Vous êtes sur la page 1sur 64

Entendendo

Romanos

Tabela de conteúdos
Resumo 0
Introdução 1
Roma nos Tempos de Paulo 2
Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 3
Paulo e os Romanos (Rm 1:7-13) 4
Não me envergonho do Evangelho (Rm 1:16-17) 5
A Ira de Deus (Rm 1:18ff) 6
As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 7
Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 8
Unidos a Cristo (Rm 6:1-23) 9
O Propósito da Eleição (Rm 9) 10
A Tristeza de Deus (Rm 10) 11
Relacionamentos com Deus Transformados (Rm 12:1-2) 12

2
Entendendo Romanos

Resumo
Um estudo, versículo a versículo, sobre a epístola de Paulo aos Romanos, conforme
estudado em classe da Escola Bíblica Dominical da Igreja Presbiteriana de Curitiba.

Resumo 3
Entendendo Romanos

Entendendo Romanos
O ingresso na universidade marca para muitos jovens a transição da adolescência para o
início da vida adulta. Esta mudança vem normalmente acompanhada de uma avalanche de
sentimentos e questionamentos de todas as ordens. Em particular, a autenticidade da sua
fé é colocada em cheque, mesmo tendo sido criado em um lar cristão, tendo sido aluno
assíduo da Escola Dominical e tendo participado ativamente de um grupo de jovens. Novas
perguntas surgem às quais ele precisa responder para se manter firme e para compartilhar
o evangelho:

Como cristão, que resposta dar à visão budista a respeito de Deus?


O que pensar a respeito de personalidades cativantes que por acaso são ateus,
promíscuos ou gays?
O que há de errado com uma 'espiritualidade' abstrata da qual muitos dizem ser
adeptos?
Como demonstrar que existe uma verdade absoluta?

Na realidade, qualquer cristão, jovem ou mais "experiente", em qualquer contexto, passa,


em maior ou menor grau, por questionamentos desta ordem. Lançados no caldeirão do
pluralismo contemporâneo (tantas ideologias concorrentes!), nos debatemos para
permanecer na superfície. Temos sérias dificuldades em defender e explicar a razão de
muitas das nossas "convicções cristãs" em um mundo onde o debate de ideias parece não
ter fim, pois "tudo é relativo". A maioria de nós convive diariamente com outras opções
religiosas — na família, no trabalho, na escola, nos ajuntamentos sociais — e isso ocorre de
uma maneira mais intensa do que ocorria no passado. E muitas das nossas conversas com
pessoas de outras religiões simplesmente expõem, para a nossa vergonha, a compreensão
superficial que temos da nossa própria fé.

Muitos cristãos se assentam nos bancos das igrejas para serem alimentados a colheradas a
respeito de posições que devem adotar: "Você deve se posicionar contra o aborto! Deve
acreditar que a prática homossexual é pecado e deve esperar para já a imunidade ao
sofrimento e à frustração." Mas são poucos os que lançam as raízes suficientemente mais
fundo na teologia cristã para saberem o porquê de serem instruídos desta ou daquela
forma, e para poderem distinguir o que é genuinamente cristão (a questão do aborto e da
prática homossexual) do que é o produto de uma interpretação deformada da Bíblia (a
imunidade à dor).

Precisamos urgentemente de um solo firme para uma cosmovisão cristã. Precisamos


aprender a pensar de forma cristã sobre tudo ao nosso redor. Se quisermos estar
preparados para responder às diversas opções religiosas disponíveis, e quisermos viver

Introdução 4
Entendendo Romanos

uma vida cristã consistente, temos que fazê-lo a partir de uma perspectiva bíblica mais
ampla respeito de Deus, do mundo e do ser humano. Para que a igreja tenha uma voz
sensata e persuasiva na "batalha de ideias" de nossos dias, ela deve proclamar a
interpretação bíblica da realidade de forma clara, amorosa e convincente.

O que Romanos tem a ver com isso? Muito. Pois Romanos é, ao final de contas, a respeito
de cosmovisão — como enxergamos o mundo ao nosso redor. Embora seja cheio de
"doutrina", não precisamos fugir do seu estudo como se fosse difícil e árido. Há sim trechos
difíceis, mas o ensino da carta não é nem um pouco árido, entediante ou meramente
"teórico". A carta nos mostra quem é realmente o ser humano e do que ele precisa, o que
Deus fez para nos dar uma saída da nossa alienação e mortalidade, e que tipo de estilo de
vida uma cosmovisão como esta produz. Romanos nos diz sobre como pensar a respeito
do universo ao nosso redor.

A carta da Paulo aos Romanos é também um tipo de manifesto cristão, uma declaração da
liberdade obtida através de Jesus Cristo. Romanos é a "mais completa, mais clara e mais
grandiosa afirmação do evangelho do Novo Testamento" (Stott). A sua mensagem não é
que o ser humano nasceu livre e foi sendo aprisionado ao longo da vida, mas sim que
nasceu em pecado e escravidão, e Jesus veio para o libertar. Mas do que Cristo nos
liberta? Da ira santa de Deus contra todo erro e injustiça, da alienação para alcançarmos a
reconciliação. Ele nos liberta da condenação da lei de Deus, do "escuro e apertado
calabouço do nosso próprio ego", do medo da morte, e um dia, nos libertará, da
deterioração a que está sujeita a Criação para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Enquanto isso aguardamos este dia, Deus nos liberta de conflitos étnicos na família de
Deus, e nos liberta para que nos doemos a nós mesmos no serviço amoroso a Deus e aos
outros.

É por isso que a Igreja de todas as gerações reconhece a importância de Romanos. Lutero
dizia era esta era a "principal parte do Novo Testamento e ... verdadeiramente o evangelho
no seu estado mais puro". "Todo cristão" — continuava ele — "deveria conhecer esta
epístola palavra por palavra, de cor, mas também deveria ocupar-se com ela a cada dia
como pão diário para a alma." Calvino declarou que "se obtivermos uma compreensão
correta desta epístola, teremos uma porta aberta para todos os tesouros mais profundos
das escrituras."

Romanos fala de um Deus que revela seu poder e graça através das boas novas sobre
Jesus. E quanto mais meditamos no seu conteúdo, mais fascinante ele se torna para nós.

O Propósito de Paulo ao Escrever Romanos

Introdução 5
Entendendo Romanos

Romanos está cheio de "teologia geral", sendo "uma afirmação sustentável e coerente do
evangelho" (F. F. Bruce), "uma unidade teológica da qual nada substancial pode ser tirado
sem que o todo seja desfigurado" (Prof. Cranfield), "a última vontade e testamento do
apóstolo Paulo" (Bornkamm). Romanos, no entanto, (como todos os livros do Novo
Testamento) foi escrito em um contexto preciso:

um contexto do próprio apóstolo Paulo;


um contexto dos seus primeiros leitores (a igreja de Roma);
e a uma combinação de ambos os contextos.

O contexto de Paulo
Paulo escreveu Romanos muito provavelmente de Corinto, durante os 3 meses que passou
na Grécia (At 20:2ss, na sua 3a Viagem Missionária). Ele menciona três destinos aos quais
ele tinha a intenção de ir (veja Figura 1):

Jerusalém (15:25ss) — para levar dinheiro que as igrejas gregas ajuntaram para
cristãos em necessidade na Judeia;
Roma em si (1:11s; 15:23s) — tendo sido frustrado no passado, agora ele está
confiante que conseguirá visitar Roma;
Espanha (15:20, 24 e 28) — para continuar o seu trabalho pioneiro de evangelização.

Introdução 6
Entendendo Romanos

Figura 1. Jerusalém, Roma e Espanha

O seu propósito ao escrever a carta estava certamente relacionado a estes 3 destinos:


Jerusalém, a Espanha e Roma no seu caminho de Jerusalém até a Espanha. Ele via Roma
como um lugar de restaurar as forças depois de Jerusalém e como preparação para sua ida
à Espanha.

As visitas que faria a Jerusalém e à Espanha tinham um significado especial para ele pois
expressavam os seus dois principais compromissos: com o bem-estar de Israel (Jerusalém)
e com a missão aos gentios (Espanha).

Paulo estava, no entanto, apreensivo a respeito da sua ida a Jerusalém por causa da
importância que isso tinha para ele (a oferta como símbolo da solidariedade de judeus e
gentios no corpo de Cristo) e por causa da resistência que sofria (alguns o consideravam
liberal e traidor da herança de Israel). Assim, ele pede orações (15:30-31).

Seu destino final era a Espanha. Ele havia completado a evangelização da Galácia, Ásia,
Macedônia e Acaia (15:19b) e agora desejava pregar o evangelho "onde Cristo ainda não
havia sido anunciado" (15:20). Ele poderia, no entanto, ir à Espanha sem passar por Roma.
Por que passar por lá?

Introdução 7
Entendendo Romanos

Certamente porque sentiu a necessidade da comunhão com eles e da assistência da igreja


de Roma para a sua viagem: encorajamento, suporte financeiro e orações. Paulo Queria
que Roma fosse para o Mediterrâneo ocidental o que Antioquia foi para o oriental — uma
base de operações do evangelho.

Por que Paulo lhes escreve? Para prepará-los para a sua visita. Muitos na igreja não o
conheciam e ele queria estabelecer as suas credenciais apostólicas apresentando-lhes
completamente o evangelho que pregava. Embora a sua preocupação central era o
evangelho, ele também respondeu a questões dos seus leitores e rebateu críticas.

Assim, Paulo pede aos cristãos em Roma:

que orem para que o seu serviço em Jerusalém fosse aceito;


que o ajudem na sua jornada para a Espanha;
que o recebam durante a sua visita a Roma como apóstolo para os gentios.

A Situação dos Crentes em Roma


Roma já possuía uma igreja (muito possivelmente fundada por cristãos judeus que voltaram
às suas casas após o Pentecoste em Jerusalém). Já bem no seu início, no entanto, vários
não judeus também se converteram e começaram a integrar a igreja. Tudo mudou no ano
49 quando o imperador Cláudio, irritado com as dissenções entre os judeus por causa de
``Crestos'' (possivelmente as afirmações de Jesus de que era o Cristo), expulsou todos os
judeus de roma. Cristãos judeus como Priscila e Áquila (cf. At 18:2) tiveram então que
deixar a cidade e a igreja em Roma se tornou, da noite para o dia, composta de gentios
apenas.

Quando Paulo escreve àquela igreja, os judeus já tinham recebido a autorização para voltar
a Roma (incluindo Priscila e Áquila, cf. Rm 16:3). A igreja passou a ser composta então por
uma misura de judeus e gentios (embora a maioria fosse de gentios, cf. 1:5ss, 13; 11:13).
Esta mistura não era de todo pacífica. Havia um certo conflito teológico entre estes grupos.
Os judeus em Roma viam o cristianismo simplesmente como parte do judaísmo e exigiam
que todos observassem a lei judaica. Já os gentios eram adeptos de um ``evangelho sem a
lei''. Os judeus acusavam Paulo de ser traidor da aliança e inimigo da lei (i.e.,
"antinominiano"). Os gentios desprezavam os judeus por ainda estarem
desnecessariamente sob a escravidão da lei. Os judeus se orgulhavam de seu "status" e os
gentios, da sua liberdade. Paulo fez questão colocar ambos em seus lugares.

Ecos desta controvérsia são encontrados na carta. E Paulo está sempre escrevendo no
espírito de pacificar a situação preservando a verdade. Ele mesmo tinha um pé de cada
lado. Sendo judeu, mas chamado para ser apóstolo dos gentios, ele tinha um posição única
como agente de reconciliação dos dois grupos.

Introdução 8
Entendendo Romanos

Neste ministério de reconciliação, ele desenvolve dois temas principais:

Justificação de pecadores pela graça somente (independentemente de status ou obras)


— todos estão na mesma situação, o que produz unidade;
A redefinição de quem é o povo de Deus — aqueles que têm fé em Jesus (como filhos
de Abraão).

Nesta continuidade com o Antigo Testamento, ele afirma a validade da aliança de Deus
(que agora inclui gentios) e da lei de Deus (que, embora libertos dela como meio de
salvação, pelo Espírito a cumprimos como sendo a revelação da santa vontade do Senhor).

Visão Geral da Carta


Ter uma "visão geral" dos temas e organização de Romanos nos ajudará a entender cada
assunto abordado dentro do seu contexto. A estrutura da carta pode ser organizada da
seguinte forma:

1. Introdução (1:1-17)
2. A ira de Deus (1:18-3:20)
3. A graça de Deus (3:21-8:39)
4. O plano de Deus (9-11)
5. A vontade de Deus (12:1-15:13)

Introdução (1:1-17)
A introdução à carta, no capítulo 1, apresenta dois temas principais:

a integridade do evangelho confiado a Paulo (evangelho "de Deus" — 1:1-5); e


a solidariedade de judeus e gentios no povo de Deus (1:16 — "primeiro do judeu, mas
também do grego")

Entre um tema e o outro, Paulo fala de seu relacionamento pessoal com seus leitores. Ele
escreve a "todos os [que estão] em Roma...", independente da sua origem étnica (embora
soubesse que a maioria era de gentios). Paulo dá graças por eles, ora por eles, e deseja
encontrá-los (1:8-13). Ele se sente, de fato, na obrigação de pregar o evangelho na capital
do mundo da época (1:14-17).

A Ira de Deus (1:18-3:20)


Por que é necessário falar da justiça de Deus no evangelho? Por causa da revelação da
sua ira contra a injustiça (1:18). Esta ira de Deus não tem nada de caprichoso ou impulsivo
da sua parte, mas é sim o seu antagonismo puro e perfeito contra o mal dirigido contra

Introdução 9
Entendendo Romanos

aqueles que deliberadamente suprimem o que sabem ser verdadeiro e certo para viver do
seu próprio jeito.

Todos conhecem algo sobre Deus e sobre bondade:

pelo mundo criado (1:19ss);


pela sua consciência (1:32);
pela lei moral escrita nos corações humanos (2:12ss);
pela lei de Moisés dada aos judeus (2:17ss).

Assim, Paulo divide a sociedade humana em três grupos, a saber:

a sociedade pagã depravada (1:18-32);


os moralizadores críticos (tanto judeus como gentios) (2:1-16);
os judeus instruídos e autoconfiantes (2:17-3:8).

O objetivo do apóstolo é mostrar que "todos pecaram e carecem da glória de Deus", i.e.,
todos, sem exceção estão aquém do patamar de justiça exigido por Deus e conhecido por
eles próprios. Todo ser humano é pecador, culpado e indisculpável diante de Deus.

A Graça de Deus (3:21-8:39)


A expressão "mas agora" (3:21) é uma das grandes adversativas da Bíblia. Ela representa a
luz do evangelho brilhando sobre as trevas do pecado humano. A justificação do pecador no
evangelho só é possível pela cruz de Cristo, através da qual Deus mostra a sua justiça
(3:25ss) e seu amor (5:8).

No capítulo 4, Paulo argumenta que Abraão foi justificado pela fé, não por obras, nem por
circuncisão, nem pela lei. Por isso, Abraão é pai de todo o que crê (independente de ser
judeu ou gentio).

Então, no capítulo 5, ele fala das grandes bênçãos desfrutadas pelo povo justificado de
Deus, a saber: temos paz com Deus, estamos imersos na graça, e nos alegramos na
perspectiva de ver e compartilhar a sua glória. Nem mesmo o sofrimento abala nossa
confiança — Deus já nos deu provas objetivas e subjetivas do seu amor e dele estamos
seguros.

Duas comunidades humanas são então descritas. A primeira caracterizada pelo pecado e
culpa — a velha humanidade em Adão. E a outra caracterizada pela graça e fé — a nova
humanidade em Cristo. Um único ato de um único homem afetando um número enorme de
pessoas para o mal (Adão) e para o bem (Cristo).

Paulo então diz que "a Lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas
onde aumentou o pecado, transbordou a graça" (5:20). Isto, para ouvidos judeus, era
chocante. Não estaria Paulo rejeitando a lei de Deus e encorajando o pecado? Ele

Introdução 10
Entendendo Romanos

responde a estas objeções nos capítulos 6 e 7.

Quem acha que quanto mais pecar, mais será alvo do perdão e graça de Deus, não
entendeu o propósito da sua conversão. "Como podem viver naquilo para o qual
morreram?" Estamos "mortos para o pecado e vivos para Deus". Longe de encorajar o
pecado, a graça o proíbe.

Sobre a Lei, Romanos 7 nos diz que assim como morremos para o pecado, morremos
também para a lei (i.e., estamos livres da sua condenação). Não estamos livres para pecar,
mas para servir de um novo jeito, o jeito do Espírito.

Enquanto Romanos 7 é cheio de "lei", Romanos 8 é cheio do Espírito. O Espírito nos liberta,
habita em nós, nos leva ao autocontrole, testemunha com o nosso espírito de que somos
filhos de Deus, intercede por nós. Sendo filhos de Deus, somos também seus herdeiros.

No entanto, o sofrimento é o único caminho para a glória. Paulo então traça um paralelo
entre o sofrimento e glória da criação e o sofrimento e glória do povo de Deus. Ambos
aguardam ansiosamente e redenção final do universo, o que inclui nossos corpos.

No final do capítulo 8, a sublime confiança do cristão é celebrada — Deus agindo para o


nosso bem. Somos fortalecidos com garantias do amor imutável de Deus, do qual nada
jamais poderá nos separar.

O plano de Deus (9-11)


Tendo considerado esta mistura de etnias na igreja de Roma e as tensões entre judeus e
gentios, Paulo, nos capítulo 9 a 11, trata do problema teológico subjacente. Por que o povo
judeu como um todo rejeitou seu Messias? Como a sua descrença pode ser compatível
com aliança e com as promessas de Deus? Como a inclusão dos gentios entra no plano de
Deus?

