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FLEXO TORÇÃO:

BARRAS DE SEÇÃO DELGADA ABERTA


1ª Edição

Dagoberto Dario Mori


Jorge Munaiar Neto
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

FLEXO-TORÇÃO
Barras com seção aberta e paredes delgadas
Teoria e Exemplos

d2

t2
s = s2
s
x
t1
d1

z y
linha do
esqueleto
t3

d3
s = s1

DAGOBERTO DARIO MORI JORGE MUNAIAR NETO

1a Edição – Novembro de 2009


Copyright  2009 dos autores/EESC-USP, São Carlos, SP.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, guardada pelo sistema
“retrieval” ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, seja
este eletrônico, mecânico, de fotocópia, de gravação ou outros sem prévia
autorização, por escrito, da EESC.

1a edição.
Foto da capa: Maximiliano Malite
Suporte técnico: Nadir Minatel (secretária do SET-EESC/USP)

Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento da Informação


do Serviço de biblioteca – EESC – USP
APRESENTAÇÃO

O presente texto é fruto da experiência dos autores na vida acadêmica e de


materiais coletados no decorrer dos anos, e tem como objetivo principal
apresentar e descrever a teoria da flexo torção aplicada às barras com seção
transversal aberta e paredes delgadas, propiciando, principalmente aos alunos de
pós graduação, complementar seus conhecimentos em resistência dos materiais,
disponibilizando uma importante ferramenta para as disciplinas de instabilidade
das estruturas metálicas e similares.
A tendência em reduzir o peso das estruturas tem conduzido a barras com
paredes cada vez mais delgadas, tornando os elementos estruturais susceptíveis
aos fenômenos de instabilidade e torção. Essa tendência tem sido observada não
somente no campo da construção civil, mas também na construção de aeronaves,
navios, entre outros..
Dentre as aplicações da teoria de flexo torção se destaca, em particular, a
construção metálica, cujo desenvolvimento e disponibilidade de aços com
elevada resistência mecânica e à corrosão, bem como de aços revestidos, tem
conduzido a perfis com paredes cada vez mais delgadas e, consequentemente,
propensos aos efeitos de torção, à instabilidade global e às instabilidades
localizadas.
Esses fenômenos têm sido alvo de inúmeras pesquisas e atualmente
enfatizadas pelas normas técnicas de dimensionamento de estruturas metálicas.
O conteúdo desse material possibilitará ao aluno adquirir os conhecimentos
básicos sobre a teoria de flexo torção, permitindo-lhe avançar seus estudos na
área de estruturas.
Deve-se ressaltar que a elaboração do presente material teve como ponto
de partida a apostila intitulada “Flexo torção – barras de com seção aberta e
paredes delgadas”, de autoria de Dagoberto Dario Mori, atualmente professor
do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC/USP, a qual foi de
fundamental importância para a transmissão das informações de interesse do
curso de engenharia civil, bem como para a elaboração do presente livro.
Pela colaboração na elaboração deste livro, merecem agradecimentos por
parte dos autores deste trabalho alguns docentes e funcionários da EESC/USP,
os quais, direta ou indiretamente, contribuíram na forma de texto ou de figuras
(fotos) para o enriquecimento das informações e ilustrações propostas neste
material. Entre eles, são mencionados: Sergio Persival Baroncini Proença,
(professor do SET), Maximiliano Malite (professor do SET), Maria Nadir
Minatel (secretária do SET) e Francisco Carlos Guete Brito (desenhista do
SET).
Críticas e contribuições serão bem recebidas, pois os autores entendem
não ser esta uma publicação conclusiva. Os autores colocam-se à disposição
para futuras sugestões ou eventuais críticas, as quais resultem em contribuições
que melhorem a transmissão deste assunto aos alunos de graduação.

DAGOBERTO DARIO MORI

JORGE MUNAIAR NETO

São Carlos - SP, Novembro de 2009.


SUMÁRIO
s = s2
Vy

Vz
D

CG

z y
ds

t

s
1. CENTRO DE TORÇÃO ...................................... 01
1.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 01
1.2 TEORIA DA FLEXO TORÇÃO – BREVE ABORDAGEM ............................................... 02
1.2.1 Generalidades ................................................................................................................. 02
1.2.2 Hipóteses básicas adotadas ............................................................................................ 04
1.3 CENTRO DE TORÇÃO DE UMA SEÇÃO TRANSVERSAL ............................................ 04
1.3.1 Caso 1 - Centro de torção para seções com dois eixos de simetria ................................ 06
1.3.2 Caso 2 - Centro de torção para seções delgadas com um eixo de simetria .................... 07
1.3.3 Caso 3 - Centro de torção (D) para seções transversais assimétricas ............................ 10

A"
D
M
A

N N
Os
p /2
B"
B
2. INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DA ÁREA
SETORIAL ........................................................................................................ 21
2.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 21
2.2 OBTENÇÃO DA ÁREA SETORIAL POR PROCEDIMENTO GEOMÉTRICO
COM POLO EM D ............................................................................................................ 22
2.3 CONVENÇÕES DE SINAIS .............................................................................................. 23
2.4 OBTENÇÃO DA ÁREA SETORIAL POR PROCEDIMENTO GEOMÉTRICO
COM PÓLO PROVISÓRIO (em P) .................................................................................. 23
2.5 CENTRO DE TORÇÃO (D) – Exemplos resolvidos ......................................................... 28
2.6 CENTRO DE TORÇÃO (D) – Exemplos propostos .......................................................... 47
Mt Mt

1
2

3. TORÇÃO LIVRE OU DE SAINT-VENANT ......... 55


3.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 55
3.2 DESLOCAMENTOS CONSIDERADOS ........................................................................... 58
3.3 CONSIDERAÇÕES DE INTERESSE E CONVENÇÕES ................................................. 61
3.4 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS – Determinação do Empenamento .................................... 62

M t+dM t

dM t
m=
dx

Mt 4. TORÇÃO NÃO-UNIFORME OU FLEXO


TORÇÃO ........................................................................................................... 73
4.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 73
4.2 DEFORMAÇÕES E TENSÃO NORMAL NA FLEXO TORÇÃO ..................................... 75
4.3 CISALHAMENTO E MOMENTO DE TORÇÃO .............................................................. 77
4.3.1 Tensões de cisalhamento ................................................................................................ 77
4.3.2 Momento de torção ........................................................................................................ 80
4.4 CONSIDERAÇÃO DA FLEXO TORÇÃO NO MOMENTO TOTAL ................................ 82
4.5 CONCEITO DO BIMOMENTO – Determinação de B .................................................... 84
4.5.1 Introdução ...................................................................................................................... 84
4.5.2 Contribuição nas tensões normais .................................................................................. 87
4.5.3 Influência nas tensões de cisalhamento da flexo torção ................................................ 87
4.6 FLEXO TORÇÃO - SOLUÇÃO POR EQUAÇÃO DIFERENCIAL .................................. 89
4.6.1 Obtenção da equação diferencial ................................................................................... 89
4.6.2 Solução da equação diferencial ...................................................................................... 90
4.7 CONVENÇÕES DE SINAIS .............................................................................................. 93
5. ANALOGIA E CONDIÇÕES DE CONTORNO .. 95
5.1 ANALOGIA ENTRE FLEXÃO E FLEXO TORÇÃO ......................................................... 95
5.2 CONSIDERAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CONTORNO ................................................ 96
5.3 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS ........................................................................................... 99
5.4 EXERCÍCIOS PROPOSTOS ........................................................................................... 156

ANEXO I ......................................................................................................... 169


I.1 ANALOGIA DE MEMBRANA APLICADA ÀS BARRAS DELGADAS DE PAREDES
ABERTAS .............................................................................................................................. 169

ANEXO II ....................................................................................................... 175


II.1 FLEXO TORÇÃO VIA ENERGIA DE DEFORMAÇÃO ................................................ 175
II.2 MOMENTO FLETOR PROVOCANDO BIMOMENTO ................................................ 177

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 179


Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

s = s2
Vy

Vz
D

CG

z y
ds

t

s
1. CENTRO DE TORÇÃO

1.1 INTRODUÇÃO

A resistência dos materiais, a partir de 1940, recebeu um considerável avanço com a


teoria proposta por Vasilii Zakharovich Vlasov, apresentado ao leitor na figura 1.1, para
barras com paredes abertas e seção delgada. A partir da teoria proposta por Vlasov, os
elementos estruturais lineares, em que uma das dimensões é predominante sobre as outras
duas, passaram a apresentar um novo grupo formado pelas barras denominadas
unidimensionais de seção transversal com paredes delgadas.

Figura 1.1 – Foto de Vasilii Zakharovich Vlasov (1906-1958) Fonte: VLASOV (1961)

1
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Segundo a última referência, Vlasov nasceu em 24 de fevereiro de 1906, na Vila de


Kareevo, na antiga União Soviética. Ingressou na Faculdade de Engenharia Civil de Moscou
e, em 1930, graduou-se como Engenheiro Civil. Em 1943 foi eleito membro da Sociedade
Matemática de Moscou e, em 1953, foi eleito membro da Academia de Ciências da União
Soviética.
Dedicou boa parte de sua vida científica ao desenvolvimento da Teoria de Elementos
Estruturais Constituídos de Paredes Delgadas, visto que esses elementos são de interesse
direto em diferentes tipos de aplicações, tais como sistemas de cobertura (telhas de aço, por
exemplo), fuselagens de aeronaves (aviões) ou de submarinos, foguetes, entre outros.
Para fins de aplicação, a utilização de elemento estrutural com parede delgada é feita
com vistas a reduzir o peso próprio das estruturas, permitindo, consequentemente, a
consideração do uso de barras com paredes de espessuras reduzidas (barras com seção
delgada). Destaca-se ainda a teoria das barras de seção delgada aplicada correntemente nas
estruturas metálicas, no cálculo de elementos pré-fabricados de argamassa armada e no
cálculo de núcleos de edifícios elevados.

1.2 TEORIA DA FLEXO TORÇÃO – Breve abordagem

1.2.1 Generalidades

As barras que mais necessitam do estudo da flexo torção, tendo em vista o fenômeno
da instabilidade (não é aqui objeto de estudo), são aquelas que possuem seção delgada aberta.
Nas barras de seção delgada fechada (ou vazada) os fenômenos de instabilidade são muitos
menos pronunciados.
Para os estudos aqui de interesse, valem as seguintes definições:
a) Uma barra é considerada de seção delgada quando suas dimensões relativas satisfazem as
seguintes ordens de grandeza:
t d
 0,1  0,1
d 

Nas últimas relações, t é a espessura da parede, d representa uma dada dimensão de


interesse da seção, enquanto  representa o comprimento da barras, conforme figura 1.2.

2
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

d2

t2
s = s2
s
x
t1
d1

z y
linha do Seção delgada aberta
esqueleto com trecho curvo
t3

d3
s = s1

Figura 1.2 - Seção delgada aberta: dimensões e sistema de coordenadas.

b) A seção delgada pode ser constituída por paredes retas ou curvas e representada por uma
linha imaginária denominada “linha do esqueleto” (linha que divide a espessura t ao meio),
conforme esquematiza a figura 1.2;

c) O sistema de referência “xyz”, associado às seções aqui de interesse (figura 1.2), tem sua
origem nos centros de gravidade das mesmas e são definidos por:
 x: coincidente com o eixo longitudinal da barra
 y e z: são os eixos principais de inércia e contidos no plano da seção transversal

Para fins de determinação das equações de interesse, a serem apresentadas ao longo do


presente capítulo, o sistema “xyz” deverá ser sempre estabelecido (ou representado) na seção
transversal, de modo que para um observador com visão direcionada no sentido positivo do
eixo x, os eixos y e z deverão pertencer a um mesmo plano (perpendicular ao eixo x) e estar
defasados entre si por uma rotação de 90o no sentido horário.
É considerada ainda uma ordenada “s” que percorre a linha do esqueleto em sentido
arbitrário. A origem da ordenada s (definida por “Os”) e o seu sentido serão posteriormente
determinados.

3
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

d) A espessura t da seção transversal pode ser admitida como variável ao longo da ordenada s,
ou seja, t = t(s), em que um elemento de área dessa mesma seção é definido por:

dA  t.ds (1.1)

e) A seção transversal é admitida constante ao longo da coordenada x.

1.2.2 Hipóteses básicas adotadas

Para a determinação das equações que permitirão obter a posição do Centro de Torção
em seções transversais abertas e delgadas, objeto de interesse do presente capítulo, são
admitidas como válidas as seguintes hipóteses simplificadoras:

a) Após a deformação da barra, a seção transversal se projeta indeformada no seu plano


(zy), comportando-se como se fosse rija nesse plano;

b) A superfície média da barra (perpendicular à seção transversal e que passa pela linha do
esqueleto) não sofre distorções, ou seja,  = 0;

Portanto, em resposta às hipóteses adotadas, a linha do esqueleto mantém sua forma


inicial inalterada quando de sua projeção sobre o plano da seção (plano zy). Nesse caso, são
admitidas translações e rotações dos pontos pertencentes à seção transversal, com os
deslocamentos relativos desses mesmos pontos ocorrendo apenas na direção longitudinal da
peça (eixo x).

1.3 CENTRO DE TORÇÃO (D) DE UMA SEÇÃO TRANSVERSAL

Toma-se como ponto de partida uma viga carregada com forças aplicadas em posições
arbitrárias ao longo do seu comprimento (eixo x) e contidas em um único plano definido
como plano das forças. Inicialmente, admitindo que não tenha ocorrido a preocupação com a
posição do plano das forças em relação aos pontos da seção, se considera que essa mesma
viga possa estar solicitada, simultaneamente, por esforços de flexão e de torção.

4
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Nessa situação mais geral, as tensões de cisalhamento () geradas na seção transversal
ocorrem com vistas a garantir o estabelecimento do equilíbrio entre forças externas aplicadas
e esforços internos, e produzem como resultantes, na forma de equivalência estática, força
cortante (V) e momento de torção (T), conforme equações 1.2.

  dA  V
A
e   b dA  T
A
(1.2a e 1.2b)

No entanto, os estudos iniciais para barras apenas fletidas submetidas a carregamentos


transversais ao próprio eixo, tomam como ponto de partida a hipótese de que o plano do
carregamento (plano das forças) passa por um ponto da seção transversal da barra, único e
com posição particular para cada seção de interesse.
Nesse caso, ocorrerá apenas a força cortante (V), figura 1.3, como a resultante
(equivalência estática) das tensões de cisalhamento geradas ao longo da seção. O traço do
plano do carregamento coincide com a resultante das tensões de cisalhamento e o efeito da
torção é nulo, de modo a se considerar apenas a ocorrência da equação 1.2a.

  dA  V (1.3)
A

p (x) F M

V
x
Figura 1.3 – Representação do esforço solicitante cortante (V) na barra.

Existe, portanto, um ponto pertencente ao plano da seção transversal, coincidente ou


não com a região da mesma seção, denominado Centro de Torção ou Centro de
Cisalhamento, pelo qual deve passar o plano de aplicação da resultante das cargas
transversais e, conseqüentemente das forças cortantes, de modo que não ocorra torção, e sim,
apenas flexão. O Centro de Torção é uma propriedade geométrica da seção transversal.

5
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Para um melhor entendimento dos conceitos referentes ao Centro de Torção (lugar


geométrico por onde deverá passar o plano de forças para que só ocorram esforços de flexão)
serão apresentadas a seguir diferentes situações, denominados Caso 1, Caso 2 e Caso 3, por
meio de ilustrações e comentários elaborados com base em PROENÇA (2001), para a
determinação da posição do Centro de Torção aqui representado pela letra “D”.
Inicialmente, parte-se de uma seção duplamente simétrica sem paredes delgadas, por
exemplo, uma seção retangular (Caso1), a qual permitirá entendimento imediato, uma vez
que suas propriedades geométricas são diretamente determinadas em função da dupla
simetria. Em seguida, se faz uma primeira particularização dos estudos para seções com um
eixo de simetria, de paredes delgadas e trechos retos, no caso, seções “T” e “C” (Caso 2).
Por fim, faz-se uma última particularização com vistas ao estudo de seções
assimétricas e constituídas por paredes delgadas com trechos retos ou curvos (Caso 3),
objeto de interesse do presente texto, cujo equacionamento passa a ser desenvolvido e
apresentado ao leitor com base na Teoria de Vlasov.

1.3.1 Caso 1 - Centro de torção (D) para seções com dois eixos de simetria
Para seções com dois eixos de simetria, tem-se a posição do Centro Geométrico (CG)
coincidente com o ponto de encontro dos dois eixos de simetria, aspecto demonstrado pela
condição de Momento Estático nulo para ambos os eixos. Para uma seção retangular, por
exemplo, admitindo que o plano de forças seja coincidente com a posição do CG, a
distribuição das tensões de cisalhamento dará origem a uma resultante (V) que passará pelo
CG e coincidirá com o plano de carregamento, conforme figuras 1.4 e 1.5.
F F

z z
cg cg
h

Vy

y y
b b

Figura 1.4 – Resultante das tensões de cisalhamento (eixo de maior inércia)

6
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

F F

z z Vz
cg

b
cg

y y

h h
Figura 1.5 – Resultante das tensões de cisalhamento (eixo de menor inércia)

Nota-se que para os casos apresentados nas figuras 1.4 e 1.5, o carregamento aplicado
provoca apenas flexão e, conseqüentemente, uma distribuição de tensões de cisalhamento na
seção transversal que produz como resultante (equivalência estática) apenas a cortante. Nesse
caso, o plano de carregamento e a cortante são coincidentes.
Desse modo, fica estabelecida como Centro de Torção (D) a posição na seção
transversal em que as resultantes Vy e Vz se cruzam. Portanto, para seções transversais com
dois ou mais eixos de simetria, a posição do Centro de Torção (D) é coincidente com a
posição do Centro Geométrico (CG).

1.3.2 Caso 2 - Centro de torção (D) para seções delgadas com um eixo de simetria

Para as seções com apenas um eixo de simetria, sabe-se que o Centro Geométrico
(CG) pertence a esse mesmo eixo. A seção do tipo “T”, por exemplo, possui apenas um eixo
de simetria e será aqui particularizada para o caso de paredes retas e delgadas, com vistas a
adequá-la ao contexto do presente trabalho.
Por se constituir de paredes delgadas (pequena espessura), a distribuição das tensões
de cisalhamento será admitida paralela às linhas de borda e uniformemente distribuída ao
longo da espessura, o que não implica em significativa perda de precisão dos resultados. Em
função das espessuras reduzidas das paredes, esse tipo de seção pode ser representado pela
linha do seu esqueleto.
Como análise inicial, admite-se que o plano de carregamento seja coincidente com o
eixo de simetria da seção (eixo y) e, portanto, flexão em torno do eixo z. Nesse caso,
representando a seção por meio da linha do esqueleto, obtém-se uma distribuição das tensões
de cisalhamento e sua correspondente resultante, Vy, conforme ilustrado na figura 1.6.

7
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Figura 1.6 – Resultante das tensões de cisalhamento para flexão em torno de z.

Nesse caso, a parcela da resultante de  na mesa do perfil T é pequena e pode ser


desconsiderada, uma vez que a seção é delgada, ou seja, t  0,1d, restando apenas a parcela de
 na alma da seção, que é coincidente com o plano de carregamento, garantindo a inexistência
de torção, situação que tem correspondência direta com a equação 1.3. Portanto, um lugar
geométrico do Centro de Torção coincide com o eixo de simetria da seção T, e sua posição
fica parcialmente definida.
Como segunda análise, admite-se que o plano de carregamento seja coincidente com a
mesa da seção, com flexão em torno do eixo y. Nesse caso, obtém-se uma distribuição das
tensões de cisalhamento e sua correspondente resultante, Vz, conforme ilustrado na figura 1.7.
Utilizando o mesmo raciocínio da primeira análise, a parcela da resultante de  na
alma do perfil T é desconsiderada, restando apenas tensões “” na mesa da seção e
coincidente com o plano de carregamento, garantindo novamente a inexistência de torção.
Finalmente, nota-se que o ponto de intersecção das direções das duas resultantes, Vz e
Vy, definem a posição do Centro de Torção (D). Sempre que o plano de carregamento (ou de
forças) passar por esse ponto, fica garantida a inexistência de torção e a condição apresentada
na equação 1.3 é verificada.
Para seções transversais cujos trechos que as constituem são concorrentes a um único
ponto (seções T, cantoneira ou similares), fica como regra geral que D coincidirá com o ponto
comum das linhas do esqueleto dos trechos que as formam. Essas seções são usualmente
denominadas do tipo “estrela”.
8
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Figura 1.7 – Resultante das tensões de cisalhamento para flexão em torno de y.

Uma outra seção que merece análise é a do tipo “C”, também com um eixo de simetria
e posição do Centro Geométrico (CG) sobre esse mesmo eixo. Será também particularizada
para o caso de paredes retas e delgadas, com vistas a se adequar ao contexto do presente
trabalho.
Com base nos aspectos identificados para a seção “T”, sabe-se que a seção “C” terá a
posição de D situada em algum ponto pertencente ao eixo de simetria. Nesse caso, para
determinar a posição exata de D, basta considerar a ocorrência de um plano de carregamento
que seja perpendicular àquele eixo, uma vez que se sabe que a posição de D é definida pela
intersecção desse mesmo eixo de simetria com a direção da resultante de  que aparece em
resposta ao referido carregamento, conforme ilustra a figura 1.8.

Figura 1.8 – Resultante das tensões de cisalhamento para seção do tipo “C”.

9
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Nesse caso, a distribuição de , admitida conforme idealizada na figura 1.8,


respeitadas as condições de equilíbrio, deverá representar, no conjunto das partes que
compõem a seção, sentidos que percorram a seção de uma extremidade à outra, podendo, se
desejado, ser contrário àquele indicado na mesma figura. Por equivalência estática, com
redução no ponto “o” o efeito de V, na seção, deverá ser equivalente ao efeito provocado
pelas resultantes A e B, conforme equações 1.4 e 1.5, e a posição final de D fica estabelecida.

F v 0  VA (1.4)

B.h B
M o  0  V.c  B.h  c   h
V A
(1.5)

1.3.3 Caso 3 - Centro de torção (D) para seções transversais assimétricas

No presente item faz-se a determinação da posição do Centro de Torção (D) para


seções transversais assimétricas, porém, particularizadas para o caso de paredes delgadas,
retas ou curvas, com vistas a uma adequação ao objeto de interesse do presente trabalho, aqui
desenvolvido com base na Teoria de Vlasov.
Assim como no caso 2, por se considerar as paredes como delgadas (pequena
espessura), a distribuição das tensões de cisalhamento será admitida paralela às linhas de
borda e uniformemente distribuída ao longo da espessura, não implicando em significativa
perda de precisão dos resultados. Em função das espessuras reduzidas das paredes, esse tipo
de seção pode ser representado pela linha do seu esqueleto, conforme figura 1.9.

linha do
esqueleto

tg
Figura 1.9 – Parede delgada e curva: distribuição das tensões de cisalhamento.
10
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Inicialmente, por meio dos conceitos da Resistência dos Materiais, para barras
fletidas, vale lembrar que a equação 1.6 permite obter valores para a tensão de cisalhamento.

VM s
 (1.6)
t.I

Na equação 1.6, Ms e I representam, respectivamente, o momento estático e o


momento de inércia, e consistem de propriedades geométricas da seção determinadas em
relação aos eixos principais de inércia, aqui designados por z e y.
Para o estudo que segue, parte-se de uma seção transversal qualquer, assimétrica e
constituída de paredes delgadas e retas (por simplificação) com espessura t, eixos principais
de inércia definidos por z e y, e representada pela linha do esqueleto à qual é associada uma
ordenada “s” que a percorre desde s1 até s2, conforme figura 1.10.

s = s2
Vy

CG

z y
ds
traço do plano de cargas
(lugar geométrico de D) t

s = s1

Figura 1.10 – Seção transversal qualquer com paredes delgadas e retas.

Em uma primeira análise, supõe-se um plano de carregamento (ou traço do plano de


cargas) fictício paralelo ao eixo y, também representado na figura 1.10. Nesse caso, resultam:

V  Vy I  Iz (1.7 e 1.8)
s
M s   y dA   yt ds (1.9)
A s1

11
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Deste modo, obtém-se a força elementar resultante de cisalhamento, por meio de


equivalência estática em um elemento de comprimento “ds”, conforme equação 1.10.

dF   dA  tds (1.10)

A condição para garantir a não ocorrência de momento de torção consiste em impor


que a resultante destas forças elementares deve ser igual, em valor (módulo) e posição, à força
cortante Vy. Uma vez garantida essa última condição imposta é possível afirma que a linha de
ação do traço do plano de cargas, ou da força cortante, é um lugar geométrico do centro de
torção (D), único e de interesse.
Fica claro, portanto, que se realizando análises para planos de carregamento em duas
direções distintas, nesse caso, em direções coincidentes com os eixos principais y e z (planos
paralelos a xy e xz), se determina a posição de D pela interseção dos traços dos planos de
carga, os quais podem ser interpretados como lugares geométricos desse mesmo ponto.
Com base na primeira análise estabelecida na figura 1.10, a condição que permite
obter um lugar geométrico da posição do Centro de Torção (D) é aquela que garante que a
resultante dos momentos das forças elementares, obtidas por “dA” em relação ao centro de
torção D por meio da integral em toda a seção, de s1 a s2, seja nula conforme equação 1.11.

s2

 M D    dA .n   t ds .n  0 (1.11)
A s1

Na equação 1.11, o parâmetro n é denominado “raio vetor” e definido pela distância de


D até a tangente à linha do esqueleto do trecho de interesse, conforme figura 1.11.
linha do
esqueleto

D 
n

tg

Figura 1.11 – Representação esquemática do raio vetor n.

