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1789-1801: desafeição do trono.

As manifestações do desagrado já não eram mais


sobre ações especificas do governo, mas sim de plano geral de organização do Estado

“Essas irrupções coletivas de rebeldia, ainda que endêmicas, ao fim e ao cabo


esvaiam-se no especifico de sua motivação imediata, e superados os problemas pontuais
que estavam na sua base, ainda que mediante o recurso de violência, o Trono emergia
inquestionado e a Monarquia via-se preservada no seu papel de núcleo ordenador das
legitimidades e legalidades.”

Sedição: ação organizada visando a revolução/ práticas de natureza subversiva,


que referidas à revolução, anunciam-na enquanto possibilidade, mesmo quando se
concretizam apenas no simplesmente faze-lo. Revolução desejada, futuro anunciado, a
política do futuro nos interstícios do presente.
X
“viva o rei, morra o mau governo”, expressão de contestação que não subverte os
fundamentos da ordem, antes busca restaura-los.

Ensaios sediciosos – apontam a emergência de novas alternativas de modo de vida


social. Para além da negação do absolutismo, anuncia novas formas de sociabilidade.

Desconforto político, que se adensa socialmente tornando-se rebeldia organizada:


Irrompe no espaço da vida pública e politiza a privada. Traduz-se em conspiração ou
transgressão.
Dimensão privada e pública – “uma vez que confinados no restrito espaço da vida
privada, os coloniais revelam, nas sedições, sua disposição de franquear os limites do que
era tido por público, negando o sistema que os excluía.

O confronto derivado de práticas sediciosas efetivou-se principalmente em ações


repressivas.

Eventos de Minas (1789) e da Bahia (1798) – somente esses configuram sedições,


à medida que se tratava de deliberadas e organizada vontade de subverter a ordem publica
e os padrões de organização do estado.
Sedições: os homens procuravam respostas politicas para superação da crise que
se espraiava no interior do antigo sistema colonial. Os eventos sediciosos revelam
esgotamento da eficácia de formas vigentes de ordenamento politico da sociedade e dos
padrões que regem sua reiteração, padrões de abrangência variável, a depender de cada
uma das situações concretas consideradas – inspiradas na revolução americana e
Francesa
/
Comportamentos tidos por desviantes da boa ordem, antes movidos de escândalo
e passiveis de rigorosa sanção, começam a ocorrer e, conquanto causando
constrangimento, são, ainda que de modo reticente, tidos por assimiláveis – Atentados a
boa ordem (exemplo da “Relação da Francezia formada pelos homens pardos da cidade
da Bahia)

As sedições foram momentos de condensação da crise geral do Antigo Regime na


Colonia. Nessa área periférica do capitalismo, as transformações que anunciam a
hegemonia burguesa penetravam, lenta mas persistentemente, no fluir da vida social
organizada.

Publico e privada – Se os locais privilegiados de conspiração nas Minas Gerais


são as casas, é porque os homens que ai conspiravam as possuíam em condições de
assegurar a privacidade necessária para faze-lo. Era o que se dava quanto aos membros
da elite baiana, dez anos mais tarde, mas para os homens pobres que ai sonharam com a
liberdade, o espaço da privacidade estava principalmente nas ruas e locais ermos da
cidade por motivo de sua condição.

[...] Isso, entretanto, não lhe vedava o acesso ao conhecimento das novas ideias
que chegavam da Europa e que, lenta mas consistentemente, balizavam a emergência de
uma cultura politica conflitante com aquela da ilustração conservadora
/
Situações que compõem o todo nas manifestações de desconforto com a ordem
colonial do Antigo Regime portugues na Colônia, é a emergência de uma cultura política
alternativa, que contrasta com a dominante. Ao contrário da cultura política do
absolutismo ilustrado, circunscrita à elites e rigorosamente excludente, a nova que emerge
tem por portadores os letrados, mas, ao lado destes, estão agora, também, homens de
ínfima condição no dizer da época, dotados, contudo, de visão politica, qualquer que seja
seu nível cultural. Essa nova cultura politica se exprime menos por um elaborado
consenso teórico, mas sobretudo por um sistema de referencias no qual se reconhecem
todos os membros de uma mesma família politica, os quais, no caso, são os envolvidos
nos projetos sediciosos e sua presumida audiência. É ai que se desenha a trama complexa
do fluir de ideias politicas que colide com as formas tradicionais de difusão e,
principalmente, de integração destas como instrumento de pratica. E os agentes desse
processo instauram formas de sociabilidade que redefinem os significados de praticas
consagradas.

“Haviam feito muito bem em matar o Rei, pois como os povos eram os mesmos
que os faziam e levantavam, os podiam também matar”.

Manuscritos de teor critico circulavam esboçando a tendencial fratura politica da


sociedade, mas os critérios da critica eram acentuadamente comportamentais.
Uma das características dos participes dessa cultura politica emergente, e isso
dependia da condição social, era a avidez na busca de informações sobre as mudanças
que o mundo experimentava.

Das viagens que faziam à Europa retornavam trazendo livros, ainda que proibidos.
Livros condenados eram acessíveis para compra mesmo na Colonia quando faziam parte
de espólios, e eram nessa condição arrematados, ocorrendo sem problemas sua circulação
por tal via. Outra forma de burlar os controles se dava pela compra de impressos nos
navios que chegavam da Europa, quer se tratasse de livros, quer das gazetas cuja
circulação era vedada pelo governo.

