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20-12-2018

Faculdade de Direito da Universidade do Porto


1.º Ciclo – 1.º ano – 1.º semestre
ECONOMIA POLÍTICA I
Parte II
MACROECONOMIA
José António Sá Reis
reis@direito.up.pt

1. Conceitos
introdutórios

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1. Introdução
Micro Vs. Macro: “a casa e o mundo”: é muito fácil distingui-las do
ponto de vista puramente conceptual, mas claro que se entrelaçam
constantemente e que vivem sempre uma em função da outra
Sendo certo que a economia estuda a alocação de bens escassos à
satisfação de necessidades humanas, este problema genérico coloca
problemas do ponto de vista micro (como viram em especial na 1ª
parte da cadeira) e do ponto de vista macro: a microeconomia estuda
sobretudo o funcionamento dos mercados e a forma como esse
funcionamento afeta as empresas que nele se encontram inseridas;
mas essas empresas são, simultaneamente (sob a supervisão do
Estado), os atores principais do tecido económico global, que é o
campo de estudo e de atuação da macroeconomia.
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Atenção: o próprio estado tem sempre, em maior ou menor medida


(consoante a sua orientação económica seja mais ou menos liberal)
alguma intervenção direta no funcionamento do tecido económico:
• A existência de serviços púbicos implica que o estado empregue uma parte
considerável da força de trabalho disponível;
• A criação de utilidades públicas (v.g., no ensino, saúde ou justiça) implica a aquisição
de equipamentos e serviços a agentes privados, e por isso as obras públicas (v.g.,
construção de uma escola ou de um hospital públicos, planeada por um gabinete
privado de arquitetura e executada por uma empresa privada de construção civil) e os
contratos públicos de prestação de serviços (v.g., serviços de limpeza ou de refeições
numa instituição pública prestados por empresas privadas de limpeza e de catering)
representam em si mesmo mercados muito importantes;
• Finalmente, o Estado pode intervir diretamente na economia em setores abertos à
concorrência com agentes privados, como forma de se auto-financiar: mas isto deve
ser uma exceção e não a regra, uma vez que podendo o estado financiar-se com
recurso à cobrança de impostos, apenas deverá concorrer com os privados quando isso
estiver de acordo com o interesse público, e não sempre que signifique uma mera
forma adicional de obtenção de receitas.

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(Fonte:
Eurostat)

(Fonte: INE)

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(Fonte: Jornal Económico: https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/portugal-na-cauda-do-investimento-publico-na-europa-288610)

Tão ou mais importante do que a intervenção direta do estado nas trocas é a


sua função de regulador de toda a atividade económica: através dos
instrumentos que tem ao seu dispor, o Estado vai condicionar a forma como
os agentes privados podem ou devem conduzir a sua atividade, para
assegurar que:

• Alguns setores essenciais ao bom funcionamento da economia e da


sociedade (v.g., a banca, finança e seguros, a energia, a água e o
saneamento ou as telecomunicações) sejam regulados por autoridades
administrativas independentes e não fiquem totalmente reféns de
interesses económicos privados – que se reconduzem sempre, em
última análise, à obtenção de lucro pelas empresas fornecedoras
daqueles serviços. É esta a função das autoridades de regulação
setorial, cuja lista pode ver-se aqui:
http://www.concorrencia.pt/vPT/A_AdC/Missao_e_atribuicoes/Paginas
/Entidades%20Reguladores%20Setoriais.aspx

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• A concorrência nos vários setores seja equilibrada e promova uma


melhoria geral do bem-estar económico; para isso, irá controlar e
combater a existência de cartéis, de monopólios e de outras
práticas anti-concorrenciais: é o papel da Autoridade da
Concorrência, entidade de regulação transversal a todos os
setores da economia, e que disciplina a atividade de empresas
públicas e privadas;
• Haja incentivos ao investimento e ao empreendedorismo, para
promover o crescimento e o emprego: benefícios fiscais, créditos
bonificados, subsídios diretos, etc.;
• O consumo seja travado, sempre que isso se mostre necessário
para controlar a inflação: aumento da carga fiscal e da taxa de juro,
incentivos ao aforro, etc.;

Esta condução da atividade económica por parte do estado, que se


traduz na formulação e execução de políticas orçamentais,
económicas e financeiras (fiscais, monetárias, sociais, de segurança
social, etc.) tem em vista três grandes preocupações.
• A médio-longo prazo, promover o crescimento sustentável da
economia: garantir que a cada ano se criam novas empresas e
novos postos de trabalho para satisfazer as novas necessidades
de consumo e de trabalho, e que a cada ano o bem-estar
económico dos cidadãos aumente;
• A curto-médio prazo, controlar os efeitos negativos dos ciclos
económicos (que são uma certeza, e não uma mera
possibilidade), sobretudo a inflação (que se sente na fase de
expansão) e o desemprego (que se agrava sempre em fases de
recessão);

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• Em terceiro lugar, as medidas necessárias para promover aqueles dois objetivos


terão, em qualquer altura (de expansão ou de recessão), de ser acompanhadas
por políticas globais e transversais que promovam a redistribuição do
rendimento:
• Sistema fiscal progressivo, que retira uma maior percentagem do rendimento aos
contribuintes cujo rendimento seja maior (v.g., um contribuinte com rendimento de
100.000€ anuais paga ao estado IRS a uma taxa média próxima dos 40%, enquanto para
um contribuinte com rendimento de 20.000€ essa taxa será de cerca de 20%);
• Sistema de segurança social, em especial na vertente assistencialista, que atribui
benefícios económicos, em dinheiro ou em serviços (v.g., rendimento social de inserção,
abono de família, isenção ou redução do valor a pagar em creches ou lares de terceira
idade que sejam IPSS, direito a utilizar gratuitamente equipamentos públicos, etc.) aos
cidadãos mais carenciados;
• Utilização dos dinheiros públicos (provenientes sobretudo da cobrança de impostos)
para a prestação de serviços essenciais a preços subsidiados (educação, saúde, justiça,
segurança, saneamento, etc.), permitindo o acesso a esses serviços pelos cidadãos que
não os poderiam obter a preços de mercado (ou seja, a preços que refletissem o seu
custo real).

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Nesta parte da cadeira de Economia Política I, iremos debruçar-nos em


especial sobre os dois primeiros objetivos referidos, sendo que a
redistribuição será provavelmente abordada com mais pormenor nas
UC de Finanças Públicas e de Dto. Fiscal.

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A promoção do crescimento sustentável


Este objetivo mede-se sobretudo (embora não exclusivamente) através
do PIB (produto interno bruto), que pode ser expresso em termos
absolutos ou per capita.
O PIB é muito importante, na medida em que é o índice que nos dá a
medida da riqueza gerada anualmente por uma economia nacional;
no entanto, está longe de conseguir traçar uma retrato completo da
situação económica de um país, uma vez que, por exemplo, não nos
fornece indicações quanto à forma como a riqueza gerada é
distribuída, ou de como aquela riqueza vai beneficiar a população de
uma forma global através da generalização de serviços públicos.

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Em muitas economias, sobretudo (mas não só) nas chamadas


economias em desenvolvimento, encontramos enormes disparidades
na distribuição da riqueza gerada, o que leva a que uma pequena
parte da população acumule para si a maior parte dessa riqueza, e
que a maioria viva na pobreza.
Por isso tem havido um esforço cada vez maior no sentido de afinar os
critérios e os elementos a ter em conta para avaliar a
sustentabilidade do crescimento económico, considerando várias
vertentes diferentes, de que são exemplos os seguintes:
• Esperança de vida;
• Escolaridade;
• Conservação de recursos e respeito pelo ambiente;
• Igualdade de género;
• Respeito pelos Direitos Humanos.

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UM CASE-STUDY: A GUINÉ EQUATORIAL

Considerando apenas o seu PIB per


capita, a Guiné Equatorial está na
posição 66 num ranking de 189
países; está quase no 1º terço, à
frente de muitas economias bastante
mais industrializadas (dados do Banco
Mundial).
Isto porque nos anos 90 foram
descobertas grandes jazidas de
petróleo ao largo da sua costa, o que
trouxe muito investimento externo e
um enorme aumento do PIB.
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Já se olharmos para o Índice de Desenvolvimento Humano, que tem em


conta outros fatores, desce para a posição 141 no mesmo ranking de
189 (dados do PNUD – Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento).

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Isto acontece porque o aumento de receita nacional gerado por aquelas


riquezas naturais foi apropriado por uma pequena parcela dos seus
nacionais, que não a redistribuiu pela população através de benefícios
traduzidos em serviços prestados pelo estado – construção de infra-
estruturas de saúde, educação, saneamento ou transportes, criação de
emprego, apoio a empresas, financiamento das classes sociais mais
carenciadas, apoios às regiões menos desenvolvidas, etc. etc.
Ou seja, a corrupção, a inexistência de um aparelho judicial eficaz, o défice
de democracia e de sistemas de controlo dos abusos de poder podem
fazer com que o aumento do PIB não se traduza numa melhoria real da
qualidade de vida dos cidadãos e enriqueçam apenas aquela oligarquia.
Não por acaso, a Guiné Equatorial ocupa a posição 171 num ranking
elaborado pela Transparency International, que mede a perceção da
corrupção em 180 países.
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O controlo da inflação e do desemprego


A segunda preocupação, de curto/médio prazo, é a de controlar os efeitos
negativos dos ciclos económicos, e que se fazem sentir em duas vertentes
essenciais:
• Perda de poder de compra, traduzida na taxa de inflação que surge
como efeito natural do aumento do consumo que acompanha as
fases de expansão – isto não obstante o aumento dos preços ser
acompanhado, normalmente, de um aumento correspondente dos
salários;
• Perda do trabalho, e consequentemente da possibilidade de prover
ao próprio sustento, traduzida no aumento da taxa de desemprego
que é um efeito direto da quebra do consumo, e consequente
diminuição da atividade das empresas, que surge em fases de
recessão.
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Temos de ter sempre presente o facto de os ciclos económicos, e a


consequente alternância de períodos de crescimento e de recessão,
serem uma certeza.
• Em fase de expansão, o PIB cresce e as empresas estão a laborar em pleno,
empregando a maior parte da força de trabalho disponível e pagando salários
mais altos, já que o trabalho é nesta fase um fator de produção com bastante
procura. Isso faz com que haja mais dinheiro a circular, e que por isso o
consumo privado aumente, e em consequência disso os preços subam.
Para travar a inflação (que além de afetar o poder de compra dos cidadãos,
sobretudo dos mais carenciados, prejudica a competitividade internacional
das empresas, e portanto o saldo da balança comercial) o estado tem de
tomar medidas que travem o consumo, e por isso o crescimento. Para o fazer,
poderá tomar medidas que passem por retirar liquidez do sistema financeiro,
aumentar a taxa de juro, promover políticas de contenção dos salários ou da
despesa pública.

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• No entanto, ao adotar políticas de estabilização económica no sentido de diminuir o


consumo (e a inflação), o Estado vai fazer com que as empresas vendam menos, e
que por isso grande parte delas vejam reduzir os seus lucros ou fiquem,
inclusivamente, impossibilitadas de continuar a laborar. Ou seja, a produção e o
rendimento vão diminuir, entrando a economia numa fase de recessão – que existe
tecnicamente, em termos macroeconómicos, quando se registe uma descida do PIB
durante dois trimestres consecutivos.
Isto tem como consequência direta um aumento do desemprego e uma degradação
generalizada do nível de vida (sempre bastante mais intensa nas classes mais
desfavorecidas), em resultado da descida dos salários. E porque descem os salários?
Porque, para além de as empresas estarem em dificuldades e não poderem oferecer
salários altos, a mão de obra tornou-se, nesta fase, um recurso em que a oferta
supera a procura, e portanto o seu preço desceu.
Para combater estes efeitos, e para além de políticas específicas de apoio social e de
auxílio a alguns setores da economia, o Estado irá tomar medidas inversas às
adotadas no ciclo anterior: fomentar o aumento dos salários, injetar liquidez no
sistema financeiro e facilitar o acesso ao crédito, como formas de aumentar o
consumo e o investimento.