12
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Para carregamento na direção do eixo y e coincidente com a correspondente força


cortante (plano de carga paralelo ao plano xy), e considerando a validade da equação 1.6
particularizada para flexão em torno do eixo z (equações 1.7 e 1.8), tem-se:

Vy M s

A tI z
dA. n  0 (1.12)

Como a força cortante e o momento de inércia são constantes para uma mesma seção
transversal, e com base na equação 1.9, pela equação 1.12 resulta:

Vy s2
1 s  Vy s2
s 
Iz 
s1 t s1
yt ds 

n t ds 
Iz 
s1

 s1
yt ds  n ds  0

Como Vy/Iz  0, da última igualdade tem-se que:

s2
s 

s1

s1
yt ds  n ds  0

(1.13)

A equação 1.13 consiste de duplo procedimento de integração, cuja resolução é obtida


por meio de mecanismo matemático de integração por partes, expressa na sua forma geral:

 a db  ab   b da

Nesse caso, para o problema em questão, definem-se:

s s

a   yt ds  da  ytds db  nds  b   n ds
s1 s1

Como produto final da integração por partes, resulta:

s2
s  s s2
s 
  yt ds  .  n ds     n ds  y t ds  0 (1.14)
 s1  s1 s1 s1  s1 

13
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Na equação 1.14, a parcela  yt ds representa o momento estático da seção transversal,

que, por definição, resultará nulo quando verificado ao longo de toda a linha do esqueleto:
s1 s2

 y t ds 
s1
0 e  y t ds 
s1
0

Portanto, como produto final de interesse, obtém-se:


s2
s 

s1
  n ds  y t ds  0
 s1 
(1.15)

 n ds
s
O termo entre colchetes s1
é denominado Área Setorial da seção transversal,

proposto em VLASOV (1961) e representado por . Nesse caso, a área setorial e a condição
para a determinação da posição (lugar geométrico) do ponto D são escritas nas formas:
s

   n ds (1.16)
s1


A
y dA  0 (1.17)

Em uma segunda análise, análoga à primeira, supõe-se um plano de carregamento (ou


traço do plano de cargas) fictício e paralelo ao eixo z, agora representado na figura 1.12.

traço do plano de cargas s = s2


(lugar geométrico de D)

Vz
D

CG

z y
ds

t

s = s1

Figura 1.12 – Plano de carregamento (fictício) coincidente com a direção z.

14
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Nesse caso, assim como no primeiro, resultam as seguintes igualdades:


V  Vz I  Iy (1.18 e 1.19)
s

M s   z dA   zt ds (1.20)
A s1

Por um procedimento análogo àquele que possibilitou a determinação das equações


1.16 e 1.17, resultará a equação 1.21 como segue.

  z dA
A
 0 (1.21)

Portanto, como condição necessária para determinar o Centro de Torção, basta


estabelecer planos de carga, nas direções dos eixos principais (por ser mais conveniente),
considerados coincidentes com as respectivas forças cortantes resultantes que aparecem em
resposta aos carregamentos aplicados. Nesse caso, tem-se como produto final, o seguinte
conjunto de equações para a determinação de D:


A
y dA  0   z dA
A
 0

s = s2
Vy

Vz
D

CG

z y
ds

t

s = s1

Figura 1.13 – Planos de carregamentos (fictícios), paralelos às direções y e z.

Os termos  A
 y dA e   z dA
A
são denominados Produtos Setoriais da seção

transversal, VLASOV (1961), e se referem aos eixos principais de inércia.

15
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

Com relação às equações 1.16, 1.17 e 1.21, anteriormente apresentadas, vale aqui
mencionar alguns aspectos particulares que servirão como ferramentas de interesse para a
dedução de outras equações a serem apresentadas nos itens que se seguem, e de fundamental
importância para a presente análise:

 COM RELAÇÃO À ÁREA SETORIAL


É importante ressaltar que a área setorial , quando calculada em relação a um trecho
qualquer da linha do esqueleto, de uma seção qualquer, resulta no dobro da área do setor
(figura geométrica plana) gerada pela varredura da linha que une o Centro de Torção
(admitido como pólo) e a origem s1 (adotada aleatoriamente), desde essa mesma origem s1 até
s2, do elemento ds de interesse. A figura 1.14 esquematiza o aspecto mencionado para um
segmento curvo (caso geral) de uma seção qualquer.
tg

s
n
s2
ds

s1
D
d  /2

Figura 1.14 – Relação entre área setorial e área geométrica gerada para trecho curvo

O mesmo aspecto pode ser identificado se particularizarmos o caso ilustrado na figura


1.14, considerando o trecho em questão como reto, conforme ilustrado na figura 1.15, em que
se adota como origem para a ordenada “s” o ponto 2 localizado sobre a linha do esqueleto,
com integração (ou varredura) até o ponto 3, obtém-se:

3 a

   n ds  n  ds  a.n (1.22)
2 0

16
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

a.n 
A     2A (1.23)
2 2

Figura 1.15 – Relação entre área setorial e área geométrica gerada para trecho reto

 COM RELAÇÃO À ORIGEM DA ORDENADA S


A posição da origem da ordenada s não influi na determinação da posição de D, uma
vez que a área setorial a ser obtida independe da escolha dessa mesma origem. Deslocando-se
a origem sobre qualquer ponto da linha do esqueleto, aparecerá um acréscimo constante em
, tal que:

*    k (1.24)

A contribuição desta constante na equação 1.17 ou na equação 1.21, condições para a


determinação de D, será nula, conforme demonstrado como base na consideração de momento
estático nulo:
17
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

 (  k ) y dA    y dA  k  y dA    y dA  k.0    y dA
A A A A A

Esse mesmo aspecto pode ser identificado se alterarmos a origem da ordenada s


inicialmente adotada na figura 1.15, conforme ilustra a figura 1.16, em que se adota como
origem para a ordenada “s” o ponto 1 localizado sobre a mesma linha do esqueleto, com
integração (ou varredura) desde o ponto 2 até o ponto 3, obtendo-se:

b a b a

   n ds  n  ds  n (b  a - b)  a.n (1.25)
b b

Figura 1.16 – Relação entre área setorial e área geométrica gerada com origem em 1.

Como é possível perceber, apesar de as origens adotadas nas figuras 1.15 e 1.16 serem
diferentes, o resultado obtido por meio da equação 1.25 é idêntico àquele obtido por meio da
equação 1.22.

18
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

 COM RELAÇÃO À PARTICULARIDADE DA ÁREA SETORIAL

Tendo-se em vista certas aplicações futuras nos capítulos que seguem, é possível
estabelecer uma dada posição “particular” para a origem “Os”, da ordenada “s”, de modo que
a condição imposta pela equação 1.26 seja satisfeita.

  dA  0
A
(1.26)

O termo  A
 dA possui analogia direta como o momento estático deduzido por meio

dos conceitos da Resistência dos Materiais, M s   y dA , e por essa razão recebe aqui o
A

nome de Momento Estático Setorial. Em resumo, quando a área setorial () é obtida com
pólo em D a partir de uma origem particular Os, e de modo que o momento estático setorial
em toda a seção seja nulo, essa área setorial recebe o nome de Área Setorial Principal.

 COM RELAÇÃO À POSIÇÃO PARTICULAR PARA A ORIGEM Os

Para se obter a origem Os particular, mencionada anteriormente, toma-se como ponto


de partida uma área setorial  , também obtida em relação a D e determinada com base em
uma origem Os para a ordenada s, arbitrariamente escolhida, e que nada mais é do que o
resultado da área setorial principal somada a uma outra área setorial de valor constante e
representada por C. Neste caso, faz-se:

 C   -C (1.27)

Com relação à equação 1.27, vale lembrar que  é, neste caso, a área setorial obtida
com pólo em D a partir de uma origem particular Os, a qual substituída na equação 1.26,
permite obter:

  dA  0   (  - C) dA  0   ( ) dA - C dA  0
A A A A

Finalmente, resulta a equação 1.28

19
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 1 – Centro de Torção

1
A A
C  dA (1.28)

Com o resultado obtido por meio da equação 1.28, pode-se obter a área setorial
principal, bastando que o valor da área setorial C (constante) seja somado àquela área setorial
obtida com origem Os posicionada arbitrariamente, ou seja,  .

20
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

A"
D
M
A

N
Os
p /2
B"
B

2. INTERPRETAÇÃO GEOMÉTRICA DA ÁREA SETORIAL

2.1 INTRODUÇÃO

As formas implícitas estabelecidas, equações 1.17 e 1.21 apresentadas no capítulo 1,


dificultam a aplicação direta dessas mesmas equações na determinação da localização do
Centro de Torção (D). Por outro lado, a relação direta entre área setorial e área geométrica,
conforme demonstrado no capítulo 1, permite a interpretação geométrica da área setorial
possibilitando a obtenção de equações explicitas para as coordenadas de D, representadas por
yD e zD, tomadas com relação ao Centro Geométrico (CG), conforme figura 2.1.
z

z0

zD

CG
z
y
D
K M D
y
0
horário
y
A 
>0 Os N

 /2
B

Q L
y

Figura 2.1 – Interpretação geométrica da área setorial com pólo em D.

21
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

2.2 OBTENÇÃO DA ÁREA SETORIAL POR PROCEDIMENTO


GEOMÉTRICO COM PÓLO EM D

A figura 2.1 esquematiza um trecho genérico de linha do esqueleto, com a origem Os


representada por yo e zo, um ponto genérico qualquer Q com coordenadas y e z, bem como o
centro de torção D com coordenadas yD e zD, tomadas com referência ao CG.
Uma primeira análise com relação à figura 2.1 permite observar a formação de vários
setores ou áreas geométricas, decorrentes da varredura da reta que une os pontos D (centro de
torção) e Os (origem da ordenada s), até um ponto Q ao longo da linha do esqueleto de um
dado trecho de interesse de seção transversal. Os setores (ou áreas) formados são as seguintes:

 Área do triângulo MDOs, a qual resulta igual a área do triângulo NDOs, ambas
identificadas na figura 2.1 pela variável ;

 Áreas KMOsQ e LNOsQ, identificadas figura 1.17 pelas letras A e B, respectivamente;

De acordo com a relação entre área geométrica e área setorial demonstrada por meio
da equação 1.23 (capítulo 1), pode-se impor que a área do triângulo DOsQ é igual à metade da
área setorial correspondente à mesma figura gerada, ou seja:


Área (DOsQ)  (2.1)
2

Com base na equação 2.1, se tem as seguintes relações:

Área (KDLQ)  A  B  2 (2.2)


Área (DQL)  B (2.3)
2

Por fim, com base nas equações 2.2 e 2.3, obtém-se como produto final:

 
A  B  2  2 x   B   
2 

22
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Finalmente:

 AB (2.4)

A equação 2.4 permite obter o valor da área setorial, parâmetro aqui de interesse, por
meio de uma subtração de valores de áreas geométricas formadas no processo, no caso, as
áreas A e B.

2.3 CONVENÇÃO DE SINAIS

O sinal da área setorial  é adotado como positivo quando o raio vetor “n” é traçado
com centro em D e gira (varredura), a partir de Os para um ponto genérico Q, no sentido
horário, para um observador olhando no sentido positivo do eixo x, nesse caso, o longitudinal
da barra.
Na figura 2.1, está representado o sentido horário para obtenção da área setorial
positiva. Para giros (varreduras) no sentido anti-horário, a área setorial resultará com sinal
negativo.

2.4 OBTENÇÃO DA ÁREA SETORIAL POR PROCEDIMENTO


GEOMÉTRICO COM PÓLO PROVISÓRIO (P)

O procedimento utilizado no item 2.2 para a determinação da área setorial admite


como conhecida a posição do Centro de Torção (D), uma vez que o mesmo foi adotado como
pólo para a varredura do raio vetor.
No entanto, caso a posição de D ainda não seja conhecida e, portanto, de interesse, o
procedimento poderá ser ainda assim utilizado, desde que para isso seja adotado como pólo
um outro ponto qualquer pertencente ao plano que contenha a seção transversal de interesse
denominado de pólo provisório, representado por P e escolhido arbitrariamente.
Indicando-se com p a área setorial a ser obtida com o pólo provisório P, pode-se
escrever considerando a propriedade anteriormente demonstrada por meio da equação 2.4, em
que  = A – B, a seguinte igualdade:

p  A' B' (2.5)

23
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Sendo yp e zp as coordenadas do pólo provisório P, se tem como válidas, de acordo


com a figura 2.2, as seguintes relações entre área geométricas:

z0

x
yp z CG
M' P ( yp , z p )
K'
yD
A"
D y
0
K M
A y
y
N N'
Os
p /2
B"
B

Q L L'
zp

zD

Figura 2.2 – Interpretação geométrica da área setorial com pólo provisório P.

A'  A  A' ' (2.6)

B'  B  B' ' (2.7)

Com as equações 2.6 e 2.7 substituídas em 2.5, obtém-se:

p  A  A' ' B  B' '  A - B  A' '-B''    A' '-B'' (2.8)

A equação 2.8 pode ainda ser reescrita com base nas coordenadas de interesse da
figura 2.2, na forma:

p    (z  z 0 )( y D  y P )  ( y  y 0 )(z D  z P )

24
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Com o devido rearranjo:

  P  ( y  y 0 )(z D  z P )  (z  z 0 )( y D  y P ) (2.9)

É importante aqui ressaltar que o artifício de cálculo considerando o pólo provisório P


deve-se ao fato de, inicialmente, não se conhecer o ponto D, objeto aqui de interesse. Para
tanto, multiplica-se a equação 2.9 por y, resultando:

y  P y  z D y 2  z P y 2  y 0 z D y  y 0 z P y  y D zy  y P zy  z 0 y D y  z 0 y P y

Ou ainda, na forma:

y  P y  (z D  z P ) y 2  (termos que contem y e yz como fatores) (2.10)

Analogamente, multiplicando a equação 2.9 por z, resulta:

z  P z  ( y D  y P )z 2  (termos que contem z e yz como fatores) (2.11)

Com relação às equações 2.10 e 2.11, vale aqui lembrar que os termos que contem y, z
e yz (como fatores) resultarão nulos, uma vez que:

 y dA   z dA  0
A A
(momentos estáticos).

 yz dA
A
(momento de inércia centrífugo em relação aos eixos principais de inércia).

As equações 2.10 e 2.11, quando substituídas respectivamente nas equações 1.17 e


1.21, apresentadas no capítulo 1, permitirão obter equações explícitas para a determinação das
coordenadas de D. Nesse caso, resultam:

  y  (z
A
P D  z P ) y 2  dA   P y dA  (z D  z P )  y 2 dA  0
A A

  z  ( y
A
P D  y P )z 2  dA   P z dA  ( y D  y P )  z 2 dA  0
A A

25
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Portanto, se obtém as equações explícitas para a determinação da posição do Centro de


Torção (D), nas formas:

1
yD  yP 
Iy   z  dA
A
P
(2.12)

1
zD  zP 
Iz   y  dA
A
P (2.13)

A seguir, são comentados alguns aspectos de interesse com relação aos parâmetros
pertencentes às duas últimas equações obtidas. São os seguintes:

 O cálculo da posição do centro de torção D, com base nas equações 2.12 e 2.13, resulta tão
mais preciso quanto mais delgadas forem as paredes que constituem a seção transversal de
interesse, pois a distribuição adotada para a tensão de cisalhamento ao longo da espessura t
fica mais próxima da real;

 Por outro lado, em seções constituídas por paredes não delgadas, o centro de torção deve
ser determinado apenas quando se dispõe da distribuição exata das tensões de cisalhamento,
fornecida pela Teoria da Elasticidade, caminho que leva, em geral, a grandes dificuldades de
cálculo;

 Uma vez que as seções são admitidas como delgadas, na determinação dos momentos
principais de inércia, Iz e Iy, os quais aparecem nas equações 2.12 e 2.13, podem ser
suprimidas as parcelas dos momentos individuais dos elementos, em que a espessura é
t 3 ds
elevada ao cubo, ou seja, ;
12

 Imagina-se uma viga com um carregamento geral que produz flexão e torção,
simultaneamente. Neste caso, as cargas devem ser separadas em dois grupos: o grupo (1)
produz apenas flexão, enquanto o grupo (2) produz apenas torção, conforme ilustrado na
figura 2.3. Nesse caso, o trabalho do grupo (2) no deslocamento produzido pelo grupo (1)
será nulo, pois na flexão não haverá rotação das seções.

26
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Pelo Teorema de MAWELL-BETTI pode-se concluir que o trabalho do grupo (1),


durante o deslocamento produzido pelo grupo (2), também será nulo. Essa situação só é
possível quando as rotações das seções se dão em torno do ponto D, pelo qual passam as
cargas do grupo (1). Portanto, conclui-se que o Centro de Torção (D) é também centro de
rotação das seções.

P (carga transversal) M = P.c

__
P

z D
CG
z D + z D

c c c
y y y

(1) (2)

Figura 2.3 – Esquema dos efeitos de flexão e de torção.

 Todo eixo de simetria contém o Centro de Torção (D). Esta particularidade já foi
mencionada nos itens 1.3.1 e 1.3.2 do capítulo 1, e deve aqui ser recuperada agora com
vistas à aplicação das equações obtidas por meio da Teoria de Vlasov, tomando como
exemplo a equação 2.12 aplicada à seção ilustrada na figura 2.4.
Adotando-se o pólo provisório P com posição coincidente (ou pertencente) ao eixo de
simetria, conforme figura 2.4, tem-se de imediato que yp = 0. Nesse caso, escreve-se:

1
yD 
Iy   z  dA
A
P

Por fim, com a consideração da origem Os coincidente com o ponto em que o eixo de
simetria cruza a linha do esqueleto, figura 2.4, nota-se que a varredura que o raio vetor
realiza, desde a origem Os até a extremidade superior da seção, será igual em módulo àquela
realizada desde a mesma origem até a extremidade inferior, porém, com sinal contrário e,
portanto:

27
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

  z  dA  0
A
P

A última igualdade é justificada, uma vez que p tem sinais contrários para as
situações em que y > 0 e y < 0, enquanto que a coordenada z resulta sempre com o mesmo
sinal. Portanto yD = 0 e o Centro de Torção (D) pertence ao eixo de simetria.

p<0 Os

z P CG
p >0

Figura 2.4 – Seção monossimétrica com pólo P sobre o eixo de simetria.

2.5 CENTRO DE TORÇÃO (D) – Exemplos resolvidos

Com o objetivo de otimizar a determinação do Centro de Torção, nos exercícios


resolvidos que se seguem, a exceção do último, será desconsiderada a determinação do CG da
seção, cujo procedimento consiste em estabelecer a diferença entre as coordenadas de D e de
P (pólo provisório), segundo as direções z e y, rearranjando-se as equações 2.12 e 2.13.
Por esse procedimento, a posição final de D ficará condicionada a uma dada distância
a ser percorrida a partir de P, e não mais a partir do CG. O procedimento em questão pode ser
inicialmente exemplificado com base em uma análise com relação aos casos ilustrados na
figura 2.5.
28
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Caso a:

Caso b:

Caso c:

Figura 2.5 – Combinações para as posições de P, do CG e de D (para zD - zP > 0).

Na última figura são consideradas combinação para as posições de P, do CG e de D,


segundo o eixo z, por exemplo, nesse caso admitido como eixo de simetria para uma seção
monossimétrica em que yD = 0. Para cada caso considerado (a, b e c) é possível se considerar
os seguintes aspectos:

Caso a: z D  0 ; z P  0 ; z D  z P  zD  zP  0
Caso b: z D  0 ; z P  0 ; z D  z P  zD  zP  0
Caso c: z D  0 ; z P  0 ; z D  z P  zD  zP  0

Conclui-se, neste caso, que D estará localizado à esquerda de P sempre que zD - zP > 0.
Caso contrário, para zD - zP < 0, implicará que D estará localizado à direita de P, conforme
ilustra a figura 2.6.

29
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Figura 2.6 – Combinações para as posições de P, do CG e de D (para zD - zP < 0).

É possível por analogia concluir que segundo o eixo y, no caso de ser eixo único de
simetria, valerá a mesma regra em que se admite D localizado abaixo de P sempre que resultar
yD - yP > 0. Caso contrário, D estará localizado acima de P.
Por fim, ressalta-se que os resultados serão comparados com aqueles obtidos
numericamente, por meio de código computacional denominado FLEXO II.

 Exercício 1: Determinar a posição do Centro de Torção (D) e o diagrama de área setorial


principal () para uma barra com seção transversal monossimétrica na forma de U, com
espessura t constante, ilustrada na figura 2.7.
Com base nas considerações feitas no item 1.3.2 do capítulo 1 (D situado no eixo de
simetria), pode-se admitir que zd = 0, pois y é eixo de simetria. Portanto, basta apenas
determinar yd, lembrando que z e y são eixos principais de inércia.

30
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

h CG
z

y
Figura 2.7 – Seção U monossimétrica com paredes de espessura constante t.

Para a determinação da posição do Centro de Torção serão necessárias as seguintes


equações:
1
yD  yP 
Iy   z  dA
A
P

 ht 3 b 2  tb 3 htb 2 tb 3 tb 2 (6h  b)
I y  2  ht ( )     
 12 2  12 2 12 12

Com as posições do pólo provisório P e da origem Os definidas, conforme figura 2.8,


se obtém, para fins de resolução da equação de yD, os diagramas de p e z, nas formas:

bh b/2 b/2

+
0 _
+
//

z z
p >0
0
Os // P
+
y b/2 y b/2
(p) (z)

Figura 2.8 – Diagramas de p e z, para a seção U.


31
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Apenas para fins de análise complementar, caso as posições do pólo provisório P e da


origem Os fossem escolhidas de acordo com a figura 2.9, resultariam os seguintes diagramas:

bh/2 bh/2

+ _

z z
0 P 0
p >0 p<0
// // _
P _ Os
y y
Figura 2.9 – Diagramas de p para a seção U, com pólo P e origem Os em posições diferentes
daquelas adotadas na figura 2.8

Como continuidade, resolvendo a integral da equação de yD, com base nos diagramas
da figura 2.8 e em concordância com a figura 2.10, procede-se:

1 1
yD  yP 
Iy   z  dA
A
P  yD  yP  c 
Iy   z  dA
A
P

CG
z
yp
yD
c
D

Figura 2.10 – Simplificação para a determinação da posição de D.

32
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica


Obs: s (p z) ds : corresponde ao produto das integrais “retângulo x triângulo” = a
2

h b tb 2 h 2
Portanto: t s p z ds  t (bh ) 
2 2 4

tb 2 h 2 12 3h 2
Finalmente: c  .  (posição de D a partir do pólo P)
4 tb 2 (6h  b) 6h  b

Uma vez conhecida a posição de D, pode-se proceder a determinação da área setorial


principal adotando-se como pólo definitivo o próprio Centro de Torção, e com uma dada
posição particular para a origem Os, conforme figura 2.11.

b ( h-c ) b ( h-c )
2 2
B B
+ _

Os Os
A A
_ +  > 0=bc/2  < 0=hb/2
bc/2 D D
+
c
bc/2
D

Figura 2.11 – Diagrama de área setorial principal com pólo em D e Os particular.

A partir de  no ponto A, com valor igual a +(bc)/2, a área setorial torna-se negativa
decrescendo do ponto A até o ponto B, de -(hb)/2, de modo que:

bc hb b(c  h )
( B )   
2 2 2

Como c < h, tem-se:

b ( h  c)
( B )  
2
33
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Nota-se que, neste caso, a origem Os foi convenientemente escolhida de modo a se


obter um diagrama de  antimétrico, o que garante:

  dA  0
A
(nesse caso,  é principal).

Com base na solução deste exercício, conclui-se que se a seção tiver um eixo de
simetria, o Centro de Torção o estará sobre esse eixo. E ainda, ao se adotar a origem Os
coincidentemente com o ponto em que esse mesmo eixo intercepta a linha do esqueleto, o
diagrama de área setorial será antimétrico e, conseqüentemente, a área setorial será aquela
definida anteriormente como principal. Se a seção tiver dois eixos de simetria, o pólo D e a
origem Os coincidirão com a interseção desses eixos.
Serão agora comparados os resultados obtidos anteriormente com aqueles a serem
determinados por meio do programa FLEXO II. Para fins de comparação, serão aqui
adotados, com relação à figura 2.7, os valores b = h = 10 cm e t = 1 cm. As figuras 2.12 e 2.13
apresentam os resultados do programa por meio das telas interativas.

Figura 2.12 – Seção U: Tela geral com as dimensões, CG e D.

34
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Figura 2.13 – Seção U: Resultados gerais e área setorial principal.


