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PROTOCOLIZADO
EM PLENÁRIO
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RELATÓRIO PARCIAL
Comissão Especial de Estudo sobre o Homicídio de
Jovens Negros e Pobres
Belo Horizonte
Maio de 2018
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CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 4
2. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES REALIZADAS 6
2.1. Reunião de formação e sensibilização dos integrantes da Comissão 6
2.2. Visita técnica à Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção 6
2.3. Primeira audiência pública 7
2.4. Visita técnica a casas de semiliberdade em Belo Horizonte 9
2.5. Segunda audiência pública 10
2.6. Seminários participativos 12
2.6.1. Segurança Pública Cidadã 12
2.6.2. Pela Vida das Juventudes 13
3. ESTUDO SOBRE A SITUAÇÃO DE BELO HORIZONTE 15
3.1. Homicídios por arma de fogo — a forma mais letal de vulnerabilidade dos jovens
negros 18
3.2. Quem importa? Os dados de Belo Horizonte e suas regiões 23
3.3. Qual a cor da vulnerabilidade e dos homicídios em Belo Horizonte? 34
4. APONTAMENTOS FINAIS 39
4.1. Recomendações 40
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rie CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
1. INTRODUÇÃO
A Comissão Especial de Estudo sobre o Homicídio de Jovens Negros e
Pobres foi criada com a aprovação, em 3 de fevereiro de 2017, do Requerimento n°
79/2015, pelo Plenário da Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH). O
Requerimento foi protocolizado em junho de 2015 e assinado pelos vereadores
Arnaldo Godoy, Pedro Patrus, Autair Gomes, Doutor Sandro, Elvis Côrtes, Henrique
Braga, Joel Moreira Filho, Jorge Santos, Juninho Los Hermanos, Juninho Paim,
Leonardo Mattos, Márcio Almeida, Orlei, Pelé do Vôlei e Veré da Farmácia. Foi
resultado de audiência pública sobre o Genocídio da Juventude Negra, realizada
pela Comissão de Direitos Humanos e Defesa do Consumidor em abril de 2015,
com o intuito de auxiliar na coleta de informações e na produção de relatórios locais
sobre o tema, que estava sendo debatido também em Comissões Parlamentares de
Inquérito (CPIs) na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. A criação dessas
CPIs estava relacionada com a publicação do relatório do Mapa da Violência 2015
que, utilizando dados de 2012, apontou que 70% dos 30 mil jovens mortos
anualmente no Brasil eram negros. Foram salientadas tanto a seletividade de negros
e jovens nos homicídios quanto a tendência crescente dessa seletividade entre os
anos de 2003 e 2012.
No âmbito da CMBH, após a aprovação do Requerimento n° 79/2015, o
Presidente da Casa, vereador Henrique Braga, designou as/os membros titulares e
suplentes da Comissão Especial de Estudo (CEE). Como titulares, foram
designados a vereadora Áurea Carolina e os vereadores Arnaldo Godoy, Jorge
Santos, Juninho Los Hermanos e Hélio da Farmácia. A primeira reunião de trabalho
da CEE ocorreu em 9 de março de 2017, na qual foram eleitos, como presidente, o
vereador Arnaldo Godoy e, como relatora, a vereadora Áurea Carolina, por um
período de 12 meses, com previsão de alternância dos eleitos na presidência e na
relatoria no ano seguinte.
Em 27 de abril de 2017, foi apresentado pela relatora um plano de trabalho,
que consistiu na realização de um conjunto de atividades que envolveram pesquisa,
análise de dados, formação, debate público e participação de diferentes atores do
poder público e da sociedade civil. Foram abordadas questões como racismo
estrutural, violência policial, desigualdade de gênero, sistema prisional, sistema
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2 Vide a notícia "Comissão especial realizou visita técnica à Secretaria de Segurança Urbana",
publicada no site da CMBH. Disponível em: https://bit.ly/2GC1xXR . Acesso em: 16 mai. 2018.