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Apesar disso, a duração e intensidade daqueles ciclos nem sempre se poder


prever com rigor, porque dependem de muitos fatores que o estado não
controla:
• Conjuntura política externa: a instabilidade em grandes economias e mercados afeta
sempre muito mais economias. Como exemplos, pensemos nos conflitos no Médio
Oriente e nas guerras do Golfo, no Brexit, nas eleições nos EUA ou Brasil, ou em geral
quaisquer factos (terrorismo, incidentes diplomáticos, guerras comerciais) que
possam criar atritos (comerciais, diplomáticos ou até militares) entre as principais
potências (em especial a UE / EUA / Rússia / China, mas também outros grandes
blocos regionais, como a Índia, México, África do Sul, Brasil, Austrália ou Canadá)
• O preço de certos produtos de base essenciais, v.g., o preço do petróleo, do gás
natural, da soja ou do cimento podem condicionar grande parte dos pereços de
outros produtos e serviços que os utilizam como fator produtivo;
• A instabilidade nos grandes mercados financeiros, que pode ser provocada pela
conduta mais arriscada de algumas empresas ou operadores – cfr. os factos que
levaram à crise de 2007, e que foram em grande parte resultado da atividade
especulativa de bancos, empresas financeiras e seguradoras;

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A autonomização da macroeconomia
Ainda que no seu método utilize uma grande variedade de mecanismos e
instrumentos de medição e quantificação, a economia é uma ciência social,
que estuda comportamentos dos indivíduos em sociedade relacionados com
a gestão dos seus recursos e a satisfação das suas necessidades
económicas.
Essas necessidades são dos tipos mais variados, aumentam à medida que o
homem domina melhor a tecnologia e é capaz de produzir bens e serviços
cada vez mais diversificados. Inicialmente relacionavam-se apenas com as
necessidades mais básicas (abrigo, alimentação, proteção contra o frio e os
inimigos), mas lentamente foram-se multiplicando e desenvolvendo (beleza,
arte, lazer): ninguém precisa realmente de 30 paladares diferentes de café;
mas a partir do momento em que existem no mercado, passa a existir uma
necessidade de satisfação pessoal aliada a uma forte pressão social para ter
os bens ou serviços mais caros, mais recentes ou mais prestigiados. Tudo isto
se explica com o auxílio da sociologia, da antropologia e de outras ciências
sociais e humanas.

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Durante muitos séculos acreditou-se que a satisfação destas


necessidades seria conseguida, no essencial, pela simples ação do
mercado: a ‘mão invisível’ referida por Adam Smith ainda no séc.
XVIII fazia com que a atividade produtiva fosse ao encontro das
necessidades dos consumidores, dispensando em geral a intervenção
do estado para esse efeito. Ou seja, durante esses séculos reduziu-se
a ciência económica à dimensão micro: bastava deixar que os
agentes privados interagissem para que tudo funcionasse
harmoniosamente.

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Atenção: isto não quer dizer que não houvesse estado, nem
moeda, nem impostos; simplesmente, esses instrumentos não
eram utilizados para corrigir desequilíbrios na economia ou
promover o crescimento económico, mas sim para enriquecer a
coroa, os nobres e (mais tarde) a burguesia industrial e mercantil,
ou para financiar as guerras. Não havia controlo da massa
monetária, nem preocupações com o emprego ou o crescimento,
por duas razões essenciais:
- Acreditava-se que o mercado resolvia, por si só, esses problemas;
- De qualquer forma, e desde que a classe dominante vivesse bem, nada
disso era na verdade encarado como um verdadeiro problema, pelo que
pura e simplesmente não precisava de ser resolvido. Isto apenas mudou
com a Revolução Francesa, e com a perceção por parte dos governantes
de que de que a insatisfação do povo com as suas condições de vida
podia ter, para esses próprios governantes, consequências dramáticas.

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De certa forma, era como se o


diagrama que explica os fluxos
económicos fosse auto-
suficiente para corrigir os seus
próprios desequilíbrios.

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O ponto de viragem nesta abordagem aos problemas económicos foi


a Grande Depressão de 1929.

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Não é fácil explicar brevemente o impacto que a crise de 1929 teve na


economia e na forma de a encarar. Mas os pontos seguintes podem ajudar
a compreender isso:
- Afetou tremendamente a maior economia mundial do pós-1ª GM;
- Sucedeu a um período de grande prosperidade na história moderna:
foram, segundo vários estudos, nove anos consecutivos de crescimento,
em que o índice Dow Jones (indústria) valorizou 10 vezes;
- Chegou de forma relativamente inesperada: apesar de alguns ‘avisos’ que
foram desvalorizados pelos mercados, a confiança dos investidores não
esmoreceu e a bolha especulativa continuou a crescer até final de
outubro, para rebentar definitivamente entre os dias 24 (black Thursday)
e 29 (black Tuesday).

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As consequência brutais da crise, na América, na Europa e em todo o


mundo, obrigaram a que se passasse a olhar para o controlo das
crises económicas como uma verdadeira prioridade, e que o Estado
passasse a ter como uma das suas missões essenciais garantir que isto
não voltaria a acontecer.
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“Employment Act” americano de 1946: pela primeira vez, o Estado


assume como sua responsabilidade na delineação das políticas
económicas promover ao máximo “o emprego, a produção e o poder
de compra”.
Os três grandes objetivos da política macroeconómica, tal como
vimos anteriormente, estão ali identificados:
- Crescimento económico (objetivo de médio/longo prazo);
- Estabilidade da economia a curto/médio prazo, através da
promoção do (tanto quanto possível) pleno emprego e do controlo
da inflação em níveis baixos e estáveis (entre 1 e 3%);
- Distribuição equitativa do rendimento nacional, por forma a que os
benefícios se repartissem pela generalidade dos cidadãos.

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Este elenco de objetivos económicos está hoje em dia perfeitamente consolidado,


e pode ser encontrado, praticamente nos mesmos termos, no art. 3.º, n.º 3, do
tratado da União Europeia:

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Mais recentemente, o mundo teve de enfrentar uma depressão gravíssima


que teve origem numa crise do mercado imobiliário dos EUA, e que por via
da criação de instrumentos financeiros negociáveis que incorporavam
hipotecas sobre casas altamente desvalorizadas, levou alguns dos maiores
grupos da banca, finança e seguros a uma situação de quase insolvência, de
que apenas foram salvos pela intervenção do Tesouro.
Uma crise que começou com a especulação sobre títulos negociáveis acabou
por transformar-se, com a situação em que deixou todo o sistema financeiro,
numa depressão que afetou toda a economia, ao impedir o acesso ao
crédito por parte das empresas e provocar insolvências em massa.
E tratando-se da maior economia do mundo, naturalmente que uma
depressão profunda séria teve imediatamente efeitos em todo o mundo: ao
afetar as empresas e consumidores norte-americanos teve como efeito
quase automático reduzir drasticamente as importações dos EUA, o que
afetou muitos milhares de empresas em todo o mundo.

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2. A medição da atividade
económica: PIB, IPC e
outros indicadores

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O PIB, como já sabemos, é a soma do (1) valor monetário


(ou de mercado) de (2) todos os bens finais e serviços
produzidos (3) num determinado espaço económico
durante (4) um determinado período.
Vejamos mais em pormenor cada uma das componentes
desta noção.

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1) “valor monetário ou de mercado”


Como não podemos somar coisas diferentes (como bens alimentares,
automóveis e serviços), a única forma de contabilizar o conjunto do
produto é converter cada uma das sua componentes num valor
monetário.
Ora , esse valor só pode ser o de mercado:
- Representa, por um lado, a utilidade que o output tem para os
consumidores/utilizadores finais;
- Representa também a soma dos custos de produção com o lucro do
empresário.
Isto não quer dizer que este valor não possa e deva ser depois
corrigido – já lá iremos!

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2) “todos os bens finais ou serviços”

i) Por um lado, isto significa que apenas os bens finais são considerados no
cálculo do PIB. E porquê? Porque de outra forma, os bens intermédios seriam
contabilizados N vezes.
Exemplo:
- para fabricar uma mesa é necessário madeira, metal, parafusos, cola, tinta e
placas de PVC, sendo que cada um destes componentes requer, para a sua
própria produção, outras matérias primas;
- quando cada um dos componentes estiver acabado, vai ser vendido ao
fabricante do produto final;
- este vai vendê-lo provavelmente a um retalhista, que finalmente o venderá ao
consumidor final.

Se contabilizássemos cada uma destas operações para efeito de cálculo do PIB,


alguns componentes seriam considerados 5, 6, ou 10 vezes, adulterando os
valores reais que foram criados pela múltipla contabilização dos mesmos bens e
serviços.

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Há aqui uma ressalva importante: os componentes adquiridos


e não utilizados, são contabilizados como “variação de
existências”, a título de investimento.

Exemplo: um fabricante de automóveis tem, a 31 de dezembro de 2018, um stock


de 1500 faróis que comprou a um fornecedor; esses faróis serão contabilizados na
medida em que representem um aumento ou diminuição do stock existente a 31
de dezembro de 2017. Neste caso, tudo se passa como se a aquisição tivesse sido
final, uma vez que o valor do bem não foi ainda incorporado nem qualquer
produto final que seja, ele próprio, contabilizado.

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ii) Por outro lado, significa que apenas serão contabilizados os bens
efetivamente produzidos no período em consideração, assim excluindo o
comércio de bens usados que sejam revendidos
Atenção: isto não significa que o serviço prestado pelo revendedor não seja
contabilizado; apenas que é necessário separar esse serviço do valor de
mercado do bem – o que pode ser extremamente difícil de calcular.

iii) Significa ainda que toda a produção e todo o consumo são contabilizados,
independentemente de o prestador ou o utilizador ser uma entidade pública
ou privada; ou seja, o consumo publico e a prestação de bens e serviços pelas
administrações públicas são contabilizados da mesma forma que o consumo e
a produção privada.

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iv) Finalmente, significa que tendencialmente todos os bens finais e


serviços efetivamente produzidos serão contabilizados
Ou seja, serão contabilizadas todas as transações declaradas e legais, mas
ficarão excluídos deste cálculo, por exemplo:
- A produção para auto-consumo: se eu comprar salsa no supermercado,
contribuo para o aumento do PIB, mas se a colher do meu quintal, não; se
contratar um jardineiro para me cortar a relva contribuo para o aumento do
PIB, mas se for eu a fazê-lo, não.
- As transações não declaradas, v.g., por serem ilegais ou para fugir ao
pagamento de impostos: venda de artigos roubados, transações ilegais ou
proibidas (v.g., prostituição, tráfico de estupefacientes, venda de armas não
autorizadas) prestação de um serviço (v.g., reparação de um automóvel,
cabeleireiros, restaurantes) em que não é emitida fatura e portanto nenhuma
das partes paga IVA, etc. etc.

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3) “em determinado espaço”


Isto significa que:
- Os bens produzidos por um carpinteiro português emigrado em França não são
contabilizados no nosso PIB, mas no francês; mas o sushi vendido por um
imigrante japonês que abriu um restaurante no Porto, já é.
- As exportações são consideradas, mas líquidas das importações; o que se tem
em conta para efeitos do PIB é assim o saldo da balança comercial externa
(voltaremos a isto mais tarde).

Ou seja, PIB = C + G + I + (X-M)


Em que:
C = Consumo privado;
G = Consumo público (Governamental);
I = Investimento;
X = Exportações;
M = Importações.

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4) “durante determinado período”

Normalmente o valor mais publicitado (e mais relevante) do PIB é o que tem em


conta o exercício económico, que corresponde ao ano civil. Mas também se
calcula, e divulga, o PIB trimestral. É útil para efeitos de comparação do ano em
curso com anos anteriores, em momentos diferentes do final do exercício.
O conceito de recessão, tal como é aceite pela generalidade dos economistas,
pressupõe mesmo esta contabilização infra-anual: em termos técnicos, diz-se que
estamos em recessão (a fase descendente de um ciclo económico, portanto um
facto relativamente normal e esperável em qualquer economia) quando se
verifica uma quebra no PIB em dois trimestres consecutivos.
É diferente de uma depressão, que acontece quando uma economia não
consegue sair da curva descendente por um período relativamente longo (pelo
menos dois anos, embora quanto a este conceito haja muitas opiniões diferentes
entre os economistas).

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PIB nominal Vs. PIB real


Sendo o PIB calculado a preços de mercado, o seu valor vai refletir o aumento dos
preços dos bens decorrente da inflação, o que não representa em si mesmo
qualquer verdadeiro crescimento económico.
Para corrigir este efeito é importante calcular o PIB real, que se contrapõe ao PIB
nominal, que como vimos é calculado aos preços de mercado para cada ano.
Aqui, vamos fazer o seguinte:
- Vamos tomar um determinado ano como “ano de referência”;
- Vamos comparar a variação dos preços entre esse ano e os anos que queiramos analisar;
- Vamos descontar essa variação no cálculo do PIB.

Vejamos um exemplo numérico:

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Para corrigir este efeito é importante calcular o PIB real, que se


contrapõe ao PIB nominal, que como vimos é calculado aos preços de
mercado para cada ano.
Aqui, vamos fazer o seguinte:
- tomar um determinado ano como “ano de referência”;
- comparar a variação dos preços entre esse ano e os anos que queiramos
analisar;
- descontar essa variação no cálculo do PIB.

