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Os Símbolos em "Mensagem"

O próprio poeta afirmou que a sua obra se encontrava repleta de símbolos que contribuem para a sua significação.
Enunciam-se aqueles que perpassam os 44 poemas que constituem a Mensagem e que assumem um espaço
privilegiado, quer pela sua recorrência, quer pela carga simbólica que detêm.

O Mar
É evidente que o mar foi o espaço físico efetivamente percorrido pelos portugueses, que desbravaram a sua
imensidão, superando as crenças da época e descobrindo novas realidades.
Contudo, este espaço adquire um significado simbólico na obra. Ou seja, o que está em causa não é este elemento
material, mas o que ele representa, ao nível da conquista humana em direção ao Conhecimento.
Com efeito, o mar aponta para um dinamismo próprio - o das transformações. Pelo movimento das suas águas, ele
possibilita a imagem da transitoriedade, indiciando realidades distintas. Então, o vaivém das águas conduz à imagem
da vida e da morte (pela visualização da partida e da chegada das ondas). O mar é, pois, um espaço iniciático, isto é,
trata-se do local onde o ser humano iniciou o seu percurso, visando obter uma transformação, quer no seu próprio
interior, quer ao nível das experiências, entretanto adquiridas e que lhe proporcionaram atingir uma outra dimensão
na escala da sabedoria humana. O mar contém, por outro lado, o reflexo do céu - e, para Pessoa, espelha-se nele a
vontade divina.

As Ondas
As ondas ligam-se metonimicamente ao mar, mas representam, sobretudo, a passividade, a inércia, uma vez que são
arrastadas por uma força que está para além delas. É nesta perspetiva que, na obra Mensagem, elas aparecem como
projeção do inconsciente humano, que pode, igualmente, ser desperto por uma força superior e cuja natureza
ultrapassa a sua condição.
As ondas são, assim, como uma espécie de espaço-matriz onde as situações se podem desenvolver, iniciando novos
processos e novas fases da existência

A Terra
A Terra aparece como uma projeção do céu e representa o seu princípio passivo, isto é, funciona como recetáculo da
vontade de Deus (a sua simbologia é, neste sentido, semelhante à das ondas). Mas a Terra é também um espaço de
recompensa; é o porto que espera os portugueses, após um longo período de viagem marítima. E a sua dimensão,
enquanto símbolo materno, surge nesta perspetiva - o regresso à terra é o regresso ao elemento natural e natal do
ser humano. Alargando esta ideia, Pessoa revela, na sua obra, a ideia de uma Terra que concentra os valores
simbólicos - trata-se da efetivação de um mundo onde Terra e Céu sejam, de facto, espelhos um do outro, numa
perspetiva bidirecional, pois a Terra seria, após a purificação humana e a instauração da fraternidade universal, uma
imagem do paraíso mítico, que perpassa em inúmeras produções literárias.

A Ilha
Metonimicamente associada à terra, a ilha concentra, porém, de forma enfática, alguns dos seus aspectos
simbólicos.
Pelo seu difícil acesso, ela representa um centro espiritual e primordial. Com efeito, é necessário sabedoria e passar
por algumas provações (é o caso dos navegadores portugueses) para a alcançar. Local paradisíaco, onde impera a
paz, ela situa-se no domínio do sagrado, longe das massas profanas. Surge, de igual forma, como uma recompensa,
como uma conquista, como um prémio merecido, após as tormentas. A ilha significa a promessa de felicidade na
terra.

O Campo
"Os Campos" é o título atribuído por Fernando Pessoa à primeira parte dos poemas incluídos em "Brasão", que se
intitulam, respetivamente, "O dos Castelos" e "O das Quinas". Este espaço adquire aqui a mesma simbologia da
terra, enquanto princípio passivo, que permite a ação. Encontramos igualmente, neste contexto, a ligação do campo
à dominante feminina, ou seja, trata-se de um espaço de vida, associado à fecundidade e ao alimento - a obra
realizada pelo povo português é, também, sinónimo de vida.

