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Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.

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Domingo, 15 de Abril de 2018 ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO N.º 10.221 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE

Caramulo A glória
e a ruína da vila onde
Portugal se tratou P10 a 15
Adam Kampff
“Não precisamos de mais
dados, precisamos de
ideias melhores”P20 a 23

NUNO FERREIRA SANTOS

“A fé tem de ser
uma escola do desejo”
Entrevista a José Tolentino Mendonça P4 a 9
4afef307-0fc4-446e-8509-41f17eead690
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2 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Índice
4 10 16 20
Tema de capa Entrevista: A glória e a Estação Imagem Entrevista Adam Kampff
Tolentino Mendonça ruína da vila Próxima paragem, “Não precisamos de
“Deus é um problema onde Portugal Coimbra mais dados, precisamos
também para os crentes” se tratou de ideias melhores”

Ficha técnica Director David Dinis Directora de Arte Sónia Matos Editor Sérgio B. Gomes Designers Marco Ferreira e Sandra Silva Email: sgomes@publico.pt

Semana ilustrada Por Eduardo Salavisa

Mark Zuckerberg foi a


Washington. O embate com os
legisladores era antecipado como
um confronto entre o poder
político e os ideais de Silicon
Valley, tipicamente avesso a
regulação, pouco preocupado
com as leis e frequentemente
libertário — o próprio Facebook
teve durante anos uma espécie
de lema informal: “Mexe-te
rápido e parte coisas.” Não há
dúvida de que estão partidas.
Mas o confronto não foi muito
sangrento. No segundo dia,
os políticos na Câmara dos
Representantes tiveram um tom
mais agressivo do que os vetustos
senadores. Porém, o conteúdo
das duas sessões foi semelhante.
Algumas perguntas revelaram
falta de preparação (algo que
abundava num quase sempre
sisudo Zuckerberg) e as que foram
certeiras acabaram deflectidas
pelo evasivo presidente do
Facebook — que disse mais
de 40 vezes que ia instruir
os subordinados para dar as
respostas que ele não tinha. Pelo
meio, soube-se pouco de novo.
Uma das novidades: até os dados
de Zuckerberg foram apanhados
pela consultora Cambridge
Analytica. João Pedro Pereira

Palavras, expressões e algumas irritações Por Rita Pimenta

Artes Plural de “arte”, que um dicionário


de português do Brasil regista
assim: “Atividade que supõe
a criação de sensações ou de
é”, terão pensado os artistas.
Enganaram-se.
Recentemente, reclamaram
a distribuição de apoios pela
coragem para se dotar a cultura
nacional de instrumentos que
evitem este estado de perda
permanente, dando início a um
Elenco: António Costa (director
artístico e actor principal); Catarina
Martins e Jerónimo de Sousa
(actores secundários); Mário
estados de espírito, em geral de Direcção-Geral das Artes, numa processo de reformulação do Centeno (ponto, “indivíduo que
caráter estético, mas carregados inédita (e tardia) união das modelo de apoio às artes.” Soa dá indicações aos actores ou
de vivência íntima e profunda, companhias de teatro e de outras bem. lhes relembra o texto, lendo-o
podendo suscitar em outrem o artes: “Estamos certos de que Foi criada uma comissão de em voz baixa”); Castro Mendes
desejo de os prolongar ou renovar.” é um momento histórico. Resta artistas que junta centenas de (arrumador, “leva os espectadores
Pensa-se logo em Mário Centeno e perceber se será recordado como agentes e instituições (para lá aos seus lugares”); Miguel Honrado
em António Costa, não é? o momento em que este Governo dos protagonistas de sempre) (figurante). Para castings em stand-
É vê-los a toda a hora em salas desistiu da cultura e assumiu e que foi recebida por Costa. up comedy, o Estádio de Alvalade
de espectáculo, a retribuir o beija- como definitivo um modelo que Ficou garantido “um trabalho é um bom cenário. E Costa e
-mão que se seguiu à investidura está a destruir muito do que foi concertado entre agentes e tutela Centeno gostam de ir à bola.
da esquerda maioritária eleita… construído, ou como o momento para um novo modelo”. Soa bem.
para o Parlamento. “Agora, é que em que houve disponibilidade e E a encenação. rpimenta@publico.pt
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 3

24 25 30 31
Tecnologia O que é um computador? Lazer Festival Estar bem Crónica
Televisão The Crossing: Leiria aos Nem só de carne e Sobre a participação
é bom ou mau associar uma museus frutos secos se alimenta das crianças
nova série a Perdidos? um crossfitter nas notícias

