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ARTIGO

TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012 Raquel Franco de Souza, L. Bruce Railsback

Uma Tabela Periódica dos Elementos e seus


Íons para Cientistas da Terra
Raquel Franco de Souza
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Depto.
de Geologia, Lab.de Geoquímica, Natal, RN
raquel@geologia.ufrn.br
L. Bruce Railsback
University of Georgia, Dept. of Geology, Athens, Georgia, USA
rlsbk@gly.uga.edu

ABSTRACT This paper presents, in Portuguese of Brazil, An Earth Scientist’s Periodic Table of the Elements
and Their Ions, originally published in English. Besides showing the elements in their ground state, the main difference
is the inclusion of species in this table in multiple oxidation states that occur naturally, which represents more faithfully
the conditions that the geoscientists typically face in their daily life. The new table therefore shows many elements multiple
times, in different positions, unlike the conventional table. The trends, patterns and interrelationships in mineralogy,
geochemistry of soils and sediments, igneous petrology, aqueous geochemistry, isotopic geochemistry and nutrient chemis-
try become apparent in this innovative presentation format. Thus it represents an important tool for both beginners to
researchers at the higher levels of investigation in geochemistry, mineralogy and other related sciences.

KEYWORDS: ionic potential, geochemistry, minerals, weathering, nutrients, seawater

RESUMO Este artigo apresenta, em língua portuguesa do Brasil, a Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons
para Cientistas da Terra, originalmente publicada em inglês. Além de mostrar os elementos em seu estado elementar, o
principal diferencial é a incorporação, nesta tabela, das espécies nos múltiplos estados de oxidação que ocorrem natural-
mente, o que representa de forma mais fidedigna as condições com as quais os geocientistas normalmente se deparam em
seu dia a dia. A nova tabela, consequentemente, mostra muitos elementos por diversas vezes, em diferentes posições, de
maneira diferente da tabela convencional. As tendências, padrões, e inter-relações em mineralogia, geoquímica de solos
e sedimentos, petrologia ígnea, geoquímica em meio aquoso, geoquímica isotópica e química dos nutrientes, tornam-se
perceptíveis neste inovador formato de apresentação. Constitui-se assim em ferramenta importante tanto para iniciantes
quanto para os pesquisadores nos níveis mais avançados de investigação em geoquímica, mineralogia e outras ciências afins.

PALAVRAS-CHAVE: potencial iônico, geoquímica, manto, minerais, intemperismo, nutrientes, água do mar

INTRODUÇÃO
A Tabela Periódica dos Elementos, formulada por para os processos biológicos encontram-se, ana-
Chancourtois, Meyer e Mendeleev (Farber 1969, logamente, não agrupados de maneira proveitosa
Courtney 1999) é de grande utilidade para explicar pela tabela periódica convencional. Nesse sentido,
e predizer relações em química. No entanto, é de a tabela periódica convencional não oferece um
menor utilidade nas ciências da Terra. Por exemplo, bom suporte para o entendimento da química da
a tabela não organiza os elementos litófilos, sideró- Terra e sua vida.
filos e calcófilos em grupos distintos, e não agrupa A aplicação da tabela periódica convencional
os elementos nos compartimentos que ocorrem na dos elementos, no que se refere às ciências da Ter-
natureza (p.ex., elementos concentrados no manto, ra, tem sido desvantajosa porque a maior parte da
na água do mar ou no solo). Elementos críticos matéria na, ou próximo à superfície da Terra não se

73
Uma Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons para Cientistas da Terra TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012

encontra no seu estado elementar. Pelo contrário, e tendências na geoquímica, química marinha e
a maior parte dos átomos da matéria encontrada química dos nutrientes tornam-se aparentes, per-
pelos cientistas da Terra encontra-se na forma mitindo uma síntese mais geral da química das
carregada. O Si é um exemplo muito bom: Si é ciências da Terra. O resultado é uma visão integra-
comum como Si4+ para os cientistas da Terra, mas da da geoquímica aplicável do manto para o solo
poucos destes cientistas têm conhecimento que e para a água do mar. Um conceito fundamental
existe uma pequena quantidade de silício natural na racionalização destes padrões geoquímicos é a
no seu estado elementar (Gaines et al. 1977). A diferença na ligação exibida pelos cátions duros e
utilidade de qualquer documento que sumarize a moles, que favorece O2- e S2-, respectivamente. O
química para as ciências da Terra seria enfatizada outro conceito refere-se à proporção na qual a car-
pela inclusão da matéria com carga adicionalmente ga dos cátions está suficientemente localizada (i.e.,
ao seu estado elementar. o potencial iônico é suficientemente alto) para o
Com isto em mente, este artigo apresenta uma estabelecimento de ligações fortes com o O2- sem
Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons para Cien- causar repulsão entre os cátions. Assim a ligação e
tistas da Terra. Nesta tabela, agrupamentos naturais coordenação com oxigênio, o elemento mais abun-

formar e/ou permanecer


2-
em sólidos contendo O
Íons menos empobrecidos do manto na formação

Ìons que tendem a


Contorno sólido para elementos ou íons que ocorrem naturalmente; Íons enriquecidos em CAls (inclusões ricas em C
tracejado para aqueles que raramente ou nunca ocorrem na natureza. meteoritos), em relação à composição do sistema
Símbolo Número atômico Íons que formam fases precoces em rochas ígne
(Ver escala na extrema direita)
3+ (Número de prótons) Íons comumente enriquecidos em solos residuais
Nome do Elemento GeActínio54 Raio iônico (r) (Å) residuais. O símbolo pequeno ( ) indica meno
Cátions "Duros" ou "Tipo A" Massa Atômica m=72,59 (ou raio elementar para as
formas elementares)
Íons enriquecidos em nódulos de Fe-Mn em mar
Cátions que (Todos os elétrons removidos da camada de valência) em relação à agua do mar
Isótopos r=1,05 Mais abundante (negrito)
coordenam com H2O

portadores de O2- tardiamente (ou não),


(Assim, possuem configuração eletrônica de gás nobre) naturais Íons que formam fases tardias em rochas ígneas

Ìons que tendem a entrar em sólidos

e em vez disso tendem a entrar ou


2- 2-

permanecer em solução aquosa.


(ou CO3 ou SO4 ) 234 Radioativo (em itálico) seu grande tamanho (principalmente “íons grande
em solução Coordenam F>O>N=Cl>Br>I>S EC, ß+
Os 8 solutos mais abundantes na água do mar
ß-

H+
(Comumente coordenam com O dos grupos α
9º ao 16º mais abundante 17º ao 22º m
1
Cátions que carboxílicos de ligantes orgânicos)
z = carga iônica / raio iônico
r
= potencial iônico Soluto mais abundante em água de rio típica (HC
Íon hidrogênio Ver também Inserções 1 a 5 e 7.
coordenam Processos de decaimento ou densidade de carga 2º ao 8º soluto mais abundante em água de
m=1,0079 com OH
-
radioativo
r=10 -5 Cátions que Cátions que coordenam com Solutos que podem ser nutrientes limitantes no cre
Gases Nobres (ou H2O-) em coordenam com OH- -
O2 em solução (por exemplo como Solutos que podem ser nutrientes limitantes nos o
(Não ionizados) z =
123 solução -
ou O2 em solução - 3- 2-
/ 4 NO3 , PO4 , SO4 , etc.) Solutos macronutrientes nos Solutos micronu
z r=
/r 2 + 2+ 3+ 4+ 5+ continentes continentes
He Hélio 2 Li Íon lítio
3 Be 4 B Boro 5 C 6 N 7 Ver também Íons essenciais para a nutrição de alguns vertebra
Íon berílio como borato (B(OH) 3 Carbono, como CO 2 , Nitrogênio Inserção 9.
-
m=4,0026 m=6,941 m=9,012 ou B(OH)4– ) bicarbonato (HCO 3 ) como nitrato (NO 3– )
6 +

r=1,2 r=0,60 r=0,31 m=10,811 e carbonato (CO 32-)


m=14,007
Permanganato
-
(MnO4 ) é um Fe
como ferrato ou
26
r=0,20 m=12,011 r=0,11 Cromato cátion duro, perferrato (FeO4 )
2–
2-
(CrO4 ) é um mostrado à esquerda
z = 32 = carga iônica ÷ r=0.25
r=0.,15 r cátion duro,
34 67 9 10 11 12 13 14 14 15 raio iônico mostrado à esquerda

