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Carlos Castañeda, Os Ensinamentos de Dom Juan, citado por Fritjof Capra em "O Tao
da Física"
E ao falar de Legalidade, não podemos deixar de falar sobre o Estado de Direito, pois a
Legalidade é uma das bases estruturais do mesmo. Assim, abordamos a evolução do
Estado de Direito desde seu nascimento até os dias atuais.
Ao se buscar uma conceituação para o que sejam os princípios, acabamos por chegar à
uma definição simples, mas abrangente - princípios são proposições que contém as
diretrizes estruturais de determinada ciência, pelos quais seu desenvolvimento deverá
pautar-se.
Tratando-se de ciências exatas, "a priori", é simples e fácil determinar-se quais sejam
seus princípios. Mas, entrando-se na seara das ciências humanas, sociais, encontramos
uma dificuldade maior em descobrir o que seriam princípios. Pois aí temos que os
princípios consubstanciam valores, sejam estes morais, religiosos, éticos, políticos,
mutáveis através do tempo, no espaço e na forma.
Dentro do Direito, que é o que nos interesse no presente trabalho, temos que princípios
são os valores ordenadores do sistema jurídico, variando conforme o momento
histórico, social e político de dada sociedade.
Jesus Gonzalez Peres, citado por Carlos Ari Sundfeld, ensina que "[...] os princípios
jurídicos constituem a base do ordenamento jurídico, µa parte permanente e eterna do
Direito e também a cambiante e mutável, que determina a evolução jurídica¶; são as
idéias fundamentais e informadoras da ordem jurídica da ação"(3).
Celso Antônio Bandeira de Mello, também lembrado por Carlos Ari Sundfeld, da
mesma forma afirma que os princípios são a base estrutural de qualquer sistema(4).
Podemos descobrir os princípios positivados no texto legal, ou, ao lê-lo, podemos dele
extrair os princípios que nortearam o legislador em sua elaboração. Poder-se-ia dizer
que aí encontramos o espírito da lei. Existem também os sub-princípios, que são
derivados de princípios maiores, fundamentais, como por exemplo, do Princípio
Democrático extraímos o Princípio do Sufrágio Universal.
orberto Bobbio, em seu livro "Teoria do Ordenamento Jurídico", ensina que: "ao lado
dos princípios gerais expressos há os não-expressos, ou seja, aqueles que se podem tirar
por abstração de normas específicas ou pelo menos não muito gerais: são princípios, ou
normas generalíssimas, formuladas pelo intérprete, que busca colher, comparando
normas aparentemente diversas entre si, aquilo a que comumente se chama o espírito do
sistema." (5)
José Cretella Júnior(6) afirma que princípio é toda proposição que age como
pressuposto do sistema, legitimando-o. Classifica-os em:
Miguel Reale ensina que os princípios, como enunciações normativas de valor genérico,
atuam como condicionantes e orientadores do sistema jurídico, tanto para sua
integração, como para a elaboração de novas normas. (12)
Celso Antônio Bandeira de Mello, citado por José Augusto Delgado em artigo para a
Juris Síntese, fala da função primordial dos princípios, e alerta para o perigo da
transgressão de um princípio:
Carmem Lúcia Antunes Rocha explica que esta atitude poderia dever-se a que, uma vez
demarcados os parâmetros do Estado de Direito, a função administrativa aí já se
encontrava delineada. E também, que a função de administrar o Estado não possuía a
mesma nobreza e primariedade que as funções governativas, legislativas e
jurisdicionais.(16)
Claro é que existem outros princípios que devem nortear o atuar da Administração
Pública, implícitos, que são decorrentes do Estado de Direito, e da totalidade do sistema
constitucional.(18)
b) princípio da Legalidade;
c) princípio da finalidade, oriundo do Princípio da Legalidade;
g) princípio da impessoalidade;
h) princípio da publicidade;
Diz a doutrina que as bases do Estado Moderno foram assentadas por Maquiavel. Em
que pese este autor ter, em sua obra ! cortado toda e qualquer ligação com
valores morais, éticos e princípios, pregando a utilização de todos os meios possíveis,
desde o cinismo até a crueldade, para que o governante obtivesse êxito em manter o seu
Estado, o mesmo é considerado o fundador da ciência política, e um dos maiores
teóricos do absolutismo monárquico. E Maquiavel ainda esteve presente em nosso
século, através de Mussolini, que em
afirmava que no Estado
fascista o maquiavelismo era mais forte do que quando surgiu.(21)
Mas, a reação a tal poder absoluto e tirânico não tardou. John Locke, escrevendo
contrariamente a este poder, dizia que o Estado resulta de um contrato entre o Rei e o
povo, que é rompido quando uma das partes o viola. Ensina que os direitos naturais do
homem - e aqui incluía a propriedade privada - são anteriores e superiores ao Estado, e
assim estes são uma das principais cláusulas do contrato entre o Rei e o povo.