Vejamos um exemplo:
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Exemplo retirado de Mankiw, pág.


500 e ss., onde se pode ler a
explicação e descrição do cálculo do
PIB real.

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PIB efetivo (atual) Vs. PIB potencial

Também é importante, para efeitos de planificação e avaliação das


medidas de política económica, termos presente o conceito de PIB
potencial, por contraponto ao de PIB atual (ou real).

Embora os conceitos não sejam equivalentes, o PIB potencial reflete


em traços largos a fronteira das possibilidades de produção de uma
determinada economia; o PIB atual mostra-nos como essas
possibilidades foram ou não, depois, efetivamente aproveitadas pelos
agentes económicos.

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Retirado de Samuelson,
pág. 372.

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Em geral, a progressão do PIB potencial é estável, porque


normalmente os fatores produtivos não aparecem de repente, vão-se
antes consolidando. No entanto, isso pode suceder, quando ocorre
por exemplo
- guerras ou catástrofes naturais, que provoquem uma diminuição
drástica da população ativa ou de outros fatores produtivos (v.g.,
destruição de centros industriais e agrícolas)
- o aparecimento de um fator produtivo novo e importante, natural
ou tecnológico (v.g., petróleo, avanço científico importante,
investimento estrangeiro significativo)

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A situação normal na economia é a de alinhamento entre o PIB


potencial e o atual. No entanto, nos períodos de grande crescimento
ou recessão (nas curvas ascendentes e descendentes dos ciclos
económicos) pode haver divergências mais ou menos significativas,
que podem ser vistas no gráfico.
- Num período de recessão o PIB real não está a aproveitar toda a capacidade
produtiva da economia, nomeadamente a sua mão de obra: a consequência
mais imediata é o aumento do desemprego;
- Em fase de expansão aquela capacidade é aproveitada ao limite, podendo
mesmo o produto exceder o que se previa: isto pode resultar, por exemplo,
de um aumento do investimento estrangeiro que traga para o país recursos
financeiros anteriormente indisponíveis, ou de as empresas laborarem mais
horas do que aquelas que seria normal (por exemplo, aumentando o
número de turnos nas fábricas); como nesta fase há quase pleno emprego e
muita moeda a circular, a consequência é o aumento da inflação

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Indicadores económicos complementares do PIB


Como já vimos, o PIB é uma ferramenta essencial na medição da
riqueza gerada por uma economia durante um determinado período,
mas isso não significa que seja especialmente apto para medir, por
exemplo:
• A equidade na repartição dessa riqueza;
• O nível de bem-estar da população;
• A sustentabilidade da produção de riqueza

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Por isso mesmo, as indicações fornecidas pelo PIB devem ser


completadas com outros instrumentos e ferramentas que meçam
outro tipo de dados e nos permitam formar uma ideia mais completa
acerca daqueles elementos da equação.
Não cabe aqui fazer uma panorâmica geral de todos esses
instrumentos, até porque isso implicaria muitas explicações prévias
sobre os conceitos de desenvolvimento económico e de
redistribuição da riqueza.

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Note-se que esta distribuição pode e deve ser encarada numa dupla
perspetiva: nacional e transnacional.

Ao nível nacional, esta distribuição da riqueza significa que uma parte


da riqueza gerada pelos cidadãos de rendimentos mais elevados
(riqueza essa que em princípio lhes pertence) vai ser apropriada pelo
Estado e canalizada para medidas, apoios e infra-estruturas que
sirvam (apenas ou também) os cidadãos cujos rendimentos não lhes
permitem custear a educação, a saúde ou até a subsistência.

55

Alguns instrumentos destas políticas redistributivas são:

• Sistema fiscal progressivo, enquanto forma de financiamento;


• Sistema de segurança social, sobretudo na sua vertente assistencialista
(não contributiva) e de carácter universal;
• Concessão de apoios específicos (v.g., a entidades privadas de cariz
cooperativo e assistencial);
• Satisfação de necessidades coletivas gerais a preços públicos: educação,
saúde, transporte.

56

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A nível internacional, a redistribuição da riqueza levanta problemas


muito mais complicados:
Desde logo, porque os diferentes estados se encontram em
patamares muito diferentes de desenvolvimento económico, e com
necessidades e possibilidades muito diversas entre si;
Depois, e talvez mais importante, porque não existe uma entidade
supra-nacional com poderes para proceder a essa redistribuição;
Como decorrência disto, as relações económicas internacionais (de
que falaremos mais tarde) continuam a ser uma área onde reina
alguma anarquia e onde os agentes mais fortes facilmente se
impõem.

57

Tendo isto em conta, não espanta que, fazendo um ranking que


compare o PIB dos estados mais ricos e o volume de negócios dos
maiores grupos empresariais transnacionais, cheguemos ao seguinte
resultado:

35 estados
65 empresas
(Dados relativos a 2016; Fontes: CIA World Factbook para os estados,
ranking Fortune Global 500 para as empresas.)

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59

A Curva de Lorenz e o Coeficiente de Gini


Para demonstrar como podemos medir a desigualdade na repartição da riqueza
interna, vamos partir dos seguintes dados (retirados de Samuelson, pág. 324 e ss,
onde consta a explicação detalhada de todos estes raciocínios).

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Partindo daqueles dados, chegamos à seguinte distribuição do rendimento


entre a população, expressa na coluna 6:

Para medir a desigualdade na distribuição do rendimento nacional, utilizamos


a Curva de Lorenz, que vai ilustrar graficamente estes dados.
61

A linha central (com inclinação de 45º)


traduz a situação (hipotética) de
igualdade absoluta na distribuição do
rendimento, havendo uma progressão
rigorosamente aritmética entre a
percentagem do rendimento nacional e a
percentagem da população que dele
usufrui.
A curva da desigualdade (situada sempre
abaixo da linha central) é construída
partindo dos dados da coluna 6 da tabela
anterior. Quanto mais paralela ao eixo
horizontal (e portanto mais desviada da
curva central), mais nítida é a situação
de desigualdade. A zona sombreada
representa a dimensão da desigualdade.

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20-12-2018

Como podemos ver, quanto mais a curva da distribuição se afasta da linha


central, maior a desigualdade. Esta é expressa pelo Coeficiente de Gini, que é a
expressão numérica dos resultados da Curva, e que se obtém multiplicando
por 2 a área que representa a desigualdade. Quanto mais próximo de 0, mais
igual é aquela distribuição; quanto mais próximo de 1, mais desigual.

63

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20-12-2018

Este Coeficiente é utilizado pela generalidade das instituições


internacionais para medir a desigualdade.

Por exemplo, vejamos aqui os dados do Banco Mundial relativos a


Portugal:
https://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI?locations=PT

Comparemos agora com os dados relativos ao Brasil:


https://data.worldbank.org/indicator/SI.POV.GINI?locations=BR

Vejamos também os dados do Banco Mundial relativos à distribuição da


riqueza por escalões da população:
https://data.worldbank.org/indicator/SI.DST.10TH.10?view=chart

65

A comparação destes dados


dá-nos uma ideia razoável
sobre a distribuição mundial
do rendimento nos diferentes
tipos de economias.

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33
20-12-2018

Para terminar esta análise,


convém apenas ter presente
que rendimento e riqueza não
são a mesma coisa. Na verdade,
a curva da desigualdade na
repartição da riqueza tende
mesmo a ser bastante mais
pronunciada do que a da
distribuição do rendimento. Isto
tem a ver sobretudo (mas não
só) com a transmissão
hereditária da riqueza.

67

Esta desigualdade na distribuição da riqueza pode ser combatida, se


for essa a vontade do Estado, através de vários mecanismos,
sobretudo fiscais:
- Impostos sobre as sucessões e doações;
- Impostos sobre o património, sobretudo o património imobiliário;
- Expropriação / nacionalização de meios de produção inativos (empresas e
imóveis);

No entanto, a tendência atual das economias de mercado ocidentais


tem sido precisamente a oposta: a de reduzir ou eliminar aqueles
impostos e os casos em que o Estado se pode apropriar de
património privado.

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20-12-2018

Isto explica-se por várias ordens de razões:


- Maior respeito relativo pelo valor da propriedade privada do que pelo valor
da igualdade social
- Influência do poder económico sobre o poder político, que leva a que quem
tem mais património e rendimentos consiga pressionar os decisores no
sentido de “não mexerem no seu queijo”;
- Preocupação em criar confiança junto dos investidores: medidas tendentes
a contrariar a acumulação de riqueza afastam o grande capital e o
investimento estrangeiro, podendo levar a que as grandes empresas (que
são também, não podemos esquecer, grandes empregadores cuja saída
pode provocar um aumento do desemprego) se transfiram para outras
paragens.
Tudo isto favorece a concentração da riqueza e a
manutenção/agravamento das desigualdades sociais.

69

O Índice de Desenvolvimento Humano


A incapacidade em medir a desigualdade na distribuição do
rendimento e riqueza não é a única limitação do PIB enquanto
ferramenta macroeconómica: ele também não consegue avaliar outros
fatores extremamente importantes para aferir do bem estar económico
de uma população, e que se prendem agora com o seu nível de
desenvolvimento. Para este efeito, o instrumento mais utilizado (e
mais consensual) é o Índice de Desenvolvimento Humano, elaborado
anualmente pelo PNUD – Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento.

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35
20-12-2018

O IDH não prescinde do PIB per capita enquanto indicador de riqueza


ou bem-estar económico: um baixo nível de rendimentos significa,
entre outras coisas, dificuldades em adquirir bens ao exterior, o que
necessariamente condiciona as possibilidades de desenvolvimento,
mas acrescenta-lhe duas vertentes fundamentais que podem servir
para avaliar o desenvolvimento e a sua sustentabilidade.
a) a esperança média de vida, que nos mostra se aquela economia oferece
aos seus cidadãos condições mínimas de sobrevivência. Isto agrega dados que
se prendem, por exemplo, com:
• Acesso à comida e água;
• Acesso à habitação;
• Acesso à saúde e higiene: hospitais, vacinas, medicamentos,
saneamento básico;
• Segurança: guerras, criminalidade, propensão para catástrofes naturais.

71

b) a escolaridade, que nos permite avaliar a capacidade de as


gerações futuras poderem prosseguir aquele desenvolvimento.
• Escolaridade efetiva média, que nos dá a ideia da capacidade atual da
força de trabalho desse país;
• Escolaridade esperada, que nos diz o que podemos esperar dessa
força de trabalho num futuro próximo.

Vejamos o ranking no último relatório: http://hdr.undp.org/en/composite/HDI


As economias são divididas entre DH baixo, médio, alto e muito alto, consoante a
sua pontuação ultrapasse os 0.55, 0.7 ou 0,8 / 1; Portugal está na posição 41, com
um índice de 0,847 (muito alto).

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20-12-2018

• Grande vantagem do IDH: ser um índice simples, de muito fácil leitura e


compreensão e que ainda assim consegue fornece indicações muito valiosas à
generalidade das pessoas que se interessem por lê-lo

• Principais fraquezas:
• O contraponto da ‘grande vantagem’: para poder ser de simples leitura e
compreensão, o IDH deixa de fora muitos indicadores importantes de
desenvolvimento, que mesmo não sendo ‘económicos’ na origem têm uma
influência grande sobre o bem estar, nomeadamente a liberdade, a
democracia, o combate à corrupção, o respeito pelos direitos humanos em
geral e a preservação do ambiente e do ecossistema;
• Não tem em conta as desigualdades internas;
• Parece algo arbitrário conceder um peso igual às 3 componentes:

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3. A medição do custo de
vida: o IPC

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20-12-2018

Como já vimos, o aumento dos preços é uma consequência natural


das fases de expansão dos ciclos económicos, uma vez que nestas
fases há muito emprego, e por isso mesmo também os salários
sobem, permitindo aos trabalhadores assalariados (que constitum a
grande maioria da população ativa) ter mais recursos financeiros, e
por isso consumir mais.
O aumento da oferta conduz, naturalmente, ao aumento dos preços.

75

Ao medir o aumento do preço dos bens, a taxa de inflação representa


assim, por outro prisma, o termo de comparação do valor relativo de
uma mesma unidade monetária em diferentes momentos: o que
conseguimos comprar com 100€ em novembro de 2018, por
comparação com o que adquiríamos com esses mesmos 100€ em
novembro de 2017?
Diz-nos, portanto, quantas mais unidades teremos de gastar hoje
para manter o mesmo padrão económico de vida que mantínhamos
há um ano.

