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1 Regra única
A crase, indicada pelo uso do acento grave (`), é a fusão da preposição
a com outra letra a, que pode ser um artigo feminino, pronome
demonstrativo, a letra inicial de aquele e variações ou ainda o a do
pronome relativo a qual.
Embora se tente memorizar a maior quantidade possível de regras de
crase, trata-se de uma só regra: preposição a e um segundo a que
normalmente é artigo definido feminino. De tal sorte, só se registrará
o acento indicativo de crase se houve a fusão de duas vogais a.
Isso implica afirmar que, na prática, o que se deve fazer é verificar a
existência dos dois elementos formadores da crase. Se, por exemplo,
não houver a preposição a, é impossível a ocorrência de crase. Vejam-
se as seguintes frase.
O corregedor visitará as unidades administrativas na próxima semana.
Conhecendo as agruras da profissão, ele se resignou.
O Supremo Tribunal Federal julgou a lei inconstitucional.
Tome nota!
Como se vê, a simples presença de preposição diversa da
preposição a inviabiliza a ocorrência de crase. Assim, convém que
sempre se tenha à mente as preposições essenciais: a, ante, após, até,
com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob,
sobre, trás.
2 Método prático
A crase é um fenômeno eminentemente feminino, dado que implica
normalmente a presença da preposição a e um artigo definido feminino
logo em seguida.
O método prático se baseia na substituição da palavra feminina (antes
da qual se tem dúvida acerca da ocorrência de crase) por uma palavra
masculina de sentido aproximado. A preposição a é invariável e não
sofrerá alteração alguma; já o artigo assume a forma masculina o.
Desse modo, a crase (à) equivale à forma ao, no masculino.
O atendimento a demanda não é possível neste momento.
(Ocorre crase?)
O atendimento ao pedido não é possível neste momento.
O atendimento à demanda não é possível neste momento.
(Com crase no feminino.)
Tome nota!
Embora o emprego desse recurso seja bastante difundido, convém
ressaltar que - como ocorre com todo método prático - trata-se de uma
simplificação do fenômeno real da crase, de sorte que pode haver
situações em que o procedimento falhe.
Em vista disso, apresenta-se, a seguir, metodologia analítica, a qual é
mais fiel ao processo de formação da crase.
3 Método analítico - Preposição A
O método analítico, conforme o nome sugere, consiste em analisar a
estrutura da frase em busca dos elementos formadores da crase.
COMO IDENTIFICAR A PRESENÇA DA PREPOSIÇÃO A
A preposição é fruto da regência do termo que normalmente antecede
a ocorrência da crase. Quando tal termo regente é um verbo, não se
tem costumeiramente grande dificuldade para se reconhecer a
exigência da preposição. Porém, ao se tratar de um nome, pode haver
dúvidas.
Desse modo, sugere-se que se substitua a estrutura presente após o
suposto termo regente pelo pronome ISSO ou pelo pronome ESSE
acompanhado de um substantivo. Como tais pronomes nunca são
antecedidos por artigo feminino, se ali figurar um A, certamente será
uma preposição.
Veja os exemplos.
Quanto a não regulamentação do artigo,... (Há preposição após
"Quanto"?)
Quanto A isso... / Quanto A esse caso… (A regência da palavra
“Quanto” de fato exige a preposição “a”. Se houver artigo definido
feminino, haverá crase.)
Tome nota!
A locução a distância só será antecedida por crase quando
determinada.
Eles permaneciam a distância.
Eles permaneciam à distância de cem metros.
À moda de
A expressão à moda de determina a forma com que se faz algo,
implicando o emprego de crase fixa, mesmo que o termo não se
apresente expresso na frase. Além disso, vale ressaltar que tal locução
associa-se à indicação do lugar em que se desenvolveu a moda ou
maneira, ou ainda à indicação da pessoa que criou a moda ou a
maneira.
Comeu-se arroz à grega. (Arroz à moda da Grécia.)
Usava cabelos à Carlinhos Brown. (Cabelos à moda de Carlinhos
Brown.)
Horas determinadas
Na indicação de números de horas determinadas, também ocorre
registro de crase fixa.
O trem chegará à uma hora.
Sairemos às 21h.
Tome nota!
Não ocorrerá crase em situações nas quais o horário indicado já vem
antecedido de outra preposição e em certos casos de paralelismo.
Ele saía após as 19 horas.
Ele trabalha desde as 5h sem parar.
A reunião foi marcada para as 14h30.
Ele trabalhava das 13h às 19h.
Ele trabalhava de 13h a 19h.
Tome nota!
Tratando-se de pronomes possessivos substantivos, o artigo não pode
ser dispensado. Assim, se houver preposição A anterior, a ocorrência
de crase se impõe.
A sua vida lhe oferece oportunidades que não são pertinentes à minha.
(O seu estilo de vida lhe oferece oportunidades que não são
pertinentes ao meu.)