Instagramar @peterzelewski A seguir


Hermon e Heroda são gémeas Peter Zelewski em resposta é omitir a origem e status social cidade e as pessoas e é nelas que
idênticas e, inexplicavelmente, por email. O fascínio que sente de cada par. “Embora estejam se centra repetidamente quando
perderam a audição ao mesmo levou-o a desenvolver a série de vestidos de forma idêntica, são desenvolve novos projectos.
tempo, quando tinham sete fotografias Alike But Not Alike, perceptíveis diferenças entre O seu trabalho já foi publicado
anos. Polly e Sophie são que se centra nas diferenças os indivíduos retratados nas pelo The Huffington Post, British
gémeas monozigóticas que têm e semelhanças dos gémeos suas expressões faciais, no seu Journal of Photography, Time
impressões digitais praticamente idênticos e no estranho laço estado de espírito, na forma Out, Vogue, entre outros meios.
iguais, o que indicia um código que partilham. Inspirado nos como posam.” Duke e Joe são A sua conta de Instagram,
genético quase 100% idêntico. trabalhos de Mary Ellen Mark um bom exemplo de irmãos com @peterzelewski, existe desde
Chloe e Leah juram sentir a dor e Dianne Arbus, Zelewski já enormes semelhanças físicas e Setembro de 2015 e tem quase
uma da outra e partilhar uma colecciona mais de 40 retratos grandes diferenças ao nível da quatro mil seguidores.
espécie de canal telepático. de gémeos idênticos. personalidade — algo que se
“Existe algo de desconcertante Todos os retratos foram traduz na forma como posam Ana Marques Maia Bruno de Carvalho
no fenómeno dos gémeos realizados em Londres, ao longo para o retrato conjunto.
idênticos”, disse ao P2 o de três anos, em ambientes Peter Zelewski vive em Londres Ver mais em em banho-maria
fotógrafo norte-americano neutros da cidade — o objectivo desde os anos 1980. Adora a p3.publico.pt
Foi uma semana agitada para
Bruno de Carvalho, com várias
publicações polémicas no
seu Facebook, primeiro com
críticas aos jogadores, depois
com ameaças. Seguiu-se a
revolta dos atletas, o confronto
com outros dirigentes e a
indignação dos adeptos,
que levaram o presidente
“leonino” a recuar. Pelo meio,
dores fortes nas costas e o
nascimento da terceira filha.
Mas a próxima semana promete
voltar a ser intensa. Muito do
futuro da época do Sporting
joga-se nos próximos dias. No
campeonato, dependendo
dos resultados deste fim-de-
semana, os “leões” ficarão a
saber se ainda podem acreditar
no título. Na Taça de Portugal,
quarta-feira, a segunda mão
das meias-finais, contra o
FC Porto, irá tirar as dúvidas
sobre se o troféu que, neste
momento, está mais ao alcance
dos sportinguistas, vai passar
a ser uma miragem ou não.
Depois do que acontecer no
relvado, as atenções irão virar-
se para os gabinetes. Bruno
de Carvalho deverá ficar a
saber se sempre avançará uma
assembleia geral em que a sua
continuidade à frente do clube
deverá ser escrutinada. Nesta
altura, são vários os nomes
que têm apontado a porta de
saída a Bruno de Carvalho. Mas
o presidente “leonino” não
revela vontade de abandonar
o cargo, apesar das queixas de
ingratidão que vai lançando de
quando em vez.
Jorge Miguel Matias
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4 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Entrevista José Tolentino Mendonça


Vivemos numa sociedade de satisfação
permanente. Por isso, precisamos de
reaprender a ter sede. O novo livro de
José Tolentino Mendonça, que reúne os
textos das meditações feitas perante
o Papa e a Cúria Romana, acaba de ser
posto à venda. A propósito dele,
o padre-poeta diz que a espiritualidade
não se pode “confundir com um
conjunto de abstracções”
Por António Marujo texto
e Nuno Ferreira Santos fotografia

“Deus
é um
problema
também
para os O Elogio da Sede foi o tema
que o padre José Tolentino
Mendonça propôs ao
Papa Francisco, quando
que o também poeta e exegeta bíblico
propôs ao Papa e aos seus mais directos
colaboradores.
No tempo litúrgico que antecede e

crentes”
este o convidou a orientar prepara a Páscoa, os cristãos são chamados
os exercícios espirituais a repensar a sua vida à luz da fé que
da Quaresma para os responsáveis da professam. Esse desafio pode assumir
Cúria Romana — a primeira vez de um a forma de um encontro de reflexão
padre português. Com o mesmo título, ou meditação, muitas vezes chamado
foi anteontem posto à venda o livro (ed. “exercícios espirituais”, adoptando a
Quetzal) que reúne os textos das meditações expressão cunhada por Inácio de Loiola,
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 5