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20-12-2018

É importante o Governo e os bancos centrais disporem de mecanismos


relativamente fiáveis de medir esta variação, para saberem que medidas
usar no combate à inflação, e sobretudo com que intensidade as usar.
O mecanismo mais fiável para este efeito é o Índice de Preços no
Consumidor, que (como o nome indica) mede a variação dos preços tal
como estes são repercutidos no consumidor – ou seja, depois de
contabilizados todos os custos de produção, distribuição e outros
(transporte, seguros, etc. – mas já não os impostos sobre o consumo) que
o consumidor terá de suportar.
Hoje em dia, para além do IPC medido pelo Instituto Nacional de Estatística,
existe igualmente o IHPC (Índice Harmonizado), elaborado pelo Eurostat de
acordo com regras uniformes para os 28 Estados-Membros da EU.

77

Para calcular o IPC começa por elaborar-se uma lista de grandes


classes de despesa, atribuindo-se a cada uma delas uma ponderação
de acordo com o peso estimado de cada uma no orçamento das
famílias.

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A título de exemplo: como é natural, um aumento generalizado dos


preços dos produtos alimentares vai repercutir-se muito mais na
despesa das famílias do que um aumento dos preços das
comunicações. Daí ter uma ponderação quase 7 vezes superior.
Estas classes e a respetiva ponderação estão (como todo o processo)
permanentemente sujeitas a revisão por parte do INE, que de acordo
com os inquéritos que efetua periodicamente junto das famílias pode
aperceber-se que as famílias passaram a gastar uma maior parcela
do seu rendimento , por exemplo, em vestuário ou em transportes, e
assim alterar a ponderação atribuída a esta ou àquela classe.

79

Dentro de cada uma dessas classes, vamos depois escolher uma lista tão
representativa quanto possível de produtos (e, dentro desses, de marcas),
também ela permanentemente sujeita a revisão por parte do INE. Estas
listas são mantidas com algum secretismo pelo INE, para que os resultados
divulgados não tenham, eles próprios, o efeito de influenciar as escolhas
dos consumidores: a divulgação pública de que um produto ou uma marca
aumentou de preço poderia levar a que os consumidores, apenas por isso,
procurassem produtos e marcas alternativos
A título de exemplo, em 2018 o INE anunciou uma revisão do cabaz com
base no Inquérito à Despesa das Famílias que levou a cabo em 2015/16, e
incluiu cerca de 300 novos produtos, retirando um número equivalente
que deixou de ser representativo dos hábitos de consumo.

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Alguns produtos que “entraram” e “saíram” do cabaz:

“Entradas”: “Saídas”:
• Tipos especiais de arroz (basmati, • Sabão azul e branco;
thai, integral, risotto, etc.); • Varinha mágica;
• Iogurte grego; • CD-ROM graváveis;
• Robots de cozinha; • Serviços de marcenaria.
• Leggings;
• Massagens de beleza;
• Lâmpadas LED

81

Outra alteração importante, mas agora relativa à metodologia de


recolha, tem a ver com o maior peso atribuído à recolha de preços
online, sobretudo (mas não só) nos seguintes setores:
• Turismo (passagens aéreas, hotéis);
• Livros / discos;
• Material desportivo;
• Suplementos alimentares.

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20-12-2018

Mais um exemplo com cachorros e hamburgers (retirado de Mankiw, p. 515, onde está a sua
explicação detalhada):

83

Portanto:
IPC = n x 100 Taxa de inflação = IPCn – IPCn* x 100
n- IPCn*
Em que: Em que
n = ano atual; IPCn = IPC no ano atual;
n- = ano de referência. IPCn* = IPC no ano anterior ao atual

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O INE fornece um mecanismo para calcular a variação de preços


relativamente a qualquer ano desde 1948, uma vez que só a partir daí
há dados fiáveis. Pode ser utilizado a partir daqui:

https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ipc

85

Problemas com o cálculo do IPC:


• Não contabiliza as alterações de preços na economia paralela;

• “Enviesamento por substituição”: os consumidores, de um ano


para o outro, substituem bens/marcas que se tornaram mais caros
por outros que mantiveram o preço, sem que isso seja
imediatamente tido em conta na ponderação do seu peso relativo;
•vinho ou cerveja;
•automóveis de maior ou menor cilindrada;
•manteiga ou margarina;
•PC ou tablet.

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20-12-2018

• Surgimento de novos produtos: para além do problema de ser difícil calcular


a variação de preços de um produto novo (enquanto o seu preço não
estabiliza), isto traz-nos uma outra questão: é que aumentando as
possibilidades de escolha do consumidor, porque pode gastar o seu rendimento
numa maior variedade, o valor real do seu rendimento aumenta apenas por
esse efeito. Para compreender isto pensemos num “cheque-prenda” que pode
ser utilizado para compras em duas lojas, uma com 100 produtos e a outra com
apenas 10: em qual delas é que aquele cheque, com o mesmo valor nominal,
terá mais possibilidades d satisfazer a pessoa que o gastar?
• Alteração da qualidade dos produtos: se a qualidade de um bem se
deteriora de um ano para o outro, há uma perda real do valor do rendimento
despendido para o adquirir que não é contabilizada no IPC e na taxa de inflação,
porque estas alterações são de difícil deteção e ainda mais difícil contabilização

87

Diferenças entre o IPC e o deflator do PIB

• O deflator aplica-se apenas a bens e serviços produzidos internamente; o IPC


aplica-se a quaisquer bens ou serviços adquiridos pelos consumidores finais,
independentemente da origem da sua produção. Esta diferença é muito
importante, sobretudo para uma categoria de bens: COMBUSTÍVEIS.
• O IPC mede a variação de um cabaz pré-determinado de bens e serviços; o
deflator do PIB aplica-se aos bens e serviços produzidos em determinado ano,
aplicando-lhe a correção relativa ao ano-base em análise.
Normalmente isto não introduz grandes distorções; isso só acontece quando o
preço de um bem em particular, e normalmente com um peso relativo grande,
se altera muito mais do que proporcionalmente em função dos outros.

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20-12-2018

89

A inflação como fator de correção de outras


variáveis económicas
Já vimos como o deflator do PIB atualiza os valores do PIB nominal e
nos fornece o valor do PIB real de acordo com os preços do ano de
referência; ou seja, como desconta os efeitos da desvalorização da
moeda (i.é, da inflação) na formação dos preços, deixando ficar
apenas o aumento real de valor dos bens e serviços produzidos.
O mesmo raciocínio pode aplicar-se a outras variáveis da economia, de
qua vamos ver duas:
• A taxa de juro;
• As taxas de câmbio.

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45
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Taxas de juro nominais e reais


A taxa de juro representa a remuneração do capital ao longo do tempo,
ou seja, o preço do dinheiro. É utilizada pelos Bancos Centrais, em
coordenação com os governos, como forma de induzir a poupança ou o
consumo.

a) Em períodos de expansão, uma das formas de travar a subida da


inflação decorrente do aumento do consumo é encarecer o dinheiro, e
portanto tornar mais caro o recurso ao crédito (porque temos de pagar
mais para pedir emprestado) ao mesmo tempo que se incentiva a
poupança (porque recebemos mais se tivermos o dinheiro aplicado).

91

Como é que o Banco Central faz isso?

• Aumenta o valor do juro que cobra aos bancos comerciais quando lhes
empresta dinheiro, e estes vão repercutir esse aumento nas operações
de empréstimo que realizam com os seus clientes.
• Note-se que estas operações de crédito entre banco central e bancos
comerciais acontecem diariamente, porque os bancos comerciais,
estando autorizados a movimentar quantidades de dinheiro várias vezes
superiores ao seu capital próprio, funcionam constantemente a crédito.

• O resultado final é o de que como o dinheiro encarece para o cliente


final, este pede menos dinheiro emprestado aos bancos e por isso gasta
menos; assim consegue diminuir-se o consumo privado; por outro lado,
da mesma forma que o Banco cobra juros mais altos ao conceder crédito,
também oferece juros mais altos aos clientes que tenham dinheiro
depositado, assim incentivando a poupança em vez do consumo.

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46
20-12-2018

b) Em períodos de recessão as empresas têm dificuldade em escoar a


sua produção, porque há mais pessoas sem trabalho e os salários são
mais baixos; para incentivar o consumo, o Banco Central pode descer a
taxa de juro, tornando o dinheiro mais barato e permitindo aos
cidadãos endividarem-se junto dos bancos com menores custos
financeiros.
• Tal como anteriormente, o que o Banco Central faz é cobrar juros mais baixos
nas operações com os bancos comerciais, que assim podem também eles
cobrar menos aos seus clientes e aumentar o volume de crédito concedido e
a quantidade de dinheiro que circula, para que o consumo aumente, e com
ele a produção e o emprego.
• Também como anteriormente, ao pagar juros mais baixos ao dinheiro que os
seus clientes depositaram, o sistema bancário está a incentivar o consumo em
detrimento da poupança.

93

Ora, as taxas de juro que são anunciadas pelos bancos são as TJ nominais:
uma percentagem pré-estabelecida (fixa ou não) sobre o montante de capital
cedido, que lhe serão acrescentados no termo do prazo convencionado.

Suponhamos que a 1 de janeiro de 2017 o Banco X empresta 1000€ a


Manuel, a uma taxa de 5% ao ano, devendo o capital ser integralmente pago
a 31/12/2018. Manuel sabe assim que naquela data terá de devolver não
1000, mas 1100€.
Este cálculo, no entanto, não nos dá uma ideia verdadeira sobre o encargo
suportado por Manuel: isto porque no final dos 2 anos os 1000€ que ele
pediu emprestados não seriam capazes de comprar a mesma quantidade
de bens ou serviços que podiam comprar no momento em que o banco lhe
emprestou o capital, uma vez que (em condições normais) terá sofrido o
efeito desvalorizador da inflação.

94

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20-12-2018

Ou seja: aquele valor monetário não dos dá uma ideia verdadeira


sobre:
• O encargo financeiro efetivamente suportado por Manuel, pelo
facto de ter recorrido ao crédito;
• O retorno financeiro efetivo do investimento feito pelo banco,
quando lhe disponibilizou aquele montante por aquele período de
tempo.
Para termos uma ideia mais precisa sobre aqueles valores, teremos de
descontar o valor da inflação à taxa de juro nominal, obtendo a taxa
de juro real.

95

Suponhamos que a inflação se manteve, durante aquele período, a uma taxa


constante de 2,5%. Isto significa que para comprar o mesmo cabaz de
produtos que podia comprar com 1000€ a 1/1/2017, Manuel teria de
despender:
• 1025€ em 1/1/2018
• 1050,6€ em 1/1/2019.
Isto significa, portanto, que ao pagar ao banco 1100€ a 31/12/2018, Manuel
vai suportar apenas, em termos reais, um encargo de 49,4€ com juros, uma
vez que 50,6€ seriam sempre absorvidos (ou seja, eliminados) por efeito da
inflação.
E significa, por outro lado, que a remuneração real do banco por ter ficado
privado de utilizar aquele capital durante 2 anos também vai ser bastante
inferior à que parecia, em termos meramente nominais: os 100€ de juros
gerados durante esses 2 anos apenas podem adquirir, no final do prazo do
empréstimo, 49,4€ de bens ou serviços suplementares relativamente ao
momento em que o capital foi cedido.

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Podemos assim dizer, em termos simplificados, que a taxa de juro real


corresponde à taxa de juro nominal menos a taxa de inflação. O que,
no limite, pode conduzir a situações de juros negativos, se estes forem
inferiores à taxa de inflação: se no exemplo de há pouco a taxa de
inflação fosse de 6%, os 1100€ que Manuel devolvia no final do prazo
do empréstimo Manuel não seriam suficientes para comprar o cabaz
que custava 1000€ quando o dinheiro lhe foi emprestado, uma vez que
esse cabaz custava agora 1123,6€. Ou seja, o banco perdeu dinheiro,
em termos reais, ao fazer aquele investimento.

97

Taxas de câmbio nominais e reais


Embora menos utilizada do que a distinção anterior, esta outra é
bastante importante para determinar a deterioração do poder de
compra de uma moeda relativamente a outra moeda.
Suponhamos que a 1/1/2017 o euro e o dólar estavam à paridade (ou
seja, 1€ = 1$), e que em 2 anos consecutivos o dólar se valorizou 5%
em relação ao dólar, a uma taxa constante. Isso significa que para
adquirir 1 dólar temos de gastar:

• 1,05€ a 1/1/2018;
• 1,10€ (valor arredondado) a 1/1/2019.

