Académique Documents
Professionnel Documents
Culture Documents
e Métodos de Supervisão
e Orientação Educacional
Autoras
Eloiza da Silva Gomes de Oliveira
Mírian Paura Sabrosa Zippin Grinspun
2009
© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor
dos direitos autorais.
ISBN: 978-85-7638-661-2
CDD 371.2013
Gabarito.................................................................................................................................149
Referências............................................................................................................................151
Anotações..............................................................................................................................159
Evolução histórica da
supervisão educacional
Eloiza da Silva Gomes de Oliveira*
[...] ai daqueles e daquelas, entre nós, que pararem com sua capacidade de sonhar, de
inventar a sua coragem de denunciar e de anunciar. Ai daqueles e daquelas que em lugar de
visitar de vez em quando o amanhã, o futuro, pelo profundo engajamento com o hoje, com o
aqui e com o agora. Ai daqueles que em lugar desta viagem constante ao amanhã, se atrelam a
um passado de exploração e de rotina.
Paulo Freire
O começo de tudo
Com essas palavras de Paulo Freire, inicia-se o estudo sobre a história, o
perfil e a atuação de um profissional da Educação bastante conhecido: o supervi-
sor educacional – chamado também de supervisor escolar –, pedagogo de grande
importância na história educacional de nosso País, e cuja atuação já teve várias
nuances diferentes e muitas vezes foi cercada de polêmicas.
Antes de se visitar o amanhã – com suas propostas e possibilidades de atu-
ação –, é preciso olhar para o passado, para a história desse profissional. Não
se pode falar do supervisor educacional sem retroceder no tempo e observar os
processos de surgimento da supervisão educacional e de formação do pedagogo
no Brasil.
A partir de agora, serão vistos o nascimento desse profissional e as mudan-
ças pelas quais ele passou ao longo da história.
Na Antiguidade, a ação supervisora era percebida como a vigilância, prati-
cada por nobres e sacerdotes, em relação à vida escolar.
Na Grécia Antiga, a ação supervisora consistia no acompanhamento, rea-
lizado por especialistas, do funcionamento dos espaços escolares; já em Roma,
havia os censores que, além de possuírem atribuições relativas ao recenseamento,
fiscalizavam os espaços escolares.
Doutora em Educação pela
Na Idade Moderna, surgiu o inspetor de ensino, que avaliava as tarefas pe- Universidade Federal do Rio
dagógicas do professor. O inspetor técnico apareceu com a Revolução Francesa, de Janeiro (UFRJ). Mestre
em Psicologia Escolar pela
e tinha como função promover o progresso educacional e vigiar a atividade do Universidade Gama Filho.
professor, visando a melhorar o desempenho do docente. Especialista em Supervisão
Educacional pela Associação
Nesta breve introdução, pode-se perceber que a idéia de controle sempre esteve Salgado de Oliveira de Edu-
cação e Cultura (ASOEC).
presente nas ações de supervisão. Etimologicamente, a palavra supervisão é com- Graduada em Psicologia e
posta pelo prefixo super (“sobre”) e pelo substantivo visão (“ação de ver”); assim, o Pedagogia pela Universidade
significado da palavra é “olhar de cima”, no sentido de controlar a ação do outro. do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ).
Princípios e Métodos de Supervisão e Orientação Educacional
Os “especialistas em Educação”:
um novo momento
O modelo de curso de que se falou acima durou até 1969; então, deixou de
existir a distinção entre bacharelado e licenciatura, e foram criadas as “habilita-
ções”, cumprindo o que determinava a Lei 5.540/68.
Essa reforma do Ensino Superior, ao instituir a habilitação de supervisor
escolar, consolidou a presença da supervisão no contexto educacional brasileiro,
ampliou seu campo de atuação para todo o antigo ensino de primeiro e segundo
graus e, pelo currículo adotado, garantiu a continuidade da formação conserva-
dora de tal profissional, dentro da visão tecnicista da Educação, sempre acompa-
nhando o modelo econômico vigente.