fundador dos jesuítas. “Um exercício proposta. “O silêncio com que vivemos este desejavas ter: ‘É só a Ele que eu cobiço, é só e artísticas que marcam também a sua obra
espiritual é, sobretudo, um momento de retiro podia interpretar-se como uma sede”, a Ele que busco e nada mais senão Ele.’ E se poética e ensaística. E é essa intersecção
encontro, uma viagem ao interior de si, uma acrescentava o padre português. te perguntar quem é esse Deus, responde permanente que transparece no seu livro.
abertura ao que pode ser a voz de Deus, No livro A Nuvem do Não-Saber, do final que é o Deus que te criou e redimiu, e por Que tem um único risco: o de se tornar,
um balanço da própria vida”, explicaria do século XIV — que muitos historiadores sua graça te chamou ao seu amor. Insiste que também ele, uma das grandes obras da
Tolentino Mendonça nesta entrevista. da matéria consideram “um dos mais belos acerca d’Ele tu nada sabes.” mística. A par de obras como A Imitação de
Foi isso que, durante cinco dias, entre 18 textos místicos de todos os tempos”, como Foi sobre essa busca e sobre tactear Cristo ou o já citado A Nuvem do Não-Saber.
e 23 de Fevereiro, aconteceu em Ariccia, recordava José Mattoso na edição portuguesa na procura de Deus que, nas suas dez Ou a par de nomes como Hildegarda de
perto de Roma: duas meditações diárias, (ed. Assírio & Alvim) —, o autor anónimo meditações, Tolentino Mendonça se Bingen, Juliana de Norwich, São João da
e o resto do tempo em silêncio, para escreve: “[À] pergunta: ‘Que buscas? Que debruçou, mesclando a investigação dos Cruz, Teresa d’Ávila, Etty Hillesum, Dietrich
cada pessoa se confrontar com a reflexão desejas?’, responde que era a Deus que textos bíblicos com as inspirações literárias Bonhoeffer, o irmão Roger de Taizé... c
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6 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Não é por
acaso que tanta
gente esteja a
dar à Igreja
Comecemos por uma pergunta
impressiva: o que se sente ao estar diante
do Papa, convidado por ele, a orientar
das Grandes Perguntas, acaba a falar
de ampliar o espanto como legado
daqueles que se amam. Estas meditações
uma segunda pergunto: qual é a primeira sede?...
Qual é a primeira sede?...
A primeira sede é a sede da sede, viver não
um retiro quaresmal?
Sentem-se três coisas. A primeira é uma
começam com o tema “aprendizes do
espanto”. Que espanto ou espantos se
oportunidade na administração das nossas certezas, mas
numa espécie de fronteira, numa espécie
grande humildade, porque toda a palavra
que dissermos é atravessada pela densidade
daquela vida, do que ele representa — e
devem aprender?
O grande perigo, numa viagem interior, é
habituarmo-nos à nossa própria vida e a
com o Papa de limiar, que faz do acto de crer ou do acto
de rezar uma forma de atenção: de atenção
a nós próprios, de atenção à vizinhança de
poucas vezes na minha vida me senti tão
pequeno. Depois, um grande sentido de
rotina acabar por dominar. É um fazer por
fazer, os acontecimentos são mecânicos. Na
Francisco. Deus, de atenção aos outros, à história...
No final do retiro, o Papa disse-me: “Uma
serviço e responsabilidade: estava ali porque
ele me convidou. E por fim, por estranho
que pareça, uma grande simplicidade e
vida dos padres, por exemplo, há um retiro
anual, que o próprio calendário impõe. E, a
dada altura, é como se um piloto automático
Muitas vezes até das coisas que achei importante foi dizer que
Deus tem sede das nossas sedes.” Esse é um
bom resumo da proposta que fiz.
naturalidade: eu era um padre a prestar
serviço a outros padres e era mais um a fazer
estivesse a comandar a nossa vida e já não
fôssemos nós próprios.
se ouve dizer Um dos aspectos da atenção aos outros
passa por uma das faces da sede
o que qualquer um pode fazer. Sentia-me a
fazer coisas muito normais.
E também a fazer o caminho que
O espanto é poder abrir os olhos, poder
dar-se conta do que somos, do que está
perto de nós, do que está longe. É ganhar
que ele é a única espiritual: a solidão. A dado passo,
cita uma história intensa do escritor
uruguaio Eduardo Galeano, que acaba
interessa ao Papa: como ele escreve
no prefácio, as meditações que
um olhar crítico sobre a nossa própria
realidade, perceber que muitos gestos, à
voz humana com a criança hospitalizada a pedir ao
médico: “Diga a alguém que estou aqui.”
propôs cruzam o estudo da Bíblia
com referências literárias, poéticas, a
actualidade e o quotidiano. Há um apelo
custa de os repetirmos, se tornam tiques
e manias, e se esvaziam da autenticidade
fundamental. Por isso, a primeira palavra do
no contexto da A companhia e o abraço do outro são
necessidades maiores?
São necessidades maiores, também para
a uma reflexão que seja também o que o
Papa propõe?
retiro é esse “espanta-me”, mais uma vez.
Como se pudéssemos ganhar um olhar novo,
ordem mundial o clero e para a Igreja, que foram os