Ne
Neônio
10 Na+ 11 Mg2+12 Al 13 Si 3+ 4+ 5+
14 P
Como silicato(SiO44– )
15 S
6+
Enxofre como
16 Cl
como
7+
Cátions Intermediários coord
4+
m=20,180
z
/r =
Íon sódio
m=22,990
Íon magnésio
m=24,305 Al ou Al(OH)3–n
n
Íon alumínio como
3+
ou Si(OH) 4 como fosfato (PO43–
0
sulfato (SO 4 )
Fósforo
rato
2– perclo- (Alguns elétrons permanecem na camada de valência)
Coordenação provável com S ou O z
S En
1 como su
r=0,65 m=26,982 m=28,086 m=30,974
e HPO42– ) m=32,066
r=0,95 (ClO 4– ) /r = 8 r=0
r=1,5 r=0,41 z
r=0,50 r=0,29 r= 3+ /r =
16

r=0,34 3+
Cr Cromo24 Mn 3,4+
25 Fe 26 Co 3+
27 Ni 3+
28 Cu2+ 29 Sn4+
r/ =

4
24 25 26 0,27
V 4+ 23 Estanho e
z

20 21 22 Onde Fe2+ 23 28 29 30 31 32 33 34 36 Íon manganês Ferro férrico Cobalto cobáltico Íon níquel
Fe 3+ 27
Cobre cúprico
3+
e Fe estariam Fe 2+ 3+ Íon vanádio
crômico
r=0
Ti 22 m=51,996 4+ r=0,53
K+ 19 Ca r=0,61 2+ 3+
Ar 18 se fossem
cátions duros
2+ 20
Sc3+ 21 4+ 5+
22 V 23 Cr 24 Mn
Ti
6+ 7+
Íon titânio
3+
r=0,69 3+ r= 0,64 r=0,64 r=0,63 r=0,73 r=0,69 Zn 30 Ga 31 Ge4+
Argônio Íon potássio Íon cálcio Íon escândio Íon titânio
Íon vanádio, por
Cromo como
como
r=0,75 V Vanádio 23 2+ 2+ 2+ 2+
28 Cu+
Íon zinco Íon gálio Íon ge

m=39,098 m=40,078 m=44,956 m=47,867


exemplo como
cromato (CrO42– )
perman-
vanadoso
50 52 53 54 Mn 25 26 Co 27 Ni Íon níquel
Fe 29 m=65,39 m=69,723 m=7
m=39,948
Ti2+22
vanadato ganato
r=1,33 r=0,81 r=0,68 m=50,942 m=51,996 (MnO 4– ) m=50,942 Cobalto cobaltoso Cobre cuproso
r=0,74 r=0,62 r=0
r=0,99 Mn manganoso Ferro ferroso m=58,693
r=1,8
r=0,59 r=0,52 r=
Íon titânio r=0,74 Cr 2+ 24 m=54,938 m=55,845 m=58,933 r=0,74 r=0,72 m=63,546 (1+ r=1.13) (2+ r=

40 42 43 45 r=0,90
Cromo
r=0,80 r=0,76 58 60 r=0,96 64 66 70
46 47 48 0,46 50 51
cromoso
67 68 70 69 71
36 38 40 39 40 41 44 46 48 ? (48) 49 50 50 51 50 52 53 54 r=0,90 55 54 56 57 58 59 61 62 64 63 65 73 7
2+
Kr 36 4+ 5+
Rb+ 37 Sr 38 Y3+ 39 Zr 40 Nb 41 Molibdênio,
2+
Mo 6+ 42
z
/r
=
41 Mo2+ 42 Tc 43 Ru3,4+44 Rh2+ 45 Pd2+ 46 Ag + 47 Cd 48 In
1,3+
49 Sn
2+
4+ 4+
Criptônio Íon rubídio Íon ítrio Íon zircônio
Íon estrôncio p.ex. Íon nióbio
como molibdato
8 42 Ocorrência
Nb MoÍon molibdênio
Tecnécio Íon rutênio
m= 101,07
Íon ródio
m=102,906
Íon paládio Íon prata Íon cádmio
m=112,411
Íon índio
m=114,818 Estanho
m=83,80 m=85,468 m=87,62 m=88,906 m=91,224 (ou colúmbio)
natural muito m=106,42 m=107,868 3+ r=0,81 m=11
m=92,906 3+ r=0,69
r=1,9 r=1,48 r=1,13 r=0,93 r=0,80
r=0,70
m=95,94
r=0,62 41 m=95,94
r=0,68
limitada na
Terra 4+ r=0,67
r=0,86 r=0,86 r=1,26 r=0,97
106 108 110
1+ r=1,32 r=1
112 114
3+ 99 96 98 99 102 104 105
78 80 82
83 84 86 85 87
84 86
87 88 89
90 91
92 94 96 ? 93 (96)
92 94 95 97 Nb 92 94 95 96
97 98 100 (100) 100
102 104
101
103 106 108 110 107 109
111 112 113
114 116
113 115 117 11
120 1
96 98 100
+
Xe 54 Cs+ 55 BaÍon bário56 2+
57- La3+e Hf
4+
72 Ta
5+
73 W
6+
74 Re7+ 75 W
4+
74 Re4+ 75 Os4+ 76 Ir4+ 77 Pt 2+ 78 Au+ 79 Hg+ 80
Íon tungstênio Íon irídio Íon platina
Tl 81 Pb2+
Tálio taloso Chumbo
Íon ouro
ETRs 71
Xenônio Íon césio Íon háfnio Íon rênio Íon ósmio Íon mercuroso
m=192,217 m=195,078 m=196,967 m=200,59 m=204,383 m=2
Íon tântalo Tungstênio (volfrâmio), Íon rênio (volfrâmio)
m=132,905 m=137,327 m=183,84 m=186,207 m=190,23
como tantalato p.ex. como tungstato
m=131,29 m=178,49 provavelmente
r=1,40 r=1
r=2,1 r=1,9 r=1,35 m=180,948 m=183,84 como reniato
r=0,64 r=0,65 r=0,69 r=0,66 r=0,96 r=1,37 r=1,19
r=0,81
124 126 128 130 132 Ver abaixo r=0,73 r=0,68 m=186,207 184 186 190 192 193?
(3+ r=0,85) 196 198 199
204 2
129 130 131 134 135 136 174 176 177 180 182 183 r=0,56 180 182 183
187 188 189 191 193 194 195 200 201 203 205 206 208 2
132 134 136 133 137 138 170Yb 178 179 180 180 181 184 186 185 187 184 186 185 187 190 192 196 198 197 202 204 206 207 208 210 212
4+ 4+
92 Elementos com Z > 94 não ocorrem na natureza: Hg2+ 80 Tl 3+ 81 Pb
86 Fr + 87 2+ Ac 3+ 89 ThÍon tório 90 Pa5+
6+
92
1

88 91 93 Pu 94 U
2

Rn Np
1

Ra U Íon mercúrico Tálio tállico


/r =

95: Amerício 101: Mendelévio Chumbo


/r =

Íon urânio
Radônio Íon frâncio Íon rádio Íon actínio Íon protactínio Urânio como Neptúnio Plutônio
r=0,97 96: Cúrio 102: Nobélio r=1,10 r=0,95 r=0
z
r/
z

m=227,03? m=232,038
z

(222) (223) (226) (231) uranila (UO 2 2+ ) Ocorrência Ocorrência 97: Berquélio 103: Laurêncio
r=1,18 r=0,95 m=238,029 natural muito natural muito 98: Califórnio 104: Rutherfórdio
=4 Cátions "moles" ou "Tipo B"
4

r=1,76 r=1,40 (+4 r=0,98)


=

(+3 r=1.14) limitada na limitada na 99: Einstêinio 105: Hânio z /r


muito raro r=0,7
z
/r

Terra 100: Férmio


(<30 g na crosta)
223 224 227 228 230
Terra (Muitos elétrons permanecem na camada de valência)
219 220 222 227 228 231 234 234 235*238 237 ? 239 Coordenam I>Br>S>Cl=N>O>F
223 226 228 231232 *234
Comumente coordenam com C de ligantes
*Para simplificar, z =
orgânicos, como no metilmercúrio
z/ = 1