Não eram apenas membros da elite que se interessavam por livros proibidos, mas
também, e sobretudo, “pardinhos e branquinhos”, gente de pouca valia. Tinha um
problema – eram em francês ou inglês. Os textos que informavam criticamente os
coloniais sobre as grandes novidades do mundo e, em particular, aqueles que divulgavam
o ideário revolucionário do século XVIII, não contavam com a tradução em portugues.
É bem verdade que a elite letrada era em geral, à parte o latim, versada nesses
idiomas, mas é verdade, da mesma forma, que, tendencialmente, o interesse pelas novas
ideias ultrapassava o restrito circuito dessa elite.

Nessas colônias desprovidas de imprensa, as novas ideias espraiavam-se por meio


de três suportes: os livros, as copias manuscritas destes e a linguagem oral.

Os livros circulavam e, por essa via, as ideias que continham. Livros eram
emprestados, lidos em conjunto, traduzidos por amigos ou pessoas sem intimidade.

“obras poéticas feitas contra eclesiásticos, [...] gazetas vindas da frança e outros
discursos sobre a liberdade”.

Contando entre si com poetas de mérito, os ilustrados mineiros eram, em geral,


versejadores, e sabe-se que, independentemente de sua qualidade, tal produção de versos
circulava. “encontrou-se um fragmento de poemeto cujo teor expressa sem matizes
sentimentos de áspera revolta contra o todo que o vínculo colonial implicava, revelando
enorme desprezo pelos que, de baixa extração, dele se beneficiavam.

“Na Bahia dos anos finais do século XVIII, percebe-se nitidamente que a critica
ao statu quo valia-se das oportunidades que a permanente reiteração dos rituais da Igreja
oferecia para as exteriorizações de descontentamento com a situação vigente. Há fortes
indícios para se acreditar que, entre os aderentes à trama sediciosa aí em curso, a rejeição
de normas de comportamento prescritas pela Igreja assumia, na transgressão publica de
padrões de comportamento consagrados, um significado politico.”

As transgressões desdobravam-se para outros planos do cotidiano, revelando a


invasão da vida privada pela nova cultura política. Isso esta presente na agressão a uso
consagrados pelo costume.

Em Minas Gerais, o paradigma para a ruptura da dependência colonial vinha dos


textos dos ilustrados franceses, e dos anglo-americanos no que aí imaginavam ter sido a
sua revolução. A partir desses referenciais, a ideia de liberdade, realização suprema da
razão, não era pensada em termos de supressão de todas as desigualdades. Mas outro era
o caso da Bahia, onde a referência maior que informava o comportamento político
(dimensão da cultura política que ampliava seu espaço) provinha da França
revolucionaria, com tudo que isso implicava.

A percepção da dependência colonial como limitante de projetos pessoais de


acréscimo da riqueza ou de prestigio, assim como o reconhecimento de que a ruptura da
subordinação política seria o caminho adequado para o afastamento dos limites impostos.

Por um lado, faz-se presente a tradição de base local, fundamento de uma


ancestralidade instituída independentemente da metropolitana, expressão de uma
diferença percebida e como tal assumida, pela qual o colono não se vê mais como
colonizador mas como o colonizado. Trata-se da explicitação de uma identidade de base
local, americana, que se realiza na sua alteridade diante da europeia, reinol. Por outro
lado, essa nova identidade revela-se vacilante na eleição dos critérios ordenadores da
sociedade que se pretendia emergente rompimento da dependência colonial, pelo que
recorre àqueles que tem vigência no império portugues do Antigo Regime.

A base das esperanças que convergiam para a sedição era, em cada caso particular,
a condição social de seu portador. Se para Alvarenga, em Minas Gerais, o acesso a títulos
poderia estar entre os motivos que o levavam à sedição, o escravo José Felix, na Bahia,
era movido pela perspectiva de supressão geral da condição que era a sua. A profunda
diferença que aflora do significado de liberdade para os envolvidos nas sedições mineira
e baiana revela-se radicalmente nesses dois projetos particulares. O que ressalta
poderosamente é que, para uns, liberdade significava, para além da reiteração das
diferenças num universo de desigualdades, o reforço de seu poder mediante a supressão
do jugo colonial que limitava seu pleno exercício. Tratava-se ai, da liberdade sonhada por
senhores de escravos. No segundo caso, o do escravo baiano, a liberdade era tida por
condição de igualdade, o que implicava, cabalmente, a supressão da própria relação
escravista constitutiva da subordinação colonial e, portanto, a supressão também desta
última.

A clivagem radical que definia a condição de cada qual na sociedade escravista


em nenhum momento foi aí ultrapassada.
Por mais que professassem ideias revolucionarias, a generalização do escravismo
acabava por levar os mais extremados sediciosos a se ajustarem ao sistema que
projetavam suprimir. Não se deve esquecer que todos tinham posses suficientes para tanto
eram possuidores de escravos, sem que isso os tornasse menos radicais na contestação do
Antigo Regime na Colônia.

As sedições do final do século XVIII circunscreviam-se no universo dos homens


livres, ainda que, no limite, chegassem a contar com a participação de escravos cuja
pratica social cotidiana dotava-os dos meios de integração em formas de sociabilidade
que abriam a perspectiva de negação politica de sua condição. Entre os escravos
envolvidos nos eventos de 1798, todos inseridos em atividades urbanas, a maior parte
sabia ler e escrever, convivia profissionalmente com homens livres de baixa condição,
participava com estes das mesmas festas e folguedos, além de partilhar com estes crenças
e padrões de consumo semelhante.

No campo do poder, a percepção de que o escravismo constituía o mais sólido


alicerce do apoio das elites coloniais ao Trono: “o que sempre se receou nas colônias é a
escravatura, em razão de sua condição, e porque é o maior número de habitantes delas,
não sendo tão natural que os homens empregados e estabelecidos quer em bens e
propriedades queiram concorrer para uma conspiração ou atentado de que resultariam
péssimas consequências, vendo-se até a serem expostos a serem assassinados por seus
próprios escravos” .

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