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INTRODUÇÃO
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Cardiologia da Família
O PSF não surgiu para resolver todos os problemas, mas com o intuito de tratar
com desigualdade os desiguais, ou seja, dar mais atenção a quem mais precisa. Com
isto, estaremos praticando promoção, prevenção e preservação da saúde. E é
justamente baseado nestes objetivos que o Fisioterapeuta se insere neste contexto
que é a Saúde Coletiva.
O artigo primeiro do Código de Ética do Fisioterapeuta diz textualmente: “O
Fisioterapeuta e o Terapeuta Ocupacional prestam assistência ao homem, participando
da promoção, tratamento e recuperação de sua saúde”. Sendo assim, entendemos
que ao cuidar do homem, o Fisioterapeuta deve não somente preocupar-se com a
queixa do cliente, como também procurar dar assistência para promover a Saúde do
mesmo. Desta forma este capítulo tem um objetivo de não só mostrar a abordagem do
Fisioterapeuta frente às doenças cardiovasculares, mas principalmente de mostrarmos
a sua atuação na prevenção e promoção da saúde cardiovascular, com o controle dos
fatores predisponentes dessas doenças.
A abordagem terapêutica das doenças cardiovasculares apresenta-se como
um grande desafio para os membros da equipe de saúde, por apresentar uma dimensão
biopsicossocial. Nesse sentido, o fisioterapeuta precisa ir além do programa de
reabilitação cardiovascular, que consiste na elaboração de exercícios supervisionados,
com o intuito de manter, melhorar ou restabelecer a função perdida.
Detectada a doença, o objetivo do tratamento passa a ser a prevenção de
complicações. Porém, nem sempre os resultados são satisfatórios, já que o tratamento
requer mudanças no estilo de vida, nos hábitos individuais e familiares. Embora, em
alguns casos, a doença cardiovascular possa causar um fortalecimento dos laços
familiares, em outros, ela pode tornar-se um meio de estresse e conflito, devido à
necessidade de se modificarem a estrutura e os hábitos de vida da família. Pacientes
com insuficiência cardíaca congestiva relatavam ressentirem-se muito mais do prejuízo
que a doença lhes causava no aspecto afetivo e familiar do que das restrições físicas
impostas pela doença.(1) Assim, diante dessa demanda, fica evidente a necessidade de
implantação da equipe interdisciplinar e a inclusão da família do paciente nesse contexto.
Como a doença cardiovascular pode causar diferentes níveis de comprometimento
físico e social, a responsabilidade do paciente em aderir ao tratamento deve sempre
ser preconizada. A premissa de que o objetivo terapêutico é controlar a doença,
prevenir complicações futuras e manter as funções íntegras, deve ser instituída junto
ao paciente, cuja responsabilidade pelo êxito da terapêutica deve ser colocada de
forma clara e objetiva. No entanto, a inserção da família nesse processo pode aumentar
a adesão ao tratamento.
Além disso, a família precisa estar ciente de que as modificações no estilo de
vida beneficiarão não apenas o cardiopata membro da família, mas também todos os
demais e que, a isso, se dá o nome de prevenção.
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O Expert Committee on Professional and Technical Education of Medical and
Auxiliary Personnel da Organização Mundial de Saúde - OMS(2) estabelece que o foco
da educação em saúde precisa estar voltado para toda a população e com vistas à
ação, encorajando as pessoas a adotar e manter padrões de vida sadios e a perceber
que a saúde é uma necessidade e uma conquista. Sendo assim, quando as motivações
estão presentes, é esperado que haja uma mudança no comportamento para a busca
da saúde. Os sintomas de doença e a ameaça à vida de um membro da família podem
motivar alterações nos hábitos de vida daquele grupo familiar.
A verificação da mudança do estilo de vida precisa ser regularmente avaliada
por meio de questionários e de visitas domiciliares, viabilizando as mudanças com o
uso de material educativo, além de dispor de tempo para discussão com o paciente e
seu grupo familiar a respeito das dificuldades encontradas e a elaboração de
estratégias para vencer os obstáculos. As modificações do estilo de vida passam
basicamente pelas alterações nos fatores de risco cardiovasculares.
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Cardiologia da Família
FATOR DEFINIÇÃO
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Fig. 1: Relação entre a associação de até 03 fatores de risco: colesterol = 250 mg/dL + pressão arterial sistólica = 160 mmHg
+ fumo = 1 maço de cigarros/dia. (FONTE: American College of Sports Medicine, 2003, p. 4.)
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Cardiologia da Família
Abandono ao Fumo
Estima-se que no Brasil, cerca de 40% dos homens e 25% das mulheres fumam,
sendo que, nos estados do sul, esses índices tornam-se ainda maiores.(5) O tabagismo é
o principal fator causal evitável para o desenvolvimento de doenças e taxa de
mortalidade. Admite-se que aproximadamente 20% das mortes do mundo desenvolvido
sejam atribuídas ao fumo.(7,8)
Os efeitos deletérios do tabagismo à saúde são de conhecimento público, apesar
disso, muitos fumantes continuam a consumir seus cigarros, ainda que a maioria deles
manifeste o desejo de abandoná-los. Trata-se, portanto, de uma droga com elevada
capacidade de provocar dependência e com taxas de recaída, após um ano de
abandono, que chega a atingir 95%.(9)
Existe pouca evidência de que o programa de Reabilitação Cardiovascular com
exercícios supervisionados isoladamente resulte na redução do consumo de cigarros.