/r 8
as séries 235U-207Pb e
r

232
Th-208Pb são omitidas.
z
/r = 4+ Elementos terras raras (ETRs)
= c o iôn

Inserção 1: Módulo de compressibilidade Ce 58 3+


rai

4
63 (Efetivamente cátions "Duros" ou "Tipo A" em seu estado 3+)
arg ico

(Ks em GPa) de óxidos de cátions duros Eu


z/r = 2

Íon cério
Íon európio
r=1,01 3+
ai

m=151,964 Gd 3+ 64 3+ 3+
Mineral de Mineral de 3+
57 Pr 59 Nd3+ 60
3+ Pm 61 Sm 62 3+
Tb 65 Dy 66 3+
Ho 67
Er 68 3+
Tm 69
ôn

um cátion: dois cátions: Não-mineral: La 3+ r=1,03


CeÍon cério58 m=140,908
Íon praseodímio Promécio Íon samário Íon gadolínio Íon disprósio Íon érbio
38 210 Lantanídeos: Íon neodímio
ica

71
m=144,24 Não ocorre m=150,36 Íon térbio Íon hólmio Íon túlio
Quartzo Perovskita Íon lantânio 151 153 m=157,25 m=158,925 m=162,50 m=167,26
m=138,906 m=140,116 r=1,09 r=1,08 naturalmente r=1,04 r=1,02 m=164,930 r=0,96 m=168,934
÷

+ 2+ r=0,99
Li Be 2+ B 3+ C 4+ r=1,15 r=1,11 (4+ r=0,92) 142 143 144
na Terra
144 147 148 Eu 63 152 154 155 r=1,00 156 158
r=0,97 r=0,95 1
Bromellita 251 3 136 138 140 146 145 ? 149 150 156 157 160 161 162 162 164 166
138Ba 138 139 142 141 148 150 ? (150)
Íon európio
158 160 159 165 167 168 170 169
Crisoberilo 152 154 r=1,12 163 164
240
z/r = 2
2+
Substitui Ca
+ 2+ 3+ 4+ 5+
Na Mg Espinélio Al Si P
Periclásio 198 254 38
160 Coríndon Quartzo
50
Inserção 5: Oxissais simples típicos Inserção 6: Temperaturas (K) de fusão e decomposição (d) Inserção 7: Modelo conceitual do comportamento Inserção 8: Solubi
- de óxidos de cátions duros (e intermediários)
( -MOn sem OH ou H2O) de óxidos de cátions intermediários e moles Cassiterita 4+ As
5+
Ânion
+
Ca2+ 4+
V 5+
Perovskita
K Ti216 0
160 Sn 588
3+ 4+ 5+ F–
Mine
115 210
B C NMinerais com 3+
Hematita
3+ 2 00
Tenorita
2+ 2000
1903 Li N Não-m
Paramon- Eskolaíta Mn
Rutilo 3+ Cu Cátions
Cal
Tausonita 2+CO NaNO3 cátions de potencial 1353(d) Fe
Co 1 Argutita Arsenolita 1Å
MgAlBO 4 Me iônico muito baixo troseíta Zincita H+
(p.ex., 3 (Nitratita) 1838 1168 (d) 1719
175 200 (Sinhalita) Calcita) KNO3 + + 2+
(p.ex., K , Na , Ba ) V
4+
Cr 3+ Bunsenita 2+ Ga
3+
Ge
4+
As
3+
Cl–
2240 2603
2+ 2+ 2+ 2+ Cuprita+ Zn 547
+ (Nitro) Mn Fe Co Ni Cu
2079 1388
Sr 2+ Y 3+1 Zr 4+ Nb5+
2242
Rb 2400 2054 1652 2078 2228 1509
Si 4+ P 5+ S 6+
Romarchita Valentinita
87 50 152* 2000 Mo4+
Manga-
nosita
Wustita
1600 2+ 2+
Ag+
Monteponita
2+ 3+
Sn
2+ 3+ z/r Alto Br–
Broma
Na3PO4 CaSO
Rh Pd Cd In Sb (
* Baddeleyita tem (K-feldspato) KAl Si O 4 Ligações
10

2 3 8 (Olimpita) (Anidrita) 1373(d) 1373(d) 1023(d) ~473(d) >1773 2185 1353(d) 928
Ks = 95 GPa, mas (A-C-S) Al2SiO Tugarinovita Rb fortes, mas O2–
0

Iodarg

74
5
0

AlPO4 Na2SO4
I–
não é a fase mais z/r
Au3+ Hg +
120

(Zircão) ZrSiO4 (Berlinita) (Thenardita) Minerais repulsão


+ estável de ZrO2 em Tl + Massicoto Bismita (A
Ba2+ La 3+ Hf 4+
z/r Baixo Intermediário cátion-cátion
0

Cs com cátions 423(d) 373(d)


80

condições ambientes; “A-C-S” 4+ 4+ 4+ 2+ 852 2+ 3+


Minerais com cátions de W Re Ir Pt 2+ Pb Bi Ligações cátion- Ligações cátion- 10
0

representa de potencial
71 o valor indicado é Au+ Hg
40

145 +
1273 (d) 598(d) 3+
para este último. andaluzita, baixo (p.ex., K ) a moderado iônico baixo ~1773(d) 1173(d)
Óxido 773(d) Tl 1170 1098 oxigênio fracas oxigênio fortes Solubi
cianita e 3+
(p.ex., Al ) potencial iônico 1107Avicennita
não estável Montroydita Ag
sillimanita.
Ver também inserção 3.
Raquel Franco de Souza, L. Bruce Railsback

dante no manto e na crosta da Terra (McDonough A tabela periódica tem suas versões para a
e Sun 1995) ditam muitas das tendências discutidas língua chinesa (Jin 2006) e espanhola (Bernal &
nas seções seguintes. Railsback 2008). A versão mais atualizada é a 4.8e
A versão 4.6 da tabela, a primeira em inglês, (Railsback 2012), tendo sido divulgada em outu-
foi apresentada como item integrante de um bro de 2012. O presente artigo apresenta a Tabela
artigo científico divulgado no periódico Geology periódica dos elementos e seus íons para Cientistas da
(Railsback 2003). As fontes de informação uti- Terra em português do Brasil, bem como o texto,
lizadas para preparar esta primeira versão, bem ambos correspondentes à versão 4.8d.
como outras notas explanatórias, acompanham
o artigo na forma de repositório, um arquivo
aberto no qual autores podem acrescentar infor-
DESCRIÇÃO DA TABELA
mações que complementam o material impres- Na Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons
so. (GSA Repositório de dados item 2003109, para Cientistas da Terra as entidades químicas são
disponível online em www.geosociety.org/pubs/ arranjadas de acordo com a carga (Fig. 1). Assim,
ft2003.htm). B, C e N, que ficam convencionalmente ao lado

o da crosta
Ca-Al em
Cátions que formam fluoretos simples Elementos nativos, reconhecidos desde a antiguidade
reconhecido da Idade Média até 1862;
Fe 10 elementos mais abundantes na crosta da Terra
a solar Cátions que formam óxidos simples
reconhecido após 1963; Zr 11º ao 20º elemento mais abundante na crosta da Terra
eas Cátions que formam sulfetos simples Li 21º ao 40º elemento mais abundante na crosta da Terra
s e sedimentos Elementos que formam ligas naturais com Fe
Cátions que formam brometos ou iodetos simples Lu 41º ao 92º elemento mais abundante na crosta da Terra
os certeza. Elementos que formam ligas naturais com Cu
profundo, Cátions que formam oxissais Elementos que formam ligas naturais com Os Elementos considerados como principais constituintes
6+ 5+
(p.ex., S em sulfatos, As em arsenatos) Elementos que formam ligas naturais com Pt do núcleo da Terra (Fe>Ni>Co), possivelmente associados a S ou O
+ +
s, devido a Ânions que formam minerais com K e Na Elementos que formam ligas naturais com Au
es litófilos”) 2+
Gases Nobres
Ânions que formam minerais com Mg (Não ionizados)
4 componentes mais abundantes na atmosfera
Ânions que formam minerais com Al3+, Ti4+, e Zr4+
mais abundante Ânions que formam minerais com Si4+ 5º ao 8º componente mais abundante na atmosfera 2 He 2
CO )
H–

