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Índia: as sementes do suicídio 2

SUMÁRIO

1. Introdução: A questão da Monsanto .................................................................. 3

2. Índia: as sementes do suicídio. ......................................................................... 4

3. Conclusão: Um gigante com pés de barro ........................................................ 8

Notícias e ilustrações ........................................................................................... 10

Referência: ........................................................................................................... 11

Nota sobre o Autor: .............................................................................................. 11


Índia: as sementes do suicídio 3

1. Introdução: A questão da Monsanto


A Monsanto se autodefine como uma empresa “pioneira no
desenvolvimento de tecnologias limpas que contribuem para aliar produção de
alimentos com preservação ambiental”, sendo que “seus produtos visam produzir
mais com menos, promovendo proteção à biodiversidade e economia de recursos
naturais”1. No entanto, o que se esconde por trás desta gigante multinacional da
biotecnologia que foi fundada em 1901 na cidade de Saint Louis, no estado do
Missouri, EUA, é o que nos interessa.

Uma das maiores indústrias químicas do mundo, a Monsanto também é


líder em biotecnologia2, produzindo e fornecendo mais de 90% dos os OGM
(Organismos Geneticamente Modificados ou Transgênicas) cultivados, figurando
também como uma das empresas mais influentes do planeta, segundo a revista
Business Week 3.

Para escrever a história da Monsanto, a francesa Marie-Monique Robin


dedicou três anos em um trabalho intenso e investigativo, que rendeu o livro “Le
Monde Selon Monsanto” (O Mundo Segundo a Monsanto) – título original.

O Capítulo 15 desta obra, ao qual sintetizamos, no remete a uma análise


sobre a introdução e expansão dos grãos geneticamente modificados na Índia, os
transgênicos - onde o algodão tradicional já era cultivado há mais de 5 mil anos -
e sua relação com o aumento do suicídios de agricultores, que figurar como um
dos ícones do drama social dos transgênicos, na opinião da autora.

1 Webpage oficial da empresa Monsanto . Disponível em: < http://www.monsanto.com.br/index.asp >


Acessado em: 15 out. 2009.

2 Biotecnologia: é um processo tecnológico que permite a utilização de material biológico de plantas e


animais para fins industriais..

3Businessweek Magazine Digital. Disponível em: < http://images.businessweek. com/ss/08/12/1211_most_


influential/9.htm > Acessado em: 16 out. 2009.
Índia: as sementes do suicídio 4

2. Índia: as sementes do suicídio.


Com vistas aos impactos sociais, econômicos e ambientais das
sementes transgênicas produzidas pela Monsanto e introduzidas na Índia, a
autora se deparou com um quadro inusitado, senão trágico, no estado de
Maharashtra, na região algodoeira de Vidarbha, ao sudoeste daquele país:
Quinze meses após a introdução do grão do algodão transgênico Bollgard ®4,
1.280 agricultores já haviam se suicidado.

As sementes convencionais, que eram amplamente utilizadas na Índia,


passaram a ter oferta reduzida no mercado, que foi inundado pelas sementes
com genes Bt do Bacillus thuringiensis5, que estavam sendo comercializadas a
um custo quatro vezes maior do que as primeiras. Esta nova situação remeteu os
camponeses a uma extrema dependência de um ciclo vicioso, pelo fato de terem
que comprar não somente as sementes mais caras, mas também os insumos dos
mesmos negociadores, que ainda se dispuseram a financiar a safra, a custos e
taxas extremamente abusivas.

Apesar do forte marketing da Monsanto, de que estes OGM’s6 estão


adaptados aos pequenos produtores, prometendo como resultado menos
pulverização e mais lucro, estes alegam que as sementes não resistiam ao solo
daquela região, nem tampouco aos ataques de insetos, aos quais supostamente
deveriam resistir.

O conseqüente fracasso na colheita e a dependência financeira e


endividamento registrados ali, potencializou o número de suicídios na região.