Paulo inicia cada capítulo desta seção da carta de maneira bastante emocional
demonstrando:

sua angústia a respeito da alienação dos judeus (9:1);


seu anseio de que sejam salvos (10:1);
o fato dele próprio continuar sendo judeu (11:1).

No capítulo 9, Paulo defende a lealdade de Deus à sua aliança dizendo que há um "Israel"
dentro de "Israel", um remanescente, pois Deus sempre trabalhou de acordo com o
propósito da sua eleição (9:11). Ele escolheu Isaque ao invés de Ismael, Jacó ao invés de
Esaú, teve misericórdia de Moisés e endureceu o coração do faraó (9:14-18). Eleição é um
tema difícil, mas temos que deixar Deus ser Deus ao decidir sobre fazer conhecido seu
poder e misericórdia (9:22-23).

Introdução 11
Entendendo Romanos

Esta eleição, no entanto, não é incompatível com a teimosia orgulhosa de Israel em não se
submeter ao modo de salvação determinado por Deus, que envolve Cristo e a sua cruz.
Este é o tema do capítulo 10.

Paulo fala de uma justiça que procede da lei e outra que procede da fé. Esta última está
prontamente acessível a todos que o invocam (10:5-11). E nesse sentido não há diferença
entre judeus e gentios, uma vez que o Senhor é Senhor de ambos e ricamente abençoa a
ambos (10:12-13).

Mas para isso, evangelismo é necessário (10:14-15). Por que Israel não aceitou as boas
novas do evangelho? Porque não o ouviram ou não entenderam. Por que não? Porque
embora Deus esteja de braços abertos, eles eram "desobedientes e obstinados" (10:16-21).
No capítulo 9, a descrença de Israel é atribuída ao propósito de eleição de Deus. Já no
capítulo 10, é atribuída ao seu orgulho, ignorância e teimosia. Esta é a tensão misteriosa
entre a soberania divina e a responsabilidade humana.

No capítulo 11, Paulo olha para o futuro. A queda de Israel não é nem total (há um
remanescente) nem final (Deus não rejeitou Israel e eles se recuperarão). A mensagem é a
de que se a queda de Israel trouxe a salvação aos gentios, quanto mais a salvação deles
trará bênçãos ainda maiores.

A vontade de Deus (12:1-15:13)


Chamando os crentes em Roma de "irmãos", Paulo lhes faz um comovente apelo. Baseado
nas "misericórdias de Deus" (das quais vinha falando), eles os chama para consagrar seus
corpos e renovar suas mentes.

As alternativas são:

ou conformar-se ao padrão deste mundo; ou


ser transformado por mentes renovadas para discernir a "boa, agradável e perfeita
vontade de Deus".

Ou a moda do mundo, ou a vontade de Deus — não é possível adotar ambas. E esta


vontade de Deus tem a ver com relacionamentos radicalmente transformados pelo
evangelho. Relacionamentos:

com Deus — buscar a sua vontade (12:2);


com nós mesmos — sóbrios na avaliação própria e dos nossos dons (tendo uma
autoimagem realista) (12:3-8);
uns com os outros — a partir dos ministérios mútuos que exercemos por amor exibindo
sinceridade, afeição, honra, paciência, hospitalidade, simpatia, harmonia e humildade
(12:9-16);
com nossos inimigos — sendo toda forma de vingança pessoal proibida por ser

Introdução 12
Entendendo Romanos

prerrogativa de Deus — nosso papel sendo buscar ter paz com todos vencendo o mal
com o bem (12:17-21);
com o governo — usado por Deus para ministrar a sua justiça e recompensar o bem
(13:1-7);
com a lei — o amor ao próximo como o cumprimento da lei de Deus (13:8-10), não
estando "sob a lei" no que diz respeito à nossa justificação, mas estando sob a
obrigação de viver em diária obediência aos mandamentos de Deus;
com o último dia — a primazia do amor à medida em que o dia de Cristo voltar se
aproxima e para o qual temos que estar acordados, em pé, vestidos e vivendo como
quem pertence ao dia (13:11-14);
e com os "fracos" (na fé ou na convicção, e não na vontade ou no caráter) —
principalmente judeus que criam dever observar as leis de alimentos e festas do
calendário judeu, sendo estas coisas secundárias (14:1-15:13). Porém, a consciência
do fraco não pode ser espezinhada. Paulo fundamenta suas instruções em sua
cristologia, em particular na morte, ressurreição e volta de Cristo: os irmãos mais
"fracos" são aqueles por quem também Cristo morreu; Cristo ressuscitou para ser
Senhor deles; e Cristo está vindo para ser nosso juiz (então, não devemos nós brincar
de ser juízes).

Na sua conclusão, Paulo descreve seu ministério como apóstolo aos gentios e a sua
política de pregar Cristo onde ainda não é conhecido (15:14-22). Ele saúda 26 pessoas
citados por nome (16:3-16): homens e mulheres, escravos e livres, judeus e gentios,
celebrando a unidade na diversidade. Ele os adverte contra os falsos mestres (16:17-20),
manda recados de 8 pessoas que estão com ele em Corinto (16:21-24).

Paulo termina a carta com uma doxologia. Ele termina onde começou, fazendo referência
ao evangelho de Cristo, à comissão de Deus, à missão às nações e à obediência da fé.

Aplicação
1. Se o estudo de Romanos foi transformador da vida de muitos, não poderia ser na
nossa também? Temos que nos perguntar se realmente queremos progredir na vida
cristã (i.e., no conhecimento de Deus e de sua vontade), ou se este é um desejo vago
que não envolve esforço. Que preço você estaria disposto a pagar por isso?
2. No contexto do apóstolo Paulo, vemos o seu amor por Cristo e sua igreja exalando por
todos os poros. Ele não teme expressar a sua vulnerabilidade e humildade ao
reconhecer que precisa da comunhão e do apoio daquela igreja. Vulnerabilidade não
significa necessariamente perigo. Por que receamos expor nossas fraquezas e
necessidades no contexto da igreja? De que forma podemos nos abrir mais uns aos
outros?

Introdução 13
Entendendo Romanos

3. Quanto amamos o evangelho do Senhor Jesus e estamos comprometidos com ele?


Você deseja de coração compartilhá-lo?
4. Louve a Deus pela mensagem de Romanos. A graça de Deus nos traz uma grande
segurança.
5. A graça, no entanto, não estimula o pecado, mas sim o proíbe. Até que ponto a
obediência a Deus é importante para você?

Introdução 14
Entendendo Romanos

Roma nos tempos de Paulo: um breve


panorama histórico
Acredita-se que a carta aos romanos foi escrita por volta de 58 A.D. (Ryrie, 1994). Esta
importante epístola, portanto, encontra seus primeiros destinatários vivendo durante o
reinado de Nero, imperador entre 54 e 68 A.D. (Encyclopaedia Britannica, 2014). Embora a
reconstrução de um passado tão distante não seja tarefa simples, e isenta de possíveis
interpretações incorretas, interessa-nos explorar sucintamente alguns elementos que
provavelmente constituíram o contexto social, político, econômico, religioso e moral da
capital do império romano neste peíodo histórico. Trata-se de uma viagem muito importante
porque, afinal de contas, a igreja que nasce em Roma adquire influência significativa, que
peregrina pelos séculos e chega até os dias de hoje.

Segundo o historiador americano James S. Jeffers (1991), a Roma do primeiro século


certamente impressionava seus visitantes. Era a capital do mundo daqueles tempos.
Suntuosos edifícios públicos com pórticos de mármore, belíssimas mansões particulares,
teatros, banhos públicos e um comércio intenso de mercadorias vindas de todas as partes,
movimentado freneticamente por uma população de mais de um milhão de habitantes1 que
anunciavam uma riqueza acumulada até então impensada. Todavia, mesmo que o conjunto
de prédios públicos e mansões particulares representassem mais da metade da área
construída, a maioria da população era composta por escravos e estrangeiros livres, ambos
com baixo status social, tornando a cidade um marco não apenas de opulência, mas de
desigualdade social. Grande parte da população vivia em pequenas casas de um ou dois
cômodos ou apartamentos conjugados com lojas comerciais, comumente escuros e
empoeirados, frios no inverno, muito quentes no verão. Sem água corrente, diferentemente
das instalações mais ricas, grande parte dos moradores caminhavam por ruas
movimentadas, bem estreitas e cobertas de grafiti2, em busca de água nas fontes públicas.
Uma família romana típica de não escravos, levantava-se logo pela manhã e se dirige às
lojas onde trabalham, levando suas crianças consigo, retornam apenas no final do dia -
tomando o devido cuidado para não voltarem muito tarde na tentativa de minimizar riscos
de assaltos, muito comuns naquele tempo e em uma cidade que não dispunha de
iluminação noturna - explica Jeffers. Embora o Latim fosse a língua oficial do império, o
grego era utilizado em transações comerciais e comumente falado por todos. Esta era a
língua dos primeiros cristãos que ali viviam.

Os cidadãos romanos gozavam de status social mais privilegiado que o dos estrangeiros,
permitindo-lhes acesso a um tratamento especial por parte do Estado. Se fossem vítimas de
algum crime, por exemplo, a situação poderia ser oficialmente investigada, ao contrário dos
estrangeiros, responsáveis por sua própria segurança. Além disso, os cidadãos não podiam

Roma nos Tempos de Paulo 15


Entendendo Romanos

ser condenados sem julgamento oficial, nem estavam sujeitos a execuções sumárias, como
a crucificação. Este era o caso de Paulo, que possuia cidadania romana desde seu
nascimento (cf. Atos 22:27-29).

No que tangge os padrões morais, casos de promiscuidade e perversão sexual eram


comuns. Costumes praticados por Nero, por exemplo, foram registrados pelo historiador
romano Suetônio e nos ajudam a compreender melhor algumas exortações registradas na
carta de Paulo:

"Sem falar do commercio infame com os homens livres e seus amores adúlteros, violou
uma vestal3 chamada Rubria. Esteve quasi arriscado a casar com a sua liberta Actéa, e
alliciou homens consulares para affirmarem que ella era de nascimento real. Tornou eunuco
um rapaz, do nome de Sporo, pretendeu transformal-o em mulher, e esposou-o com o
apparato mais solemne. [...] Mandou vestir este Sporo como uma imperatriz e acompanhou-
o em liteira nas assembleias, nos mercados da Grécia e nos bairros de Roma, dando-lhe
beijos de quando em quando. Está demonstrado que elle quiz gozar de sua mãe […]
assegura-se mesmo que todas as vezes que andou em liteira com a mãe, se percebeu
sobre as vestes vestígios de profanação. Prostituia-se de forma, que não havia um só dos
seus membros que não estivesse maculado. Imaginou, como uma nova espécie de jogo,
cobrir-se com uma pelle de animal, e lançarse d'uma galeria sobre homens e mulheres
ligados a postes e entregues em presa aos seu desejos, e quando os tinha satisfeitos, elle
próprio servia de presa ao seu liberto Doriphoro, que esposou, assim como Sporo; fingiu
mesmo com elle os gritos que a dôr arranca á virgindade arrebatada. Sei por varias
pessoas que Nero estava persuadido que homem algum era casto em nenhuma parte do
corpo, mas que na maior parte sabiam dissimular os seus vicios; assim, perdoava a todos
que confessassem a sua impureza" (Suetônio, 1923, pp. p.171–2).

Os primeiros membros da igreja de Roma pertenciam provavelmente à classe de


estrangeiros livres, escravos e cidadãos de origem escrava, explica Jeffers. Embora toda
população, em geral, compartilhasse da cultura helênica, os primeiros cristãos romanos de
origem estrangeira não encontravam honra ou identidade social naquele contexto, assim,
"como outros não-romanos, eles eram constantemente confrontados com as diferenças
entre eles e a elite romana em termos de linguagem, educação, riqueza, poder e honra"
(Jeffers, 1991, pp. p.139–143,tradução nossa). Neste sentido, eram percebidos com
descredibilidade pela elite imperial. De acordo com Suetônio, por exemplo, Nero "Maltratou
os christãos, espécie de homens entregues ás superstições e aos sortilégios." (Suetônio,
1923, p. p.165,tradução nossa).

Já os judeus romanos, gozavam privilégios especiais, provavelmente porque apoiaram a


acensão de Júlio César ao poder. Eram dispensados do serviço militar e livres para
reunirem-se em seu templo, cobrarem taxas e não eram obrigados a adorar o imperador, as
sinagogas eram consideradas associações religiosas reconhecidas oficialmente. Segundo

Roma nos Tempos de Paulo 16


Entendendo Romanos

Jeffers, acredita-se que no primeiro século cerca de 40 a 50 mil judeus viviam em Roma,
viviam com poucos recursos e, como os demais estrangeiros, não eram vistos com bons
olhos pela elite (Jeffers, 1991, pp. p.348–350).

Quanto aos cristãos, mesmo aqueles oriundos do judaísmo, não gozavam dos mesmos
privilégios. Enquanto Judeus se reuniam nas sinagogas, eles se encontravam
clandestinamente em igrejas nas casas. Por este motivo, eles provavelmente se reuniram
por meio de associações voluntárias, muito comuns em Roma, explica Jeffers. Certamente,
possuíam pouca ou nenhuma liderança centralizada ou representação hierárquica oficial,
mas tais associações forneciam-lhes senso de identidade e pertencimento, além de
proporcionar apoio mútuo.

Acredita-se que Paulo tenha chegado em Roma por volta de 60 A.D. e, a julgar pelo rico
conteúdo sistemático da carta escrita para os romanos, tinha por objetivo auxiliar o
processo de organização da igreja que se reunia ali. Foi recebido pelos cristãos romanos,
mas chegou na condição de prisioneiro do império, embora tenha recebido liberdade para
ensinar e receber visitas (Atos 28:30-31). Quatro anos depois os cristãos foram culpados
por Nero de terem criminosamente incendiado Roma, inicia-se uma dura perseguição. De
acordo com Suetônio, Nero "Maltratou os christãos, espécie de homens entregues ás
superstições e aos sortilégios." (Suetônio, 1923, p. p.165). Tacitus, importante historiador
romano, registrou o contexto:

"Mas todos os esforços humanos, todos os caros presentes do imperador e as propiciações


aos deuses, não baniram a crença sinistra de que o incêndio foi resultado de uma ordem.
Consequentemente, para se livrar das consequências Nero suprimiu a culpa e infligiu as
mais terríveis torturas contra uma classe odiada por suas abominações, chamada pelo povo
de cristãos. Christus, de quem origina-se o nome, sofreu a penalidade extrema durante o
reinado de Tibério, nas mãos de um de nossos procuradores, Pontius Pilatus. Assim,
preparada para o momento, uma superstição perniciosa mais uma vez quebrou-se não
apenas na Judéia , a primeira fonte do mal, mas também em Roma, onde todas as coisas
horríveis e vergonhosas de todas as partes do mundo encontram seu centro e tornam-se
populares. Primeiramente, foram presos todos os declarados culpados; em seguida, com
base na informação obtida com estes, uma imensa multidão foi condenada, não tanto pelo
crime de incendiar a cidade, mas pelo ódio contra a humanidade. Zombarias de todo tipo
foram adicionada às suas mortes. Coberto com peles de animais, eles foram rasgados por
cães e pereceram ou foram pregados a cruzes, ou foram condenados às chamas,
queimados para servir como uma iluminação noturna após a luz do dia ter expirado"
(Tacitus, 2000).

Com o passar dos anos a igreja romana foi tomando forma. Há dois documentos
importantes que nos ajudam a compreender melhor as transformações que ocorreram e o
modo como o ensino dos apóstolos foi assimilado. O primeiro documento, é uma carta

Roma nos Tempos de Paulo 17


Entendendo Romanos

escrita por um cristão chamado Clemente por volta do ano 90 A.D. A igreja que reunia-se na
casa de Clemente gozava de situação social e econômica privilegiada, acredita-se que sua
congregação era formada por cidadãos romanos ex-escravos. Clemente era um homem
bem educado, Os escravos que serviam à burocracia imperial eram treinados por meio de
um cursus honorum, no qual aprendiam latim, grego e matemática. Ele chegou a escrever
uma carta aos cristãos da igreja de Corinto, documento que ficou conhecido como 1
Clemente. Ele é considerado, atualmente, pela igreja católica romana como o terceiro papa
a partir de Pedro, o apóstolo. Os cristãos que pertenciam ao grupo de Clemente
consideravam-se "bons cidadãos de um Estado que havia trazido concórdia ao mundo
mediterrâneo e provido um modelo para a igreja. O exército romano, por exemplo,
apresentava um modelo de disciplina, ordem e uma inquestionável obediência que resultou
no estabelecimento e manutenção da Pax Romana" (Jeffers, 1991, pp. p.1593–5, tradução
nossa).

O outro documento da época é chamado de O Pastor de Hermas, escrito entre 88 e 97 A.D.


Ele apresenta características que provavelmente representam a visão de mundo da maioria
dos cristãos romanos de origem social menos privilegiada. Por serem mais pobres e, por
isso, mais afastados da ideologia da elite romana, apara eles a visão exposta em 1
Clemente constituía um comprometimento da verdadeira piedade cristã com elementos da
sociedade imperial romana. Segundo o autor de Hermas, explica Jeffers, ele reconhece o
sistema de patronagem romano, mas defende que os pobres devem mostrar gratidão a
Deus, não aos seus patrões. Segundo Jeffers, Hermas via o Estado romano como algo
completamente diferente da prática cristã, por isso "virou a relação patrão-cliente de ponta a
cabeça ao fazer dos pobres piedosos os verdadeiros guerreiros do cristianismo" (Jeffers,
1991, pp. p.1599–1603, tradução nossa).

