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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Implicações ambientais na utilização de rejeitos da exploração e


produção de petróleo em pavimentação – uma discussão.
Mariluce de Oliveira Ubaldo
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, mariluce_ubaldo@yahoo.com.br

Laura Maria Goretti da Motta


COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, laura@coc.ufrj.br

Sandra Oda
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, odasandra@gmail.com

Luis Alberto Herrmann do Nascimento


CEMPES/PETROBRAS, Rio de Janeiro, Brasil, luisnascimento@petrobras.com.br

RESUMO: O objetivo desta pesquisa é estudar a viabilidade técnica e ambiental de adicionar


rejeitos, provenientes da exploração e produção de petróleo, como materiais alternativos
adicionados a um solo para utilização como camada de base de um pavimento. Durante o estudo
surgiram questões de interpretação quanto à classificação dos resíduos e dos compostos (solo-
rejeito) sob o ponto de vista ambiental, nas situações tecnicamente viáveis de emprego com
qualidade em um pavimento. Os ensaios de caracterização do solo e dos rejeitos foram realizados
no Laboratório de Geotecnia e Pavimentos da COPPE/UFRJ, assim como os ensaios mêcanicos
para estudo das melhores dosagens para as misturas solo-rejeito. Os ensaios de caracterização
química, segundo a NBR 10.004, foram realizados em laboratório especializado em análises
químicas. Com os resultados das análises químicas, surgiram algumas dúvidas de classificação do
rejeito segundo a NBR 10.004/2004, e questões em relação a classificação de misturas de solo-
rejeito para uso em pavimentação. Sugere-se que estas questões sejam discutidas e consideradas em
norma ambiental específica para o setor de pavimentação, pelas suas diferenças e relevância quanto
a capacidade de absorver volumes expressivos de vários rejeitos industriais e minerários com
sucesso técnico e econômico apreciáveis.

PALAVRAS-CHAVE: Classificação de rejeito, mistura solo + rejeito, material alternativo para


pavimentação, rejeito da exploração e produção de petróleo.

1 INTRODUÇÃO dos aterros de resíduos), e na maioria das vezes


também do ponto de vista econômico, a partir
Ao longo das últimas décadas, a preocupação do equilíbrio entre as condições técnicas
com a área ambiental vem crescendo muito. A mantidas iguais ou melhoradas em relação aos
diminuição da exploração de recursos naturais é materiais convencionais e com distâncias de
uma das grandes preocupações associadas à transportes pequenas.
preservação do meio ambiente, o que estimula a Na área da pavimentação é cada vez maior o
aplicação de materiais alternativos. número de estudos que utilizam rejeito como
A utilização de rejeitos como material material alternativo, seja em camadas de base,
alternativo em subtituição aos materiais sub-base ou de revestimento asfáltico. Dentre as
naturais, seja na área de pavimentação ou de pesquisas realizadas com rejeitos na última
obras geotécnicas, é vantajosa do ponto de vista década, pode-se citar algumas:
ambiental (pela preservação dos recursos • resíduo de construção e demolição (RCD)
naturais e prolongamento da fase de exploração (Fernandes, 2004; Hood, 2006; Fernandes

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et al,2009); ensaios de módulo de resiliência são os mais