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adolescentes — que pode ser de até três anos — dura, em geral, de nove meses a um
ano. Diversas vezes foram relatadas pelos profissionais as dificuldades de acesso
dos adolescentes à rede de proteção social, especialmente nos serviços de saúde e
assistência social, atribuindo-as não apenas a problemas estruturais das políticas
públicas, mas também à existência de preconceito contra os adolescentes na
própria rede. Foi dito que as famílias dos adolescentes que cometeram atos
infracionais não são assistidas pelo poder público no processo de aplicação das
medidas socioeducativas. Alguns profissionais criticaram essa situação e
defenderam a necessidade de suporte integral da política de assistência social para
o/a adolescente e sua família, tendo em vista que uma diretriz da semiliberdade é a
convivência familiar, a promoção social da família e sua corresponsabilização pela
recuperação do/a adolescente. Nesse sentido, ficou marcada a necessidade de
superação das barreiras de acesso à rede de proteção social para efetiva inclusão
de adolescentes e suas famílias durante e após o cumprimento das medidas.
Também foram percebidas, na visita, sérias questões de gênero no
acolhimento dos adolescentes. Não é raro que as adolescentes do sexo feminino
sejam abandonadas por seus familiares em todo o processo socioeducativo, o que
se deve, também, à precariedade na interlocução dos serviços para o
acompanhamento de adolescentes que vêm de outras cidades do estado. Segundo
relatado, a mesma situação não acontece com adolescentes do sexo masculino,
devido à construção sociocultural dos papéis de gênero. As mulheres jovens,
diferentemente dos homens jovens, sofreriam mais resistência para serem aceitas
novamente nas suas famílias. 4
4 Vide a notícia "Casas de semiliberdade do sistema socioeducativo são visitadas por vereadores",
publicada no site da CMBH. Disponível em: https://www.cmbh.mg.gov.br/comunica
%C3%A7V0C3°/0A3o/not%C3°/0ADcias/2017/08/casas-de-semiliberdade-do-sistema-socioeducativo-s
°/0C3°/0A3o-visitadas-cor. Acesso em: 16 mai. 2018.
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Luís Flávio Sapori, um dos criadores do Programa Fica Vivo, ressaltou que o
tráfico de drogas é uma realidade perversa no Brasil. Sustentou que o Estado
brasileiro mata muito, tendo uma das polícias mais letais no mundo. Entretanto,
afirmou que a maior parte dos homicídios de jovens negros não são cometidos
diretamente pelo Estado, uma vez que esses jovens estariam se matando tendo
como principal motivação o tráfico, não bastando legalizar as drogas para mudar
essa situação. Para Sapori, é preciso construir políticas especializadas de
prevenção à violência, especialmente com crianças e adolescentes. Exemplificou a
importância de incluir adolescentes que estão fora da escola. Considerou que
projetos pontuais têm baixo impacto sobre a realidade, sendo necessária uma
prevenção social em grande escala.
O subinspetor Meira relatou atividades da Guarda Municipal voltadas para o
público jovem e avaliou que a vida dos cidadãos é um patrimônio a ser protegido.
Defendeu a importância da formação dos guardas sobre racismo institucional e
violência contra as mulheres. Observou que, na área de segurança pública, ainda
existe o fenótipo do criminoso associado a pessoas negras e ao uso de trajes como
bermuda e boné.
Bruno Vieira ressaltou que o racismo institucional faz com que os jovens
negros não sejam reconhecidos como sujeitos de direitos na construção das
políticas públicas. Defendeu a valorização de saberes e práticas cotidianas das ruas,
inclusive nos espaços acadêmicos. Destacou a importância da participação juvenil,
da criação de equipamentos como o Centro de Referência da Juventude e da
interação entre as diversas políticas setoriais, como educação e cultura, para
garantir os direitos dos jovens.