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20-12-2018

Isto quer dizer que para adquirir o mesmo cabaz de bens provenientes
dos EUA (ou pagos com dólares), um europeu tem de pagar 10% a
mais em 1/1/2019, ainda que os bens não sofram qualquer alteração
de preço.
Mas suponhamos agora, para além disso, que durante o mesmo
período de tempo a inflação nos EUA foi de 7%, enquanto na zona Euro
foi de 2%; ou seja, que há um diferencial de 5% nas duas taxas de
inflação.
Neste caso, e para adquirir o mesmo cabaz, o mesmo consumidor terá
de despender, em termos reais não 10%, mas cerca de 20% a mais em
1/1/2019 do que em 1/1/2017.
Porquê? Porque para além de o valor relativo da moeda se ter alterado
em prejuízo do Euro, a 1/1/2019 o preço do cabaz aumentou mais 5%
nos EUA do que na Europa.
99

• A 1/1/2017, com aqueles 100€ podíamos comprar um cabaz equivalente


na Europa ou nos EUA.
• A 1/1/2019, o cabaz europeu foi agravado por uma taxa de inflação de 2%
anuais, e custa agora 104,04€
• Na mesma data, o cabaz americano agravado por uma taxa de inflação de
7%, custa 114,49$
• MAS, para que um importador europeu adquira aqueles dólares, e porque
o euro desvalorizou cerca de 10% em relação ao dólar, terá hoje de pagar
cerca de 125,4€ : mais 25,4% do que 2 anos antes.
Mesmo depois de retirarmos a este valor a desvalorização do euro por efeito
da inflação (4,04€), vemos que o cabaz americano, em termos relativos,
encareceu em cerca de 20% relativamente ao europeu, pelo efeito
conjugado da depreciação cambial e do diferencial de inflação: é esta a
variação da taxa de câmbio real para o período em questão.

100

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20-12-2018

QUESTÕES PARA REVISÃO – PARTE 1


1. Como se explica que apenas no sec. XX a macroeconomia se tenha
autonomizado verdadeiramente como ramo autónomo da
economia?
2. Quais são, de uma forma genérica, os grandes objetivos do Estado
em termos económicos, a curto/médio e a longo prazo?
3. Quais foram, em sua opinião, as principais causas para a crise
financeira e económica iniciada em 2007? Parece-lhe que essas
causas firam meramente conjunturais, ou antes que refletem alguns
problemas estruturais da economia mundial atual?

101

4. Como se define e calcula o PIB, e quais as principais indicações que


nos fornece?
5. Distinga PIB nominal de real, explicando em que consiste, e como se
calcula, o deflator do PIB.
6. Distinga PIB efetivo e potencial, explicando as razões que podem
justificar um não-alinhamento entre ambos.
7. Por que razões lhe parece serem úteis alguns indicadores
complementares do PIB?
8. Explique em que consiste, e como se calcula, o Coeficiente de Gini.
9. Quais as componentes do IDH, e quais as principais vistudes e
limitações deste indicador?

102

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20-12-2018

10. Diga em que consiste o IPC, referindo quais as principais


dificuldades no seu cálculo e como se distingue do deflator do PIB.
11. Qual a diferença entre taxas de juro nominais e reais? Como se
calcula a taxa de juro real?
12. Qual a diferença entre taxas de câmbio nominais e reais? Como se
calcula a taxa de câmbio real?

103

3. PRODUÇÃO,
PRODUTIVIDADE E
CRESCIMENTO

104

52
20-12-2018

Como já vimos, a prosperidade económica de um estado acaba por se


reconduzir à capacidade de os seus cidadãos (ou melhor, de os seus
residentes) produzirem bens e serviços – seja para seu próprio
consumo direto, seja para servirem de moeda de troca de bens e
serviços produzidos externamente, que aumentam o bem-estar destes
residentes (na medida em que a exportação da nossa produção
doméstica nos permite angariar as divisas necessárias para pagar as
importações).
Isto significa que os índices de produção de um país, tal como medidos
pelo PIB, são o primeiro e mais imediato índice (embora, como
também vimos, esteja longe de nos fornecer uma imagem completa)
do nível de vida dos seus cidadãos.

105

Importa refletir um pouco sobre as seguintes questões:

• Por que razões uns estados conseguem produzir mais do que outros?
• O que explica que algumas economias cresçam durante décadas
consecutivas e outras não consigam sair de estádios relativamente
primitivos de desenvolvimento económico?
• Que políticas devem seguir os governos para aumentarem os seus
PIBs e atingirem níveis mais elevados de bem estar económico?
• Por que razão as esmas políticas não resultam da mesma forma
quando aplicadas em países diferentes?

106

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“O PIB real é um bom índice de prosperidade económica; o índice de


crescimento do PIB é um bom índice de progresso económico.”
(Mankiw, pág. 532)
Temos portanto de separar estes dois aspetos (o produto propriamente
dito e o seu crescimento), e tentar perceber o elemento que os liga – a
produtividade.
Olhemos primeiro para a taxa de crescimento do PIB mundial, e depois
para dados comparativos de alguns países e regiões:

https://data.worldbank.org/indicator/ny.gdp.mktp.kd.zg

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108

54
20-12-2018

109

https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_countries_by_real_GDP_growth_
rate#List_by_the_World_Bank

Como podemos ver facilmente, a maior parte dos países em que se


registam taxas mais elevadas de crescimento económico são países
muito pobres, ou saídos de períodos muito conturbados.
Como é que isto se explica? A chave para a resposta está no conceito
de produtividade:
• Nos seus componentes, e em alguns princípios que a regem
• Na forma como os governos aproveitam de maneira mais ou menos
eficientes os recursos de que dispõem.

110

55
20-12-2018

Podemos definir produtividade como a quantidade de bens ou serviços


produzidos por unidade de trabalho. Ela vai depender, no essencial, de 4 grandes
fatores:
• Capital físico;
• Capital humano;
• Recursos naturais;
• Tecnologia.
Com a exceção dos recursos naturais, que são um elemento muito dificilmente
modificável, o aproveitamento de todos os outros será mais ou menos
potenciado em função da maior ou menor disponibilidade de capital financeiro
na economia em questão, que funciona como um 5.º fator, transversal aos
demais.
Vejamos então o que podem fazer os governos para promover o melhor
aproveitamento destes elementos.

111

Poupança e investimento
O primeiro e mais importante elemento de uma política económica voltada
para o crescimento é o incentivo à poupança e ao investimento: apenas
investindo na aquisição de novos fatores produtivos ou na melhoria dos
fatores existentes é que uma economia pode aspirar a crescer.
Isto implica, no entanto, que o próprio estado e os seus cidadãos prescindam
de consumir uma parte do seu rendimento, o que nem sempre é possível
porque:
• Em economias com um PIB per capita baixo, a maior parte do rendimento das
famílias não pode deixar de ser consumido por uma questão de sobrevivência;
• Políticas eleitoralistas, avessas a exigir sacrifícios aos cidadãos;
• Falta de visão estratégica dos governantes e de espírito de sacrifício dos
governados.

112

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Também teos d ter em conta que o crescimento da produtividade está


sujeito à lei dos rendimentos decrescentes, que nos diz mais ou menos
o seguinte: a utilidade marginal de cada elemento adicional de capital
físico, humano ou tecnológico é progressivamente menos relevante
para o aumento da produtividade.
Isto explica que estados abundantemente dotados daqueles fatores
dificilmente possam aspirar a altas taxas de crescimento; e explica
igualmente a razão pela qual encontramos tantos países pobres no
topo da lista das economias em crescimento.
Chama-se a isto efeito de recuperação (catch-up): as economias com
maior margem de progressão crescem mais rapidamente,
recuperando terreno para as mais industrializadas; é a aplicação à
teoria económica de uma constatação de senso comum.
113

Retirado de Mankiw, pág.


542.

114

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115

É importante termos em conta que embora seja importante crescer


economicamente para melhorarmos o nosso nível de bem estar
económico, é essencial que esse crescimento seja feito de forma
sustentada, ou seja, que não comprometa o bem estar das gerações
futuras e esteja assente num modelo que possa reproduzir-se no
futuro. Isto significa que aquele crescimento não pode, por exemplo,
ficar a dever-se apenas a algum dos seguintes factos:

• Aproveitamento exagerado de recursos naturais esgotáveis;


• Recurso ao crédito externo;
• Concessão da exploração de recursos ou serviços a investidores externos que
se apropriem do rendimento gerado e o canalizem para fora do país.

116

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Atração de investimento estrangeiro


Uma economia com pouco capital físico, humano ou tecnológico, e sem
meios financeiros para que os seus nacionais invistam no aumento ou
melhoria dos mesmos, não tem condições para efetuar os investimentos que
são necessários. Nesses casos, uma possível solução de curto-prazo é a de
captar a poupança e o investimento de investidores estrangeiros,
provenientes de economias em que o capital em falta (financeiro,
tecnológico, humano ou físico) seja mais abundante, e tornando-os
parceiros nos seus projetos económicos.
Este investimento pode ser feito por duas vias diferentes:
• IDE – Investimento Direto Estrangeiro, quando o investidor cria, de raiz, uma nova
empresa no país de destino; ou
• Investimento de carteira (ou de portfolio), quando esses investidores externos
adquirem o controlo de empresas do país de destino que já se encontram instaladas.

117

Na maior parte dos casos, este investimento é realizado por empresas


multinacionais de forte dimensão financeira, que se estabelecem em
países com uma margem de crescimento grande e tentam aproveitar
as (e apropriar-se das) oportunidades que eles oferecem:
• Abundância de recursos naturais;
• Mão de obra barata;
• Inexistência de proteção social e ambiental, que permite a sobre-exploração
dos recursos naturais e da mão de obra;
• Mercados não explorados;
• Benefícios fiscais;
• Maior facilidade de negociar diretamente com os governantes, já que por
vezes a dimensão económica da empresa é superior à do próprio estado de
instalação.

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Educação e saúde
Embora a educação seja sobretudo uma forma de melhorar o capital
humano, ela produz sinergias (externalidades positivas) na inovação
tecnológica: quanto mais instruída for a população, mais condições terá para
investigar, inovar e criar, assim potenciando o aparecimento de novos
produtos e processos.

Dilema do “brain drain” nas economias mais pobres em recursos educativos:


devem os governos financiar a saída dos seus melhores estudantes para
estudar fora do país?
• Se não o fizerem, o nível de formação e educação daqueles estudantes nunca será
excecional, porque o ensino nas suas universidades não têm a qualidade do que é
ministrado no exterior;
• Mas se o fizerem, estarão a incentivar a saída dos seus melhores elementos para fora
do país, sendo praticamente certo que alguns deles nunca regressarão.

119

Respeito pela propriedade privada


Este princípio geral da não-interferência do estado na gestão da
propriedade privada tem vários corolários:

• Inibição de o estado retirar bens aos cidadãos (nacionalizações e


expropriações), que está relacionada com a estabilidade política: são
fenómenos que acontecem com mais frequência em períodos que se seguem
a grandes ruturas com uma ordem anterior (revoluções, golpes de estado);
• Importância de uma democracia eficaz, que garanta a inexistência de
privilégios a algumas classes e que o poder político prevalece sobre o poder
económico: por isto mesmo, diz a al. a) do art. 80.º da CRP que “a
organização económico-social assenta” na “subordinação do poder
económico ao poder político democrático”.
120

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• Importância de um sistema jurídico e um aparelho judicial eficiente, que


garanta que qualquer cidadão possa fazer valer os seus direitos contra
terceiros de uma forma rápida e eficaz. Em especial, os investidores
desconfiam de sistemas jurídicos onde seja fácil aos devedores atrasar o
cumprimento das suas obrigações, ou não as cumprir de todo, receando por
exemplo:
– Demorar demasiado tempo a conseguir cobrar os seus créditos, porque não
há mecanismos eficientes para executar rapidamente as decisões;
– Ter de gastar muito dinheiro em despesas com advogados e custas judiciais
para o conseguir;
– Não serem pagos de todo, porque, por exemplo, não se preveem
consequência graves para o facto de o devedor se declarar insolvente e
assim deixar de pagar a todos os seus credores.

