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Dominação e repressão da sociedade industrial avançada em

Homem Unidimensional de Herbert Marcuse

Ramom Gomes da Silva1

Resumo: este trabalho pretende trazer uma reflexão a cerda dos modos de
dominação e repressão da sociedade industrial avançada, a partir da leitura da
primeira parte do livro Ideologia da sociedade industrial: O homem unidimensional
de Herbert Marcuse. O Homem Unidimensional é uma analise da sociedade
industrial avançada e das tendencias do capitalismo tardio, onde, a partir desta,
procura nos mostras as novas formas de controle e dominação dos indivíduos na
contemporaneidade. Além desses fatores, os meio de dominação desse sistema tem
se mostrado mais eficiente e eficaz de que o antigo regime, dessa forma, sem uso
de um terro aberto, tem total domínio de todas as esfera da existência humana,
sejam elas públicas ou privadas. Temos como objetivo refletir sobre esses controles
e mecanismo pelos quais proporcionaram uma integração de pensamento e
comportamento dos indivíduos, na qual o sujeito não é livre, onde as necessidades
são impostas e aceitas sem o menor questionamento.

Palavras-chave: Controle, Repressão, Dominação, Libertação

Introdução
A sociedade contemporânea parece capaz de
conter a transformação social – transformação
qualitativa que estabeleceria instituições
essencialmente diferentes, uma nova direção dos
processos produtivos, novas formas de existência
humana. (MARCUSE, 1979, p. 16).

A obra do filósofo Herbert Marcuse (1898-1979), Ideologia da sociedade


industrial: o Homem unidimensional (1964), é uma apresentação amadurecida e
mais desenvolvida da tese que, primeiramente, é desenvolvida em Eros e
Civilização: uma interpretação filosófica de Freud ( 1955). A tese anunciava que só
1
Graduando em filosofia pela Universidade Estadual do ceará
se podia evitar a fatalidade de um estado de Bem-Estar Social mediante a existência
de um estado Beligerante que possibilitaria estabelecer um novo ponto de partida,
com o qual seria criado um novo sistema produtivo afastando-se das bases mentais
que serviram tanto para dominação como para exploração dos indivíduos.
Essa sociedade tem se diferenciado das civilizações passadas pela
capacidade de controlar e integrar todas as dimensões da existência humana, sejam
elas públicas ou privadas, rompendo com os antigos modos de produção, com o
modo de pensar e agir e, com isso, tornando-se uma ameaça à liberdade humana
num mundo totalmente administrado. Além disso, sem o uso de um terror explicito,
ela consegue barrar as forças de oposição que poderiam pôr em risco o sistema
estabelecido da ação e do discurso. O avanço do progresso técnico na sociedade
industrial avançada, que por um lado, poderia proporcionar uma libertação dos
indivíduos, tem proporcionado uma dominação efetiva tanto do homem como da
natureza.
A proposta desse artigo se limitará, especificamente, a leitura do capitulo
primeiro As novas formas de controle, que serviu como base para o
desenvolvimento desse trabalho. Neste capítulo Marcuse aborda as mudanças e as
características que tornaram essa civilização diferente daquelas que a antecederam,
tanto pela resolução dos antagonismos internos como pela administração total da
existência humana, e tais características atestam a perda do protesto individual, da
autonomia do indivíduo e das forças que poderiam amenizar a luta pela existência,
passaram a agir, em contrapartida, como fator de repressão e coesão.

Dessa forma temos como objetivo apresentar os principais meios de controle


e dominação que impedem os indivíduos de agirem e pensarem por si
mesmos,também tentaremos mostrando o nível de dominação do homem na
sociedade na qual não consegue reconhecer as suas próprias necessidades. Em
suma, a partir da assertiva marcuseana na qual pensar é negar, e esse pensar
negativo é negar as realidades. Assim, como objetivo específico, a partir dos fatos
suscitar, possa proporcionar uma inquietação nos indivíduos para que diante dos
exposto as pessoas possam encontrar as inadequações internas na sociedade,
A sociedade industrial avançada modificou a estrutura social proporcionando uma
dominação efetiva na dimensão da existência humana.