primeiros destinatários desta palavra. É
Claramente. Quando ele me convidou, disse- um primeiro olhar sobre a nossa própria muito fácil, em todas as condições de vida,
me duas coisas: que me sentisse muito livre existência. É essa frescura que permite a experimentarmos a radical solidão do existir
e que fosse eu próprio. E que só ajudaria infiltração do espírito nas nossas vidas. e não encontrarmos interlocutores para as
com estas duas condições. Aceitei isso com
grande verdade, no sentido de que a minha
... e que leva ao tema da sede. Num outro
livro anterior, A Mística do Instante, já
Acabamos por grandes questões, para as grandes sedes que
trazemos no coração. Essa solidão torna-se
experiência de vida aparece muito reflectida,
tal como as minhas leituras ou o que me
escrevia que bebemos de muitas fontes
mas a sede volta sempre. A que sedes o nos consumir uma espécie de peso, de custo existencial,
com o qual nos conformamos: vivemos
parecem ser os caminhos do presente e do
futuro da Igreja...
Isso é feito num grande diálogo com o
cristianismo deve hoje dar resposta?
Escolhi o tema da sede porque ele me parece
indicar um património fundamental do
uns aos outros como podemos viver.
São necessários momentos de
revitalização na nossa vida, de
magistério do Papa Francisco e o que ele
representa, com o impulso reformista que
crer. Crer não é satisfazer-se, não é ter as
soluções nem ter encontrado as respostas. e não há um questionamento mais profundo, de pausa,
como os exercícios espirituais podem ser.
ele introduz a este tempo do catolicismo.
Estes cruzamentos dão-me a medida
do concreto. A teologia não pode ser uma
Crer é habitar o caminho, habitar a tensão,
viver dentro da procura. Nesse sentido,
mais do que estar saciados de Deus, os
verdadeiro Momentos que nos ajudem a romper com o
conformismo e a ouvir a solidão profunda
que temos dentro de nós. Não escutaremos
ideologia nem a espiritualidade se pode
confundir com um conjunto de abstracções.
crentes aprendem os benefícios da sede, a
importância de viverem no desejo de Deus,
encontro, uma a voz de Deus se não escutarmos também a
voz dessa ferida, desse peso de solidão que
Qual é o contributo da literatura? É trazer
uma “concretude” muito grande, é trazer
histórias de vida, modelos do vivido, do
na espera de Deus. Um crente não possui
Deus, não o domestica com os seus rituais
e as suas crenças. Ele vive na expectativa
hospitalidade muitas vezes nos esmaga, que muitas vezes
condiciona a nossa esperança, condiciona a
nossa alegria e que é preciso olhar de frente
pessoal, do individual para uma reflexão de
conjunto. Nesse sentido, é um papel muito
de Deus e da sua revelação, que, em
grande medida, é sempre surpreendente,
autêntica. e desconstruir.
Fala da relação como um alimento
grande, porque é uma espécie de zoom sobre
a realidade. É muito envolvente sentirmo-
nos dentro de uma história.
é sempre inédita. Por isso, a sede é um
lugar necessário no itinerário cristão, que
precisamos de revisitar.
Diminuímos invisível, que passa pela hospitalidade,
pela palavra, pelo cuidado e
afecto com os outros. Mas, hoje,
A grande vantagem de utilizar o texto
bíblico e a tradição espiritual cristã, mas
A dada altura, falo da necessidade de
revalorizarmos mais uma espiritualidade da
a nossa chamamos “amizade” a relações com
desconhecidos. Como trabalhar a
também a antropologia, o cinema, a
literatura, a pintura e as artes em geral
é permitir uma tradução existencial da
sede. E percebermos que, mais do que estar
a produzir respostas para perguntas que
não escutámos dentro de nós e dentro dos
capacidade relação, tendo em conta esta realidade?
A grande ideologia dominante, hoje, é o
consumo. Já não é tanto uma ideologia
mensagem cristã.
E isso é necessário?
outros, o importante é perceber a sede como
uma palavra que Deus nos diz. Deus coloca-
de esperar uns política, mas uma transversalidade que faz
de nós consumidores de alguma coisa e
Sim. Quando se propõem exercícios
espirituais, claramente não é para ensinar
doutrina às pessoas. Aquelas pessoas é que
nos numa situação, em acto, em experiência,
mais do que numa montra ou pódio onde
a vida já aparece concluída e rematada. O
pelos outros: ou é continuamente estimulados a isso. Qual é o
problema da sociedade de consumo? É que
ela não suporta a sede, não suporta o desejo.
me poderiam ensinar doutrina. Por isso é
que essa chamada ao real e ao concreto me
tempo da Igreja, o tempo da crença, é um
tempo de inacabamento, de construção, é
no imediato, ou Todos os desejos são para ser realizados
no mais imediato possível. A satisfação
parecem traços indispensáveis.
O seu livro anterior, O Pequeno Caminho
um estar a caminho, é um fazer-se. A sede
desempenha, aí, um papel fundamental. E aí já não funciona dos nossos desejos é colocada como uma
promessa fantasma ao alcance da mão.
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 7

