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O

CONSUMO:
UMA PERSPETIVA SOCIOLÓGICA
RECENSÃO CRÍTICA




ANA SOFIA PEDROSA


37448
CPRI
Ana Sofia Pedrosa |37448 - O Consumo: uma perspetiva sociológica

O CONSUMO:
uma perspetiva sociológica

Ana Sofia | 37448 | CPRI

Trabalho realizado na cadeira de


Sociologia, proposto pela Professora:
Antónia Barriga.

Covilhã 2016/2017

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Ana Sofia Pedrosa |37448 - O Consumo: uma perspetiva sociológica

Índice

Introdução ................................................................................................................ 4

O Consumo: Uma perspetiva Sociológica ................................................................... 5


1. Introdução ................................................................................................................ 5
2. A Sociologia do Consumo: correntes e reflexões ........................................................ 5
3. Do substrato teórico ao agente social: a escolha de uma perspetiva ......................... 6
4. Desenho da pesquisa ................................................................................................ 7
a. Modelo de análise ....................................................................................................... 7
b. Objeto e Objetivos da pesquisa .................................................................................. 8
c. Metodologia e Amostra .............................................................................................. 8
5. Resultados ................................................................................................................ 9
6. Conclusão ............................................................................................................... 10

Segundo outros Autores .......................................................................................... 10


• Bourdieu ................................................................................................................. 11
• Baudrillard .............................................................................................................. 12
• Bauman .................................................................................................................. 14

Conclusão ................................................................................................................ 16

Webgrafia e Bibliografia .......................................................................................... 17


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Introdução

Este trabalho consiste numa recensão critica do trabalho realizado para a cadeira
de Sociologia, com o tema O consumo: Uma perspetiva Sociológica, proposto pela
professora Antónia Barriga.

O tema deste consiste num estudo realizado pela Mestre em Sociologia, Raquel
Ribeiro, para o VI Congresso Português de Sociologia, com a temática Classes,
Desigualdades e Politicas Publicas.

Assim, o estudo tem como principal objetivo de identificar quais os consumos


que servem, no quotidiano dos indivíduos, de fronteiras preceptivas entre os estratos
sociais, ao mesmo tempo que tentam compreender os processos que subjazem à
escolha e utilização desses consumos, nas suas diversas aceções. Com isto, visa-se
encontrar os critérios utilizados pelos indivíduos aquando da estratificação da
sociedade.

Com isto, a partir de três textos de Bourdieu, Baudrillard e Bauman, é pretendido


refletir sobre a evolução do consumo econômico e cultural como forma de distinção
entre as classes sociais no decorrer do século 20. Assim, serve como exercício de análise
de pontos em comum entre esses autores, em suas reflexões sobre os usos e posses de
objetos e crítica à definição dos status social.

Em suma, esta recensão vai primeiramente resumir o trabalho apresentado em
aula. De seguida vai haver uma refutação da opinião acerca da estratificação da
sociedade, nomeadamente em Portugal assim como os critérios utilizados para tal.

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O Consumo: Uma perspetiva Sociológica


1. Introdução

O fenómeno do consumo, é caracterizado pelo aumento de rendimentos e pelo
constante aumento da oferta, tendo-se tornado um dos pontos fulcrais da nossa
sociedade e como tal torna-se importante o estudo deste fenómeno na sua vertente
mais sociológica. Esta procura perceber o porquê, o quê, para quê, por quem e para
quem cada um de nós consome. Podemos então, definir consumo como “qualquer
atividade envolvendo a seleção, compra, uso, manutenção, reparação e destruição de
qualquer produto ou serviço”. Podemos ainda identificar no consumo vertentes
inerentes à natureza humana como a satisfação de necessidades ou desejos, de
comunicação de superioridade e distinção social, e até de demonstração de sucesso e
de poder.
Afim de melhorar o conhecimento acerca da sociedade de consumo foi realizado um
estudo, da autoria da Mestre Raquel Ribeiro, para o VI Congresso Português da
Sociologia, tendo como temática principal as classes, as desigualdades e as politicas
publicas da nossa sociedade.