A sociedade industrial avançada faz suas a


tecnologia e a ciência é organizada para a
dominação cada vez mais eficaz de seus recursos.
Torna-se irracional quando o êxito desses esforços
cria novas dimensões de realidade humana.
(Marcuse, 1979, p.36)

Marcuse, a partir das análises das tendências do capitalismo norte-americano


define a sociedade avançada como fechada em seu interior, abrindo-se apenas para
a expansão econômica, política e militar. A sociedade caminha para se tornar
fechada em seu interior por meio da assimilação das forças e dos interesses, que
antes eram opostos, e a administração dos instintos humanos, com tendência para
uma administração total da sociedade. As necessidades e aspirações são impostas
e aceitas pelo conformismo ao sistema, “as próprias forças que tornaram a
sociedade capaz de amenizar a luta pela existência serviram para reprimir nos
indivíduos a necessidade de tal libertação” (MARCUSE, 1966, p. 13). Essa
sociedade caracteriza-se pela produção do supérfluo, dos novos inventos e do
obsoletismo planejado como meio de manter o ciclo vicioso do consumo.
Na sociedade industrial avançada as forças de negação foram dominadas, o
protesto individual foi suprimido e o antagonismo das classes foi superado. Os
elementos dissociativos foram unidos num sistema de assimilação e reprodução e a
democracia passou a exercer a função de dominação de forma mais efetiva que o
antigo regime, o absolutismo. “A nossa sociedade se distingue por conquistar as
forças sociais centrífugas mais pela tecnologia do que pelo terror, com dúplice base
numa eficiência esmagadora e num padrão de vida crescente” (MARCUSE, 1979,
p.14).
O modo pelo qual a sociedade está organizada, por mais racional que se
apresente aos indivíduos, é em si mesma irracional, pois uma sociedade que tem
seus valores cujos fins últimos se distanciam do processo de humanização não pode
ser considerada uma sociedade organizada de forma racional mas, antes vê na
produtividade seu bem maior que é considerado o motor de todo o processo de
produção. O progresso técnico tinha como função, a principio, a satisfação das
necessidades humanas de forma mais eficiente, no entanto transformou-se em
destruição, destruição não apenas das livres satisfações, mas também da natureza.
Portanto, nos encontramos diante da situação na qual o sujeito não é livre, “perdeu
ou está perdendo, a individualidade, a liberdade e a habilidade de discordar e de
controlar seu próprio destino” (MARCUSE, 2015, p. 21).
Marcuse expõe o caráter de dominação da civilização industrial avançada
afirmando que se chegou ao ponto em que a sua irracionalidade mostra-se racional.
A produtividade e a eficiência integram todas as dimensões da vida humana e a
ausência de uma dimensão crítica no homem torna explícito o grau de aceitação e
introjeção2 desses controles. O aparato técnico de produção e distribuição passou a
funcionar não apenas como uma soma de meros instrumentos que poderiam ser
isolados dos seus efeitos sociais e políticos, mas passaram a funcionar, segundo
Marcuse, “como um sistema que determina “apriori” tanto o produto do aparato como
as operações, manutenções e ampliação” (MARCUSE,1979, p.18), quer dizer, essa
sociedade se distingue das anteriores pela capacidade de subjugar as forças sociais
críticas de oposição mais pela tecnologia do que pelo terror, mais pela eficiência do
sistema técnico-científico do que pela opressão explícita.
Além disso, considera esta sociedade como totalitária, onde totalitário não é
“apenas uma coordenação política terrorista da sociedade, mas também uma
coordenação técnica-econômica não-terrorista que opera através da manipulação
das necessidades por meio de interesses adquiridos” (MARCUSE,1979, p.24). Por
conta dos aspectos citados desta sociedade, ele rejeita o conceito tradicional de
“neutralidade da tecnologia”, uma vez que os controles tecnológicos que tiveram seu
início com a inserção das máquinas em fábricas se estenderam às outras áreas da
existência humana, tanto nas organizações da vida social quanto no trabalho, lazer e
descanso, alcançando os níveis da subjetividade e da sexualidade.