121

Liberdade de mercado e de comércio externo


• Importância da regulação da concorrência: impedir que as empresas
economicamente mais poderosas absorvam todo o lucro que o mercado
proporciona, abusando da sua posição de domínio através de comportamentos
desleais ou combinando as suas estratégias (os chamados carteis) por forma a
diminuir ou eliminar o risco inerente à atividade empresarial. Se estes
comportamentos não forem proibidos e punidos, a entrada de novos players fica
imediatamente comprometida: por isso, a nossa Lei da Concorrência os proíbe, e
pune com coimas que podem atingir muitos milhões de €.
• Liberdade de trocas internacionais: como veremos mais tarde, a existência de
entraves significativos à liberdade de comércio internacional é prejudicial para
todos, para além de afastar o investimento: se o estado dificulta a importação
de mercadorias que eu quero revender, ou das matérias primas de que eu preciso
para as fabricar (por exemplo, cobrando impostos alfandegários muito altos), vai
ser-me menos rentável criar uma empresa nesse setor de atividade.
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• Respeito pela autonomia privada: da mesma forma que o estado não deve
expropriar propriedade privada salvo em casos de absoluta necessidade, também
não deve interferir na gestão privada dessa propriedade, nomeadamente na
autonomia dos privados para celebrar contratos (proibindo ou impondo essa
celebração, ou interferindo no conteúdo). Isto apenas deve acontecer quando
estejam em causa interesses que não apenas os das partes no negócio, como por
exemplo:
– Proteção dos consumidores: v.g., proibição de certas cláusulas que um consumidor não deve
ser forçado a aceitar, e que apenas aceita por se encontrar em situação de dependência;
– Proteção do mercado: v.g., proibição da compra e venda de uma empresa, se isso puder criar
um monopólio que ponha em causa a liberdade de concorrência
– Proteção de terceiros: v.g., obrigatoriedade de contratar um seguro automóvel, para que os
danos que causarmos a terceiros estejam sempre cobertos;
– Proteção de valores que integrem a chamada “ordem pública”: v.g., proibição da venda livre
de armas ou de estupefacientes.

123

Políticas de promoção de R&D


• Financiamento da investigação: a investigação é um custo que a
maior parte das empresas não tem condições de suportar apenas
com os seus próprios lucros; por isso é essencial que haja políticas
públicas de promoção da investigação nas universidades, polos
tecnológicos e empresas.
• Proteção da propriedade industrial e intelectual: se uma empresa
não tem a garantia de que vai poder explorar economicamente o
resultado da sua investigação, não tem qualquer incentivo para a
fazer; por isso, é essencial que as patentes, os desenhos industriais,
os direitos de autor e todos os outros direitos criados para proteger a
autoria e a criatividade desfrutem de uma tutela efetiva.

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A questão demográfica
O crescimento da população mundial, que por regra se faz sentir sobretudo
em regiões do mundo menos industrializadas (onde, por isso mesmo, as
populações têm menos acesso a planeamento familiar), levanta questões
adicionais quando às perspetivas de crescimento das economias:
• Haverá recursos suficientes (nomeadamente alimentares, e muito em especial a
água) para satisfazer a população mundial a médio/longo prazo, se esta continuar a
crescer a um ritmo aproximado ao atual?
• Para podermos aferir a produtividade dessa economia, temos de contabilizar as
unidades de capital disponíveis por trabalhador; o aumento da força de trabalho sem
um aumento correspondente dos recursos de capital levará à diluição daqueles
recursos, e por isso, necessariamente, a uma diminuição da produtividade .
• Num sentido inverso, porém, tem sido alegado, com base nos dados estatísticos
disponíveis, que uma população mais numerosa promove um maior progresso
tecnológico, uma vez que quantos mais “investigadores”, maiores probabilidades
haverá de se descobrirem novos produtos e novos processos.

125

4. Poupança,
investimento e
sistema financeiro

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Mercados financeiros e Intermediários financeiros


Como vimos no ponto anterior, a poupança e o investimento são
cruciais para aumentar as disponibilidades de capital, e dessa forma
promover o crescimento económico.
A capacidade de investimento de uma dada economia será
exponenciada se existirem mecanismos que permitam canalizar a
poupança para os investidores. Ou, de outra forma, que promovam o
encontro entre as poupanças de uns e o sentido empresarial, de risco
e de investimento de outros: é esse o papel dos mercados financeiros,
e uma das funções principais dos intermediários financeiros.

127

Os intermediários financeiros, em especial os bancos


Sendo certo que as grandes empresas têm acesso a formas de
financiamento mais sofisticadas, como veremos já a seguir, que
acabámos de ver, uma pequena empresa que necessite de
financiamento não tem acesso aos mercados de obrigações ou à bolsa.
Terá, assim, de recorrer a formas mais tradicionais de encontrar um
adiantamento dos fundos de que necessita para criar ou ampliar o seu
negócio.
Imaginemos que o Sr. Joaquim pretende criar uma lavandaria, e que
precisa de 30.000€ para adquirir máquinas e fazer obras no espaço que
arrendou. Provavelmente, dirigir-se-á a um banco, que terá dinheiro
disponível para lhe ceder por um determinado prazo e mediante o
pagamento de juros pré-combinados. Nada de novo, portanto,
relativamente ao que já sabemos.

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Mas convém refletir no seguinte: se os bancos têm sempre dinheiro


disponível para conceder empréstimos, isso acontece porque, no nosso
sistema financeiro, são por natureza os recetores privilegiados de toda a
poupança privada: é aos bancos que a generalidade dos agentes económicos
confia o seu dinheiro, e é portanto pelo sistema bancário que circula
virtualmente toda a riqueza monetária nacional.
Isto acontece porque os bancos assumem várias funções:
• Desde logo, a de guardar o dinheiro que lhes é confiado, que estará mais seguro
junto do banco do que debaixo do colchão do seu dono;
• A de remunerar com juros esse capital, juros esses que mesmo sendo mais baixos
do que os cobrados pelos bancos quando concedem empréstimos, será sempre uma
remuneração superior a zero (que é a remuneração do numerário);
• A de facilitar os pagamentos, através da gestão de uma série de meios que
dispensam a apresentação de “dinheiro vivo”, e que hoje em dia até dispensam
qualquer suporte físico.

129

Ou seja: por assumirem aquelas funções, os bancos são por natureza


os agentes que recolhem a poupança privada, tendo depois a função
de a administrar e distribuir, sempre mediante uma retribuição, por
quem pretenda financiar-se com capitais alheios.
São assim a forma mais simples de promover aquele encontro entre a
disponibilidade financeira dos que pouparam e não querem investir e a
necessidade de quem pretende investir mas não tem capital próprio
para o fazer.

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Os mercados financeiros: obrigações e ações


Os mercados financeiros estão, por regra, reservados aos grandes
investidores, que procuram chamar a si as poupanças dos pequenos
aforradores.
Dizendo de outra maneira, são o local (físico ou meramente virtual)
onde as grandes empresas se financiam através da emissão de
empréstimos obrigacionistas e de ações (capital social) – as duas
grandes formas de, tipicamente, uma grande sociedade se financiar.
Na linguagem anglo-saxónica, estes dois tipos de financiamento são
vulgarmente designados como “debt” e “equity”: as obrigações não são mais
do que uma dívida contraída junto dos credores obrigacionistas, e que terá de
ser reembolsada nos termos pré-definidos; a emissão de ações dá origem à
aquisição da qualidade de sócio (e, por essa via, de direitos equitativos com os
dos demais sócios) por parte dos subscritores.

131

O mercado obrigacionista (Bond market)


Uma obrigação é um título de dívida emitido por uma sociedade comercial e
adquirido por terceiros, mediante a estipulação de um prazo de vencimento
e dos juros a pagar periodicamente ao subscritor.
A taxa de juro aplicável vai depender essencialmente de dois elementos:
• O prazo de vencimento: quanto mais longo for esse prazo, mais alto será o juro,
uma vez que o subscritor se verá privado do capital por mais tempo, e corre maiores
riscos, nesse período alargado, de a posição financeira do emitente se deteriorar e
ele não conseguir reembolsar o capital;
• O risco apresentado pelo emitente: a dívida emitida pelo estado (“títulos do
tesouro”, “certificados de aforro”) ou por uma grande sociedade normalmente
apresentam um risco pequeno de incumprimento, uma vez que essas entidades têm
um património muito vasto com que os credores podem sempre fazer-se pagar; mas
se se tratar de uma sociedade de menor dimensão, ou que esteja numa posição
financeira difícil, é mais plausível que o credor possa nunca vir a ser reembolsado:
por isso, a remuneração do capital terá de ser maior no segundo caso.

132

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A grande diferença que a emissão de obrigações apresenta relativamente a um


empréstimo comum é a negociabilidade nos mercados obrigacionistas dos títulos
representativos desse empréstimo.
Imaginemos uma empresa que pretende obter um financiamento de 1M€, e emite
100.000 obrigações no valor de 10€ cada, que se vencem em 5 anos e pagam um juro
anual de 5%.
Tratando-se de uma empresa solida, o empréstimo é integralmente subscrito, podendo
até ser necessário haver rateio entre os subscritores por a procura exceder a oferta.
Imaginemos agora que o mercado de ações está instável, e que a generalidade dos
investidores prefere apostar em valores mais seguros (como são as obrigações), ainda que
potencialmente menos rentáveis; e que a taxa de juro oferecida pelos bancos para
aplicações pelo mesmo prazo não ultrapassa os 3%.
Um investidor pode ter interesse em adquirir obrigações mesmo depois da sua emissão
para obter aquele rendimento anual de 5%, ainda que tenha de pagar por cada título não
os 10€ que custaram no momento da emissão, mas, por hipótese, 10,20€, uma vez que em
virtude das circunstancias descritas aqueles títulos são hoje bastante procurados.

133

Este prémio adicional que paga será compensado pela maior remuneração do seu
capital, quando comparado com o que obteria junto de um banco; do lado do
vendedor, a perda daquela remuneração é compensada pela mais-valia realizada
relativamente ao preço de aquisição, e ao reembolso antecipado do capital – que
pode reinvestir imediatamente noutra aplicação (outras obrigações, ações,
depósitos a prazo, etc.).
É importante ter presente que a sociedade emitente não vai beneficiar em nada
deste aumento do valor de transação da obrigação, que reverterá inteiramente
para o subscritor (aqui, vendedor): o benefício daquela sociedade foi
integralmente realizado no momento da subscrição do empréstimo, quando
obteve o financiamento de que carecia; e a sua obrigação de pagar os juros
previamente acordado transmite-se para o adquirente do título.
As obrigações, são, portanto, títulos de dívida emitidos por sociedades comerciais
e negociáveis nos mercados de capitais.

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O mercado bolsista (stock market)


A outra forma de as grandes sociedades se financiarem junto do
público é a emissão (inicial ou em operação de aumento) de ações, eu
são títulos representativos do seu capital social.
Imaginemos que uma grande sociedade tem um capital de
20.000.000€, que está dividido em 2.000.000 de ações com o valor
unitário de 10€, e que essa sociedade pretende construir uma nova
fábrica, carecendo para esse efeito de financiamento adicional no
montante de 5.000.000€.
Imaginemos que os juros estão altos, e que não lhe convém:
• pedir empréstimos bancários;
• emitir obrigações,
porque teria de pagar bastante pelo capital cedido a título de juros.

135

Num caso como este, a sociedade pode optar por fazer um aumento de
capital: emitir 500.000 novas ações (sempre com o valor unitário de
10€) num montante global de 5.000.000€, que serão colocadas junto
do público por intermediários financeiros.
O produto da venda dessas ações (5 milhões de €) passa a ser
integralmente património da sociedade, ou seja, ao contrário do que
acontece com um empréstimo obrigacionista, esse montante nunca
terá de ser devolvido aos subscritores.
Qual é o trade-off desta opção?
A necessidade de admitir novos sócios, uma vez que qualquer titular
de uma ação é, por natureza, sócio.

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Problemas eventuais relacionados com a emissão de capital:


• Dispersão dos direitos, em especial o direito ao lucro (dividendo) e o direito de voto,
com a consequente redução proporcional da amplitude desses direitos para os sócios
“antigos”:
• Imaginemos um sócio que, no nosso exemplo, detinha 25% do capital, ou seja, 500.000 ações;
depois daquele aumento, e se ele próprio não adquirir pelo menos 25% das novas ações, essa
percentagem vai diminuir. No limite, se não comprar nenhuma ação nova, passará a ter apenas
20% do capital, uma vez que as suas 500.000 ações, que eram 25% do capital anterior (de
20.000.000€), são apenas 20% do capital atual, que foi aumentado para 25.000.000€;
• Isto significa que, em princípio, no final do ano receberá apenas 20%, e não 25%, dos lucros
distribuídos;
• E pode igualmente significar (embora não tenha de ser assim) que a percentagem de votos que
tem na assembleia geral desce de 25% para 20%.
• Possibilidade de terceiros assumirem o controlo da sociedade, se conseguirem adquirir
o capital que passou a estar mais disperso:
• Havendo mais capital não controlado por acionistas de referência, é mais possível que um terceiro
adquira ações suficientes para, por exemplo, poder impedir a aprovação de deliberações que
exijam uma maioria qualificada, v.g., uma alteração ao contrato de sociedade: numa SA, poderá
fazê-lo desde que tenha 33,4% dos votos.