• escória (Branco, 2004; Motta et al, 2006); adequados visto que permitem análises
• borracha (Oda, 2000; Pinheiro, 2004; mecanísticas a teores menores também, entre
Specht, 2004; Dias, 2005); outros aspectos, na opinião dos autores do
• cinzas (Farias, 2005; Almeida et al, 2009); presente artigo.
• resíduo de rochas ornamentais (Ribeiro et Casagrande et al. (2008) estudaram a
al, 2008). aplicação da borra oleosa acumulada no fundo
Uso de resíduos de exploração e produção de dos tanques da refinaria Lubrificantes do
petróleo em pavimentação tem aparecido nas Nordeste (Lubnor)/Petrobras. O objetivo foi
pesquisas mais recentemente. Aride (2003) verificar a aplicabilidade da borra asfáltica
apresenta a comparação de custos da aplicação como ligante em concreto asfáltico. Foram
de resíduo oleoso em um trecho de estrada realizados ensaios nas misturas: 100% de
vicinal não pavimentada, com o custo do ligante convencional (CAP 50/70); 100% de
tratamento deste mesmo resíduo em borra oleosa; 40% de CAP 50/70 + 60% de
landfarming. Este trabalho foi realizado com borra oleosa e 60% de CP 50/70 + 40% de borra
base em revisão bibliográfica, levantamento de oleosa. Os ensaios realizados para avaliar o
dados e visitas realizadas na área de exploração comportamento mecânico das misturas foram:
e extração de óleo e gás, localizadas na região resistência a tração e módulo de resiliência. Os
Norte do Estado do Espírto Santo, onde a resultados mostraram que a referida borra
Petrobras executa manutenção de estradas oleosa não é adequada para vias de alto volume
utilizando, em algumas delas, misturas de de tráfego, no entanto, as misturas estudadas
resíduo oleoso com argila. apresentaram valores compatíveis com
Cordeiro (2007) descreve o resíduo oleoso revestimento de baixo custo, regularização e
utilizado na sua pesquisa como sendo reforço para vias de baixo volume de tráfego.
proveniente de vários setores da Refinaria de Pires & Moreira (2009) utilizaram rejeito
Petróleo do Estado do Ceará, tais como: cascalho de perfuração na construção de um
desenvolvimento de poços, produção, pavimento piloto localizado no município de
manutenção, derrames e limpezas em geral. O Candeias, Bahia. O material empregado na
objetivo foi testar o resíduo oleoso para uso em construção do pavimento constitui-se de uma
camadas de base e sub-base de pavimento, mistura composta de 50% de solo, 40% de
realizando ensaios de CBR e resistência à escória de aciária e 10% de cascalho de
compressão simples (RCS). Foi testada perfuração, para dimensionamento do
inicialmente a adição de 5%, 10%, 15%, 20% e pavimento foi realizados ensaios de CBR.
25% de resíduo oleoso ao solo, e a adição Lucena et al (2009) trabalharam com dois
destas porcentagens de resíduo não teve tipos de resíduos oleosos provenientes de dois
influência nos valores de CBR (5,2 a 5,6%). Foi poços de petróleo distintos. O resíduo 1 foi
fixada a quantidade de resíduo oleoso na proveniente do poço que fica localizado no
mistura de 25% e testada a adição de 3%, 4,5%, estado de Sergipe, cujo fluido de perfuração
6%, 7,5% e 9% de cal à mistura de solo + utilizado foi a base de parafina, enquanto que o
rejeito. A adição de cal teve duas finalidades: resíduo 2 foi proveniente do poço que fica
melhorar a resistência da mistura e encapsular localizado no estado do Rio Grande do Norte,
os constituintes perigosos do resíduo. A escolha sendo o fluido de perfuração a base de água. O
baseada nos ensaios de CBR e RCS foi o teor objetivo do referido estudo foi adicionar uma
de 9% de cal. porcentagem destes resíduos em revestimento
Valor tão elevado de estabilizante químico asfáltico. O resíduo 1 foi testado como fíler e o
torna o processo não atraente sob o ponto de resíduo 2 como agregado graúdo para misturas
vista de custo e pode inviabilizar o uso do asfálticas. Os ensaios mecânicos realizados
rejeito a menos que reduções drásticas de nesta pesquisa foram: estabilidade Marshall e
espessuras compensem o custo desta resistência a tração por compressão diamentral.
estabilização. Mas para testar esta condição, Para os dois resíduos foram variados os teores