Nest sentido, Jeffers argumenta que quanto mais alto o status social dos cristãos romanos,
mais estavam propensos a adotar os valores da sociedade romana, na qual estavam
inseridos. Observa-se, portanto, uma inclinação da igreja romana, principalmente aquela
composta por membros mais elitizados, de transformar o modelo de koinonia proposto por
Paulo - fundamentado em relações comunitáias baseadas no amor e no serviço a Deus e
ao próximo - em um sistema social hierárquico semelhante ao da elite social romana. Nas
palavras de Jefers, "a congregação de Clemente havia deixado de se assemelhar a uma
seita na medida em que introduziu uma divisão entre leigos e clérigos, enfatizando deveres
oficiais ao invés de espontaneidade, estava inclinada a se identificar com a sociedade maior
e recusou a definir-se como um grupo em protesto" (Jeffers, 1991, pp. p.2243–2244,
tradução nossa). Com o passar do tempo, a perspectiva do grupo de Clemente prevaleceu,
talvez porque sua educação privilegiada, com relação à maioria dos demais cristãos,
transformou-os em uma espécie de elite intelectual cristã. No final das contas, esse foi o
modelo que mais influenciou a igreja romana e, por extensão, toda a cristandade até os dias
atuais.

Roma nos Tempos de Paulo 18


Entendendo Romanos

Acredita-se que mesmo antes de 100 A.D. já haviam catacumbas cristãs em Roma (Bright
& Simons, 2007). As perseguições, iniciadas por Nero, continuaram até o tempo de
Constantino, por volta de 313 A.D. quando inicia-se um novo período na era cristã.

1 É possível que a população tenha alcançado até mesmo 4 milhões de habitantes (Bíblia
Th).

2 Em Roma foi encontradas até mesmo pixações com temáticas anti-cristãs (Stark, 1997, p.
p.146).

3 Vestais eram mulheres separadas para o culto a deusa romana Vesta, por este motivo
deveriam manter-se virgens durante todo o período de seu sacerdócio.

Referências
Bright, H., & Simons, K. (2007). Romans - Free Bible Commentary in easy English.
Retrieved February 16, 2015, from http://www.easyenglish.info/bible-commentary/romans-
lbw.htm

Encyclopaedia Britannica. (2014). Nero | biography - Roman emperor. Retrieved February


18, 2015, from http://global.britannica.com/EBchecked/topic/409505/Nero

Fleming, D. (2004). Bridgeway: Bible Dictionary (e-book). Australia: Bridgeway Publications.

Jeffers, J. S. (1991). Conflict at Rome: social order and hierarchy in early Christianity (e-
book). Minneapolis: Fortress Press.

Ryrie, C. C. (1994). A Bíblia anotada. São Paulo: Mundo Cristão.

Stark, R. (1997). The rise of Christianity: how the obscure, marginal Jesus movement
became the dominant religious force in the Western world in a few centuries (1st
HarperCollins pbk. ed). San Francisco, Calif.: HarperSanFrancisco.

Suetônio. (1923). Roma galante: chronica escandalosa da côrte dos doze cesares. Lisboa:
João Romano Torres & C.a.

Tacitus, C. (2000). The Annals. Retrieved February 19, 2015, from


http://classics.mit.edu/Tacitus/annals.mb.txt

Roma nos Tempos de Paulo 19


Entendendo Romanos

Paulo e o Evangelho
Os seis primeiros versículos da carta aos romanos apresenta informações importantes.
Neles Paulo: a) identifica-se como escravo e apostolo; b) esclarece que foi separado para o
evangelho de Deus; c) explica que Jesus, como homem, é descendente de Davi; d) enfatiza
a centralidade da ressurreição; reconhece que Jesus é nosso Senhor; e) ensina que, por
isso, devemos obedecê-lo por meio da fé; f) também, especifica que seu apostolado tem
por objetivo alcançar as nações; g) registra que somos chamados para pertencer a Cristo.
Em seguida, observaremos, de forma um pouco mais detalhada, cada um destes pontos.

Escravo e apóstolo
Já nas primeiras palavras, a epístola aos romanos traz preciosos ensinamentos. A começar
pela forma como Paulo apresenta-se. Observe suas palavras inicias: "Paulo, servo [doulos]
de Jesus Cristo, chamado para ser apóstolo [apostolos]" (cf. Rm 1:1a). Com estes dizeres,
Paulo deixa claro que antes de ser apóstolo, ou seja, um emissário, é servo de Jesus
Cristo. Seu status social, portanto, é de um servo, ou melhor, escravo, que seria uma
melhor tradução da palavra grega doulos para o português. Sendo assim, é a partir desta
condição que ele exerce a função de apóstolo, para ele o apostolado representa uma
função, não uma posição hierárquica que lhe concede um título, embora tal função o torne
um representante muito especial.

Segundo James S. Jeffers, o fato de Paulo apresentar-se aos romanos como escravo
representava algo significativo, uma vez que diversos membros da burocracia imperial
romana eram escravos e se orgulhavam disso, ao ponto de, ao morrerem, deixarem
registrado em suas lápides os dizeres escravos de César (Jeffers, 1991, p. Pos. 207). De
acordo com a referência de Strong, a palavra doulos, traduzida comumente como escravo,
significa subserviência, sujeição, e pode ser utilizada em sentido literal ou figurativo, em
contextos de servidão voluntária ou involuntária4. De acordo com o Bridgeway Bible
Dictionary (Fleming, 2004), o termo servo pode sugerir distinção de classes, mas esta
questão não fica clara ao analisar-se as linguas originais. Neste caso, o contexto pode
determinar se alguém é servo com relação ao seu Senhor ou ao trabalho que realiza.

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 20


Entendendo Romanos

Além de servo, Paulo é também um apóstolo. Segundo John Stott, "[…] ao pensarmos no
encontro de Paulo com Cristo na estrada para Damasco, devêmos vê-lo não apenas como
sua conversão, mas como seu envio para ser apóstolo (egó apostelló se, 'Eu te envio', 'Eu
te faço um apóstolo') e, especialmente, para ser o apóstolo dos gentios" (Stott, 2000, p. 48).
Para Stott, apóstolo era um título especial e de grande autoridade, utilizado desde o
princípio num contexto especificamente cristão, "reservado para os doze e Paulo, e quem
sabe mais um ou dois, como Tiago" (Stott, 2000, p. 47). Não há dúvida de que o apostolado
exercido por Paulo é especial na medida em que ele foi comissionado pessoalmente pelo
próprio Jesus, entretanto, num sentido geral, o termo é utilizado pelo próprio Paulo ao se
referir a irmãos da Igreja da Macedônia, cujos nomes não são especificados no texto.
Vamos observar um trecho da carta da primeira carta de Paulo à igreja de Conrinto:

Agradecemos a Deus por ter colocado no coração de Tito a mesma dedicação por vós; pois Tito não apenas aceitou a
nossa solicitação, mas já partiu para vos visitar, com muito entusiasmo e por iniciativa própria. E juntamente com ele
estamos enviando o irmão, que é recomendado por todas as igrejas por seu serviço no evangelho. E não apenas por esse
motivo, mas ele também foi escolhido pelas igrejas para ser nosso companheiro de viagem, enquanto ministramos essa
graça para a glória do Senhor e para demonstrar nossa boa vontade. O nosso cuidado é evitar que alguém nos acuse em
relação ao modo de administrar essa generosa oferta, pois estamos empregando todo o zelo necessário para fazer o que
é correto, não somente ao olhos do Senhor, mas também perante aos olhos dos homens. Além de tudo, estamos enviando
com eles o nosso irmão que, muitas vezes e de várias maneiras, já nos provou ser zeloso, e agora ainda mais dedicado,
por causa da grande confiança que ele tem em vós. Quanto a Tito, ele é meu companheiro e cooperador para convosco;
quanto a nossos irmãos, eles são apóstolos das igrejas e glória para Cristo. Portanto, diante das demais igrejas,
manifestai a esses irmãos a prova do amor que tendes e a razão do orgulho que temos de vós (Cf. 1 Co 8:16-24).

De acordo com o texto, Paulo envia Tito juntamente com dois irmãos das igrejas da
Macedônia com o objetivo de administrar ofertadas coletadas. Para que possamos
compreender melhor o significado do termo apóstolo, será necessário o estudo de duas
palavras gregas, apostolos, que significa enviado, e apostello, enviar - enquanto esta é um
verbo, aquela é um adjetivo.

O termo apostello é utilizado em diversos contextos. No livro de Apocalipse, jesus envia


(apostellos) sua mensagem através de um mensageiro a João. Em Apocalipse 1:1 está
registrado: "Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe concedeu para mostrar a seus servos
os acontecimentos que em breve devem se realizar, e que Ele, por intermédio do seu anjo,
expressou (apostellos) ao seu servo João […]". O mesmo termo é utilizado em Apocalipse
22:6. De acordo com Apocalipse 5:6, "Nisso, aconteceu que reparei, no meio do trono e dos
quatro seres viventes e entre os anciãos, em pé, um Cordeiro que parecia estar morto, e
tinha sete chifres e sete olhos, que são os sete espíritos de Deus enviados (apostello) a
toda a terra". Em Lucas 24:49, Jesus enviou o Espírito Santo, prometido pelo Pai, aos
discípulos, conforme o texto: "Eis que Eu sobre vós envio (apostellos) a promessa de meu
Pai; contudo, permanecei na cidade, até que sejais revestidos do poder do alto!”.

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 21


Entendendo Romanos

Em Marcos, no capítulo 5, encontramos o termo apostellos sendo utilizado até mesmo por
uma legião de demônios, que rogaram a Jesus para não serem enviados para fora da
região dos gerasenos. Veja o texto:

E assim, atravessaram o mar e foram para a região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, veio dos sepulcros,
caminhando ao seu encontro, um homem possuído por um espírito imundo. Esse homem vivia em meio aos sepulcros e
não havia quem conseguisse dominá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes já haviam acorrentado seus pés e
mãos, mas ele arrebentava os grilhões e estraçalhava algemas e correntes. Ninguém tinha força para detê-lo. E, noite e
dia, sem repouso, perambulava por entre os sepulcros e pelas colinas, gritando e cortando-se com lascas de rocha. Ao
avistar Jesus, ainda de longe, correu e atirou-se aos seus pés. E clamou aos berros: “Que queres de mim, Jesus, Filho do
Deus Altíssimo? Suplico-te por Deus que não me atormentes!” Pois Jesus já lhe havia ordenado: “Sai deste homem,
espírito imundo!” Todavia, Jesus o interrogou: “Qual é o teu nome?” Respondeu ele: “Meu nome é Legião, porque somos
muitos”. E implorava insistentemente para que Jesus não os mandasse (apostellos) para fora daquela região. Enquanto
isso, perto dali, numa colina vizinha, uma grande manada de porcos estava pastando. Foi então que os demônios rogaram
a Jesus: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. E Jesus lhes deu permissão, e os espíritos imundos
deixaram o homem e entraram nos porcos. E a manada com cerca de dois mil porcos atirou-se precipício abaixo, em
direção ao mar, e nele se afogaram (Cf. Mc. 5:1-13).

De acordo com o evangelho joanino, João Batista havia sido enviado por Deus: "Houve um
homem enviado (apostello) de Deus, cujo nome era João." (Cf. João 1:6). Em Atos 7:35, lê-
se: "Este é o mesmo Moisés a quem eles haviam rejeitado com estas palavras: ‘Quem te
constituiu autoridade e juiz?’, Deus o enviou (apostellos) como líder e libertador, pela mão
do anjo que lhe apareceu no espinheiro." Ou seja, Moisés foi enviado (apostellos) por Deus
para libertar o povo do cativeiro. Há também uma passagem em Marcos 6:27 que registra: "
[O Rei Herodes] Mandou (apostello), portanto, imediatamente um carrasco com ordens para
trazer a cabeça de João. O executor (spekoulatōr) foi e decapitou João na prisão".

Por fim, no contexto específico da carta de Paulo aos Romanos, no capítulo 10, verso 15,
lê-se: "E como pregarão, se não forem enviados (apostello)? Como está escrito: 'Como são
maravilhosos os pés dos que anunciam boas novas!' Israel não tem como se escusar.".

Portanto, num sentido geral, apostellos significa ser enviado por meio de uma autoridade
com um propósito específico. Neste caso, será que em alguma medida o sentido deste
termo não se assemelha ao da palavra missionário, na forma como o utilizamos
atualmente?

Quanto ao termo apostolos, a Cyclopedia of Biblical Literature, McClintock & Strong,


apresenta uma nota (Cf. referência à palavra apóstolo) digna de menção:
Em grego ático, o termo é usado para designar uma frota ou armamento naval. Ele ocorre apenas uma vez na Septuaginta
(1 Reis 14: 6); ali, e uniformemente no Novo Testamento, significa uma pessoa enviada por outro, um mensageiro. Tem
sido afirmado que os judeus estavam acostumados a chamar o coletor do meio shekel, quantia que cada israelita paga
anualmente ao Templo, de apóstolo; e temos mais autoridade para afirmar que eles usaram a palavra para designar

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 22


Entendendo Romanos

aqueles que transportavam cartas encíclicas de seus governantes. Œcumenius afirma que havia até mesmo um costume
entre os judeus de chamar aqueles que carregavam cartas circulares de seus governantes pelo nome de apóstolos. Talvez
Paulo tenha supostamente referido-se a isso (Gálatas 1: 1), quando ele afirma que era "um apóstolo, não dos homens,
nem por homens" - um apóstolo não como aqueles conhecidos entre os judeus por esse nome, que deriva sua autoridade
e recebeu sua missão dos principais dos sacerdotes ou homens importantes da sua nação. Neste sentido, o significado da
palavra é fortemente apresentado em João 13:16, onde ocorre junto com seu correlato, "O servo não é maior do que seu
senhor, nem o que é enviado (ἀπόστολό) maior do que aquele que o enviou." (tradução nossa).

De acordo com a referência de Thayer, palavra apóstolo também pode significar consules
enviados com um exército, ou seja, uma expedição - referência encontrada em uma obra do
historiador grego Polybio (200-118 a.C.). De acordo com uma antiga referência, registrada
em português arcaico:

Os judeus davam o nome de apostolo ao funccionario encarregado de cobrar o tributo que se devia ao patriarcha.
Anteriormente á vinda de Jesus Christo, davam tambem este nome aos cobradores que recebiam o meio siclo que os
israelitas deviam ao tabernaculo; e posteriormente á resurreição de Jesus, davam-no aos missionarios que enviavam de
uma para outra parte a fim de impugnar a doutrina dos santos apostolos e calumnial-os (sic) Deve-se notar que S. Paulo ia
desmepenhar uma missão similhante em Damasco quando foi convertido á fé; e que, por consequencia, fôra apostolo de

Caiphás antes de ser apostolo de Jesus (Irmão, 1866, p. 180).

De acordo com o The Bible Knowledge Background Commentary:

Para Paulo, o apostolado estava enraizado mais no fato de que o Cristo ressuscitado havia aparecido para ele (1 Co. 9: 1;
15: 7-9) do que em cartas de autorização de outros na igreja. A autorização do seu apostolado não era a congregação,
mas Deus, como podemos ver em seu "pela vontade de Deus" (ver também Gl. 1: 1). Seu chamado como apóstolo veio de
Deus ("chamado apóstolo"). Provavelmente é isto que está por trás da noção do apostolado de Andrônico e Júnias, em
Rm. 16: 7, mas isto não é certo. Heródoto usou o termo apóstolo como um enviado e esta noção é que provavelmente
está por de trás da utilização do termo pela igreja. Heródoto (485 a.C.) escreve: "Quando a resposta Délfica foi trazida
para Alyattes, logo mandou um arauto a Mileto, oferecendo-se para fazer uma trégua com Thrasybulus e os Milesianos,
durante a sua construção do templo. Então o enviado [grego = apostolos] foi para Mileto "(Heródoto, Guerras Persas 1,21,
LCL). Da mesma forma, ele escreve: "Aristagoras de Mileto ... mandou tudo para configurar governadores em cada cidade,
em seguida ele foi como embaixada [grego = apostolos] em um trireme [= uma embarcação com três fileiras de remo] para
Lacedaemon, pois era necessário que ele encontrasse algum forte aliado" (Guerras Persas 5,38, LCL). Mais
contemporâneo aos tempos do Novo Testamento é Epicteto (54-68 A.D.), que usa a forma verbal de apostolos: a saber,
apostello, para descrever como um "verdadeiro Cínico" deve saber que foi enviado [grego = apestaltai] "por Zeus aos

homens" (Epicteto, Discursos 3,22-23), LCL) (Evans, Combes, & Gurtner, 2004, p. 256 , tradução
nossa).

Há também uma citação do orador grego Lísias (459-380 a.C.), em sua obra Sobre a
Propriedade de Aristófanes - capítulo 19, parágrafo 21, onde lê-se:

Em seguida, quando os enviados chegaram de Chipre, para adquirir a nossa assistência, sua energia ardente não
conhecia limites. Você lhes havia concedido dez navios de guerra, e tinham votado todo o material, mas eles estavam
precisando de dinheiro para o envio [apostolos] da frota. Eles haviam trazido apenas fundos escassos com eles, e eles
exigiram muito mais: para eles tiveram que contratar não apenas só homens para trabalhar nos navios, mas também para

a infantaria leve e compra de armas (Lísias, 1930 , tradução nossa).

Percebemos, portanto, que o termo apostolos, bem como apostellos, possui uma carga
semântica variada. De qualquer forma, cientes de que um tratamento adequado e exaustivo
desta temática é praticamente impossível em poucas linhas, nosso objetivo consistiu
apenas em apresentar mais informações que possam contribuir em futuras discussões.

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 23


Entendendo Romanos

Todavia, parece-nos certo considerar que a autoridade de um apóstolo estava


necessariamente vinculada à daquele que o enviou, o que, mais uma vez, concede a Paulo,
na qualidade de enviado pessoalmente por Jesus, uma representatividade muito especial,
ele não auto comissionou-se nem foi enviado por homens. Foi, assim, enviado por Jesus
aos gentios.