O curso de Pedagogia passou a formar os “especialistas” em Educação: su-
pervisor escolar, orientador educacional, administrador escolar e inspetor escolar.
No entanto, continuava dividido, pois ofertava como habilitação a licenciatura
para o “ensino das disciplinas e atividades práticas dos cursos normais”.
O Parecer CFE 292/62 previa três disciplinas para a licenciatura: Psicologia
da Educação, Elementos de Administração Escolar, Didática e Prática de Ensino
– esta última na forma de estágio supervisionado.
Em 1969, o Parecer CFE 252 indicava como finalidade do curso preparar
profissionais da Educação, assegurando a possibilidade de obtenção do título de
especialista por meio da complementação dos estudos. No mesmo ano, a Resolu-
ção CFE 2 determinava que “a formação de professores para o ensino normal e de
6
Evolução histórica da supervisão educacional
redução desse nível de ensino não apenas no tempo de integralização mas também
nas qualificações para a sua realização (SCHEIBE; AGUIAR, 1999).
Segundo o artigo 63 da LDB (Lei 9.394/96), regulado pela Resolução CNE/
CP 1/99, os Institutos Superiores de Educação (ISEs), “de caráter profissional”,
incluem o Curso Normal Superior, para licenciatura de profissionais em Educação
Infantil e de professores para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental; os cursos
de licenciatura destinados à formação de docentes dos Anos Finais do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio; e programas de formação continuada, desti-
nados à atualização de profissionais da educação básica nos diversos níveis. Isso
promoveu fortes mudanças na formatação dos cursos de licenciatura e de Peda-
gogia, com conseqüências negativas para a formação qualificada de professores e
demais profissionais da Educação. Dessa forma, rompe-se com a visão orgânica
da formação docente, que vinha sendo construída no País nas últimas décadas.
No final da década de 1980, surge uma nova nomenclatura para a atividade
do pedagogo: trata-se da chamada coordenação pedagógica. Utilizada a princí-
pio como sinônimo de supervisão educacional, percebe-se que, aos poucos, essa
denominação se refere a um profissional que substitui o orientador e o supervisor
educacional, com a justificativa da necessidade de integração dessas funções.
Contudo, a superação dessa fragmentação só ocorrerá por meio do resgate
da totalidade do trabalho pedagógico, ao se agir de forma integrada para a conse-
cução do objetivo fundamental das instituições educativas: a construção crítica e
reflexiva do conhecimento.
Resumo da evolução
histórica da supervisão educacional
Medina (2002) apresenta a evolução da supervisão educacional em cinco mo-
mentos – é uma síntese organizada, e que servirá como fechamento do estudo. Para
a autora, os marcos evolutivos da supervisão educacional são os que seguem
11
Princípios e Métodos de Supervisão e Orientação Educacional
12
Evolução histórica da supervisão educacional
O desafio fundamental que se põe para o pedagogo, hoje, extrapola as esferas espe-
cificamente pedagógicas, situando-se na contradição central da sociedade moderna que,
por um lado, desenvolve numa escala sem precedentes as forças produtivas humanas e, por
outro, lança na miséria mais abjeta contingentes cada vez mais numerosos de seres huma-
nos. A sociedade capitalista está pondo continuamente, para si mesma, problemas que não
é capaz de resolver. A solução desses problemas implica, pois, a transformação das relações
sociais vigentes. Romper com as práticas tecnicistas e tradicionais não é uma tarefa simples,
ao contrário, lutamos contra uma organização escolar burguesa dentro de um sistema de
produção burguês. Profissionais da educação, a nossa função é refletir sobre os problemas
sociais e educacionais e procurar possíveis encaminhamentos visando à superação das rela-
ções atuais. (MARTELLI, 2006, p. 256).
13
Princípios e Métodos de Supervisão e Orientação Educacional
14