2. A Sociologia do Consumo: correntes e reflexões



Após a observação daquilo que foi a evolução da sociologia do consumo torna-se
possível identificar 3 perspetivas relativas a este tema.
Temos, assim a Teoria da ação racional aplicada ao consumo. Esta teoria considera
que o consumo é uma escolha do foro pessoal e utilitário sendo que quem o realiza tem
a plena noção das vantagens e desvantagens do que escolher e como tal irá decidir por
aquilo que lhe trouxer mais benefícios. Resumindo, o consumo nesta vertente é o fruto
de uma intenção consciente de realizar um comportamento, neste caso, numa intenção
consciente de consumir.

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De seguida existe a Teoria da estrutura social na determinação das escolhas de


consumo. Esta, por sua vez, é a que se tem revelado mais influente até aos dias de hoje,
definindo o consumo como fruto não só da nossa vontade pessoal, mas como um
produto social.
Podemos ainda encontrar nesta corrente duas preocupações principais quanto à
problemática do consumo, ao seu cariz estruturalista assim como à atribuição de
significados e simbologias nas escolhas consumistas de cada um.
O Cariz estruturalista, considera-se o consumo como um ponto da “mecânica social”
levando os indivíduos consciente ou inconscientemente a submeter as suas ações,
inclusive o da ação de consumo, às imposições socias. Vê-se no consumo um cariz
estruturalista que visa perpetuar as classes e estatutos sociais.
Relativamente à Atribuição de significados e simbologias ao consumo. Para além
do referido anteriormente, é possível verificar a maneira como muitas vezes atribuímos
um significado simbólico, socialmente determinado, ao adquirir um determinado bem
e nos focamos nisso ao invés de no propósito básico e prático do mesmo.
Por fim, o Pós-Modernismo que tem como característica principal a maneira como
trata o consumo vendo-o como um instrumento de afirmação pessoal e de realce
daquilo que é o papel criativo e libertador que o consumo pode assumir face ao sufoco
social. É o consumo como expressão daquilo que são as nossas preferências pessoais.
Em suma, não podemos limitar o ato de consumo a apenas uma visão, precisamos
de ver se o ato de compra se trata de uma manifestação de necessidades e desejos,
caráter instrumental, se se trata de um marcador de sucesso, de poder e de distinção
social, carater informativo ou se se trata de um ato que tem por vista a comunicação de
simbologias como o estado de espírito e a identidade pessoal do individuo.


3. Do substrato teórico ao agente social: a escolha de uma perspetiva



Posto isto, ao analisar autores como Veblen concluímos que a estratificação social
é um vetor de analise de grande importância na temática de Consumo uma vez que
admite que a aquisição, posse e exibição (ou ocultação) de bens representa uma das

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formas de exibir o Status Social. Sendo que a vontade ou a pertença a um estatuto ou


classe social influencia as decisões de consumo.
A maneira como se define o Status Social varia consoante as correntes Sociológicas
e os autores, com isto tomemos o exemplo de autores como Goldthorp ou Olin Wright
que utilizam a Profissão, o Nível de Escolaridade e a Pose de Meios de Produção como
critérios para definir a estratificação Social, ignorando, assim, o Rendimento bem como
o consumo de Bens e Serviços.
Nos dias de hoje, em pleno seculo XXI, é difícil encontrar os símbolos utilizados para
definir o Status Social, uma vez que estes são meros exemplos de consumo com poder
simbólico, discriminatório e informativo. Posto isto temos, Profissões, Graus de
instrução, Habitações, Automóveis, Destinos de férias e Colégios para os filhos...
Ao analisar a Sociedade Portuguesa verificamos que existe pouca informação sobre
os critérios a destacar neste campo. No entanto, existem vários estudos sobre a
distribuição dos estratos ou classes sociais, bem como a sua caracterização em termos
de educação, rendimentos ou posses. Assim, os atributos objetivos utilizados para
separar as classes são o Dinheiro, a Propriedade, a Educação e a Profissão.
Todavia, a Sociologia não se deve focar apenas nos estudos e pesquisas, devendo
partir, assim, para uma abordagem mais empírica sobre esta temática. Ao contrario do
Agente Social que se baseia apenas no senso comum e nas vivencias do seu quotidiano.
Em suma, podemos identificar como objetivo principal da investigação a tentativa
de responder à questão: Quais são na atualidade os consumos discriminatórios que
distinguem nivelarmente uns indivíduos de outros?

4. Desenho da pesquisa

a. Modelo de análise
No consumo conjugam-se variáveis de cariz sociocultural, demográfico, político
e económico. Desta forma, o consumo tem três funções principais: a função social, a
privada e a identitária, que têm origem em 3 mecanismos diferentes.