Unidade de referência: centímetro (cm)

Com base nas equações gerais obtidas, resultam:

3h 2 3.10 2 300
c    4,28 cm
6h  b 6.10  10 70
bc 10.4,28
( A )     21,4 cm 2
2 2
b ( h  c) 10(10  4,28)
( B )     28,6 cm 2
2 2

 Exercício 2: Determinar a posição do Centro de Torção (D) e o diagrama de área setorial


principal () para uma barra com seção transversal com simetria de ponto na forma de Z, com
espessura t constante, ilustrada na figura 2.14. Vale lembrar que D está situado no CG, com
posição final já definida. Inicialmente, a origem Os é adotada coincidente com D.
Note-se que para a origem Os adotada, coincidentemente com D e com o CG, o
diagrama de  (área setorial) não é a principal, pois não satisfaz a condição:

  dA  0
A

35
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

a a

+ a2
t (const)

z
_ _ _
2a CG _ D D _ CG _ Os

a diagrama de 
a2 +

y
Figura 2.14 – Seção Z ponto-simétrica com paredes de espessura constante t.

Portanto, para se obter a origem Os particular de modo a se obter a área setorial


principal, tem-se:

 C   C

1
A A
C  dA A = 4 a t (área da seção transversal Z)

Para tanto, procede-se:

  a.a 2 
A dA  t s  ds  t 2  2   t a
3

 1  3 a
2

C  ta 
 4at  4

Portanto, somando-se o valor de C ao diagrama obtido e apresentado na figura 2.14,


obtém-se o diagrama de área setorial principal, conforme esquematiza a figura 2.15.
Inicialmente, é importante observar que os pontos em que a área setorial principal é nula
representam os possíveis pontos particulares a serem adotados para a origem Os.

36
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

a2 3a2
4 + 4

Os

3a2
4 +

Os a2
4
Figura 2.15 – Seção Z: área setorial principal.

Os resultados obtidos permitem concluir que no caso de barras com seção transversal
delgada, em que as ramificações da linha de esqueleto têm forma de “estrela”, isto é,
ramificações concorrentes em um ponto, conforme figura 2.16, ao se adotar esse ponto como
pólo para cálculo da área setorial, esta e os produtos setoriais serão nulos. Dessa forma, esse
ponto será o Centro de Torção (D) da seção.

1 1
yD  yP 
Iy
 0.z  dA  y
A
P  0  yP zD  zP 
Iz
 0.y  dA  z
A
P  0  zP

Figura 2.16 – Seções com ramificações concorrentes em um único ponto.

Os resultados obtidos serão agora comparados com aqueles a serem determinados por
meio do programa FLEXO II. Para fins de comparação, serão adotados com relação à figura
2.14, os valores a = 10 cm e t = 1 cm. As figuras 2.17 e 2.18 apresentam os resultados do
programa por meio das telas interativas.
37
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Figura 2.17 – Seção Z: Tela geral com as dimensões, CG e D.

Figura 2.18 – Seção Z: Resultados gerais e área setorial principal.


Unidade de referência: centímetro (cm)

No caso de os valores de a e t serem substituídos no diagrama de área setorial principal


da figura 2.15, é possível recuperar os valores apresentados no diagrama da figura 2.18.

38
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

 Exercício 3: Determinar a posição do Centro de Torção (D) e o diagrama de área setorial


principal () para uma barra com seção transversal monossimétrica quadrada aberta, com
espessura t constante, ilustrada na figura 2.19. Assim como no exemplo 1, vale lembrar
novamente que D está situado no eixo de simetria, de modo que apenas umas das equações já
apresentadas (2.12 ou 2.13) será suficiente para se obter D.

t (const)

a/2

z D
a/2

c a Seção Transversal

Figura 2.19 – Seção quadrada aberta com paredes de espessura constante t.

Com base em considerações preliminares com referência à figura 2.19, pode-se


admitir que yd = 0, pois z é eixo de simetria. Portanto, basta apenas determinar zd, lembrando
que z e y são eixos principais de inércia. Portanto, para a determinação da posição do Centro
de Torção (D) serão necessárias as seguintes equações:

1 1
zD  zP 
Iz   y  dA
A
P  zD  zP  c  
Iz   y  dA
A
P

2
2 ta 3 a 2
Iz   2at   ta 3
12 2 3

Com vistas à complementar as últimas informações obtidas, parte-se a construção dos


diagramas de p e y, adotando-se o pólo P provisório e origem Os conforme figura 2.20. Vale
ressaltar que o diagrama de y foi determinado apenas nos trechos da seção em que o diagrama
de p resultou diferente de zero.

39
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

a/2
a2 _
+ a/2

_
+
a2
0 2
//

_ 3a2 z
2

0 +
_
P _ Os
//
a/2
y

(p) (z)

Figura 2.20 – Diagramas de p e y, para a seção quadrada aberta.

Para a determinação de D, procede-se:

  a 1 a a 2   1 2 a  a 1 a  3a 2 2  5 4
A  p y dA  t 
 2 6 2 2


 

a
2
a
2



2 6 2

 2
 2 a 

  
12
a t

1 3 5a 4 t 5a
c
Iz A p y dA   2ta 3 12  8

Uma vez conhecida a posição de D, pode-se determinar o diagrama de  principal, o


qual é ilustrado na figura 2.21:

a 3a2
5a2 16
16 +
_
a/2 +
Os CG a2
z D a2
a/2 _
+ _

+
5 y 5a2 3a2
a 16
8 16

Figura 2.21 – Seção quadrada: área setorial principal. Unidade: cm2

40
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

É importante observar que a condição   dA  0


A
é satisfeita, uma vez que o

diagrama da figura 2.21 resultou “antimétrico” , o qual corresponde à área setorial principal.
Os resultados obtidos serão agora comparados com aqueles a serem determinados por
meio do programa FLEXO II. Para fins de comparação, serão adotados com relação à figura
2.19, os valores a = 10 cm e t = 1 cm. As figuras 2.22 e 2.23 apresentam os resultados do
programa.

Figura 2.22 – Seção quadrada aberta: Tela geral com as dimensões, CG e D.

Figura 2.23 – Seção Z: Resultados gerais e área setorial principal.


Unidade de referência: centímetro (cm)
41
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

No caso de os valores a = 10 cm e t = 1 cm serem substituídos no diagrama de área


setorial principal da figura 2.21, é possível recuperar de modo bastante satisfatório os valores
apresentados no diagrama da figura 2.23.

 Exercício 4: Determinar a posição do Centro de Torção (D) e o diagrama de área setorial


principal () para uma barra com seção transversal assimétrica, com espessura t constante,
ilustrada na figura 2.24. Nesse caso, não existem eixos de simetria, de modo que ambas as
equações 2.12 e 2.13 serão necessárias para se obter D.

6,615cm

3cm

t const=0,5cm

CG
12cm
_
z
5,885cm

zAUX _
y

yAUX

8cm 4cm

Figura 2.24 – Seção I aberta, assimétrica, com paredes de espessura constante t.

 Determinação da posição do CG

6 x 6  7,5x10,5
yo   5,885cm
19,50
6 x 6  6 x8  7,5x 6
zo   6,615cm
19,50

42
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

 Cálculo dos momentos principais de inércia


I z  6 5,885
2
  0,5 x 12 3

2  0,5 x 9 3
 6 0,115   
2
 7,5 4,615   490,24cm 4
 12   0,6 .12 
 0,5 x 12 3 2  0,5 x 12 3 2
Iy    6 0,615     7,5 0 . 615   6 (1,385) 2   178,62cm 4
 12   0,8.12 
0,5 x 153
I yz  6 x 5,885 x 0,615  6 x 0,115 x 1,385  x 0,6 x 0,8 
12
(7,5) x 4,615 x 0,615  68,88cm 4

Nesse caso, obtém-se:

2
I1  178,62  490,24  178,62  490,24 
      68,88
2

I2  2  2 

I1 = Iz= 504,8 cm4


I2 = Iy= 164,1 cm4

68,88
tg1   0,2112  1  11,924 o
504,8  178,62

 Cálculo de centro de cisalhamento ou centro de torção (D)

1
yD  yp 
Iy 
A p z dA

1
zD  zP 
Iz 
A p y dA

Adota-se, inicialmente o pólo provisório P, conforme figura 2.25, o que permite


construir o diagrama da figura 2.25. Na figura 2.26 se faz a construção dos diagramas de z e
y, necessários para a determinação do Centro de Torção (D).

43
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

3cm
P

12cm
p +

48
A B _

+
96
8cm 4cm
(p)

Figura 2.25 – Seção I aberta: construção do diagrama de área setorial.

6,485
_
4,645
+ +
5,256 7,125

(Z) (Y)
Figura 2.26 – Seção I aberta: construção do diagrama de z e y.

 Rotação de coordenadas dos pontos A, B e P (figura 2.25) para fins de obtenção da posição
do Centro de Torção (D).

y  y cos  z sen 
z  z cos   y sen 

44
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

z A  6,615 cos11,924  5,885 sen 11,924  5,456cm


z B  5,385 cos11,924  5,885 sen 11,924  6,485cm
y A  5,885 cos11,924  6,615 sen 11,924  7,125cm
y B  5,885 cos11,924  5,385 sen 11,924  4,645cm
y p  6,115 cos11,924  1,385 sen 11,924  6,269cm
z p  1,385 cos11,924  6,115 sen 11,924  0,092cm

Conseqüentemente:
0,5 12 
y D  6,269   96(2 x 5,256  6,485)  48(5,256  2 x 6,485)]  1,657cm
164,1  6 

0,5 12 
z D  0,092   96(2 x 7,125  4,645)  48(7,125  2 x 4,645)]  2,12 cm
504,8  6 

 Cálculo de  com origem Os arbitrária:


y D  1,657 cos(11,924)  2,125 sen(11,924)  1,182cm

z D  2,125 cos(11,924)  1,657 sen(11,924)  2,422cm
35,28
G
3,000

F 12,44
12,44
4,933

D
E
_
z
33,25
7,067

_
y
A C B 28,27
56,54

8,000 1,0372,963
_
( )

Figura 2.27 – Seção I aberta: construção do diagrama de , com D e Os arbitrária.

45
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Na figura 2.27 está indicado o diagrama de  com origem Os arbitrariamente


escolhida, no caso, o ponto C. Em seguida, determinam-se as áreas DFG e DFE:


y D  1,182cm z D  2,422cm y F  6,115cm z F  1,385cm
y G  9,115cm z G  5,385cm y E  0,115cm z E  6,615cm

A área (A) de um triângulo formado por três pontos não colineares é determinada pelo
seguinte procedimento:

zo yo 1
1
A  z1 y1 1
2
z2 y2 1

 2,422  1,182 1
 1,385  6,115 1  7,266  4,728  20,305  22,84
 5,385  9,115 1
 2,422  1,182 1
 6,615  0,115 1  14,532  9,456  40,610  45,69
 1,385  6,115 1

G  22,84  12,44  35,28cm 2 E  45,69  12,44  33,25cm 2

Por fim, faz-se a construção do diagrama de  principal:

1 1
 C C 
A A
 dA 
As
 tds

A = 19,5cm2

0,5
t   ds  (8 x 56,54  4 x 28,27  12 x 12,44  (35,28  33,25)15)
s 2

46
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

1
A A
C  dA  6,65     6,65

28,63

5,79
5,79

39,90

6,65
49,89 34,92
6,65

Figura 2.28 – Seção I aberta: construção do diagrama de principal (unidade: cm2).

Verificando o resultado do diagrama, por meio de integração, resulta:

0,5
  dA  (49,89  34,92) 12  (5,79  6,65)12 (28,63  39,90) 15
A
2
  dA  0,27  0
A
(ok!)

2.6 CENTRO DE TORÇÃO (D) – Exercícios Propostos

No presente item, são propostos exercícios com vistas à determinação da posição do


Centro de Torção (D) e do diagrama de Área Setorial Principal (ω), determinados por meio
das ferramentas obtidas com base na teoria de Vlasov, para seções transversais constituídas
por paredes retas e delgadas (espessuras reduzidas).

47
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

Exercício 1- Para as seções transversais ilustradas nas figuras 2.29a e 2.29b, abertas e com
paredes delgadas, pede-se determinar a posição do CG, a posição do Centro de Torção e o
diagrama de área setorial principal. Adotar para ambas as seções: a = 10 cm e t = 0,7 cm (cte).

(a) (b)
Figura 2.29 – Seções Transversais abertas e de paredes delgadas

Exercício 2- Para a seção transversal ilustrada na figura 2.30, aberta e com paredes delgadas,
pede-se determinar a posição do CG, a posição do Centro de Torção e o diagrama de área
setorial principal. Adotar para ambas as seções: a = 6 cm e t = 0,5 cm (cte).

Figura 2.30 – Seção Transversal aberta e de paredes delgadas.

Exercício 3- Para as seções transversais ilustradas nas figuras 2.31a e 2.31b, abertas e com
paredes delgadas, pede-se determinar a posição do CG, a posição do Centro de Torção e o
diagrama de área setorial principal. Adotar para ambas as seções: a = 14 cm e t = 1,2 cm (cte).

48
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

(a) (b)
Figura 2.31 – Seções Transversais abertas e de paredes delgadas

Exercício 4- Para a seção transversal ilustrada na figura 2.32 aberta e com paredes delgadas,
pede-se determinar a posição do CG, a posição do Centro de Torção e o diagrama de área
setorial principal. Adotar para ambas as seções: a = 10 cm e t = 0,6 cm (cte).

Figura 2.32 – Seção Transversal aberta e de paredes delgadas

Exercício 5- Para as seções transversais ilustradas nas figuras 2.33a e 2.33b, abertas e com
paredes delgadas, pede-se determinar a posição do CG, a posição do Centro de Torção e o
diagrama de área setorial principal. Adotar para ambas as seções: a = 16 cm e t = 1,0 cm (cte).

49
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

(a) (b)
Figura 2.33– Seções Transversais abertas e de paredes delgadas

Exercício 6 - Para as seções transversais ilustradas nas figuras 2.34a e 2.34b, abertas e com
paredes delgadas, pede-se determinar a posição do CG, a posição do Centro de Torção e o
diagrama de área setorial principal. Adotar para ambas as seções: a = 13 cm e t = 0,9 cm (cte).

(a) (b)
Figura 2.34 – Seções Transversais abertas e de paredes delgadas

Exercício 7 - Nas figuras seguintes são apresentados vários perfis para se determinar a
posição do centro de torção e o diagrama de área setorial. São seções que têm emprego, quer
na construção civil, em estacas, cortinas, escoras, montantes, nervuras, peças de reticulados,
seções de pontos e coberturas, quer na construção naval, quer ainda na construção mecânica,
com finalidade as mais diversas.
Nota-se que as seções transversais propostas são apresentadas sem dimensões dos
trechos e de espessura definidas, ficando a critério do leitor estabelecer as dimensões de
interesse.
50
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

1 2 3 4 5

6 7 8 9

10 11 12 13 14

15 16 17 18
Figura 2.35 – Seções transversais quaisquer para determinação de D e :
Seção 1 até seção 18.

51
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

19 20 21 22 23

24 25 26 27

28 29 30 31 32

33 34 35 36
Figura 2.36 – Seções transversais quaisquer para determinação de D e :
Seção 19 até seção 36.

52
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

37 38 39 40 41

42 43 44 45

46 47 48 49 50

51 52 53

Figura 2.37 – Seções transversais quaisquer para determinação de D e :


Seção 37 até seção 53.

53
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 2 – Interpretação Geométrica

54 55 56

57 58 59

Figura 2.38 – Seções transversais quaisquer para determinação de D e :


Seção 54 até seção 59.

54
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Mt Mt

1
2

3. TORÇÃO LIVRE OU DE SAINT-VENANT

3.1 INTRODUÇÃO

No capítulo anterior, foram estudados casos de barras em que o plano de carregamento


passa necessariamente pelo Centro de Torção (D), razão pela qual foram desconsiderados
quaisquer efeitos provenientes da torção. No presente capítulo, diferentemente do capítulo
primeiro, serão considerados casos em que ocorram apenas esforços relacionados à torção
simples, conforme ilustra a figura 3.1, particularizados ao caso da torção livre.

Mt
Mt

dx

Figura 3.1 – Diferencial de comprimento de barra (dx) submetido à torção livre.

As condições para que uma barra fique solicitada à torção livre, conforme figura 3.1,
tendo como conseqüência direta a consideração da inexistência de tensões normais, são:
 A seção transversal da barra é constante com x (x = eixo longitudinal), barras prismáticas;
 O momento de torção solicitante (Mt) deve ser constante com x;
 A barra não deve possuir vínculos que impeçam possíveis deslocamentos longitudinais.

55
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Portanto, como hipótese inicial, admite-se que a torção livre implica na ocorrência de
deslocamentos iguais, para um mesmo ponto de coordenada z e y, em todas as seções ao
longo do comprimento da barra. É o único deslocamento admitido (ou considerado), o que
permite assumir também como hipótese inicial a “indeformabilidade” da seção transversal
quando projetada sobre o seu plano.
No caso de não serem satisfeitas as condições anteriormente citadas, tem-se solicitação
à torção não-uniforme, denominada por Flexo Torção (assunto que será devidamente tratado
no Capítulo 4 com base na Teoria de Vlasov), para a qual se faz necessária a utilização de
algumas equações de interesse, usualmente obtidas pela Resistência dos Materiais, as quais
serão de interesse para o estudo da torção simples (tensões de cisalhamento e momento de
inércia à torção, por exemplo), brevemente descritas no que segue.
Tais equações são obtidas por meio da aplicação da “Analogia de Membrana”,
particularizadas às barras com seções delgadas e abertas, submetidas à torção livre, cujo
procedimento é apresentado de modo sucinto no ANEXO I, por não representar objetivo de
interesse do presente texto.
Para tanto, toma-se como ponto de partida a equação geral clássica que permite obter a
rotação (giro) da seção transversal por unidade de comprimento, obtida com base nos
conceitos da Resistência dos Materiais, se escreve na forma apresentada na equação 3.1, em
que d é o giro relativo entre duas seções, Mt é o momento de torção, G é o módulo de
elasticidade transversal do material e It é o momento de inércia à torção.

d M
 '  t (3.1)
dx GI t

Com base nos procedimentos descritos no ANEXO I, são obtidas como produto final
as equações 3.2 e 3.3, as quais representam o Momento de Inércia à Torção e a Tensão de
Cisalhamento para barras submetidas à torção simples e livre.

4k p 1
It  
p 12k s
t 3 ds   t 3 ds
3s
(3.2)

Mt M
b  t t (3.3)
It Wt

56
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Nas equações 3.2 e 3.3, t é a espessura da parede da seção transversal da barra em


estudo, ao longo da qual as tensões de cisalhamento () são admitidas linearmente distribuídas
ao longo da espessura t, com valor máximo na borda (b) e nulo sobre a linha do esqueleto,
conforme esquematiza a figura 3.2.

lin h a d o
e s q u e le to

b
b

Figura 3.2 – Distribuição das tensões de cisalhamento ao longo de t.

Na equação 3.3, Wt é denominado módulo de resistência à torção, e determinado no


trecho da seção em que ocorre a máxima espessura:

It
Wt  (3.4)
t max

Por meio de um rearranjo com relação à equação 3.1, obtém-se a equação 3.5.

d M
 '  t  M t  GI t ' (3.5)
dx GI t

Por fim, considera-se a substituição da equação 3.5 na equação 3.3, obtendo-se a


equação 3.6.

GI t '
b  t  Gt' (3.6)
It

57
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

3.2 DESLOCAMENTOS CONSIDERADOS

A ocorrência de tensões de cisalhamento, descrita pela equação 3.6 e imposta pela


consideração apenas de esforços de torção, permite admitir a existência de deslocamentos dos
diversos pontos da seção transversal de interesse, segundo as direções horizontal e vertical,
por conseqüência das rotações sofridas pelas mesmas seções ao longo do comprimento da
barra, em torno do Centro de Torção (D).
A determinação dos deslocamentos em questão faz-se com base nas seguintes
notações consideradas:
u = deslocamento na direção do eixo x (longitudinal);
v = deslocamento na direção da ordenada s (linha do esqueleto).

O conjunto dos deslocamentos longitudinais “u” causados pela rotação da seção


transversal, em torno do centro de torção D, conforme esquematiza a figura 3.3, é
denominado “empenamento da seção”.

Q'

-v
Q 
r

r

n 
D

tangente ao esqueleto
no ponto Q

Figura 3.3 – Esquematização do giro da seção e seus respectivos deslocamentos.

58
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Por meio de análise com relação à última figura, é possível perceber que o ponto
representado sobre a linha do esqueleto na posição inicial Q, em resposta à rotação  em
relação a D, passa a ocupar a posição final Q’. Para fins de aplicação prática na engenharia
estrutural, se considera apenas a ocorrência de pequenos deslocamentos, o que permite
admitir, por simplificação, que QQ’ = r. Neste caso, por semelhança de triângulos, resulta a
equação 3.7.

v n dv
  - v  n  -  n' (3.7)
r r dx

Admite-se inicialmente que os deslocamentos aqui considerados, u e v, ocorrem


segundo o eixo da barra e a ordenada “s” referente à linha do esqueleto, ou seja, u(s) e v(x,s).
Admite-se ainda que juntamente com os deslocamentos em questão, ocorram distorções em
correspondência às variações desses mesmos deslocamentos considerados, conforme
esquematiza a figura 3.4.

u ds
s
s (deslocamentos v)
v
v+ s ds


ds  v dx
x
v

u
u u+ x dx

dx

x
(deslocamentos u)

Figura 3.4 – Esquematização da configuração deformada do elemento.

59
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Além das deformações nas direções x e s, pode-se ainda considerar a deformação


transversal  (variação do ângulo reto), sendo  = /G, por meio da relação conhecida da
Teoria da Elasticidade, escrita na forma da equação 3.8.

v u
  (3.8)
x s

Por meio da consideração de que os pontos pertencentes à linha do esqueleto não


sofrem deformação transversal, uma vez que pela distribuição admitida para  (conforme
figura 3.4) na linha do esqueleto  = 0, tem-se a equação 3.9.

v u
  0 (3.9)
x s

Lembrando que –v = n, bem como o fato de que n (raio vetor) é constante com x,
tem-se a equação 3.10.

dv d
 n  n' (3.10)
dx dx

No caso da Torção Livre, por definição, admite-se que todas as fibras (lugar
geométrico dos pontos que em cada seção da barra prismática ocupam a mesma posição
relativa) das barras sob torção uniforme (ou livre) permanecem retas após a deformação. Em
outras palavras, a torção livre é caracterizada pelo fato de que todas as seções se comportam
da mesma maneira. Conseqüentemente, o deslocamento longitudinal u não pode sofrer
variação ao longo de x, mas apenas ao longo da ordenada s. Neste caso, reescreve-se a
equação 3.9, obtendo-se a equação 3.11.

du du
 n'  0   n' (3.11)
ds ds

60
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Integrando-se a equação 3.11 ao longo da ordenada s, desde a origem Os até o ponto


genérico Q, de interesse na presente análise, bem como utilizando a definição de área setorial
descrita no capítulo1, resulta a equação 3.12.

Q Q

u   ' n ds  '  n ds  ' (3.12)


Os Os

3.3 CONSIDERAÇÕES DE INTERESSE E CONVENÇÕES

A equação 3.12 permite obter de modo aproximado, porém, sem perda significativa de
precisão dos resultados, os deslocamentos longitudinais (na direção x) dos diversos pontos
pertencentes à seção transversal, definido anteriormente como “empenamento”. O caráter
aproximado utilizado na obtenção dos deslocamentos deve-se ao fato de a equação 3.12 ter
sido deduzida tomando como ponto de partida uma condição de contorno em que é assumida
a inexistência de tensões de cisalhamento sobre a linha do esqueleto (equação 3.9) e, portanto,
inexistência de distorções.
Apesar de ocorrerem tensões cisalhantes em posições diferentes daquela que coincide
com linha do esqueleto e, conseqüentemente, distorções, é bastante razoável adotar os
mesmos deslocamentos ao longo da espessura t, uma vez que as paredes que constituem a
seções possuirem dimensões de espessura bastante reduzidas (paredes delgadas).
Vale ressaltar que na figura 3.3 o sentido da ordenada s foi escolhido de modo a se
obter a relação –v = n . O procedimento mencionado foi adotado com vistas a obter u > 0
nos pontos com  > 0 (e em correspondência a ’> 0). Em outras palavras, os deslocamentos
longitudinais serão considerados positivos quando ocorrerem no sentido positivo do eixo “x”,
conforme esquematizado na figura 3.5.
Vale lembra que barras com seções circulares fechadas, maciças ou vazadas, não
sofrem empenamento na torção. As barras de seção aberta delgada cuja linha do esqueleto tem
forma de “estrela” não sofrem empenamento nos pontos situados sobre a linha do esqueleto.
Neste caso, em função da aproximação adotada na determinação da equação 3.12, é possível
admitir por simplificação que os deslocamentos também serão nulos em pontos da seção não
coincidentes com a linha do esqueleto.

61
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Mt
M 
= t x
Mt GIt
' =
GIt

z
Mt

Figura 3.5 – Esquematização das convenções de sinais para u, Mt e .

No que segue, serão estabelecidas algumas convenções de sinais, em concordância


com a figura 3.7, para a determinação dos parâmetros de interesse relacionados à torção livre:

 Os empenamentos (u) cujos valores resultem positivos, quando da aplicação da equação


3.12, ocorrerão no sentido positivo da coordenada “x”. Caso contrário, se resultarem
negativos, deverão ocorrer no sentido negativo de “x”;

 O momento de torção, representado por Mt, deve ser considerado positivo quando solicita
um parafuso direito no sentido de apertá-lo;

 O giro  é positivo quando ocorrer (ou for considerado) no sentido anti-horário para um
observador olhando no sentido positivo de x.