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de 2%, 3%, 4% e 5% e os resultados classificações de resíduos classe I – perigosos


apresentados mostraram que o teor indicado do ou de resíduos classe II B – inertes, nos termos
resíduo 1 a ser adicionado à mistura asfáltica da referida norma.
varia de 4 a 5% e do resíduo 2 foi de 5%. Resíduos Classe II B – Inertes: são os
O presente trabalho se insere em uma resíduos que quando submetidos a um contato
pesquisa mais ampla que tem como objetivo dinâmico e estático com água destilada, à
testar soluções para incorporar a solos locais os temperatura ambiente, conforme a NBR
resíduos provenientes da exploração e produção 10.006/2004, não tiverem nenhum de seus
de petróleo, utilizando estas misturas de solo- constituintes solubilizados a concentrações
resíduo como camada de base e sub-base de um superiores aos padrões de potabilidade de água,
pavimento. Faz parte desta mesma pesquisa a conforme anexo G da norma NBR 10.004/2004.
construção de pistas experimentais onde serão Assim, um dos critérios que conferem
escolhidas as misturas de solo+rejeito que periculosidade ao resíduo é a questão da
apresentarem melhor desempenho mecânico e toxicidade. Segundo a NBR 10.004/2004 o
ambiental. A construção destas pistas será resíduo é considerato tóxico quando:
dentro da empresa geradora dos resíduos que • O extrato obtido dessa amostra, segundo a
tem interesse em usá-los para pavimentar as ABNT NBR 10.005/2004, contiver
suas estradas internas. Esta pesquisa conta com qualquer um dos contaminantes em
a parceria da Universidade Federal do Sergipe concentrações superiores aos valores
que ficou responsável pela construção das pistas constantes do anexo F da NBR
experimentais. 10.004/2004.
O objetivo especifico da presente • Possuir uma ou mais substancias
comunicação é discutir aspectos dos resultados constantes no anexo C da NBR
das análises químicas, dúvidas de classificação 10.004/2004 e apresentar toxicidade. Para
do rejeito segundo a NBR 10.004/2004, e avaliar a toxicidade um dos critérios é a
questões em relação a classificação de misturas concentração do constituinte no resíduo.
de solo-rejeito para uso em pavimentação. • Ser constituído por restos de embalagens
contaminadas com substâncias constantes
2 CLASSIFICAÇÃO DE REJEITOS NBR nos anexos D ou E da NBR 10004/2004.
10.004/2004 • Resultar de derramamentos ou de produtos
fora de especificação ou de prazo de
A associação Brasileira de Normas Técnicas validade que contenham quaisquer
(ABNT), segundo diretrizes da NBR substâncias constantes nos anexos D ou E
10.004/2004, define resíduos sólidos como da NBR 10.004/2004.
sendo: “Resíduos no estado sólido e semi- • Ser comprovadamente letal ao homem.
sólido, que resultam das atividades de origem No anexo C da referida norma estão listadas
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, centenas de substâncias, o que torna inviável a
agrícola, de serviços e de varrição”. análise de todos os elementos presentes nesta
De acordo com a referida norma os resíduos listagem, e não existe nenhum valor de
são classificados como: concentração máxima permitida para cada uma
Resíduos Classe I – Perigosos: para ser destas substâncias listadas. Em relação a esta
classificado como resíduo perigoso o mesmo questão fica a dúvida: como avaliar a toxicidade
deve apresentar pelo menos uma das seguintes do resíduo em relação aos elementos listados no
características: apresentar risco a saúde pública, anexo C? A resposta para esta questão foi
apresentar riscos ao meio ambiente, constar nos fornecida pela consultora Cristina Sisinno, que
anexos A e B da NBR 10.004/2004, ser participou da elaboração da referida norma.
inflamável, ser corrosivo, ser reativo, ser tóxico Segundo Sisinno (2010) a responsabilidade
ou ser patogênico. em fornecer a composição química do resíduo é
Resíduos Classe II A – Não Inertes: são os da empresa geradora. De posse da composição
resíduos que não se enquadram nas química do resíduo, fornecido pela empresa

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geradora, é realizada uma checagem se no solubilização para os mesmos elementos