Separado para o Evangelho de Deus


O Objetivo de Paulo era o de pregar o Evangelho de Deus. Primeiramente, ele deixa claro
que o evangelho que ele está anunciando não é de origem humana, não apresenta algo
elaborado de acordo com os interesses de alguma instituição terrena, mas é de origem
divina. Segundo John Stott, "o que nós temos a repartir com outros não é, nem uma
miscelânea de especulações humanas, nem mais uma religião a ser adicionada ao que já
existe - aliás, nem se trata de uma religião. É o evangelho de Deus, a boa nova do próprio
Deus para um mundo perdido" (Stott, 2000, p. 48). Trata-se da revelação de Deus para a
salvação não apenas da humanidade, mas de todo o universo.

Neste sentido, Paulo pretende anunciar exatamente o mesmo evangelho que Jesus
pregava em todos os lugares. Segundo o evangelho de Mateus: "E percorria Jesus toda a
Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando todas as
enfermidades e males entre o povo" (Cf. Mt 4:23). Mais adiante, em outra passagem, está
registrado: "E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo habitado, como
testemunho a todas as nações, e então chegará o fim" (Cf. Mt 24:14).

Hoje em dia, durante ações evangelisticas, é muito comum os Cristãos comunicarem


àqueles que estão fora da Igreja: "Jesus tem um plano para sua vida!", ou, ainda, "Jesus te
ama e quer te salvar!". Estas mensagens estão corretas, mas elas não comunicam o
Evangelho do Reino de Deus em sua totalidade. Para que possamos realizar uma
comunicação plena do Evangelho, é muito importante compreendermos que a revelação
Bíblica se fundamenta em quatro grandes temas que fornecem a perspectiva correta para
sua interpretação: a) Criação; b) Queda; c) Redenção; d) Consumação. Tudo que está
registrado nas Escrituras relaciona-se com estes temas, devemos, então, aprender a
estudar a Bíblia identificando-os, só assim conseguiremos compreender corretamente a
base que fundamenta o Evangelho do Reino de Deus. Por Criação, compreendemos que o
universo e tudo o que nele há foi criado por Deus de forma perfeita. Com a Queda temporal

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 24


Entendendo Romanos

da humanidade no pecado, através de Adão, gerou como consequência a corrupção não


apenas do homem, mas de todo o universo criado. Neste sentido, homem e mulher não
apenas perdem a comunhão com Deus, mas, também, consigo mesmos, com os outros,
com a própria criação, enfim, todos os relacionamentos são comprometidos, assim, amorte
física, inclusive, passa a fazer parte do universo. Quando Jesus derrama seu sangue na
cruz, ele está reconciando novamente consigo todas as coisas, todas, estejam elas no céus
ou na terra (Cf. Cl 1:15-23). Esta reconciliação é chamada de Redenção. Todavia, o fado de
Jesus ter realizado uma obra que efetivamente redimiu, ou seja, resgatou, libertou, o ser
humano e todas as coisas, não significa que tudo tenha sido restaurado, de maneira que
tudo volte a ser com era no princípio. Por isso, aguardamos a Consumação, que acontecerá
juntamente com segunda vinda de Jesus, quando, finalmente, a humanidade será julgada,
os que aceitaram de antemão a Jesus serão salvos e haverá Novos Céus e Nova Terra,
onde habita a justiça (Cf. 2 Pe 3:13). Vivemos, assim, neste entretempo, no qual já
podemos desfrutar da graça que Jesus concede aos que o aceitam, que é capaz de gerar
mudanças significativas em nós, e carregamos a responsabilidade de comunicar o
Evangelho do Reino de Deus.

Neste sentido, vale a pena observamos a maneira com que Paulo comuniva este Evangelho
do Reino. Certamente, quando ensinava nas sinagogas, ele laçava mão do conhecimento
que possuía das Escrituras e demonstrava que como Jesus era o cumprimento da Palavra
revelada pelos profetas. Mas, quando ele pregava aos gentios, ele utilizava uma técnica
diferente! Habilmente, ele procurava conhecer a cultura com a qual procurava comunicar-
se, de modo que pudesse contextualizar a mensagem da melhor forma possível. Vejamos
um exemplo de quando ele esteve na cidade de Atenas, na Grécia (At 17.16-34).
Inicialmente ele deu uma volta pela cidade observando com muita atenção aspectos da
cultura local. Deste modo, ele procurou conhecer quais ideias, teorias, valores, da
sociedade ateniense. Em seguida, o livro de Atos relata que todos os dias, Paulo discutia na
sinagoga e na Praça Principal, que era um local utilizado para discussões filosóficas e
políticas. Significa, que ele sabia dialogar com crentes e pagãos, contextualizando para os
dias atuais, podemos dizer que ele sabia conversar com quem estava dentro e fora da
Igreja, com crentes e filósofos. Por causa da maneira com que abordava o povo, e pelo
interesse despertado ao ouvirem as Boas Novas, ele foi convidado para falar em uma
reunião do Areópago, que era um centro utilizado para a discussão de questões públicas. O
discurso realizado ali mostra-nos que ele: a) demonstrou conhecimento acerca da cultura e
da religião dos gregos (At 17.22); b) encontrou uma ‘porta de entrada’ para apresentar o
Deus verdadeiro a partir de elementos da própria cultura local (At 17.23), que certamente
exigiu dele uma investigação minuciosa do sistema religioso ateniense; c) apresentou Deus
como o Verdadeiro e Único Criador (At 17.24-5); d) ensinou sobre a Origem de todos os
povos da terra a partir de Adão e Eva, restabelecendo o caráter histórico do relato da

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 25


Entendendo Romanos

Criação, da forma como está registrado em Gênesis, lançando bases para o combate a
ideia de raças humanas distintas e combatendo, portanto, qualquer forma de racismo ou
xenofobia (At 17.26); e) estudou e discerniu elementos verdadeiros presentes na cultura
grega, em seu discurso ele inclui duas citações de poetas gregos5 afirmando que estavam
em concordância com a perspectiva das Escrituras, com efeito, o apóstolo nos mostra que é
possível encontrar verdades em pensadores pagãos (At 17.28). Com isto Paulo nos ensina
que podem existir alguns elos de conexão entre o conhecimento cristão e o pagão, que
podem tanto nos ensinar. Claro, desde que devidamente criticados segundo uma
perspectiva bíblica. Com esta estratégia, é possível econtrarmos ‘portas de diálogo’ com os
descrentes, que de outro modo tornaria a comunicabilidade muito difícil; f) chamou ao
arrependimento, um povo dotado de um sistema cultural totalmente diferente do seu,
mostrando-nos que a Verdade de Deus é relevante para toda e qualquer cultura, em todo e
qualquer tempo (At 17.29); g) falou sobre o julgamento de Deus e ofereceu a possibilidade
da Redenção em Cristo Jesus com base em provas visíveis, empíricas, a ressurreição dos
mortos (At 17.30-1).

Observemos agora, com um pouco mais de cuidado, a maneira como Paulo citou os poetas
gregos em seu discurso, segundo o teólogo Roy B. Zuck:

"Pois nele vivemos, nos movemos e existimos" (Atos 17:28a) pertence a Epimênides, um poeta cretense do sexto século,
em seu Cretica. Com esta citação Paulo acrescentou apoio lógico ao ponto apresentado em sua sentença anterior (17:27)
de que embora Deus é o Criador transcendente (17:24-26) [ou seja, ele é maior, está acima e se distingue de sua criação]
ele também é iminente e portanto, não "longe de cada um de nós". "Somos descendência dele" (Atos 17:28b) vem do
poeta Aratus (315-240 B.C.) em seu Phaenomena, e também de Cleanthes (331-233 B.C.) no seu Hino a Zeus. Paulo
citou esta sentença de modo a estabelecer uma conclusão lógica a seguir (17:29) de que Deus não é feito segundo a
imagem do Homem. O Homem é feito por Deus, não Deus pelo Homem! Ao citar estes escritos conhecidos e apreciados
pelos atenienses e com os quais eles concordavam. Paulo habilmente levou seus ouvintes na Colina de Marte [onde
estava o Areópago] a aceitar suas próprias afirmações mais facilmente. Claro que, ele não estava endossando tudo o que
estes poetas gregos escreveram; ele simplesmente selecionou estas sentenças de seus próprios escritos porque o que
elas afirmam, sendo bem conhecidas por sua audiência, foram úteis a seu sermão (Zuck, 1998, p. 261, grifo

nosso, tradução nossa).

Através destes exemplos, fica claro que precisamos assumir uma postura mais crítica e
inteligente acerca da cultura e do conhecimento que nos rodeia. Principalmente no tempo
em que vivemos hoje, em uma sociedade secularizada, pou melhor pós-cristã, em que as
pessoas correm por todo o lado em busca de conhecimento (Cf. Dn 12:4) e são arrastadas
por inúmeras filosofias vãs.

É com toda esta inteligência e propriedade que Paulo anuncia o Evangelho do Reino de
Deus aos habitantes de Roma. De que maneira voc6e tem anunciado o Evangelho? Qual
estratégia você utiliza?

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 26


Entendendo Romanos

Jesus, como homem, descendente de Davi


Paulo apresenta Jesus como homem e divindade ao mesmo tempo. No que tange a
humanidade de Jesus, é importante observarmos que o Antigo Testamento, por meio dos
profetas, é repleto de promessas que se cumprem em Cristo Jesus. Neste sentido, Jesus
não é uma figura que surge do nada, muito pelo contrário, ele foi prometido e aguardado
por séculos. Segundo Stott, "O próprio Jesus deixou muito claro que as Escrituras
testificavam dele, que ele era o filho do homem do qual falava Faniel 7 e o servo sofredor
referido em Isaías 53, e que, conforme estava escrito, ele tinha de sofrer para entrar em sua
glória" (Stott, 2000, p. 49). Outro ponto muito importante, principalmente para o povo Judeu,
Jesus fazia parte da linhagem do Rei Davi, era seu descendente. Por este motivo, um
registro com a genealogia de Jesus é apresentado logo no primeiro capítulo do evangelho
de Mateus.

A Centralidade da Ressurreição
Ao escrever para uma sociedade extremamente idólatra e superticiosa, que adorava
imagens de homens e mulheres, que em certos casos cultuava até mesmo animais, na qual
o imperador se autodenominava deus, não seria Jesus apenas mais uma divindade? Não
podemos nos esquecer que a maioria dos gentios sequer conhecia a história do povo de
Israel, neste caso, eram desconhecidas todas as profecias que anuciavam a chegada do
Messias, Jesus. Portanto, logo no início da carta, Paulo explica que Jesus "foi designado
Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade pela ressurreição dos mortos"
(Cf. Rm 1:4). Observe que Paulo não apresenta uma especulação, mas um testemunho
baseado em evidências históricas, a ressurreição de Cristo. Isto torna Jesus diferente de
todas as supostas divindades cultuadas pelos romanos.

A historicidade da ressurreição é extremamente cara para Paulo, e não poderia ser


diferente para nós. Segundo a primeira carta que ele escreve à igreja de Conrinto: "E, se
Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. E ainda
mais: os que dormiram em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo se limita
apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" (Cf. 1 Co 15:17-8). Ora,

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 27


Entendendo Romanos

se a ressurreição de Cristo fosse uma falácia, o evangelho não faria sentido algum. Mas,
este evento histórico permanece registrado na história do universo. Jesus não é uma
divindade qualquer, é o Filho de Deus.

No final do evangelho de Lucas a um relato impressionante acerca da realidade física da


ressurreição:
E aconteceu que, estando ainda conversando sobre esses fatos, o próprio Jesus apareceu entre eles e lhes saudou: “Paz
seja convosco!” Eles ficaram atônitos e aterrorizados, pensando que estivessem vendo um espírito. Todavia, Ele lhes
exortou: “Por que estais apavorados? E por qual motivo sobem dúvidas ao vosso coração? Observai as minhas mãos e
meus pés e vede que Eu Sou o mesmo! Tocai-me e comprovai o que vos afirmo. Por que um espírito não tem carne nem
ossos, como percebeis que Eu tenho. E havendo dito isto, passou a mostrar-lhes as mãos e os pés. E tão repletos de
alegria e surpresa estavam, que não conseguiam acreditar no que viam. Por isso, Jesus lhes pediu: “Tendes aqui algo
para comer?” E eles lhe ofereceram um pedaço de peixe assado. E pegando aquele pedaço de peixe o comeu na
presença de todos. Jesus esclarece as Escrituras. Em seguida, Jesus lhes explicou: “São estas as palavras que Eu vos
ensinei quando ainda estava entre vós: Era necessário que se cumprisse tudo o que a meu respeito está escrito na Lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos!” Então, se lhes abriu o entendimento para que pudessem compreender as Escrituras
(Lucas 24:36-45 -KJA).

O texto é muito claro. Como relata o médico e historiador Lucas, Jesus possui ressuscitou
em carne e osso. Foi desta maneira que ele foi assunto aos céus, significa que neste exato
momento Jesus está em algum lugar, que ainda não temos acesso, presente através de um
corpo físico glorificado. Esta é a base do evangelho, que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus
vivo (Cf. Mt 16:15-8).

Jesus Cristo, nosso Senhor


Logo após apresentar aos romanos uma prova empírica da divindade de Cristo, a
ressurreição, Paulo afirma: "Jesus Cristo, nosso Senhor [kurios]" (Cf. Rm 1:4b). Sem dúvida
alguma, estes dizeres eram muito significativos para aquele contexto. A palavra grega
traduzida por Senhor é kurios, que significa chefe supremo e era o título utilizado apenas
pelos imperadores romanos. Ao comunicar aos gentios o senhorio de Cristo sobre todas as
coisas, Paulo utilizou propositalmente um termo muito significativo para eles.

Segundo Timothy Keller:

Desde os primeiros dias, a confissão dos cristãos era Christos Kurios - "Jesus é o Senhor", em um contexto histórico em
que era obrigatório dizer Kaiser Kurios, "César é o Senhor", esta confissão significava que Jesus era o poder supremo. Ele
não era apenas um professor, profeta, ou mesmo um divino ser angelical, mas, como um hino cristão primitivo coloca-o,
ele tinha "o nome acima de todo nome" (Keller, 2008, p. 228–231).

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 28


Entendendo Romanos

Para se ter uma ideia do impacto desta revelação, basta olharmos para os acontecimentos
que tomaram lugar alguns anos depois que Paulo escreve esta carta. Quando o império
começa a perseguir duramente os cristãos, muitos eram jogados na arena para serem
devorados por leões ou mortos por gladiadores, para serem libertos bastava que falassem
Kaiser Kurios - César é o Senhor, mas eles escolhiam dizer: Jesus Kristos Kurios, de
acordo com Johan Samson, eles pagavam por este privilégio com seu próprio sangue
(Samson, 2009).

Obediência por fé
Sem dúvida alguma a ciência ocupa um lugar proeminente nos dias de hoje. Em meio a
promessas de um futuro melhor, a ciência apresenta-se praticamente como uma entidade
com vida própria e autoridade acima de qualquer suspeita. Segundo Caldas:

[…] nos dois últimos séculos, especialmente, a ciência é situada como essa entidade ultravital em que residem todas as
apostas, anseios e esperanças; ela detém um valor do mesmo nível que antes usufruía a beatitude e suas realizações
substantivam promessas que se assemelham a uma profecia religiosa (Caldas, 1994, p. 87)

Neste contexto, falaciosamente muitos acreditam que fé e razão constituem faculdades


distintas. No contexto de uma sociedade secularizada como a ocidental, fé e razão são
compartimentalizadas entre vida privada e pública, respectivamente. Assim, se a base da fé
é a experiência subjetiva, a razão deve reinar soberana por meio da lógica ou da
plausibilidade como fundamentação para praticamente todas as dimensões da vida.
Todavia, este tipo de pensamento baseia-se apenas na ignorância acerca do verdadeiro
significado bíblico e histórico da fé cristã.

Ora, se considerarmos que Jesus é Senhor de nossa fé e de nossa razão perceberemos


que tal separação não faz muito sentido, Agostinho percebeu isso e com muita propriedade
argumentou em sua obra A Trindade, escrita por volta de 400 a 416 d.C.:

A fé busca, o entendimento encontra; por isso diz o profeta: Se não crerdes, não entendereis (Is 7.9). Doutro lado, o
entendimento prossegue buscando aquele que a fé encontrou, pois, Deus olha do céu para os filhos dos homens, como é
cantado no salmo sagrado: para ver se há alguém que tenha inteligência e busque a Deus (Sl 13.2). Logo, é para isto que
o homem deve ser inteligente: para buscar a Deus (AGOSTINHO, 1994, p.481, grifo nosso).

Isto significa que raciocinamos a partir das nossas crenças, ou seja, elas fundamentam
nosso raciocínio, porém a nossa fé consegue ir para além da nossa razão, que, por sua
vez, tenta acompanha-la. Segundo o filósofo americano Roy Clouser, a “[...] fé não é uma
faculdade distinta da mente, separada da faculdade da razão, mas uma parte integral da
razão” (Clouser, 2005, p. 98 , tradução nossa). Muitos cristãos alegam que não creem em

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 29


Entendendo Romanos

Deus e, portanto, não possuem crenças religiosas, mas se esquecem de que não crer
também é crença. Ora, se alguém não crê em Deus esta é sua fé, mesmo que tente se
apoiar em argumentações científicas ou filosóficas.

Nossa obediência, portanto, não é cega! Não baseia-se em desejos intensos, emoções,
idiossincrasias. Ainda que a fé possa tocar nossas emoções e alimentar nossa
subjetividade, de forma alguma ela restringe-se a isso. Obecemos porque cremos e o
fazemos porque fundamentamo-nos em convicções plenas acerca da existência, soberania
e poder de Deus, que se revela pessoalmente aos crentes através das Escrituras.