3.4 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS – Determinação do Empenamento (u)

Exercício 1 – Determinar o empenamento relativo entre os pontos 1 e 2 indicados na seção


transversal da figura 3.6 que segue, referente ao exercício 3 do capítulo 2.
62
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

t=const

Mt Mt

a/2
1 1
2
2
a/2

x
a

Figura 3.6 – Seção retangular aberta com espessura t constante.

a-) Determinação dos empenamentos absolutos referentes aos pontos 1 e 2:

Mt 1
u 1  11 '  1' u 2  2  2 '  2 ' '  I t  t 3 4a
ItG 3

De acordo com o diagrama de área setorial apresentado na figura do exercício 3 do


capítulo 2, tem-se 1 = a2 e 2 = -a2, conforme ilustra a figura 3.7.

a 3a2
5a2 16
16 +
_

a/2 +
Os CG a2
z D a2
_
a/2
+ _

+
5 y 5a2 3a2
8 a 16 16

Figura 3.7 – Valores (literais) para a área setorial principal.

63
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Neste caso, resultam os seguintes deslocamentos:

u 1  a 2 ' u 2  a 2 '

b-) Determinação do empenamento relativo entre os pontos 1 e 2:

Mt Mt
u rel  u 1  u 2  a 2 '(a 2 ' )  2a 2 '  2a 2  2a 2
ItG 4 3
t aG
3
3aM t
u rel  (unidade : cm)
2t 3 G

Exercício 2 – Calcular o empenamento relativo entre os pontos 1 e 2 indicados na figura 3.8,


representada por barra de seção circular

r
1
Mt
z 2
Mt
t

y x

Figura 3.8 – Seção circular aberta com espessura t constante.

a-) Determinação da posição do Centro de Torção (D):


Como z é eixo de simetria, vale lembrar que yD = 0, bastando apenas determinar o
valor de zD para a obtenção da posição do centro de torção.

1 t
zD  zP  
Iz A
P y dA  z P   P y ds
Iz s
I z  I y  tr 3

64
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Os valores de Iz e Iy correspondem aos eixos principais de inércia. Para a aplicação da


última equação, o pólo provisório será adotado com posição coincidente com o centro de
gravidade da seção, conforme figura 3.9, de modo que zP = 0.

linha do
esqueleto

Os
z y  P
d
ds r

y
Figura 3.9 – Pólo provisório (P) coincidente com CG da seção.

A determinação de zD depende da determinação das equações de ωP e y, ambas


descritas em função de r, uma vez que a varredura será feita radialmente com origem Os
indicada no CG. Neste caso, escreve-se:

y
sen   y  r sen
r
ds  r d

P    n ds    r rd  r 2  d   r 2 
s  0

Um outro modo de determinar a equação da área setorial em função de α (ângulo de


varredura) refere-se ao fato de que área setorial corresponde ao dobro da área geométrica
formada pela varredura imposta à seção, neste caso, a área de um setor circular:

1
dA SC  r 2 d  dP  2dA SC   r 2 d
2

Portanto, resulta:
65
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

 t  
z D  0   3  (r 2 )(r sen) rd  x 2 (multiplica-se por 2 em razão da simetria)
 tr 0 

2 tr 4  2r 
zD 
tr 3 0
 (.sen) d   0 (.sen) d

Resolvendo a integral da última equação por partes, tem-se:

 a db  ab   b da
a    da  d
db  sen d  b   sen d  b   cos 

Finalmente, obtém-se:

2r   2r
 

2r
  sen o    2r
 
z D     cos  0    cos  d  
 0   

b-) Determinação dos empenamentos absolutos referentes aos pontos 1 e 2:


A área setorial do ponto 2 da seção resulta igual ao dobro da diferença das áreas A-B,
ambas esquematizadas na figura 3.10, ou seja, o dobro da área do semi círculo de raio r.

r r r

D Os 1 D Os 1
z 2 z 2
A
B
 >0 <0

Figura 3.10 – Composição de áreas geométricas para determinação de ω principal.

66
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

Neste caso, resultam 1 = r2 e 2 = - r2. Conseqüentemente, são obtidos os


seguintes deslocamentos longitudinais:
u 1  r 2 ' u 2  r 2 '

c-) Determinação do empenamento relativo entre aos pontos 1 e 2:


Mt
u rel  u  u 1  u 2  r 2 '(r 2 ' )  2r 2 '  2r 2
ItG
1 3 2rt 3
Lembrando que: I t   t ds 
3s 3

2r 2 M t 3 3rM t
u  
G.2rt 3 Gt 3

Exercício 3 – Calcular o empenamento relativo entre os pontos 1 e 2 indicados na figura


3.11, representada por barra composta por trechos circular e retos

Mt 1
B

a
t const=0,1a

 Mt zAUX
x A
a

2
a 2a

yAUX

Figura 3.11 – Seção aberta, com trechos reto e circular, e com espessura t constante.

a-) Determinação do CG e do Iz:


a (3  2)
. a  2a . a
yo  0 zo    1,32 a
a  2a  2a

67
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

 3

Iz  (1,05a ) 4  (0,95a ) 4   0,1a (2a )  0,224 a


8 12
2 a/

CG
a

b-) Determinação da posição do Centro de Torção (D):


Adotando-se a posição do pólo provisório P, conforme figura 3.12, ficam estabelecidas
as distâncias yp = 0 e zp = 1,68a. Neste caso, utilizando novamente as equações deduzidas e
apresentadas no exercício anterior, em que dp = r2 d, ds = rd e y = r sen , passa a ser
possível determinar a posição de D, somando as contribuições dos trechos circular e reto, por
meio do seguinte procedimento:

1,68a 1,32a

P CG
z 
d

Figura 3.12 – Posição adotada para o pólo P.

68
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

 Trecho circular
/2 /2
/2
 y dA  2 t  (r ) (r sen) rd  2 t r  ( sen) d  2t r sen   cos  0
2 4 4
P
A o o

Na última equação, para r = a e t = 0,1a:


A
P y dA  0,2 a 5

 Trechos retos (ver diagramas esquematizados na figura 3.13)

a

A
P y dA  0,1a (2. 3a 2 a )  0,2 a 5
3

3a2 a

_ _

+ +

3a2 a
(p) (y)

Figura 3.13 – Diagramas de P e y para o trecho reto vertical.

Portanto, resulta:

1 1
zD  zp 
Iz
 p y dA  1,68a 
0,224a 4
(0,2a 5  0,2a 5 )  0,106a

69
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

c-) Determinação dos valores de área setorial principal para os pontos 1 e 2.

A determinação dos valores de área setorial principal para os pontos 1 e 2, faz-se,


neste caso, por composição de áreas formadas no processo de varredura ao longo da linha do
esqueleto com relação ao ponto D, tal que da figura 3.14 resulta B = A + E – C, ou ainda, com
um rearranjo, resulta A – B = C – E. Neste caso:

 1,786a 2 a 2 
1  2(A  B)  2(C  E )  2    0,215a 2
 2 4 

Analogamente, para o ponto 2 resulta:

2  0,215a 2

E
A D
1

D
Os Os
B

2 C
D
1,786a

Figura 3.14 – Diagramas de P e y para o trecho reto vertical.

d-) Determinação dos empenamentos absolutos referentes aos pontos 1 e 2:

u 1  0,215a 2 ' u 2  0,215a 2 '

70
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

c-) Determinação do empenamento relativo entre aos pontos 1 e 2:

Mt
u rel  u  u 1  u 2  0,215a 2 '(0,215a 2 ' )  0,43a 2 '  0,43a 2
ItG

1 3 1
Jt 
3
s
t ds  (0,1a) 3 (2a  2a  a ) a 4 
3

0,43a 2 M t 179,2M t
u  
0,0024a 4 G Ga2

71
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 3 – Torção Livre

72
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

M t+dM t

dM t
m=
dx

Mt

4. TORÇÃO NÃO-UNIFORME OU FLEXO TORÇÃO

4.1 INTRODUÇÃO

No primeiro capítulo foram estudados casos de barras cujo plano de carregamento


passava necessariamente pelo centro de torção, razão pela qual foram desconsiderados
quaisquer efeitos referentes a esforços proveniente da torção de barras. No segundo capítulo,
diferentemente do primeiro, foram considerados casos cujos carregamentos externos e suas
correspondentes condições de vinculação provocavam apenas esforços relacionados à torção
pura ou torção livre.
Vale aqui lembrar que em ambos os capítulos mencionados anteriormente os estudos
foram conduzidos com vistas à aplicação da Teoria de Vlassov para barras com seções
transversais abertas de paredes delgadas.
Finalmente, no presente capítulo faz-se uma abordagem dos casos de barras
submetidas a condições de carregamento e de vinculação que permitem considerar a
ocorrência simultânea de esforços de flexão e de torção, ou seja, torção não-uniforme ou de
flexo torção. Assim como nos capítulos 1, 2 e 3, nesse capítulo os estudos também serão
desenvolvidos com vistas à aplicação da Teoria de Vlasov para barras com seções transversais
abertas de paredes delgadas.
A ocorrência torção em barras passa a ser considerada como não-uniforme em resposta
aos seguintes aspectos considerados na análise:
 Engastamento de seções de interesse: impedimento parcial ou total dos deslocamentos
longitudinais;
 Variação da seção transversal ao longo do comprimento da barra;
 Variação do esforço solicitante momento de torção ao longo do comprimento da barra;

73
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

No entanto, vale ressaltar que como estão sendo consideradas apenas barras de seção
constante, a ocorrência de flexo torção fica restrita aos casos em que o momento de torção não
é constante ou àqueles casos em que ocorrem vínculos que impedem os deslocamentos
longitudinais em seções transversais de interesse.
Quando o momento de torção varia ao longo da barra, seções vizinhas tendem a
apresentar rotações diferentes, isto é, tendem a ter empenamentos diferentes. Para que a
compatibilidade de deslocamentos seja verificada, o aparecimento de tensões normais,
modificando os empenamentos, é inevitável. Essa situação será considerada no decorrer do
presente texto.
Quando uma barra engastada numa extremidade é submetida a um momento de torção
aplicado na outra, nesse engastamento o empenamento passa a ser impedido, causando como
conseqüência o aparecimento de tensões normais. Essa situação também será considerada no
decorrer do presente texto.
É importante destacar que tais tensões normais são usualmente negligenciadas nas
vigas sólidas, por serem de caráter local e de ordem de grandeza bem menor se comparadas às
tensões de cisalhamento. No entanto, nas barras de paredes delgadas, devem ser consideradas
uma vez que podem ser da mesma ordem de grandeza das tensões de cisalhamento causadas
pela torção.
Como hipóteses básicas (e simplificadora) para a análise de peças submetidas à flexo
torção (torção não uniforme) serão adotadas aquelas mesmas apresentadas no capítulo 1, e
aqui novamente descritas. São as seguintes:

a) Após a deformação da barra, a seção transversal deverá projetar-se indeformada no seu


plano (yz), comportando-se como se fosse rija nesse plano;

b) A superfície média (perpendicular à seção transversal e que passa pela linha do esqueleto)
não sofre distorções;

Como conseqüência das duas hipóteses apresentadas, uma outra hipótese básica para
analise de barras submetidas à flexo torção é admitir como também valida a seguinte equação:

u   ' (4.1)

74
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

No contexto da flexo torção, diferentemente da torção livre de Saint Venant, a


derivada do ângulo de rotação () não é mais constante. Nesse caso, a amplitude do
empenamento (u) irá variar de seção para seção, de modo que ’ será função apenas da
coordenada de “x”, ou seja, com variação apenas ao longo do comprimento da barra.
Nos itens que se seguem, com base em conceitos da Resistência dos Materiais, serão
apresentadas as equações de interesse para o objeto de estudo do presente capítulo.

4.2 DEFORMAÇÕES E TENSÃO NORMAL NA FLEXO TORÇÃO

Considerando-se a ocorrência de deslocamentos longitudinais (u) variáveis com


relação à coordenada x, sabe-se, pela Resistência dos Materiais, que a deformação específica
na mesma direção é escrita na forma:

u
x  0
x

Neste caso, com base na equação 4.1, é deduzida uma primeira equação de interesse,
pelo procedimento:

u 
x   ( ' )   ' ' (4.2)
x x

Pela lei de Hooke, com base na figura 4.1, sabe-se que a relação entre tensões e
deformação no estado plano de tensões é escrita na forma:

s

ds x x
ds

dx

esqueleto
s
dx

Figura 4.1 – Representação das tensões em um elemento infinitesimal da seção delgada.

75
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

1
x  ( x   s ) (4.3)
E

Na última equação, x e s representam as tensões normais nas direções do eixo da


barra e da linha do esqueleto, respectivamente, enquanto  é o coeficiente de Poisson e E o
módulo de elasticidade longitudinal. Das hipóteses de cálculo adotadas, no caso, seção
transversal indeformável no seu plano (indeformabilidade da sua projeção sobre o plano yz),
tem-se s = 0. Portanto, chega-se uma relação entre ambas as tensões na forma:

1
s  ( s   x )  0   s   x (4.4)
E

Finalmente, substituindo a igualdade 4.4 na equação 4.3, resulta:

(1   2 ) x
x  (4.5)
E

A última relação pode ser reescrita na forma:

 x  E * x (4.6)

Na última equação, E* é o denominado módulo de elasticidade longitudinal reduzido,


escrito na forma:

E
E* 
1  2

Nas aplicações práticas que serão aqui abordadas, despreza-se, por simplificação, o
valor 2 em comparação com a unidade, admitindo como válido que E* = E. Esta
aproximação equivale à suposição, bem aplausível para os casos em estudo, de se desprezar
todas as tensões normais, com exceção de x longitudinal. Por fim, resulta a equação:

76
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

 x  E * x  E   ' ' (4.7)

Vale aqui ressaltar que no capítulo 2 o parâmetro ’ resulta constante e, portanto, com
base na equação 4.7, a tensão x resultará nula, fato que está em concordância com as
considerações adotadas naquele capítulo para a torção livre.
Um outro aspecto que merece destaque refere-se à proporcionalidade entre x e , que
chama a atenção para o fato de a tensão x não possuir resultantes como ocorre nos estudos de
flexão: nem força normal (N) e nem momentos fletores (Mz e My). Os aspectos mencionados
podem ser constatados pelas deduções apresentadas a seguir, com base nas igualdades
apresentadas por meio das equações 1.17, 1.21 e 1.26 do capítulo 1:

N    X dA  E ' '   dA  0 (4.8)


A A

M z    X y dA  E ' '   y dA  0 (4.9)


A A

M y    X z dA  E ' '   z dA  0 (4.10)


A A

Neste caso, em razão da inexistência de resultantes, o efeito provocado pelo


aparecimento das tensões x será entendido como um novo esforço solicitante, denominado
por Vlassov como Bimomento (B), o qual será estudado no item 4.5.

4.3 CISALHAMENTO E MOMENTO DE TORÇÃO

4.3.1 TENSÕES DE CISALHAMENTO

Por conseqüência da variação das tensões normais x ao longo da barra (’’’ 0) de


uma seção para outra, fato que pode ser verificado por meio da equação 4.7, ocorrerão para
fins de equilíbrio tensões de cisalhamento, aqui representadas por ft, conforme esquematiza a
figura 4.2a. De modo análogo àquele estabelecido no capítulo 1, admite-se, por simplificação,

77
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

que ft será uniformemente distribuída ao longo da espessura t da parede da seção transversal
(Teorema de Cauchy) conforme esquematizado na figura 4.2b.

s ft t
ft

s
R  +dR 
ft
dS

R
D
dx n
s1
s1
x tg
(a) (b)
Figura 4.2 – Tensões de cisalhamento (uniforme) na seção delgada.

Na figura 4.2a, R representa a força resultante obtida por meio das tensões x que
atuam no elemento de área (dA = tds) da seção transversal, escrita na forma:

R     x dA    x t ds
A S1

Substituindo na última equação a igualdade apresentada na equação 4.7, procede-se:

dR  S

R   E ' '   dA   E ' ' '   dA  E ' ' '   t ds


A dx A S1

Por fim, considerando o equilíbrio do elemento considerado na figura 4.2, na direção


longitudinal, resulta:

1 dR  E ' ' ' S

 ft (t dx)  dR    ft 
t dx

t A
  dA  E ' ' ' S1 ds (4.11)

78
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

Na equação 4.11, a integral que aparece será aqui representada por S e denominada
“momento estático setorial”. Resulta, portanto, escrita na forma:

S    dA    t ds (4.12)
A S1

Por fim, reescreve-se a equação 4.11:

E ' ' '


 ft  S (4.13)
t

Note-se que o valor do parâmetro S resulta do produto entre a área do diagrama de 


e a espessura t, tomada até um ponto de interesse. Para definir o sinal que S assumirá, faz-se
necessário fixar uma direção para a coordenada s, ou seja, um ponto na seção transversal
como origem (s1) para a coordenada s.
Como a equação da tensão ft (equação 4.13) foi deduzida com base na
esquematização estabelecida na figura 4.2a, e como E e t serão sempre positivos, é possível
estabelecer a seguinte convenção de sinais para a mesma tensão:
 Se a tensão ft resultar positiva, terá seu sentido coincidente com aquele adotado para a
coordenada s. Essa situação ocorrerá nos casos em que ’’’ e S possuirem o mesmo sinal;

 Se a tensão ft resultar negativa, terá seu sentido contrário àquele adotado para a
coordenada s. Essa situação ocorrerá nos casos em que ’’’ e S possuirem sinais diferentes.

Vale aqui lembrar que com a consideração das tensões ft, fica ameaçada a base da
dedução da equação u = ’, para a qual foi admitida a inexistência de tensões de
cisalhamento na linha do esqueleto.
No entanto, no caso de seções delgadas, as tensões de cisalhamento provenientes da
torção livre () resultam, na maioria dos casos correntes da engenharia de estruturas, muito

maiores em comparação às tensões da flexo torção (ft), ou seja,  >> ft, razão pela qual a
relação u = ’ pode permanecer ainda válida.

79
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

Apesar de pequenos em comparação à tensão , os valores de ft dão uma


contribuição considerável em resposta ao aparecimento do momento de torção, pois suas
forças elementares (ftdA) são multiplicadas por distâncias (n) muito maiores que quando
comparadas àquelas que multiplicam as forças elementares provenientes da torção livre, no
caso, apenas 2/3t, conforme esquematiza a figura 4.3.

Sendo :
b
 >> ft
e
b=2/3t n >> b
 ft
 

t n
D
( seção delgada ) tg

Figura 4.3 – Representação das Tensões de cisalhamento  e ft.

4.3.2 MOMENTO DE TORÇÃO

O efeito das tensões ft multiplicadas pela distância n, conforme figura 4.3, dá origem
a uma segunda parcela do momento de torção total, o qual será somado ao momento de torção
livre, aqui denominado momento de torção de flexo torção e representado por Mft. Esse
último momento resulta da contribuição de ft, transformado em forças elementares e
multiplicado por n, ao longo de toda a linha do esqueleto, de modo que:

M ft   ( ft dA ) . n   ( ft n t )ds
A s

80
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

Da equação 4.11, substituída na última equação apresentada, sabendo que s1 e s2 são


os pontos extremos da linha do esqueleto, bem como que E e ’’’ não variam ao longo da
linha do esqueleto, resulta:

s2
s 
M ft  E ' ' '  s1  ds  n t ds (4.14)
s1

A parcela da equação 4.14 referente às integrais consiste de duplo procedimento de


integração, cuja resolução é obtida por meio de integração por partes, expressa na sua forma
geral:

 a db  ab   b da

Nesse caso, para o problema em questão, definem-se:

s s

a   ( t)ds  da  (t )ds  dA db  nds  b   n ds  


s1 s1

Portanto, como produto final da integração por partes, resulta:

 s s2 s2 
M ft  E ' ' '  (   tds) .  -  ( . ) tds 
 s1 s1 s1 

Na última equação, referente ao momento da flexo torção, é possível notar que à


esquerda interna ao colchete resultará sempre nula, para s assumido qualquer um dos limites
de integração, no caso, s = s1 ou s = s2, uma vez que neste caso ω representa a área setorial
principal. Em resumo, tem-se:

s1

Para s = s1: (   tds) .   (0).  0


s1

s2

Para s = s2: (   tds) .   (0).  0


s1

81
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

Portanto, com base nas últimas considerações, resulta:

s2

M ft  - E ' ' '  ( . ) tds  - E ' ' '  2 dA (4.15)


s1 A

A integral que compõe a equação, por analogia com a Resistência dos Materiais, é
chamada de Momento de Inércia Setorial e indicada por I. Vale aqui ressaltar, apenas como

informação complementar, que com base na literatura alemã define-se I com integral de
empenamento.

I    2 dA (4.16)
A

Vale mencionar que quando  e A são expressos em cm (unidade geralmente utilizada


para esses parâmetros), ter-se-á a unidade de I expressa em cm6. Portanto, a parcela Mft do
momento de torção total (Mt), será escrita na forma final:

M ft  - EI   ' ' ' (4.17)

4.4 CONSIDERAÇÃO DA FLEXO TORÇÃO NO MOMENTO TOTAL

Para uma barra submetida a carregamentos externos, admite-se para fins de equilíbrio
a ocorrência de esforços internos dos tipos força normal (N), força cortante (V), momento
fletor (M) e momento de torção (T).
Nos capítulos 1 e 2 foram abordados casos em que se desconsiderava a existência de
torção e, portanto, a consideração apenas de esforços internos dos tipos N, V e M. Por outro
lado, no capítulo 3, foram considerados casos em que ocorriam apenas esforços de torção,
denominados por torção pura ou livre, representados pelo momento de torção livre (M).
No presente capítulo, se considera casos gerais que englobam aqueles casos estudados
nos capítulos 1, 2 e 3, de modo que a ocorrência simultânea de esforços de flexão e torção
passa a ser finalmente considerados, razão pela qual, além do momento de torção livre (M), o

82
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

momento devido à flexo torção (Mft), abordado no item anterior passa a ser considerado.
Neste caso, o momento de torção total, aqui representado por (Mt), resultará da soma direta
das duas parcelas mencionadas nesse mesmo parágrafo. Consequentemente, o mesmo deverá
ser admitido para fins de determinação do respectivo diagrama.
Em síntese, o momento de torção (Mt) será composto basicamente por duas parcelas:
uma primeira, no caso, Mft, a qual aparece em resposta à ocorrência das tensões de
cisalhamento τft, e uma segunda, M, que aparece em resposta a ocorrência das tensões de

cisalhamento da torção livre τ. Portanto, escreve-se:

M t  M ft  M  (4.18)

No caso da torção livre:

M ft  0  M t  M   GI t ' (4.19)

É importante lembrar que para os casos representativos da equação 4.19, ’ é admitido


constante. Por outro lado, no caso da ocorrência de casos de flexo torção, em que ’ não é
mais uma constante, escreve-se:

M ft  EI  ' ' '

M   GI t '

Finalmente, a equação diferencial escrita em função do ângulo de rotação , regente


dos problemas de flexo torção, é escrita na forma final:

M t  M   M ft  GI t '  EI  ' ' ' (4.20)

Uma vez obtido (ou determinado) o ângulo de rotação com base na resolução da
última equação, o problema da flexo torção fica resolvido, passando a ser possível se
determinar as grandezas envolvidas.

83
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

4.5 CONCEITO DO BIMOMENTO – Determinação de B

4.5.1 INTRODUÇÃO

No item 4.2, foram introduzidas as tensões normais que aparecem em resposta à


consideração de barras submetidas à flexo torção. No mesmo item 4.3, fez-se destaque à
proporcionalidade entre x e , bem como para o fato de a tensão x, na flexo torção, não
possuir resultantes como ocorre nos estudos de flexão, onde se demonstrou que N = 0, Mz = 0
e My = 0, por meio das equações 4.8, 4.9 e 4.10, respectivamente.
Buscando um melhor entendimento dos efeitos provocados pela tensão normal na
flexo torção, ou seja, inexistência de resultantes, faz-se no presente a introdução de um novo
esforço solicitante, auto-equilibrado, o qual foi denominado em VLASOV (1961) como
Bimomento, representado pelo parâmetro B, o qual será aqui apresentado.
Inicialmente, com base em uma analogia direta com a relação que exprime o equilíbrio
dos esforços externos e internos no caso de flexão simples, escreve-se:

M z    x y dA M y    x z dA
A A

Em VLASOV (1961) faz-se a introdução de uma nova grandeza chamada de


Bimomento, conforme já mencionado, o qual deverá desempenhar na flexo torção o mesmo
papel que o momento fletor desempenha na flexão simples, bastando para isso considerar
novamente a correspondência direta entre y (ou z) e ω. Lembrando que na flexão valem as
igualdades M = -EIv” e  = (M/I)y, pela substituição da primeira na segunda, escreve:

x  - E y v ''

Da correspondência direta entre y e ω, conforme já deduzido por meio da equação 4.7,


escreve-se:

x  E   ''

Finalmente, como resultado direto dessa mesma correspondência entre y e ω, a


grandeza bimomento é definida, por analogia com Mz, na forma final:

84
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

B    x  dA (4.21)
A

Portanto, substituindo a equação de x = Eω’’ na equação 3.21, obtém-se:

B  E ' '  2 dA (4.22)


A

Lembrando que a integral que compõe a última equação é chamada de Momento de


Inércia Setorial e indicada por I., conforme equação 4.16, reescreve-se a equação 4.22 na
forma:

B  E I  ' ' (4.23)

Com relação à tensão normal na flexo torção, escreve-se:

B B
x  E   '' E    (4.24)
EI  I 

Por meio de uma análise com relação à última equação, é possível notar novamente a
analogia da equação 4.24 com aquela utilizada nos estudo de flexão, ressaltando-se sempre
que o bimomento é um novo esforço solicitante que conduz a forças auto-equilibradas.
Quando x resultar da aplicação de uma carga concentrada axial (F), aplicadas em um
ponto discreto na barra e que provoque a ocorrência de situação de flexo torção, considera-se
a existência de um bimomento na seção de interesse, o qual é resultado da força F aplicada
multiplicada pelo valor da área setorial referente ao mesmo ponto da seção.