4 Bollgard é marca registrada da Monsanto Technology LLC, do algodão com resistência natural a
insetos e que foi desenvolvido com os avanços proporcionados pela biotecnologia.

5 Bacillus thuringiensis é uma espécie microbiológica da família Bacillaceae. Foi descoberto em 1911 na
provincia de Thuringia, Alemanha. Passou a ser utilizado como inseticida na França em 1938, e nos Estados
Unidos da América na década de 1950.

6 BRASIL. Lei n.º 11.105/05. Lei de Biossegurança, em seu artigo 3º, inciso V, define os OGM’s:
"...organismo geneticamente modificado - OGM: organismo cujo material genético (ADN/ARN) tenha sido
modificado por qualquer técnica de engenharia genética".
Índia: as sementes do suicídio 5

Alguns deles envenenaram-se ingerindo Roundup7, o herbicida produzido pela


própria Monsanto há mais de 30 anos.

Certamente o suicídio dos agricultores não era algo novo, no entanto


ficou constatado uma trágica relação entre o significativo aumento destes
acontecimentos com a mesma evolução dos transgênicos naquele país, o que
acontecia também no Estado de Andra Pradesh, o primeiro a autorizar as culturas
transgênicas.

Além de rendimentos catastróficos e preços baixos para venda do


produto, os agricultores ainda acusavam os americanos de praticar dumping -
venda abaixo do custo - nos preços internacionais, certamente causados pela
subvenção que estes oferecem aos seus agricultores.

Vandana Shiva8, que intitulou um dos seus livros de “Os grãos do


suicídio”, afirma que “a manipulação genética é a melhor forma de conseguir
patentes. Esta é a verdadeira meta da Monsanto. Se observarem a estratégia de
investigação que a Monsanto está desenvolvendo, verão que a empresa está
aprovando uma vintena de variedades de plantas nas quais introduziu genes Bt.
Assim que ela conseguir impor como norma o direito de propriedade de todas as
sementes geneticamente modificadas, poderá começar a cobrar os direitos do
autor. A partir daí dependeremos dela para cada semente que plantarmos”. E
continua, “se controlam as sementes controlam o alimento. Esta é sua estratégia,
mais poderosa que as bombas e as armas, é a melhor forma de controlar o
mundo.”

7 Roundup uma marca registrada da Monsanto Technology, LLC, de um herbicida à base de glifosato
(C3H8NO5P).

8 Nascida em Dehra Dun, Himalaia, em 1952, formada em teoria quântica, em 1982 fundou a Research
Foundation for Science, Technology and Natural Resource Policy e, em 1991, deu vida ao movimento
Navdanya (Novas sementes), que protege a biodiversidade. Premiada em 1993 com o Right Livelihood
Award, Shiva é autora de muitos livros. Entre eles, “Monoculturas da mente” (Global Editora, 2003), “Il
mondo sotto brevetto” [O mundo sob patente] (Feltrinelli 2002), “Terra madre” (Utet 2002), “Guerras por
água” (Radical Livros, 2006).
Índia: as sementes do suicídio 6

Antes da “revolução verde” proposta pela Monsanto, os camponeses


indianos conseguiam controlar o ataque destes insetos com simples sistemas de
rotação de cultura e uso de inseticidas biológicos obtidos à base de folhas de
uma árvore nativa chamada Nim (Azadirachta indica), que veio a se tornar alvo
de disputa de diversas patentes registradas em nome de empresas
multinacionais. Em 1994 a empresa química americana W.R Grace, concorrente
direta da Monsanto, conseguiu a patente européia da propriedade fungicida9 da
Nim, impedindo as empresas indianas de comercializarem no exterior, os
produtos advindos daquela espécie, sob pena de se deparar com a
obrigatoriedade ao pagamento de royalties. Trata-se de um caso claro, não raro,
de biopirataria.