resíduo existe alguma das substâncias listadas analisados no resíduo puro, como resultado
no anexo C. No caso do resíduo apresentar somente o elemento Manganês continuou acima
alguma substância considerada perigosa, ou da concentração máxima permitida pela referida
seja, listada no anexo C, é preciso analisar a norma.
lista de elementos do anexo F da NBR Lucena et al. (2009) realizaram ensaios de
10.004/2004 (anexo que informa a concentração lixiviação, solubilização e óleos e graxas.
máxima permitida no extrato lixiviado para Assim como Cordeiro (2007), neste trabalho
algumas substâncias): também não foram analisados todos os
• Caso a substância considerada perigosa elementos contidos nos anexos F e G da NBR
esteja listada no anexo F é necessário 10.004/2004. Para os elementos analisados, o
realizar o ensaio de lixiviação e analisar a resíduo oleoso 1 foi classificado como perigoso
concentração desta substância no extrato e o resíduo oleoso 2 foi classificado como não
lixiviado. Se a concentração ficar abaixo inerte.
do recomendado pela norma o resíduo não Lucena et al (2009) também fizeram um
é considerado como perigoso e no caso da modelo reduzido para simular o impacto
concentração ficar acima do recomendado ambiental causado pela utilização de resíduos
o resíduo é considerado perigoso e, oleosos em pavimentos asfálticos. O modelo
• Caso esta substância não esteja listado no reduzido é basicamente uma caixa de madeira
anexo F, a simples presença dela no nas dimensões 1m x 1m x 0,3m, onde foi
resíduo em qualquer concentração faz com colocado um revestimento asfáltico com a
que o resíduo seja considerado perigoso. seguinte composição: 24% brita de 19mm; 34%
É importante ressaltar que esta informação de brita de 12mm, 32% de areia, 5% de resíduo
não está clara na redação da norma NBR oleoso 2 e 5% de resíduo oleoso 1. O
10.004/2004. revestimento asfáltico tinha 0,03m de espessura
sobre uma camada de 0,2m de areia. Foram
3 USO DA NBR 10004 EM PESQUISAS feitos 12 furos ao redor da caixa, onde foram
DE UTILIZAÇÃO DE REJEITOS EM inseridos tubos de PVC, para coleta do líquido.
PAVIMENTAÇÃO. O modelo reduzido foi deixado exposto ao
tempo por um período de 8 meses, quando
Na parte de ensaios ambientais, a maioria das houve precipitação pluviométrica total de
pesquisas que trabalham com resíduos em 660,9mm, sendo que no dia da coleta o trecho
pavimentação utilizam a norma ABNT NBR experimental foi irrigado com água destilada e
10.004 que tem como objetivo classificar os em seguida coletado o líquido pelos tubos de
resíduos. PVC e realizado os ensaios de lixiviação e
Aride (2003) utiliza a NBR 10.004/87 para a solubilização e análise dos mesmos elementos.
classificação do resíduo oleoso. Quando o Para o líquido percolado no modelo reduzido
resíduo era classificado como inerte era usado todos os elementos analisados ficaram abaixo
sem restrições, e quando o resíduo era do valor permitido pela NBR 10.004/2004.
classificado como perigoso ou não inerte, era Para experimentos como este há necessidade
misturado com argila, numa proporção que de se estudar qual seria o período que um
diluísse a contaminação, tornando o resíduo modelo reduzido de campo deve ser deixado
inerte. exposto ás intempéries, levando em conta o
Cordeiro (2007), baseado na NBR clima do local, o volume de chuva, que são
10.004/2004, classificou o resíduo oleoso como muito diferentes dependendo da região e
resíduo não inerte, sendo que não foram mesmo o que se pretende medir ao final, se
analisados todos os elementos contidos nos haverão coletas parciais, etc. Uma das questão a
anexos F e G que a referida norma determina. E ser discutida é em relação à falta de
para a mistura de solo + 25% de resíduo + 9% procedimentos normatizados que representem
de cal foram repetidos os ensaios de lixiviação e melhor o comportamento destes rejeitos em

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campo. garantir que o próprio ligante não liberaria


