1. O Contexto metropolitano colonial no século XVIII Um "Ilustrado" na
Corte Portuguesa A ascensão de Dom José I ao trono luso, em 1750, representou um marco importante para o Brasil e para o Estado português do século XVIII. O soberano escolheu como ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, denominado posteriormente Marquês de Pombal, que dirigiu com autoridade e energia as atividades da metrópole e das colônias, a ponto de esse período se tornar conhecido como "período pombalino".
As intervenções de governantes enérgicos não ocorriam apenas em Portugal.
Toda essa fase da vida européia, no século XVIII, foi marcada pelo chamado "despotismo esclarecido", a tentativa de alguns Estados que não haviam passado por um processo revolucionário do tipo burguês clássico de conciliar as idéias iluministas à prática política e econômica. O governo do Marquês de Pombal constituiu um bom exemplo dessa proposta reformadora, uma vez que dela se serviu para modificar o curso da política colonial portuguesa. Portugal arrastava-se numa crise econômica de grandes proporções, há várias décadas, devido principalmente à perda de suas possessões na África e Ásia, no decorrer do século XVII, e também por causa do Tratado de Methuen, assinado em 1703 entre os governos português e inglês. Olhos para a Amazônia no séc. XVIII – a Amazônia Colonial sempre se constituiu num grande problema para a Metrópole Portuguesa, no que dizia respeito à sua ocupação efetiva. O constante assédio de estrangeiros, tornava imperiosa a sua conquista e ocupação. As dificuldades para deslocar colonos para a Amazônia tornou- a celeiro de degradados, que, com a justificativa de virem cumprir suas penas eram enviados para as Capitanias do Grão-Pará e Rio Negro, onde assumiriam a condição de colonos. A escassa população branca sempre presente nas referidas capitanias, tornava quase que impossível a organização de sua defesa, coisa que só seria conseguida com sua efetiva ocupação. Nesse sentido, a política pombalina traçada para a Amazônia procurava superar os obstáculos colocados à sua colonização, através da execução de um projeto que visava transformar o índio em colono. Assim, como grande dirigente das rédeas do Estado Português, Pombal formulou uma política indigenista que objetivava emancipar os índios, retirando-os da tutela das ordens missionárias e procurava integrá-los à população branca. Nesse sentido, o esforço de fazer do índio um colono, a estratégia-chave foi a implantação do Regime do Diretório. 2. A Era Pombalina A ascensão do Marques de Pombal, ao governo de Portugal, representou uma modificação na concepção do governo metropolitano acerca das relações Metrópole- Colônia, embora permanecessem os princípios norteadores de tais relações. A experiência de Pombal em Londres e Viena, como representante português, permitiu- lhe avaliar de perto os motivos da supremacia inglesa e constatar a situação de atraso em que Portugal se encontrava em relação a seus concorrentes. A ideia de que o reino português encontrava-se ainda no século XVIII, em situação de atraso frente aos outros países da Europa Ocidental, principalmente a Inglaterra e a França, faz parte do imaginário social construído no período, tendo sido exteriorizada em inúmeros trabalhos apresentados à academia Real de Ciências de Lisboa por personalidades portuguesas. Decidido a colocar Portugal à altura dos “novos tempos”, Pombal empreendeu uma série de reformas, que iam desde a reorganização econômica do reino até ao reordenamento da cultura, através de reformas na educação. Antônio Paim considera que a construção de um novo ideário pela elite portuguesa, nos moldes dos valores norteadores da chamada “modernidade” não se restringe ao período em que Pombal esteve à frente do governo português, tendo sua origem muito antes e uma continuidade depois. Nesse novo ideário, a ciência adquire o sentido de ciência aplicada, ou seja, a ciência que se aplica à sociedade, o que permite a formulação de uma política de base científica para o Estado. Por isso, as reformas feitas no sistema de ensino centravam- se na profissionalização, sendo exemplo disso a instituição da Aula do Comércio nos Estudos Menores. A ciência experimental, condição sine qua nonpara o progresso, era vista como a única garantia de se tirar Portugal da situação de atraso em que se encontrava e de introduzi-lo na “modernidade”, representando a educação nesse processo um importante papel. Na sua essência geral o projeto pombalino caracterizaria em uma postura regeneradora sobre o estado português, onde tomariam parte alguns elementos da elite luso-brasileira, onde um dos princípios desta nova postura seria a reavaliação acerca das condições envolvendo as relações Metrópole–Colônia, haja visto que o Brasil começaria a ser colocado como centro de atenções deste projeto, dado