1 Hélio
+
Ânions que formam minerais com Cu

Ânions
3

1
r =

Hidrogênio
e rio típica
Ânions que formam minerais com Ag+ Ânions como hidreto m=4,0026
z
/

escimento de bactérias com última com última camada de elétrons completa m=1,0079 r=1,2
oceanos
Ânions que formam minerais com Au+ Gases H2 camada de elétrons
r=2,08
incompleta
+
Hidrogênio Ânions que normalmente coordenam com H
utrientes nos molecular (p.ex. como CH4, NH3, H2S, H2O, etc) 123 34
6 7 8 8 C 4–
3–
O2–

os quais os cátions
6N 7 8F 9 10

preferencialmente
duros coordenam
Ver também
ados (”minerais essenciais”) Não Metais N2 inserção 9. Ne
1– Flúor
C O2 O Carbono reduzido Nitrogênio reduzido como fluoreto Neônio

Ânions com
Nitrogênio Oxigênio como óxido
Diamante molecular Oxigênio m=12,011 m=14,007 m=15,999 m=18,998 m=20,180
e grafite molecular como em
r=2,60 r=1,71 r=1,40 r=1,36
r=0,77 OH0, HO2, r=1,5
A maioria das ocorrências naturais
e H2O2
z/ = 16 Metais atmosféricos
de carbetos e nitretos encontram-se em fases
minerais de meteoritos ou no manto.
r Ver também
Inserção 9.
12 13 14 14 15 16 17 18 19 20 21 22
Cátions que

denam com O2– (± OH–) em solução 13 14 16 Si 4–14 P3– 15 S 2– 16 Cl 17 Ar 18
nxofre16 Formas Elementares
5+ 6+
As 33 Se 34 Al Si S Silício como Fósforo
Enxofre como sulfeto
Cloro
Argônio

Intermediários
siliceto como fosfeto como cloreto
(sem carga)
ulfito (SO32–) Arsenato (AsO 3–)
4
como
selenato
(SeO 42–)
além dos gases nobres Alumínio Silício Enxofre
m=28,086 m=30,974 m=32,066 m=35,453 m=39,948
0,37 Principais elementos nos meteoritos
r=0,47 r=0,42 ferrosos (Fe>> Ni>> Co) e, r=1,43 r=1,34 r=2,71 r=2,12 r=1,84 r=1,81 r=1,8
+
estânico
50 Sb5+ 51 Te 6+ 52
com S ou O, provavelmente são os
elementos mais abundantes no núcleo da Terra
A maioria das ocorrências naturais
de fosfetos e silicetos encontram-se em

0,71 p.ex. como antimonato p.ex. como telurato meteoritos e poeira cósmica.
32 33 34 36 35 37 36 38 40
r=0,62 r=0,56
+
32 24 26 27 28 29 30 33 34 3– Se
2–
34 Br

35 Kr 36
ermânio
3+
33 Se 4+ 34 (Massas atômicas 33
AsArsenio Criptônio
72,61
As
Arsênio, p.ex.
Selênio, p.ex. como
selenito (SeO32–)
Cr Fe Co
Cobalto
Ni
Níquel
Cu
Cobre
Zn
Zinco
e informações As Se
como arseneto
Selênio
como seleneto
Bromo
como brometo
m=83,80
0,53 como arsenito
m=78,96
Cromo Ferro isotópicas são Arsênio Selênio
m=74,922 m=78,96 m=79,904
m=74,922 r=1,26 r=1,25 r=1,24 r=1,28 r=1,39 omitidas para r=1,48 r=1,6 r=1,9
os quais os cátions

r=1,27 r=2,22
preferencialmente
moles coordenam

=0,93)
r=0,69 r=0,50 economizar r=1,98 r=1,95
0 72 74 76 77 (7+ r=0.39)
Ânions com

espaço) 74 76 77 78 80 82
74 76 75 78 80 82 75 78 80 82 79 81 (82) 83 84 86
3+ 4+ 5+
+
50 Sb 51 Te
Íon telúrio,
52 I Iodo como53 44 45 46 47 48 49 50 51 52 Sb
3–
51 Te 2– 52 I

53 Xe 54
Íon antimônio,
iodato (IO 3– ) Telúrio Iodo como iodeto Xenônio
o estanoso como em antimonitos como em teluritos Ru Rh Pd Ag Cd In Sn Sb Te Antimônio
como telureto
m=131,29
18,710 m=121,760 m=127,60 m=126,904
como antimoneto m=126,904
r=0,44
Rutênio Ródio Paládio Prata Cádmio Índio Estanho Antimônio Telúrio m=127,60 r=2,16 r=2,1
1,12 r=0,90 r=0,89 O iodo aparece r=1,34 r=1,34 r=1,37 r=1,44 r=1,56 r=1,66 r=1,58 r=1,61 r=1,7 m=121,760 r=2,21 (7+ r=0.50)
4 115 116 120 122 123 duas vezes como
soluto na água
r=2,45 120 122 123 124 126 128
118 119
121 123 124 125 126 do mar, porque especia
-
tanto como I (à direita) 124 125 126 (124) 127 129 130 131
122 124 128 130 como IO3- (aqui). 121 123 128 130 (128) (130) 132 134 136
+ 3+
82 BiÍon bismuto83 Po
o plumboso
84 73 75 76 77 78 79 80 81 82 83 Bi
2–,3–
83 At 85 Rn 86
1

Polônio
207,2 m=208,980 Radônio
Bismuto como
z/r=

Tl Pb
2

Ta Re Os Ir Pt Au Hg Bi Astato

bismuteto
1,20 r=1,20 (222)
r =

Tântalo Rênio Ósmio Iridio Platina Ouro Mercúrio Tálio Chumbo Bismuto m=208,980
8

z
/

210 211 212 r=1,46 r=1,37 r=1,35 r=1,35 r=1,38 r=1,44 r=1,60 r=1,71 r=1,75 r=1,82
206 207 209 210 211 Os únicos bismutetos
218 219
210 211 212 214 215 214 215 1 (minerais) são os de 215 218 219 220 222
=–
Pd, Ag, Pt, Au e Pb
2 214 216 218
z /r
82 Bi5+ 83
o plúmbico Íon bismuto
0,84 r=0,74

Uma Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons para Cientistas da Terra
Versão 4.8d © 2008 L. Bruce Railsback, Departament of Geology, University of Georgia, Athens, Georgia, 30602-2501 U.S.A. (rlsbk@gly.uga.edu). Para atualizações e mais informações, consulte http://www.gly.uga.edu/railsback/PT.html.
Traduzido por: Raquel Franco de Souza, Departamento de Geologia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (raquel@geologia.ufrn.br)
A versão 4.6 desta tabela foi publicada como Figura 1 do seguinte artigo: Railsback, L.B., 2003, An Earth Scientist's Periodic Table of the Concessão DUE 02-03115. A versão 4.7 foi publicada em 2004 na Série Maps & Charts da Geological Society of America como
Elements and Their Ions: Geology v. 31, no. 9. p. 737-740. A publicação da versão 4.6 na Geology foi apoiada pela National Science Foundation ítem MCH092. A versão 4.8 está disponível no site supracitado, bem como as traduções desta tabela em Espanhol e Chinês.
4+

3+ Inserção 2: A dureza dos óxidos de cátions duros Inserção 3: Temperatura de fusão (K) de óxidos de cátions duros Inserção 4: Solubilidade de óxidos de cátions duros
Yb 70 3+
Lu 71 + +
Be92+ C 4+ N 5+ 2+
C 4+ N 5+
Íon itérbio
m=173,04 Íon lutécio Li B 3+ Li
+
Be 2+ B 3+ C 4+ N 5+ Li4.4 Be–7.4 3+
B2.77
r=0,94 m=174,967 Bromellita 1700 2681 723 216 Bromelita
(2+ r= 1,13) r=0,93 Crisoberilo
500
H=

168 170 171 8.5


2+
175 176 176Hf
Mg2+
6

172 173 + +
174 176 ? Na Espinélio Al3+ Si 4+ P 5+ S 6+ Na
+
Mg2+ Al 3+ Si 4+ P 5+ S 6+ Na9.9 Mg
–2.4 –8.1
4+
Al3+ Si –3.9 5+
P–1.37 S 6+
Periclásio 7.5-8 9 7
Inserção 9: Os 5.5-6 Quartzo 1193 3125 2345 1996 855 290
Coríndon Periclásio Coríndon Quartzo
vários estados
de valência
H=

do nitrogênio. Perovskita
8

+ +
ilidade de haletos de cátions duros e moles Estado K 2+
Ca3.5 5.5
Ti 4+ V 5+ Cr 6+ K
+
Ca2+ Sc 3+ Ti 4+ V 5+ Cr 6+ K14.0 Ca2+ Sc3+ Ti 4+ 5+
V –7.6 Cr 6+
de valência Exemplo >9 * 3-3.5 3200 1.4 –9.7
H=