Casagrande et al (2008) e Pires e Moreira nenhum elemento considerado perigoso.
(2009) não apresentaram resultados de ensaios Foi realizado um pequeno levantamento de
ambientais em seus trabalhos. trabalhos internacionais que utilizam rejeito em
O mais comum que se observa nestas pavimentação, e a legislação seguida por eles,
pesquisas e em outras da área é a classificação como: Marcozzi et al (2009) que estudaram
inicial do resíduo segundo a NBR 10.004. Caso diferentes tipos de resíduo de areia de fundição
o resíduo seja classificado como resíduo inerte, adicionados a misturas asfálticas, fazem a
ele pode ser utilizado sem restrição. No caso do classificação do resíduo segundo anexos IV e
resíduo ser clasificado como resíduo perigoso VI do Decreto lei 831/93 da Lei Nacional
ou resíduo não inerte o mesmo não poderá ser 24051 da Argentina. Neste Decreto Lei está
utilizado ou deverá passar por algum processo especificado o ensaio de lixiviação e estabelece
que o torne resíduo inerte. o limite máximo de concentração de alguns
Sabe-se que é muito importante a elementos para avaliar o potencial poluidor dos
classificação inicial do resíduo antes de utilizá- resíduos e classificá-los como perigoso ou não
lo, seja para qualquer finalidade, o que justifica perigoso.
a elaboração da NBR 10.004. Mas falta uma Almeida et al (2009) citam em seu trabalho a
norma que especifique melhor quais processos Circular nº94-IV-I de 9 de maio de 1994 do
são válidos para transformar um resíduo Ministério do Meio Ambiente Francês que
perigoso ou não inerte em resíduo inerte. classifica a escória resultante da incineração de
Uma das questões levantadas na presente resíduo sólido urbano segundo critérios de
pesquisa é se somente a adição de solo bastaria potencial poluidor analisando alguns elementos.
para diluir a concentração do resíduo, tornando Em Portugal se tem a especificação do
a mistura solo + rejeito um material inerte; ou LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia
se haveria necessidade de adicionar à mistura Civil de Portugal - E474 de 2006, que apresenta
um outro produto (como cal, cimento, cinza) os requisitos para a utilização de resíduo de
que tenha a função de estabilizá-la construção e demolição em aterro e camada de
quimicamente. leito de infraestruturas de transporte, coloca que
Como comentado anteriormente, se a adição os residuos devem ser classificados segundo o
de um estabilizante químico for decisão técnica seu potencial poluidor (resíduo inerte, perigoso
a justificativa de aumento de custo e de ou não perigoso), sendo previsto a realização do
dificuldade operacional é justificada, mas se for ensaio de lixiviação, tendo como referência o
só para resolver questão ambiental de terceiros disposto na legislação portuguesa ou na
é bem provável que a aplicação não seja aceita comunidade europeia.
pela análise dos órgãos contratantes das obras Para um melhor entendimento desta questão
(DNIT, DER, etc) e fiscalizadores (ANTT, à nível internacional, seria preciso fazer um
TCU, etc). amplo estudo das legislações de vários paises,
Para que o pavimento não seja usado incluindo a norma de lixiviação de cada um e
somente como local de “descarte” de residuos é quais os critérios para considerar o resíduo
preciso mostrar muito mais as vantagens sob o inerte.
ponto de vista da pavimentação propriamente
dita, que somente a contribuição para a 4 MATERIAIS UTILIZADOS
natureza.
No caso particular de se adicionar resíduo na Os materiais usados neste estudo são rejeitos da
mistura asfáltica, o próprio ligante poderia ser exploração e produção de petróleo provenientes
usado como agente encapsulante dos elementos da Unidade de Negócios de Exploração e
tidos como perigosos, e para confirmar este Produção da Bahia (UN-BA) - Petrobras,
encapsulamento teria que se fazer ensaios nas localizada no município de São Sebastião do
misturas com resíduo e sem resíduo, para Passé, BA.