No entanto, o fisioterapeuta, pela sua proximidade com o paciente, pode estimular o
abandono ao fumo e encaminhar o paciente para os profissionais de saúde, capazes
de propor intervenções no âmbito educacional, comportamental e de aconselhamento.
Em geral, essas estratégias conseguem êxito de 15 a 25% dos casos, sendo que essas
taxas podem chegar a 70% naqueles com DCV relacionada ao fumo.
Dentre as estratégias propostas pelo Department of Health and Human Services,
Public Health Service, Agency for Health Care Policy and Research(9) para abandono ao
fumo, a família do fumante exerce um papel fundamental (Quadro 1), pois, auxilia o
fumante a enfrentar um dos momentos mais difíceis, a crise de abstinência.
Aproximadamente ¾ dos que tentam abandonar o vício apresentam pelo menos uma
crise de abstinência que, embora não traga ameaça à vida, é extremamente perturbadora.
A vontade de fumar aumenta progressivamente, atingido seu ápice dentro de 24 horas
após a interrupção. Aparece então a irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração,
aumento do apetite, distúrbios do sono, etc. Esses sintomas tendem a desaparecer após
duas semanas de cessação do fumo, mas a compulsão pelo ato de fumar pode perdurar
anos. Portanto, sem o apoio da família, as chances de êxito reduzem substancialmente, já
que apenas 3% dos fumantes conseguem abandonar o fumo espontaneamente.(10)
Além disso, é preciso ressaltar que os efeitos deletérios do cigarro não acometem
apenas os portadores do vício. Estudos epidemiológicos mostram um aumento de até
30% no risco de morte por cardiopatia isquêmica e infarto do miocárdio em cônjuges
de fumantes, conforme o grau de exposição, além de alterações cardiovasculares
agudas e redução da capacidade funcional.(9,11)
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Quadro 1: Algumas Estratégias para Auxiliar o Paciente a Abandonar o Fumo.
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Cardiologia da Família
Exercício Físico
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Apesar de os benefícios da prática regular de atividade física serem
largamente conhecidos por toda a população, a adesão ao programa de reabilitação
cardiovascular torna-se um grande desafio para o fisioterapeuta. Cerca de 70% da
população brasileira são completamente sedentários e o gasto energético diário é
de aproximadamente 500 kcal, o que equivale a cerca de 180.000 kcal/ano a menos
do que há 100 anos.
O atual estilo de vida é responsável por 54% do risco de morte por infarto do
miocárdio e por 50% do risco de morte por acidente vascular encefálico, que
constituem as principais causas de morte no Brasil atualmente.(17) Além disso, as altas
taxas de desistência realçam ainda mais os problemas do comportamento
relacionado à saúde.
Dados norte-americanos apontam que as taxas de desistência variam de 9 a
87% e é maior nos 3 primeiros meses. Um dos fatores que pode explicar a “falta de
motivação” para o exercício é que se trata de uma atividade voluntária e que dispende
um certo tempo, portanto, compete com as outras responsabilidades de vida diária do
indivíduo, principalmente com sua dedicação ao trabalho e à família, o que representa
50% dos casos de desistência nos programas de reabilitação.(14)
Além de educar as pessoas para a adoção de práticas de atividades físicas, é
necessário motivá-las e estabelecer estratégias motivacionais que podem aumentar o
entusiasmo e a adesão ao programa de exercícios a longo prazo. A recomendação
enfática por parte do médico constitui um dos fatores isolados de maior importância
para a participação do paciente no programa de exercícios. Por outro lado, a prescrição
do exercício, com relação à intensidade-duração e freqüência, deve ser realizada por
profissionais especializados: fisioterapeutas, para os indivíduos portadores de
disfunções, e professores de educação física para indivíduos absolutamente
saudáveis.(18) Com certa freqüência, a falta de uma orientação do exercício, por
profissionais especializados, acarreta abandono da atividade nos primeiros três meses,
devido ao fato de os indivíduos não verem os resultados esperados ou serem acometidos
por lesões musculoesqueléticas, decorrentes da má adequação da atividade física à
capacidade funcional do indivíduo.
Um outro fator que aumenta a adesão ao exercício é a constituição de grupos
de exercícios. Indivíduos que se exercitam sozinhos permanecem menos tempo no
programa do que aqueles que se incorporam a grupos, pois os compromissos assumidos
em grupos tendem a ter maior solidez do que os assumidos individualmente(14). A
participação da família e principalmente do cônjuge parece desempenhar um papel-
chave nessa questão. Os pacientes, cujas esposas apresentam uma atitude positiva
com relação ao programa de exercícios, exibem uma taxa de adesão de 80%,
comparados com apenas 40% quando a esposa mostra neutralidade ou não apóia o
programa.(14)
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