2
Quando Marcuse nos diz que os controles sociais são “introjetados” na realidade das
pessoas rompendo com protesto individual, ele esclarece que o conceito de
“introjeção”, devido à forma como tem se perpetuado a dominação, não expressa de
forma precisa esse modo de dominação, mas a “Mimese” seria o termo mais
apropriado para descrever essa realidade. “Assim, introjeção subentende a existência
de uma dimensão interior distinta e até antagônica das exigências externas, uma
consciência individual e uma consciência individual separada da opinião e do
comportamento público. A ideia de ‘Liberdade interior’ tem aqui sua realidade:
designa o espaço privado no qual o homem pode torna-se e permanece ‘ele próprio’ ”.
Em outras palavras, “introjeção” sugere um “eu” (Ego) que transferia de forma
espontânea a realidade exterior para o interior. Mas Marcuse diz que atualmente, esse
espaço privado se apresenta invadido ou desbastado pela realidade tecnológica, logo
o resultado é a identificação imediata do indivíduo com a sua sociedade, logo tal
identificação não significa introjeção, mas “mimese”. MARCUSE, Herbert, Ideologia da
Sociedade Industrial.
Todavia, vale destacar que ao longo do pensamento marcuseano, no que se
refere ao caráter não neutro da tecnologia, não vemos a recusa da mesma, ao
contrário, ele afirma que a vida alcançou níveis de existência em que o retrocesso se
torna inviável. A crítica passa a residir no aspecto político de dominação por meio do
avanço tecnológico. “O processo produtivo do capitalismo avançado tem alterado a
forma de domínio: o véu tecnológico esconde por detrás das mercadorias a
exploração de classes” (MARCUSE, 1977, p.25). A tecnologia e a ciência podem
servir de veículos de libertação, contudo o uso desses agentes numa sociedade
repressiva os transforma em veículos de dominação em massa. A máquina em si
não é repressiva, nem a tecnologia ou a ciência, mas a presença daqueles que
fazem desses produtos parte da sua existência.

Dificuldade de reconhecimento das verdadeiras necessidades


humanas sobre o domínio da civilização industrial avançada

O homem unidimensional não conhece suas


verdadeiras necessidades, porque suas
necessidades não suas próprias – são
administradas, sobrepostas e heterônomas; não é
capaz de resistir à dominação, nem de agir
autonomamente, (MARCUSE, 2015, p.22).