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Os rejeitos usados foram denominados cobre, o elemento cádmio só não foi detectado
neste estudo de cascalho de perfuração, resíduo no resíduo borra oleosa fundo de tanque e o
gerado quando as rochas são perfuradas para elemento mercúrio só não estava presente na
exploração do petróleo; escória de cobre, análise do resíduo cascalho de perfuração.
utilizado para jateamento abrasivo Todos os elementos citados estão presentes no
em superfícies metálicas de equipamentos, ao anexo C da referida norma.
realizar o jato abrasivo, a escória de cobre O único resíduo que na análise da massa
carreia junto os rejeitos incrustados nas bruta apresentou hidrocarbonetos policíclicos
superfícies metálicas, que podem ser rejeitos aromáticos (benzo(a)antraceno; benzo(a)pireno;
oleosos impregnados, tintas decorrentes de benzo(b)+(k)fluoranteno e naftaleno) foi a
pinturas anteriores, óxidos em geral, ou, escória de cobre, onde estão presentes as
ainda, outros metais; borra oleosa fundo de maiores concentrações dos elementos
tanque, composta de óleo bruto, água e solo, inorgânicos citados anteriormente.
formada nos fundos de tanques de Analisando-se a toxicidade dos quatro
armazenamento intermediário, após um período resíduos estudados nesta pesquisa, segundo o
de campanha operacional e borra oleosa da critério que avalia o extrato lixiviado, nenhum
célula CATRE, uma mistura oleosa, decorrente resíduo apresentou valores acima do permitido
de diversas misturas que envolvem: borra pela norma, de acordo com o anexo F da NBR
oleosa de fundo de tanque, solos contaminados 10.004/2004.
com óleo e rejeitos decorrentes de limpeza das Com base nos esclarecimentos passados por
sondas de perfuração. Sisinno (2010), todos os resíduos estudados
A estimativa de volume de resíduo gerado nesta pesquisa são classificados como
na UN-BA para o ano de 2009 foi de perigosos.
aproximadamente 83.500 t de cascalho de O que classifica os resíduos como perigosos
perfuração e 9.000 t de borra oleosa. O custo são as substancias níquel e antimônio presentes
médio para destinação final destes resíduos é na análise da massa bruta dos resíduos. Estas
R$350,00/t de cascalho de perfuração e de substâncias são consideradas perigosas (listadas
R$400,00 a R$600,00/t de borra oleosa. no anexo C) e não estão listadas no anexo F da
Portanto, são gastos aproximadamente 29 referida norma, ou seja, independente da
milhões de reais por ano para descarte do concentração encontrada, a simples presença
cascalho de perfuração e 4,5 milhões de reais destas substâncias na massa bruta classificam os
por ano para descarte das borras oleosas. Com resíduos como perigosos.
um custo de destinação final destes resíduos tão Para o resíduo escória de cobre, além dos
elevado, a vantagem econômica de utilizá-los elementos níquel e antimônio, os elementos
na pavimentação de estradas internas da própria benzo(a)antraceno, benzo(b)+(k)fluoranteno e
empresa seria muito grande. naftaleno presentes na massa bruta, também
classificam o resíduo como resíduo perigoso.
5 RESULTADOS Quanto ao ensaio de solubilização, no
extrato solubilizado apenas alguns elementos
Como a empresa geradora não forneceu a apresentaram valores acima do limite máximo
composição química dos resíduos estudados, permitido pela norma, são eles: no rejeito
procurou-se na literatura os elementos cascalho de perfuração apenas os cloretos
frequentemente encontrados em resíduos ficaram acima do permitido pela norma; no
oleosos de petróleo. De posse desta lista foi rejeito escória de cobre o alumínio apresenta
realizada a análise na massa bruta dos resíduos um valor pouco acima do permitido pela norma;
destes prováveis elementos. no rejeito borra oleosa fundo de tanque três
Na análise da massa bruta foram encontrados elementos apresentaram valores acima do valor
os elementos: antimônio, bário, chumbo, cromo máximo permitido pela norma, são eles: ferro,
e níquel, em todos os resíduos. O elemento manganês e sulfato (expresso como SO4) e no
arsênio só foi detectado no resíduo escória de rejeito borra célula CATRE quatro elementos

