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Etimologia
Há duas palavras gregas, parecidas, que explicam o sentido etimológico de
Ética: ethos e éthos.
Ethos significa costume. Refere-se a usos e costumes de um grupo. Nos
grupos humanos primitivos os costumes são decisivos para a conduta dos
indivíduos. Nesse estágio, a moral e o direito são os costumes. A Ética do
grupo é também a Ética dos indivíduos, O modo de ser do grupo é o modo de
ser de cada indivíduo.
O ato, objeto da Ética, é o ato humano, ato específico do homem, ato que
distingue o homem dos outros seres. Os outros atos (atos do homem) são
realizados pelo homem, mas não enquanto homem, apenas enquanto ser
biológico ou animal. O homem nasce e cresce por forças inatas, necessárias,
por determinismo natural. Destas ações não sé ocupa a Ética.
a) Ato humano – é o ato voluntário e livre. Não é voluntário o ato espontâneo
e necessário. Vontade é tendência racional; só há vontade em seres racionais.
Por isso o ato voluntário supõe que a inteligência teve conhecimento prévio do
objeto que se apresenta à vontade. É necessário este conhecimento para que o
ato seja humano.
A liberdade acrescenta o domínio da vontade sobre o ato, de tal maneira que
possa escolher entre agir e não agir, ou agir desta ou daquela maneira, isto é,
possa escolher entre este ou aquele ato.
O objeto material da Ética é o ato humano, ato voluntário e livre, qualquer ato
involuntário e não-livre não é ato humano e, portanto, não é objeto da Ética.
b) Objeto Formal é o ponto de vista sob o qual uma ciência encara o objeto
material. O homem é objeto material de muitas ciências: Antropologia,
Psicologia, Filosofia, Medicina, etc. O que distingue uma ciência da outra é o
objeto formal. O corpo humano é objeto material da Anatomia, da Fisiologia,
da Medicina, etc… Mas cada uma destas ciências estuda o mesmo objeto
material – o corpo humano – sob o ponto de vista da estrutura, do
funcionamento dos órgãos, de saúde, etc…
Pois bem, o objeto material da ética – o ato humano – é objeto material
também de outras ciências: p. ex., Psicologia, Psiquiatria, Sociologia, Política,
etc… Mas é diferente o objeto formal. A Psicologia estuda o aspecto
entitativo e funcional da vontade e seus atos. A Ética estuda o aspecto moral
do ato humano e de toda a atividade humana: o bem e o mal, o honesto e o
desonesto, o justo e o injusto, o virtuoso e o vicioso.
Mas para julgar o aspecto moral dos atos humanos é preciso ser portador de
critérios, princípios e normas que sirvam para distinguir o bem do mal; o justo
do injusto, a virtude do vício.
Resumindo:
1) A Ética procura definir o bem e o mal moral;
3) Que levem o indivíduo a cumprir com seus deveres e ordenar seus atos.
A ética é muito mais ampla, geral, universal do que a moral. A ética tem a ver
com princípios mais abrangentes, enquanto a moral se refere mais a
determinados campos da conduta humana. Quando a ética desce de sua
generalidade, de sua universalidade, fala-se de uma moral, por exemplo, uma
moral sexual, uma moral comercial. Acho que podemos dizer que a ética dura
mais tempo, e que a moral e os costumes prendem-se mais a determinados
períodos. Mas uma nasce da outra. É como se a ética fosse algo maior e a
moral fosse algo mais limitado, restrito, circunscrito.”
Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar melhor o ambiente
para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável,
psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda.
O mutável é o estilo com que cada grupo constrói sua morada. É sempre
diferente: rústico, colonial, moderno, de palha, de pedra… Embora diferente e
mutável, o estilo está a serviço do permanente: a necessidade de ter casa. A
casa, nos seus mais diferentes estilos, deverá ser habitável.
Quando o permanente e o mutável se casam, surge uma ética verdadeiramente
humana.
Por sua natureza, a moral é sempre plural. Existem muitas morais, tantas
quantas culturas e estilos de casa. A moral dos yanomamis é diferente da
moral dos garimpeiros. Existem morais de grupos dentro de uma mesma
cultura: são diferentes a moral do empresário, que visa o lucro, e a moral do
operário, que procura o aumento de salário. Aqui se trata da moral de classe.
Existem as morais das várias profissões: dos médicos, dos advogados, dos
comerciantes, dos psicanalistas, dos padres, dos catadores de lixo, entre
outras. Todas essas morais têm de estar a serviço da ética. Devem ajudar a
tornar habitável a moradia humana, a inteira sociedade e a casa comum, o
planeta Terra.
A ética, portanto, desinstala a moral. Impede que ela se feche sobre si mesma.
Obriga-a à constante renovação no sentido de garantir a habitabilidade e a
sustentabilidade da moradia humana: pessoal, social e planetária.
Não basta sermos apenas morais, apegados a valores da tradição. Isso nos
faria moralistas e tradicionalistas, fechados sobre o nosso sistema de valores.
Cumpre também sermos éticos, quer dizer, abertos a valores que ultrapassam
aqueles do sistema tradicional ou de alguma cultura determinada. Abertos a
valores que concernem a todos os humanos, como a preservação da casa
comum, o nosso esplendoroso planeta azul-branco. Valores do respeito à
dignidade do corpo, da defesa da vida sob todas as suas formas, do amor à
verdade, da compaixão para com os sofredores e os indefesos. Valores do
combate à corrupção, à violência e à guerra. Valores que nos tornam sensíveis
ao novo que emerge, com responsabilidade, seriedade e sentido de
contemporaneidade.
Há pessoas que insistem em morar em suas casas antigas, sem delas cuidar e
sem adaptá-las às novas necessidades. Elas deixam de ser o que deveriam ser:
aconchegantes, protetoras e funcionais. É a moral desgarrada da ética. A ética
convida a reformar a casa para torná-la novamente calorosa e útil como
habitação humana. Como o filósofo grego Heráclito dizia: “a ética é o anjo
protetor do ser humano”.