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Existe, assim, a experimentação, em que a influência social existente não é


absolutamente vinculada; de seguida, a aprendizagem, caracterizada pela existência de
hábitos; e a reprodução social que se foca na preservação ou aumento, do nível de
status social.
Podemos assim constatar a maneira como as funções do consumo apresentam
diferentes orientações: A função social tem como objetivos e resultados a diferenciação
social (eventualmente sob a forma de dominação), a pertença a um determinado grupo
e a comunicação de gostos e preferências pessoais. A função identitária tanto acarreta
e suporta consequências sociais (mostrar aos outros como sou) como consequências
privadas (satisfazer o que sinto), sendo que a sua associação mais importante com este
fenómeno se faz sobretudo por via do “autoconceito”. E a função privada, opera
principalmente ao nível da funcionalidade estrita ou da criatividade e emotividade.

b. Objeto e Objetivos da pesquisa


Os marcadores sociais contemporâneos de diferenciação entre estratos
(também conhecidos por “fronteira delimitadora”) tornam-se, assim, o objeto de estudo
da pesquisa uma vez que encontramos no consumo um papel preponderante na
construção dessa fronteira; O objetivo do estudo é, assim, perceber o que é que o
agente social entende por conceito de “estrato” ou “classe” social e identificar os
indicadores relevantes para a formulação destas distinções.

c. Metodologia e Amostra
Uma vez que foi constatado que uma abordagem qualitativa era a que faltava
neste campo decidiu-se realizar entrevistas a inquiridos com o intuito de explorar toda
esta temática do consumo como forma de influência e distinção social. Deste modo, a
população a estudar incluiu indivíduos entre os 18 aos 45 anos (em três fases da vida
distintas: construção de identidade sem recursos financeiros próprios; construção de
identidade com recursos financeiros próprios e consolidação de identidade) e focou-se

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em duas cidades diferentes Lisboa e Leiria de modo a também assim comparar a forma
como o meio onde o individuo está inserido altera a sua perceção desta problemática.

5. Resultados

Após a realização dos inquéritos verificaram-se pontos interessantes como o facto
da Igualdade de direitos da população em geral ser percecionada como razoavelmente
elevada nas duas cidades, contrariamente à opinião em relação à igualdade de
oportunidades que se mostra baixa. Podemos, assim, concluir que, no ponto de vista da
população inquirida, direitos iguais não se traduzem necessariamente em
oportunidades iguais.
Foi também alvo do estudo a evolução da igualdade nos últimos 20 anos sendo
que se concluiu que a igualdade entre sexos e de acesso à educação foram aquelas que
mais aumentaram e que por outro lado, a igualdade económica é aquela em que se
verifica uma diferença de opiniões mais acentuada entre os dois meios estudados com
os inquiridos de Lisboa a considerarem que existiu uma maior evolução neste campo do
que os inquiridos de Leiria.
Por fim, e como temática principal do estudo, encontramos a análise daqueles
que são os critérios mais significativos para a distinção entre classes e de que modo o
consumo se enquadra nesta temática. Ficamos a saber que, para a amostra de estudo
de Leiria, é dada uma maior importância ao consumo e posse de bens aquando da
diferenciação de classes sociais do que para a amostra de estudo de Lisboa que, por sua
vez, considera o mérito (expresso maioritariamente através do sucesso escolar e
profissional) como o principal indicador de superioridade social.


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6. Conclusão


Após analisar os resultados podemos considerar que a estratificação social é um
tema muito importante para os agentes sociais, uma vez que estes são seres conscientes
que existem desigualdades (especialmente económicas) e disparidade de direitos e
oportunidades na sociedade portuguesa, devido à crise entre outros.
Assim, os resultados apontam para uma maior importância do saber, do
conhecimento e do mérito (académico e profissional) numa cidade maior, enquanto que
num meio menor o destaque dado ao consumo e às suas manifestações adjacentes
(marcas, lojas, locais frequentados) é superior. Aceitando-se que o pensamento das
cidades maiores pode ser assumido como precursor das tendências nacionais, logo os
consumos relevantes para a estratificação poderão vir a ser, no futuro, sobretudo no
foro cultural, tecnológico e escolar (e menos do foro “material”), a confirmarem-se os
pressupostos e os resultados preliminares do presente estudo.