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apresentaram valores acima do valor máximo uma comparação entre rejeitos estudados por
permitido pela norma, são eles: bário, cloretos, pesquisadores diferentes.
ferro e fenóis totais. O mais importante é ressaltar que conforme
Em relação à classificação dos resíduos está hoje pode-se deixar de usar um rejeito que
segundo a NBR 10.004/2004 vale ressaltar que é bom tecnicamente ou usar um rejeito que
a redação da referida norma não apresenta contamine o meio ambiente, por questões não
clareza em como avaliar a toxicidade dos claras da legislação ambiental.
elementos constantes no anexo C - “Substâncias É urgente que seja discutido e considerado
que conferem periculosidade aos resíduos”. em norma específica o uso de rejeitos para o
Vale destacar que a maioria das pesquisas setor de pavimentação, fixando valores bem
que utilizam resíduo, seja em pavimentação ou definidos para garantir desempenho adequado
em obras geotecnicas, classificam os mesmos do pavimento sem comprometimento da
apenas com os resultados dos ensaios de natureza e do bem estar do ser humano. E que
lixiviação e solubilização. São raras as esta norma não se limite apenas as questões
pesquisas que fazem análise da massa bruta do ambientais, mas que seja estabelecida também
resíduo e sabe-se que nem sempre o uma metodologia de ensaios mecânicos para
pesquisador recebe da empresa geradora do avaliação das melhores soluções de uso dos
resíduo a composição química do mesmo. rejeitos em pavimentação.
Sugere-se que alguns itens da norma NBR A criação de uma norma de utilização de
10.004 sejam revistos de forma a não deixar rejeito específica para o setor de pavimentação
margem a dupla interpretação. deve levar em conta, entre várias coisas, a
Tanto os resíduos classificados como diferença de espessura de rejeito a ser utilizada.
perigosos quanto os resíduos não inertes devem As espessuras das camadas do pavimentos são
ser destinados a locais apropriados ou devem geralmente muito menores do que as pilhas de
passar por um processo onde a nova estocagem destes rejeitos sólidos, portanto, a
classificação seja de resíduo inerte. O que não quantidade disponível dos produtos
está claro em nenhuma norma seria quais os eventualmente nocivos é restrita (Motta et al,
processos que são válidos para transformar um 2006).
resíduo perigoso ou não inerte em resíduo
inerte. AGRADECIMENTOS

6 COMENTÁRIOS FINAIS Agradecimentos ao CENPES / Petrobras que


financia a presente pesquisa.
O objetivo de se utilizar rejeito como material
alternativo na pavimentação é dar um destino REFERÊNCIAS
mais nobre para o resíduo ao invés de ABNT NBR 10004/2004. Resíduos Sólidos -
sobrecarregar os aterros de resíduos existentes, Classificação.
ABNT NBR 10005/2004. Lixiviação de Resíduos.
desde que, o mesmo não piore as condições do Procedimento para Obtenção de Extrato Lixiviado de
pavimento. Resíduos Sólidos.
Com o grande avanço das pesquisas em ABNT NBR 10006/2004. Solubilização de Resíduos.
pavimentação, onde é crescente o uso de Procedimento para Obtenção de Extrato Solubilizado
resíduos como materiais alternativos, é de Resíduos Sólidos.
Almeida, A., Souza, C. D. , Lopes, M. L., (2009).
necessário um pouco mais de informação de Valorização de Escórias de Incineração de Resíduos
como estes resíduos podem ser usados na Sólidos Urbanos em Obras Geoténicas. Seminário de
pavimentação sem agressão ao meio ambiente. Valorização de resíduos em Obras Geotécnicas.
Esta seria uma forma de padronizar as Universidade de Aveiro, Portugal. Volume único.
pesquisas que vem sendo realizadas com Aride, S. (2003). Uso do Resíduo Oleoso das Atividades
de Extração de Petróleo em Manutenção de
rejeitos em pavimentação, porque com a falta Estradas: Enfoque Econômico e Ambiental.
de uma especificação, cada pesquisador conduz Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do
a sua pesquisa de uma maneira, ficando difícil Espírito Santo, 160p.
Branco, V. T. F. C. (2004). Caracterização de Misturas

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Asfálticas com o Uso de Escórias de Aciaria como 1481-1490.


Agregado. Dissertação de Mestrado, Departamento de Oda, S. (2000). Análise da Viabilidade Técnica da
Engenharia Civil, COPPE - UFRJ, 153 p. Utilização do Ligante Asfalto-Borracha em Obras de
Casagrande, M. D. T., Vale, D. C., Neto, S. A., Soares, J. Pavimentação. Tese de doutorado da Escola de
B. (2008). Estudo da Aplicabilidade de Borra Engenharia de São Carlos, 251 pag.
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