Cal (Ru=6-6.5) 2103 943


Shcherbinaite
5+ NO3– (nitrato) Cal Rutilo Shcherbinaita
4

Villiaumita
eral Sellaíta Srilankita 6.5 10
(NaF) AgF 00
H=

mineral (MgF2 )
4+ NO2 (dióxido de nitrogênio)
3+ NO – (nitrito) +
4

Clorargirita Halita
2 Mineral de
um cátion: Sr 2+ Y 3+ 4+
Zr 6.5 Nb5+ Mo6+ Rb
+
Sr 2+ Y 3+ Zr 4+ Nb5+ Mo6+ Rb 2+
Sr4.3 Y 3+ Zr 4+ Nb5+ Mo6+
HgCl2 (NaCl)
2+ NO (óxido nítrico) 3-4 673 2938 28.9
(AgCl) 7 Baddeleyita Molibdita 3123 1785 1074
1+ N2O (óxido nitroso) Quartzo Baddeleyita Molibdita
MgCl2 Dureza
argirita 0 N2 (nitrogênio) (Escala
(AgBr) HgBr2 MgBr2 NaBr Mineral de deMohs)
3– NH 3 (amônia)
La 3+ Hf 4+ Ta 5+ W 6+ 2+
La 3+ Hf 4+ Ta 5+ W 6+
dois cátions:
+ Ba6.7
girita
5.5 Cs Ba2+ La 3+ Hf 4+ Ta 5+ W 6+
75
1500

7
H=6

AgI) HgI2 MgI2 NaI Estados de valência em destaque são Perovskita 2286 25802058 3173 1745
Tantita Mineral Tantita
mostrados acima na tabela principal.
2000

1500
2500
200

2500

0-8 10-6 10-4 10-2 1 100 –9.7


Th 4+ Th 4+
3000

N2 é o constituinte mais abundante


300

Th 4+
0

ilidade (mol/L) de haletos contendo da atmosfera; No2, NO, N2O, *Um rutilo não sintético TiO2 Torianita Log da atividade das espécies catiônicas
g+( ), Hg2+( ), Na+( ) e Mg 2+( ). é o óxido mais duro conhecido 6
0

e NH3 são constituintes menores. Ver também inserção 6. 3493 em água destilada, a 25 °C Torianita

v. 4.8c 03
Uma Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons para Cientistas da Terra TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012

direito da tabela periódica, aparecem à esquerda, na geoquímica dos processos ígneos, o insucesso do
sequência horizontal da esquerda para a direita Li+, Cu+ de ligar-se ao O2- e substituir o Na+ no pla-
Be2+, B3+, C4+ e N5+. Os elementos Al, Si, P e S, gioclásio (Ringwood 1955) fornece um exemplo
similarmente, aparecem à esquerda na sequência da diferença de comportamento dos cátions moles
horizontal da esquerda para a direita Na+, Mg2+, e duros, respectivamente. O insucesso do Ti+ em
Al3+, Si4+, N5+ e S5+. Um efeito mais surpreendente substituir o K+, apesar do tamanho e carga similar
de organizar a tabela de acordo com a carga é que destes dois cátions, é outro exemplo.
muitos elementos aparecem várias vezes, porque Outra diferença entre a nova tabela e suas pre-
condições naturais diferentes fazem com que estes decessoras convencionais é que a nova tabela inclui
elementos assumam cargas diferentes. Assim, mui- os actinídeos que ocorrem naturalmente com os
tos elementos (p.ex., P e U) aparecem duas vezes, cátions duros. Th4+ assim fica abaixo de Hf4+, e
poucos aparecem três vezes (p.ex., V, Fe, C e N), e U6+ fica abaixo de W6+. As tendências nos símbolos
uns poucos aparecem quatro vezes (mais particu- descritos na próxima seção ampliam-se ao longo
larmente S, como S2-, S0, S2-, S4+, e S6+). deste arranjo não convencional, porém útil (Fig. 1).
A Figura 1 (Tabela Periódica dos Elementos e seus A tabela também mostra os números atômi-
Íons para Cientistas da Terra) contém uma legenda cos, massas atômicas, isótopos que ocorrem natu-
no topo que inclui símbolos que mostram ocor- ralmente, e as etapas de decaimento naturais dos
rências naturais ou enriquecimento em minerais, diferentes elementos. Os nomes dos elementos
águas naturais, solos e sedimentos, rochas ígneas, e suas diferentes formas iônicas são mostrados –
o manto e a atmosfera, assim como nutrientes p.ex. “Enxofre como sulfato (SO42-)” para S6+. Os
críticos. Na porção inferior da figura são incluídas tamanhos dos símbolos químicos são graduados
inserções ilustrativas de situações específicas que em relação à abundância dos elementos na crosta
serão mencionadas no decorrer do texto. da Terra; sete dos nove elementos mais abundantes
A tabela é interrompida da esquerda para a convenientemente encontram-se juntos em uma
direita para separar gases nobres, cátions tipo A ou área ao lado esquerdo da nova tabela. Contornos
duros (aqueles sem elétrons na camada de valência), de mesmo potencial iônico (carga ÷ raio, i.e., z/r)
cátions intermediários a tipo B ou moles (aqueles realçados em azul e marrom estendem-se trans-
com no mínimo alguns elétrons na camada de versalmente à tabela e refletem tendências análogas
valência), estado elementar (sem carga), ânions e nas ocorrências naturais, conforme será discutido
os gases nobres novamente (Fig. 1). A importância na próxima seção.
da divisão dos cátions é que os cátions duros ligam-
-se fortemente a F- e O2-, mas não ligam-se a S2-,
enquanto os cátions moles ligam-se fortemente a
OS CONTORNOS DE MESMO POTENCIAL IÔNICO
S2- e aos haletos grandes Br- e I- (Stumm e Mor- O potencial iônico é um parâmetro que caracte-
gan 1996) (Fig. 1, inserção 8). Estes padrões são riza o quão firmemente encontra-se focada a carga
exemplificados na natureza pela ausência de sulfe- de um íon, ou o quão densa é sua carga.
tos de Ca2+ e dos outros cátions duros, enquanto
que existem óxidos e sulfatos destes cátions (Fig. Potencial iônico = “densidade de carga” =
1). As ocorrências naturais de sulfetos, mas não carga do íon / raio do íon = z/r
de óxidos dos íons do grupo da platina fornecem
um exemplo oposto (Fig. 1). As diferenças entre Para o Ca2+: z = 2 r = 1.0 Å z/r = 2
cátions duros e moles são adicionalmente ilustra- Para o N5+: z = 5 r = 0.11 Å z/r = 45
das pelas inserções 3 e 6, as quais mostram que a
temperatura de fusão dos óxidos de potencial iônico O Ca2+ tem um potencial iônico baixo, asso-
intermediário decresce dos cátions duros para os ciado com uma carga difusa. Em contraste, com o
cátions intermediários a moles. A inserção 8, do N5+, a carga mais alta e o raio menor dão um valor
mesmo modo, mostra que a solubilidade relativa de potencial iônico grande, o que sinaliza para um
dos compostos haletos pode ser predita pela divisão íon com carga positiva altamente focada.
dos cátions duros e moles, de forma que a solubi- O potencial iônico não é um conceito novo. Os
lidade dos haletos dos cátions duros aumenta do geoquímicos remontam este conceito ao trabalho
F- para o I-, enquanto que a solubilidade dos hale- de Victor Goldschmidt (1937), que produziu o
tos dos cátions moles aumenta do I- para o F-. Na clássico diagrama ainda utilizado em muitos livros