Segundo outros Autores



Com a intenção de aprimorar a informação presente no nosso trabalho, foi
encontrado um artigo, “Bourdieu, Baudrillard e Bauman: O Consumo Como Estratégia
de Distinção”. O presente ensaio tenta fazer aproximações entre três teóricos da
sociologia que discutem questões do consumo estratificado em classes sociais. Em
outras palavras, é um olhar bastante circunstancial sobre apenas alguns pontos das
teorias de Pierre Bourdieu, Jean Baudrillard e Zygmunt Bauman.

Aqui, os textos que aqui serviram de referência analisam principalmente o


comportamento da classe média: da motivação das escolhas, do gosto, às
consequências do consumo realizado por determinado estrato social. Os pontos
convergentes e divergentes nos textos escolhidos desses teóricos serão delineados,
enquanto tentamos definir um caminho que mostre a evolução do consumo de objetos
como elemento de distinção social e símbolo de pertencimento a grupos sociais.

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• Bourdieu

Pierre Bourdieu parece lançar um olhar mais panorâmico sobre a construção do
gosto da classe média. Sem ter um caráter histórico, aborda o momento de emergência
de uma classe “pequeno-burguesa”, composta por trabalhadores de outras áreas que
não as fábricas. Assim, coloca em comparação com essa classe média, as classes alta e
baixa, assim como os diferentes modos de aquisição de cultura – o gosto estético,
principalmente – são resultado de gostos próprios das classes, local onde as escolhas
são também constituintes de diferenciação.
Pierre Bourdieu afirma que o habitus, princípio gerador de todas as práticas,
reside no gosto individual, mas acaba por se assemelhar entre todos os membros de
uma mesma classe: o habitus define, portanto, os estilos de vida das classes sociais. Para
o sociólogo, é possível identificar então uma repetição nos padrões de escolha dos
indivíduos: cada esfera do estilo de vida ¬–uma prática social, um objeto consumido, ou
uma propriedade – é representante quase sempre também de outra esfera. No limite,
pertencer a um grupo significaria excluir tudo o que pertence a outro grupo, e o
conjunto de escolhas passa a ser similar a toda uma classe.
Os gostos, assim como as necessidades, variam conforme o nível econômico.
Enquanto as classes mais baixas têm como estilo de vida a realização das necessidades
básicas do mundo, as classes mais abastadas, que possuem melhores condições de
satisfazer essas prioridades, buscam necessidades que, para os menos favorecidos, são
luxos irrealizáveis. Esses luxos são objetos de conforto que se tornam necessidade. As
práticas realizadas nessas condições se constituem “numa experiência liberada da
urgência e na prática de atividades que tenham nelas mesmas sua finalidade”
(BOURDIEU, 1983: p.87).
Para além disto, Bourdieu avança com uma crítica ao consumo cultural. Para o
autor, as classes médias distanciam-se do consumo de uma produção simbólica massiva
em busca do que seria uma “arte legítima”. No entanto, na falta de subsídios para
compreender as vanguardas artísticas, satisfazem-se em adquirir essas competências
(ou parte delas) na escola, nos meios de comunicação ou na vivência de experiências –
o que tornaria o conhecimento incompleto. “As diferentes classes sociais se distinguem
menos pelo grau em que reconhecem a cultura legítima do que pelo grau em que elas a

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conhecem” (BOURDIEU, 1983: p.94), isto é, apesar de não entender o sen do da obra,
essas classes reconhecem que elas são importantes.
A hierarquia social a que Bourdieu se refere não é somente aquela que define
estratos amplos como classes alta, média e baixa: dentro dessas estratificações, é
possível ainda identificar uma elite, que domina determinado campo de produção
artística.
Em suma, o principal de Bourdieu são as formas de apropriação cultural da classe
pequeno-burguesa: ao mesmo tempo em que ela se afasta da conformação e
hedonismo das classes populares, tenta-se aproximar das classes altas, das vanguardas
e do consumo do que é “tradicionalmente bom”. Na ausência de uma competência
natural para realizar essa apropriação, o pequeno-burguês acaba frequentando círculos
e consumindo objetos mais próximos de sua própria realidade. Importa, também, a
atualidade dos objetos e serviços consumidos, pois o velho significa perda de status.