Também em França, Rousseau pregava a superioridade da lei, e desta feita, não da lei de
origem divina, expressada pela vontade do soberano e que a ela não se submetia, mas
sim de autoria do povo, que é quem a ela deve submeter-se. (26)
Pode-se dizer que aí, nas idéias básicas da Revolução Francesa, encontra-se a marca de
nascimento do Estado Liberal, de cunho extremamente individualista e legalista. asce
o império da lei, o Estado de Direito na concepção moderna.
os alerta Canotilho que o Estado de Direito não pode ser concebido como um sistema
fechado e imutável, mas sim que "o conceito do Estado de Direito surge como um
, aberto a influências e confluências de
concepções cambiantes do Estado e da Constituição e a várias possibilidades de
concretização."(28)
As características mais marcantes do Estado Liberal, durante seu apogeu no século X^X,
são: o surgimento das primeiras repúblicas nos países ocidentais; a utilização do
constitucionalismo como forma de limitar o poder político; reconhecimento de que o
homem é detentor de direitos que são anteriores e superiores ao Estado, e que devem ser
respeitados pelo Estado; afirma-se e proclama-se em diversos documentos a igualdade
de todos os homens, independentemente de qualquer diferença de nascimento ou de
outras características; o Estado- ação torna-se forte e pleno; a solidificação do
princípio da soberania nacional; o surgimento dos partidos políticos, do sistema de
governo representativo e do parlamentarismo; a subordinação do Estado ao princípio da
legalidade; o liberalismo econômico; e o fortalecimento das garantias individuais frente
ao Estado. (30)
Mas, o liberalismo, aliado a Revolução ^ndustrial, acabou por gerar imensas
desigualdades sociais. A lei era uma garantia a todos os indivíduos, mas o pão não.
^mensas fortunas oriundas do desenvolvimento industrial da época floresceram sob a
proteção do Estado Liberal. As leis libertaram a classe burguesa do jugo do soberano
absolutista, mas para a grande massa da população, era como se não existissem, pois se
encontravam materialmente subjugados como antes.
A lei imperava formalmente, pois materialmente nada acrescentava, nada resolvia para
quem não detivesse condições econômico-financeiras, e estes eram a maioria da
população.
Temos neste período liberalista, um Estado de Direito formal, uma justiça formal, onde
os direitos e garantias fundamentais asseguradas pelas leis não eram efetivadas.
Há um clamor pela materialidade das leis, por uma atuação efetiva do Estado na área
social na Encíclica "Rerum ovarum", elaborada pelo Papa Leão X^^^, onde este aponta
as desigualdades que imperavam no período. (31)
a primeira metade do século XX, o Estado tem como principais aspectos políticos:
todos os Estados tem uma constituição, mas esta não é mais utilizada como limitação ao
poder, mas sim como legitimação do mesmo; o princípio da legalidade é largamente
utilizado em todos os Estados, mas muitas vezes cede as razões do Estado; surgem, ao
lado dos direitos e garantias individuais, os direitos econômicos, sociais e culturais - que
para os democratas são um fortalecimento dos direitos individuais, e para os totalitários,
uma justificativa para a limitação destes mesmos direitos individuais; a intervenção do
Estado na economia aumenta vertiginosamente, tornando-se, em alguns países, o grande
empresário detentor dos meios de produção.(33)
Contudo, o Estado Social de Direito também acabou por gerar distorções. a Rússia,
optou-se pelo modelo socialista-comunista, que hoje vemos desmantelado. o
Ocidente, optou-se pelo modelo social dentro do capitalismo, e foram utilizados os mais
variados modelos de organização política. Foram Estados Sociais a Alemanha nazista, a
^tália fascista, a Espanha franquista, o Portugal Salazarista, ao lado dos EUA de
Roosevelt, a ^nglaterra de Churchill e Attlel. Mas, o que seria, na prática, este Estado
Social? Paulo Bonavides bem o responde:
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o decorrer da história, encontramo-nos sempre com a lei, seja ela de origem divina,
natural, ou oriunda da vontade única de um indivíduo ou de um colegiado, ou, como
hoje, resultado das aspirações da população através do legislador democraticamente
eleito.