Com um forte trabalho de lobby a favor de seus interesses, que exaltava


senão somente as vantagens da biotecnologia, a Monsanto realizou um
verdadeiro ataque ao algodão indiano com a cumplicidade e passividade de
diversas autoridades daquele país. Em relação a casos de corrupção não se
obteve provas, no entanto em Jacarta, na Indonésia, os representantes da
Monsanto subornaram funcionários entre 1997 e 2002, para favorecerem a
introdução do algodão transgênico naquele país, inclusive anulando um decreto
que exigia que se realizasse a avaliação de impacto ambiental antes de sua
entrada no mercado. Em vez de negar as acusações, a líder mundial dos OGM’s
assinou em abril de 2005 uma transação amigável com a Justiça, que a
condenara a pagar o valor de 1,5 milhões de dólares em multa.

Entre 1995 e 2005, têm-se notícias de que a Monsanto tenha assumido o


controle de algo em torno de 50 empresas, por toda parte do mundo. Estas
empresas atuam em diversas áreas de alimentos, como de soja, milho, leite,
trigo, e até mesmo verduras (tomate, batatas, legumes). Este política agressiva
de monopólio pode até mesmo significar o risco de extinção de todas as
sementes não transgênicas de nosso planeta.

9 Fungicida é um pesticida que destrói ou inibe a ação dos fungos que geralmente atacam as plantas.
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A Monsanto foi implantada na Índia em 1949, como um dos principais


fornecedores de produtos do setor. No entanto em 1999 assumiu a Mahyco,
empresa indiana que era líder em sementes de algodão do país, passando a se
chamar Mahyco-Monsanto Biotechnology Ltd - MMBL. Dois anos mais tarde, o
governo indiano autorizava o cultivo dos OGM’s naquele país.

Kate Tarak, um biólogo que dirigia uma ONG especializada em


agricultura biológica, afirma que “o problema é que os camponeses terão
dificuldades para encontrar sementes não transgênicas de algodão, porque a
Monsanto controla quase a totalidade do mercado...”.

Para agravar a situação, os insetos começaram a desenvolver


resistências aos produtos químicos que supostamente deveriam combatê-los. Isto
se pode verificar, pelo fato de que a planta Bt produz permanentemente uma
toxina inseticida, e isto tornar-se-ia uma bomba de efeito retardado. Na realidade
o que esta acontecendo pode ser definido como uma mutação, ou melhor, uma
“coevolução”, que, durante a longa epopéia do ser vivo, permite às espécies
ameaçadas de extinção, sua readaptação e sobrevivência ao meio ambiente
modificado.

Jerry Hjelle, vice-presidente da empresa, perguntado sobre questões


deste porte, respondeu que “há milhões de outros Bt’s em todo o mundo”, e, que
a Monsanto “poderia tratar esses problemas com outros produtos. Os que nos
criticam não sabem tudo que temos em estoque (...). Confiem em nós”.
Índia: as sementes do suicídio 8

3. Conclusão: Um gigante com pés de barro


Em relação ao conceito da “equivalência substancial”10, frequentemente
invocado como justificativa para a liberação de plantios transgênicos em
diferentes países, inclusive no Brasil, pactuamos dos ensinamentos de
Millstone11: “Mostrar que um alimento geneticamente modificado é quimicamente
similar ao seu equivalente natural não constitui evidência adequada de que ele é
seguro para o consumo humano.”

Assim, é perceptível e fundamental nesta discussão, a observância do


Princípio da Precaução12, que tem uma clara e decisiva aplicação na Bioética13.

Outro aspecto relevante é que a Monsanto produz sementes que são


resistentes somente aos pesticidas que ela própria fabrica, além do que suas
sementes podem contaminar outras variedades não transgênicas, que passariam
a produzir sementes com alterações genéticas, correndo o risco de dependência
de seus insumos, e, na melhor das hipóteses, ou ao pagamento de royalties à
empresa, haja vista que esta detém patentes destas sementes, formando um
processo cíclico de dependência inimaginável.