• Baudrillard

Jean Baudrillard, percorre um caminho análogo, porém sem olhar diretamente
para o momento de emergência da classe média. Baudrillard acresce à discussão
elementos que se aproximam da semiologia, ao tentar definir os diferentes significados
que os objetos assumem de acordo com a classe social estudada. Assim como em
Bourdieu, encontramos o consumo material como elemento diferenciador, ou, mais que
isso, de exclusão.
Baudrillard, para falar do consumo na era moderna, afirma que desde sempre o
consumo de bens é fruto de uma diferenciação, “é uma função social de pres gio e de
distribuição hierárquica” (BAUDRILLARD, 1996: p.10). O valor de troca supera a simples
necessidade, o valor de uso, fornecendo a possibilidade de distinção social e de uma
ideologia a ela ligada. Assim, o objeto não é somente uma função da necessidade:
traduz-se numa verdadeira análise que tem em conta os motivos da sua existência, o

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significado atribuído à troca: “o valor de troca-signo é fundamental” (BAUDRILLARD,


1996: p.10).
De certa forma, Baudrillard aproxima-se do conceito de Bourdieu de necessidade básica:
o objetivo não é simplesmente a satisfação dessa necessidade, é antes o local de uma
produção, para satisfazer demandas que surgem (como novas) conforme se ascende na
escala social. Assim, é necessário levar em conta, não apenas os objetos que uma classe
tem em comparação à outra, mas também a quantidade e, mais importante, a qualidade
desse objeto, sua disposição e qual a o uso final dado a ela.
Nessa perspetiva, Baudrillard aponta que não é possível, portanto, atribuir
diretamente um objeto a uma classe social. Assim, são identificados dois grupos: um de
pertença, que usa o objeto como que por direito adquirido, e o de referência, que olha
para o primeiro grupo e tenta se assemelhar ou diferenciar, promovendo daí um jogo
de distinção e conformidade.
Para Jean Baudrillard, os objetos – e os usos a eles atribuídos – são signos de uma
pretendida ascensão social, uma necessidade de pertencimento a um grupo. Pela lógica
capitalista, essa é a força motriz que permite as realizações e invoca o consumo como
elemento de progresso. O teórico, no entanto, alerta que essa busca por mobilidade
revestida nos objetos apenas oculta um movimento cíclico que, ao invés de permitir,
bloqueia uma subida na escala social. Os motivos são variados, sendo que o principal é
a constante renovação dos objetos.
Por fim, o principal ponto de aproximação entre Baudrillard e Bourdieu fica por conta
das estratégias de consumo (de objetos ou de arte) como estratégias também de
diferenciação. Se Bourdieu fala de uma cultura “por direito” oposta a uma cultura
referenciada, Baudrillard enxerga nos meandros dessa oposição os sinais de embate, se
não de uma luta de classe, de uma perspetiva de movimentação, de “progresso
capitalista” entre as classes sociais. E, como determinante das diferenças, o objeto pelo
qual os significados são adquiridos: para Bourdieu, por exemplo, não importa que as
classes alta e média frequentem o teatro, uma vez que o tipo de aproveitamento, as
preferências entre as obras, serão diferentes. O mesmo se daria no consumo dos
objetos. E aqui Baudrillard acrescenta bastante, ao afirmar que é importante analisar
como cada indivíduo usa o objeto.