76
TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012 Raquel Franco de Souza, L. Bruce Railsback

texto. Neste diagrama linhas que se irradiam da Por outro lado, cátions duros com potencial
origem são linhas de igual potencial iônico, e são iônico < 4 formam os fluoretos, incluem íons abun-
mostradas duas isolinhas que dividem os íons em dantes nas águas dos rios e do mar, e incluem íons
um campo de íons solúveis, íons que são insolúveis importantes como nutrientes. Cátions com poten-
e formam hidróxidos, e íons solúveis em oxiânions cial iônico > 8, do mesmo modo, incluem íons
(e.g., S6+ no íon sulfato). No entanto, Goldsch- abundantes na água do mar, íons importantes como
midt não foi o primeiro a considerar o potencial nutrientes, e íons que formam oxissais, tais como
iônico. Esta idéia surgiu quase uma década antes sulfatos e arsenatos. Os resultados encontram-se
do artigo de Goldschmidt, trazida por Cartledge nas faixas azul e verde ao longo na nova tabela.
(1928a, 1928b), que apresentou o potencial iônico Estas faixas estendem-se dos cátions duros (que
como uma função periódica e discorreu sobre suas coincidem com os elementos litófilos) aos cátions
propriedades, mostrando um mesmo elemento intermediários a moles (que coincidem de maneira
químico aparecendo pelo menos duas vezes na geral com os elementos siderófilos e calcófilos).
tabela periódica. Nesse aspecto sua tabela é uma Contornos de mesmo potencial iônico que se
predecessora da tabela apresentada por Railsback prolongam dos cátions duros aos cátions intermedi-
(2003). Com este conceito de potencial iônico, é ários (p.ex., Mn4+ e Fe3+), permanecem na faixa ver-
possível apresentar um novo formato de tabela peri- melha e marrom ao longo da tabela, de forma que
ódica, calculando o potencial iônico para cada íon. cátions intermediários com potencial iônico entre
Novamente, o Ca2+ é um bom exemplo: uma carga 3 e 8 também formam óxidos, estão concentrados
de 2 e um raio de 1 Å que produz um potencial em solos, entram em fases ígneas precoces e etc. Por
iônico de 2. Calculando-se o potencial iônico para outro lado, os contornos para os potenciais iônicos
cada íon, são delineados contornos nos resultados mais baixos (1 e 2) ressaltam os cátions moles, que
(linhas de mesmo potencial). Criar contornos para incluem os metais de cunhagem (Cu, Ag e Au) e
linhas de mesmo potencial iônico insere padrões formam o centro de uma região caracterizada por
bem definidos na tabela periódica. diamantes amarelos que marcam íons formadores
de sulfetos, brometos e iodetos.
PADRÕES E TENDÊNCIAS NA TABELA Os metais de cunhagem e seus vizinhos também
são mostrados em uma seção da tabela realçando suas
Os símbolos na Tabela Periódica dos Elementos formas no estado elementar (a verdadeira “Tabela
e seus Íons para Cientistas da Terra mostram ocor- dos elementos” dentro da nova tabela). Os símbolos
rências naturais ou enriquecimento em minerais, e campos coloridos mostram que os grupos desses
águas naturais, solos e sedimentos, rochas ígneas, elementos formam ligas. Por exemplo, elementos
o manto e a atmosfera, assim como nutrientes que se ligam com Os constituem um grupo peque-
críticos (Fig. 1). Estes símbolos encontram-se no distinto, e elementos que compõe ligas com Fe
em faixas que acompanham contornos de mesmo constituem um grupo de pequena superposição com
potencial iônico ao longo da tabela, como seria elementos que formam ligas com Cu e Au.
esperado a partir de Cartledge (1928a , 1928b), Padrões entre os ânions do lado direito da tabela
Goldschmidt (1937) e Mason (1958). Como são similares aos padrões para os cátions duros que
resultado a nova tabela evidencia padrões geoquí- aparecem do lado esquerdo da mesma. Entre os
micos que não aparecem na tabela convencional. ânions de potencial iônico baixo, uma faixa azul-
Por exemplo, muitos íons com potencial iônico -verde de símbolos pertencentes a solutos é análoga
entre 3 e 10 formam óxidos, estão concentrados à faixa observada nos cátions de baixo potencial iôni-
no solo e nódulos marinhos de Fe-Mn, formam co. Da parte superior à parte inferior, encontra-se
fases ígneas precoces e são menos empobrecidos a transição dos ânions coordenando com cátions
no manto. O resultado é uma faixa vermelha e duros (resultando em fluoretos e óxidos de Na+,
marrom ao longo dos cátions duros e interme- K+ e Al3+) para aqueles coordenando com cátions
diários na nova tabela (Fig. 1). A mesma faixa moles (resultando em sulfetos, brometos e teluretos
de cátions duros inclui aqueles que compõem de Ag+ e Au+). Da direita para a esquerda, ou do
óxidos com maior módulo de compressibilidade Cl- e F- para o O2- ao C4-, está a transição dos ânions
(Inserção 1), maior dureza (Inserção 2), tempe- que formam minerais com cátions duros de poten-
ratura de fusão mais elevada (Inserção 3) e menor cial iônico baixo (p.ex. K+ e Na+) para aqueles que
solubilidade (Inserção 4). compõem minerais com cátions duros de potencial

77
Uma Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons para Cientistas da Terra TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012

iônico mais elevado (p.ex., Al3+ e Si4+). Minerais PO43-, NO3- e SO42-, mas sua concentração inten-
exemplificando essa transição são carrobita (KF), sa de carga positiva incompletamente blindada,
sellaíta (MgF2), gibbsita (Al2O3) e moissanita (SiC). e resultante repulsão, impedem a formação de
A especiação dos cátions duros em solução minerais óxidos e hidróxidos. Assim, como cátions
aquosa também segue padrões facilmente reco- de potencial iônico baixo, estes são solúveis em
nhecíveis na nova tabela (linhas retas pretas em solução aquosa, abundantes em águas naturais e
negrito na Fig. 1). Da parte inferior à esquerda na cruzam as membranas das células e o revestimento
parte superior à direita através dos cátions duros, das raízes como nutrientes. Sua concentração de
a especiação evolui de hidratação (p.ex. K+) para carga positiva faz com que estes cátions entrem em
hidroxo-complexos [p.ex., Al(OH)n3-n e Si(OH)40] minerais ígneos tão tardiamente, que se encontram
para oxo-hidroxo-complexos (p.ex., COOOH- e entre os íons “incompatíveis” na cristalização de
POOOOH-, mais familiares como HCO3- e HPO4- magmas silicáticos.
) para oxo-complexos (p.ex., CO32-, NO3- e SO42-) Estas considerações ajudam a explicar a exis-
(Stumm & Morgan 1996, Shock et al. 1997). Uma tência, e não-existência, de oxissais (inserção 5).
tendência que também é imperceptível na tabela Silicatos simples (silicatos sem OH- e/ou H2O)
periódica convencional torna-se assim facilmen- desenvolvidos à volta de Si4+ podem acomodar
te compreensível na nova tabela. Estes padrões cátions 1+ a 4+. Boratos e fosfatos simples, edifi-
de coordenação, quando estendidos de solução cados à volta de cátions de potencial iônico maior
para sólidos, colocam no contexto a existência de (B3+ e P5+), podem acomodar apenas cátions 1+ a
minerais oxissais tais como carbonatos, nitratos 3+, provavelmente porque a carga residual positiva
e sulfatos, mas não “calciatos” ou “sodiatos”, e a dos grupos borato e fosfato repele os cátions 4+.
existência de aluminato apenas como uma espécie Carbonatos e sulfatos simples, organizados ao redor
aquosa (Pokrovskii & Helgeson 1997). de cátions de potencial iônico até maior, acomo-
Muitos desses padrões podem ser explicados dam apenas cátions 1+ e 2+. Finalmente, nitratos
considerando a força da ligação e blindagem da simples organizados ao redor do minúsculo N5+
carga em estruturas minerais, como é mostrado altamente carregado, acomodam apenas os cátions
esquematicamente na inserção 7. Os cátions de 1+, provavelmente porque a carga positiva não
potencial iônico baixo (p.ex., K+, Na+, Sr2+) ligam- blindada dos grupos nitrato repele qualquer cátion
-se apenas fracamente ao O2-, de maneira que não de carga 2+ ou maior. As mesmas tendências, com
formam óxidos e não ficam retidos nos ambientes limites deslocados, existem em minerais análogos
formadores de óxidos e hidróxidos, como solos. Ao com OH- e/ou H2O (p.ex., nitratos hidratados
invés disso, eles são solúveis em soluções aquosas, acomodam cátions 1+ e 2+, mas não os de carga
passando às águas naturais e cruzando membranas mais elevada, e os sulfatos portadores de OH e
de células e revestimentos de raízes como nutrien- carbonatos acomodam cátions 1+ a 3+, mas não
tes. Suas ligações fracas com O2- resultam em sua os 4+). O resultado é um modelo que permite
incorporação aos minerais ígneos apenas a tempe- predizer a existência ou inexistência de minerais
raturas relativamente baixas, formando minerais oxissais de vários cátions.
tardiamente na sequência de cristalização. Cátions
de potencial iônico intermediário (p.ex., Al3+, Ti4+)
formam ligações relativamente fortes com O2-,
GENERALIDADES
e sua coordenação tetraédrica a cúbica permite a Talvez a compreensão geral mais clara aparen-
blindagem dos cátions de cargas positivas uns dos te da nova tabela é que o intemperismo químico
outros. Assim, estes formam óxidos e hidróxidos na superfície da Terra e a evolução da Terra para
estáveis em ambientes oxidantes, e muitos deles separar o manto e a crosta continental são geoqui-
fazem ligações a altas temperaturas em minerais micamente processos muito similares: a segregação
ígneos, entrando nos estágios iniciais da sequência dos cátions duros e intermediários de alto e bai-
de cristalização. A sua estabilidade como óxidos e xo potencial iônico daqueles de potencial iônico
hidróxidos resulta em baixa solubilidade e baixa intermediário. O resultado é (1) concentração de
concentração em águas naturais, conduzindo assim muitos destes cátions de potencial iônico interme-
à sua irrelevância enquanto nutrientes. Cátions de diário no manto e na superfície da Terra, no solo
potencial iônico alto (p.ex., P5+, N5+, S6+) formam (as faixas vermelhas e marrons na tabela) e (2) e
ligações muito fortes com O2- em radicais como a remoção final de íons de baixo e alto potencial