O poder político da sociedade industrial tem se afirmado por meio do domínio


dos processos mecânicos e sobre a organização técnica do aparato produtivo, nos
quais os termos tradicionais que definiam a sociedade como livre se tornaram
inadequados ou foram ressignificados. Tais termos como liberdade de economia,
liberdade política e também intelectual, tornaram-se inapropriados, esses termos são
considerados inadequados porque se tornaram demasiadamente significativos na
sociedade estabelecida. A forma mais eficaz e resistente contra a libertação é a
implantação das necessidades, tanto materiais como intlectuais que configuram
formas obsoletas de dominação
Assim, liberdade econômica significaria liberdade de economia – de ser
controlado pelas forças e relações econômicas; liberdade de luta pela
existência, de ganhar a vida. Liberdade política significaria a libertação do
individuo da política sobre a qual ele não tem controle eficaz algum
(MARCUSE, 1979, p. 25-26).
O homem, nessa sociedade, é avaliado de acordo com sua produtividade,
pela sua capacidade de tanto poder melhorar como aumentar as coisas socialmente
úteis, dessa forma, ela passar a designar o grau de domínio e de transformação da
natureza, esta sociedade se destaca das civilizações passadas pelo o alcance da
dominação sobre o indivíduo ser incomensuravelmente maior como jamais
presenciado na história.
As necessidades instintivas, diz Marcuse, são as verdadeiras necessidades
que devem ser satisfeitas de forma indiscutível; as demais satisfações que estão
além dessa esfera são necessidades históricas, portanto, são instituídas. Toda
forma de satisfação depende de padrões críticos predominantes, dessa forma, a
maioria das necessidades que se apresentam como sendo comuns aos indivíduos
na sociedade estabelecida são resultados de satisfações predeterminadas, sendo
tais necessidades aceitas sem o menor questionamento e ainda repassadas às
gerações seguintes.
A identificação das necessidades como verdadeiras ou falsas é uma tarefa
que só o sujeito enquanto livre poder definir. A dificuldade quanto ao reconhecimento
se eleva mediante a ausência de indivíduos capazes de reconhecer as
necessidades como verdadeiras ou falsas. “Em última análise, a questão sobre
quais necessidades devam ser falsas ou verdadeiras só pode ser respondida pelos
próprios indivíduos, mas apenas em última análise; isto é, se e quando eles
estiverem livres para dar a sua própria resposta” (MARCUSE, 1979, p.27).
Contudo, Marcuse acrescenta dizendo que qualquer resposta que venha a
ser proferida não pode ser validada como do próprio individuo, “A livre escolha entre
ampla variedade de mercadoria e serviços não significa liberdade se esses serviços
e mercadoria sustêm os controles sociais sobre uma vida de labuta e temor”
(MARCUSE, 1979, p. 28). O homem perdeu sua autonomia mediante os padrões de
vida estabelecidos pela sociedade. O avanço do progresso técnico impôs novas
necessidades que, na sua grande maioria, estão a serviço da manutenção do
sistema por meio do consumo. “O conceito de necessidade engloba tanto
alimentação, roupa, moradia quanto bombas, máquina caças níqueis e a destruição
de produtos invendáveis” (MARCUSE, 2001, p.117).
A sociedade estabelecida alcançou o nível de dominação no qual há a
anulação do protesto individual do homem cedendo espaço para o conformismo de
pensamento e comportamento. A ausência da dimensão crítica está cada vez mais
sendo reduzida por uma sociedade que tem o controle d as necessidades vitais nas
quais os desejos e aspirações, assim como os valores e medos, estão sendo ditados
e administrados. O homem, sob o domínio cada vez intenso da sociedade, passa a
não desenvolver suas potencialidades e sua autodeterminação tornando-se
“unidimensional” 3, pois se submete à dominação cada vez mais totalizante.