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• Bauman

Zygmunt Bauman, vem atualizar e complementar os outros dois autores.
Bauman é um sociólogo da atualidade, que olha para a modernidade tardia (ou
modernidade líquida, para usar o termo dele) com grande realismo e, muitas vezes, com
um tom pessimista. O sociólogo polonês observa uma situação estabelecida, em que o
consumo deixa de ser meramente um elemento de distinção para ser o elemento de
inclusão por excelência: se a modernidade traz vários problemas consigo, o consumo
traduz-se na única solução (ou única via saída). Assim, tudo se torna ainda mais
transitório, e consequentemente mais descartável.
Primeiro há que fazer referencia ao conceito de “Eternidade Liquida”, que se traduz no
conceito de infinidade que norteou as ações humanas durante muitos séculos, inclusive
na passagem da idade média para a era moderna. Assim, começa a desaparecer junto à
importância da religião, da família, e de outros sistemas de controle social. A segurança
oferecida pelo eterno começou a ser corroída pela modernidade, “quando os seres
humanos se puseram a ‘derreter tudo que é sólido’ e a ‘profanar tudo que é sagrado”,
(BAUMAN, 2004: p.119).
Assim, esse desmanche leva à fase líquida da era moderna, em que a vida
individual se carrega de importância e passamos a viver numa transitoriedade universal.
Pois, ao analisar a contemporaneidade, Bauman nota que vivemos um ritmo vertiginoso
de renovação, que envelhece os objetos mesmo antes deles saírem da fábrica: tudo tem
data de validade. E isso vale tanto para os objetos como para um movimento cultural,
uma obra de arte, uma relação comercial, ou entre países, e mesmo uma relação
amorosa. “O ritmo vertiginoso da mudança desvaloriza tudo o que possa ser desejável e
desejado hoje, assinalando-o desde o início como o lixo de amanhã, enquanto o medo
do próprio desgaste que emerge da experiência existencial do ritmo estonteante da
mudança instiga os desejos a serem mais ávidos, e a mudança, mais rapidamente
desejada...” (BAUMAN, 1996: p.135)
Para Bauman, viver na modernidade líquida significa não ter hábitos, não estar
preso a passados e ter ‘identidades mutáveis’, que podem ser ‘trocadas’ quando em
desuso ou fora de moda. A cultura líquido-moderna é uma cultura da descontinuidade
e do esquecimento, que deixa para trás o saber e a acumulação. Não há espaço para

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ideais. E, mais intrigante, manter- se atualizado, não ser redundante, é o único modo de
se manter afastado do caminho ao lixo. Ter o último produto, a última moda, assistir ao
que todos assistem, considerar belo aquilo que a maioria gosta, são atitudes comuns na
era líquido-moderna para combater o medo da rejeição.
Concluindo, para Bourdieu, as classes mais abastadas, que superaram as
necessidades mundanas, usam o consumo de supérfluos como elemento de distinção e
distanciamento social; já para Bauman, isso é uma forma de combater o medo de
rejeição por usar algo que já é ultrapassado. Para Baudrillard, “a inovação formal em
matéria de objetos não tem como m um mundo ideal dos objetos, mas um ideal social –
o das classes privilegiadas, e que é o de reatualizar perpetuamente o seu privilégio
cultural” (BAUDRILLARD, 1996: p.31). Em nota o autor afirma que... “a inovação técnica
– real – não tem como fim uma economia real, mas sim o jogo da distinção social”
(BAUDRILLARD, 1996: p.33); para, então, terminar no lixo.

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Conclusão
Com esta recensão critica consegui aprofundar os meus estudos acerca do tema
consumo, como elemento crucial para a estratificação da sociedade.

Depois de aprimorar os resultados obtidos no estudo realizado no meu trabalho
apresentado na aula, posso concluir que a temática sociedade de consumo é um tema
que está sempre a evoluir, modificando, assim, os seus fatores e objetos de estudo.

Assim, após ver as obras de três grandes sociólogos, Bauman, Baudrillard e
Bourdieu é possível refletir sobre três pontos de vista sobre os símbolos de estratificação
da sociedade em pleno seculo XX.

Por fim, foi muito importante a realização deste trabalho, não só para melhorar
os meus conhecimentos na área da sociologia, assim como perceber a evolução da
mentalidade da sociedade no que toca ao Status Social e à importância dade às Classes
Sociais.

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Webgrafia e Bibliografia
• BAUMAN, Zygmunt. A cultura do lixo. Em: Vidas Desperdiçadas. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 2004, pág.117-164.
• BAUDRILLARD, J. Função-signo e lógica de classe. Em: A Economia Política dos
Signos. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1996. Pág. 9-49.
• BOURDIEU, Pierre. Gostos de classe e estilos de vida. Em: ORTIZ, Renato (org).
Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983. pag. 82-121
• Revista Novos Olhares - Vol.1 N.1 “Bourdieu, Baudrillard e Bauman: O Consumo
Como Estratégia de Distinção”

(consultado a 26/11/16)
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Estratificação_social
• http://cafecomsociologia.com/2010/07/estratificacao-social-parte-1.html
• https://pt.wikipedia.org/wiki/Sociedade_de_consumo
• http://lounge.obviousmag.org/de_dentro_da_cartola/2013/11/zygmunt-
bauman-vivemos-tempos-liquidos-nada-e-para-durar.html

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