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TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012 Raquel Franco de Souza, L. Bruce Railsback

iônico para os oceanos (faixas azuis na tabela). O formam radicais solúveis (p.ex., C4+, N5+, P5+ e
processo continua nos oceanos, quando cátions de S6+ na faixa azul e verde). O Si4+ é assim abundan-
potencial iônico intermediário são segregados em te tanto em resíduos do intemperismo (p.ex., em
nódulos de Fe-Mn e têm um tempo de residência areias ou solos arenosos ou cauliníticos), quanto
curto na água do mar. em águas naturais, tais como água dos rios (onde a
Um outro processo básico na Terra – a vida – sílica dissolvida é a segunda espécie mais abundan-
seguiu regras similares àquelas que ditaram a evo- te dissolvida) e água do mar (onde é a 11ª espécie
lução do manto e o intemperismo. Como a vida dissolvida mais abundante).
iniciou-se e evoluiu em grande parte em solução A abundância e o potencial iônico fronteiriço
aquosa e porque as entidades químicas devem estar do Si4+ também têm implicações importantes na
dissolvidas para passar através das membranas das petrologia ígnea. A maior parte dos minerais ígne-
células, a vida aproveita e depende das formas quí- os são silicatos, mas algumas das primeiras fases a
micas solúveis. Os nutrientes críticos para a vida se formarem em rochas ígneas (p.ex., espinélio e
(símbolos verdes na tabela) são consequentemente cromita) não contêm absolutamente Si, e os pri-
coincidentes com as espécies químicas dissolvidas meiros minerais portadores de Si a se formar são
nas águas naturais (símbolos azuis na tabela). A forsterita (onde o Mg é mais abundante do que o Si)
transição evolucionária de algumas formas de vida e anortita (onde Ca e Al excedem o Si em número)
para a terra coloca-as em um ambiente no qual o (inserção 3). Apenas nas fases tardiamente formadas
intemperismo químico remove tais íons dos solos. o Si4+ torna-se o cátion dominante, e apenas no
O resultado é um enigma para a vida das plantas final da série de reação de Bowen (quando os ele-
afins por água: solos ricos em nutrientes são os mais mentos incompatíveis entram nos sólidos) o SiO2
comuns em regiões áridas onde estes nutrientes forma-se como quartzo (inserção 3). Este paradoxo
não foram removidos por intemperismo, e solos do Si4+ como um íon de certa forma incompatível
onde as condições úmidas favorecem a vida são na cristalização de magmas silicáticos, surge porque
tipicamente lixiviados de nutrientes. A utilização o Si4+ encontra-se no limite superior dos potenciais
de íons ± 1, tanto por plantas como por animais iônicos que permitem a formação de óxidos está-
exemplifica este desafio evolucionário: os agricul- veis. De fato, Si4+ está apenas a um passo do C4+,
tores modernos normalmente estimulam o cresci- N5+ e P5+, que não formam absolutamente nenhum
mento das plantas com fertilizantes portadores de óxido por causa de seu alto potencial iônico, além
K+, vertebrados frequentemente lambem sal para de serem “incompatíveis” na petrologia ígnea.
Na+, e as sociedades pré-modernas comercializa- A abundância e o potencial iônico limítrofe
vam NaCl como substância preciosa. Os humanos do Si4+ também levam a uma feição interessante
modernos continuam a tendência, pois consumem da fisiologia das plantas. As plantas absorvem
NaCl suplementado com I-, água suplementada nutrientes NO 3- como solutos, e o potencial
com F-, consomem bebidas esportivas com K+ e iônico limite do Si4+ deixa-o ser absorvido como
mesmo tomam pílulas com Li+. um soluto [como H4SiO40, ou mais exatamente
como Si(OH) 40]. No entanto, o Si4+ é insolúvel
de tal forma que algumas plantas armazenam
SEIS EXEMPLOS AO LONGO DA TABELA massas de sílica opalina em seus tecidos (Meu-
PERIÓDICA nier & Colin 2001). Estas acumulações minerais
nas plantas, chamadas fitólitos, existem porque
o Si4+ é suficientemente abundante e solúvel
A natureza especial do silício para ser absorvido através das raízes em solução,
Adicionalmente às tendências já delineadas, mas suficientemente insolúvel para ser mantido
muitos casos especiais importantes tornam-se cla- como mineral sólido no interior de um tecido de
ros com a nova tabela. Por exemplo, o Si4+ é único planta úmido.
por ser muito abundante (é o segundo constituinte
mais abundante da crosta) e por ter um potencial A natureza extraordinária do ouro
iônico no limite entre os cátions relativamente
Se o Si tem um papel especial na geoquímica
insolúveis de potencial iônico intermediário (p.ex.,
por causa de sua abundância e de sua localização
Al3+, Ti4+ e Sc3+ na faixa vermelha e marrom da
limite em potencial iônico, o Au é especial pelas
tabela) e os cátions de potencial iônico alto que

79
Uma Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons para Cientistas da Terra TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012

razões opostas: é extremamente raro, tem um exemplificam padrões de coordenação vistos em