Apostolado Para as Nações


O apostolado de Paulo é voltado especialmente para os gentios. A palavra grega traduzida
por gentios, em algumas versões, é a palavra ethnos (G1484 - ἔθνος), que de acordo com a
referência de Thayer significa tribo, nação, grupos de pessoas. É importante salientar, que o
termo nações, dentro daquele contexto histórico, não possuia a mesma conotação que os
dias atuais, que utilizamos para ao nos referirmos a agrupamentos políticos ou regiões
geográficas específicas. Esta questão fica mais clara ao analisarmos a palavra grega ethó,
que é a raiz da palavra ethnos. Ethó significa uso, costume. Isto significa que, ao utilizar o
termo ethnos, Paulo estava interessado em alcançar todos os grupos étnicos, grupos de
pessoas identificadas por costumes distintos e não apenas moradores de regiões
específicas ou sobre regimes políticos determinados. Seu objetivo consistia em realmente
cumprir o mandamento de Jesus de ir a todas as nações (panta ta ethne) e ensinar acerca
de todas as coisas.

Chamados para pertecer a Cristo


Paulo explica que fomos chamados para pertencer a Cristo. Para compreendermos melhor
o significado e as implicações deste convite especial, basta observarmos a palavra klētos
(κλητός), traduzida para o português como chamados, convidados. De acordo com
CARPENTER, BAKER e ZODHIATES (2008), a palavra klētos (ref. 2822) é originalmente
utilizada para referir-se àqueles que foram convidados para um banquete, na septuaginta -
tradução da Bíblia para o grego - o termo é encontrado em 1 Reis 1:41,49 e nos evangelhos
é utilizado apenas em Mateus 20:16 e 22:14.

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 30


Entendendo Romanos

Na primeira passagem, encontramos o registro de uma parábola contada por Jesus. Na


ocasião ele diz que trabalhadores foram contratados por um proprietário e enviados para
trabalhar em sua vinha. Observe o texto em seu contexto: "Portanto, o Reino dos céus é
semelhante a um proprietário [oikodespotés] que saiu ao raiar do dia para contratar
trabalhadores para a sua vinha. Depois de combinar com cada trabalhador o pagamento de
um denário pelo dia, os enviou [apostelló] ao campo das videiras" (cf Mt 20:1 KJA). O termo
oikodespotés significa dono de uma casa, propriedade. No sentido aplicado nesta parábola,
observamos que este tipo de proprietário possui autoridade para enviar (apostelló) pessoas
para uma missão, a um trabalho específico. Observe que Jesus estabelece um paralelo
entre aqueles que são contratados para trabalhar em uma vinha e os que são chamados
para realizar obras promotoras do Reino de Deus. A parabola explica que muitos foram
contratados, logo pela manhã, para executarem um trabalho específico, outros foram
arregimentados ao longo do dia em horários diferentes. Ao término do trabalho, todos
receberam a mesma quantia, um denário. Com efeito, aqueles que trabalharam desde o
início do dia reclamaram porque estavam recebendo a mesma quantia que os que foram
chamados mais tarde, demonstrado, assim, que poderiam estar com inveja dos demais.
Segundo Jesus, este proprietário agiu desta maneira porque era generoso, concedendo a
todos os mesmos benefícios independentemente de seus esforços. E Jesus conclui a
passagem dizendo; observe o uso da palavra ekletós: "[…] Portanto, os últimos serão
primeiros, e os primeiros serão últimos. Pois muitos serão chamados [kletós], mas poucos
escolhidos" (cf. Mt 20:16 KJA).

Na outra passagem do evangelho de Mateus, encontramos uma parábola que versa sobre
um banquete de casamento. Nela Jesus conta que um rei preparou um banquete de
núpcias para seu filho e enviou seus servos para chamar os convidados, mas estes, de
diversas formas, rejeitaram o convite real. Indiginado o Rei ordena que aqueles convidados
fossem executados, pois demonstraram ser indignos de participarem daquela festa, depois
ele pede aos seus servos que convidem, então, todos que encontrarem nas ruas. Mais uma
vez a parábola conclui dizendo: "Portanto, muitos são chamados [klétos], mas poucos,
escolhidos!”

Com base nestas duas passagens, e respeitando o contexto da carta aos Romanos,
podemos dizer que somos chamados para pertencermos a Cristo através da salvação que
dEle recebemos gratuitamente. Tal convite, implica tanto a possibilidade de desfrutarmos do
generoso banquete da salvação como um comissionamento para uma obra aqui na terra.
Pois assim como Deus envia seu filho Jesus para realizar a perfeita obra da salvação,
também somos enviados ao mundo para proclamarmos a mensagem da salvação, ou seja,

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 31


Entendendo Romanos

para convidar outros para este banquete especial, e para demonstrarmos o Reino De Deus
por meio de obras que glorifiquem o nome do Senhor. A relação, portanto, entre chamado e
serviço é instrínseca, envolve privilégio e responsabilidade. É neste sentido que Paulo
aplica o termo no decorrer da epistola.

4 É importante dizer que quando Paulo instrui escravos e Senhores da Igreja de Éfeso a amarem e respeitarem-se

mutuamente, institui-se de fato uma relação de subserviência voluntária. Cai por terra, portanto, a noção de que Paulo
poderia estar legitimando, ou menosprezando, instituições exploratórias e desumanas. O que Paulo reconhece, na
verdade, é uma relação de autoridade baseada no amor (Cf. Mateus 8:9) - lembrando que o próprio Jesus, ao encarnar,
assumiu para si forma de servo (Filipenses 2:7). Através de uma relação de amor entre senhor e servo, a relação com o
trabalho adquire novo significado. Segundo o Bridfeway Bible Dictionary: "Ao encorajar escravos cristãos a trabalhar com
responsabilidade e dignidade, o cristianismo ajudou a aumentar o status dos escravos. Eles não deveriam mais pensar de
si mesmos como meras ferramentas de seus chefes (Cf. Cl 3:22; Tt 2:9). Eles poderiam usar suas posições como
escravos para servir a Deus, mas se recebessem a oportunidade de serem libertos, eram encorajados a isso (Cf. 1Co
7:20-21). Paulo esperava que chefes cristãos dariam liberdade a seus escravos, mas ele não utiliza sua autoridade
apostólica para forçá-los a isso (Fleming, 2004).

5 Em outros de seus escritos, Paulo lança mão de duas outras citações do dramaturgo grego Menandro: a) "As más

companhias corrompem os bons costumes" (1Co 15.33), presente em sua comédia Thais; b) "Cretenses, sempre
mentirosos, feras malignas, glutões preguiçosos" (Tt 1.12), onde ele utiliza um escritor cretense para exortar os próprios
moradores de Creta (Zuck, 1998, p. 261).

Referências
Caldas, S. (1994). A teoria da história em Ortega y Gasset a partir da razão histórica. Porto

Alegre: EDIPUCRS.

Clouser, R. A. (2005). The myth of religious neutrality: An essay on the hidden role of

religious belief in theories (2nd ed). Notre Dame: University of Notre Dame Press.

Evans, C. A., Combes, I. A. h, & Gurtner, D. M. (2004). The Bible Knowledge Background
Commentary: Acts-Philemon. Colorado Springs: David C Cook.

Fleming, D. (2004). Bridgeway: Bible Dictionary (e-book). Australia: Bridgeway Publications.

Irmão, C. (1866). Archivo pittoresco: semanario illustrado (Vol. IX). Lisboa: Tip. de Castro
Irmao.

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 32


Entendendo Romanos

Jeffers, J. S. (1991). Conflict at Rome: social order and hierarchy in early Christianity (e-

book). Minneapolis: Fortress Press.

Keller, T. (2008). Count the Cost -- Become a Christian. Recuperado 11 de fevereiro de

2015, de http://www.AllAboutGOD.com/count-the-cost-become-a-christian-faq.htm

Lísias. (1930). Lysias, On the Property of Aristophanes, section 21. Recuperado 5 de março
de 2015, de http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?

doc=Perseus%3Atext%3A1999.01.0154%3Aspeech%3D19%3Asection%3D21

Samson, J. (2009). Reformation Theology: Jesus Kristus Kurios. Recuperado 11 de


fevereiro de 2015, de
http://www.reformationtheology.com/2011/07/jesus_kristus_kurios.php

Stott, J. R. W. (2000). A mensagem de romanos. São Paulo: ABU Editora.

Zuck, R. B. (1998). Teaching as Paul taught. Grand Rapids, Mich: Baker Books.

Paulo e o Evangelho (Rm 1:1-6) 33


Entendendo Romanos

Paulo e os Romanos – Rm 1:7-13


(Texto em elaboração/revisão)

Motivação
Como professor universitário, estou envolvido com aulas mas também com pesquisa
científica. Por esta razão, mesmo durante boa parte das férias escolares, quando não há
aulas, nossas atividades não cessam. Neste período, o estacionamento da universidade
fica mais vazio, não há filas para o almoço e podemos nos concentrar melhor na pesquisa
quse sem interrupções. Brincamos entre nós, professores, dizendo que a universidade seria
melhor se não houvesse os alunos! Bom, obviamente, os alunos é que fazem a
universidade. Mas lidar com gente é frequentemente desgastante e dolorido...

O Dr. Paul David Tripp, professor de seminário de formação de pastores, conta que, em
uma de suas aulas, estava abrindo o coração aos seus alunos a respeito de uma ocasião
em que teve que visitar mais uma vez um homem que estava consumindo grande
quantidade de seu tempo e energia. Quando um de seus alunos levantou a mão e
perguntou: "Prof. Tripp, tudo bem, sabemos que encontraremos pessoas difíceis em nossas
igrejas. Mas nos diga o que devemos fazer nestas circunstâncias para voltarmos
rapidamente ao nosso ministério." (Tripp 2012). Tripp fica perplexo. Ele lamenta a visão de
ministério daquele rapaz. Um ministério sem pessoas. "Podemos amar nossa teologia,
nossa doutrina" — diz ele — "mas temos que amar pessoas". Há muitos nas igrejas que
amam a verdade e não amam as pessoas. Destes devemos nos acautelar. Precisamos
zelar pela verdade sim, mas sem nos deixar de lado o amor (cf. Ef 4:15).

Paulo é diferente. Ele se importava com as pessoas. Mesmo sem conhecer pessoalmente a
maioria dos Romanos a quem escreve, ele dá graças por eles, ora por eles, deseja
encontrar-se com eles, e compartilhar (dar e receber) do que tem. Para Paulo, o ministério
era pessoal, relacional.

Paulo e os Romanos
Até o versículo 6, Paulo fala de si mesmo (servo e apóstolo) e do "seu" evangelho (cuja
origem é Deus, que é atestado pelas Sagradas Escrituras, cujo conteúdo é Cristo, cujo
alcance é todas as etnias e cujo propósito é a "obediência por fé" e a glória de Jesus).
Agora (vs. 7 a 13), o apóstolo passa a se dirigir aos seus leitores em Roma.

Paulo e os Romanos (Rm 1:7-13) 34


Entendendo Romanos

Roma era a fonte da lei, o centro da civilização antiga, a Meca dos poetas, oradores e
artistas. Neste mesmo lugar, havia pessoas compradas pelo sangue de Jesus e que
pertenciam a Jesus e Paulo então diz que estes são:

1. "amados de Deus" – seus próprios filhos e filhas. Escolhidos e amados quando eram
inimigos (cf. 5:10). Todos os que pertencem a Cristo são amados de Deus. E não há
nada que possamos fazer para Deus nos amar mais – ele já nos ama plenamente e
provou isto na cruz, como Paulo nos dirá mais adiante (5:8). Estar certo do amor dos
pais é essencial para o crescimento emocional saudável de uma criança. Ter convicção
do amor do cônjuge, dos amigos é algo profundamente benéfico para alma. Estar certo
do amor de Deus traz bênçãos ainda maiores.

2. "chamados para serem santos" (assim como para "pertencer a Cristo" – v. 6). O termo
"santos" ou "povo santo" era, no Antigo Testamento, uma designação comum para
Israel. Aqui, no entanto, Paulo aplica também aos gentios cristãos de Roma. A
implicação disso é que todo cristão, sem exceção, é chamado por Deus para pertencer
a Cristo e ao seu povo santo.

3. destinatários da "graça e paz" de Deus. A bênção aaraônica do Antigo Testamento roga


a Deus que Ele seja gracioso e dê paz. Estas duas bênçãos – graça e paz –
correspondem aos assuntos da sua carta. "Graça" que é a gratuita justificação dos
pecadores. "Paz" na reconciliação de judeus e gentios no corpo de Cristo.

Estes três termos – "amados", "chamados" e "santos" – eram todos empregados no Antigo
Testamento para Israel. Paulo faz questão aqui de aplicá-los indistintamente a judeus e a
gentios como pertencentes agora ao povo da aliança de Deus.

Paulo abre o seu coração


Diante desta visão elevada que Paulo tem da igreja de Cristo, ele em seguida abre o seu
coração.

Paulo louva a Deus por todos eles (v. 8)


A notícia de que havia cristãos na capital também se espalhou por todo lugar onde havia
cristãos. Embora Paulo não tivesse sido diretamente responsável por levar o evangelho
para eles, isto não o impediu de dar graças a Deus pelo fato de Roma ter sido
evangelizada.

Paulo ora por eles (v. 9)

Paulo e os Romanos (Rm 1:7-13) 35


Entendendo Romanos

Para Paulo, pregação e oração andavam juntas. Embora não conhecesse pessoalmente a
maioria dos cristãos de Roma, Paulo intercede por eles "constantemente", "sempre" ou
"incessantemente" (9). E isto não é mera expressão de efeito: ele chama Deus por
testemunha disso.Especificamente, ele ora para que finalmente, pela vontade de Deus, o
caminho seja aberto para que ele vá a Roma (10b).

É digna de nota a humildade do apóstolo e a sua submissão a Deus. Ele não impõe sua
vontade a Deus nem alega conhecer o que seria a vontade do Senhor. Ele submete sua
vontade à de Deus, confia na sua resposta seja ela qual for. Há uma humildade inerente à
verdadeira oração.

Paulo deseja encontrar-se com eles e lhes diz porque (11-


13)
A primeira razão para encontrá-los é para "compartilhar algum dom (i.e., 'carisma') espiritual
e fortalecê-los" (v. 11). Mas o que vem a ser este "dom espiritual" que Paulo deseja
compartilhar? Seriam dons listados em 1 Co 12, Rm 12 e Ef 4? Provavelmente não se trata
destes, uma vez que nestas passagens os dons são dados pela decisão soberana de Deus
(Rm 12:6), de Cristo (Ef 4:11) e do Espírito (1 Co 12:11) (aliás, a rigor, não são apenas
"dons do Espírito"!). Desta forma, dificilmente Paulo alegaria "compartilhar" ele mesmo um
dom desta natureza.

Mais provavelmente, Paulo tinha em mente um sentido mais genérico para a palavra "dom"
que ele emprega. Talvez uma referência a seu próprio ensino ou exortação, muito embora
pareça haver uma "indefinição intencional" na sua forma de expressar, talvez porque ele
ainda não sabia exatamente quais eram as necessidade espirituais específicas dos
Romanos.

No versículo 12, o apóstolo imediatamente acrescenta que não apenas poderia dar, mas
que também esperava receber, em um aparente desconforto da ideia de um compartilhar
unidirecional. Paulo sabe sobre as bênçãos recíprocas da comunhão cristã. Mesmo sendo
apóstolo, ele reconhece que precisa também receber. Há algo de especial no estudo bíblico
em conjunto. Há aspectos do próprio amor de Deus que só podem ser compreendidos "com
todos os santos" (i.e., no contexto comunitário, cf.* Ef 4:18-19).

Feliz o missionário que vai a outro país ou cultura neste mesmo espírito receptivo, ansioso
para receber tanto quando para dar, para aprender tanto quanto para ensinar, para ser
encorajado tanto quanto para encorajar. E feliz a congregação cuja liderança tem o mesmo
espírito humilde.

Paulo já havia planejado visitá-los

Paulo e os Romanos (Rm 1:7-13) 36


Entendendo Romanos

No verso 13a, Paulo diz: "quero que vocês saibam que muitas vezes planejei visitá-los, mas
fui impedido até agora." Mas o que foi que o impediu? Isto não nos é dito aqui, mas
podemos supor (por causa daquilo que foi mencionado em 15:22ss) que a razão do seu
impedimento se devia ao fato de que o seu trabalho missionário na Grécia e arredores
ainda não tinha sido completado.

E por que Paulo ele tentou visitá-los? "Para colher algum fruto entre vocês" (13b). O que
isto quer dizer? Paulo anseia ganhar para Cristo alguns mais em Roma ("como tem
acontecido entre os demais gentios" – 13b).

Aplicação
Você sabe apresentar o evangelho de forma clara e objetiva?
Como andam seus "relacionamentos humanos" na Igreja? Você louva, ora, participa e
deseja estar em contato uns com os outros na sua comunidade por amor a Deus e a
seus filhos e filhas? Você é o que é ou tenta causar uma melhor impressão que não
corresponde à realidade?
Às vezes, especialmente diante das adversidades, temos dificuldade em crer no amor
de Deus. Você crê de fato que Deus te ama? Você vive como se ele de fato te amasse?
Ore para que o Espírito Santo exerça na sua vida com mais intensidade o seu
ministério de "derramar o amor de Deus" em seu coração (Rm 5:5).