Dennis Lloyd, ao falar de lei e força, nos conta o mito mesopotâmico de Anu, deus do
céu, divindade suprema, e de Enlil, deus da tempestade. Anu, como divindade suprema,
símbolo cósmico da autoridade, promulgava decretos, que por serem por ele
promulgados, como divindade suprema, exigiam obediência imediata e irrestrita.
Contudo, mesmo com esta chancela cósmica, divina, não existia garantia de obediência
automática. Assim, era invocado o poder da tempestade, representado por Enlil, símbolo
da coerção que garantia a obediência aos decretos da divindade suprema.(37)
Por outro lado, em Atenas, tinha-se a idéia, por força da tradição, que viver de acordo
com as leis era a maior de todas as leis, mesmo sendo esta uma lei não-escrita, e
independentemente da origem divina ou humana das leis. Ressalta-se bem esta
característica no diálogo mantido entre Sócrates e seu discípulo Critón, quando da
condenação de Sócrates à morte pelo Estado Ateniense, onde este explica que, apesar de
considerar a condenação injusta, deve ser obedecida, porque oriunda do Estado que dita
as leis pelas quais eles viviam. (39)
Para Santo Agostinho, a lei constituía uma necessidade natural para reprimir a natureza
originalmente pecadora do ser humano. (40)
Durante séculos prevaleceu a idéia de que existiam duas espécies de lei, uma com
origem exclusivamente na vontade humana, e outra com origem divina ou natural.
Contudo, ao final da ^dade Média a razão humana começou a ser colocada acima do
misticismo religioso. ão abandonou-se a idéia do direito natural como origem e
justificativa de muitas leis, mas sim buscou-se o caráter racional do direito natural. De
acordo com Grotius, mesmo que Deus não existisse, o direito natural continuaria a ser
aplicado. (42)
A quem afirme que surgia como resposta pelo mero expediente de considerar como
direito somente o que estava nas leis, deixando os questionamentos morais e filosóficas
do conteúdo da lei para outros campos do saber humano.
orberto Bobbio nos traz algumas distinções entre direito natural e direito positivo:
a) direito natural tem caráter universal, ou seja, vale em todos os lugares, e o direito
positivo tem caráter particular, vale somente em determinados locais;
c) direito natural é criado pela razão natural ou pela divindade, e o direito positivo é
criado pela vontade do povo;
e) objeto do direito natural é essencialmente bom ou mau por si mesmo, enquanto que o
objeto do direito positivo é indiferente, até o momento em que é qualificado com certo
ou errado, bom ou mau pelo direito positivo;
f) direito natural estabelece o que é bom, o direito positivo estabelece o que é útil.(44)
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Atualmente, vemos que gradualmente busca-se na lei não somente a afirmação abstrata
de direitos e garantias, mas sim uma lei que seja concebida como o instrumento efetivo
de realização dos anseios da população por igualdade e justiça materiais, efetivas, não
somente formais, abstratas. A população não busca mais códigos ou fórmulas vazias de
efetividade, mas sim ações e determinações que sejam reais, materiais, que atendam
suas necessidades.
E a justiça nada mais é do que um valor moral, valor este que varia de sociedade para
sociedade, e com o passar dos tempos, e que pode ou não ser considerado o maior dos
valores a ser buscado por uma sociedade.
Mas, enquanto na era platônica a justiça era realizada através de leis cuja finalidade era
a manutenção da desigualdade natural dos homens, nos tempos modernos podemos
dizer que a lei continua sendo o instrumento para a realização da justiça, mas com o
objetivo de trazer a igualdade para os naturalmente desiguais.