B  F.  (4.25)

Fica claro, portanto, que quando ocorrem várias forças concentradas aplicadas em
diferentes pontos da mesma seção de interesse, o valor do bimomento passa a ser escrito na
forma de somatório, tal que:

85
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

n
B   Fi i (4.26)
i 1

Na equação 4.26, i é o valor de área setorial principal correspondente ao ponto de


aplicação da força Fi, pertencente à linha do esqueleto.
O sinal do bimomento aplicado é resultante da multiplicação algébrica da área setorial
pela carga, sendo positivo quando produzido por forças de tração (positivas) atuando em
pontos onde a área setorial é positiva.
Para um entendimento correto da forma de utilização da equação 4.26, toma-se como
ponto de partida o exemplo da figura 4.4, situação em que ocorrem várias cargas concentradas
aplicadas na mesma seção transversal.

2b

+
F _
F
b/2
b/2
i
<0 (b/2 . h/2)
2
F +
h x _
F
b/2 b/2
b/2

Figura 4.4 – Quatro forças concentradas (F) aplicadas na mesma seção.

Com relação à figura 4.4, o bimomento aplicado é dado por:

  b h 
B  4 F .    Fbh
  2 2 

86
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

É importante ressaltar novamente que as tensões normais x provenientes do


bimomento, conforme equação 4.24, “não” são constantes ao longo da barra, pois se sabe que
o bimomento (B) é função de ”, o qual sofre variação ao longo do eixo X. Essas tensões x
(equação 4.24) são consideradas positivas quando de tração.

4.5.2 CONTRIBUIÇÃO NAS TENSÕES NORMAIS

No caso geral de uma barra solicitada por Força Normal (N) e Momento Fletores (Mz
e My), a tensão normal longitudinal será aqui determinada com base naquela já conhecida da
Resistência dos Materiais, considerando-se também a contribuição dos efeitos da flexo torção,
por meio do bimomento, na forma geral:

N Mz My B
x    ( y)  (z)  () (4.27)
A Iz Iy I

A partir de agora, o bimomento, por meio da equação 4.27, passou a integrar o


conjunto dos esforços solicitantes. Porém, ressalta-se como particularidade que seu diagrama
não pode ser traçado com base apenas em considerações estáticas, por se caracterizar com
esforço auto-equilibrado.
Vale aqui destacar que a contribuição da última parcela do lado direito da igualdade da
equação 4.27 pode resultar eventualmente maior que as demais, especialmente nas seções da
barra próximas à região de engastamento.

4.5.3 INFLUÊNCIA NAS TENSÕES DE CISALHAMENTO DA FLEXO TORÇÃO

No item 4.3.1, foi deduzida e apresentada a equação 4.13, referente à tensão de


cisalhamento na flexo torção, τft, naquele item escrita na forma:

E ' ' ' S

 ft  S Lembrando que: S    dA    t ds
t A S1

No entanto, utilizando a equação do bimomento anteriormente deduzida, é possível


escrever a equação de τft de modo análogo àquele em que se apresenta a tensão de

87
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

cisalhamento na flexão, clássico da Resistência dos Materiais. Para tanto, deriva-se uma
primeira vez a equação 4.23, com relação a X, obtendo-se:

B'  E I  ' ' ' (4.28)

Por meio de uma comparação direta da última equação com aquela determinada para o
momento da flexo torção (Mft), no caso, equação 4.17, nota-se que:

M ft  - EI   ' ' '  B' (4.29)

Neste caso, com base em:

E ' ' '


 ft  S
t

Obtém-se finalmente:

M ft S
 ft   (4.30)
t I

Ou ainda, com base na equação 4.29, obtém-se:

B' S
 ft  (4.31)
t I

Conforme já mencionado, é importante notar a analogia entre a equação 4.31 com


aquela da tensão de cisalhamento na flexão, apresentada a seguir, em que V = dM/dx possui
analogia direta com Mft = dB/dx.

V Sz

tI

88
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

4.6 FLEXO TORÇÃO - SOLUÇÃO POR EQUAÇÃO DIFERENCIAL

4.6.1 OBTENÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL

Uma vez introduzidos e considerados os conceitos da flexo torção, é intuitivo admitir


que na ocorrência de momento de torção, esse será composto de duas parcelas distintas
correspondentes à torção livre (M) e à flexo torção (Mft), podendo ocorrer simultaneamente.
Neste caso, o momento de torção total (Mt) pode ser escrito como a soma das parcelas
Mft e M, obtendo-se uma nova equação diferencial regente do problema. A determinação da
equação diferencial de interesse para o problema é obtida partindo-se do conjunto de
equações:

M t  M   M ft M ft  EI  ' ' ' M   GI t '

Com as substituições convenientes, obtém-se:

M t  GI t 'EI  ' ' '  GI t '  B'

Derivando-se a última equação com relação à x e utilizando a igualdade B = E I ’’,


resulta:

 GI 
M 't   t B  B" (4.32)
 EI  

Nota-se que o termo entre parênteses consiste basicamente de propriedades físicas e


geométricas, tratando-se, portanto, de uma constante com unidade de comprimento
(usualmente o centímetro). Neste caso, por simplificação, faz-se a introdução de um
parâmetro “r”, representativo do resultado do termo entre parênteses, definido como
“comprimento de comparação”:

EI 
r  2(1  ) I  / I t (4.33)
GI t

89
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

Usando a noção de “carga de torção distribuída”, representada aqui por “m”, cujo
valor resulta da derivada de Mt com relação à x, no caso, m = Mt’, obtém-se uma outra
equação diferencial representativa do problema da flexo torção, expressa na forma:

r 2 B' '  B  r 2 m (4.34)

É importante ressaltar aqui que o parâmetro m (carga de torção distribuída) permite


considerar casos práticos em que se considera a ocorrência de uma carga uniformemente
distribuída (ou plano de carga, conforme comentado no capítulo 1) aplicada de modo não
coincidente com o centro de torção, como por exemplo, telhas de cobertura apoiadas em
terças metálicas. A figura 4.5 ilustra a representação de m ao longo do eixo da barra.

-m 
2

m 
 2

Figura 4.5 – Representação da consideração da carga de torção distribuída (m).

4.6.2 SOLUÇÃO DA EQUAÇÃO DIFERENCIAL

A solução da equação diferencial 4.34, a qual consiste uma equação diferencial linear
com coeficientes constantes, parte da consideração clássica da soma de duas parcelas que
compõem a resolução do problema, ou seja, B = Bh + Bp (homogênea + particular). O método
geral para resolver a equação homogênea (Bh) é procurar uma solução da forma:

90
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

B h  e x

Derivando-se a última equação, em que  é admitida como uma constante, resulta:

B h '  e x  B h ' '  2 e x

Substituindo os resultados obtidos das derivações na equação r2 B’’– B = 0, tem-se:

r 2 2 e x  e x  0 (4.35)

A equação 4.35 é chamada “equação característica“, associada à equação homogênea,


para a qual se faz necessário suas raízes. O procedimento consiste em estabelecer uma raiz
para a equação de interesse, por exemplo, a raiz 1. Nesse caso, se 1 é uma raiz de equação
característica, então Bh = e (1x) é a solução da homogênea, então:

e x (r 2 2  1)  0  r 2 2  1  2  1/r 2     1/r

Assim, são obtidas ou estabelecidas duas raízes características, no caso, 1 = 1/r = -1/r,
sendo essas duas raízes reais e distintas. Dessa forma, se tem duas soluções da equação
homogênea, ambas linearmente independentes, tal que:

B h  C1 e ( x / r )  C 2 e  ( x / r )

As combinações lineares das soluções também são soluções, de modo que as parcelas
compostas por neperianos podem ser reescritas nas formas :

ex / r  ex / r x ex / r  ex / r x
 senh  cosh
2 r 2 r

Portanto, reescreve-se a última equação de Bh na forma:

91
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

x x
B h  C1 senh    C 2 cosh   (4.36)
r r

Para a determinação da equação particular Bp admite-se, por simplificação, que a carga


de torção distribuída m é constante, fato que atende a quase todos os casos práticos da
engenharia de estruturas. Nesse caso, da equação diferencial 4.34 resulta:

Bp  r 2 m (4.37)

Portanto, a solução geral da equação diferencial regente do problema da flexo torção


resulta da soma das equações 4.36.e 4.37, e escrita na forma final:

x x
B  C1 senh    C 2 cosh    r 2 m (4.38)
r r

Como a incógnita fundamental, no caso da flexo torção, é o ângulo  (de rotação),


torna-se conveniente obter-se uma equação diferencial que permita relacionar esse mesmo
ângulo com o carregamento externo, cujo procedimento consiste em derivar a equação 4.20,
obtém-se:

m  GI t ' '  EI  ' ' ' ' (4.39)

Dividindo a última equação por GIt, tem-se:

m EI
 ' '   ' ' ' '
GI t GI t

Considerando a equação 4.33, obtém-se:

m
r 2 ""  "   (4.40)
GJ t

92
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

Por um procedimento análogo àquele adotado para a determinação da equação 4.38,


ainda considerando m constante, obtém-se:

x x mx 2
  C1 senh    C 2 cosh    C 3 x  C 4  (4.41)
r r 2GI t

A partir das equações 4.38 e 4.41, o problema da flexo torção pode ser resolvido,
bastando apenas que sejam determinadas as respectivas constantes de interesse, com base em
condições de contorno previamente estabelecidas para cada caso estudado. Algumas situações
comumente de interesse serão apresentadas no capitulo 5 do presente texto.

4.7 CONVENÇÕES DE SINAIS

Com a finalidade de esclarecer qualquer dúvida a respeito das convenções adotadas, é


apresentada na figura 4.6 os sentidos considerados como positivos, por convenção, para o
momento de torção (Mt), para o momento de torção distribuído (m), para o ângulo de rotação
() e para o bimomento (B).

Mt+dMt

dM x
m= t
dx

m
dx B>0

z
Mt
B>0
y B<0

Figura 4.6 - Sentidos positivos adotados para Mt, m,  e B.

93
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 4 – Torção não-uniforme

Em caráter complementar, no Anexo II são apresentadas equações adicionais e de


interesse da Flexo Torção obtidas via Energia de Deformação, bem como equações que
permitem obter o Bimomento em resposta à existência de momento fletor aplicado à barra.

94
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

5. ANALOGIA E CONDIÇÕES DE CONTORNO

5.1 ANALOGIA ENTRE FLEXÃO E FLEXO TORÇÃO

Nos itens anteriores, no decorrer das equações obtidas para o caso da flexo torção,
sempre existiu a preocupação de se destacar a analogia direta que ocorre entre as equações
obtidas como conseqüência da teoria proposta e apresentada em VLASOV (1961), com
aquelas obtidas por meio dos conceitos clássicos da Resistência dos Materiais.
Nesse sentido, em razão das várias analogias identificadas anteriormente, faz-se no
presente item a reunião daquelas analogias de maior interesse, organizadas na forma de tabela,
para um melhor entendimento dos conceitos propostos em VLASOV (1961) e aqui
apresentados, com vistas a aplicações futuras.
Inicialmente, vale destacar uma interessante analogia entre flexão e flexo torção,
chamando a atenção para a mesma estrutura que as equações apresentam. No caso de flexão e
da flexo torção, respectivamente, escrevem-se,:

 d 4 v( x )  d 4 d 2
EI q EI  4  GI t 2   m
 dx 
4
dx dx

Uma análise com relação às duas últimas equações permite identificar que, em ambos
os casos, a igualdade se refere ao carregamento aplicado em uma dada barra de interesse, no
caso, na forma distribuída, lembrando que m foi definida com carga de torção distribuída e
admitida com constante no presente texto.
Por fim, são apresentadas na tabela 5.1 as analogias que surgem entre a teoria de
Vlasov e a Resistência dos Materiais, em que é possível notar uma correspondência direta
entre os parâmetros y e , entre os parâmetros v e , bem como entre as propriedades
geométricas Iz (ou Iy) e I.
95
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Tabela 5.1
ANALOGIA: TEORIA DE VLASOV x RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS
FLEXÃO FLEXO TORÇÃO
Propriedades ou Tensões
(Resistência dos Materiais) (Teoria de Vlasov)
Momento de Inércia
X I z   y 2 dA I    2 dA
A A
Momento de Inércia Setorial
Momento Estático
S
X Sz   y dA S    dA    t ds
A A S1
Momento Estático Setorial
Momentos Fletores M z   E I z v' '
X ou B  E I  ' '
Bimomento
M y   E I y v' '
Força Cortante Vz  E I z v' ' '
X ou M ft  - EI   ' ' '
Momento de Flexo torção
Vy  E I y v' ' '

Mz B
Tensão Normal x  y x  
Iz I

V Sz M ft S B' S
Tensão de Cisalhamento   ft   
tI t I t I

5.2 CONSIDERAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE CONTORNO

Conforme já mencionado, as equações 4.38 e 4.41 apresentadas no capitulo 4


permitem resolver o problema da flexo torção, bastando apenas que sejam determinadas suas
respectivas constantes, com base em condições de contorno previamente estabelecidas para
cada caso estudado.
As condições de contorno para casos comuns, que aparecem em situações práticas da
engenharia de estruturas, são apresentadas a seguir:
96
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Caso 1 - Extremidade livre (sem carga axial aplicada):


A inexistência de impedimentos aos deslocamentos axiais implica, de acordo com as
hipóteses adotadas no item 3.1, na não ocorrência de tensões normais, de modo que:

x  0  B  0

Caso 2 - Extremidade engastada:


Diferentemente do primeiro caso considerado, agora a existência de impedimentos aos
deslocamentos axiais implica, de acordo com as hipóteses adotadas no item 4.1, na ocorrência
de tensões normais e, portanto, do bimomento. Deve ser considerado também, em razão do
engastamento, o impedimento à rotação da seção de interesse, de modo que:

x  0  B  0

  0  '  0  u   '  0

Portanto, nesse caso, u será nulo para qualquer ponto pertencente à linha do esqueleto
na seção de interesse. Sendo ’ = 0, o momento livre M também será nulo, o que permite

considerar que Mt = Mft e, conseqüentemente, B’ = -Mt.

Caso 3 - Extremidade com vínculo de garfo:


Este tipo de apoio, denominado “vínculo de garfo”, é capaz de impedir a rotação
deixando livres os deslocamentos axiais (empenamento), razão pela qual a tensão normal é
nula e, consequentemente, o bimomento também. A representação estática desse vínculo é
apresentada na figura 5.1. Nesse caso, para a seção em que se tem vinculo de garfo, valem as
seguintes igualdades:

 0
B  0 (no caso de não haver bimomento aplicado no ponto de interesse)

Um perfil I ligado apenas pela sua alma a um pilar pode ser considerado, com vistas à
definição de esquema estático, como vinculo de garfo.

97
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Figura 5.1 – Representações do vínculo de garfo nas extremidades de barras.

Caso 4 - Seção intermediária com salto (descontinuidade) no diagrama de Mt


Essa descontinuidade é resultante da aplicação de um momento de torção externo. No
entanto, é importante ressaltar que a continuidade dos deslocamentos axiais da barra exige
que o valor da tensão normal x seja o mesmo à direita e à esquerda do ponto de aplicação do
momento de torção externo. Conseqüentemente:

B(esquerda)  B(direita) : para um único eixo x, representado por “ x”.


ou
B(esquerda)   B(direita) : para eixos x e x , representados por “ x e x ”.

Caso 5 - Extremidade com tensão normal x ou carga Pi aplicada.


Neste caso, o bimomento aplicado localmente é determinado por:

B  A  x  dA ou B   Fi i
i

Caso 6 - Vínculo de garfo intermediário


Este tipo de apoio, por analogia com o caso 3, também é capaz de impedir a rotação
deixando livres os deslocamentos axiais (empenamento) em pontos intermediários da barra.
No entanto, a tensão normal e o bimomento não serão nulos, uma vez que deve ser garantida a
continuidade do empenamento (u) e da derivada primeira da rotação (’). Portanto, valem:

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Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

B(esquerda)  B(direita) : continuidade na tensão x


u(esquerda de A)  u (direita de A)  ' (esquerda de A)  ' (direita de A)
(esquerda)  (direita) ..: continuidade na rotação

5.3 EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

No que segue são apresentados alguns exercícios que representam casos práticos de
interesse, com base nos conceitos da flexo torção propostos em VLASOV (1961). Com vistas
a proporcionar um melhor entendimento da teoria de Vlasov, apresentam-se a seguir as
equações de interesse deduzidas no capítulo 4, as quais serão convenientemente aplicadas por
etapas, na medida em que se fizerem necessárias. São as seguintes:

u   ' S    dA    t ds I    2 dA
A S1 A

M ft  - EI   ' ' ' M   GI t ' M t  M ft  M 

n
B  E I  ' ' B   Fi i M ft  - EI   ' ' '  B'
i 1

B N Mz My B
x  E   ''   x    ( y)  (z)  ()
I A Iz Iy I

M ft S B' S
 ft    ft 
t I t I

x x EI 
B  C1 senh    C 2 cosh    r 2 m r  2(1  ) I  / I t
r r GI t

x x mx 2
  C1 senh    C 2 cosh    C 3 x  C 4 
r r 2GI t

99
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

EXERCÍCIO 1 – Para viga indicada na figura a seguir, pede-se determinar:


a-) As equações gerais de B, Mt, Mft e M e, consequentemente, os respectivos diagramas;

b-) Com base na equações do item a, determinar os valores máximos do empenamento (u),
das tensões normais (x) e de cisalhamento ( e ft), e do giro () que ocorrem.

 x

t=const
h 2

1
x
T
b
4

3
Figura 5.2 – Barra engastada com T aplicado na extremidade livre .

Adotar os seguintes valores como dados de interesse para a resolução:

Mt = 50 kNcm  = 200 cm t = 0,8 cm h = 12cm

b = 10cm E = 21.000 kN/cm2 G = 8.000 kN/cm2

 Cálculo das características geométricas da seção


É possível notar que a seção transversal apresentada na figura 5.2 possui dois eixos de
simetria, portanto, o centro de torção coincide com o centro geométrico da seção (D  CG),
conforme resultados obtidos por meio do programa FLEXO II, ilustrados na figura 5.3.
100
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Figura 5.3 – Tela geral do FLEXO II: dimensões, propriedades e posição de D.

Nesse caso, tem-se o diagrama de área setorial principal (), conforme figura 5.4:

bh
+ 4
_
bh
4

+
bh
bh _ 4
4
(a) (b)
Figura 5.4 – Diagramas de área setorial principal (cm2): (a) Esquema e (b) FLEXO II.

101
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Determinam-se, na forma literal, os momentos de inércia à torção e setorial:

1 3 1 3 t3
I t   t ds  t (2b  h )  (2b  h )
3s 3 3

 1 b  bh  2  b3h 2 t
I    dA    t ds  t   ds  4t 
2 2 2
  
A s s  3 2  4   24

Substituindo os valores numéricos do exemplo em questão, resultam:

I t  5,46 cm 4 I   4.800 cm 6

É importante observar que os dois últimos valores são coincidentes com aqueles
apresentados na figura 5.3. Em seguida, obtém-se o comprimento de comparação:

E I 21.000 x 4.800
r   48,04 cm
G It 8.000 x 5,46

 Determinação das equações gerais de B, M e Mft:

No exercício em questão, o único carregamento aplicado consiste de um momento de


torção aplicado em um ponto discreto da barra, no caso, na extremidade livre. Portanto, é
intuitivo perceber a inexistência de carregamentos ao longo da barra, ou seja, m = 0, nesse
caso, resulta:

x x x x


B  C1 senh    C 2 cosh    r 2 (0)  C1 senh    C 2 cosh  
r r r r

A determinação das constantes de interesse fica condicionada à aplicação das


condições de contorno inerentes à barra, em particular, para os pontos de coordenadas x = 0 e
x = , tal que:

102
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

em : x  0  B  0 (ocorre na extremidade livre)

em : x    u  0 (ocorre no engaste fixo)

Com base na primeira condição de contorno imposta, resulta:

x
se : B (0)  0  C 2  0  B(x)  C1 senh  
r

Com base na segunda condição de contorno imposta, resulta:

se : u ()  0  u ()    '  0   ' ()  0

se : ' ()  0  M   GI t ' ()  0  M t  M   M ft  M ft

Por sua vez, como Mft = - B’, conforme definido anteriormente, reescreve-se a

igualdade na forma B’ = - Mt. Lembrando que a derivada de senh(x/r) resulta cosh(x/r)/r,


resulta a primeira constante de interesse apresentada no que segue.

C1  Mt r
B'  cosh    M t  C1  
r r 
cosh  
r

Finalmente, substituindo C1 na equação de B(x), obtém-se:

Mt r x
B( x )   senh 
 r
cosh 
r

Ainda, lembrando que permanece válida a igualdade B’= - Mft, bem como a relação
senh(x/r) = cosh(x/r)/r, resulta a equação de Mft como segue.

Mt x
M ft  cosh  
 r
cosh  
r
103
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Lembrando que Mt = M + Mft, ou ainda, M = Mt - Mft, faz-se:

  x
 cosh  
x  r 
cosh   M t 1 
Mt
M  Mt 
 r   
cosh   cosh  
r  r

 Determinação das equações gerais de ’ e :

  x
 cosh  
M   GI t '  '    t 1 
M M  r 
GI t GI t   
 cosh  
 r

Integrando-se a última equação referente à derivada do giro, obtém-se:

  x
 senh  
  t x  r
M  r   C
GI t  
3

 cosh  
 r

A condição de contorno que impõe para x =    = 0 , permite concluir que, nesse

caso, a constante C3 resulta na forma:

Mt   
C3   r.tgh    
GI t  r 

Consequentemente, obtém-se:

  x 
senh  
Mt    r 
  x    r.tgh    r
GI t  r 
cosh  
  r  

104
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Pode-se também partir da equação 4.41 referente ao ângulo , apresentada no capítulo


4, se obter as mesmas equações de M, Mft e B, anteriormente deduzidas, partindo-se da

equação de , a qual é determinada com base em:

x x mx 2
  C1 senh    C 2 cosh    C 3 x  C 4 
r r 2GI t

Como a carga de torção distribuída é nula (m = 0), a última equação passa a ser escrita
na forma:

x x
  C1 senh    C 2 cosh    C 3 x  C 4
r r

Novamente, faz-se a determinação das constantes C1, C2, C3 e C4 com base nas
seguintes condições de contorno:

- para x = , tem-se:  = 0 e ’= 0

- para x = 0, tem-se: B = 0
- para x = , tem-se: Mft = Mt

Aplicando as condições apresentadas na última equação, obtém-se:

Mt r Mt Mt   
C2  0 C1   C3  C4   r.tgh    
 GI t GI t  r 
GI t cosh 
r

Substituindo as constantes, resulta:

  x 
senh  
Mt    r 
  x    r.tgh    r
GI t  r 
cosh  
  r  
105
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação dos valores numéricos:

I t  5,46 cm 4 I   4.800 cm 6 r  48,04 cm max  30cm 4

 x   x 
B  74,7213.senh  M ft  1,5554 cosh 
 48,04   48,04 

  x
 cosh  
 r    x 
M   501    1,1447.10 3  x  151,983  1,494senh  
 32,146    r 
 
 

  x 
 cosh r  
'  1,1447.10 3 1   
 32,146 
 

 Construção dos diagramas de B, Mft, M e .

Os diagramas serão construídos com base nas equações gerais obtidas para B, Mft, M

e , e apresentados a seguir para valores de coordenadas x da barra referentes à parcelas


iguais a 50 cm, de 0 a 200 cm, conforme apresentados na tabela 5.2

Tabela 5.2 – Valores de B, Mft, M e 

x (cm) B (kN.cm2) Mft (kN.cm) M (kN.cm)  (radianos)

0 0 1,5554 48,4446 - 0,1740


50 - 92,5911 2,4767 47,5233 - 0,1168
100 - 294,8705 6,3320 43,6680 - 0,0663
150 -846,4687 17,6886 32,3114 - 0,0217
200 - 2400,8375 50,0000 0 0

106
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

x (cm)

200 150 100 50 0

_ 92,5911
294,8705
846,4687

2400,8375
(a)

6,3320 2,4767 1,5554


50,00 17,6886

M ft
M

48,4446

32,3114 43,6680 47,5233


(b)

0,1740
0,1168
0,0663
0,0217
_
x (cm)
(c)

Figura 5.5 – Diagramas: (a) bimomento, com unidade em kN.cm2, (b) Mft e M, com unidade

em kN.cm e (c) giro das seções (), com unidade em radianos.

Observar que o sinal negativo na figura 5.5c indica giro horário para observador
olhando no sentido positivo de x, conforme já definido anteriormente.

107
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação dos valores máximos de ’, u, x,  e ft.