137

Tal como acontece no mercado obrigacionista, e aqui com muito mais


intensidade, as ações são diariamente transacionadas nos mercados
financeiros por um valor que varia diariamente em função da oferta e
da procura de cada título, e se vai afastando do seu valor de emissão.
A procura de títulos tem a ver, por seu lado, com as expetativas dos
investidores no crescimento da empresa, e na sua capacidade de
distribuir lucros a cada ano: comprar ações de uma empresa que não
distribua lucros é um investimento parado.
Mais uma vez, se um investidor que comprou ações por 10€ as
revender umas semanas depois por 12€, esse prémio (mais-valia) é
inteiramente seu, e em nada beneficia a sociedade emitente: os
objetivos desta ficaram integralmente realizados com o financiamento
obtido na venda das novas ações.
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Instrumentos financeiros: fundos de pensões,


fundos de investimento e produtos derivados
O sistema financeiro funciona como uma espécie de “sistema
circulatório da economia” através do qual as poupanças se
transformam em investimento. Isto faz-se, como vimos até agora,
essencialmente pelos mecanismos básicos de
• Dinheiro (moeda e depósitos);
• Empréstimos (nomeadamente obrigacionistas);
• Capitalização em bolsa (mercado de ações)
Vamos agora olhar muito brevemente para outros instrumentos que
entretanto foram sendo criados, e que também circulam neste sistema.

139

Fundos de pensões
Com os sistemas de segurança social sobrecarregados, e uma
desconfiança crescente sobre o montante das reformas a que um
trabalhador terá direito no momento em que deixar de trabalhar, hoje
em dia os fundos de pensões representam um mercado importante.
A principal característica deste produto é a de funcionar sempre a
longo prazo: o investidor compromete-se a não retirar as suas
poupanças durante um período de tempo que pode durar várias
décadas. Por isso mesmo este produto é normalmente bem
remunerado em termos de juros e goza sempre de um tratamento
fiscal privilegiado.

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Fundos de investimento
Embora sejam muitas vezes incluídos na categoria de intermediários
financeiros, os Fundos são sobretudo um instrumento criado por
aqueles intermediários para convencer os pequenos investidores a
colocar as suas poupanças nos mercados de capitais com a aparência
de um menor risco.
Isto porque estes Fundos consistem num portfolio de investimentos
diversificados, que podem ser constituídos apenas por ações, apenas
por obrigações, por ambos, ou até incluir outro tipo de valores (por
exemplo, ouro e títulos da dívida pública).

141

Imaginemos que, com o seu negócio de lavandarias a correr muito


bem, o Sr. Joaquim tem hoje 50.000€ de poupanças que pretende
investir num produto financeiro rentável, mas que apresente um risco
pequeno. Isto porque o Sr. Joaquim tem receio em investir em ações e
obrigações, por várias razões:
• Não tem conhecimento suficiente dos mercados para poder avaliar quais
são os melhores investimentos;
• Tem receio de perder dinheiro por as ações que vier adquirir descerem
muito de valor, porque não tem tempo para seguir a evolução da sua
cotação e perceber quando é a altura certa para vendê-las;
• Não quer comprar muitas ações diferentes porque não quer pagar
demasiadas comissões a intermediários, portanto a tendência será para
concentrar o seu investimento em 3 ou 4 títulos – aumentando o seu
risco, uma vez que está inteiramente dependente da variação de um
número pequeno de ações.

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Para investidores como o Joaquim, um Fundo será a solução mais fácil:


• A escolha dos títulos que o compõem é feita por técnicos especializados
nos mercados financeiros;
• Esses técnicos alteram a composição do fundo à medida que o mercado
vá mudando, vendendo e comprando títulos permanentemente para
garantir a sua máxima rentabilidade;
• Não vai investir tudo na mesma empresa, e portanto o seu risco
diversifica-se;
• Pode facilmente seguir a evolução da cotação dos fundos subscritos,
uma vez que têm uma cotação própria e independente dos títulos que o
compõem;
• Pode a qualquer momento transacionar esses títulos na Bolsa, da mesma
forma que transacionaria ações ou obrigações.

Por isto, os Fundos servem sobretudo o propósito de tornar os mercados


financeiros mais atrativos e mais fiáveis para os pequenos investidores.

143

Grande problema: a fiabilidade da informação prestada pelos técnicos, que


na ânsia de captar investimentos (e de ganharem prémios de produtividade)
muitas vezes ocultam ou desvalorizam o risco contido naqueles
investimentos – ou que pura e simplesmente não se apercebem dele.
Como vimos, esta má avaliação, em alguns casos, e manifesta
desonestidade, noutros, foi uma das causas próximas da dimensão extrema
que a crise originada pelos empréstimos subprime atingiu:
• Má avaliação do risco dos empréstimos;
• Má regulação, que permitiu, nomeadamente, que eles fossem securatizados (ou
seja, que se transformasse contratos particulares de empréstimos em títulos
negociáveis nos mercados);
• Má avaliação destes títulos por parte das empresas de rating;
• Desonestidade dos intermediários, que continuaram a anunciá-los como seguros
muito depois de saberem que eram um investimento muitíssimo arriscado.

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c) Os produtos derivados
O refinamento dos mercados de capitais levou, nas últimas décadas, ao surgimento
de uma infinidade de produtos financeiros que têm por objeto negócios
(passados, presentes ou futuros) sobre outros produtos, e que por isso mesmo
são designados por “produtos derivados”.
O negócio que serve de base ao produto derivado pode incidir sobre ativos
financeiros ou reias, que são por isso designados por “activo de base”, e que
podem ser, por exemplo:
• Ações;
• Obrigações;
• Contratos securatizados (v.g., empréstimos garantidos por hipotecas);
• Ativos reais: petróleo, borracha, café, gado….

Estes produtos funcionam normalmente em mercados ou plataformas de


negociação próprios. Durante muito tempo foram um mercado altamente
desregulado, e essa falta de supervisão veio a ter consequências desastrosas para
a economia mundial.

145

Alguns exemplos de derivados:


. Opções: contrato em que o comprador fica com o direito de, no futuro, adquirir o
ativo de base, se a evolução da cotação e do mercado lhe agradar, sem no entanto
estar obrigado a fazê-lo; há aqui um desequilíbrio nítido das prestações (uma pare tem
o direito a comprar, a outra apenas a eventual obrigação de vender), pelo que o preço
a pagar por uma opção será bastante superior ao preço a pagar por um contrato de
“futuros”;
. Futuros: já neste tipo de contrato, as partes acordam a compra e venda do ativo de
base numa data futura, tendo ambos direitos e obrigações simétricos relativamente à
contraparte; funciona em termos relativamente próximos do contrato-promessa, com
a diferença de que aqui se trata de um produto negociável em mercados financeiros.
. Títulos estruturados (structured notes): trata-se de obrigações em que a taxa de juro
está indexada à evolução de um outro título – por exemplo, a um indicador do
mercado de ações, ou ao preço do barril de petróleo;
. Mortgaged-backed securities: títulos garantidos por créditos hipotecários
(empréstimos que têm por garantia a hipoteca de um imóvel), cujo valor depende da
taxa de cumprimento dos contratos de empréstimo para compra de habitação; isto
significa que se os devedores deixarem de pagar as prestações do empréstimo, os
títulos perdem valor porque a garantia vai desaparecendo: foi este o mecanismo que
esteve na origem da crise de 2007/2008.

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Estes produtos são muitas vezes transacionados por intermediários


financeiros diferentes dos bancos:
• Seguradoras;
• Instituições financeiras não-bancárias:
• Sociedades de investimento, como por exemplo:
• Sociedades de corretagem;
• Sociedades gestoras de património;
• Sociedades mediadoras de câmbios;
• Sociedades de factoring;
• Sociedades de locação financeira

147

Poupança, investimento e contabilidade nacional


Como vimos atrás (no ponto 2), PIB = C + G + I + (X-M)
Se pensarmos numa economia fechada, ou seja, sem ter em conta as
trocas com o exterior, o PIB equivale à soma do consumo privado, da
despesa pública e do investimento.
Vamos agora olhar para o PIB na ótica do rendimento, e representá-lo
por R – uma vez que PIB = Rendimento nacional = Despesa nacional
Ora, isto significa que I = R – C – G
Ou seja, que o investimento equivale à totalidade do rendimento que
não for utilizado no consumo privado ou público.

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Se isto é assim, significa que, em termos de PIB (ou seja, em termos da


economia nacional tida como um todo) o investimento corresponde à
poupança (Savings), ou seja,
S=R–C–G

Vamos decompor agora a poupança em poupança privada e pública.


Para isso, precisamos de entrar na equação com um novo elemento T,
correspondente as transferências dos particulares para o estado, ou
seja, os impostos deduzidos das outras contribuições de sentido
inverso (subsídios, pensões, prestações da segurança social, etc.)

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Considerando esse novo elemento da equação, a poupança privada


corresponde a
R–T–C
ou seja, ao rendimento nacional deduzido dos impostos (pagos) e do
consumo privado

Já a poupança pública corresponde a


T–G
ou seja, aos impostos (recebidos) menos a despesa pública
Se este valor for positivo, isso significa que as receitas superaram as
despesas e que temos portanto excedente orçamental; se for negativo,
e se verificar o oposto, temos um défice.

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Se pensarmos na economia como um todo, e porque a poupança


equivale ao investimento, verificamos que

I = (R – T – C) + (T – G)

ou seja, que todo o rendimento privado não consumido e toda a


receita fiscal não absorvida pela despesa pública representam capital
que, através dos mecanismos do sistema financeiro, vai ser canalizado
para a aquisição e melhoria dos fatores de produção da nossa
economia.

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5. A Moeda

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“O dinheiro só tem utilidade quando o gastamos”

isto é verdade do ponto de vista micro, mas não do ponto de vista


macro, uma vez que a moeda é um instrumento essencial no controlo
da inflação e do desemprego – ou seja, nas políticas de estabilização
macroeconómica:
• Controlo da quantidade de moeda que circula;
• Estabelecimento do “preço interno do dinheiro” através da taxa de juro;
• Estabelecimento do “preço externo do dinheiro” através da taxa de câmbio.

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Funções da moeda
a) Instrumento de troca
b) Unidade de conta
c) Reserva de valor

O problema da liquidez
i. diferença entre “dinheiro” e “riqueza”; podemos ter um património
valiosíssimo e não conseguir trocá-lo por dinheiro, porque não
encontramos ninguém disposto a comprá-lo;
ii. o custo da liquidez: porque é que não temos o dinheiro em casa? Porque a
remuneração do dinheiro vivo, que não rende juros, é zero; se lhe
acrescentarmos o encargo representado pela inflação, verificamos que de
facto o dinheiro perde constantemente valor real, uma vez que a mesma
nota de 100€ não conseguirá comprar daqui a um ano o que consegue
comprar hoje.
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O que é que consideramos ‘moeda’ para este efeito?


a) M1: dinheiro vivo + contas à ordem
b) M2: M1 + depósitos a curto prazo
c) M3: M2 + depósitos a longo prazo
d) M4: M3 + outras categorias com liquidez reduzida

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A evolução da moeda e os seus tipos


1) A troca direta: inconvenientes;
2) “Moeda-mercadoria” (commodity Money): diferenças para a troca
direta, com inconvenientes semelhantes;
i. a moeda cunhada em metais preciosos: inconvenientes;
ii. o padrão-ouro e o padrão-ouro-dólar (referência muito breve);
3) Moeda fiduciária (fiat money): o dinheiro deixa de estar garantido
por reservas de ouro detidas pelo Tesouro;
4) Moeda escritural: a moeda não tem de ter uma existência física,
podendo consistir apenas em registos contabilísticos a favor do seu
titular;
5) Criptomoedas (referência muito breve)

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A oferta de moeda pelo banco central


Como é que o banco central influencia a quantidade de M1 em circulação?
i. Taxa de juro aplicada nas operações de desconto com os bancos
comerciais: quanto mais alta, menor a quantidade de liquidez imediata,
uma vez que há um incentivo adicional (o recebimento de juros) a
colocar o dinheiro em depósitos a prazo;
ii. Operações de mercado aberto: se o banco central quer diminuir a
liquidez, vende títulos do tesouro aos bancos comerciais e retém o
dinheiro que estes lhe pagam; se a quiser aumentar, recompra aqueles
títulos com aquele dinheiro, que volta a circular no sistema bancário e
financeiro.
iii. Imposição aos bancos de limites ao endividamento (alavancagem, ou
leveraging) e de obrigações de constituição de reservas: se os bancos
estiverem impedidos de reemprestar ilimitadamente todo o dinheiro
que lhes é confiado, o funcionamento do mecanismo de “criação de
liquidez” (ver dispositivo seguinte) fica correspondentemente limitado.
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Os bancos e a “criação de moeda”


A partir do momento em que os bancos podem fazer circular, através de
empréstimos, o dinheiro que receberam como depósitos, esse dinheiro passa a
circular ume segunda vez, aumentando a quantidade de moeda disponível numa
determinada economia, globalmente considerada.
O multiplicador da moeda por parte do sistema bancário tem este efeito:
permitindo aos bancos utilizar dinheiro que não lhes pertence (leveraging, ou
“alavancagem”) vai multiplicar a moeda por um fator que é o inverso da
percentagem de capital que o banco tem de deter como reserva.
Ex.: se os bancos estiverem obrigados a ter em reservas 8% do capital de crédito (como consta
das recomendações do Comité de Basileia), isso significa que estão a multiplicar a moeda em
circulação 12,5 vezes; se apenas estivessem obrigados a ter reservas de 5%, multiplicá-la-iam
20 vezes.
Mas é importante lembrarmo-nos sempre de uma coisa: criar liquidez não é criar
riqueza, e pode ser perigoso quando é feito de forma descontrolada.
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6. Desemprego e inflação

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O desemprego: noções introdutórias


Noção de desempregado para o INE: (http://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/7938#Glosário)
Indivíduo com idade entre os 15 e os 74 anos que, no período de
referência, se encontrava simultaneamente nas seguintes situações:
1) não tinha trabalho remunerado nem qualquer outro;
2) tinha procurado ativamente um trabalho, remunerado ou não, ao
longo de um período específico (o período de referência ou as três
semanas anteriores);
3) estava disponível para trabalhar num trabalho remunerado ou não.