É bonito ver que o primeiro acto de Deus


é o da criação. E da criação individual, de
cada um: da criação daquele Adão e da
criação daquela Eva e das outras criaturas.
Nós não somos cópias uns dos outros, não
somos simplesmente uma repetição, uma
massa, uma multidão indiferenciada. Pelo
contrário: cada um de nós é único, em cada
um de nós há uma revelação de Deus que é
singular, cada um de nós é uma estação do
mundo, é um primeiro dia da história. Por
isso é tão importante começar por aí. Para
mim, a experiência da fé é comunitária,
mas potencia a pessoa, o acordar de cada
um, o caminho que cada um pode fazer.
Nesse sentido, é fundamental perguntar
a cada um: qual é o teu desejo? O que
transportas dentro de ti? O que procuras?
Porque, na maior parte das vezes, não nos é
Qual é o problema? É que já não há águas, nos Salmos, o encontro de Jesus indiferentes, que se consomem nesta espécie concedida essa possibilidade de expressão
espaço para grandes sedes, para grandes com a samaritana, a última frase do de mercantilismo global que nos domina. Ou e desabituamo-nos tanto dela que, quando
desejos, porque vivemos numa sociedade de Apocalipse... de como acordar a vida, como acordar um nos fazem essa pergunta, nós estremecemos.
satisfação permanente. E de uma satisfação A Bíblia é um manual da sede. Podemos ver a desejo de absoluto, como acordar uma sede Tenho uma história curiosa com a
enganadora porque, verdadeiramente, Bíblia inteira a partir dessa dinâmica da sede de mais, uma sede de santidade, como diz o [escritora] Maria Gabriela Llansol. Ela leu
um desejo que se possa satisfazer de um e da água, mas de uma água que se acorda Papa na exortação apostólica que acaba de um texto meu, telefonou-me e marcou um
momento para o outro não é um verdadeiro dentro da própria sede. “Aos sedentos, eu publicar. encontro em Sintra. Apanhei o comboio,
desejo humano. Por isso, cada vez mais darei a beber a água viva”, diz Jesus — que E como se faz isso? ela foi esperar-me à estação. Quando
sentimos que não há espaço para que a vida é, no fundo, a água do espírito. Quando Valorizando a sede. A sede não é um saltei do comboio, cumprimentámo-nos e
alimente grandes sonhos, grandes paixões, Jesus diz “tenho sede”, a seguir entrega o tópico apenas religioso, a sede interessa começámos a caminhar. Fez-se um silêncio
grandes viagens, grandes utopias, grandes espírito. Isso é alguma coisa que acontece a toda a gente. Não somos pessoas se não e ela perguntou-me: “Tolentino, o que é que
generosidades... na dinâmica da nossa sede: a nossa sede tem olharmos com atenção para a nossa sede procuras?” Fiquei num embaraço enorme,
Ficamos presos ao imediato... muito a ensinar-nos. Precisamos de confiar e não a estimarmos ou potenciarmos. O porque não esperava aquela pergunta,
Isso faz de nós pessoas mais desencontradas mais na nossa sede e na sede do mundo. A que nos abre horizontes é a nossa sede, não vinha preparado para ela. Aquele
consigo mesmas. Esta sociedade da Igreja tem de confiar mais na sede do mundo não são as certezas provisórias que vamos embaraço deu-me muito que pensar depois
satisfação imediata deixa-nos muito e perceber que essa sede, que está no encontrando. e ainda me lembro dele porque é possível
insatisfeitos porque vivemos num coração do homem, é aliada de uma procura É o que diz Saint-Éxupery na epígrafe andarmos uns com os outros e cumprir
mecanismo de viciamento e impulso, e espiritual mais autêntica, mais radical. que coloca no livro: “Se quiseres uma vida aparentemente muito cheia e
não vivemos por ter alimentado, dentro de Cita o profeta Jeremias, que diz que o construir um navio”, detém-te primeiro nunca respondermos, com verdade, à
nós, de forma paciente, longa, discernida, povo cometeu um duplo crime: afastou- a acordar nos operários “o desejo do mar pergunta: “O que procuras? O que desejas?