Para a determinação do valor máximo de ’, vale lembrar que:

  x 
 cosh  
'  1,1447.10 1 
3  r 
 32,146 
 

Nesse caso, é intuitivo perceber que ’ será máximo na coordenada x = 0, para a qual
assumi o valor igual a ’(0) = 1,1091.10-3 radianos/cm. Em resposta a esse valor, é possível
obter u = ’ =  33,272.10-3 cm, lembrando que os sinais dependem dos valores de área
setorial para as diferentes posições da seção I, conforme mostra a figura 5.4b. Portanto, os
empenamentos dos pontos 1, 2, 3 e 4 (figura 5.2) resultam:

u1 = u4 = - 32,372 10-3 cm u2 = u3 = + 32,372 10-3 cm

Para a determinação do valor máximo para a tensão normal x, basta que essa seja
analisada para a seção com coordenada x = 200 cm, uma vez que na região do engaste o valor
do bimomento será máximo em resposta ao impedimento total ao empenamento, conforme
ilustra a figura 5.5a, cujo valor é Bmax = -2400,8375 kN.cm2. Desse modo, obtém-se:

240 0,8375
x   (30)   15,00 kN / cm 2
4800

Para a determinação dos valores máximos referentes às tensões de cisalhamento, basta


que essas sejam analisadas em diferentes seções: na coordenada x = 200 cm para ft, uma vez
que na região do engaste o valor do momento de flexo torção será máximo, bem como na

coordenada x = 0 para , uma vez que na extremidade livre, o valor do momento de torção

livre será máximo. Ambos os casos estão ilustrados na figura 5.5b, Desse modo, obtém-se:

M 48,4446
  (t)  (0,8)  7,098 kN / cm 2  7,1 kN / cm 2
It 5,46

108
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Em caráter complementar, a figura 5.6 esquematiza a distribuição (diagrama) das


tensões normais que ocorrem na barra.

1 x
x _

+
4 x

3 x
+

_
x

compressão

tração

compressão 
Figura 5.6 – Esquematização do diagrama de tensões normais na seção.

Para a determinação do valor máximo de ft para a seção em x = 200 cm, vale lembrar
que é preciso determinar os valores, na forma de diagrama, por exemplo, do momento estático
setorial (S), uma vez que as equações de interesse são escritas nas formas:

S
M S
 ft   ft  S    dA  t   ds (t x área da figura)
t I A S1

109
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Para a determinação do diagrama de S, é necessário integrar os valores de área


setorial () ao longo do esqueleto. Uma análise com relação à equação de S permite
identificar que seus valores correspondem à área da figura geométrica formada no diagrama
de área setorial principal (ilustrado na figura 5.7a) multiplicada pela espessura (t), para um
dado sentido previamente adotado para se percorrer a ordenada s da linha do esqueleto. Nesse
caso, obtém-se o diagrama de S, conforme esquematiza a figura 5.7b.

60
30 _
s +
+
_
s
30

( S )
()
60

s + +
+
30 _ 30 +
s
(a) (b)
Figura 5.7 – Diagramas de interesse construídos:
(a) área setorial (cm2) e (b) momento estático setorial (cm4).

Nota-se pela figura 5.7b que para a determinação do diagrama de S adotou-se para a
coordenada s, tanto para a mesa superior como para a mesa inferior, sentidos da direita pra
esquerda. A alma foi desconsiderada por não apresentar valores de área setorial. Nesse caso,
foram obtidos valores com sinais positivos (mesa superior) e negativos (mesa inferior), em
resposta ao acúmulo de áreas setoriais positivas e negativas, respectivamente.
É importante mencionar que se fossem adotados sentidos de percurso para s contrários
àqueles apresentados na figura 5.7a, seriam obtidos os mesmos valores de S, porém, com
sinais contrários. Os sinais de S dependem do sentido de percurso adotado para a ordenada s,
sentido esse que pode ser considerado quaisquer, com origem (s1) e destino (s2) previamente
estabelecidos. Maiores detalhes com relação a esses aspectos serão devidamente abordados no
exercício 5.

110
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Na mesma figura 5.7b são indicados os sentidos de fluxo das tensões ft, os quais são
estabelecidos em função das regras de sentido de fluxo para a tensão de cisalhamento da flexo
torção, estabelecidas no item 4.3.1. Obtém-se, nesse caso:

 30 x 5 
S  0,8   60 cm
4

 2 
50,00 x (60)
 ft     0,78125 kN / cm 2   0,78 kN / cm 2
0,8 x 4.800

É importante atentar para o fato, já mencionado quando das deduções das equações de
cisalhamento, de que a tensão ft é bem menor quando comparada à tensão . Neste exemplo,

identifica-se um valor máximo de ft da ordem de 1/10 quando comparado ao valor máximo
obtido para . Ainda, para o valor da rotação máxima, max = - 0,174 radianos, o sinal

negativo, de acordo com a convenção positiva adotada, indica uma rotação no sentido horário
para um observador no sentido positivo do eixo x.

EXERCÍCIO 2 – Adote a mesma viga no exercício 1, porém, aplicando-se na extremidade


livre forças concentradas nos pontos 1, 2, 3 e 4 da seção, conforme a figura 5.8. Em seguida,
determine as equações gerais de B, M, Mft, u e , admitindo agora o eixo x orientado

positivamente do engaste para a extremidade livre.

2
F
1
F
4
F
3
F
Figura 5.8 – Barra engastada com forças F aplicadas na extremidade livre.

111
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação do bimomento aplicado


É importante ressaltar que em razão da nova orientação adotada para o eixo x, o
produto entre as forças aplicadas e os valores do diagrama área setorial principal produzirá
um bimomento localizado na mesma seção, em resposta a ocorrência de parcelas negativas
produzidas por força positiva multiplicada por área setorial negativa e vice-versa, tal que:

n
  bh 
B ( x  )   Fi i  4 F   Fhb
i 1   4 

 Equações gerais de B, Mft , M e 

Parte-se novamente da equação geral, desconsiderando a parcela de carga de torção


distribuída (m = 0), de modo que:

x x C x C x


B  C1senh   C 2 cosh   B'  1 cosh   2 senh 
r r r r r r

Analisando o carregamento aplicado na barra e a solicitação na viga, é possível


considerar que o momento de torção total resulta nulo, ou seja, Mt = 0. Assim, tem-se:

M t  M   M ft  0  M ft  M 

No entanto, nota-se que por meio da consideração das condições de contorno, quando
para x = 0, tem-se ’ = 0. Conseqüentemente:

' (0)  0  M  (0)  GI t ' (0)  0  M ft (0)  0  B' (0)  0

Nesse caso, faz-se:

C1 0 C 0 x


B' (0)  cosh   2 senh   C1  0  B  C 2 cosh 
r r r r r

112
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Por outro lado, quando para x = , tem-se B() = - Fhb. Nesse caso, obtém-se:

 Fhb
B()  Fhb  C 2 cosh   C 2  
r 
cosh 
r

Finalmente, a equação do bimomento resulta na forma:

 
 Fbh  x
B    cosh 
 cosh    r
  
 r  

Como se sabe, M = - Mft = B’, o que permite obter:

 
 Fbh  x
M   B`    senh 
 r cosh    r
  
 r 

Sendo M = G It ’, resulta:

 
 Fbh  x
    cosh   C 3
 GI cosh    r
  
 r  
t

Com vistas à determinação da constante C3, para x = 0 tem-se  = 0, de modo que:

Fbh Fbh   x 
C3    1  cosh  
      r 
GI t cosh  GI t cosh 
r r

113
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Como cosh(x/r) resulta sempre maior ou igual à unidade, os valores de  são sempre
negativos, isto é, as seções sofrem rotações no sentido horário para um observador
posicionado com visão no sentido positivo de x. Ainda, determina-se:

 
 Fbh  x
'     senh 
 GI r cosh    r
 t  
 r 

Como ’ resulta também sempre negativo, para os pontos 1, 2, 3 e 4, tem-se:

u 1 = u4 < 0
u 2 = u3 > 0

Por fim, as tensões normais x são dadas por:

B
x  
I

Como, nesse caso, B < 0 e I > 0, para os pontos 1, 2, 3 e 4, resultam:

x(1) = x(4) < 0


x(2) = x(3) > 0

 Considerando os dados do exemplo 1, bem como F = 50 kN:


Nesse caso, sabe-se que para x = 200 cm tem-se B(200) = - 6000 kNcm2, e que quando
x = 0 tem-se B(0) = - 186,65 kN.cm2. Com base nesses valores, resultam:

186,65
 x , 2 ( x  0)    30  1,17 kN/cm 2
4800

6000
 x , 2 ( x  200)    30  37,50 kN/cm 2
4800

114
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Calculando-se x para os mesmos pontos da seção, com os conceitos da Resistência


dos Materiais e considerando-se as mesas trabalhando isoladamente, tem-se:

0,8 x 103
M = F.b = 50.10 = 500 kN.cm Iy   66,667 cm 4
12
500
x  (5)  37,50 kN/cm 2
66,667

É importante ressaltar que este cálculo é aproximado, uma vez que para a sua
determinação considera as mesas trabalhando isoladamente e solicitadas por momento fletor
igual à F x b (binário de forças). Nesse exemplo, para x =  (seção em que são aplicadas as

cargas F), os valores de x são coincidentes com aqueles obtidos pela flexo torção.
No entanto, ao se aproximar do engastamento o valor x = 37,50 kN/cm2, calculado
pela Resistência dos Materiais, permanece constante, enquanto que o valor de x calculado
pela teoria de flexo torção reduz até atingir 1,17 kN/cm2, como conseqüência da variação do
bimomento, calculado para a seção trabalhando como um todo (mesas e alma solidárias).

EXERCÍCIO 3 - Para a viga esquematizada na figura 5.9, admitindo vinculações nas


extremidades do tipo “vínculos de garfo”, pede-se determinar o máximo valor de tensão
normal (x) e o valor da rotação () da seção central (x = 0).

2 ,2
5m 10cm 10cm
F

D 2 ,2
5m
t=1 cm
20cm

_
D _ CG
F = 200 kN

F
Figura 5.9 – Barra com seção transversal “Z” ponto-simétrica.

115
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Como a seção em questão é ponto-simétrica, o centro de torção coincide com o centro


geométrico da seção (D  CG), conforme resultados obtidos por meio do programa FLEXO
II, ilustrados na figura 5.10. Na figura 5.11 é apresentado o diagrama de área setorial
principal, por meio do mesmo programa.

Figura 5.10 – Tela geral do FLEXO II: dimensões, propriedades e posição de D.

Figura 5.11 – Diagrama de área setorial principal, determinado por meio do FLEXO II.
Unidade: cm2

116
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Vale lembrar que essa mesma seção já foi considerada no exercício 2 do capítulo 2,
em que foi determinado o diagrama de área setorial principal, cujos valores estão
apresentados na figura 5.12 e coincidem com aqueles determinados pelo programa FLEXO
II, conforme figura 5.11.

25

+ 75

_
 (cm 2 )

75 25

Figura 5.12 – Diagramas de área setorial principal (com unidade em cm2)

 Valores de interesse considerados


De acordo com a figura 5.11 (ou 5.12), considera-se  = -25 cm2 como o valor da área
setorial correspondente ao ponto de aplicação da carga axial de tração F = 200 kN. Nesse
caso, são determinados os seguintes valores:

A = 40 cm2 B = 200 x (-25) = - 5000 kN.cm2

1
I t  13 (4 x 10)  13,33 cm 4
3

10 
I  t  2ds  20 x 252  2  (752  75 x 25  252 )   41.666,67 cm 6
s 3 

21.000 x 41666,67
r  90,57 cm
8.000 x13,333

117
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Novamente, os últimos valores calculados são coincidentes com aqueles determinados


pelo programa FLEXO II, conforme apresentado na figura 5.10.

 Escolha da solução geral


Para se resolver este exercício, pode ser considerado como ponto de partida a equação
4.41, para a qual são admitidas as seguintes condições de contorno:

a-) Para x = +/2, tem-se:  = 0 e B = B* = -5.000 kN.cm2

b-) Para x = -/2, tem-se:  = 0 e B = B* = -5.000 kN.cm2

Por outro lado, uma forma alternativa de se resolver o problema consiste em tomar
como ponto de partida a equação geral do bimomento, desconsiderando a carga de torção
distribuída, escrita na seguinte forma:

x x
B  C1 senh    C2 cosh  
r r

Pode ser escrita ainda na forma:

C1 x C x
B´ cosh    2 senh  
r r r r

Novamente, faz-se necessário considerar condições de contorno para a determinação


das constantes de interesse. A simetria do carregamento aplicado, responsável pelo
aparecimento de bimomentos iguais em ambas as extremidades, permite considerar, nesse
caso, que para x = 0 tem-se B’ = 0 (tangente resulta horizontal no meio da barra). Esta última
condição permite obter C1 = 0, de modo que:

x
C1  0  B  C2 cosh  
r
Adicionalmente, sabe-se que para x = /2 tem-se B = B* = -5.000 kN.cm2. A condição

em questão fornece:

118
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

B*
C2 
  
cosh  
 2r 

Nesse caso, obtém-se:

B* x
B cosh  
   r
cosh  
 2r 

Ainda, como se sabe, vale a igualdade Mft = - B’. Deste modo, obtém-se:

B* x
M ft   senh  
   r
r cosh  
 2r 

 Determinação da rotação e da tensão normal em x = 0


A viga em estudo é vinculada, nas extremidades, por vínculos de garfo. Este vínculo
impede a rotação da seção, porém, sem interferir nos deslocamentos longitudinais (não
restringe o empenamento). Ao restringir a rotação, o vínculo de garfo pode solicitar a seção
com um momento de torção que, nesse caso, pode ser admitido intuitivamente com igual, em
módulo, porém, com sentidos contrários.
Dessa forma, é possível considerar que Mt será considerado constante ao longo do
comprimento da barra. Portanto, permanecendo válida a igualdade Mt = M + Mft, bem como

lembrando que M = G It ’, resulta:

B* x
M t  GI t '  senh 
 r
r cosh 
 2r 

Procedendo-se a integração em x da última equação, obtém-se:

119
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

B* x
G It   M t x  cosh   C 3
 r
cosh 
 2r 

Impondo-se as condições de contorno, em que para x = /2 tem-se  = 0, e em que para

x = - /2 tem-se  = 0, resultam duas equações a duas incógnitas, nas formas:

 B* 
0  Mt    cosh   C 3  0
 2  cosh    2r 
 
 2r 

 B*  
0  M t    cosh    C 3  0
 2  cosh    2r 
 
 2r 

Considerando-se o fato de que cosh(-x) = cosh(x) e senh(-x) = - senh(x), se resolve o


sistema de equações, obtém-se C3 = - B* e Mt = 0. Nota-se que a nulidade obtida para o
momento de torção confirma a consideração desse esforço como constante, inicialmente
assumida.
Com relação à rotação, resulta:

 x 
 cosh  
 r
*
B
   1
G It   
cosh 
  2r  

Determinando-se os valores de  e x para a seção em x = 0, obtém-se:

 5000  1 
(0)    1  0,0391 radianos (  2,24 o )
8000 x 13,333  6,038 

Como  é positivo, a seção central gira no sentido anti-horário para um observador no


sentido positivo de x. Para a tensão normal, tem-se:

120
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

N B
  ()
A I

Para a última equação, valem N = F = 200 kN, A = 40 cm2 e I = 41.666,67 cm6. Para
a determinação do bimomento, na seção x = 0 tem-se:

 5000
B(0)    828,1 kN.cm 2
6,038

De acordo com as informações apresentadas na figura 5.12, para os pontos de área


setorial 75 cm2 e –25cm2, resultam:

200 828,1
 ( x  0)    (75)   3,51 kN/cm 2
40 41.666,67

200 828,1
 ( x  0)    (25)   5,50 kN/cm 2
40 41.666,67

Para a seção em x = /2, tem-se:

200 5000
 ( x   / 2)    (75)   4,0 kN/cm 2
40 41.666,67

200 5000
 ( x   / 2)    (25)   8,0 kN/cm 2
40 41.666,67

Com base na análise dos resultados de tensões normais, é possível notar que, para
seções próximas às extremidades da viga, trechos das mesas (inferior e superior) são
comprimidos com tensões normais da ordem de 4 kN/cm2 e, ao mesmo tempo, tracionados
com tensões normais da ordem de 8 kN/cm2
Por outro lado, a seção central resulta inteiramente tracionada, com valores de tensões
normais variando entre 3,51 e 5,5 kN/cm2.

121
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

EXERCÍCIO 4 - Determinar os diagramas de B, Mt, Mft e M para a viga indicada a seguir na

figura 5.13. Para o exemplo em questão, adote E = 21.000 kN/cm2 e G = 8.000 kN/cm2.

6cm 6cm

m=0,5 kNcm/cm

t=const 0,5cm

24cm
x
 = 4m
12cm

Figura 5.13 – Barra com seção transversal I com vínculos de garfo nas extremidades.

A seção bissimétrica e, nesse caso, o centro de torção coincide com o centro


geométrico da seção (D  CG), conforme resultados do FLEXO II ilustrados na figura 5.14.

Figura 5.14 – Tela geral do FLEXO II: dimensões, propriedades e posição de D.

122
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Na figura 5.15 é apresentado o diagrama de área setorial principal, obtido por meio do
mesmo programa.
72
+
_
72

+
72 _ 72

Figura 5.15 – Diagrama de área setorial principal, determinado por meio do FLEXO II.
Unidade: cm2

 Alguns valores de interesse


De acordo com a figura 5.15, se consideram valores iguais a  =  72 cm2, para fins
de determinação do momento estático setorial e tensões normais. No entanto, em primeira
instância, faz-se necessário obter as características geométricas da seção transversal, de modo
que, inicialmente procede-se:

1 3 1
It  
3s
t ds  (0,5) 3 (2 x 12  24)  2 cm 4
3

 1 
I    2 dA  t  2 ds  4 x 0,5 6 (72) 2   20.736 cm 6
A s  3 

E.I  21.000 x 20.736


r   164,97 cm
G.I t 8.000 x 2

123
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação da equação geral do bimomento (B)


Para a obtenção dos valores de interesse do bimomento, toma-se como ponto de
partida a equação geral de B escrita na seguinte forma:

x x
B  C1 senh   C 2 cosh   r 2 m
r r

Novamente, se considera as condições de contorno para a determinação das constantes


de interesse. Para tanto, sabe-se que para x = 0 tem-se B = 0. Esta última condição permite
obter:

C2   r 2m

Ainda, sabe-se que para x =  tem-se B = 0, tal que:

  
r 2 m cosh   1
 r 
C1 

senh 
r

Ambas as constantes, C1 e C2, substituídas em B, permitem escrever:

  
 cosh r   1 x x 
B  r m
2   senh   cosh   1
 senh   r r 
   
r

Substituindo os valores m = 0,5 kNcm/cm,  = 400 cm e r = 164,97 cm, na última

equação, tem-se:

x x
B  11.395 senh   13.608 cosh   13.608
r r

124
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

O diagrama de bimomento, obtido por meio da aplicação da última equação para


parcelas de comprimento da barra referente a 100 cm, está esquematizado na figura 5.16.

6170
4760 4760
+ +
+ +
Figura 5.16 – Diagrama de bimomento, a cada 100 cm. Unidade: kN.cm2

 Determinação da equação geral do momento flexo torção (Mft)


Para a obtenção dos valores de interesse do momento de flexo torção, toma-se como
ponto de partida a primeira derivada da equação geral de B, anteriormente determinada, uma
vez que se sabe que B‘ = - Mft. Nesse caso, procede-se:

    
  cosh    1  
x  r   cosh x 
M ft  B'  rm senh     
  r   senh     r 
     
  r  

Novamente, substituindo-se os valores m = 0,5 kNcm/cm,  = 400 cm e r = 164,97 cm,

na última equação, resulta a equação de Mft e o correspondente diagrama (figura 5.17):

x x
M ft  82,5 senh   69,1cosh 
r r

69
29,1
+
_
29,1
69
Figura 5.17 – Diagrama de Mft, a cada 100 cm. Unidade: kN.cm

125
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação da equação geral do momento da torção livre (M)

Vale aqui ressaltar que a determinação da equação de M pode ser feita por dois

procedimentos distintos. O primeiro procedimento consiste em determinar a equação geral de


M por meio da igualdade M = G It ’, uma vez que ’ pode ser obtido pela integração da

equação do bimomento, tal que:

B 1
B  EI  ' '  ' ' 
EI 
 '   B dx  C
EI  x

Um segundo procedimento, diferentemente do primeiro, consiste em determinar a


equação de M por meio da igualdade Mt = M + Mft, ou ainda, M = Mt - Mft. Nesse caso,

como Mft já é conhecido, basta determinar a equação de Mt, a qual pode ser obtida por meio
do equilíbrio do trecho de comprimento x, conforme figura 5.18.

-m 
2

1 0 0 k N .cm m 
 2
_

+ 1 0 0 k N .cm

Figura 5.18 – Diagrama de Mt ao longo da barra. Unidade: kN.cm

126
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Por meio do equilíbrio do trecho de comprimento x, figura 5.18, escreve-se:

m
Mt    mx
2

Consequentemente, obtém-se a equação geral de M e o correspondente diagrama

(figura 5.19), nas formas:

m x x
M    mx  M ft  100  0,5x  82,5 senh   69,1 cosh 
2 r r

31
20,9 +

_ 20,9
31

Figura 5.19 – Diagrama de M, a cada 100 cm. Unidade: kN.cm

 Determinação da equação geral do giro 


A viga da figura 5.13 é vinculada, nas extremidades por vínculos de garfo, os quais
impedem a rotação da seção, porém, sem interferir nos deslocamentos longitudinais (não
restringe o empenamento). Vale lembrar ainda que, diferentemente do exercício anterior, a
inexistência de forças concentradas aplicadas nas extremidades vinculadas permite considerar
a inexistência de bimomento nesses mesmos pontos, conforme esquematiza a figura 5.16
Portanto, lembrando que M = G It ’, resulta:

  
 cosh   1 
M
'   
rm
  r  cosh x   senh x     x 
   
G It G It    r  r  2r r 
senh 
 r 

127
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Integrando-se a última equação, obtém-se:

  
cosh    1
r m
2 
 r  senh x   cosh x   x  x   C
2

     
  r  r  2r 2 2r 2 
3
G It 
senh 
 r 

Por meio da condição de contorno em que para x = 0 tem-se  = 0, resulta:

r2 m
C3 
G It

Portanto, tem-se finalmente:

  
 cosh   1 
 r x  x  x
2 2
r m x
  senh   cosh   2  2  1
G It   r  r  2r 2r 
senh 
 r 

EXERCÍCIO 5 - Para a viga biapoiada esquematizada na figura 5.20, com respectiva seção
transversal, pede-se determinar:
a-) Os diagramas de bimomento, momento de torção livre e momento de flexo torção.
b-) Calcular o valor máximo de tensão normal atuante na seção distante 2m do apoio A.
c-) Calcular os valores máximos das tensões tangenciais de torção livre e de flexo torção na
seção do apoio B.
Considerar que o vínculo de garfo em B sofre um recalque puramente torcional de
0,0625 radianos, no sentido anti-horário para um observador posicionado no sentido positivo
do eixo x. Considere como dados de interesse:
F (carga axial excêntrica) = 50 kN q (carga uniformemente distribuída) = 12 kN/m
 (vão) = 4m E = 21.000 kN/cm2 t = 0,8 cm (cte)  = 1/3 (coeficiente de Poisson)

Considere o vinculo de garfo em B como um apoio que permite restringir a translação


horizontal por meio de uma barra no CG da seção transversal.

128
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

q
F
q C

8cm
F
t

8cm
A B
C

8cm
 x

6cm 8cm

CORTE C-C
Figura 5.20 – Barra com seção transversal I com vínculos de garfo nas extremidades.

 Cálculo das propriedades geométricas da seção


Inicialmente, faz-se a determinação dos valores dos momentos principais de inércia, os
quais são necessários para a determinação do centro de torção (D). Nesse caso, com relação à
seção esquematizada na figura 5.20, nota-se que essa é monossimétrica (possui um eixo de
simetria), razão pela qual será determinada apenas uma das coordenadas do CG da seção com
relação ao eixo que corresponde à horizontal, no caso, o eixo z.
Nesse caso, tem-se associado à seção eixos z e y, associados às direções horizontal e
vertical, respectivamente, tal que z é eixo principal de inércia (simetria), enquanto que y = 0.
Para tanto, determinam-se:

(24 x 4  2 x 10 x 7)0,8
z  3,933cm A = 60 x 0,8 = 48 cm2
(24  20  16)0,8

Consequentemente, resultam:

0,8 x 24  1 x 83


  2
3

Iz   2 8 x 0,8 x 12   2  10 x 0,88   3.874,13 cm 4


2

12  12 

129
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 0,8x 83 2   1,333x 6 3 


I y  0,8x24x(0,067 )  2
2
 0,8x8x 3,933   2  0,8x10 x 3,067 2 
 12   12 
I y  464,84 cm 4

Ainda, determina-se o momento de inércia à torção, pela equação:

t3 0,83
I t   ds  (24  16  20)  10,24 cm 4
3s 3

 Cálculo do centro de torção (D) e da área setorial principal ()


Novamente, em razão de a seção ser monossimétrica será determinado apenas uma das
coordenadas do centro de torção (D), partindo-se do CG agora conhecido. Nesse caso, com
relação ao eixo z, determina-se apenas a coordenada zd, ou d = zD - zp, uma vez que yD = 0,
pela próxima equação, bem como pelas informações da figura 5.21 :

1 t
ZD  Zp  d   
Iz A
p y dA    p y ds
Iz s

96 _
+ 12 12
24
_
_

_ 4
P _ Os
4

+
+

24 _ 12
+
96 12
p (cm2 ) y (cm)

Figura 5.21 – Diagramas de área setorial (com pólo em P) e da coordenada y.

