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O Brasil ea Ordem Internacional Pés-Golfo Celso L. N. Amorim Introdugso ‘ornou-semodanos ditimos tom- ‘pos, em fungéo sobretudo dos trabalhos de Francis Fuxuye- ma, falar-se do fim da Hist Maisrecentemante, estavoga setemtradu- ido na nogao de quese criou cuestariaem Via de se criar uma nova ordem intornacio- nal que, coincidinde com o fim do miénio, ‘nos anuncia uma era de paz, establidace, auséncia de confitos @ mudangas mera- mente incrementais. Antes do tratar de alguns aspectos da realidade internacional ‘que, a meu ver, nos fazem considerar essa visdo idlica, no minimo cum grano sais, ‘gostariade lemisraruma passagemde Ana- {ole France que nos pode ajudar a colocar em perspectiva algumas das afirmagses, mais retumbantes do jovem fiésofo neo- hegeliano e consultor do Departamento de Estado americano. Em um trecho do seu colebrado artigo,t Fukuyama nos diz que, ao falar do fim da Historia, ele tem presente 2s sociedades avangadas, 0 mainstream da civlizagao. Para ele, ¢ crelo citar quase textualment, "o que um grupo de fanéticos ideolégicos pode estar perisando em Burkina Faso ou ‘na Abéniasimplesmente ndotemimportan- cia". No conto "O Procurador da Judéia’, ‘Anatole France reproduz uma longa con: Versa entre dois patricios romanos quo, j& ‘epesentadce do avas atividades de Eotado, freqdentavam os mesmos banhos. Umde- les, o interlocutor de Poncio Platos, relar- braspisédiode suapassagempelaGalisia, ‘cujas mulheres tinham dosportado a sua sensibilidade. Uma delas, diz oe, talvez a mais togosa e atraente, havia-se juntado a tum bando de misticos, liderados por um tanético religioso. O interlocutor de Poncio Piiatos procura estimular sua meméria @ refere-senominalmenteaJesus de Nazaré, Atals invocag6es, Péncio Pilatos responde demaneica simples epossivelmentedecep- cionanteparasauinterfocutor: "Jesus, Jesus do Nazaré? Nao me recorce™. Para alom do sentido ostioo 0 rolativata, cob © Sngulo individual, quetenha querido enfatizar Ana- tole France, essa pequena obra prima nos. cchama a atangéo, também, para outro ré- lativismo de que os historiadores, sobretudo os flésofosda Hist6ria, nom sempre se dio conta, Certamente, para um patricio roma- no vivendo no fastigio do império, aHistoria haviaacabado,e oque aconteciaemlongin- ‘quas provincias de Roma, como a Galiéia, ‘no tinh a menor importancia, De uns anos para cd, um neoiogismo ‘comagou aaparocernas refloxdes sebre as relagbes internacionais. Trata-se do termo ‘decoupling, que poderiamos traduzir, de- pendendo do nosso purismo, como dasengajamento, desengatamento ou sim CCONTEXTO INTERNACIONAL a do Jena, vl 13,1, janiun, pp. 2598 25 plesmente, naforma provavelmentemenos \vernécula, “desacoplamento”. No final da década de 70 ¢ inicio da de 80, esse termo i emprogado para dofinir uma visio es- tratégica que entéo so formava o que tina ‘como elemento central a separago dos efetivos miltares europeus do ecuilorio global entre as superpotdncias. Sem pre- tender sar absolutamente originalno uso da expresso, quero submeter Aconsideragio dos ietores a id6ia de que temo assstido ‘Nos Gitimes anos a uma série de "desaco- plamentos” na estrutura internacional que oderao ser rasponsavels polo fortalec:- mento de tendéncias contrarias a uma or- demestavele 20 mesmo tempo satistatoria para a maioria dos atores. © primeiro desses desacoplamentos foi assinaiado por Peter Drucker em impor- tante artigo escrito em 1986,*para arovista Foreign Affairs diz respeito& progressiva separagio do que denorninou a economia simbélica da economia real. Taivez se pos- sadizercommaiorpropriedade que strata aquide terpresente.o papelcada vez maior doconhecimentocientticaetecnol6gico na rodugao, a tal ponto que o aumento do valor agregado de cartos bens @ servigos ‘nao acarreta, necessarlamente (cortamente do acarreta na mesma proporgio), um aumentonademanda porrecursosnaturais @ insumos industriais tracicionais.* N&o é toaqueaprioridade dos paises maisavanca- dos, especialmente os Estados Unidos, se ‘desiocou, em matéria de negociagbes co- rmerciai, do intercmbio de bens para os ‘serviges 0, mais recentemente, ¢ deforma ‘cada vez mais acentuada, para a pro- Prledade intoloctual. Sem entrar no mento ‘das reformas que ora se proptem em vari- ‘ospalses nesse ditimocampo, néo héicomo

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