Bibliografia
[1] D. Tripp, "The Radical Calling"
[2] J. Stott, "A Mensagem de Romanos"

Paulo e os Romanos (Rm 1:7-13) 37


Entendendo Romanos

Não me envergonho do Evangelho


Texto Base

Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo


aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego. Porque no evangelho é revelada a
justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: "O justo
viverá pela fé".

Romanos 1:16-17

Introdução
As verdades pelas as quais a Igreja vive estão reveladas na Palavra, mas nem todas as
doutrinas tem a mesma importância e influência. Da mesma maneira que nem todas as
verdades tem a mesma importância em nossas vidas, muitas doutrinas são mais
importantes em influêntes que outras. Aos fundamentos mais importantes da Fé Cristã
daremos o nome de doutrinas essenciais.

Rascunho

Historicamente, existe uma grande divergência sobre a importância, interpretação e


aplicabilidade correta de cada doutrina.

são tão importantes que influenciam o nosso entendimento sobre outras e definem o que é
ser Cristão.

A estes fundamentos daremos o nome de doutrinas essenciais pois são indispensáveis a fé


cristã. Um bom exemplo de doutrina essencial é ensinamento sobre a divindade de Cristo.
O Cristianismo histórico/ortodoxo confessa a realidade que Jesus é Deus.

Se Jesus não é Deus, o cristianismo é uma mentira.

Jesus é Deus e esta verdade é de extrema importância, para a Igreja. sempre confessou
esta realidade.

Por exemplo, segundo Lutero, a realidade da Justificação pela Fé é o artigo pelo qual a
igreja se mantém ou cai.

Não me envergonho do Evangelho (Rm 1:16-17) 38


Entendendo Romanos

Muitas doutrinas secundárias ou periféricas, ou seja, mesmo não havendo concordência


plena da Igreja em relação a estas, considera-se que as diferentes partes continuam a fazer
parte do mesmo corpo, o corpo de Cristo. Entre as doutrinas secundárias podemos listar o
batismo, o pastorado exclusivo dos homens, o principal dia de culto, etc.

por batismo eu me refiro ao entendimento se devemos batizar ou não crianças, se o


batismo é apenas para adultos, se deve ser por asperção ou imersão.~~

Porém, existem doutrinas que são essenciais e indispensáveis a fé cristã. Toda igreja que
se diz cristã deve compartilhar do mesmo entendimento em relação a estas, tamanha
centralidade e importância contidas nestas verdades para a fé cristã. Por exemplo, a
divindade de Cristo é uma doutrina essencial, de extrema importância, para a Igreja. O
cristianismo histórico/ortodoxo sempre confessou esta realidade. Se Jesus não é Deus, o
cristianismo é uma mentira.

Entre as doutrinas essenciais, podemos listar: o Deus triúno, a autoridade exclusiva da


Bíblia como Palavra de Deus, a realidade da ressurreição e do pecado original, a Soberania
de Deus e a Justificação pela Fé. Todas estas verdades definem aquilo que é a Igreja. Toda
"igreja" que se afasta das doutrinas primárias e não compartilha de tais verdade é apóstata.

Romanos 1:16
Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego

A vergonha na exposição correta do evangelho


Paulo sabia que a mensagem do Evangelho é loucura.

Em 1 Coríntios 1:18, lemos:


"Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que
estamos sendo salvos, é o poder de Deus"

É o poder de Deus
O Evangelho vem de Deus, não dos homens

Pela fé
Precisamos acreditar no evangelho correto

Primeiro do judeu, depois do grego

Não me envergonho do Evangelho (Rm 1:16-17) 39


Entendendo Romanos

Todos são salvos da mesma forma

Romanos 1:17
Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é
pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé

Lutero e a experiência na torre


"Luther came to see that the guilt that consumed him could not be lifted by more religion,
and the God he dreaded so much was not the God that Christ has revealed. Shooting forth
from the book of Romans (1:17), another thunderbolt crossed his path: "Night and day I
pondered until I saw the connection between the justice of God and the statement that 'the
just shall live by his faith.' Then I grasped that the justice of God is that righteousness
by which, through grace and sheer mercy, God justifies us through faith. Thereupon I
felt myself to be reborn and to have gone through open doors into paradise. The whole of
Scripture took on a new meaning, and whereas before the 'justice of God' had filled me with
hate, now it became to me inexpressibly sweet in greater love. This passage of Paul
became to me a gate to heaven . . ."

A percepção que a justiça da qual o texto fala não é a justiça de Deus em si, mas a
justiça pela qual Ele nos faz/declara justos, mediate a fé em Jesus (1515 em
Witternberg).
Lutero sabia que se fosse julgado por Deus de acordo com o padrão divino de justiça,
ele seria justamente condenado.

Referências
1. I'm not ashamed of the Gospel - Paul Washer
https://www.youtube.com/watch?v=teLvofaVeEA

2. Tower Experience - R.C. Sproul


http://www.ligonier.org/iphone/audio/3346/?format=html
http://renewingyourmind.org/broadcasts/2014/10/29/tower-experience

3. Martin Luther: Monumental Reformer


http://www.christianity.com/church/church-history/timeline/1501-1600/martin-luther-
monumental-reformer-11629922.html

Não me envergonho do Evangelho (Rm 1:16-17) 40


Entendendo Romanos

A Ira de Deus
Texto Base

Portanto, a ira de Deus é revelada do céu contra toda impiedade e injustiça dos homens
que suprimem a verdade pela injustiça, pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos
invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente,
sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são
indesculpáveis;

Romanos 1:18-20

Referências

1. Phil Johnson - Why I Don't Believe in Atheists


http://www.thegracelifepulpit.com/Sermons.aspx?code=2014-12-28am-PJ

A Ira de Deus (Rm 1:18ff) 41


Entendendo Romanos

As Consequências da Justificação – Rm
5:1-11
(Texto em elaboração/revisão)

Introdução
Na primeira parte do capítulo 1 de Romanos, Paulo usa a primeira pessoa: "eu" ("não me
envergonho do evangelho"). No capítulo 2, a segunda pessoa: "vocês" ("vocês não têm
desculpa", "vocês que se chamam judeus"). Já no capítulo, é a terceira pessoa que é
utilizada: "eles" ("o mundo inteiro que deve prestar contas a Deus"). No final do capítulo 4 e
no capítulo 5, o pronome é "nós":

"temos paz com Deus";


"temos acesso";
"nos regozijamos" (ou "nos gloriamos").

Paulo se identifica com todos os que têm fé em Jesus – judeus e gentios.

O Texto de Romanos 5:1-11


Enquando em Rm 1:18-3:20 Paulo discorre sobre a necessidade da justificação, e em Rm
3:21-4:25, como esta justificação se dá, a primeira parte do capítulo 5 é dedicada às
consequências da justificação (ou o "estado abençoado" daqueles que Deus justifica).

Assim, Paulo começa: "Justificados pois mediante a fé..." e completa com seis afirmações
ousadas.

1. "... temos paz com Deus" (v. 1)


Todos buscam paz. A paz com Deus é ainda mais fundamental para o ser humano. Esta
paz é justamente o primeiro resultado da justificação. Neste sentido, o termo "justificação" é
equivalente a "reconciliação". Deus nos confere o atributo de "justos" ao mesmo tempo em
que se dá de si mesmo a nós como amigo, estabelecendo a paz entre ele e nós. Esta paz é
possível unicamente pela morte e ressurreição de Jesus. Ele é o "Príncipe da Paz". Além
disso, esta paz é uma bênção presente – "temos", é o verbo empregado pelo apóstolo.

As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 42


Entendendo Romanos

2. Estamos em "estado de graça" (v. 2a)

I. A esfera da graça
Literalmente, o texto se lê: "por meio dele [Cristo] fomos apresentados/conduzidos e
entramos nesta graça na qual permanecemos". O termo "graça" aqui não significa tanto
"favor imerecido", mas a "esfera da graça de Deus", i.e., nossa posição privilegiada de
termos sido aceitos por ele (imerecidamente).

Ou seja, "graça" é uma abreviação de presença e poder do próprio Deus. [5] Assim, tendo
sido justificados pela fé, estamos literalmente em "estado de graça", uma posição na qual
somos rodeados pelo amor e pela generosidade de Deus, sendo convidados a respirá-la
como sendo o nosso próprio ar.E ao fazê-lo, descobrimos que foi para isso que fomos
feitos, que é assim que o ser humano deveria ser. E isso é o início de algo tão grande, tão
inimaginavelmente belo e poderoso que quase explodimos ao meditarmos nestas coisas.

O apóstolo emprega dois verbos, a saber: "ganhamos acesso" (i.e., alguém – Cristo – nos
apresentou a esta graça) + "permanecemos" (i.e., ficamos firmes). Muito mais do que uma
audiência ocasional com o rei, temos o privilégio de viver no templo e no palácio. Nosso
relacionamento com Deus – ao qual fomos trazidos pela justificação – não é esporádico,
mas contínuo, não é precário, mas garantido. Não ficamos oscilando para dentro da graça e
para fora dela – "nela permanecemos", diz Paulo. Nada pode nos separar do amor de Deus
(8:38ss), ele dirá também mais tarde.

II. Graça Desconfortável [4]


Nosso relacionamento com Deus é sempre relacionamento pela graça. A graça nos fez
entrar na sua família, e é pela graça que permanecemos nela.

Porém, a graça que nos foi dada nem sempre é uma graça confortável...Pecadores que
somos, nos sentimos muito facilmente confortáveis com o nosso pecado. É um pensamento
que nos incomodava e que agora se torna uma ação que não nos pesa mais na
consciência. É palavra da qual nos arrependíamos que agora é acompanhada de outras
ainda piores. É o casamento, que já fora uma imagem de amor bíblico, porém agora mais
se assemelha a uma "trégua" em contexto de grerra fria. É o trabalho que se degenerou em
tentar fazer o menos possível ganhando o máximo que se puder negociar. É o compromisso
de uma vida devocional se transformou em uma obrigação vazia como bater o ponto ao
invés de uma real comunhão com o Senhor.

O pecado é como uma infiltração invisível que silenciosamente destrói a fundação de uma
casa. Nós temos uma capacidade perversa de nos sentirmos confortáveis com aquilo que
Deus diz claramente que é errado. Por esta razão, Deus frequentemente nos abençoa com

As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 43


Entendendo Romanos

graça desconfortável.

Ele nos ama tanto ao ponto de nos "esmagar" de forma que sintamos a dor do nosso
próprio pecado e corramos em sua direção buscando perdão e livramento. Veja Davi, no
Salmo 51. "Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste" (Sl
51:8). A dor semelhante a de um osso quebrado é comparável à dor do coração que se
sente quando você vê o seu pecado como ele realmente é. Essa dor é necessária.Deus nos
permite sofrê-la para quebrantar o nosso coração – um sinal de alerta de que algo está
errado.

A graça de Deus não é sempre confortável porque o seu objetivo não é o nosso conforto,
mas moldar o nosso caráter. Deus está decidido em nos restaurar, nos livrar e nos refinar.
E, para isso, às vezes tem que nos esmagar.

Você tem se permitido sentir confortável com algo que Deus não quer? Você tem sido
tentado a duvidar da bondade de Deus porque está experimentando a dor da sua graça
resgatadora e restauradora?

3. Nos regozijamos na esperança da glória de Deus (v. 2b)


A esperança cristã não é incerta como a esperança que fará sol no final de semana, ou
sobre nossa saúde. Não. A esperança cristã é uma expectativa alegre e confiante que se
baseia nas promessas de Deus (tome como exemplo, Abraão).

Mas qual é o objeto da esperança? O versículo 2b nos diz: "a glória de Deus". Mas o que
vem a ser esta "glória"? É o seu esplendor que será evidente no final dos tempos. De certa
forma, esta glória já é visível hoje tendo sido revelada na criação (conforme o Sl 19): "os
céus proclamam a glória de Deus". No passado, ela foi manifestada em Cristo: "e vimos sua
glória, glória como do unigênito do Pai". Porém, um dia, a glória de Deus será
completamente revelada: Jesus voltará com "grande poder e glória" (Mc 13:26). Nós não
apenas a veremos, mas seremos por ela transformados (1 Jo 3:2; Cl 3:4).

Assim, tendo sido criados à "imagem e glória de Deus" (1 Co 11:7), e agora carecendo da
"glória de Deus" (3:23), compartilharemos da sua glória (8:17). E a própria criação aguarda
este dia – (conforme 8:21).

Tudo isto faz parte da glória de Deus, sendo portanto o objeto da nossa esperança. A visão
que temos da glória futura se transforma em estímulo poderoso para a nossa missão no
presente.

Reflitamos um pouco aqui. As consequências de nossa justificação se relacionam ao


passado, presente e futuro:

"temos paz com Deus" – como resultado do perdão que recebemos no passado;

As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 44


Entendendo Romanos

"permanecemos na graça" – nosso privilégio presente;


"nos regozijamos na esperança da glória" – nossa herança futura.

Paz, graça, regozijo, esperança e glória. Tudo isso soa perfeito demais... Mas e a realidade
de batalhas, desgraça, tristezas, desespero e vergonha na qual vivemos? Este é o próximo
ponto do apóstolo.

4. Nos regozijamos também nos nossos sofrimentos (vs. 3-


8)
Os "sofrimentos" ou "tribulações" aqui não dizem tanto respeito às nossas dores, medos ou
frustrações do dia a dia. O termo grego empregado – thlipseis ("pressão") – tornou-se
quase um termo técnico para referir-se o sofrimento do povo de Deus causado pela
oposição e perseguição de um mundo hostil ao evangelho. "...no mundo tereis aflições...", já
nos havia advertido Jesus (Jo 16:33).

Qual deve ser a atitude do cristão diante do sofrimento? O apóstolo Paulo diz que, mais do
simplesmente suportá-lo, devemos nos alegrar por reconhecermos que há uma razão ou
um propósito divino por trás dele.

Primeiro, o sofrimento é o caminho para a glória, assim como foi para Cristo (ver Rm 8:17).
Em segundo lugar, o sofrimento leva à maturidade. Isto é, o sofrimento pode ser produtivo
se respondemos a ele da forma correta. O sofrimento, diz Paulo, produz perseverança
(porque sem a frustração não haveria porque perseverar), e a perserverança produz
experiência e o caráter maduro de alguém que foi avaliado e passou no teste. E isto nos
leva a ter a esperança fundamentada em Deus de que ele completará a obra que começou
em nós. Finalmente, o sofrimento é o melhor contexto para sermos assegurados do amor
de Deus. Mas como assim? O sofrimento, não nos parece contrário ao amor de Deus? Não.
Paulo diz que "a esperança não nos decepciona", pois Deus nunca nos decepcionará, e o
seu amor nunca desistirá de nós, seus filhos. Mas como podemos estar certos do amor de
Deus? Neste trecho, Paulo nos dá duas bases sobre as quais podemos fundamentar nossa
crença no poder de Deus.

Esta questão, no entanto, do amor de Deus – à primeira vista um tema "inofensivo" – traz
sérias dificuldades à fé de muitos e consititui-se argumento recorrente usado por aqueles
que negam existência do Deus da Bíblia. Assim, precisamos refletir mais profundamente
sobre a questão.

4.1. O amor de Deus e a realidade do sofrimento

5. Seremos salvos através de Cristo (vs. 9-10)

As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 45


Entendendo Romanos

Até aqui: o que Deus já fez por nós através de Cristo:


Fomos justificados;
Temos paz com Deus;
Permanecemos na graça;
Nos alegramos na esperança e nas tribulações.
No entanto há muito mais ainda por vir, que ainda não é nosso.
V. 9 e 10: "Já e ainda não" — o que Cristo realizou com a sua 1a vinda e o que ainda
falta ser feito na sua 2a vinda. Entre a nossa salvação passada e a futura.
Você foi salvo? Sim e não!
Sim
da culpa do pecado e do juízo de Deus sobre ele
Não
da presença do pecado e de um novo corpo num novo mundo
Qual é esta "salvação futura" que Paulo tem em mente aqui?
Negativamente:
"salvos da ira de Deus"
(de certa forma, já no presente)
haverá um dia "da ira de Deus, quando o seu justo juízo será revelado"
(2:5) e a sua ira será derramada sobre os que rejeitam a Cristo (2:8)
Não seremos condenados (Jo 5:24)
Positivamente:
"salvos pela sua vida" (10)
Jesus morreu e ressuscitou para uma nova vida: ele tem a intenção de
que seu povo experimente o poder da sua ressurreição.
Compartilhamos a sua vida hoje, e compartilharemos da sua ressurreição
no último dia (elaborado em Rm 8).
O melhor ainda está por vir!
Na condição de "meio-salvos" no presente, aguardamos com ansiedade a nossa
salvação completa.
Como estar certos disso?
resposta: v. 9 e 1o — "quanto mais": "se algo já aconteceu, quanto mais no futuro
algo acontecerá!"
O que é que já aconteceu?
justificados (9) e reconciliados (10) — pela cruz ("seu sangue" e "pela morte de
seu Filho"):
o juiz disse que somos justos
o Pai nos recebe em casa
Estas coisas custaram caro: o seu sangue (9a) quando éramos inimigos (10a)
Se Deus já fez a parte difícil, não poderíamos confiar que ele fará a parte "mais
simples" completando o que começou?

As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 46


Entendendo Romanos

Se Deus realizou a nossa justificação ao custo do sangue de Cristo, quanto mais


salvará o seu povo justificado da ira final!
Se ele nos reconciliou consigo mesmo quando éramos inimigos, quanto mais
terminará nossa salvação agora que somos amigos reconciliados!
Estas são as bases de nossa afirmação ousada: "seremos salvos!"