130
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Com base nas informações da figura 5.21, procede-se:

 1 1 

s
P
y ds  2  8x x 96 x12  10 x x 24(2 x12  4)   6.976 cm 4
 2 6 

0,8
ZD  Zp  d   (6.976)  1,441 cm
3.874,13

O sinal positivo obtido para o parâmetro d indica, conforme regra estabelecida do


capítulo 2, que o centro de torção (D) encontra-se localizado à esquerda do centro geométrico
da seção (CG), conforme esquematiza a figura 5.22. Na mesma figura, é apresentado o
diagrama de área setorial principal.

17,292
41,294
_ +
78,708
_

5,764
D Os

5,764  (cm 2 )
+
+ 17,292

41,294 _
78,708
1,441cm
6,559cm

Figura 5.22 – Localização do centro de torção e diagramas de área setorial principal

131
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Os valores das propriedades geométricas da seção, bem como o correspondente


diagrama esquematizado na figura 5.22, são recuperados e confirmados por meio da utilização
do programa FLEXO II, conforme ilustrados nas figuras 5.23 e 5.24.

Figura 5.23 – Tela geral do FLEXO II: dimensões, propriedades e posição de D.

Figura 5.24 – Diagrama de área setorial principal, FLEXO II. Unidade: cm2

132
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Cálculo do momento de inércia setorial e do diagrama de momento estático setorial.


A determinação do valor do momento de inércia setorial faz-se com base nos valores
de área setorial apresentados na figura 5.22 (ou figura 5.24), por meio da equação:

I    2 dA  t  2 ds
A s

Com a aplicação da última equação, fazendo I = IA + IB, obtém-se as parcelas:

8 
I A  2 x 0,8x  (78,708 2  78,708 x 17,292  17,292 2 )
3 
10 12 
I B  2 x 0,8x  (41,294 2  41,294.5,294  5,764 2 )  (17,292 2 )
3 3 

Finalmente:

I   I A  I B  34.355,24 cm 6

Com os valores de momento estático setorial (S) e seu correspondente diagrama, se


obtém (ou estabelece) a distribuição das tensões tangenciais devidas à flexo torção ao longo
da linha do esqueleto da seção transversal ilustrada na figura 5.25.

h b a h b a
s2 s2

c1
c2
c c
D D c3

d3 Os Os
d2 d d
d1

s1 s1
(a) g e f g e f (b)
Figura 5.25 – Determinação do momento estático setorial em pontos e trechos da seção.

133
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Os valores em pontos de interesse são obtidos pela aplicação da seguinte equação,


aplicada ao longo dos trechos ilustrados na figura 5.25:

s s

S    t ds  t   ds
s1 s1

Vale aqui lembrar, conforme já mencionado no exercício 1, que os valores de S


resultam do produto da área do diagrama de  pela espessura t, tomada até um dado ponto de
interesse. Vale lembrar também que para definir o sinal de S, faz-se necessário fixar uma
direção para a coordenada s, ou seja, um ponto na seção transversal como origem (s1) para a
coordenada s.
Nesse caso, adotando como origem s1 o ponto f da seção transversal da figura 5.25a,
são obtidos, para fins de exemplificação, os valores de S para os pontos e, f e g, bem como o
valor máximo para o trecho e-f:

Sf  Sg  0 (nas extremidades S resulta sempre nulo)

 78,708 x 6,559 
Sf,max
e
 0,8    206,50 cm 4
 2 

 78,708  17,292  
Se  0,8   x 8  196,53 cm
4

 2  

É interessante notar que os valores de momento estático setorial para as extremidades f


e g resultam nulos e, portanto, em analogia com o momento estático clássico dos conceitos da
flexão com base na Resistência dos Materiais. Para os valores diferentes de zero, nota-se que
os sinais estão em concordância com o valor da área setorial principal utilizada na sua
determinação, ou seja, áreas setoriais negativas acumuladas (figura 5.22) resultam em
momento estático setorial negativo.
Ainda com a origem s1 no ponto f, o valor do momento estático, para o ponto d,
d,1
porém, antes do entroncamento com o trecho g-d, ou seja, S , resulta:

134
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 17,292  5,764  
Sd,1  Se  0,8   x 8  122,75 cm
4

 2  

Para o mesmo ponto d, porém, após passar pelo entroncamento com o trecho g-d, ou
d,3
seja, S , faz-se necessário considerar a contribuição do momento estático setorial do trecho
d,2
em questão, no caso, S , com sentido de percurso de g para d, tal que:

 41,294  5,764  
Sd, 2  0,8   x 10  188,23 cm
4

 2  

d,2 d,1
Assim, somando-se S ao valor de S , resulta:

Sd, 3  188,23 - 122,75  65,48 cm 4

Para o ponto Os (origem adotada para a determinação da área setorial principal) da


seção da figura 5.25a, por analogia, deve ser considerada a contribuição do trecho d-Os, com
sentido de percurso de d para Os, de modo a resultar:

 5,764 x 4 
SOs

 65,48  0,8    74,70 cm
4

 2 

A determinação dos valores de momento estático para os demais pontos da seção se


faz por procedimento análogo àquele utilizado anteriormente. Como o diagrama da figura
5.22 é antimétrico, resultam, com base na figura 5.25b, os seguintes valores:

 5,764 x 4 
Sc,3  SOs

 0,8    65,48 cm
4
(sentido de percurso: Os  c3)
 2 

Sh  0

 41,294  5,764  
Sc, 2  0,8   x 10  188,23 cm
4
(sentido de percurso: h  c2)
 2  

135
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Consequentemente:

Sc,1  Sc, 2  Sc, 3  188,23  65,48  - 122,75 cm 4

Para os pontos a e b, e entre a e b, resultam os seguintes valores:

Sb  Sc,1  Sc,1b  122,75  73,78  196,53 cm 4

Sb ,max
a
 196,53 - 9,97  206,50 cm 4

Sa  206,50  206,50  0 (nas extremidades S resulta sempre nulo)

Com os sentidos de percurso adotados para a ordenada s para cada trecho da seção,
foram obtidos os valores já apresentados, com os quais pode ser construído o diagrama de
momento estático setorial, esquematizado na figura 5.26a.

196,53 206,50

122,75
65,48
188,23

S  (cm 4 )
74,70
188,23
65,48
122,75

196,53 206,50
Figura 5.26 – Diagrama de momento estático setorial S (em cm4) obtido com base no
diagrama da figura 5.22 (ou figura 5.24).

136
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Nota-se, pela figura 5.26a, que os momentos estáticos setoriais variam ao longo das
partes retilíneas do esqueleto segundo parábolas, e os seus valores máximos absolutos
ocorrem nos pontos em que o diagrama de área setorial principal se anula.
Adicionalmente, os sentidos das tensões de cisalhamento estão representados na figura
5.26b, por meio de vetores ao longo do esqueleto. A resultante das parcelas de ft é o
momento de flexo torção Mft e, como tais tensões não equilibram nenhuma força cortante, sua
resultante de força na vertical (e na horizontal) deve ser nula, conforme identificado na figura
5.26b. É importante lembrar que os sentidos de fluxo das tensões ft, indicados na mesma
figura, são definidos em função das regras de sentido de fluxo para a tensão de cisalhamento
da flexo torção, estabelecidas no item 4.3.1 do capitulo 4.
É importante ressaltar que todos os valores obtidos para área setorial adotaram como
origem s1 o ponto f. Porém, é importante mencionar que se a origem s1 fosse considerada no
ponto a da figura 5.25, por exemplo, seriam obtidos os mesmos valores anteriores, porém,
com sinais contrários em alguns dos trechos.
É possível perceber que para a determinação dos valores de momento estático e,
consequentemente, do diagrama, faz-se necessário adotar-se um sentido de percurso para
todos os trechos da seção, o qual é fixado para cada tipo de perfil considerado. Portanto, os
sinais de S dependem do sentido adotado para a ordenada s.
Um outro aspecto de interesse com relação à escolha da origem da ordenada s, refere-
se ao fato de que s1 (ponto de partida) e s2 (ponto de chegada) podem ser adotados
arbitrariamente para uma dada seção transversal de interesse. Essa escolha não modificará os
resultados em módulo do diagrama de S, apenas os sinais, razão pela quais os valores das
tensões de cisalhamento da flexo torção permanecerão os mesmos.
Para a seção da figura 5.25, poderiam ser adotados pontos para s1 e s2 diferentes
daquele último utilizado para a determinação de S, no caso, f  e  d  c  b  a.
Podem ser adotados, por exemplo, os seguintes percursos para a ordenada s:

- PERCURSO 1: a  b  c  d  e  f
Nesse caso, trata-se, como já comentado anteriormente, de um percurso com sentido
inverso àquele adotado para a obtenção dos valores apresentados na figura 5.26.
Porém, conduz aos mesmos resultados, em módulo, devendo-se também considerar as
contribuições dos trechos não inseridos no percurso considerado, ou seja, a contribuição do

137
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

valor de S do trecho c-h (com sentido de h para c) ao passar por c em direção a d , bem como
a contribuição do valor de S do trecho d-g (com sentido de g para d) ao passar por d em
direção a e, conforme ilustra a figura 5.27a.
A figura 5.27b esquematiza o diagrama de momento estático setorial obtido para o
percurso em questão.

196,53 206,50

h b a
s1
122,75
65,48
c 188,23

D Os S  (cm 4 )
74,70
d 188,23
65,48
122,75
s2
g e f
196,53 206,50
(a) (b)
Figura 5.27 – (a) Percurso adotados para a ordenada s e (b) diagrama de momento estático
setorial obtido.

 PERCURSO 2: a  b  c  d  g
Este percurso também conduzirá aos mesmos resultados da figura 5.26a, em módulo,
porém, considerando as contribuições dos trechos não inseridos no percurso adotado, ou seja,
a contribuição do valor de S do trecho c-h (com sentido de h para c) ao passar por c em
direção a d, bem como a contribuição do valor de S do trecho d-e-f (com sentido de f para d)
ao passar por d em direção a g, conforme ilustra a figura 5.28a.
A figura 5.28b esquematiza o diagrama de momento estático setorial obtido para o
percurso em questão.

138
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

196,53 206,50

h b a
s1
122,75
65,48
c 188,23

D Os S  (cm 4 )
74,70
d 188,23
65,48
122,75
s2
g e f
196,53 206,50
(a) (b)
Figura 5.28 – (a) Percurso adotados para a ordenada s e (b) determinação do diagrama de
momento estático setorial obtido.

 PERCURSO 3: f  e  d  c  h
Conduz aos mesmos resultados da figura 5.26a, em módulo, porém, considerando as
contribuições dos trechos não inseridos no percurso adotado, ou seja, a contribuição do valor
de S do trecho d-g (com sentido de g para d) ao passar por d em direção a c, bem como a
contribuição do valor de S do trecho a-b-c (com sentido de a para c) ao passar por c em
direção a h, conforme ilustra a figura 5.29a. A figura 5.29b esquematiza o diagrama de
momento estático setorial obtido para o percurso em questão.

 PERCURSO 4: h  c  d  g
Conduz aos mesmos resultados da figura 5.26a, em módulo, porém, considerando as
contribuições dos trechos não inseridos no percurso adotado, ou seja, a contribuição do valor
de S do trecho a-b-c (com sentido de a para c) ao passar por c em direção a d, bem como a
contribuição do valor de S do trecho d-e-f (com sentido de f para d) ao passar por d em
direção a g, conforme ilustra a figura 5.30a. A figura 5.30b esquematiza o diagrama de
momento estático setorial obtido para o percurso em questão.

139
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

196,53 206,50

h b a
s2
122,75
65,48
c 188,23

D Os S  (cm 4 )
74,70
d 188,23
65,48
122,75
s1
g e f
196,53 206,50
(a) (b)
Figura 5.29 – (a) Percurso adotados para a ordenada s e (b) determinação do diagrama de
momento estático setorial obtido.

196,53 206,50

h b a
s1
122,75
65,48
c 188,23

D Os S  (cm 4 )
74,70
d 188,23
65,48
122,75
s2
g e f
196,53 206,50
(a) (b)
Figura 5.30 – (a) Percurso adotados para a ordenada s e (b) determinação do diagrama de
momento estático setorial obtido.
140
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Cabe aqui ressaltar novamente, em analogia aos aspectos considerados para o


Percurso 1, que se fossem adotados percursos com sentidos contrários àqueles estabelecidos
para os Percursos 2, 3 e 4, ou seja, trocando-se s1 por s2 e s2 por s1, seriam obtidos os
mesmos valores para cada caso considerado, porém, com sinais contrários para alguns dos
trechos.
No entanto, independentemente dos sinais de S obtidos em cada diagrama, tem-se

como produto final, com relação às tensões de cisalhamento ft, os mesmos sentidos de fluxo
apresentados na figura 5.26b, os quais devem resultar sempre os mesmos, por questões de
equilíbrio, independentemente dos sinais do momento estático setorial.

 Determinação das solicitações de interesse na barra


Para a obtenção das equações gerais que permitem determinar os valores dos esforços
solicitantes (esforços internos) ao longo do comprimento da barra (eixo X), devem ser
consideradas as cargas externas que nela atuam, como por exemplo:

q = carga uniformemente distribuída ......= 0,12 kN/cm


F = carga axial concentrada e excêntrica = 50 kN

As posições que cada carga atua estão esquematizadas na figura 5.31, lembrando que a
carga q possui plano de carga não coincidente com o centro de torção, razão pela qual deverá
ser considerada também uma carga de torção distribuída.
Nesse caso, em razão da distância entre q e D determinada com base na soma das
parcelas 1,441 cm, 0,067 cm e 7,933 cm, resulta:

m = momento de torção distribuído = 0,12 x (8, 0 + 1,441) = 1,13 kN.cm/cm

Consequentemente, aparecem, por equilíbrio de um comprimento X da barra, esforços


internos, tais como:

m = 1,13 kN.cm/cm (por torção)


N = 50 kN (por tração simples).

141
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

6cm 8cm

q
F

12cm
CG
z D

y
7,933cm

1,441cm 0,067cm
Figura 5.31 – Cargas q e F consideradas atuantes na seção transversal da barra

Em resposta à solicitação por flexão oblíqua, consideram-se:

50 x 12   400  X2 
Mz   (X)  q   X  q   22,5(X)  0,06(X)
2

400   2  2 

 50 x 6,067 
My    (X)  0,7584(X)
 400 

Com relação à solicitação por bimomento, vale lembrar a existência de uma carga
concentrada aplicada em ponto particular da seção (ponto h), conforme ilustra a figura 5.31.
Nesse caso, resulta B* (bimomento aplicado na seção transversal A), tal que:

B* = Fi,A x i,A = (50 kN) x (-41,294 cm2) = - 2064,70 kN.cm2

Ainda, resulta:

1
2(1  ).34355,24
J 3
r  2(1  )    94,587cm  r 2  8.946,677 cm 2
Jt 10,24

142
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação das equações gerais de B, Mft , M e Mt

Para a obtenção dos valores de interesse do bimomento, toma-se como ponto de


partida a equação geral de B escrita na seguinte forma:

x x
B  C1 senh   C 2 cosh   r 2 m
r r

Ou ainda, na forma:

x x
E I  "  C1 senh   C 2 cosh   r 2 m
r r

Integrando-se a última equação por duas vezes sucessivas, obtém-se:

x x
E I  '  C1 r cosh   C 2 r senh   r 2 m x   C 3
r r

x x r m 2
2

E I    C1 r senh   C 2 r cosh  
2 2
x   C 3 x  C 4
r r 2

Com base nas condições de contorno referentes ao giro das seções, em que se sabe da
ocorrência de recalque rotacional do vínculo de garfo em B, tem-se que para x = 0 resulta
como giro  (0) = + 0,0625 radianos. Portanto:

0,0625E I   C 2 r 2  C 4

Por outro lado, sabe-se que em x =  tem-se () = 0, tal que:

    2 m
2

0  C1r senh   C 2 r cosh   r


2 2
 C3  C 4
r r 2

 
lembrando que: senh   34,314 cosh   34,329
r r
143
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Com relação ao bimomento, sabe-se que para x = 0 tem-se B(0) = 0. Nesse caso,
obtém-se:

0  C2  r 2m  C2   r 2m

Ainda com relação ao bimomento, para x =  tem-se B() = - 2064,70 kNcm2.

Portanto, resulta:

 
 2064,70  C1senh   C 2 cosh   r 2 m
r r

As quatro últimas equações obtidas, quando reunidas, consistem de um conjunto


constituído por quatro a quatro incógnitas. Resolvendo esse mesmo sistema de equações, se
obtém as constantes de interesse:

C2 = - r2 m = - (8.946,677) x (1,13) = - 10.109,75

Com a obtenção do valor de C2, faz-se a determinação das constantes:

C1 = [-2.064,70 + (10.109,75) x (34,329) - 10.109,75] / (34,314) = 9.759,37

C4 = 45091252,5 - 8.946,677 x (-10.109,75) = 135.539.920,3

Por fim, a determinação da constante C3:

C3 = - 2.088.493,6

Portanto, tem-se:

x   x 
B  9.759,37senh   10.109,751  cosh 
r   r 

Como Mft = - B’, tem-se:

144
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

x x
M ft  103,18 cosh   106,88 senh 
r r

Ainda, sendo M = G It ’, resulta:

GI t  x x 2 
M   C r cosh    C r senh    r m  x   C 
r r
1 2 3
EI   

Ou ainda, na forma:

x x
M   103,18 cosh   106,88 senh   1,13x   233,44
r r

Finalmente, faz-se Mt = M + Mft , obtendo-se:

M   1,13x   233,44

 Construção dos diagramas de B, Mft e M

Os diagramas serão construídos com base nas equações gerais obtidas para B, Mft e
M, e apresentados a seguir na figura 5.32 para valores de coordenadas x da barra referentes à

parcelas iguais a 100 cm, de 0 a 400 cm, conforme apresentados na tabela 5.3

Tabela 5.3 – Valores de B, Mft e M

X (cm) senh(x/r) cosh(x/r) B (kNcm2) M (kNcm) Mft (kNcm)

0 0 1 0 -130,2 -103,2
100 1,2655 1,6129 6154,2 -89,2 -31,2
200 4,08822 4,2029 7459,2 -10,1 2,7
300 11,5028 11,9448 5514,6 65,9 39,7
400 34,3139 34,3285 -2060,8 93,1 125,5

145
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

x (cm)
400
B (kNcm2 ) _ 300 200 100 0

2060,8 + +
5514,6 6154,2
7459,2

65,9 _
M (kNcm)
 + 89,2
130,2
10,1
93,1
2,7 _
M ft (kNcm) 103,2
+ 31,2
39,7
125,5

_
M t (kNcm) 233,4
+ 7,4
120,4

218,6 105,6

Figura 5.32 – Diagramas de B, Mft, M e Mt, com respectivas unidades.

 Determinação da tensão normal


O cálculo de tensão normal na seção transversal distante 2m do vínculo do garfo A,
faz-se com base na equação geral escrita na forma:

N Mz M
  y   y z   B 
A Iz Iy I

146
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Inicialmente, vale lembrar que:

M z  22,5(X)  0,06(X) 2 M y  0,7584(X)

x   x 
B  9.759,37senh    10.109,751  cosh  
r   r 

Na coordenada da barra em que x = 200 cm e lembrando que r = 94,587 cm, resultam,


com base na figura 5.33, os seguintes valores:

M z  2100 kNcm M y  151,68 kNcm B  7459,2 kNcm 2

h b a

My
c
Os N
z Mz
d

g e f
y

Figura 5.33 – Representação dos esforços solicitantes de interesse na seção.

Portanto, com base em Mz = 2100 kNcm, My = 151,68 kNcm, B = 7459,2 kNcm2, bem
como lembrando que N = 50 kN, obtém-se:


50

2100
y   151,68 z   7459,2 
48 3874,13 464,84 34355,24

  1,042  0,542y   0,326z   0,217

147
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Os valores das tensões normais em cada pontos da seção transversal estão


apresentados na tabela 5.4, bem como esquematizados no diagrama da figura 5.34.

Tabela 5.4 – Valores de Tensões Normais na seção


Ponto y (cm) z (cm)  (cm2)  (kN/cm2)
a -12 -7,933 +78,708 9,03
b -12 0,067 -17,292 - 9,19
h -12 6,067 -41,294 - 12,45
g 12 6,067 41,294 18,48
 12 0,067 17,292 11,32
f 12 -7,933 -78,708 - 12,12
c -4 0,067 -5,764 - 2,36
0s 0 0,067 0 1,06
d 4 0,067 5,764 4,48

9 ,0 3
9 ,1 9
+

1 2 ,4 5
_

2 ,3 6

4 ,4 8

1 2 ,1 2
_

1 1 ,3 2
1 8 ,4 8
Figura 5.34 – Diagrama de tensões normais na seção de interesse, em kN/cm2.

148
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação das tensões de cisalhamento


O Cálculo das tensões de cisalhamento máximas na seção do vínculo de garfo em B
(x=0) faz-se com base nos valores M = -130,24 kNcm e Mft = -103,2 kNcm, ambos

extraídos dos respectivos diagramas apresentados na figura 5.32. Nesse caso, resultam:

M 130,2
  (t)   (0,8)  10,18 kN/cm 2
It 10,24

M ft S (103,2)(206,50)
 ft      0,78 kN / cm 2
t I 0,8 x 34.355,24

Finalmente, obtém-se:

 máx  10,18 - 0,78  10,96 kN/cm 2

EXERCÍCIO 6 – Para a viga esquematizada na figura 5.35, com dois vínculos de garfo e
momento de torção concentrado aplicado na extremidade livre (em C), pede-se:
a-) Obter as equações gerais dos esforços solicitantes tipo Mt , M , Mft e B,

b-) Com base nas equações obtidas no item a, determinar os valores máximos da tensão
normal e da tensão de cisalhamento no vínculo do garfo B, considerando:

=2m E = 21.000 kN/cm2 M(aplicado) = 20 kNcm G = 8.000 kN/cm2

garfo garfo M aplicado


A B C

x
  /2
Seção Transversal da viga ABC :
I 203 x 27,38 kg/m
Figura 5.35 – Esquema estático da viga com momento de torção aplicado.
149
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 Determinação do valor do raio vetor r


Conforme informações constantes na figura 5.35, a seção transversal da viga de
interesse é constituída por perfil laminado I 203 x 27,38 kg/m, cujas informações necessárias
referentes às propriedades geométricas são disponibilizadas em tabelas usualmente empregada
em projeto de estruturas metálicas. Segundo essas mesmas tabelas, são obtidos alguns valores
de interesse, tais como I = 14.700 cm6 e It = 15,5 cm4. Nesse caso, tem-se:

21.000 x 14.700
r  49,895 cm
8.000 x 15,5

 Determinação das equações gerais de B, M e Mft

Para a obtenção dos valores de interesse do bimomento, toma-se como ponto de


partida a equação geral de B, escrita na forma:

x x
B  C1 senh   C 2 cosh   r 2 m
r r

Vale aqui lembrar a ocorrência de um momento de torção concentrado aplicado, bem


como a inexistência de carga de torção distribuída (m = 0), o que permite reescrever a última
equação na forma:

x x
B  C1 senh   C 2 cosh 
r r

Novamente, se considera as condições de contorno para a determinação das constantes


de interesse. Inicialmente, para o intervalo 0  x  , correspondente ao trecho AB, tem-se:

x x
B ( A  B )  B1  C1 senh   C 2 cosh 
r r

3
Analogamente, para o intervalo   x  , correspondente ao trecho BC, tem-se:
2

150
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

x x
B ( BC )  B 2  C 3 senh   C 4 cosh 
r r

Com base nas condições de contorno existentes, sabe-se que para x = 0 tem-se B1 = 0.
Esta última condição permite obter:

C2  0

Por outro lado, sabe-se que para x = 3/2 tem-se B2 = 0. Esta última condição permite

escrever:

  3  
 senh 2r  
C4   C3   
 cosh 3  
  
 2r  

Ainda, para x =  tem-se B1 = B2, de modo que:

  


C1 senh   C 3 senh   C 4 cosh 
r r r

   
 cosh r  
 C1  C 3  C 4      C cotgh   
 
 senh    r
4

  
 r  

Em caráter complementar, sabendo-se que Mft = -B’, M = Mt – Mft e M = G Jt ’,

procede-se, dentro do intervalo 0  x  , de modo a obter:

C1 x
M ft ,1   B1'   cosh 
r r

151
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

C1 x
M  ,1  M t ,1  cosh   G I t 1'
r r

3
Por sua vez, dentro do intervalo   x  , tem-se:
2

  3  
 senh 
C3 x  2r   x 
M ft , 2   B 2   cosh  
'
senh 
r   r  cosh 3   r 
   
 2r 

  3  
 senh 
C3 x  2r   x 
M ,2  M t ,2   cosh   senh   G I t  '2
r   r  cosh 3   r 
   
 2r 

De acordo com a figura 5.35 pode-se concluir que no trecho AB (0  x  ), o

momento de torção Mt,1 é constante, porém, ainda indeterminado. Por sua vez, por razões
análogas àquelas consideradas para o trecho AB, no trecho BC (  x  3/2) o momento de

torção Mt,2 também é constante, porém, conhecido e vale 20 kNcm.