demorada, um grande desejo, uma se de Deus, “nascente de águas vivas”, distante e sem fim”? O que trazes dentro do teu coração?” Isto
verdadeira vontade, um sopro de liberdade, e construiu cisternas rotas, que não No princípio, está o desejo. É esse desejo e não são detalhes de uma vida. Por aqui
de criatividade. Mas vivemos neste retêm as águas. Há um discurso cristão essa sede que são o motor de um caminho. Se passa o essencial do que somos, na nossa
condicionamento. que identifica a secularização com o quisermos conhecer uma pessoa, devemos construção. Por isso, a pergunta pelo desejo
Isto reflecte-se em todas as dimensões afastamento de Deus. Esta leitura é perguntar que sedes é que ela transporta, é muito importante e a fé tem de ser também
da nossa vida: é assim com as necessidades correcta ou reflecte as muitas sedes das que sedes nós permitimos que nos habitem. uma escola do desejo, onde se aprende a
elementares da vida e é assim com as nossas pessoas? São essas sedes — que não podem ser a sede desejar, a desejar mais, a desejar melhor, a
relações uns com os outros, que acabam No caso do profeta Jeremias, ele fala dos de poder, a sede do ter, do dominar, do desejar maior...
por ser, também, de consumo. Acabamos equívocos e das ambiguidades que fazem consumir, da violência, mas a sede de justiça, Falar-se em desejo, em contexto cristão,
por nos consumir uns aos outros e não há parte do caminho. Falar da sede não é um de solidariedade, de bem, de beleza — que nem sempre é bem visto. O tema da sede
um verdadeiro encontro, uma verdadeira discurso puro nem linear. É um discurso são capazes de nos avizinhar do sentido, pode ajudar os cristãos a reconciliar-se
espera, uma hospitalidade autêntica do onde está o confuso que também nos habita, da verdade da própria existência. Ignorar a com a ideia do desejo?
outro. Diminuímos a nossa capacidade de o confuso do mundo que é preciso iluminar nossa sede é desconhecer-se a si próprio, é Há um défice de sede. Mesmo nas nossas
esperar uns pelos outros: ou é no imediato e purificar. Para mim, é claro que temos ser um estrangeiro da sua própria vida. comunidades cristãs, há um défice de sede
ou já não funciona. E essa aceleração de olhar para a secularização e as culturas Essa reflexão sobre o desejo, que vem e de desejo. Quais são os sonhos que os
antropológica — que as tecnologias, contemporâneas não como uma barreira desde um dos seus primeiros ensaios cristãos têm? O que querem eles para o
os emails, os telefones têm acentuado para o anúncio de Deus, mas identificando, bíblicos, As Estratégias do Desejo, é mundo, para a vida, para a sociedade, para
— seca-nos por dentro e desumaniza- no coração do homem, aquilo que é o aliado surpreendente, na relação com o tema eles mesmos, para os outros? Que sonhos
nos. Uma sociedade de consumo é, de um discurso de fé, de confiança, de da sede. Quando cita nomes como Emily têm hoje os jovens? Que visões têm os mais
fundamentalmente, uma sociedade misericórdia. Isso passa por sintonizar com a Dickinson, a dizer que “a água é-nos velhos? O que procuram verdadeiramente
desumanizada. sede que existe dentro do coração humano. ensinada pela sede”, ou S. João da Cruz os adultos? A sede é muito importante
Este tema traz à memória muitas Porque a grande questão é antropológica, e outros místicos, damo-nos conta de porque contraria um certo catolicismo
referências bíblicas: o rio que regava existencial. No fundo, trata-se de saber como que o desejo não se opõe à razão e ao de manutenção, de subsistência, de auto-
o jardim do Éden, o poço de Jacob, o tornar o discurso de Deus relevante para conhecimento. Pelo contrário, confunde- referencialidade, que é uma espécie de
veado que suspira pela torrente das as nossas sociedades, em grande medida se com eles... pausa, de torpor, que bloqueia o c
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8 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