As Quinas
As quinas são o símbolo das chagas de Cristo, o Deus feito homem, o Filho eleito para, apesar da sua componente
material, a carne, significar a diferença, pelo cumprimento da vontade divina. Cristo é a imagem do sofrimento, para
atingir a redenção dos pecados humanos, isto é, é Aquele que eleva o seu lado espiritual a uma dimensão que
supera a condição humana, lutando por um Destino que se situa para além da compreensão dos homens e dos seus
desejos vãos. No terceiro bloco da primeira parte, intitulado "As Quinas", encontramos os poemas "D. Duarte, Rei de
Portugal", "D. Fernando, Infante de Portugal", "D. Pedro, Regente de Portugal", "D. João, Infante de Portugal" e "D.
Sebastião, Rei de Portugal". Todas estas figuras históricas são apresentadas como seres cumpridores de um desejo
de Deus, realizado através das suas próprias vidas. Elas unificam a "febre do Além" e são parcelas da essência divina
depositada na alma humana.

O Castelo
"O dos Castelos" é o título do primeiro poema da obra Mensagem, incluído no primeiro bloco, com a designação "Os
Campos" e "Os Castelos" é o título do segundo bloco de poemas incluídos nesta primeira parte. A simbologia do
castelo prende-se com a da casa, refúgio onde se realizam os desejos humanos. Pela proteção que oferecem e por se
situarem num local elevado, são um espaço de intimidade e de espiritualidade. Ligam-se, por este facto, à
transcendência (Jerusalém celeste, cidade da Perfeição, é representada por alguns pintores como um castelo, no
cimo de uma montanha). Nesta obra, o castelo remete, igualmente, para a própria fundação da nacionalidade
(ligando-se ao símbolo do brasão). Assim, as figuras históricas portuguesas têm um papel importante, não só ao nível
da construção do país, como em relação à construção de uma obra divina, cujos indícios são dados aos homens
através da ação dos portugueses.

O Timbre
"O Timbre" é o título do quinto bloco de poemas que constitui a primeira parte da obra e que refere o Infante D.
Henrique, D. João II e Afonso de Albuquerque.
Este elemento é o símbolo do poder e da posse legítima. Liga-se também à ideia de segredo. O timbre é, pois, um
sinal, uma marca, dada por Deus, que assegura ao ser humano a ascensão a mundos superiores, através do
conhecimento (o Infante D. Henrique surge como um ser marcado por esse destino superior - ele" Tem aos pés o
mar e as mortas eras" e é" O único imperador que tem deveras l O globo mundo em sua mão"). O poder é aquilo que
une o ser humano a Deus, porque esse poder é um reflexo da vontade divina.

O Grifo
Nos três poemas que constituem o final da primeira parte da obra, "Brasão", podemos ler os seguintes títulos: "A
Cabeça do Grypho/O Infante D. Henrique", "Uma Asa do Grypho/D. João, o Segundo", "A Outra Asa do
Grypho/Afonso de Albuquerque" .
O grifo é um animal mítico com bico e asas de águia e corpo de leão.
Assim, ele simboliza a união de duas naturezas: a humana e a divina. Pela sua forma de leão, liga-se à terra; pelas
suas características de águia e pelo seu poder de ascensão, remete para o céu. É neste sentido que este animal se
associa à própria natureza de Cristo, que também apresenta esta dupla união com a terra e o céu. A sua simbologia
aponta para a construção de uma obra de carácter divino realizada pelos humanos. O Infante O. Henrique simboliza
a sabedoria que permite a criação (ele é a cabeça do grifo); D. João II e Afonso de Albuquerque (as asas do grifo)
significam a conquista de um estádio além-humano, pela sua dimensão espiritual e pelo conhecimento de que são
detentores. As asas traduzem uma dissociação em relação ao elemento terrestre e a união à força e inteligência
puras, enquanto emanações divinas.
O grifo é, aqui, o símbolo da condição de herói.

A Nau
A nau simboliza a viagem interior, as provações, o caminho a percorrer em, direção ao heroísmo. Está ligada à
iniciação, que pressupõe a morte, para se dar lugar a um novo ser. Com efeito, o indivíduo inicia uma nova fase da
sua existência, na qual procura uma comunhão com o sagrado. Na obra Mensagem, as naus portuguesas conduziram
à aquisição do conhecimento de novos mundos e de novas gentes, elevando os navegadores à condição de heróis. É
esse estádio que Fernando Pessoa deseja para os portugueses do século XX.