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• A procura ativa traduz a realização de alguma(s) das seguintes diligências:


1) contacto com centros de emprego público ou agências privadas de colocações;
2) contacto com empregadores;
3) contactos pessoais ou com associações sindicais;
4) colocação, resposta ou análise de anúncios;
5) procura de terrenos, imóveis ou equipamentos;
6) realização de provas ou entrevistas para seleção;
7) solicitação de licenças ou recursos financeiros para a criação de empresa própria.
• A disponibilidade para aceitar um trabalho é fundamentada com:
1) o desejo de trabalhar;
2) a vontade de ter um trabalho remunerado ou uma atividade por conta própria, no caso
de se poder obter os recursos necessários;
3) a possibilidade de começar a trabalhar num período específico (período de referência ou
as duas semanas seguintes).

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A população ativa é constituída pelo “conjunto de indivíduos com idade


mínima de 15 anos que, no período de referência, constituíam a mão-
de-obra disponível para a produção de bens e serviços que entram no
circuito económico (empregados e desempregados).”

Relacionando os dois conceitos, temos que a taxa de desemprego


representa ”o peso da população desempregada sobre o total da
população ativa”

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Tipos de desemprego
1) Desemprego natural
Representa a taxa natural (esperada) de desemprego de uma economia, ou
seja, a quantidade de pessoas desempregadas que aquela economia terá
sempre, independentemente do momento do ciclo económico.
Resulta da combinação de alguns elementos das noções de desemprego
friccional e estrutural.
2) Desemprego friccional
É a situação das pessoas que estão entre trabalhos, e que decorre da natural
mobilidade da mão de obra: um trabalhador independente (v.g., da construção
civil) entre duas obras, pessoa que se despediu e está à procura de novo
trabalho, etc.
Está ainda associado ao desemprego sazonal, que se refere a alguns trabalhos
cuja oferta se concentra em alguns períodos do ano: especialmente importante
no trabalho agrícola.

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3) Desemprego cíclico
É o desemprego que resulta na natural sucessão dos ciclos da economia, e que
se agrava inevitavelmente em períodos de recessão.
É um tipo de desemprego que facilmente se pode tornar estrutural, sobretudo
para os desempregados com mais idade e maior dificuldade de adaptação a
novas exigências (v.g., tecnológicas).
4) Desemprego estrutural
Desempego, normalmente de longo prazo, que se prende com deficiências
estruturais de uma economia, e que normalmente resulta dos seguintes
fatores:
• Falta de preparação/qualificação da força de trabalho;
• Substituição da força de trabalho por tecnologia e maquinaria;
• Excesso da oferta de trabalho relativamente à procura.

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“Apesar de a maior parte dos ciclos e estados de desemprego serem


de curta duração, a maior parte do desemprego observado em
qualquer momento é de longa duração”.
Como se explica isto?

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O desequilíbrio estrutural do mercado de trabalho

Ao contrário da generalidade dos mercados, os preços no mercado de


trabalho tendem para ser fixados acima do ponto de equilíbrio, o que
leva a que nunca exista um encontro perfeito entre a oferta e a
procura que resulte na fixação do preço ótimo de mercado. Por isso
temos constantemente desemprego: o mercado não está disposto a
absorver toda a oferta existente naquele ponto acima do preço de
equilíbrio.
Isto acontece porque existem garantias sociais e constitucionais de
proteção do emprego e de fixação de condições mínimas de dignidade
na remuneração dos trabalhadores, e que se reconduzem (de forma
simplificada) aos seguintes aspetos essenciais:

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a) Fixação de salário mínimo


Retirado de Mankiw, pag.
607.

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b) A ação dos sindicatos e a negociação coletiva

c) A teoria dos ‘salários de eficiência’, que explica que as empresas


tendem a fixar os salários acima do valor do mercado, nomeadamente
pelas seguintes razões:
• Maior produtividade, relacionada com a melhor saúde (física e psicológica) e
o maior esforço dos trabalhadores mais bem remunerados;
• Atração dos trabalhadores mais qualificados;
• Desincentivar as saídas para empresas concorrentes;
É preciso ter em conta que esta teoria é válida sobretudo para os trabalhadores
mais qualificados, que por isso mesmo são difíceis de encontrar e de
substituir; de uma maneira geral, as empresas procuram remunerar o trabalho
não-qualificado e indiferenciado (e portanto facilmente substituível) pelo
mínimo possível.

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O impacto do desemprego
a) Impacto social: o desemprego, enquanto incapacidade de alguém
conseguir prover ao seu sustento (e ao da sua família, quando for o
caso), é uma das principais causas de exclusão social, de marginalidade
e de problemas psicológicos de tipo depressivo;
b) Impacto económico
• A nível da economia privada, o aumento do desemprego provoca uma descida do
consumo, o que significa que as empresas vão ver os seus lucros reduzirem-se ou
ter de encerrar;
Temos de ter em conta que esta relação é bilateral, uma vez que também a quebra
do PIB resultante do encerramento das empresas provoca, por sua vez, um aumento
da taxa de desemprego: a Lei de Okun demonstra que a cada 2% de quebra do PIB,
teremos um aumento de 1% da taxa de desemprego.
• A nível da economia pública, o aumento do desemprego significa ao mesmo tempo:
– Menos cobrança de impostos, porque há menos rendimento (menos IRS), menos
consumo (menos IVA), e as empresas têm lucros mais baixos (menos IRC);
– Aumento das prestações sociais, especialmente (mas não só) os encargos da segurança
social com o subsídio de desemprego.

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A inflação: definição e causas

Teoria quantitativa da moeda: o desequilíbrio entre a oferta e a


procura de dinheiro é a causa última da inflação.

Como acontece com qualquer mercadoria, o valor do dinheiro diminui


à medida que ele se torna mais abundante; e se o dinheiro vale menos,
isso significa que os preços relativos dos bens e serviços sobem.

Isto significa que as autoridades monetárias podem controlar a


inflação controlando a oferta de dinheiro, pelos processos que vimos
anteriormente.

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Retirado de Mankiw, pag. 648

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Tipos de inflação
• Inflação moderada, galopante e hiperinflação
• Inflação antecipada e não-antecipada: em condições normais, apenas a primeira
constitui um problema sério, uma vez que:
– Sendo a inflação antecipada, as autoridades monetárias poderão precaver-se tomando
antecipadamente medidas para diminuir os seus efeitos;
– Como regra quase universal, quando a inflação é antecipada o seu valor é moderado, não
atingindo níveis preocupantes:
• Inflação vs. deflação: apesar de os consumidores poderem vem como positiva a
descida dos preços, ela representa normalmente uma incapacidade de escoar a
produção, e dessa forma um problema estrutural da economia;
• Inflação por pressão da procura e inflação por pressão do aumento dos custos de
produção: a estagflação (inflação acompanhada de estagnação da economia) e o
dilema que coloca aos bancos centrais, que não têm forma de a combater:
reduzia a quantidade de moeda não faz os preços descerem, e agrava ainda mais
o abrandamento do crescimento;
• O caso particular da entrada em vigor do Euro: a inflação por arredondamento

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O impacto da inflação
• Perda do poder de compra: depende do aumento correspondente (ou
não) dos salários, e por isso mesmo a perceção geral deste efeito é em
regra bastante superior ao seu impacto real. No limite, se os salários
subirem na mesma proporção da taxa de inflação, este efeito pura e
simplesmente não se verifica
• Por regra, os salários mais baixos têm tendência a subir mais moderadamente do
que os mais altos, levando a uma maior degradação do poder de compra por parte
das classes sociais mais desfavorecidas
• Custos de transação (custos de “meias solas” e “de menu”): tanto os
consumidores como as empresas vão ter custos adicionais
(nomeadamente de tempo, que poderia ser utilizado em alguma função
produtiva) ao tentar colocar as suas poupanças a salvo da desvalorização
(v.g., mudando constantemente as suas poupanças de contas à ordem para
contas a prazo, com juros mais altos) e a alterar os preços dos bens e
serviços que oferecem, para que estes acompanhem a inflação.
177

• Variação dos preços relativos dos bens: uma vez que a inflação não
afeta todos os bens e serviços por igual, fazendo subir alguns preços
em proporão superior a outros, isso vai alterar o seu valor monetário
relativo, induzindo confusão nos consumidores e nos investidores;
• Exemplo: num determinado momento, 1 kg de batatas custa 10, e 1 kg de
carne custa 20; um ano depois, 1 kg de batatas custa 20 e 1 kg de carne custa
50. o preço relativo do preço da batata (em termos da carne) deteriorou-se de
1/2 para 2/5, levando provavelmente a que os consumidores alterem os seus
padrões de consumo (comendo mais batatas e menos carne), e que os
investidores prefiram colocar o seu dinheiro numa plantação de batatas do
que num talho.

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• Distorções fiscais: para ser equitativa e traduzir alguma justiça fiscal,


a taxa de imposto deverá ter em conta o efeito da inflação. Vejamos
isto com dois exemplos:
• Se hoje vendermos por 200.000€ um imóvel que compramos em 2013 por
150.000€, realizamos uma mais-valia que constitui rendimento tributável (cfr.
art. 10.º do Código do IRS); suponhamos que durante estes 5 anos tivermos
uma taxa de inflação constante de 5%: os 150.000€ que investimos há 5 anos
corresponderiam hoje a 191,442€; ou seja, em termos reais, a mais valia é
pouco superior a 8500€. Para evitar este efeito de distorção e injustiça fiscal,
este imposto tem de ser corrigido por um coeficiente de desvalorização da
moeda.
• O imposto sobre os juros recebidos tem normalmente em conta o seu valor
nominal; para que essa taxa fosse aplicada de forma equitativa deveria ter em
conta a taxa de juro real, ou seja, a TJ nominal deduzida da taxa de inflação
(como vimos no ponto 2).

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• Redistribuição arbitrária do rendimento, em benefício dos devedores.


Imaginemos que contraio um empréstimo para compra de habitação, no valor de
100.000€, a ser pago em 20 anos a uma taxa de juro fixa de 5% anual. Se a
inflação for de 10%, e partindo do princípio que os salários acompanharão
tendencialmente aquela subida, o reembolso do empréstimo vai custar-me
menos em termos reais do que inicialmente previsto, porque vou ganhar todos
os anos 10% mais; e o banco será prejudicado, uma vez que o dinheiro que me
comprometi a reembolsar vai valer correspondentemente menos.
Por isto mesmo, os empréstimos de longa duração nunca são feitos a uma taxa
de juro fixa, mas a uma taxa variável e indexada a um valor que de alguma
forma reflita a evolução da inflação.

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O trade-off de curto prazo entre inflação e desemprego


Como conclusão final, e largamente antecipada ao longo deste capítulo
do programa, temos que não é possível, no curto prazo, combater em
simultâneo, e eficientemente, o desemprego e a inflação. As medidas
tendentes a diminuir um irão sempre fazer aumentar o outro, e por isso
mesmo é inevitável a sucessão de ciclos económicos de curto/médio
prazo, que no entanto terão sempre uma duração e uma intensidade
impossíveis de antecipar com rigor, e que (como vimos) dependem de
muitos fatores e variáveis externos que escapam ao controlo dos
governos e autoridades monetárias.
Esta relação inversa entre ambos os valores é expressa na Curva de
Phillips.

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Retirado de Samuelson, pag.


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