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08 CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
8 PASTORE, José; VALLE SILVA, Nelson do. Mobilidade social no Brasil. São Paulo: Makron Books,
2000. FERNANDES, Danielle Cireno. Estratificação educacional, origem socioeconômica e raça no
Brasil: as barreiras da cor. IN: Prêmio Ipea 40 anos — Ipea Caixa 2004: monografias premiadas.
Brasília: Ipea, 2005.
01
. 044
ainda hoje são oriundos, quase que exclusivamente, dos bancos de dados do IBGE
— Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e do lpea — Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada. A Prefeitura de São Paulo, por exemplo, incorporou pela
primeira vez, em 1990, o quesito "raça/cor" no Sistema de Informação de Saúde. Em
1996, o quesito foi introduzido no SINASC — Sistema de Informação sobre Nascidos
Vivos e, no ano 2000, no SINAN — Sistema de Informação de Agravos de
Notificação. Apesar de iniciativas de incorporação do quesito em sistemas de
informação de instâncias municipais, estaduais e federal a partir de então, a
situação mais comumente encontrada ainda hoje é a inexistência de dados
desagregados por raça/cor, o que dificulta a compreensão da real condição de vida
das populações branca, negra, indígena e amarela no País, bem como o seu acesso
a diferentes bens e serviços.
Realizada no ano de 2009, em Genebra, a Conferência de Revisão do Plano
de Ação da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial,
Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, ocorrida em 2001, tirou como um dos
compromissos principais o incentivo e o comprometimento dos países das Américas
para a melhora das bases de coleta de dados censitários por raça e etnia. De
acordo com Maria Inês Barbosa, responsável pelo Programa de Incorporação das
Dimensões de Gênero, Raça e Etnia nos Programas de Combate à Pobreza do
Brasil, Bolívia, Paraguai e Guatemala:
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das juventudes brasileiras, não nos permite saber a raça/cor desses jovens. O que
tal silenciamento pode ou quer nos dizer? O que pode significar, por exemplo, a
ausência de dados de raça/cor em um estudo de abrangência municipal sobre
jovens em situação de vulnerabilidade? A pergunta apresentada aos leitores, logo
nas primeiras linhas do livro "Perguntar não ofende: qual é a sua cor ou raça/etnia?
Responder ajuda a prevenir" é bastante provocativa sobre omissões e
silenciamentos implícitos na ausência do quesito raça/cor:
3.1. Homicídios por arma de fogo — a forma mais letal de vulnerabilidade dos
jovens negros
Os dados apresentados pelo já conhecido Mapa da Violência, publicados
desde o ano de 1998, vêm mostrando que os homicídios no Brasil — a forma mais
letal de vulnerabilidade — têm, além de idade e sexo, cor e raça.
Os registros do SIM — Sistema de Informações sobre Mortalidade, do Sistema
Único de Saúde, demonstram que 967.851 pessoas morreram por disparo por arma
de fogo no Brasil entre 1980 e 2014. De 8.710 vítimas registradas em 1980,
passamos para 44.861 em 2014, um crescimento de 415,1%. Em 2014, os
homicídios representaram 94,3% dos registros de mortes por arma de fogo. De
todas as vítimas por armas de fogo em 2014, 94,4% foram homens. Cabe destacar
ainda que o crescimento do número de mortes na juventude, jovens entre 15 a 29
anos, foi bem mais violento do que no restante da população. Enquanto no conjunto
da sociedade o crescimento de homicídios por arma de fogo foi de 592,8% no
período de 1980 a 2014, dentre os jovens o número subiu para 699,5%
(WAISELFISZ, 2016) 11 .
