı́veis somas utilizando dois dos vetores, e os respectivos módulos.
c) Todas as possı́veis somas utilizando três dos vetores, e os respectivos módulos.

Apenas uso pessoal


d) A soma dos quatro vetores, e o módulo.
e) As possı́veis subtrações utilizando dois dos vetores, e os módulos.
Análise Vetorial
f) As possı́veis subtrações utilizando três dos vetores, e os módulos.
g) As possı́veis subtrações utilizando os quatro vetores, e os módulos.

1.2 Considerando os vetores dados no exercı́cio anterior, calcule


a) Os possı́veis produtos escalares utilizando os vetores.
b) Os possı́veis produtos vetoriais utilizando dois dos vetores, e os módulos dos vetores resultantes.
c) Os possı́veis produtos vetoriais utilizando três dos vetores, e os módulos dos vetores resultantes.
d) Todos os produtos mistos possı́veis.

1.3 Utilizando os vetores dados no exercı́cio 1.1, responda as questões abaixo.


a) Ache, para cada par de vetores, um vetor que seja ortogonal a ambos e que tenha módulo
unitário.
b) Considerando as possı́veis somas dois-a-dois dos vetores, encontre um vetor ortogonal unitário
para cada par de vetores-soma.
c) Encontre os produtos escalares e vetoriais dos versores obtidos acima.

1.4 Sendo dados os vetores de módulo unitário

â = cos θı̂ + sen θ ĵ


b̂ = cos δı̂ + sen δ ĵ

mostre, utilizando produtos escalares, que cos(θ − δ) = cos θ cos δ + sen θ sen δ.

1.5 Expresse os pontos abaixo, dados em coordenadas retangulares, em termos de coordenadas polares.

1. A(1, 1).
2. B(−3, 0).
3. C(0, 4).
4. D(−3, −4).
5. E(2, −5).

22 Note que você pode usar o Maple na resolução dos exercı́cios, se preferir.

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