6. Nos regozijamos também em Deus (v. 11)


"nos gloriamos em Deus"
Judeus auto-confiantes (2:17 — "Se, porém, tu, que tens por sobrenome judeu, e
repousas na lei, e te glorias em Deus;")
Como se Deus fosse propriedade deles — monopólio.
Cristãos:
Reconhecimento de que não temos nada a exigir de Deus
Adoração: enquanto inimigos, Cristo morreu por nós
Confiança humilde: ele terminará o que começou
"Gloriar-se em Deus" = alegrar-se não pelos nosso privilégio, mas pela sua
misericórdia; não que o possuímos, mas que somos dele

Referências
[1] J. Stott, "The Message of Romans", Inter-Varsity Press, pp. 141ss.
[2] J. Stott, "The Love of God", All Souls Church.
[3] H. Blocher, "Le Mal et la Croix".
[4] P. Tripp, "Whiter Than Snow"

As Consequências da Justificação (Rm 5:1-11) 47


Entendendo Romanos

Em Adão e em Cristo (Rm 5:12-21)


(Texto em elaboração/revisão)

Introdução
Depois de falar da extensão do pecado, da profundidade da depravação humana e da culpa
de todo ser humano, depois de apresentar a graça justificadora de Deus por meio de Cristo
(não por obras ou pela obediência à Lei, mas pela fé), o apóstolo Paulo salienta as
consequências da sublimidade desta misericórdia divina: paz com Deus, acesso e
permanência na graça, alegria na esperança. Agora (Rm 5:12-21), ele nos apresenta duas
comunidades: uma marcada pelo pecado e culpa, condenada, "em Adão"; e a outra
marcada pela graça e fé, justificada e reconciliada, "em Cristo". É esta comunidade "em
Cristo" que está em paz com Deus, firme na graça, se regozijando na sofrimento presente e
na glória futura e se gloriando em Deus.

O contexto de Rm 5:12-21
"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram." (v.
12, RA)

A palavra "portanto" no verso 12 indica que este trecho corresponde à conclusão da tese de
Paulo. O contexto ainda é o dos 11 primeiros versículos do capítulo: "as consequências da
justificação" ou, simplesmente, "justificação na prática".

A indagação que nos vem ao espírito ao lermos a passagem é: Como o ato de uma única
pessoa pode ter consequências tão grandes? Adão e Cristo são representantes de duas
humanidades: a velha e a nova. Não como "iguais", pois o Paulo deixa claro que a obra de
Cristo é superior ("muito mais...", ele diz referindo-se ao que Cristo fez).

A sequência é forma de três parágrafos curtos:

Adão e Cristo são apresentados (12-14): Adão, ao mesmo tempo, como responsável
pelo pecado e "tipo" d'Aquele que viria;
Adão e Cristo são contrastados (15-17): obra de Cristo, superior à de Adão (pelo
emprego das expressões "não como" ou "muito mais");
Adão e Cristo são comparados (18-21): a expressão "assim como" para expressar
que por causa de um, muitos sofrem consequências.

Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 48


Entendendo Romanos

Adão e Cristo são apresentados


A lógica é a seguinte: (1) o pecado entre no mundo por um homem; (2) a morte entra no
mundo pelo pecado; e (3) a morte vem sobre todos porque todos pecaram. Em outras
palavras, um homem → o pecado → a morte → todos. Na Bíblia, o pecado e a morte estão
sempre ligados ("o salário do pecado é a morte"). Pecar é um tipo de suicídio, é brincar com
a própria morte.

"... todos pecaram..."


O versículo 12b diz: "... a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram". Esta
afirmação não está livre de dificuldades. Em que sentido "todos pecaram"? Existem duas
alternativas:

1. todos "copiaram pecado de Adão", por imitação – i.e., pecaram como Adão;
2. todos "pecaram quando Adão pecou", por participação – i.e., pecaram com Adão.

Embora a opção (1) seja a mais "popular", a mais provável é a (2)! Por que podemos
afirmar que "pecamos quando Adão pecou"? Não parece injusto que um pecado alheio me
seja imputado? Cada um não é responsável por seus próprios atos e opções diante de
Deus? Existem bons argumentos, no entanto, que dão suporte a esta visão...

Argumento 1
O primeiro argumento é que, mesmo aqueles que não desobedeceram um mandamento
explícito de Deus (antes da Lei de Moisés) morreram. Ou seja, a morte física é a penalidade
pelo pecado. Mas por que foram punidos com morte se não pecaram como Adão, comendo
do fruto proibido? É porque todos pecaram em e através de Adão. Adão é o representante
legal de toda a raça humana.

Argumento 2
O segundo argumento tem a ver com o contexto mais amplo, dos versos 15-19. A
desobediência de um homem trouxe a morte, condenação e juízo a todos. Ou seja, a morte
universal é consequência de um único pecado. Assim, é como se todos tivessem pecado.

Argumento 3
O terceiro argumento vem da analogia entre Adão e Cristo. Se a morte veio porque somos
pecadores COMO Adão, seríamos obrigados a dizer também que a vida veio porque somos
justos COMO Cristo (o que não é, obviamente, o caso)! O correto é afirmar: "Assim como

Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 49


Entendendo Romanos

fomos condenados pelo que Adão fez, assim também somos justificados pelo que Cristo
fez."

Conforme expresso pelo Rev. Lloyd-Jones:

"Deus sempre lidou com a humanidade através de um representante. Toda a história


humana pode ser resumida em termos do que aconteceu por causa de Adão e o que
aconteceu por causa de Cristo."

A Dificuldade
Estes argumentos não eliminam, no entanto, as dificuldades da ideia. Como posso ser
culpado pelo pecado de outra pessoa (i.e., de Adão)?

Inicialmente, o tema da "solidariedade humana" é bíblico. Aliás, este vocabulário


"comunitário" não é apenas "bíblico". Nós o utilizamos com frequência. Ao dizer frases
como "o Brasil perdeu o jogo para a Alemanha" (desculpem a referência infeliz...), nos
sentimos pessoalmente envolvidos (e envergonhados), quando na realidade, quem perdeu,
não foi o "Brazil", mas sim o time que nos representava! Há vários outros exemplos na
Bíblia desta solidariedade humana, a saber:

Acã peca e Israel é condenado: Js 7:1,11;


Pilates (e nós!) somos culpados da crucificação de Jesus (Hb 6:6);
a cruz, que não é apenas "substitutiva" (i.e., Cristo morreu em nosso lugar), mas
também "morremos com ele" (Rm 6:4).

Assim como Adão, Cristo é representante de toda a humanidade: "... Adão [...] prefigurava
aquele que havia de vir..." (v. 14)

Aprofundamento
O teólogo francês H. Blocher [2] aprofunda ainda mais a discussão sobre a questão.
Embora defensor da tese reformada federalista, Blocher admite a dificuldade da imputação
de uma transgressão alheia, especialmente porque há textos bíblicos que vão no sentido
contrário (e.g., 2 Sm 24:17 e Ez 18).

Assim, há alguns pontos a considerar. Primeiro, seria a intenção de Paulo em Rm 5


realmente de mostrar o modus operandi da justificação? Como vimos, no capítulo 5, Paulo
trata não mais da justificação em si, mas as suas consequências: a libertação concreta do
pecado. Tendo isto em mente, Paulo faz comparação: da mesma forma que o ato de Adão
iniciou o reino da morte para a multidão daqueles que dependem dele, assim também o ato

Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 50


Entendendo Romanos

de Cristo gera o reino da graça para todos os que dele dependem. Assim, o ponto de
comparação não é a imputação de um ato, mas sim os efeitos do ato (morte ou vida)
executado pelo chefe de aliança (Adão ou Cristo) sobre os que dele dependem.

Em segundo lugar, será que existem realmente apenas duas alternativas? Somos punidos
por causa do pecado de Adão ou somos punidos pelos nossos próprios pecados? Na
realidade, existe uma outra possibilidade, a saber: é por causa de Adão que somos punidos
pelos nossos próprios pecados. Nesta visão, o papel de Adão foi fornecer um instrumento
jurídico ao julgamento divino. Sem a lei (i.e., antes de Moisés), como Deus pode punir o
pecador? Nesta situação, o pecador pode ser reconhecido, mas não condenado. Com a lei,
no entanto, (i.e., depois de Moisés), a questão não mais se apresenta, uma vez posta a lei
de Deus. E os pecados cometidos entre Adão e Moisés? Foram eles punidos? Sim, pois a
morte (física) reinou também neste período como sanção pelo pecado. Mas, por que?
Porque os pecados são considerados extensões do pecado de Adão, e assim, Gn 2:16-17
prevalece. O pecado de Adão foi crucial, mas não nos foi "imputado", antes, foi por causa
de Adão o pecado de todos os torna condenáveis, e a prova de que foram condenados é a
morte que lhes alcançou.

Adão e Cristo são contrastados


Eis a similaridade entre Adão e Cristo: são homens cuja obra afetou um número enorme de
pessoas. Nada mais! O contraste entre ambos é marcante. Paulo enfatiza que o dom de
Cristo não é como a transgressão de Adão (vs. 15-16). Ele é muito mais efetivo (v. 17). Os
próprios termos usados por Paulo ("transgressão" e "dom") são diferentes. Eles
correspondem a duas ações de natureza diferente com dois resultados imediatos (v. 16) –
condenação e justificação – e dois efeitos últimos (v. 17) – "morte" e "vida".

Adão e Cristo são comparados


Na sequência (vs. 18-21), Paulo desenvolve ainda mais a comparação. As expressões "não
é como" ou "muito mais" são substituídas por: "assim como... assim também". A ênfase do
apóstolo agora é (sem perder de vista os contrastes) o único ato de um único homem
determinou o destino de muitos (v. 18)

"Olhe para você mesmo em Adão; embora não tenha feito nada, você foi declarado
pecador. Olhe para você mesmo em Cristo; veja que, embora você não tenha feito
nada, você foi declarado justo. Este é o paralelo." (Lloyd-Jones)

O Reino da Graça

Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 51


Entendendo Romanos

O versículo 20 afirma que a lei expõe o pecado. O versículo 21 define a bênção de estar em
Cristo por meio da expressão "o reino da graça". Esta graça perdoa pecados pela cruz (nos
trazendo justiça e vida eterna), esta graça satisfaz a sede da alma, esta graça santifica
pecadores (fazendo com que sejamos transformados "à imagem de Cristo"), esta graça
persevera para completar o que começou e esta graça um dia destruirá a morte e
consumará o Reino.

Questões
A questão do universalismo
A comparação entre Adão e Cristo = universalismo? v. 18 - "Pois assim como, por uma só
ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só
ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida."

"todos os homens" — não pode referir-se literalmente a todos os homens: as 2


comunidades não estão relacionadas a Adão e a Cristo da mesma forma: em Adão, pelo
nascimento em Cristo, pelo novo nascimento e fé "todos" os que estão em Cristo = "todos
que pertencem a ele" (cf. 1 Co 15:22)

"todos os homens" — não pode referir-se literalmente a todos os homens: 5:17 — aqueles
que "reinarão em vida" não são todos, mas aqueles que receberam "abundância da graça";
Paulo enfatiza em Romanos: a justificação é pela fé (1:16; 3:21; 4:1) portanto, nem todos
são justificados tendo ou não fé

"todos os homens" — não pode referir-se literalmente a todos os homens: Romanos: muitas
advertências solenes — o juízo e a ria de Deus (2:5,8)

Não é possível dizer que Paulo afirma o universalismo!

A questão da historicidade de Adão


Moda atual: ver a história de Adão e Eva como um "mito" verdade teológica, mas não
histórica... Depois da teoria da evolução: "Gênesis não tem ‘base histórica’..." É mesmo?

Gênesis 1 a 3: arte literária vs. relato científico a serpente e árvore da vida em Apocalipse:
simbólicos (Ap 12:9; 22:2ss) provavelmente também em Gênesis... Mas com Adão e Eva é
diferente...

"As escrituras têm claramente nos induzem a aceitar a historicidade do primeiro casal." —
Stott genealogias: até Adão (Gn 5:3ss; 1 Cr 1:1ss; Lc 3:38) Jesus: "o Criador os criou
homem e mulher" + instituição do casamento Paulo (em Atenas): Deus fez cada nação de 1

Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 52


Entendendo Romanos

homem (At 17:26)

A historicidade do pecado: não como constitutivo do ser humano (i.e., parte da sua
essência) mas como introduzido no mundo — "e era muito bom" A responsabilidade
humana.

Aqui (Rm 5): a analogia de Adão e Cristo só é válida se houver a mesma historicidade de
ambos: desobediência de Adão ⇒ condenação obediência de Cristo ⇒ justificação A própria
ciência confirma isto: "A evidência genética indica que todos os seres humanos estão muito
relacionados e possuem um ancestral comum." Dr. Christopher Stringer (Museu de História
Natural de Londres)

A questão da morte
Morte: processo natural nos reinos animal e vegetal (fósseis com presas no estômago)
Mas... e para seres humanos? Paulo: "a morte entrou no mundo pelo pecado" (12) Se Adão
não tivesse pecado, não morreria?

Porque não somos meros "animais", as escrituras veem a morte humana como não natural:
uma intrusa uma penalidade pelo pecado não era a intenção original de Deus para o ser
humano

Morte do homem: "espiritual" apenas? Não — também a física: "Tu és pó e ao pó voltarás"


(Gn 3:19) Adão tornou-se mortal quando pecou. Por isso: autores bíblicos: lamentam a
morte ficam indignados contra ela

Ec 3:19 — "Porque o que sucede aos filhos dos homens sucede aos animais; o mesmo lhes
sucede: como morre um, assim morre o outro, todos têm o mesmo fôlego de vida, e
nenhuma vantagem tem o homem sobre os animais; porque tudo é vaidade." Sendo criados
à imagem e semelhança de Deus: Deus tinha originalmente algo melhor do que a morte
Não somos como os outros animais

Aplicação
Confiamos na graça de Deus? Quem reina hoje? Quem está no trono? Antes de Cristo:
pecado e morte (14, 17) Depois de Cristo: graça e aqueles que receberam graça (17, 21):
reino caracterizado pela vida

É esta a nossa visão? Quem para nós está ocupando o trono hoje? Ainda vivemos no A.T.
com a cena dominada por Adão? Ou somos cristão do N.T. com a visão de Cristo
crucificado, ressurrecto e reinando? Culpa e morte ou graça e vida?

Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 53


Entendendo Romanos

O pecado e a morte podem parecer reinar uma vez que muitos se curvam a eles. Mas o
reino deles é uma ilusão, um blefe. Na cruz foram derrotados, destronados e desarmados.
Agora Cristo reina exaltado à direita de Deus Pai. Todas as coisas sob os seus pés,
acolhendo as nações e aguardando até a sua vitória absoluta sobre os inimigos que ainda
restam.

Referências Bibliográficas
[1] J. Stott, "A Mensagem de Romanos", ABU
[2] H. Blocher, "Original Sin - Iluminating the Riddle", Wm. B. Eedermans, 1997.
[3] A. Nisus, "L'amour de la sagesse", Édifac 2012.

Em Adão e em Cristo(Rm 5:12-21) 54


Entendendo Romanos

Unidos a Cristo (Rm 6:1-23)


(texto em processo de revisão)

Introdução
Pensemos em uma possível continuação da parábola do Filho Pródigo. Dois anos se
passaram desde o retorno do filho mais moço à casa do seu pai. O convívio com o irmão
mais velho melhorou e a vida retomou o seu ritmo. Um pensamento então ocorre ao filho
mais moço: "E se eu ajuntar o que preciso para sobreviver, e fugir uma ou duas semanas e
então fingir de arrependido e voltar? Se eu fizesse de novo? Haveria outra festa de
recepção?"

O simples fato de considerar algo assim gera em nós um sentimento de indignação. Como
poderia alguém desprezar e ofender novamente um pai tão amoroso? Mas você acha que é
algo impensável? Infelizmente, muitos têm esse raciocínio... Como dizia o poeta alemão do
século XIX: "Deus me perdoará. É o seu trabalho." ("Bien sûr, il me pardonnera; c'est son
métier")

Há quem acredite que a única mensagem que a igreja deve proclamar é "Deus te perdoa!"
"Devemos ser 'inclusivos'" — dizem — "Deus aceita as pessoas como são!" Versículos são
até citados: "onde abundou o pecado, superabundou a graça". Pensam que a única coisa a
dizer a alguém que pecou é: "Está tudo bem. Deus te ama!"

Paulo, no entanto, argumento a partir do capítulo 6 de Romanos que a graça que salva é a
mesma que transforma. A apresentação que fez da doutrina sobre a graça expõe os
tremendos privilégios do nosso novo status em Cristo: justificados pela fé, firmes na graça e
se alegrando na esperança. A objeção que Paulo agora tem por objetivo responder é: "Você
não pode afirmar esta doutrina da graça! As pessoas vão achar que podem fazer o que
quiserem!"

Ou seja, tendo pertencido a Adão (autor do pecado e morte), agora pertencemos a Cristo
(autor da salvação e vida). Estamos sob o "reino da graça", Paulo chega a dizer no verso
21. Assim, até aqui, Paulo coloca a sua ênfase na segurança do povo de Deus. Pouco disse
a respeito da caminhada cristã. É como se tivesse passado direto da justificação para a
glorificação, sem o estágio intermediário da santificação.

A partir do capítulo 6, no entanto, a ênfase muda para o processo progressivo de vitória


sobre o pecado.

Unidos a Cristo (Rm 6:1-23) 55


Entendendo Romanos

Objeções e Críticas
Em primeiro lugar, somos criticados como cristãos ao afirmar a nossa segurança da
salvação pela fé. Afirmar "sou aceito por Deus, e nada jamais poderá mudar isso", não é a
coisa mais presunçosa que alguém poderia dizer? Sim, mas apenas se considerássemos o
mérito como estando em nós mesmos! Em um mundo de inseguranças, alguém que se
sente seguro incomoda...