potencial iônico extremamente baixo como Au+, outras partes da tabela, quando o íon com um
e Au+ é extremamente “mole” no espectro dos potencial iônico mais baixo forma um fluoreto,
cátions duros a moles. Como resultado, Au não fluorecita com Ce, enquanto o íon com potencial
forma óxidos e nem mesmo forma sulfeto apenas iônico maior forma um óxido, a cerianita. A for-
de Au; os únicos análogos de um hipotético AuS2 mação destes dois minerais compara-se à formação
são dois minerais de AuTe2 e um mineral AuBi2. de fluoretos por Na+ e K+, mas formação de óxidos
A predileção do Au por ânions grandes também é por Al3+ e Sc3+ (Fig. 1).
vista em sua extensiva complexação com Cl- em
solução, à qual é atribuído muito do transporte do Urânio, tório e problemas de datação
ouro para gerar depósitos minerais (p.ex., Murphy
et al. 2000). Por outro lado, a indiferença do Au para A datação radiométrica usando o método da
com o oxigênio é mais uma das razões pela qual o série do U (Edwards et al. 1987) constitui um
Au tem sido tão valorizado pelos humanos – ele meio valioso de determinar a idade de materiais
continua a brilhar como um metal não oxidado mais novos do que ~500 k.y. Um problema com
apesar de séculos de exposição ao O2. Na tabela o método, no entanto, é que o U na superfície da
periódica convencional, o Au é simplesmente um Terra está no estado U6+ e assim na forma do oxo-
dos muitos elementos no meio daquela tabela, mas -complexo solúvel UO22+ (Langmuir 1978). O Th,
seu isolamento por contornos de mesmo potencial por outro lado, ocorre como Th4+, que é insolúvel
iônico ilustra sua natureza única na nova tabela (p.ex. Kaufman 1969). Como resultado, o U pai é
periódica. comumente perdido dos materiais, mas o Th filho
permanece, fornecendo idades antigas incorretas
(p.ex. Dabous & Osmond 2000). Este problema não
Aplicações de Fe, Mn e Ce como indicadores é perceptível a partir da tabela periódica conven-
paleoredox cional, mas é previsível na nova tabela, onde o U6+
A separação dos cátions da tabela e a conside- localiza-se na faixa azul e verde dos cátions duros
ração do potencial iônico mostram porque alguns relativamente solúveis de alto potencial iônico e o
cátions têm sido extensivamente utilizados na ava- Th4+ encontra-se na faixa vermelha e marrom dos
liação de condições paleoredox. Por exemplo, Fe e íons relativamente insolúveis de potencial iônico
Mn têm sido utilizados em estudos geoquímicos intermediário.
de oxidação e redução (p.ex., Hem 1972), porque
eles são decididamente os elementos mais abun- De silicatos a selenitos
dantes que formam os cátions não duros. Eles são
Como já discutido, o Si4+ está localizado no
assim os elementos mais abundantes que podem
limite entre cátions de potencial iônico interme-
sofrer mudanças de uma unidade no estado de
diário a alto na nova tabela. Um resultado é que o
oxidação (p.ex., entre 2+ e 3+ para Fe). Em con-
Si4+ é um dos poucos cátions que forma ambos,
dições oxidantes eles são íons pequenos altamente
óxidos (quartzo) e oxissais (os muitos silicatos). V3+
carregados (= 3+) que são insolúveis por causa de
e Mo6+ são cátions duros com aproximadamente
seu alto potencial iônico e resultante formação de
o mesmo potencial iônico, e eles também formam
hidróxidos. Em condições redutoras, eles são íons
óxidos (shcherbinaíta e molibdita) e oxissais (os
menos carregados (2+) e maiores, que desta forma
vanadatos e molibdatos). Se for seguido o contorno
têm potencial iônico menor e são solúveis. O Fe,
para z/r = 8 destes cátions duros para os cátions
consequentemente, se comporta como o íon Al3+
moles e intermediários (Fig. 1), chega-se ao Se4+,
formador de solos e óxidos, quando oxidado a Fe3+,
que analogamente forma um óxido (downeyita) e
mas se comporta como o “intemperizável” e solúvel
oxissais (os selenitos). Como Si4+, V5+ e Mo6+, o
íon Mg2+, quando reduzido a Fe2+.
Se4+ é também um cátion essencial à nutrição dos
O Ce é menos abundante que o Fe e Mn,
vertebrados (McDowell 1992, Sunde 1997). Estas
mas por outro lado é análogo porque precipita em
similaridades ilustram a continuidade das tendên-
sólidos quando oxidado a Ce4+, mas é mais solúvel
cias ao longo dos contornos de igual potencial ao
como Ce3+. Isto fornece um indicador de oxigena-
longo da tabela. A principal diferença no compor-
ção em oceanos modernos (de Baar et al. 1988) e
tamento do Se é que este forma cátions com vários
antigos (Wright et al. 1987). Ce3+ e Ce4+ também

80
TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012 Raquel Franco de Souza, L. Bruce Railsback

são reconhecíveis com as tabelas periódicas organi-


elétrons nas camadas externas e assim existe tanto
zadas convencionalmente com base nos elementos.
como Se6+ bem como Se4+. O Se6+ também forma
minerais oxissais (os selenatos) e é importante na
nutrição, mas exatamente como seria esperado, AGRADECIMENTOS
seguindo-se o contorno de mesmo potencial para A preparação da Figura 1 – Tabela Periódica foi
z/r = 16 do P5+ e S6+ nos cátions duros (Fig. 1), realizada durante os anos de 2009 e 2010, com a
o Se6+ não forma óxidos. Uma abordagem mais valiosa colaboração de Dayvison Bruno Cordeiro
detalhada acerca dos padrões na composição de de Paiva (Estudante de Graduação do Curso de
oxissais e sulfossais, bem como sobre a natureza Geologia – Centro de Ciências Exatas e da Terra
paradoxal do quartzo, pode ser encontrada em – UFRN) e Ítalo Guimarães Medeiros da Silva
Railsback (2007). (Estudante de Graduação do Curso de Química –
Centro de Ciências Exatas e da Terra – UFRN), a
O papel singular do cloreto – “Faz de tudo um quem expressamos nossos agradecimentos.
pouco, mas nada direito”
O Cl- não é abundante como o F- na crosta, REFERÊNCIAS
mas Cl- é mais abundante que o F- na maior par-
Bernal J.P., Railsback L.B. 2008. Introducción
���������������������
a la Ta-
te das águas naturais. A razão para este paradoxo bla Periódica de los Elementos y sus Iones para
pode ser vista na nova tabela. O Cl- ocupa uma Ciencias de la Tierra. Revista Mexicana de Ciencias
posição intermediária entre os ânions à direita da Geológicas, 25(2):236-246.  
tabela, de forma que coordena com cátions duros Cartledge G.H. 1928a. Studies on the periodic sys-
para formar minerais solúveis como silvita e halita tem. I. The ionic potential as a periodic function.
e coordena com cátions moles para formar mine- Journal of the American Chemical Society, 50(11):
rais relativamente raros como clorargirita (AgCl) 2855–2863. 
(Fig. 1). Por comparação, F- se liga com os cátions Cartledge G.H. 1928b. Studies on the periodic sys-
duros com força suficiente para formar minerais tem. II. The ionic potential and related proper-
ties. Journal of the American Chemical Society, 50(11):
insolúveis como fluorita e assim é sequestrado por
2863–2872.
estes, deixando relativamente baixas concentrações
Courtney A.1999. A brief history of the development of the
nas águas naturais. O Cl-, em contraste, não se periodic table. http://www.wou.edu/las/physci/
liga fortemente nem com os cátions duros, nem ch412/perhist.htm.
com os moles, formando assim apenas minerais Dabous A.A., Osmond J.K. 2000. U/Th study of spe-
relativamente solúveis (inserção 8). Desta forma, leothems from the Wadi Sannur Cavern, Eastern
pode atingir altas concentrações em águas naturais Desert of Egypt. Carbonates and Evaporites, 15: 1-6.
e comumente só precipita quando ele (Cl-) e um De Baar H.J.W., German C.R., Elderfield H., van
cátion fracamente ligado, Na+, finalmente adqui- Gaans P. 1988 Rare earth element distributions in
rem saturação com respeito à halita. anoxic waters of the Cariaco Trench. Geochimica
et Cosmochimica Acta, 52: 1203-1219.
Edwards R.L., Chen J.H., Wasserburg G.J. 1987.
CONCLUSÃO 238
U-234U-230Th-232Th systematics and the precise
measurement of time over the past 500,000 years.
A organização na Tabela Periódica dos Elementos Earth and Planetary Science Letters, 81: 175-192.
e seus Íons para Cientistas da Terra, de acordo com a Farber E. 1969. The Evolution of chemistry. New York:
carga, produz um arranjo mais útil para reconhecer Ronald Press. 437p.
as tendências geoquímicas que o da tabela periódica Gaines R.W., Skinner H.C.W., Foord E.E., Mason R.,
convencional. Estas tendências em mineralogia, Rosenzweig A. 1997. Dana’s new mineralogy (eight
geoquímica das soluções aquosas, petrologia ígnea, edition). New York: John Wiley and Sons. 1819 p.
geoquímica do manto, química do solo e sedimen- Goldschmidt V.M. 1937. The principles of distribu-
tos, e química dos nutrientes são largamente con- tion of chemical elements in minerals and rocks.
troladas pela coordenação de cátions com O2-. Esta Journal of the Chemical Society, 655–673. The se-
venth Hugo Müller Lecture delivered before the
síntese da geoquímica do manto ao solo à água do
Chemical Society on March 17th, 1937.
mar fornece a estrutura para entender os sistemas Hem J.D. 1972. Chemical factors that influence the
da Terra e predizer relações geoquímicas que não availability of iron and manganese in aqueous

81
Uma Tabela Periódica dos Elementos e seus Íons para Cientistas da Terra TERRÆ DIDATICA 8(2):73-82, 2012

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