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RESUMO
A Terapia Cognitivo-Comportamental é uma terapia estruturada, orientada para o
presente, diretiva e tem como pressuposto teórico básico que os problemas e transtornos
do sujeito se devem a distorções do pensamento na sua maneira de perceber a si, o
mundo e ao futuro. Para corrigi-los a terapia trabalha para modificá-los, melhorando
com isso o humor e os comportamentos disfuncionais. O presente artigo tem por
objetivo apresentar um estudo de caso de uma mulher com transtorno de ansiedade
tendo como abordagem a Terapia Cognitivo-Comportamental. Após vinte e seis
sessões, pode-se perceber uma melhora significativa no seu quadro ansioso e nos seus
relacionamentos interpessoais.
Terapia Cognitivo-Comportamental
A terapia cognitiva (TC) foi desenvolvida por Aaron T. Beck, na década de 60, como
uma psicoterapia breve, estruturada, orientada para o presente e direcionada a resolver
problemas atuais por meio da modificação de pensamentos e comportamentos
disfuncionais (BECK, 1964 apud BECK, 1997).
O princípio fundamental da TC, conforme Knapp e Beck (2008) é que a maneira como
os indivíduos percebem e processam a realidade influenciará a maneira como eles se
sentem e se comportam. Desta forma, tem como objetivo reestruturar e corrigir
pensamentos distorcidos e colaborativamente desenvolver soluções pragmáticas para
produzir mudança e melhorar transtornos emocionais.
Por sua vez, as crenças centrais constituem o nível mais profundo da estrutura cognitiva
e são compostas por idéias absolutistas, rígidas e globais que um indivíduo tem acerca
de si mesmo, sobre os outros e sobre o mundo. Essas crenças desenvolvem-se na
infância e, a partir de circunstâncias muito traumáticas ou de experiências freqüentes,
tornam-se cristalizadas na vida adulta, mesmo diante de experiências que as refutem
(Op. cit).
Elementos comuns nas definições do conceito “ansiedade” apontam para um estado que
envolve excitação biológica ou manifestações autonômicas e musculares (taquicardia,
respostas galvânicas da pele, hiperventilação, sensações de afogamento ou sufocamento,
sudorese, dores e tremores), redução na eficiência comportamental (decréscimo em
habilidades sociais, dificuldade de concentração), respostas de esquiva e/ou fuga (o que
sugere expectativa ou um controle por eventos futuros) e relatos verbais de estados
internos desagradáveis (angústia, apreensão, medo, insegurança, mal-estar indefinido,
etc.) (GENTIL, 1998; KANFER E PHILLIPS,1970 apud ZAMIGNANI; BANACO,
2005).
A psicoterapia é uma das ferramentas que temos para tratar da ansiedade quando ela
começa a prejudicar o sujeito, seja pela sua intensidade, seja pelo tempo delegado a ela,
seja pelo sofrimento gerado.
A pessoa ansiosa cria imagens fortes o suficiente para induzir sintomas fisiológicos de
ansiedade. Esses sintomas propiciam a inibição ou a interferência de suas estratégias de
enfrentamento, levando o sujeito a subestimar seus recursos pessoais para lidar com as
situações consideradas perigosas. Na distorção dos acontecimentos inofensivos, o
sujeito ansioso exagera o potencial de dano e tem pensamentos ou imagens recorrentes
de prejuízo físico ou psicológico (HAWTON, et. al. 1997).
ESTUDO DE CASO
Identificação e história atual
J.P.S., sexo feminino, 23 anos, solteira, desempregada, morava com uma irmã de vinte e
seis anos e dois sobrinhos (oito e nove anos) e era a mais nova de nove irmãos. Seu pai
abandonou a família quando tinha apenas quatro anos e não mais o viu, pois o mesmo se
mudou para São Paulo; faleceu há nove anos. Esse fato culminou com a atribuição de
tarefas e o desenvolvimento de responsabilidades para ela e os irmãos na tentativa de
suprir as necessidades da mãe que não tinha emprego fixo, apenas trabalhava como
diarista.