10 DIAS, Jussara; GIOVANETTI, Márcia; SANTOS, Naila (orgs.). Perguntar não ofende: qual é a sua
cor ou raça/etnia? Responder ajuda a prevenir. São Paulo: CRT-DST/AIDS. 2009. 106 p. Disponível
em: http://www.saude. sp. gov . br/resou rces/ses/perfil/profissional-da-saude/grupo-tecn ico-de-acoes-
estrategicas-gtae/saude-da-populacao-negra/livros-e-revistas/livro quesito cor.pdf. Acesso: em 16
mai. 2018.
11 Para se aprofundar nas discussões em torno do crescimento do número de mortes de jovens, por
coorte, ver: CERQUEIRA, Daniel; COELHO, Danilo Santa Cruz. Democracia racial e homicídio de
jovens na cidade partida. Texto para discussão n° 2267. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada - Ipea, 2017.
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rt, CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
12 WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de fogo. 2016.
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13 WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de fogo. 2016, p. 58.
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IN CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg F .
Com base nos dados disponibilizados pelo SIM, e tabulados por Waiselfisz
(2012; p. 18)', referente ao ano de 2010, é possível verificar que em Belo Horizonte
a taxa de mortalidade de jovens de 15 a 29 anos, por causas externas, é de 78,6
jovens para cada 100 mil habitantes. Ao passo que a taxa de mortalidade de jovens
brancos se localiza no patamar de 37,5 para cada 100 mil habitantes, a taxa de
mortalidade de jovens negros é de 113,3, de modo que no ano de 2010, em Belo
Horizonte, um jovem negro tinha três vezes mais chances de ser morto por causas
externas do que um jovem branco. Cabe destacar ainda que, no ano de 2010, Belo
Horizonte figurava como a décima primeira capital brasileira com as mais altas taxas
no homicídio de jovens negros, sendo a segunda capital mais violenta fora do norte
e nordeste - regiões em que se concentram as capitais em que mais se matam
jovens negros no Brasil.
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IS CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
Fortaleza CE 718.613 214 410 367 291 435 74 805 95,5 29,4 112,0
Florianópolis SC 118.066 12 15 17 12 17 41 59 86,3 42,1 50,0
Rio de Janeiro RJ 1.524.333 1.054 820 701 681 596 215 863 76,4 29,5 56,6
Teresina PI 245.994 162 119 109 116 115 17 140 65,8 26,5 56,9
121,
Curitiba PR 462.959 61 55 91 70 64 488 563 64,8 136,3 6
Campo Grande MS 217.420 71 100 82 85 57 22 80 53,7 20,6 36,8
Palmas TO 76.789 14 12 15 14 26 7 33 50,3 31,1 43,0
Boa Vista RR 88.885 20 28 25 33 31 4 40 47,7 19,5 45,0
Rio Branco AC 101.646 45 35 29 28 29 4 43 38,9 16,4 42,3
São Paulo SP 2.907.462 695 469 383 412 373 288 667 31,6 17,2 22,9
Fonte: processamento dos microdados do SIM e do Censo Demográfico 2010 - IBGE
Nota: as colunas "Total" incluem também outras categorias (indígena, amarelo)
14 REIS, Rejane Ferreira. O Genocídio dos Adolescentes Negros no Município de Belo Horizonte:
Quem importa? Dissertação - Faculdade de Medicina. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2017.
15 Vide notícia "Adolescentes negros são até cinco vezes mais vítimas de homicídio do que não
negros". Disponível em: https://site.medicina.ufmg.bdinicialtadolescentes-neóros-sao-ate-cinco-
vezes-mais-vitimas-de-homicidio-do-que-nao-negros/. Acesso em: 16 mai. 2018.
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01 CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
foi enfática ao afirmar que uma das consequências mais danosas dos altos índices
de homicídios contra esses jovens-adolescentes são os anos potenciais de vida
perdidos. Quanto mais novos morrem esses jovens, mais anos potenciais de vida
são perdidos. Segundo ela, os anos potenciais de vida perdidos são quatro vezes
maior entre jovens negros do que entre jovens brancos. Mas, como a própria autora
pergunta no título de seu trabalho, quem importa?