Observe-se que não seria possível, no masculino, utilizar
"oportunidades que não são pertinentes A meu".
Até
A palavra até é objeto de discussão entre os estudiosos da Língua. Para
alguns, trata-se de uma preposição; para outros, tem valor adverbial,
sobretudo nas indicações de limite temporal e espacial.
Se for considerada preposição, até não pode combinar-se com a
preposição A, e tal fato impediria a formação de crase. Por outro lado,
se for considerada advérbio, aceita ser seguida da preposição A.
Essa oscilação de percepção explica a faculdade de emprego da crase
com tal palavra.
Veja os exemplos a seguir. (Neles, apresentam-se também estruturas
correspondentes no masculino para que se visualize mais claramente
a presença facultativa da preposição A.)
Ele foi até a janela. (Ele foi até o portão.)
Ele foi até à janela. (Ele foi até ao portão.)
Tome nota!
Nos exemplos apresentados, pode-se facultativamente utilizar o acento
grave em vista da possibilidade de uso da preposição oferecida pela
forma verbal "foi" e pela locução adverbial feminina para indicação de
tempo. Naturalmente, em estruturas em que não houver termo regente
que exija a preposição A, é impossível ocorrência de crase.
Ele vendeu até a geladeira. (Ele vendeu até o sofá.)
Até a diretora veio! (Até o diretor veio!)
Nomes femininos de pessoas
Semelhantemente aos pronomes possessivos, nomes de femininos de
pessoas também podem ser facultativamente antecedidos de artigo
definido feminino.
Assim, no caso de haver a preposição A antes de um nome de mulher,
como o artigo feminino é facultativo, a crase também o será.
Veja os exemplos a seguir. (Neles, apresentam-se também estruturas
correspondentes no masculino para que se visualize mais claramente
a presença facultativa do artigo.)
Fizeram alusão a Cristina. (Fizeram alusão a Pedro.)
Fizeram alusão à Cristina. (Fizeram alusão ao Pedro.)
Tome nota!
1. Naturalmente, em estruturas em que não houver termo regente que
exija a preposição A, é impossível ocorrência de crase, embora o uso
do artigo feminino permaneça facultativo.
Encontrei a Cristina no mercado. (Encontrei o Pedro no mercado.)
Encontrei Cristina no mercado. (Encontrei Pedro no mercado.)
Tome nota!
Um recurso prático que pode ser utilizado para o caso é a substituição
do pronome aquele e variações por este (ou esse) e variações. Caso a
estrutura modifique-se para A este (A esse) ou variações, haverá
crase e, consequentemente, o acento grave.
Entreguei aquele garoto aqueles livros ontem, aquela hora da noite.
(Ocorre crase?)
Entreguei A este garoto estes livros ontem, A esta hora da noite.
Entreguei àquele garoto aqueles livros ontem, àquela hora da noite.
Pronomes demonstrativos a e as
O artigo definido feminino A antecede substantivo expresso. Se este
último fica implícito, o A ou AS passam a ter valor de AQUELA ou
AQUELAS, ou seja, passam a atuar como pronomes demonstrativos.
A garota de preto é minha prima. A de branco eu não conheço. (Aquela
de branco eu não conheço.)
Nesse contexto, haverá crase com os pronomes demonstrativos a (=
aquela) e as (= aquelas) nas situações em que o termo regente exigir a
preposição A.
A sugestão anterior à que você deu era melhor.
Minha opinião é igual à de todos.
Tome nota!
O método prático também é recurso válido para a verificação da
ocorrência de crase com os demonstrativos a e as.
O palpite anterior ao que você deu era melhor.
Meu palpite é igual ao de todos.
Tome nota!
O método prático é recurso válido para a verificação da ocorrência de
crase com a qual e as quais.
Fica lá o lugar ao qual me referi.
Os problemas aos quais o procurador fez alusão já foram sanada.
Os artigos aos quais se aplicam a lei devem ser revogadas.
8 Particularidades semânticas do emprego da crase
Conforme já comentado, a crase normalmente é resultado da fusão da
preposição A e o artigo definido feminino A ou AS.
Embora não seja tão nítido quanto com estruturas no plural, fenômeno
semelhante também pode ocorrer com o uso da crase no singular.
5. Todos no combate à fome.
6. Todos no combate a fome.
A presença da crase - e também do artigo definido feminino - na frase
5 traz para a palavra fome sua definição típica: carência alimentar. Já
na frase 6, a ausência da crase denuncia a ausência do artigo. Sem
artigo definido, sem definição: o sentido torna-se aberto, vago - trata-se
de fome qualquer (fome de alimentos, de direitos, de justiça, de
educação...).
Por fim, cabe ressaltar que não se trata de situação de crase facultativa,
pois ocorre variação de sentido. O que se tem são duas possibilidades
de construção igualmente corretas, e a opção por uma ou por outra
dependerá da intenção do redator da frase, conforme queira denotar
sentido definido ou indefinido.