A Noite
"Noite" é o título do primeiro poema incluído no bloco "Os Tempos" (na terceira parte da obra). A noite é o símbolo
da morte, da ausência de manifestações. Na obra em causa, simboliza o tempo em que o poeta viveu, o século XX,
um tempo de inércia, caótico, ao qual deverá suceder-se a luz, ou seja, a vida. A noite implica a hipótese de
renascimento, a reconquista de um espaço espiritual perdido, a hipótese de ação dos portugueses, depois de um
período de inação.

Manhã
A simbologia da manhã encontra-se no penúltimo poema da Mensagem, no poema intitulado "Antemanhã". Neste
texto, é o Mostrengo que interpela os portugueses, no sentido de os fazer acordar do seu sono letárgico, de modo a
poderem reconquistar a glória perdida. Este período do dia significa a harmonia entre os seres humanos. É um
tempo de luz, de vida, de promessa e de felicidade.

Nevoeiro (O Encoberto)
A simbologia do Encoberto (D. Sebastião) liga-se à do nevoeiro (aliás, o título do último poema da obra Mensagem).
A este associa-se a indefinição, a indiferenciação das formas e, simultaneamente, a hipótese de revelação de novas
realidades. É esta promessa de uma nova existência que determina o valor simbólico do nevoeiro, associado à
esperança e à regeneração.
D. Sebastião é o Encoberto, cujo carácter messiânico perpassa através de toda a obra - ele é visto como o Messias,
isto é, como aquele que irá salvar Portugal, restituindo-lhe as glórias do passado, assim como a capacidade de
realizar, na Terra, aquilo que Deus representa enquanto força criadora, reunificando o Homem e Deus num só
núcleo de significação existencial.

O Graal
De origem celta e anterior ao cristianismo, o Graal simboliza o dom da vida e a espiritualidade. Na literatura
medieval, aparece igualmente associado a Cristo, que morreu para salvar a humanidade e cuja representação é o
cálice utilizado na celebração da santa eucaristia, em que o vinho simboliza o sangue derramado por Cristo, para
salvação dos pecados humanos. A demanda do Santo Graal, por outro lado, exigia pureza e persistência da parte
daquele que a empreendia. Esta procura corresponde, fundamentalmente, a um amadurecimento interior
progressivo, com vista à obtenção de um estado de perfeição cada vez maior, pois só a transformação do ser
humano material num ser espiritual lhe poderá proporcionar a visão do cálice sagrado.
É de salientar, de igual modo, que a obra termina com as palavras" Valete, Fratres" (saúde, irmãos), que inaugura
uma época de Esperança, de Humildade e de Verdade.

A SIMBOLOGIA DOS NÚMEROS

O conjunto de poemas que constituem a obra Mensagem agrupa-se em blocos mais restritos a que correspondem os
números: 2, 7, 5, 1, 3 e 12, num total de 44 poemas. Fernando Pessoa tinha consciência desta divisão e deu-lhe uma
significação própria, que não se dissocia do sentido dos seus poemas.

Número um
O número um simboliza o Ser, por excelência, a Revelação. Ele concentra, igualmente, a ideia harmónica entre o
consciente e o inconsciente, realizando a união dos contrários, pelo que se liga à Perfeição. Os polos opostos unem-
se numa totalidade que os concilia e da qual resulta uma energia que dá ao humano a comunhão com o
transcendente. "Nuno Álvares Pereira", o único poema que Pessoa inseriu sob o título "A Coroa", representa, assim,
a unidade, por excelência, o centro onde coexistem as forças antitéticas, de uma forma harmónica, o que lhe
confere, pela realização da união dos contrários (à semelhança do andrógino), uma dimensão sobre-humana.
Lembremos que, ao nível histórico, Nuno Álvares Pereira se destacou pelo combate aos castelhanos na Batalha dos
Atoleiros, em 1384. O seu patriotismo valeu-lhe a nomeação de "Condestável do Reino", atribuída por D. João I.

Número dois
Símbolo da divisão (o criador, o ente criado), o número dois pressupõe a dualidade, seja ela expressão de contrários
ou de complementaridade. O dois resume o paradoxo da existência: a vida e a morte. Nesta obra, o número dois
prende-se, essencialmente, com os princípios antagónicos passivo e ativo. Assim, os dois poemas que se inserem em
"Os Campos", "O dos Castelos" e "O das Quinas" apontam neste sentido. No primeiro poema, Portugal aparece
como um campo pronto a ser fecundado (o seu rosto é fitado) e no segundo, Cristo, símbolo do sofrimento e da
tormenta, é o exemplo das provações a passar, para se chegar ao princípio ativo.