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CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
ontagem Contagem
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Organgunio: Pr.
Sarzedo Orpangsasio
Informações : Sarzedo Informações
17 O IVJ-MG mostra a situação dos jovens de Minas Gerais no que diz respeito à exclusão social e
às situações de risco que eles têm mais chances de viver. O IVJ-BH seguiu a metodologia utilizada
pelo IVJ-MG, replicando o modelo de análise fatorial adotado. A análise fatorial é uma técnica
estatística sofisticada que busca, através da avaliação de um conjunto de variáveis, a identificação de
dimensões de variabilidade comuns existentes em um conjunto de fenômenos com o intuito de definir
a estrutura das inter-relações entre as variáveis em análise (Corrar, Paulo e Dias Filho, 2007; Hair Jr.
et al, 2009).
18 Calculou-se a taxa de homicídio da população masculina com base nas informações sobre mortes
identificadas como as categorias CID-10 X85 a Y09 como causa básica do óbito. Em seguida, foi
calculada a taxa bruta por 100 mil habitantes para os anos de 2013, 2014 e 2015, na qual, tanto os
eventos quanto a população de risco foi discriminada como a população masculina com idade entre
15 e 29 anos. Finalmente, foi calculada a média aritmética da taxa bruta por 100 mil habitantes de
homicídios da população masculina, com idade entre 15 e 29 anos, entre os anos de 2013 a 2015. A
fonte de dados de homicídio foi o SIM — Sistema de Informações sobre Mortalidade, por meio da
Secretaria Municipal de Saúde.
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19 Este gráfico foi produzido a partir de dados disponíveis no site do IVJ-BH. Disponível em:
https://monitorabh.pbh.gov.br/ivjbh . Acesso em: 16 mai. 2018. As alterações de forma (cores e
legendas) foram realizadas para deixar o gráfico mais didático.
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rie CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
20 A relação de bairros, vilas e favelas de cada um dos territórios de Belo Horizonte foi obtida, e
posteriormente adaptada, do site "Bairros de Belo Horizonte". Disponível em:
http://bairrosdebelohorizonte.webnode.com.br/bairros-por-regional-administrativa-/ . Acesso em: 16
mai. 2018.
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São José, Ouro Preto, Novo Ouro Preto, Conjunto Lagoa, Castelo, Vila
P2 Engenho Nogueira, Vila Paquetá, Paquetá, Engenho Nogueira, 22,5
Bandeirantes, Lagoa da Pampulha, São Luiz
Centro, Barro Preto, Santo Agostinho, Funcionários, Boa Viagem, Lourdes,
CS1 229
Savassi, Floresta, Carlos Prates, Santa Efigênia
Jardim América, Nova Suíssa, Prado, Grajaú, Calafate, Nova Granada,
01 26
Gutierrez, Alto Barroca, Barroca, Salgado Filho
Diamante, Teixeira Dias, Santa Margarida, Átila de Paiva, Vila Tirol, Santa
B2 31,3
Helena, Barreiro, Vila Átila de Paiva, Ademar Maldonado, João Paulo II
Campus UFMG, Vila Suzana Primeira Seção, Jaraguá, Santa Rosa, Vila
Rica, Dona Clara, Vila Aeroporto Jaraguá, Liberdade, São Francisco, Vila
P3 Santa Rosa, Vila Real Primeira Seção, Vila São Francisco, Vila Real 32,4
Segunda Seção, Universitário, Vila Santo Antônio, Vila Suzana Segunda
Seção, lndaiá, Aeroporto, Suzana
Planalto, Bacurau, Floramar, Biquinhas, São Tomáz, Campo Alegre, Vila
N3 38,5
Aeroporto, Heliópolis, São Bernardo, Jardim Guanabara, Vila Clóris
Santa Inês, Nova Vista, São Geraldo, Casa Branca, Mariano de Abreu, Vila
L1 São Geraldo, Camponesa Primeira Seção, Caetano Furquim, Vila Boa 39,7
Vista, Camponesa Segunda Seção, Grota, Boa Vista
Vila Vera Cruz Primeira Seção, Esplanada, Paraíso, Saudade, Pompéia,
Pirineus, Jonas Veiga, Vila União, Vila Nossa Senhora do Rosário, Vila São
L3 Rafael, Belém, Vila Paraíso, Cônego Pinheiro Primeira Seção, Cônego 39,9
Pinheiro Segunda Seção, Vila Vera Cruz Segunda Seção, Vera Cruz, Novo
São Lucas
Candelária, Letícia, Rio Branco, São João Batista, Vila São João Batista,
VN3 40,6
Nossa Senhora Aparecida, Venda Nova, Vila Canto do Sabiá, Santa Mônica
27
ri CAMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
^
Dirleg Fl.