A justiça tornou-se, atualmente, não mais uma palavra que engrandece belos discursos e
grandes escritos, pelo contrário, busca-se hoje a realização da justiça através da
aplicação de leis que, em um primeiro momento, até parecem ferir o princípio da
igualdade de todos perante a lei, mas que, materialmente, tratam de forma igual os
naturalmente desiguais. Em outras palavras, visando equilibrar as desigualdades sociais
existentes, a lei é elaborada e aplicada de forma diferente para pessoas ou grupos
diferentes socialmente.(52)
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Encontra-se expresso no artigo 5º, inciso ^^, aonde garante a liberdade dos cidadãos,
quando prevê que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo que não seja
previsto em lei.(53)
Aqui, temos uma disposição que é considerada uma das bases de nosso ordenamento
jurídico, com duas finalidades: uma, de regular o comportamento dos cidadãos e dos
órgãos do governo, visando a manutenção da paz social e da segurança jurídica, o que é
considerado como fundamental para o Estado de Direito moderno. (54)
o artigo 37, , o encontramos como o princípio que deverá ser obedecido por toda
a Administração Pública, em todos os níveis. (55)
Já neste momento, vemos que a Administração Pública possui limites, que não está livre
para fazer ou deixar de fazer algo de acordo com a vontade do governante somente, mas
que deverá obedecer a lei em toda a sua atuação. (56)
4.2. Evolução
Vimos que o Estado de Direito moderno floresceu da Revolução Francesa. Pode-se
dizer que também nasceu daí o Direito Administrativo como ramo autônomo da ciência
do Direito, e consequentemente, o princípio da legalidade da Administração Pública
também.(57) (58)Da mesma forma que o conceito de Estado de Direito não é um
conceito fixo, fechado, o é o conceito e a compreensão da legalidade na Administração
Pública.
Assim como conceito de Estado de Direito evoluiu juntamente com a sociedade, com os
reclamos desta por maior efetivação e realização material de igualdade, principalmente
social/econômica, o princípio da legalidade seguiu o mesmo caminho. Do início, onde a
Administração Pública consubstanciava o Estado de Polícia, onde somente lhe cabia
policiar os cidadãos, cresceu de importância ao mesmo tempo que o Estado cresceu de
tamanho para atender as demandas sociais.
Adentramos no Estado Social, e neste período, o Estado utilizava-se da lei para tornar-
se o grande prestador de serviços, com o objetivo de dirimir os grandes conflitos e
diferenças sociais existentes, atuando como empresário em áreas pouco ou nada
exploradas pela iniciativa privada.(62) Só que também neste período, a legalidade
formal foi muito utilizada pelos regimes totalitários e ditatoriais, que buscavam na lei a
sua legitimidade, após utilizarem-se da força. (63)
Falando sobre o império da lei no Estado de Direito, Eduardo García de Enterría afirma
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Celso Antônio Bandeira de Mello diz que "é o fruto da submissão do Estado à lei. É em
suma: a consagração da idéia de que a Administração Pública só pode ser exercida na
conformidade da lei e que, de conseguinte, a atividade administrativa é atividade
sublegal, infralegal, consistente na expedição
à lei." (69)
c) concepção eclética - diz que a Administração Pública não atua de forma homogênea,
em alguns casos está completamente submetida à lei, em outros há margens para um
atuar livre do administrador, conseqüência do poder discricionário.(70)
e) princípio da reserva da lei: aqui, significa que determinadas matérias somente podem
ser reguladas por lei, afastando-se quaisquer regulamentações por outras espécies de
atos normativos.
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Com razão, a lei não pode regular todos os fatos da vida, muito menos todos os fatos e
atos da Administração Pública. As previsões do legislador não podem ser casuísticas ou
pontuais. Assim, como deverá agir o administrador público, acostumado que esta a
pautar sua conduta sempre pela letra da lei?
Mas, mesmo esta liberdade que a discricionariedade traz para o administrador público
não é e nem pode vir a ser total e irrestrita. Se o fosse, teríamos na pessoa do
administrador dos bens públicos um déspota ao melhor estilo do período absolutista de
governo.
Há de se cuidar muito com a utilização do poder discricionário, pois a lei, ao dar este
poder ao administrador público, utiliza-se, muitas vezes, de palavras que permitem as
mais diversas interpretações, o que pode resultar na prática de atos até mesmo
antagônicos, e isto sem ferir a legalidade.