Em segundo lugar, o que diríamos a alguém que declara que "se Deus nos aceita como
somos, é melhor não mudarmos o que somos, pois Deus afirmou que o que somos é bom"?
Não seria a doutrina da salvação pela graça um estímulo ao pecado? Em outras palavras,
qual a motivação para a santificação? Alguns, preocupados (corretamente) com a
proliferação do pecado potencialmente causada pela segurança da salvação, chegam a
afirmar (equivocadamente) que é possível perder a salvação.

Se somos justificados pela graça através da fé, sem obras, então, para que boas obras?
Não seria isto estimular mais do que nunca as pessoas a pecar! A implicação é que o
evangelho de Paulo encoraja o pecado pois promete aos pecadores o melhor de dois
mundos: podem fazer o que quiserem neste mundo sem receio de perder as vantagens do
próximo. "O mundo e tudo mais", na expressão de A. W. Tozer.

De certa forma, ao longo da história, a igreja oscilou pendularmente do legalismo à


libertinagem. A "liberdade" que alegamos desfrutar no presente ("superamos o legalismo")
roubou de nós aquela sede de santidade, o que nos marcava como um povo diferente. Sob
o pretexto da "contextualização" para o anúncio do evangelho, o que aconteceu em muitos
casos foi simplesmente a assimilação dos valores de um mundo sem Deus e a perda da
nossa distinção.

Romanos 6:1-23
No capítulo 6 de Romanos, Paulo se defende da acusação de antinominianismo (do grego,
"nomos", de onde vêm "norma" ou "lei"). Aos antinominiamos Judas se refere descrevendo-
os como "homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso Deus e
negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo" (Jd 4).

Neste ponto precisamos parar e refletir sobre o quão frequentemente minimizamos nossas
falhas, com base no fato de que Deus nos desculpará e nos perdoará. Antinomianismo é
mais facilmente reconhecível nos outros do que em nós mesmos. Segundo Stott, "se
proclamamos o evangelho de Paulo, com a sua ênfase na liberdade da graça e na
impossibilidade da salvação própria, seremos acusados de antinominianos. Se nenhuma
crítica aparece, provavelmente não estamos pregando o evangelho de Paulo."

Unidos a Cristo (Rm 6:1-23) 56


Entendendo Romanos

Mas como Paulo responde à acusação de ser antinominiano?

A resposta de Paulo
Em linhas gerais, o que o apóstolo diz é que a graça de Deus não somente perdoa
pecados, mas também nos liberta do pecado. Isto é, a graça faz mais do que justificar, ela
também santifica. O que Paulo diz é que, ao se tornar cristão, você mudou de um tipo de
humanidade para outro e não deve nunca mais pensar em si mesmo do mesmo modo que
pensava anteriormente.

A Estrutura do Texto
Romanos 6:1-23 se divide em duas partes. Os versos 1 a 14 falam da graça que nos une a
Cristo. Os versículos 15 a 23 falam da graça que faz de nós escravos da justiça. Há cinco
paralelos entre estas duas partes.

Os Paralelos
1. A mesma exaltação da graça de Deus
"superabundou a graça" (5:20f) "não estamos sob a lei, mas sob a graça" (v. 15) Sob a
graça/a lei => para a salvação

2. A mesma pergunta sobre o pecado com relação à graça:


"Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?" (1) "Havemos de
pecar porque não estamos debaixo da lei, e sim da graça?" (15) "A graça mina a nossa
responsabilidade ética e promove pecado desenfreado?"

3. A mesma reposta indignada:


"De modo nenhum!"

4. A mesma razão para a crítica de antinomianismo:


IGNORÂNCIA: "ignorais...", "não sabeis..."

Unidos a Cristo (Rm 6:1-23) 57


Entendendo Romanos

"Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos
batizados na sua morte?" (3) "Não sabeis que daquele a quem vos ofereceis como
servos para obediência, desse mesmo a quem obedeceis sois servos, seja do pecado
para a morte ou da obediência para a justiça?" (16)

Se tivessem entendido o sentido do seu batismo e da sua conversão, nunca fariam a crítica
ou viveriam assim.

1. A mesma descontinuidade entre nossa vida antiga (antes da conversão) e da nossa


nova vida (após a conversão), e assim a incompatibilidade do pecado com a nova vida:
"Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?" (2) "Nos
oferecemos a nós mesmos como escravos para a obediência; como podemos repudiar
este compromisso?" (16, paráfrase)

Conclusão
Onde está aquela fome e sede de santidade? Por que enxergamos só de perto? Por que as
conversões que testemunhamos geralmente não são tão radicais como em outros lugares
(países muçulmanos) e em outras épocas? (Apenas um verniz de piedade!) Por que a fome
e sede de justiça (social e pessoal) – a marca primeira dos que pertencem ao Reino – foi
substituída por uma anorexia espiritual e por um desejo exagerado de autoafirmação? Por
que os problemas domésticos (traição, pornografia, dificuldades de relacionamentos,
mentira, etc.) parecem ser tão comuns entre os crentes quanto o são entre os não cristãos?
Por que o anseio (como o apóstolo Paulo coloca) de "compartilhar a comunhão com o
sofrimentos de Cristo de forma que alcancemos a ressurreição dentre os mortos" está tão
fora de moda? Por que estamos tão indiferentes a Deus e à sua vontade?

Ser cristão = ser unido a Cristo Ser cristão = ser escravo da justiça Há coisas que não são
convenientes Seja o que você é! O Duque de Windsor

Referências
[1] Stott, "A Mensagem de Romanos", ABU
[2] N.T. Wright, "Romans for everyone"

Unidos a Cristo (Rm 6:1-23) 58


Entendendo Romanos

O Propósito da Eleição
(Texto em processo de construção) Luiz A. de P. Lima Jr. (llimajr [at] terra.com.br

A Soberania de Deus

Deus está no controle


Até que ponto cremos na soberania de Deus?

As Escrituras não questionam jamais o controle de Deus sobre todo evento, a sua
determinação de tudo o que acontece, globalmente, mas também "no detalhe". Para a
Bíblia, Deus é totalmente, radicalmente e absolutamente soberano.

Os dois testamentos atestam de forma abundante o governo efetivo do mundo pelo Senhor
dos Exércitos ("pantokrator" – o Todo-Poderoso), de quem, por quem e para quem são
todas as coisas, e a quem pertencem, pelos séculos dos séculos, o reino, o poder e a
glória.

Os grandes textos bíblicos não deixam dúvidas. Além destes, expressões espontâneas e
acidentais da convicção da soberania de Deus são tão abundantes no texto sagrado ao
ponto de sufocar, devido ao seu número, a ideia de que o controle do Senhor seria apenas
"geral" ou "a grosso modo" (é claro que não podemos ignorar o peso deste último também).

A afirmação de que o "nosso Deus está no céu e tudo faz como lhe agrada" (Sl 115; cf.
135:6) contrasta o Senhor com os ídolos. A afirmação dogmática do apóstolo não deixa
outra saída: "Ele opera todas as coisas conforme o conselho de sua vontade" (Ef 1:11).

Além disso, a Bíblia testemunha com frequência que o Criador não se contenta em fixar os
tempos e atribuir os espaços (At 17:26), mas tudo o que acontece revela o seu querer. É
Deus que faz brilhar o seu sol sobre todos, e é ele que dispensa ou retém a chuva (no
Antigo Testamento, a expressão "Deus chove" substitui "chove"). É ele que reveste a erva
do campo, que alimenta os pássaros do céu e os leõezinhos e todos os animais do vasto
mar (Sermão do Monte e Sl 104).

Deus, o Altíssimo, é o detentor do de todo domínio:

ele estabelece e depõe reis;


ele eleva e humilha (e.g., magnificat de Maria);
ele mata e que faz viver;

O Propósito da Eleição (Rm 9) 59


Entendendo Romanos

ele abre e que fecha o ventre (e.g., Ana e Eucana);

e assim por diante. Deus dirige todos os eventos: os grandes e os pequenos. Ou seja, o
Senhor é responsável não apenas pelo curso da natureza e da direção global da História,
mas também por todos os acontecimentos. Dos infortúnios familiares de Noemi (Rt
1:13,20), ao acidente de trabalho ou na caça cujo responsável involuntário escapa do
vingador do sangue (Ex 21:13). O rolar de um dado e o lançar sortes (Pr 16:33; Jn 1:7; At
1:24-26).

Jesus, para bem mostrar que a solicitude divina se estende até as ocorrências mais banais,
ensina que nenhum pardal morre independentemente da vontade de nosso Pai (Mt 10:29).
Até os cabelos da nossa cabeça estão contados (Lc 12:17)! Portanto, se Deus decide sobre
o menor acontecimento, quanto mais sobre o nosso destino! Tanto a confiança em Deus
como a oração só têm sentido se estiverem firmadas sobre este fundamento. A ideia
preguiçosa (e superficial, já que lhe falta a coragem de pensar radicalmente) de que Deus
só se ocuparia do curso das coisas a "grosso modo" ("somos como uma mosca livre dentro
de um carro") é completamente ausente do texto sagrado.

Para as Escrituras, Deus se interessa de modo claro pela fidelidade tanto nas pequenas
coisas como nas grandes. Não é ele o Deus da formiga assim como o Deus do sol, do
elétron assim como o da Via Láctea? A majestade de Deus é revelada não apenas na sua
soberania ao levantar e derrubar impérios, mas também na sua carinhosa preocupação
com pardais que caem.

Porque Deus tem o controle de tudo, é que Jesus exorta os seus discípulos a confiarem
nele. "Olhai os pássaros do céu", "olhai os lírios do campo" (Mt 6:25-34), diz Jesus! Nem
mesmo as calamidades podem frustrar a salvação dos eleitos de Deus. Uma vez que tem o
domínio sobre todas as coisas, ele pode fazer com que todas as coisas cooperem para o
bem daqueles que o amam e que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8:28)!

O Catecismo de Heidelberg1 afirma: "Não pertenço a mim mesmo, mas sim – corpo e alma,
na vida e na morte – ao meu fiel salvador, Jesus Cristo... Ele cuida de mim de tal maneira
que nem um fio de cabelo caia da minha cabeça sem que seja a vontade de meu Pai
celeste: na realidade, todas as coisas cooperam juntas para a minha salvação."

Mesmo muitos cristãos que têm dificuldades de aceitar a soberania divina na salvação,
compartilham com adepto mais fervoroso da doutrina da predestinação uma confiança no
senhorio absoluto de Deus sobre os fenômenos naturais e históricos.

A Soberania de Deus e as Decisões dos Seres


Livres

O Propósito da Eleição (Rm 9) 60


Entendendo Romanos

As Escrituras englobam também sob a soberania divina as decisões dos seres livres.
Obviamente, se excetuássemos os fatos destas categoria, o que restaria a Deus da História
para governar? Por exemplo: Marco Antônio, por amor a Cleópatra, tomou decisões que
mudaram a história, concedendo-lhe terras e exércitos, perdendo popularidade e traindo o
seu próprio exército. Como já foi dito: "se o nariz de Cleópatra fosse menor, a face da terra
teria sido outra." Ou seja, se Marco Antônio não tivesse se apaixonado por Cleópatra, toda
a história do mundo teria sido diferente. Assim, se Deus não tivesse controle sobre as
decisões pessoais (a paixão de Marco Antônio), como controlaria a história humana?

Os livros de sabedoria reconhecem que ao Senhor pertencem as escolhas que orientam a


vida dos homens (Pv 16:1,9 – "Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o
Senhor determina os seus passos."). Jeremias vai na mesma direção (Jr 10:23 – "Eu sei,
Senhor, que não está nas mãos do homem o seu futuro; não compete ao homem dirigir os
seus passos.").

Mais precisamente, o livro de Provérbios ensina que Deus inclina como quer o coração – o
órgão da liberdade – e mesmo o coração do rei – o mais livre de todos os homens. Ele é
como um rio na sua mão, que ele o faz correr como deseja, para um lado ou para outro (Pv
21:1).

Assim, Deus "mudou o coração" dos egípcios com relação a Israel (para que o odiassem –
Sl 105:25). Efraim suplica na profecia de Jeremias: "Converte-me e serei convertido" (Jr
31:18), pois sabe que Deus o tem nas mãos.

O Novo Testamento confirma a ideia ao dizer Deus dá o arrependimento e a fé que ele


mesmo ordena. "É Deus", precisa o apóstolo, "que opera em vós tanto o querer como o
realizar, conforme o seu desígnio." (Fp 2:13). Esta admirável formulação bloqueia
antecipadamente as tentativas de contorno. Se Paulo tivesse dito somente o "querer",
alguns teriam explicado que "a parte do homem" é dar vazão ao impulso suscitado pela
graça. Se, por outro lado, Paulo tivesse dito somente o "realizar", alguém poderia dize:
"mas ah se nós o quiséssemos!". Mas Paulo não hesita: "o querer e o realizar"! Como se
não bastasse, ele ainda frisa a severidade da afirmação: "Assim isto não depende nem
daquele que quer, nem daquele que corre, mas de Deus que faz misericórdia" (Rm 9:16).
Esta ideia é, ao mesmo tempo, dura para alguns, porém maravilhosa para outros.

O contraponto é o de que as nossas decisões são livres (de uma liberdade criatural, não
absoluta, no entanto). É também verdade que nós somos responsáveis por elas: Deus não
nos trata como marionetes. Os chamados e as repreensões, as promessas e as
advertências que abundam nas escrituras nos mostram o quanto as nossas decisões
importam. Porém, não há nas escrituras nenhum vestígio da indeterminação da vontade
humana.

O Propósito da Eleição (Rm 9) 61


Entendendo Romanos

A Soberania de Deus e os Infortúnios


Estão também sob a soberania divina os males, os flagelos e as faltas. Como poderíamos
dizer que Deus é soberano se excluirmos os fatos desta categoria? Para os infortúnios, há
tanta evidência bíblica, do dilúvio às pragas do Egito e do Apocalipse, que não há
necessidade de insistir muito sobre este ponto. Os profetas testemunham claramente a
respeito disso:

Em Amós 3:6, aqueles que não discernem no Senhor o autor do infortúnio para a
cidade são taxados de possuir estupidez espiritual;
Isaías 45:7 proclama que o bem e o mal (i.e., "desgraça" – NVI, como nas pragas do
Egito) procedem dele;
Jeremias 31:28 (conforme 45:4ss) nos lembra da fidelidade de Deus às suas ameaças:
"'Assim como os vigiei para arrancar e despedaçar, para derrubar, destruir e trazer a
desgraça, também os vigiarei para edificar e plantar', declara o Senhor.";
As queixas dos Salmos vêm da mesma convicção (e.g., "... a tua mão pesava dia e
noite sobre mim..." – Sl 32);
Lamentações 3:38 reconhece que o Senhor decide e que ele aflige, na realidade, os
seres humanos (conforme 3:33).

A Soberania de Deus e o Pecado Humano


Embora menos facilmente admitido, nas escrituras, mesmo o mal moral é muitas vezes
atribuído a decisões divinas. Deus parece até o produzir de acordo com diversos textos (os
quais precisaremos considerar como objeções à afirmação de sua bondade absoluta do
Senhor).

"Deus", diz o apóstolo Paulo nos remetendo ao Êxodo, "endurece a quem ele quer" (Rm
9:18). O versículo seguinte (v. 19) demonstra que mesmo os atos condenáveis não se
efetuam sem a vontade de Deus.

Paulo sabe que esta doutrina provoca objeções. No entanto, ele não a descarta como
inexata em suas premissas. Na realidade, mesmo o pecador não resiste à vontade do
Senhor. Assim, Deus encerra sucessivamente as nações e Israel na desobediência (Rm
11:32).

Os livros históricos têm abundância de ilustrações deste fato:

os filhos de Eli rejeitam a admoestação, "pois o Senhor havia decido fazê-los morrer" (1
Sm 2:25);
em Ezequiel, o Senhor vai até o ponto de falar de si mesmo como sendo o sedutor do
falso profeta (Ez 14:9), e se aproxima do "doador" do abominável costume de imolação

O Propósito da Eleição (Rm 9) 62


Entendendo Romanos

dos primogênitos (Ez 20:25-26).

Em absolutamente nenhum dos casos no entanto, a malignidade do mal se beneficia de


alguma indulgência ou atenuação (e.g., Ez 14:9-10). Ao contrário, os textos denunciam o
mal e o condenam severamente. O que é excluída, no entanto, é a ilusão da independência
das criaturas, mesmo quando são agentes do mal...

Esta convicção da absoluta soberania do Senhor contribui ao temor do Senhor, que tanto
falta aos cristãos em nossos dias. Este temor nutre a nossa humilde confiança e derrama o
bálsamo do consolo. "Tu me esmagas, Senhor", dizia Calvino, "nas torturas da doença, mas
me basta que seja da tua mão".

Somente Deus pode apaziguar, além do perdão, a angústia de alguém que tenha causado
males irreversíveis (a exemplo dos irmãos de José), pois até mesmo os pecados estão nas
mãos de Deus. Ao compreender que tudo está sob o seu controle, recebemos alívio do
fardo insuportável de acharmos que somos a última instância das coisas (ver Gn 45:8). Ele
é o Primeiro e o Último, o Alfa e o Ômega. Deus efetivamente reina.

1 The Heidelberg Catechism, written in 1563, originated in one of the few pockets of
Calvinistic faith in the Lutheran and Catholic territories of Germany. Conceived originally as
a teaching instrument to promote religious unity in the Palatinate, the catechism soon
became a guide for preaching as well. It is a remarkably warm-hearted and personalized
confession of faith, eminently deserving of its popularity among Reformed churches to the
present day.

O Propósito da Eleição (Rm 9) 63


Entendendo Romanos

A Tristeza de Deus
(Texto em processo de construção) Luiz A. de P. Lima Jr. (llimajr [at] terra.com.br

A Tristeza de Deus (Rm 10) 64

Vous aimerez peut-être aussi