numa perspectiva de melhor execução do potencial de suas riquezas, uma vez que julgou- se O que foi Methuen? O Tratado de Methuen, estabelecia que Portugal, com uma economia destruída pelas décadas de dominação espanhola e de lutas pela restauração de sua independência, se comprometeria a adquirir tecidos de lã ingleses, enquanto a Grã–Bretanha se comprometeu a adquirir os vinhos produzidos em Portugal. Os efeitos do tratado foram desastrosos para o Estado português, pois impediu o franco desenvolvimento das atividades manufatureiras naquele pais e ao mesmo tempo caracterizou a dependência econômica de Portugal em relação à economia britânica. serem sub-aproveitadas, levando a possíveis desperdícios ou desvios sobre esta apuração econômica, visto em particular sobre o cenário amazônico. Uma Nova visão colonialista – reestruturação, austeridade fiscal e uma nova etapa de ocupação colonialista seriam os princípios desta nova ordem política em Portugal. O fato desta estimativa de sub-aproveitamento, justificaria em especial o interesse metropolitano em suas disposições sobre a Amazônia, em cujas reformas realizadas sobre vários setores, da estrutura colonialista, como forma de promover o reforço ou a regeneração do Estado Metropolitano Luso. Não bastava apenas racionalizar a exploração da Colônia para torná-la mais eficiente, onde haveria de igual maneira uma necessidade de defendê-la da cobiça estrangeira, onde o contexto amazônico refletiria bem estas precauções, onde deveria ser estabelecida uma imediata demarcação sobre a fronteira norte, principalmente por conta de uma insignificante presença de colonos portugueses. Por conta disto houve a proposta de transformar os índios como colonos em potencial, uma idéia já muito antiga nos desdobramentos do Estado metropolitano português e que por hora, voltara a ganhar força de interesses, sendo a única alternativa viável, sendo reforçada por conta do episódico terremoto que arrasaria Lisboa, gerando muitas perdas humanas.
Região amazônica anterior ao século XVIII
3. Índios Colonos e Cidadãos
A proposta de transmutar o índio para colono, implicaria em reconhecer-lhe a condição de pessoa, ser humano, como possuidor de direitos naturais de um homem livre, o que seria incompatível com a condição escravista, a qual alguns estariam sujeitos. Para tanto Pombal estabeleceria uma política indigenista, na medida em que criou medidas legais que proibiriam a escravidão deste por qualquer indivíduo ou instituição que fosse. Uma destas prerrogativas seria a própria retirada dos indígenas que estivessem sob a tutela das antigas ordens religiosas missionárias (no caso em destaque os Jesuítas). Assim, os indígenas teriam reconhecidamente direitos pertinentes a cidadãos portugueses, onde se tornariam desde trabalhadores assalariados, até mesmo a própria condição de colonos, que seriam as peças fundamentais ao projeto de interiorização dos interesses portugueses, onde para tanto, Pombal determinaria que fosse obrigatório o ensino da l[íngua portuguesa nas antigas aldeias de catequese (Aldeamentos), onde até então se manteve o uso da chamada língua–geral (Nheengatú), grande utilitária das ordens religiosas. Nesse sentido, o marques de Pombal colocaria em vigor a Lei de 6 de junho de 1755, complementada pelo Avara de 7 de junho de 1755, que revogava “todas as Leis, Regimentos, Resoluções e ordens, que desde o descobrimento das sobreditas Capitanias do Grão Pará e Maranhão, até o presente dia permitiriam ainda em certos casos particulares a escravidão dos referidos índios. Tal situação foi uma constante no Brasil colonial e principalmente na Amazônia, onde o trabalho indígena sempre foi a grande alternativa de mão-de-obra para os colonos. Procurando tolher toda e qualquer possibilidade de ser descumprida, a lei estabelecia a “imediata prisão de todos aqueles que teimassem em fazer índios cativos, despojando-os dos direitos de ‘Homenagem, Alvará de fiança, ou fieis Carcereiros’...”. Na tentativa de regular a utilização do trabalho indígena pelos colonos, a lei de 1755 reinstituiu a obrigatoriedade do pagamento de salários, estabelecendo que estes deveriam corresponder igualmente ao que se pagaria aos artífices. Por conta da presente aversão dos índios em trabalhar para os colonos, a alternativa inicial de transformá-los em colonos, ao contrário de assalariados acabaria sendo cada vez mais viável, onde além de ser declarado cidadão livre, deveria também ser reconhecido no direito à posse da terra, para assim atuar como um agricultor produtivo. As vilas – com o objetivo de institucionalizar as áreas de esta nova ocupação, no espaço em que os índios ocupariam, foi também determinado pela mesma lei (1755) que as aldeias mais populosas em que estes habitassem, fossem assim elevadas a condição de vilas, assim como as áreas adjacentes