Neste sentido, pode-se presumir que no futuro, todas as espécies


naturais teriam sofrido algum tipo de modificação genética por contaminação,
estando, portanto, consideradas extintas estas espécies em sua genética natural.

10 Equivalência substancial, que consiste em verificar se os alimentos transgênicos apresentam os mesmos


nutrientes que os convencionais. Assim, havendo equivalência entre as espécies comparadas, presumem-se
os mesmos efeitos e benefícios. No entanto, esse conceito nunca foi adequadamente definido, e segundo
alguns especialistas, ele deve ser abandonado, ao invés de meramente definido ou aprimorado.

11 MILLSTONE, et al. (1999). 'Beyond Substantial Equivalence'. Nature. October 7, 1999.

12 Princípio da Precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de acordo com o estado atual do
conhecimento, não podem ser ainda identificados. Este Princípio afirma que a ausência da certeza científica
formal e a existência de risco de dano sério ou irreversível, requer a implementação de medidas que possam
prever este dano. Existindo dúvida ou incerteza científica quanto a seus reflexos, opta-se pela não
autorização de tal atividade.

13 Bioética é o conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e justificam eticamente os atos
humanos que podem ter efeitos irreversíveis sobre os fenômenos vitais” (Kottow, M., H., 1995. Introducción
a la Bioética. Chile: Editorial Universitaria, 1995: p. 53)
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Contudo, também é preciso repensar “modus operandi” do atual sistema


de patentes, com vistas a esta nova realidade, que ao invés de desempenhar sua
função original, passou a corroborar com a apropriação indevida de
conhecimento e de recursos genéticos e naturais existentes em nosso meio
ambiente, funcionando como amparo legal à biopirataria14.

Não restam dúvidas de que a política agressiva praticada pela Monsanto


busca disseminar OGM’s nos campos de todo o mundo. Esta dependência cíclica
poderá colocar a multinacional norte-americana em situação de controle e
domínio absoluto sobre os alimentos de nosso planeta.

Assim, não nos conforta considerarmos a hipótese de que, quem


controla a semente pode controlar o alimento e quem controla o alimento pode
controlar o mundo.

Será este o projeto de monopólio ambicioso e oculto da empresa?

14 Biopirataria [conforme definição do Instituto Brasileiro de Direito do Comércio Internacional, da


Tecnologiada Informação e Desenvolvimento - CIITED ] consiste no ato de aceder a ou transferir recurso
genético (animal ou vegetal) e/ou conhecimento tradicional associado à biodiversidade, sem a expressa
autorização do Estado de onde fora extraído o recurso ou da comunidade tradicional que desenvolveu e
manteve determinado conhecimento ao longo dos tempos (prática esta que infringe as disposições
vinculantes da Convenção das Organizações das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica).
Índia: as sementes do suicídio 10

Notícias e ilustrações
ÍNDIA: Mapa do suicídio
Índia: as sementes do suicídio 11

Referência:

1. Robin, Marie-Monique. O Mundo segundo a Monsanto – da dioxina aos transgênicos,


uma multinacional que quer o seu bem. São Paulo: Radical Livros, ISBN
9788598600079
2. Documentário: O Mundo segundo a Monsanto pode ser acessado on line no site:
(http://www.youtube.com/watch?v=gkQN5gopWSU)

Nota sobre o Autor:


 Neilor Souza Aarão é ambientalista, presidente do Partido
Verde de Congonhas, Bacharel em Direito, Pós-Graduado em
Direito Impacto e Recuperação Ambiental, cursou como aluno
especial da disciplina isolada de Tópicos Especiais em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (PEA 521) pelo Mestrado
em Engenharia Ambiental da UFOP, Doutorando em Ciências
Jurídicas Sociais, com área de concentração em Direito das
Futuras Gerações.

 Contato: neiloraarao@hotmail.com

 www.facebook.com/NeilorAarao

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