A sociedade industrial avançada barrou a proposta do homem


enquanto negação viva do estabelecido
O progresso tecnológico mudou
fundamentalmente a balança do poder social. O
alcance e eficácia dos instrumentos de destruição
controlados pelos governos tornaram obsoletos e
românticas as formas clássicas de luta social
(Marcuse, 1978, p. 406)
Marx já mostrava que a ideia de progresso como possibilidade de pacificação
da existência humana foi desviada do seu objetivo inicial, o conceito de progresso
técnico que não é um conceito neutro, carrega em sua própria existem a
produtividade como seu maior valor, com isso temos uma sociedade em que a sua
engrenagem tem como motor propulsor o processo produtivo. Isso implica que as
relações na sociedade avançada são mediadas pela produção, como resultante
temos reificação e fetichização total dos indivíduos.
Nesse contexto da sociedade industrial, Marx, cita Marcuse, acreditava na
possibilidade de mudança qualitativa por meio da socialização do aparato técnico de
produção, o homem de posse da organização produtiva faria uso da mesma para a
satisfação das necessidades livremente desenvolvidas. “E tal modificação
pressuporia que as classes trabalhadoras estivessem, em sua própria existência,
alienadas desse universo, que a sua consciência fosse a da impossibilidade de
continuar a existir nesse universo” (MARCUSE,1979,p.42). Entretanto, diz Marcuse,
que embora essa consciência de negação pudesse surgir de dentro da sociedade
estabelecida e tenha se tornado, posteriormente, uma pedra angular na teoria
marxista, o protesto individual e coletivo, ambos foram modificados em decorrência
do desenvolvimento produtivo.
O homem não é mais uma negação viva da sociedade como fora antes, hoje
à modificação dos aspectos do trabalho é rompida pela troca de esforço físico pelo
esforço mental, o trabalho que antes era símbolo de exaustão física passou a ser
exaustão mental. “a autonomia ‘profissional’ anterior do trabalhador era, antes sua
3
Marcuse propõe a interpretação do termo “Unidimensional” como conformidade ao pensamento e
comportamento existente, e, tal vez o aspecto mais importante, a ausência de uma dimensão
crítica e de uma dimensão de potencialidades que poderiam transcender a sociedade existente.
MARCUSE, Herbert, Ideologia da Sociedade Industrial.
escravidão profissional. Mas esse modo específico de dominação, era ao mesmo
tempo, a fonte de seu poder específico, profissional de negação” (MARCUSE, 1979,
p.45), a maquina afirma sua dominação quando reduz à autonomia do trabalhador, o
poder que o homem tinha em parar um processo produtivo lhe dava certa autonomia
profissional.
Diante do conceito moderno de progresso a existência da separação entre as
necessidades social e necessidade individual, o resultado é que a vida se resume
apenas ao trabalho, "que o próprio trabalho se torna o conteúdo da vida. O trabalho
é concebido como socialmente necessário, útil, sem ser absolutamente concebido
como trabalho individualmente satisfatório, individualmente necessário" (MARCUSE,
2001, p. 116), Logo o trabalho que advém do conceito de progresso que fez
surgir essa Moderna civilização industrial éo trabalho desprazeroso, o
individuo trabalha sem visar sua plena realização, o trabalho que lhe é a própria vida
é agora trabalho alienado.
A análise da sociedade fechada, que se abre apenas para a expansão
externa da economia, alcançou o nível pelo qual só pode ser definida com novos
valores e novas categorias4, a dominação causou, de forma efetiva, com a
possibilidade de rompimento dessa lógica “Quanto mais racional, produtiva, técnica
e total se torna a administração repessiva da sociedade, tanto mais inimagináveis se
torna os modos e os meios pelos quais os indivíduos administrados poderão rompe
sua servidão e conquistar sua própria libertação”(MARCUSE, 1979, P 28). A
principal alteração no caráter do trabalho, nos instrumentos de produção, junto com
a mudança na atitude e a consciência do trabalhador, reflete a grau de integração
social e cultural do proletariado na sociedade capitalista. Essa Integração priva o
indivíduo de práticas históricas que poderiam transcender o universo estabelecido
da ação e do discurso, caso houvesse transcendências estas seriam de ordem
metafísicas, contudo, inaceitáveis.
Com o progressivo avanço da civilização industrial, ela alcançou elevados
padrões de vida, a satisfação dos desejos e aspirações é mantida por meio do
4
Marcuse no diz que a análise desta sociedade exige novas categorias tanto morais, políticas e
estéticas, e, como forma introdutória faz uso da categoria “Obsceno” para definir essa sociedade
da abundancia, nos diz que esta sociedade é obscena em produzir exibir indecorosamente uma
abundancia sufocante de mercadoria, ao mesmo tempo em que priva largamente as suas vítimas
da satisfação de necessidades vitais. Obsceno não é uma gravura de uma mulher nua que
expões os pelos dos púbis, mas um general completamente vestido que exibe suas medalhas de
recompensa numa guerra de agressão. MARCUSE, Herbert, Um ensaio para a libertação, Livraria
Bertrand. Lisboa, 1977.
consumo das mercadorias e o estado de Bem-Estar que configura o padrão de vida
da sociedade avançadas, é um estado marcado por restrição completa da liberdade
em virtude do alto grau de administração da existência humana. Deparamo-nos com
indivíduos completamente satisfeitos e felizes com as mercadorias e serviços que
lhe são servidos por essa sociedade administrada. Logo, se as mercadorias
satisfazem as necessidades em nível de sentimento, desejos, pensamento,
imaginação, não há razões para eles desejarem, pesarem e imaginarem por si
mesmo, se as satisfações administradas das necessidades resulta em felicidade não
há motivos para pensar numa mudança dessa estrutura social.
O alto padrão de vida juntamente com as conquistas sobre o homem e o
domínio da natureza afirma o poder sobrenatural que a sociedade industrial
avançada impõe aos homens e mulheres, diante disso as força de oposição são
derrotadas ou reconciliadas com o sistema estabelecido, Marcuse a firma que não é
preciso esperar que as próximas bombas sejam detonadas arrasando cidades
inteiras para as pessoas possam abrir seus olhos para as crueldades dessa
sociedade.