Castanheira, Olaria, Santa Cecília, CDI Jatobá, Mineirão, Vila Pinho, Vila
Formosa, Distrito Industrial do Jatobá, Vila Batik, Conjunto Jatobá, Vila
Mangueiras, Vale do Jatobá, Santa Rita, Jardim do Vale, Ernesto do
B5 Nascimento, Vila Ecológica, Águas Claras, Mangueiras, Petrópolis, Vitória 51,1
da Conquista, Vila Petrópolis, Independência, Vila Independência Primeira
Seção, Vila Independência Segunda Seção, Vila Independência Terceira
Seção, Maneta Primeira Seção
28
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rt, CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
Para quem conhece a cidade de Belo Horizonte fica fácil observar que os
índices de vulnerabilidade de determinados territórios evidenciam uma sutil, mas
eficaz, linha que divide a cidade entre áreas nobres, áreas populares e áreas
periféricas. Entretanto, para quem não conhece a cidade de Belo Horizonte, o
cruzamento de dados sobre vulnerabilidade com dados sobre a existência de
equipamentos públicos (Mapa 3), poderá deixar mais evidentes as fraturas raciais
em BH.
29
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Organização.
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21 O Mapa Interativo dos Equipamentos de Cultura e Turismo de Belo Horizonte pode ser acessado
no site da Prefeitura de Belo Horizonte. Disponível em: https://prefeitura.pbh.gov.briestatisticas-e-
indicadores/equipamentos/cultura-e-turismo . Acesso em: 16 mai. 2018.
30
■1 1- 3,
de que são os jovens homens, moradores dos territórios mais vulneráveis, aqueles
que estão mais expostos aos homicídios.
350
300
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150
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22 O Gráfico 2 foi produzido a partir dos dados disponibilizados no site do IVJ-BH, na seção sobre
índice e indicadores. Disponível em: https://monitorabh.pbh.gov.bilivjbh #%C3%8Dndice%20 %20e
°/020Indicadores. Acesso em: 16 mai. 2018.
31
rie CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg Fl.
jovens entre 15 e 29 anos (CS4, 05 e CS2); e, por outro lado, quanto mais alto o
IVJ, maior a taxa de homicídios de homens de 15 a 29 anos (B4, 03 e L4).
70
60
50
40
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30
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23 O Gráfico 3 foi produzido a partir dos dados disponibilizados no site do IVJ-BH, na seção sobre
índice e indicadores. Disponível em: https://monitorabh.pbh.gov.bdivjbh#°/0C3%8Dndice%20 %20e
%20lndicadores. Acesso em: 16 mai. 2018.