Com base nos aspectos citados no último parágrafo, resultam:

x
GI t 1  M t ,1 ( x )  C1senh   C 5
r

  3  
 senh 
x  2r   x 

GI t  2  M t , 2 ( x )  C 3 senh   cosh   C 6
   cosh
r  3   r 
   
 2r 

A partir de agora, aplicam-se condições de contorno de interesse para a determinação


das constantes. Inicialmente, para x = 0 tem-se 1 = 0, obtendo-se:

152
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

C5 = 0

Em seguida, para x =  tem-se 1 = 0, obtendo-se:

C1 
M t ,1   senh 
 r

Ainda, para x =  tem-se 2 = 0, resultando:

   3    3  
 senh r  cosh 2r   cosh r  senh 2r  
M ft , 2   C3           C  0
 3 
6
 cosh  
  2r  

Lembrando que senh(x – y) = senh(x) cos(y) – cosh(x) senh(y), bem como lembrando
que cosh(x – y) = cosh(x) cos(y) – senh(x) senh(y), resulta:

   
 senh  
C 6  M t , 2   C 3   2r  
 cosh 3  
  
 2r  

Por fim, para x =  tem-se u1 = u2, ou seja, ’1 = ’2. Nesse caso:

   
cosh  
C1  C3   2r  
M t ,1  cosh   M t , 2  
r r   3 
cosh  
r
  2r  

Com base nos resultados obtidos, passa a ser possível determinar as constantes de
integração. Nesse caso, para facilitar o entendimento, serão reunidas a seguir as equações de
interesse, tal que:

153
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

  3      
 senh 2r    cosh r  
C4   C3    C1  C 3  C 4   
 cosh 3    senh   
     
 2r    r 

   
  senh 2r  
M t ,1  
C1
senh  C 6  M t , 2   C 3   
 r  cosh 3  
  
 2r  

   
cosh  
C1  C3   2r  
M t ,1  cosh   M t , 2  
r r   3 
cosh  
r
  2r  

Portanto, escrevem-se:

C 4   aC 3 e C1  C 3  bC 4  C1  (1  ab)C 3


 M t ,1  senh  C1
r

C 6  20   dC 3


r M t ,1  C1 cosh   20r  eC 3
r

Com relação às últimas equações, valem:

 3  
senh  cosh 
a  2r   tanh 3  b r 1
 
 3   2r   
cosh  senh  tanh 
 2r  r r

154
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

 
senh  cosh 
d  2r  e r
 3   3 
cosh  cosh 
 2r   2r 

Resolvendo o sistema de equações, obtém-se:

Mt,1 = - 2,7902685 kNcm


C1 = 20,27763848
C3 = -31.294,69579
C4 = 31.294,32081
C6 = -4.558,053701

Portanto, resultam:

x
B1  20,27763848 senh 
r
x x
B 2  31.294,69579 senh   31.294,32081 cosh  
r r

Para x = 200cm, tem-se B1 = B2 = 558,05368 kNcm2 e, consequentemente:

B
    558,0537 (47,6)   1,81 kN/cm 2
I 14.700

x
M ft1  0,4064058061cosh 
r

 x  x 
M ft 2  627,2104161 cosh    0,9999880179 senh  
 r  r 

155
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Para x = 200 cm, tem-se:

Mft,1 = -11,19193133 kNcm


Mft,2 = 11,59833782 kNcm

Como Mt1 = -0,27902685 tf.cm e Mt2 = 2,00 tf.cm, resultam:

M1 = - 8,401662832 kNcm

M2 = 8,401662744 kNcm

 Cálculo dos valores máximos de  na seção em x =  = 200 cm.

 
8,41663
1,08  0,5854 kN / cm 2
15,5
11,598338 x 131,09
 ft   0,0958 kN / cm 2
1,08 x 14.700

Consequentemente:

 máx  0,5854 kN / cm 2  0,0958 kN / cm 2  0,6812 kN/cm 2

5.4 EXERCÍCIOS PROPOSTOS

PROPOSTO 1 - Para as vigas indicadas na figura 5.36, pede-se determinar os diagramas de


B, Mt, Mft e M, bem como os valores máximos das tensões normais e de cisalhamento.Adote

como dados de interesse do exercício:

 = 400 cm Mt = m.  m = 0,5 kNcm/cm

E = 20.500 kN/cm2 G = 7.850 kN/cm2


156
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

Mt

m
x x

Mt

24cm
 /2  /2

Mt 12cm
x
espessura = 0,5cm

Figura 5.36 – Esquemas estáticos de diferentes vigas, para uma mesma seção.

PROPOSTO 2 - Para a viga esquematizada na figura 5.37, com F = 30 kN, E = 20.500


kN/cm2 e G = 7.850 kN/cm2, pede-se calcular os valores máximos de tensão normal de flexão,
tensão tangencial da força cortante, tensão normal de flexão-torção, tensão tangencial de flexo
torção e tensão tangencial de torção livre.

t=const 1 cm
24cm

F F
6cm 6cm
2m 2m

Figura 5.37 – Viga biengastada com carga F excêntrica aplicada.

157
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 3 – Para a viga esquematizada na figura 5.38, em que se considera a mesma


seção transversal do Exercício Proposto 1, pede-se:
a-) Determinar o máximo valor do ângulo de rotação;
b-) Traçar os diagramas de Mt, M e Mft;

c-) Determinar o máximo valor do momento de torção livre;


d-) Na seção distante 0,5 m do vínculo de garfo da esquerda (x = 300 cm), achar o máximo
valor da tensão normal
Obs: Para todos os itens, considerar F = 30 kN, E = 20.500 kN/cm2 e G = 7.850 kN/cm2

F F

F F

F F

 = 300cm x

Figura 5.38 – Viga com cargas F aplicada nas extremidades com vínculos de garfo.

PROPOSTO 4 - Para a viga esquematizada na figura 5.39, pede-se:


a-) construir os diagramas de B, Mt, M e Mft;

b-) Determinar o valor máximo da tensão normal de flexão;


c-) Determinar o valor máximo da tensão tangencial da força cortante;
d-) Determinar o valor máximo da tensão normal de flexo torção;
e-) Determinar tensão tangencial de flexo torção;
f-) Determinar o valor máximo da tensão tangencial de torção livre.
Obs: Para todos os itens, considerar E = 20.500 kN/cm2 e G = 7.850 kN/cm2

158
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

9cm 9cm
F = 20 kN

F = 20 kN
t=const 1 cm

24cm
x
200cm 200cm

3cm 3cm

Figura 5.39 – Viga com carga F aplicada e com vínculos de garfo.

PROPOSTO 5 – Para a viga esquematizada na figura 5.40, pede-se determinar os valores


máximos de tensão normal atuante na seção do engastamento, da tensão tangencial de torção
livre e do ângulo de rotação. O garfo em B restringe apenas a rotação e a seção transversal é
constituída por um perfil I 457 x 81,4 kg/m, com E = 20.500 kN/cm2 e G = 7.850 kN/cm2.

A B C
F = 200 kN

200cm 100cm

F = 200 kN

Figura 5.40 – Viga com: carga F aplicada, vínculo de garfo e engaste

159
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 6 - Para a viga esquematizada na figura 5.41, pede-se determinar os diagramas


de B, M e Mft. A seção transversal é um perfil H 152 x 37,2 kg/m e o carregamento é um

bimomento aplicado na extremidade C da viga.


Considerar: E = 20.500 kN/cm2 e G = 7.850 kN/cm2.

garfo
A C

3m

Baplicado = 50.000 kNcm2


Figura 5.41 – Viga com: B aplicado em C, vínculo de garfo e engaste

PROPOSTO 7 - Para a viga esquematizada na figura 5.42, cuja seção transversal viga é
constituída por um perfil I 305 x 30,81, pede-se:
a-) Traçar os diagramas de B, Mft e M .

a-) Determinar os valores máximos de tensão normal ();


b-) Determinar os valores máximos de tensão tangencial ();
c-) Determinar os valores máximos do ângulo de rotação ();
Obs: Para os itens: Baplicado = 40.000 kN/cm2, E = 21.000 kN/cm2 e G = 8.000 kN/cm2

B aplicado

x 180cm 120cm

Figura 5.42 – Viga com: B aplicado na extremidade livre e vínculos de garfo.

160
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 8 - Para a viga ilustrada a seguir na figura 5.43, com respectiva seção
transversal, pede-se:
a-) Construir os diagramas dos esforços solicitantes B, M, Mft e ;

b-) Construir o diagrama de tensões normais (x) atuantes na seção distante 1,5 metros do
apoio (vinculo de garfo) em A;
c-) Determinar as tensões de cisalhamento causadas pelo momento de torção livre () e pelo

momento de flexo torção (ft), bem como a máxima tensão de cisalhamento, todas na seção
distante 1,5 metros do apoio em A;

a = 12 cm t = 0,8 cm (cte) E = 20.500 kN/cm2


 = 0,30 F = 150 kN

Figura 5.43 – Viga com cargas F aplicadas nas extremidades com vínculo de garfo.

161
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 9 - Para a viga ilustrada a seguir na figura 5.44, com respectiva seção
transversal, pede-se:
a-) Construir os diagramas dos esforços solicitantes B, M, Mft e ;

b-) Determinar o valor da máxima tensão normal atuante;


c-) Determinar o valor da máxima rotação.

a = 16 cm t = 0,5 cm (cte) E = 20.500 kN/cm2


 = 0,30 B = 8.000 kN/cm2

Figura 5.44 – Viga com B aplicado na extremidade livre.

162
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 10 - Para a viga ilustrada a seguir na figura 5.45, com respectiva seção
transversal, pede-se:
a-) Os diagramas dos esforços solicitantes B, M, Mft e ;

b-) O valor da máxima tensão normal (x) atuante na seção distante 2,0 metros do apoio A;
c-) Os valores máximos das tensões de cisalhamento causadas pelo momento de torção livre
(l) e pelo momento de flexo torção (ft), na seção do apoio em B;

a = 6 cm t = 0,4 cm (cte) E = 20.500 kN/cm2


 = 0,30 F = 40 kN ; q = 10 kN/m

Obs: Considere em B um recalque puramente torcional de 0,05 rad, no sentido anti-horário,


para um observador no sentido positivo do eixo x.

Figura 5.45 – Viga com cargas F e distribuída q aplicadas.

163
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 11 - Para a viga ilustrada a seguir na figura 5.45, considere E = 20.500 kN/cm2,
 = 0,30, B = 4.000 kNcm2, bem como as seções transversais, para as quais pede-se:
a-) Os diagramas dos esforços solicitantes B, M, Mft e ;
b-) O valor da máxima tensão normal (x) atuante na seção em x = 1,5 m;
c-) Os valores máximos das tensões de cisalhamento  e ft, na seção em x = 1,5 m;

Seção I: a = 15 cm e t = 0,2 cm Seção II: a = 14 cm e t = 0,4 cm


Seção III: a = 10 cm e t = 0,3 cm Seção IV: a = 12 cm e t = 0,7 cm

(I) (II)

(III) (IV)

Figura 5.46 – Viga com B aplicado e respectivas seções transversais.

164
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 12 - Para a viga-calha da argamassa armada representada na figura 5.47, pede-se


determinar o valor máximo que a carga p (uniformemente distribuída) pode assumir, supondo
essa mesma carga aplicada na viga com uma excentricidade (e) em relação ao centro de torção
igual a 13 cm. Os valores admissíveis considerados para as tensões de interesse do material
que constitui a viga, admitido homogêneo, são:

 = 1 kN/cm2 (tração ou compressão)  = 0,12 kN/cm2 (cisalhamento)


 = 1/6 (coeficiente de Poisson)

Observação: Deve-se primeiramente desprezar o efeito da flexo torção na determinação de p.


Em seguida considera-se esse efeito no cálculo de p e, pela comparação dos resultados,
escreva suas conclusões. Caso os apoios nas extremidades fossem constituídos por
engastamentos fixos, as conclusões seriam as mesmas?
13cm
p
p

450 cm

30 cm 4cm 11 cm 11 cm 4cm
3 cm

m
1,7c
24 cm

21 cm

5 cm
3 cm

22,7

4,5cm

SEÇÃO TRANSVERSAL ESQUELETO

Figura 5.47 – Viga com carga p uniformemente distribuída e vínculos de garfo.

165
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 13 - A viga, figura 5.48, tem seção transversal tipo I (esquema I). Sabendo-se
que devido a causas externas o vínculo de garfo em A sofreu uma rotação  = 0,0625 radianos
(anti-horário para um observador no sentido positivo de x), pede-se calcular o valor do
momento de torção Mt,I que passou a solicitar a viga. Pede-se ainda:
a-) O valor da dimensão “a” indicado na seção transversal em forma de cantoneira (esquema
II), para que esta seção tenha o mesmo momento de inércia à torção da seção do esquema I;
b-) Para a viga AB, agora com seção transversal em forma de cantoneira, calcular o momento
torçor Mt,II nas mesmas condições anteriores (rotação no garfo A). É oportuno lembrar que, de
acordo com a equação B” – B = -r2m, para r = 0 tem-se B = 0.
A B

2m

 = 0,0625 radianos
G = 7850 kN/cm 2
E = 20500 kN/cm 2

16cm 2cm
1cm
16cm

2cm
a

2cm
2cm

18cm a

ESQUEMA I ESQUEMA II

Figura 5.48 – Viga com carga p uniformemente distribuída e vínculos de garfo.

166
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

PROPOSTO 14 - A viga indicada na figura 5.49 é solicitada pelas cargas: F (transversal) e


20F (axial excêntrica), ambas aplicadas de acordo com o esquema da mesma figura. Nesse
caso, para E = 2100 kN/cm2 e G = 900 kN/cm2, pede-se:
a-) O valor admissível de F para  = 1 kN/cm2;
b-) Com o valor de F do item a, construir os diagramas de M, Mft e B;

c-) Com o valor F do item a, determinar as tensões de cisalhamento máximas causadas por M

e Mft.

20 F

4m

15cm 20cm 20cm 15cm

F
2 3
F
20cm

20F
4 m
1 1c

1,5 cm
60cm

20 F

5 6

10cm 10cm

Figura 5.49 – Viga com cargas F e 20F aplicadas na extremidade livre.

167
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Capítulo 5 – Analogia e Condições de Contorno

168
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I

ANEXO I

I.1 ANALOGIA DE MEMBRANA APLICADA ÀS BARRAS DELGADAS DE


PAREDES ABERTAS

Conforme apresentado no capítulo 3, a equação geral clássica que permite obter a


rotação (giro) da seção transversal por unidade de comprimento, obtida com base nos
conceitos da Resistência dos Materiais, se escreve na forma apresentada na equação AI.1, em
que d é o giro relativo entre duas seções, Mt é o momento de torção, G é o módulo de
elasticidade transversal do material e It é o momento de inércia à torção.

d M
 '  t (AI.1)
dx GI t

A Analogia de Membrana aplicada ao estudo da torção simples, PROENÇA (2001),


consiste em representar a seção transversal de uma barra qualquer por meio de uma superfície
(lâmina), com rigidez nula na direção transversal ao seu plano, submetida a uma pressão p e
com resistência apenas a esforços de tração, conforme esquematiza a figura AI.1 extraída da
última referência.

Figura AI.1 – Membrana deformável submetida a uma dada pressão p.

169
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I

Na última referência, faz-se a consideração do equilíbrio de um elemento infinitesimal


de área dA = dz.dy, o que permite determinar a equação diferencial fundamental do problema
do equilíbrio da membrana, conforme descreve a equação AI.2.

 2 h ( z, y )  2 h ( z , y ) p
   (AI.2)
dy 2 dz 2 k

Na equação AI.2, y e z são coordenadas da seção transversal da barra, h(y,z) é a


função de forma da membrana, p a pressão exercida na superfície da membrana e k a tração
por unidade de comprimento da membrana. Ressalta-se que h(z,y) = 0 nos pontos do
contorno. Vale aqui lembrar a equação clássica obtida no estudo da torção, que estabelece
como condição para a distribuição de tensão de cisalhamento a equação AI.3

 xy  xz
 0 (AI.3)
dy dz

Para a última equação, admite-se a existência de uma nova função (z,y) para a qual

valem xy = - /z e xz = /y, as quais permitem obter a equação AI.4.

 2  ( z, y )  2  ( z, y )
  2G' (AI.4)
dy 2 dz 2

Uma analogia entre as equações AI.2 e AI.4, conforme proposto em PROENÇA


(2001), permite estabelecer como válida a função (z,y) a qual assume a forma apresentada
na equação AI.5.

k
 (z, y)  2G'  h (z, y) (AI.5)
p

Por meio da equação AI.5 se obtém as equações AI.6 e AI.7.

 k h (z, y) k
 xy    2G'  2G' h z (AI.6)
z p z p

170
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I

 k h (z, y) k
 xz   - 2G'  - 2G' hy (AI.7)
y p y p

Nas equações AI.6 e AI.7, hz e hy correspondem às inclinações da membrana com


relação às direções z e y, respectivamente, lembrando que zy = 0, em concordância com a
hipótese de indeformabilidade da seção (zy = 0) anteriormente adotada. Por fim, procede-se o
equilíbrio na seção por meio da equação AI.8.

M t   ( xz .y   xy .z)dA (AI.8)
A

Da última igualdade, se obtém, por meio de procedimentos que não serão aqui
demonstrados, as equações de interesse para o estudo em questão, escritas nas formas
apresentadas por meio das equações que seguem.

4Gk' M  p 
Mt  V  '  t   (AI.9 e AI.10)
p G  4kV 

 M  h (z, y)  Mt 
 xy   t     hz (AI.11)
 2V  z  2V 

 M  h (z, y) M 
 xy  -  t   -  t  hy (AI.12)
 2V  y  2V 

Nas equações AI.9, AI.10, AI.11 a AI.12, V é o volume deslocado da membrana.


Nota-se que o problema da torção, por Analogia de Membrana, fica condicionado à
determinação do volume deslocado e da inclinação da membrana. A equação AI.10, quando
comparada à equação AI.1, permite estabelecer que o termo entre parênteses corresponde ao
momento de inércia à torção (It), escrito na forma proposta na equação AI.13.

4kV
It  (AI.13)
p

171
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I

Finalmente, procede-se a particularização das equações AI11, AI.12 e AI.13 para o


caso de barras com seções transversais abertas e com paredes delgadas, tomando como
referência a figura AI.2.

Figura AI.2 – Seção de parede de espessura t, representada por membrana deslocada e


submetida a uma pressão p. Fonte: PROENÇA (2001)

Com base na configuração deslocada da membrana esquematizada na última figura,


por conseqüência de uma pressão p exercida (de baixo para cima) e adotada na forma de
parábola, se faz:

4f  y2  t
2
h ( y)   y    A   h ( y) dy  ft (AI.14 e AI.15)
t  t  0 3

s2
p s2 3
 V   A ds   t ds (AI.16)
s1 12k s1

Substituindo a equação AI.16 nas equações AI.12 e AI.13, se obtém:

4k p 1
It  
p 12k s
t 3 ds   t 3 ds
3s
(AI.17)

Mt M
b  t t (AI.18)
It Wt

172
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I

Nas equações AI.17 e AI.18, t é a espessura da parede da seção transversal da barra em


estudo, ao longo da qual as tensões de cisalhamento () são admitidas linearmente distribuídas
ao longo da espessura t, com valor máximo na borda (b) e nulo sobre a linha do esqueleto,
conforme esquematiza a figura AI.3.

lin h a d o
e s q u e le to

b
b

Figura AI.4 – Distribuição das tensões de cisalhamento ao longo de t.

173
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I

174
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I I

ANEXO II

II.1 FLEXO TORÇÃO VIA ENERGIA DE DEFORMAÇÃO

Para um elemento infinitezimal (dx, dy, dz) da barra, a energia de deformação dU é


igual ao trabalho das tensões ( e ) atuantes. Nesse caso, escreve-se:

dU 
1
 x
 x     dx dy dz (AII.1)
2

Com base na Lei de Hooke, tem-se:

 2x 2
dU  dx dy dz   dx dy dz   dU   dU  (AII.2)
2E 2G

Nota-se, pela equação AII.2, a existência de parcelas distintas de energia referentes à


tensão normal e a tensão de cisalhamento, dU e dU, respectivamente. Com base na parcela

referente à tensão normal, no caso, dU, procede-se:

U 
1
2E
      dx dy dz   21E    dA  dx 
2
x o

A
2
x
(AII.3)

Ainda, conforme já apresentado por meio da equação 4.27 do capítulo 4, sabe-se que:

N Mz My B
x   ( y)  (z)  ()
A Iz Iy I

Elevando a última equação ao quadrado obtém-se:

175
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I I

2
N 2 M 2z 2 M y 2 B 2 2
  2  2 y  2 z  2   (termos que contem: y, z, , yz, y, ou z)
2
x
A Iz Iy I

Todos esses termos mencionados entre parênteses se anulam ao serem integrados na


área da seção transversal, resultando:

1   N 2 M 2z M 2y B 2 
U 
2E
 
A

I

I
  dx
I 
(AII.5)
0  z y

Em comparação com aquela equação obtida pela Resistência dos Materiais, nota-se
que foi acrescentado apenas o último termo dentro do colchete da equação AII.5, o qual
correspondente ao efeito da flexo torção.
Para o cálculo da parcela dU é usual não se levar em conta a tensão ft proveniente da

flexo torção tendo-se em vista que as tensões da torção livre  são, na maioria dos casos

práticos da engenharia de estruturas, muito superiores quando comparadas com as tensões ft.

Dessa forma, como Mt = M, a tensão de cisalhamento é escrita na forma:

M
 t
It

Portanto, no caso da parcela dU nada irá diferir daquela já conhecida pela Resistência
dos Materiais que, a qual, além do efeito do momento de torção, passa a incluir também o
efeito da força cortante. A energia total da deformação é dada por:

1  N 2 M 2z M 2y B 2 cQ 2 M 2 
U         dx (AII.6)
20  EA EI z EI y EI  GA GI t 

176
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I I

I.2 MOMENTO FLETOR PROVOCANDO BIMOMENTO

Ao se aplicar um momento fletor contido em um plano que não passa pelo centro de
torção da seção transversal, faz-se com que essa mesma seção passe a ser solicitada por um
bimomento. Para se calcular esse bimomento se idealiza o momento fletor (M) aplicado por
meio de um binário na forma F.s, conforme ilustrado na figura AII.1.
Os pontos de aplicação das cargas F, que produzem o binário F.s, têm áreas setoriais
(s) e (s +  s). Dessa forma, escreve-se:

M
F
s

n
linha do
esqueleto

s F

F
M

r ga
ca
de s
o
an
pl
do
o
tr aç

Figura AII.1 – Momento fletor contido em um plano que não passa pelo centro de torção.

Portanto, tem-se:

im  M M   im    d
B  (s )  (s  s )  M      M
s  0  s s 
s  0  s  ds

177
Flexo Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Anexo I I

O limite anteriormente deduzido nada mais é que a derivada da área setorial em


relação à linha do esqueleto. Por fim, já se sabe que:

d
    ds  n
s ds

Portanto, o bimomento resultante e de interesse é escrito na forma final:

B  Mn (AII.8)

178
Flexo-Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Bibliografia

BIBLIOGRAFIA

LANGENDONCK, T. V. (1959) Torção de peças de secção delgada., Rio de Janeiro, 3 (13):


pp.49-73.

MORI, D. D. (1978) Flexo-torção: teorias de 1a e 2a ordens para automatização do cálculo.


São Carlos, EESC-USP, Dissertação de mestrado – EESC-USP, 171p

PROENÇA (2001) Curso de resistência dos materiais – Notas de Aula, v.1, São Carlos.
Apostila, Publicações, Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, 235p.

PROENÇA (2001) Curso de resistência dos materiais – Notas de Aula, v.2, São Carlos.
Apostila, Publicações, Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, 437p.

PROENÇA (2009) Mecânica das estruturas aeronáuticas – Notas de Aula, v.1, São Carlos.
Apostila, Publicações, Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, 212p.

PROENÇA (2009) Mecânica das estruturas aeronáuticas – Notas de Aula, v.2, São Carlos.
Apostila, Publicações, Escola de Engenharia de São Carlos. Universidade de São Paulo, 446p.

RACHID, M. (1969) Características de perfís para o cálculo de flexo-torção e estabilidade.


R. Esc. Eng. UFMG, 8 (12), pp.93-110.

RACHID, M. (1975) Instabilidade de barras de seção delgada. São Carlos, EESC-USP,


119p. Tese de doutorado.

SANTOS, S. M. G. (1967) Estudos das hastes de paredes delgadas com secção aberta. Rio
de Janeiro, PCU-RJ.

SOUZA, J. M. (1975) Torção de perfis abertos. Rio de Janeiro, PUC/RJ-USIMINAS, 83p.


(Fascículo no. 12).

179
Flexo-Torção: Barras com seção aberta e paredes delgadas Bibliografia

VLASOV, V.Z. (1961) Thin-walled elastic beams. The National Science Foundation,
Departament of Commerce, USA, 2d. Edition, S. Monson Press, 493p.

VLASOV, V.Z. (1962) Piéces longues em voiles minces. Trad. G. Smirnoff, 10.ed. Paris,
Editora Evrolles, 665p.

180

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