em que estes habitassem, garantindo-lhes a posse hereditária da propriedade. Para melhor executar este empreendimento, Mendonça Furtado, irmão do grande marquês, foi encarregado do governo do Pará, onde preocupado com as etapas desta estruturação e, ao mesmo tempo sendo fiel a esta “doutrina do índio cidadão”, procurou igualar brancos e índios em direitos, no que estimularia ao casamento destes, com o objetivo de alargar ao povoamento das vastas terras desta região, habilitando-os assim pelo caminho matrimônio como uma nova força de ocupação, “sem que aquele sangue lhes sirva de embaraço... e que os principais (chefes) seus filhos e filhas, e com quem casar, são nobres e gozarão de todos os privilégios que como tais lhes competem”. 4. O Estabelecimento do Diretório O principal ponto deste planejamento colonialista dado no século XVIII caracterizaria a instituição do Regime do Diretório, o que representaria ao novo perfil da estrutura cultural colonial: seria a laicização da administração das povoações indígenas existentes no Estado do Grão Pará e Maranhão, onde se reconhecia a incapacidade indígena de gerenciar seus próprios interesses. Observaria que dado sua suposta rusticidade, necessitariam de um Diretor, nomeado pelas autoridades, para o gerenciamento dos referidos índios, utilizando-se de atribuições como o ensino religioso e a própria educação a partir da língua portuguesa, tidos assim como mecanismo para uma melhor evolução de civilização. No seu contexto de atuação, a realidade observada entre documentações seria de maneira contraditória, uma vez que parte significativa das populações indígenas não ficaria tão afeita as disciplinas de trabalho capitalista, uma vez que a cultura indígena (até entre algumas Missões), manteria uma visão de subsistência em suas produções, resultando em problemas na estrutura de abastecimento para as tropas, assim como para a cidade, uma vez que estes “novos trabalhadores” constituiriam resistência com seus fundamentos de vida e trabalho cotidianos. De igual maneira, as atribuições do Diretor em suas demandas de nomeações para suprir as organizações das novas vilas, seriam vistas também de pouca eficácia, uma vez que para contornar a necessidade da escassez de colonos brancos no Norte, terminariam por preencher cargos de autoridades ordinárias com os próprios índios, os quais receberiam tais dignidades, mesmo que não passassem de meros remadores de canoas. Por vezes estes jamais seriam levados ao grau de respeito por parte dos colonos brancos, que entre uma e outra relação conflituosa de insultos, receberiam ainda o termo pejorativo de pretos, como marca da lembrança sobre sua condição anterior, que teimava-se não existir mais! No seu contexto de execução, a figura do Diretório representaria um esforço estupendo de integração do índio à sociedade colonial, contribuindo decididamente para intensificar a desorganização de seu modo de vida, e para tornar suas condições de sobrevivência praticamente insuportáveis, aproximando estes indivíduos despossuídos de outros grupamentos, em idênticas condições desta população, onde tais identidades gerariam laços de solidariedade entre articulações sociais, que iriam estreitar-se numa posterior revolução cabana, assim como promoveriam posteriormente em outras formas de resistência coletiva (Mocambos quilombos), frente aos interesses de um Estado dirigente e sócio- alienante. Portanto, na prática, se antes os índios estariam “entre a cruz e a espada”, ou seja, ou era aculturado pelo controle e educação religiosa (catequese) dos missionários ou seriam diretamente escravizados, pela força, nas mãos dos colonos europeus, a partir da interferência das Políticas Pombalinas sobre a região amazônica, sobretudo a partir do Regime do Diretório, os povos indígenas, pelo não cumprimento efetivo das determinações e normas do Diretório na região, os indígenas sofreram intenso processo de distribalização, bem como maior exploração por parte dos colonizadores portugueses, pois com a morte do rei Dom José I, o ministro Marquês de Pombal é demitido e todo seu projeto de reformulação colonial sofreu grande interrupção.
TEMPO DE CONSTRUÇÃO DA FORTALEZA DE SÃO JOSÉ DE MACAPÁ
Com quase 20 anos de construção, a fortaleza foi inaugurada no dia 19 de março de 1782
MÃO DE OBRA EMPREGADA
A sua construção empregou, além de oficiais e soldados, canteiros, artífices e trabalhadores africanos e indígenas. Eram pagos 140 réis diários aos primeiros contra apenas quarenta réis para os segundos.
ORIGEM DAS PEDRAS
A construção da Fortaleza de São José de Macapá contou com rochas, exclusivamente, encontradas no Rio Pedreira e na Ilha de Santana. Essa conclusão faz parte de uma tese de doutorado apresentada ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para colaborar com a conservação e manutenção do monumento.