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O tema da discricionariedade se revela fascinante pelas suas múltiplas facetas, mas não
cabe, no presente trabalho, o desenvolvermos mais longamente. os basta saber que o
administrador público não é, em todas as horas, um mero executor da vontade da lei,
mas sim que apesar de submetido ao principio da legalidade, pode utilizar-se do poder
discricionário - por determinação legal - para escolher quais seriam os atos que melhor
atenderiam aos cidadãos. Por exemplo, o melhor para a sua comunidade é a construção
de uma escola ou a de um hospital. E, também, que este poder não é ilimitado, que a
discricionariedade deve pautar-se sempre pelos inúmeros princípios e conceitos que
regem a administração pública, que, em meu entender, resume-se ao bom senso e
honestidade por parte do administrador público. (77)
o mundo do ser, dos fatos, as coisas simplesmente são como são, sem deixar margem
para questionamentos, dúvidas, divagações ou debates. ão há espaço para
inseguranças, o que é, é.
Vemos, por este fato que comumento ocorre, que nem sempre o princípio da legalidade
traz a segurança jurídica, e que muitas vezes estes se encontram em posições
antagônicas.
Contudo, aos poucos começou-se a prestar mais atenção, a dar mais valor aos fatos do
que a abstração da lei. (79)
Esperamos que com o passar do tempo tal entendimento venha a tornar-se prática
comum na administração pública, e que isso ocorra de forma pacífica.
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Que, na maioria das vezes, é o princípio da legalidade que traz a segurança jurídica para
os cidadãos do Estado.
Que a legalidade formal, a mera obediência à letra da lei é algo que, sozinha, não basta
mais.
Mas, ressaltamos também que há um certo temor por parte do administrador público em
fazer algo que não esteja amparado pela lei, como no caso da ratificação, pelo decorrer
do tempo, de ato Administrativo eivado pelo vício da ilegalidade.
orberto Bobbio coloca de forma bem clara qual é o grande problema do atual
momento histórico da sociedade:
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Ou seja, não se trata mais de instituir direitos ou garantias, ou de se tentar descobrir suas
origens ou fundamentos, mas sim de realizar, de forma concreta, efetiva e eficaz, os
direitos já consagrados de todo o cidadão.
E, em que pese toda a doutrina positivista do Direito, dizendo que não cabem valorações
morais na hora da interpretação ou execução da lei, não se pode executar mais a lei de
forma fria e dissociada da realidade da sociedade em que está inserido o intérprete ou
aplicador.
O administrador público há de ter e guiar-se por valores maiores, acima da lei, para a
execução da mesma.
Deverá agir com razoabilidade no sentido de atuar de acordo com critérios racionais,
lógicos, de acordo com o senso normal de pessoas equilibradas perante a realidade dos
fatos da vida, e sempre atendendo a finalidade da lei de forma substancial. (82)
Agir com moralidade significa agir dentro de princípios éticos, e aqui entra agir com
lealdade e boa-fé em relação aos cidadãos e ao patrimônio público que está confiado as
mãos do administrador público.
A função das leis não é o de amarrar, engessar a Administração Pública, muito pelo
contrário - o papel das leis, do Direito, é o de auxiliar na edificação de uma sociedade
onde justiça e igualdade não sejam meras palavras, mas sim uma realidade concreta.
A lei deve ser executada pelo administrador guiando-se o mesmo pelos valores acima
citados, para atender ao fim maior de todo o ordenamento jurídico, de todo o Estado,
que é a de concretizar, de forma clara e segura para os cidadãos, o ideal de justiça de
forma concreta, paupável e material.
E isto, porque as leis são instrumentos de uma ciência do dever-ser, ou seja, as leis são
elaboradas visando o aprimoramento constante da sociedade, são elaboradas pelo ideal
daquilo que deve ser, e o executor delas deve transformar o ideal de justiça e igualdade
social que inspirou a elaboração de todo o ordenamento jurídico em uma realidade
concreta.
ada explica melhor a função das leis, do Princípio da Legalidade, do Direito, e a forma
como todo o ordenamento jurídico deve ser interpretado e executadas as leis do que a
resposta de Ronald Dworkin a indagação do que é o Direito:
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