Número três
O número três remete para a união entre Deus, o Universo e o Homem, pelo que é um número que representa a
Totalidade.
Aparece também ligado a Cristo, cuja figura concentra três vertentes: a de rei, a de padre e a de profeta. Na obra
Mensagem, este número corresponde ao conjunto de poemas intitulados "Timbre": "A Cabeça do Grypho/O Infante
D. Henrique", "Uma Asa do Grypho/D. João II" e "A outra asa do Grypho/Afonso de Albuquerque" - estas
personagens míticas cumprem o arquétipo do rei e do padre, pelo seu Poder e pela sua Espiritualidade; o outro
conjunto de poemas, "O Bandarra", "António Vieira" e "Terceiro", agrupados no título "Os Avisos", cumprem a
função profética do anúncio do Quinto Império (sendo o "Terceiro" o próprio poeta). Estas personagens históricas
aliam, como Cristo, pelas suas características, as dimensões humana e divina.
Por outro lado, o número três sugere ainda as fases da existência: nascimento, crescimento e morte. Ora, sabemos
que a Mensagem se liga, simbolicamente, ao ciclo da vida: Brasão (a primeira parte) conota o nascimento da Nação,
Mar Português (a segunda parte) evidencia o seu crescimento e o seu momento áureo histórico e O Encoberto (a
terceira parte) preconiza a morte, à qual se seguiria o Renascimento.

Número cinco
O número cinco é o número da Ordem, do Equilíbrio e da Harmonia. Significa, igualmente, a Perfeição. Ele aparece
em três conjuntos de poemas, cujos títulos são, respectivamente, "As Quinas", "Os Símbolos" e "Os Tempos". "As
Quinas" simbolizam as cinco chagas de Cristo, ou seja, o seu sofrimento para a salvação da Humanidade - são, assim,
engrandecidas, pelo seu conteúdo mítico, as figuras de D. Duarte, D. Fernando, D. Pedro, D. João e D. Sebastião. "Os
Símbolos" incluem cinco poemas em que os valores simbólicos unificantes, nesta obra, assumem maior relevo.
Finalmente, em "Os Tempos" anuncia-se já o "terminus" de um ciclo e incita-se ao início de outro, que instaurará a
Ordem, a partir do Caos, que é o momento presente. Esse outro tempo será um tempo de harmonia, em que o
Homem conhecerá a sua dimensão divina, num reino Espiritual.

Número sete
O número sete corresponde a um período temporal unificante, a semana, que tem sete dias. Ele representa,
igualmente, a totalidade das energias, após a completude de um ciclo. "Os Castelos" são compostos por uma série
de sete poemas, cujos títulos são os de personagens históricas (à excepção de Ulysses, figura lendária, fundador de
Lisboa). Este número liga-se aqui à renovação de um ciclo que se inicia com os filhos de D. Filipa de Lencastre e
termina com D. Sebastião. O sete é igualmente um número mágico, associado ao Poder e ao ato de Criação. O
sétimo dia que, segundo a Bíblia, foi aquele em que Deus descansou, depois de ter criado o Mundo, aponta para a
relação estreita entre Deus e o Homem, a sua obra - na Mensagem, essa in dissociação entre os elementos divino e
humano é explicitada pelos nomes que constituem o conjunto de poemas intitulado "As Quinas", que confere uma
sequência simbólica ao grupo anterior.

Número doze
O número doze remete também para uma unidade - um ano tem doze meses. Este número é o da cidade santa,
situada no Céu, a Jerusalém Celeste, que terá doze portas e na qual terão lugar os doze apóstolos. Os doze apóstolos
significam a eleição de um novo povo e preconizam outra forma de estar no Universo: aquela que se baseia na
fidelidade a Cristo. O número doze é, assim, o símbolo das mutações operadas no interior do ser humano e da
perpétua evolução do Universo. O número doze marca, então, o final de um ciclo involutivo, ao qual se sucede a
morte, que dá lugar ao renascimento. Na obra Mensagem, a segunda parte ("Mar Português") é composta por doze
poemas. Como vimos, pela simbologia que compreende, ela encerra as referências míticas ao período áureo da
História nacional (que fecha um ciclo) ao qual se seguiram quatro séculos de trevas. Essas trevas estão presentes na
última parte ("O Encoberto") e é aí, também, que se faz apelo ao renascimento.

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