A satisfações da necessidade livremente desenvolvidas atestam a


diferença qualitativa da sociedade.
A particularidade distintiva da sociedade industrial
desenvolvida é a sufocação das necessidades que
exigem libertação - libertação também do que é
tolerável e compensador e confortável (MARCUSE
1967, p. 28).

A crítica de Marcuse reside, nesse contexto, não ao materialismo dessa


forma de vida que imposto pela sociedade industrial avançada, mas sim ao falso
modo de vida no qual os indivíduos são submetidos junto ao alto grau de repressão.
A satisfação das necessidades livremente desenvolvidas, reflete em termos a
proposta marcuseana de uma sociedade poder ser regida por novos valores, por um
novo principio de realidade, dessa forma, o protesto contra a produtividade se torna
a recusa em aceitar a dominação cada vez mais totalizante, evidenciando a
proposta de mudanças qualitativas e o distanciamento da sociedade com base nos
valores da produção.
A libertação da sociedade estabelecida pressupões uma transformação a
nível “biológico” das necessidade instintivas, caso contrário o protesto acabaria se
tornando incompleto. Marcuse faz uso do termo “biológico” para enfatizar que essas
necessidades são aquelas em que não podem deixar de ser ser satisfeitos, são
aquelas em que não se podem encontrar um substituto, pois acabaria por
comprometer o funcionamento de todo o organismo, “A necessidade de possuir, de
consumir, de manejar e de renovar constantemente os inventos, os utensílios, as
máquinas, imposta ás pessoas […] tornou-se uma necessidade biológica.
(MARCUSE, 1977,p. 24).
O triunfo do capitalismo avançado é marcado quando o processo produtivo
tem alterado a forma de domínio na sociedade, quando as pessoas não conseguem
rejeitar a dominação que lhe é imposta, quando as mercadorias que elas consomem
se tornaram parte de sua própria existência. As necessidades e satisfações, nessa
esfera, configuram uma vida de “servidão voluntária”. O progresso na civilização não
só reduz o ambiente de liberdade humana, mas também o desejo de tal libertação.
O véu tecnológico não só esconde, por detrás das mercadorías, a exploração e
dominação das classes, mas, ao consumirem os produtos, as pessoas estão
consumindo também parte de sua vida e, nesse sentido, o véu tecnológico não só
esconde a exploração mas transfigura-a.
A liberdade depende pois largamente do progresso técnico, do avanço da
ciência. Mas este facto facilmente nos levas a esquecer a condição prévia
essencial: afim de se tornarem veículos de liberdade, a ciência e a
tecnologia terão de mudar a sua atual direção e objetivos: terão de ser
formadas por uma nova sensibilidade (MARCUSE,1977, p.34).
As necessidades que são geradas em função desse sistema são
necessidades estabilizantes e conservadores que militam a favor da
contrarrevolução. Uma sociedade qualitativamente diferente necessita de novas
fundamentações, novos valores, de um novo principio de realidade. Uma sociedade
que sejam organizados por homens cujas necessidades, desejos e aspirações
sejam a negação determinadas desta sociedade repressiva, “o homem só é livre
quando está livre das coações internas e externas, físicas e morais - quando não é
reprimido pela lei nem pela necessidade” (MARCUSE, 1968, p.167).