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350
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200
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150
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50
24 A disponibilização, na página Monitora BH, de dados desagregados por raça/cor e sexo do IVJ-BH
pode ser considerada um resultado parcial do trabalho da Comissão Especial de Estudo do
Genocídio da Juventude Negra e Pobre. Antes da audiência pública realizada no dia 28 de agosto de
2017 no Centro de Referência da Juventude, organizada pela CEE, a vereadora Áurea Carolina
entrou em contato com o secretário municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão, André Reis, e
solicitou formalmente as informações desagregadas. A solicitação foi atendida e os dados foram
inseridos na página. Todavia, é preciso destacar que, mesmo com a desagregação, não é possível
gerar automaticamente mapas temáticos desagregados por cor/raça ou gênero dos jovens de Belo
Horizonte.
33
I
À
CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
silenciamento sobre a cor/raça dos jovens que, no Brasil, e em Belo Horizonte, estão
em situação de vulnerabilidade juvenil e mais expostos ao risco de serem mortos? O
que tal silenciamento quer dizer sobre as imagens projetadas sobre esses jovens e
sobre o Brasil? Será mesmo que todas as vidas importam?
Brancos e Negros
80
70
60
50
40
—Brancos
30 Negros
20
10
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Barreiro Centro-Sul Leste Nordeste Noroeste Norte Oeste Pampulha Venda
Nova
25 Em razão da ausência de dados sobre o perfil racial da população de Belo Horizonte, sobretudo
no que se refere aos territórios da cidade, foi preciso fazer um trabalho manual de extração dos
dados de raça/cor.
34
11'4 11 %%8
26 Para obter este dado, subtraímos o percentual de autodeclarados brancos pelo percentual de
autodeclarados negros. Nesse sentido, um resultado positivo evidencia um percentual de brancos
superior ao de negros e um valor negativo representa um percentual de negros superior ao de
brancos.
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RS CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE Dirleg F
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0 11111111111111111111)111111111111111111
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rio CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
80,0
60,0
40,0
20,0
Para tornar as quatro variáveis comparáveis entre si, foi feita uma
ponderação nos valores específicos, definindo que a variação de todos eles seria de
O a 100 pontos. Assim, o IVJ passou a variar de O a 100, onde O é o território com o
IVJ mais baixo e 100 o território com o IVJ mais alto. O HH também passou a variar
entre O a 100, onde O é o território com as mais baixas taxas de homicídio
observadas na cidade e 100 o território com as mais altas taxas de homicídio
observadas na cidade. O percentual de negros na população passou a variar entre O
e 100, onde O é o território com a mais baixa proporção de negros na cidade e 100 é
o território com as mais altas proporções de negros na cidade. Por fim, o percentual
de brancos na população passou a variar entre O e 100, onde O é o território com a
mais baixa proporção de brancos na cidade e 100 é o território com as mais altas
proporções de brancos na cidade.
Embora a disposição das variáveis apresentadas no Gráfico 7 não demonstre
uma correlação linear entre todas elas, definindo que nos territórios com alto Índice
de Vulnerabilidade Juvenil haja, necessariamente, altas taxas de homicídios de
homens de 15 a 29 anos, a interação entre as variáveis é evidente. De modo geral,
é possível observar que, nos territórios onde se verifica a menor proporção de
negros (CS4, CS1, CS2 e 05), constatam-se também os mais baixos Índices de
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4. APONTAMENTOS FINAIS
O trabalho realizado ao longo de 2017 pela Comissão Especial de Estudo
iniciou, de forma inédita na Câmara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), um
processo de escuta e diálogo entre agentes de órgãos públicos, de instituições
acadêmicas e da sociedade civil com foco no enfrentamento aos homicídios de
jovens negros e pobres na cidade. Com o desenrolar de uma série de reuniões,
audiências públicas, visitas técnicas e seminários, foi possível conhecer diferentes
perspectivas sobre o problema e apontamentos para a construção de políticas
públicas e outras intervenções, considerando, dada a competência da Comissão, o
Executivo municipal como a principal esfera de incidência.