Queixas iniciais
Foi encaminhada pelo clínico geral para um psiquiatra após ter sofrido uma “crise de
fadiga” (sic) e por problemas quanto ao sono. Estas crises provocavam tonturas,
cansaço, enxaqueca e taquicardia. Ele prescreveu dois medicamentos: sertralin antes de
dormir e clonazepan para quando se sentisse nervosa e agitada. Já o psiquiatra a
encaminhou para atendimento psicológico.
Os comportamentos citados acima, que antes produziam reforçadores positivos que para
ela eram mais significativos do que as punições fornecidas pela mãe, passaram a
produzir punições positivas devido aos conflitos que tem com a irmã, com quem mora,
por causa da presença do namorado desta, que ameaçava seu “status” de pai, claramente
evidenciados em sua fala: “Antes éramos nós duas que mandávamos na casa, e agora lá
com ele... a gente até brincava de que eu era o pai e ia trabalhar, ela (irmã) era a mãe e
ficava em casa com os meninos (sobrinhos) cuidando deles”.
Devido a esse histórico de condicionamento por punição pela mãe quando agia de modo
diferente do que esperava, J. desenvolveu comportamentos de esquiva fóbica que
diminuíam não só sua ansiedade, como também a probabilidade de contar seus
problemas para sua família, na tentativa de evitar críticas e brigas (reforço negativo)
com a mesma.
A análise acima teve como objetivo descrever os comportamentos mais relevantes
apresentados por J., bem como suas variáveis controladoras.
Conceituação cognitiva
De acordo com BECK (1997) a tríade cognitiva, consiste em três padrões cognitivos
maiores que induzem o sujeito com problemas/transtornos a ver negativamente a si
mesmo, ao mundo e ao futuro. O primeiro componente da tríade cognitiva gira em torno
de uma visão negativa que a cliente tinha de si mesmo. Júlia se via como incapaz
(“Onde eu estou eu não consigo”) diante dos conflitos que tinha com a família.
O segundo componente da tríade consiste na tendência da pessoa a interpretar o mundo
de forma negativa. J. percebia o mundo como perigoso e injusto (“A gente vê tanta
injustiça... nunca nada é resolvido”) e altamente crítico (“Quando você tem um
comportamento fora do comum para a sociedade você é julgado e criticado”; “Você ter
nascido já é motivo para ser julgado”).
Por fim, o terceiro componente da tríade cognitiva consiste em uma visão negativa do
futuro. A cliente sempre antecipava (catastrofização) o que as pessoas pensariam a seu
respeito (“porque eu não consigo pensar só como eu vou falar, eu sempre penso na
reação das pessoas”) e sempre de forma negativa (“Vão dizer que estava errada, que sou
louca”).
Crença central/Esquemas
Crença de incapacidade.
Esquema de autosacrifício e superresponsabilidade.
Crenças condicionais
“Se eu errar, serei julgada”. “Eu sei que aqui eu não consigo”. “Eu que cuidava,
que fazia tudo... Mais uma vez assumindo uma responsabilidade que não era
minha”. “Eu não quero ir pelo caminho deles, eu quero um caminho certo, mas
a partir de mim”.
Estratégias compensatórias
Evitação fóbica: evita ir à casa da mãe; evita contar seus problemas para a
família
Seu histórico de punição por parte da família e suas tentativas de reverter isso, já
discutido na análise funcional, favoreceu o desenvolvimento de sua crença de
incapacidade (“Onde eu estou eu não consigo”), acreditando que perto da família não
conseguiria se estabilizar e encontrar seu “próprio caminho”.
Intervenções realizadas
Foram realizadas vinte e seis sessões. Nestas foram possíveis proporcionar a cliente a
descrição de seus comportamentos-problema por meio de perguntas e utilização do
Diário de Pensamentos Automáticos (PAN): “Quando começou a ter ansiedade? A que
você atribui o início da ansiedade? O que passava pela sua cabeça momentos antes de se
sentir ansiosa?”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os transtornos de ansiedade vêm se configurando como um dos principais problemas da
atualidade, devido aos constantes avanços tecnológicos, pressões de ordem social,
econômica, dentre outros fatores.
REFERÊNCIAS
BECK, Judith S. Terapia cognitiva: teoria e prática. Trad. Sandra Costa. Porto Alegre:
Artmed, 1997.
FALCONE, E. Psicoterapia Cognitiva. In: RANGÉ, B. Psicoterapias Cognitivo
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