Prof.- Izabela Bocaiúva Felippe de Oliveira Freitas Matrícula- 201410174211
A Dialética da existência humana na Filosofia de Heráclito
Introdução
Este trabalho tem como escopo analisar os fragmentos de Heráclito, tendo
como foco uma flexão entre a alma e os elementos constitutivos da filosofia de Heráclito como o Fogo como elemento criador e a pulsão que se dá na vida humana perante sua mortalidade e finitude. Tendo em vista que Heráclito é tido como o “Pai da Dialética”, sua filosofia tem como um de seus elementos centrais a mudança, a única constante é esta, a divergência entre os opostos se faz convergir em um novo elemento advindo desta harmonia da adversidade. A centralidade deste trabalho é verificar a alma e o corpo inseridos no tempo em acordo com a Filosofia exposta por Heráclito.
Parte I
“Ouvindo não a mim, mas ao lógos, é sábio concordar ser tudo-um. ”
Quando nega a si mesmo, na qualidade de homem e mortal a possibilidade de se ter um ouvinte para suas palavras; Heráclito está afirmando que não há sabedoria que resida nas questões dos homens, daquilo que é mortal, daquilo não é eterno, ou seja perece no tempo, por não ser harmônico por si só. Ele remete ao lógos, como fonte de sabedoria, esta sendo Una, e aquela que harmoniza todas relações no caos da existência. O lógos é o elemento que faz a síntese de todas as coisas que podem ser acessadas mediante o pensamento, logo é nele que reside a verdadeira sabedoria.
“Não sabendo ouvir, não sabem falar. “
Em mais um aforismo, Heráclito atenta ao fato do não saber, ligado aos sentidos. A compreensão do Ser as coisas é feita por meio destes. A comunicação se faz por meio da compreensão de algo, mas em um mundo aonde o caos é regente se faz necessário algo para trazer um sentido a tudo isto. Em tantas divergências e antagonismo reside no lógos a tarefa de ser o elemento que une a todas as coisas para criar algo novo, a sabedoria reside neste momentum. Os sentidos, principalmente aqueles que envolvem a comunicação entre os seres, como a audição e a fala, é a ferramenta que o Ser possui para em meio ao que diverge, ele possa compreender a harmonia do Universo que está no lógos. Esse dilema do Ser, como mortal, finito e inserido no caos é a grande crise existencial, afinal por meio dos sentidos este Ser irá buscar a Sabedoria aonde se encontra, em meio aos seus pares, logo não a encontrará; por meio dos sentidos atenta-se ao lógos e assim afirma-se a verdadeira Sabedoria que está no fenômeno da mudança, a única constante nessa existência. Confirmando- se no seguinte fragmento: “Ignorantes: ouvindo, parecem surdos; o dito lhes atesta; presentes, estão ausentes. “ Heráclito sempre atenta para a necessidade de uma centralidade, ou seja, uma harmonia para compreensão do todo, esta reside no lógos.
Parte II
“Todas as coisas o fogo, sobrevindo, separará e empolgará. “
Heráclito tem como elemento primordial criador o Fogo, elemento que acende, aquece e consome tudo em seu caminho até tornar-se cinzas. Um elemento transformador, que da destruição torna o antigo novo a partir do nada que ele se transforma. O fogo é um elemento transmutador, assim como a filosofia de Heráclito é tido neste elemento a necessidade de compreender que é através da pulsão das coisas que nos transformamos em algo novo, um processo dialético da própria existência. O Fogo como elemento criador e primordial, faz parte do próprio Ser, uma partícula da alma humana é dotada deste fogo, desta paixão que o torna divergente na própria criação que é o Lógos que faz a harmonia do Universo neste Caos existencial.
“Ignorem como o divergente consigo mesmo concorda; harmonia de
movimentos contrários, como o arco e a lira. “ Em mais de um fragmento há a necessidade de divergir e convergir, tal como no citado acima, em analogia ao arco e a lira; ainda que em movimentos opostos esta pulsão existente trata-se de um propósito, um movimento dialético da existência. A vida como tese, a morte como antítese e a existência como síntese de tudo. Heráclito compreendia que a vida é um caos, uma chama que queima e consome a todos e a tudo até extinguir-se e tornar-se cinzas, pois a mortalidade é a nossa divergência para com o Lógos, este é infinito e estará sempre a arder harmonizando o Universo e suas leis, enquanto nós Seres mortais seremos chamas finitas que tornar-se-ão cinzas.
“O Contrário é convergente e dos divergentes, a mais bela harmonia. ”
Sempre nos atentando que reside no conflito das coisas a pulsão que levas estas a convergirem em algo novo, esta harmonia entre o que diverge é a harmonia natural do universo. Quente e Frio; Amor e Ódio; Cheio e Vazio e etc... Esses elementos que a priori são opostos entre si quando se relacionam, convergem na sua oposição tornam-se algo novo esta síntese da divergência é a o exemplo da harmonia que há no Universo, a ordem natural do Lógos. A Dialética do Caos.
Parte III
“Harmonia inaparente mais forte que a do aparente. “
Essa Dialética do Caos que consite na Ordem do Lógos é algo natural, a lei que rege o Universo, quase que imperceptível aos sentidos do homem comum, por isso que para ser percebido é necessário que harmonize-se a si mesmo com o Lógos. O Ser como parte da criação e portador do fogo da alma é capaz com a devida atenção e treino, como o arco e a lira convergir no Lógos e tentar compreender a natureza do fenômeno.
“Natureza ama ocultar-se”
Em seus aforismo, demonstra-se a capacidade da Natureza (Lógos) ocultar sua lei natural, esta harmonia existe entre a divergência das coisas que se transmutam em algo novo para novamente divergir nesta convergência existencial. Mas os fenômenos não são aparentes, é necessário a atenção dos sentidos para compreender esta harmonia do Universo, caso contrário seremos parte das massas. O pensamento é uma forma de acessar o Lógos. Parte da alma é o fogo da criação, logo o pensamento é uma forma de acessar o Lógos. Como no aforismo abaixo: “ Bem pensar é a maior virtude, e sabedoria dizer coisas verdadeiras e agir de acordo com a natureza, escutando-a. “ O pensamento treinado, e os sentidos aguçados em atenção a verdade, que é o Lógos é a forma de alcançar e compreender a harmonia que existe no Universo. A Natureza emite sinais, somente os mais aptos e atentos podem compreendê-los.
Conclusão
“Embora sendo o Lógos comum, a massa vive como se tivesse um
pensamento particular. “ A existência faz parte desta dialética do caos, mesmo obscura, a ordem do universo no Lógos rege a tudo e a todos. Mesmo que não compreendamos esta ordem, e existimos todos nela, não se pode achar que sejamos Seres Unos, este papel confere apenas ao Lógos que é o elemento que traz a harmonia aos fenômenos e traz o sentido real a existência dos Seres. A compreensão da existência passa pelos sentidos e pelo pensamento, necessário atentar-se as leis da natureza, ainda que não esteja em evidência para que sejamos convergentes em nossa divergência em transmutarmo-nos na síntese do que o lógos nos guarda.