Ficou demonstrado que a violência sofrida pelos jovens negros e pobres é um
fenômeno multifacetado, que exige a construção de ações articuladas e
intersetoriais. Nesse sentido, como foi reiterado nas várias discussões, é necessário
atuar em todos os níveis de governo — do local ao nacional, tendo em vista também
o contexto internacional — e junto aos poderes Legislativo e Judiciário, bem como
desenvolver estratégias de governança entre tais instâncias e setores com ampla
participação social. Assim, é fundamental que as diversas instituições de defesa da
cidadania não sejam omissas e assumam as suas devidas responsabilidades,
buscando desnaturalizar e interromper a reprodução da violência letal contra jovens
negros e pobres.
A seguir, são feitas recomendações que sintetizam as diferentes contribuições
registradas pela relatoria da Comissão. Esta sistematização reflete um primeiro
esforço institucional articulado em escala municipal, ainda que incipiente, para o
enfrentamento à violência e ao genocídio contra a juventude negra e pobre em Belo
Horizonte, como diagnosticado no estudo descrito anteriormente. É certo que tal
esforço requer continuidade e a participação de diferentes instituições e entidades
do poder público e da sociedade civil. Em função disso, são sugeridos caminhos
possíveis para a superação dessa terrível e inaceitável realidade em Belo Horizonte.
Ressalte-se, por fim, a insuficiência da relatoria da Comissão, inclusive em
função da não disponibilização de suporte técnico especializado pela CMBH, fator
que limitou a capacidade operativa e analítica do trabalho. Ademais, é de extrema
importância que este relatório parcial seja revisado, qualificado e aprofundado com
sugestões e críticas de pessoas, instituições e movimentos interessados.
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4.1. Recomendações
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c) Acesso à Justiça
• Instituição de Núcleos de Prevenção à Criminalidade nos territórios com
maior incidência de homicídios e vulnerabilidade social, com o objetivo de
ampliar a garantia de direitos e priorizar a resolução não violenta de conflitos;
• Fortalecimento do sistema socioeducativo, com plena integração à rede de
proteção social, também em articulação com cidades da Região
Metropolitana de Belo Horizonte e do interior do estado;
• Acompanhamento integral, pela rede de proteção social, das famílias e dos
adolescentes que cometeram atos infracionais, durante e após o
cumprimento das medidas socioeducativas;
• Estabelecimento de parcerias com universidades e faculdades de Direito para
acompanhamento e assessoria jurídica voltada a jovens pobres e suas
famílias.
d) Participação social
• Criação e consolidação de mecanismos de participação social para
formulação, execução, avaliação e monitoramento das políticas públicas de
enfrentamento ao genocídio da juventude negra;
• Fortalecimento dos conselhos de direitos, a exemplo do Conselho Municipal
de Promoção da Igualdade Racial e do Conselho Municipal de Juventude;
• Fortalecimento do Grupo de Trabalho Prevenção à Letalidade de Jovens e
Adolescentes, instituído em 11 de dezembro de 2017 27 , com o objetivo
elaborar, de forma articulada e integrada, propostas de ações intersetoriais
para prevenção à letalidade de jovens e adolescentes no município. Trata-se
de uma importante iniciativa da Prefeitura de Belo Horizonte; contudo, é
necessário garantir processos participativos de elaboração, avaliação e
controle social, para assegurar o engajamento da sociedade e dos próprios
jovens como protagonistas desse trabalho.
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0 1 CÂMARA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE
, Dirleg Fl.
e) Estudos e dados
• Produção de dados municipais sobre raça, etnia, sexo, identidade de gênero
e orientação sexual, idade e aspectos socioeconômicos da população para
adequada formulação e avaliação das diferentes políticas públicas;
• Criação de um Observatório Municipal Permanente da Violência, dedicado à
produção de estudos e tratamento de dados sobre violência em Belo
Horizonte, com participação de instituições e entidades do poder público e da
sociedade civil;
• Análise dos dados, em articulação com dados estaduais e nacionais, a fim de
subsidiar a elaboração e a execução das políticas públicas.
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