próprio espírito. O espírito desassossega o também se apresenta como mendigo do


cristianismo e fá-lo muito também através da homem”. É necessário outra perspectiva
sede. Se pensarmos nos grandes santos, nos sobre Deus?
místicos, nos cristãos empenhados, naqueles A forma como representamos Deus
que ajudaram a escrever páginas de história, acaba por determinar muito a nossa auto-
são sedentos, são pessoas que ardem dentro representação junto dos outros. Se temos
de um desejo e se deixam viver dessa a ideia de um Deus juiz, de um Deus
maneira. castigador da história, essa representação do
Cito, por exemplo, Dorothy Day, uma poder acabará por ser o traço distintivo da
mulher espantosa, cujo processo de nossa presença e do nosso anúncio.
beatificação foi já aberto. Foi sindicalista, Mas o Deus de Jesus é um Deus pobre,
anarquista, feminista, esteve presa muitas é um Deus desconcertantemente frágil,
vezes. E era católica, só que viveu um vulnerável. Um grande teólogo do século
catolicismo social muito empenhado na XX, Dietrich Bonhoeffer, diz que Jesus
causa dos trabalhadores, dos sindicatos... vem anunciar um Deus fraco, um Deus
... dos sem-abrigo... frágil. O Deus dos cristãos é um Deus
... dos sem-abrigo. E ela dizia isto: na Idade frágil. É um Deus que se anuncia não na
Média, havia por exemplo 500 leprosarias força, não no poder, não no exercício de
em França, geridas pela Igreja. Hoje, perante uma transcendência que nos esmaga,
problemas que são as novas lepras — ela mas no vagido de uma criança que nasce
falava, por exemplo, do desemprego e da na manjedoura de Belém ou no grito do
fragilidade e da precarização do trabalho crucificado no alto da cruz. O grito da
—, perguntava: o que fazem os cristãos em criança ou do crucificado representam-nos
relação a este problema concreto? Quantos um Deus diferente. Por isso é tão importante
lugares novos nós abrimos para acolher, que a teologia nos ajude a fazer um exercício
pensar e reinterpretar as feridas e os dilemas crítico em relação às imagens de Deus, que
da nossa época? têm de ser purificadas, para que a nossa
O Papa tem sido um motor extraordinário inscrição no mundo traduza o Deus de Jesus
no catolicismo contemporâneo, porque ele Cristo e não um Deus que a própria vida de
tem trazido essa sede, esse desejo muito Cristo veio negar.
grande, esse sonho de um cristianismo capaz Mas como pode a fragilidade socorrer
de ultrapassar-se, de sair da sua cerca e de se, no quotidiano, a nossa experiência é
gerar uma cultura de encontro, de serviço à a oposta? Precisamos de abrigos fortes
humanidade. Ele é também, nesse sentido, contra a força da natureza, de estar
um mestre da arte da sede. fortalecidos no trabalho, nas relações
Na exortação que publicou segunda-feira sociais... Como pode ser um Deus frágil a Nem para tragédias inomináveis como campo de concentração cantando...”
passada (“Alegrai-vos e exultai”), ele socorrer-nos? a Shoah ou para grandes desastres ou Podemos sair da vida de muitas maneiras.
volta a repetir que a defesa da vida deve É interessante o que Simone Weil diz na hora massacres?... Etty Hillesum, que morreu Mas, para sair cantando, havemos de ter
ser da vida toda. Ou seja, também das da sua conversão: que se converte porque em Auschwitz, escrevia, dirigindo-se a abraçado o paradoxo, a contradição do que
condições de vida que as pessoas têm... Deus não é o Deus dos fortes, mas o Deus dos Deus: “Uma coisa se vai tornando cada é viver. E, no fundo, é perceber que somos
Exactamente. Não podemos limitar a defesa fracos. E, num percurso de fé autêntico, há vez mais clara para mim: que Tu, Deus, mais quando somos menos, que é dando
da vida apenas a situações particulares do sempre um momento em que se percebe que não nos podes ajudar, que temos de ser que recebemos, que é perdoando que somos
curso da existência, mas temos de apoiar Deus nos esvazia as mãos e esse é o maior nós a ajudar-te para nos ajudarmos a nós perdoados, que é na oferta radical de nós
a pessoa em todas as circunstâncias, em dom que ele nos dá. A fragilidade faz-nos próprios.” mesmos e na hospitalidade que fazemos
todos os momentos. Esse é um chamamento experimentar o abandono, a entrega, uma Essa é uma das grandes frases do século XX, à vida que, no fundo, somos hóspedes
muito forte do Papa Francisco, porque confiança que é verdadeiramente radical. E pronunciada por esta mulher num campo acolhidos em festa pela mesma vida.
há uma fidelidade ao humano a que o não assenta no que já tenho, mas no exercício de concentração. Ela percebe que o mais Regressamos à última frase do
contrato cristão nos obriga: ver em cada de colocar a minha vida na dependência do importante não é escapar a um destino, não Apocalipse: “Quem tem sede aproxime-
ser humano um irmão e não viver, como o amor de Deus, na dependência do que Deus é salvar-se a si mesma e salvar a sua pele, se e beba gratuitamente.” Há duas
Papa diz, um cristianismo que sente uma pode ser para mim. não é esperar que Deus resolva de fora os palavras que atravessam as suas
certa repulsa da humanidade ou de certos Esse é o exercício espiritual mais meandros da história, mas perceber que meditações: o dom e o serviço. São
lugares da humanidade. O cristianismo tem profundo. Claro que, na nossa vida, a nossa vida é para ajudar Deus a fazer, a duas palavras identitárias da condição
de abraçar a humanidade dos outros como precisamos de confirmação, de mediações transformar a história, a alargá-la... Isso faz- humana e da condição cristã?
ela é e, especialmente — e isso o Papa tem que permitam que a vida aconteça de forma nos olhar para a vida de uma outra forma. O caminho da felicidade é esse: é quando
reforçado muito —, a humanidade pobre, estável, de forma segura. Mas, ao mesmo Sem essa descoberta, a nossa vida é uma percebemos que a vida é dom, que é relação,
a humanidade fragilizada, a humanidade tempo, não podemos substituir essa nudez lista de reivindicações, de desejos imediatos, que não é uma ilha, que a nossa vida é fruto
mais vulnerável, numa opção clara, sem necessária, essa fragilidade do encontro acaba por ser algo que não sabemos o que de uma dádiva porque recebemos de outro
ambiguidades, pelos mais pobres. Esse é mais radical connosco próprios por falsas fazer com ela. Quando descobrimos que e, ao mesmo tempo, é transmissão dessa
um desafio, uma sede, um sonho, que ele respostas ilusórias, que nos afastam de nós a vida pode ser um dom, cúmplice de um chama e desse espírito...
recoloca, com muita intensidade, na Igreja mesmos. Em última análise, nascemos e milagre maior, como Etty descobriu, a vida Quando percebemos o caminho de
do nosso tempo. morremos e estamos perante o mistério ganha outra dimensão. Por isso, nas últimas realização, não para consumir mas para
Santo Agostinho diz que “a fragilidade da vida. Perante ele, não temos grandes palavras que ela escreve, ao sair do campo consumar a nossa vida, entendemos a vida
de Jesus veio socorrer-nos” e Simone respostas nem grandes armaduras senão a de concentração para Auschwitz, onde havia como um serviço, seja ele qual for. Mas
Weil escreve que, “em Jesus, Deus descoberta do dom, a descoberta da sede. de morrer, ela testemunha isto: “Saímos do um serviço marcado pela gratuidade, pela
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 9