Conclusão
Marcuse acredita que a classe trabalhadora ainda é, objetivamente, o agente
histórico de revolução, embora reconheça que subjetivamente não são, devido a
paragem da consciência em decorrências das satisfações das necessidades que
perpetuam a servidão dos explorados. Reconhece que as conquista da ciência e da
técnica negaram seu proposito inicial, quanto mais a tecnologia se desenvolve e,
dessa forma, se tornaria cada vez mais capaz de criar melhores condições de
satisfações das necessidades, a sociedade industrial se organizou e fez uso das
mesmas para uma dominação efetiva do homem e da natureza. Nesse sentido, as
novas formas de controle prevalecente na sociedade contemporânea são
tecnológicas. “As criaturas se reconhecem em suas mercadorias; encontra sua alma
em seu automóvel, hi-fi, casa em patamares, utensílios de cozinhas” (MARCUSE,
1977, p. 29).
Uma mudança qualitativa na sociedade corresponderia a uma transformação
na base técnica em que a sociedade esta assentada, provocaria o rompimento no
caráter politico da racionalidade tecnológica na qual é o grande veículo de
dominação, onde corpo e mente são mantidos num estado de mobilização em
defesa do status quo. A transformação no caráter da ciência e da técnica
pressuporia uma construção de uma nova sociedade regida por novos valores, uma
sociedade que necessitaria de homens e mulheres com sensibilidades diferente, e
lclaro, de uma consciência diferente. Marcuse, nesse aspecto, rejeita a ideia de Max
quanto a mudança social e caráter do trabalho ser a partir da redução do dia de
trabalho, propõe uma mudança nos valores regente na sociedade para que o
trabalho penoso passe a ser entretenimento. “Reduzi-se-ia a alienação com a
progressiva redução do dia de trabalho, mas este permaneceria um dia de sujeição,
racional mas não livre” (MARCUSE, 1977,p. 36).
As bases para uma mudança na sociedade estabelecida deveriam iniciar a
partir das satisfações das necessidades não-sublimadas, quer dizer: a partir das
necessidades que não foi desviada de seu propósitos inicial, que não foi
encontrados um substituto. Dessa forma daria a base biológica para uma sociedade
se desenvolver livremente, pois a tarefa e o objetivo de toda libertação é a melhor
satisfação das necessidades. “mas, ao progredir em direção a tal objetivo, a própria
liberdade deve tornar-se uma necessidade instintiva e, enquanto tal, deve mediar as
demais necessidades” (MARCUSE, 1993, p.08. Tradução do Autor).
É a partir do instinto de liberdade não-sublimado que teríamos as raízes para
uma liberdade política e social, teríamos as exigências de uma transformação social
qualitativamente diferente, um momento de ruptura com uma logica de dominação e
perpetuação do progresso material que gera novas necessidades heterônimas. Um
novo princípio de realidade a partir dessa fundamentação libertaria a base biológica
dos valores estéticos, “porque a beleza, o repouso, a harmonia, são necessidades
orgânicas do homem cuja repressão e a administração mutilam o organismo e
ativam a agressão” (MARCUSE, 1993, p.10. Tradução do Autor).
A técnica deveria se transforma em arte, romperia as barreiras da
identificação dos indivíduos ao sistema, que resultou no partilhamento das
necessidade estabilizantes tornando-os conservadores e contra-revolucionários.
“Quando homens e mulheres agerem e pensarem livre dessa identificação […]
eliminaria as causas que tem feito da historia a humanidade a história do domínio e
servidão” ( MARCUSE, 1977, p. 41). Nua sociedade estritamente autêntica o homem
jogaria ao invés de labutar, sua vida seria mais de exibição do que trabalho árduo,
esta seria uma sociedade regida por um novo princípio de realidade, por uma nova
sensibilidade, em que a ciência e a técnica não estariam a serviço da manutenção
do sistema, seria uma sociedade autenticamente humana.

Bibliografia
MARCUSE, Herbert. A ideologia da Sociedade Industrial: o homem
Unidimensional. Tradução de Giasone Rebuá . 5ª ed. Zahar Editora. Rio de
Janeiro, 1979.
______. Cultura e Psicanálise. Tradução de: Wolfgang Leo Maar, Robespierre de
Oliveira, Isabel loureiro. Ed. Paz e Terra: São Paulo, 2001.

______. Eros e Civilização: Uma interpretação filosofica de Freud. Tradução:


Alvaro Cabral, Ed. Zahar Editora: Rio de Janeiro, 1972

______. O Homem Unidimensional: estudos da ideologia da sociedade


avançada; Tradução de de Robespieere de Oliveira, Deorah Antunes e Rafael
Cordeiro Silva, Edipro Editora. São paulo, 2015.
______. El Hombre Unidimensional: ensayo sobre la ideología de la sociedad
industrial avanzada. Ed. Planeta Agostini. Buenos Aires, 1993

______. Razão e revolução: Hegel e advento da teoria social. Tradução de


Marília Barroso.- 2ª ed.- rios de janeiro: Paz e Terra, 1978.

______. Um Ensaio Sobre a Libertação. Tradução de Maria Ondina Braga. Livraria


Bertrand. Lisboa, 1969.

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