Um dos perigos
do discurso
religioso
é ser uma
generosidade, pelo amor... Quando temos
o privilégio de servir, de forma desmedida,
também recebemos o tamanho da nossa
tem sido, em grande medida, tocar as
sedes dos corações e das periferias. Mesmo
para aquelas situações em que não há
superestrutura não-crentes é fundamental que aconteça, no
catolicismo contemporâneo.
Vivemos num mundo dominado por uma
vida.
O título de um dos seus poemas e da
uma resposta única e rápida, ele não tem
medo de tocar as várias sedes e de tocar
que anda indiferença, uma neutralidade, uma não-
crença... É preciso dialogar. Os cristãos têm
sua antologia poética, diz: “A noite
abre meus olhos”. São João da Cruz fala
da fonte que, no meio da noite, pode
com ternura as sedes que as mulheres e os
homens do nosso tempo transportam. E,
nomeadamente, as vítimas, os excluídos, os
por cima das de ser actores de um diálogo infatigável com
os não-crentes. É preciso um humanismo
cristão, capaz de pensar articulações,
iluminar a sede. O que pode a sede abrir?
Isso mesmo que São João da Cruz diz: “De
mais pobres. Não é um acaso que ele tenha
começado as suas viagens por Lampedusa,
nossas cabeças pontes, proximidades, afinidades. Não é:
ou, ou. Em tantos campos pode ser: e, e. E
noite iremos, de noite, ao encontro da fonte,
porque só a sede nos ilumina.” Quando os
nossos olhos se abrem na noite — a noite é
com os refugiados, os imigrantes...
Um dos perigos do discurso religioso é ser
uma superestrutura que anda por cima das
e não toca, percebermos que podemos ser aristotélicos
e platónicos, e amar a cultura grega e
perceber o discurso cristão. O mundo de
também o símbolo do precário, da nossa
fragilidade, do que é maior do que nós, do
nossas cabeças e não toca, não se infiltra na
própria realidade e não se deixa ensopar
não se infiltra hoje precisa dessas pontes, desses diálogos.
Temos muito a aprender uns com os
que não tem resposta —, quando abrimos
os olhos, percebemos que somos chamados
a uma experiência de vida autêntica. Esse
de vida, não tem cheiro, não tem cor nem
sabor. Muitas vezes, a religião é uma coisa
inodora, virtual. O Papa traz realidade,
na própria outros...
Falámos de sedes espirituais, mas
também há milhões de pessoas com
sentir-se chamado é alguma coisa que a
escuta profunda de nós próprios permite.
traz verdade. O cristianismo, com ele, tem
cheiro. Ele fala muitas vezes do cheiro, do
realidade e não sede física, “uma dura experiência de
sacrifício e de prova”, como escreve,
Essa disponibilidade para a escuta é
um pôr-se num dinamismo de mudança;
é dizer que Deus é que conduz a história,
toque, do sabor e é a experiência de um
cristianismo vivido com os seus sentidos,
com a realidade desperta. Isso toca muito
se deixa ensopar que têm de percorrer quilómetros só
para transportar água. Como se devem
escutar estas sedes que atingem tantas
que não somos nós, com os nossos olhares
parciais, a conduzir a história, mas o próprio
as pessoas que trazem uma briga com uma
religião desencarnada e, quando encontram
de vida, não tem pessoas?
A [encíclica] Laudato Si’ é um dos textos
Deus. Mas, para isso, temos de abrir os
olhos e sentir que há uma iluminação,
um cristianismo encarnado no amor e na
misericórdia, dão-lhe uma segunda hipótese. cheiro, não tem maiores do Papa Francisco e, sem dúvida,
será um dos grandes textos do século XXI.
que só acontece quando nos expomos. Um dos capítulos é dedicado ao papel Identifica a realidade do mundo de hoje,
Os exercícios espirituais, a experiência de
oração ou, no mundo contemporâneo,
das mulheres nos evangelhos. O
cristianismo e a humanidade têm algo
cor nem sabor. mostrando como a questão da água e da
sede é absolutamente fundamental para
também a arte, a música, o contacto com a
natureza, tantas outras formas que são uma
a aprender com o “fluxo de realidade a
modelar a fé” que o seu lado feminino Muitas vezes, a o futuro do mundo. Muita da justiça ou da
injustiça da ordem presente tem que ver com
exposição do que somos e da vida, a escutar
o mistério que está presente, que está perto
e se revela quando lhe abrimos a porta...
lhe traz?
O Papa Francisco tem colocado
deliberadamente essa questão na agenda
religião é uma o acesso à água potável, com o acesso aos
bens, à habitação, ao trabalho, o acesso às
condições de uma vida digna. E a Igreja tem
Essa ideia da proximidade é central
no discurso e na prática do Papa. Ele
eclesial, o que é muito importante. Há
páginas do evangelho que não percebemos coisa inodora, de ouvir: o Papa Francisco tem-nos ajudado
muito a viver um cristianismo com os pés
insiste muito nela, como sinónimo da
misericórdia e da atenção ao outro.
Ainda nesta [última] exortação apostólica,
se não forem lidas também em chave do
feminino. Há uma plástica da fé, uma
tradução existencial da fé que só as lágrimas
virtual. O Papa assentes na terra e capaz de ouvir a voz do
sofrimento humano. Que se traduz também
nessa realidade mais viva, mais literal,
ele fala muito da santidade de trazer por
casa, poderíamos traduzir assim. Da
das mulheres, o rosto e a vida das mulheres
é capaz de explicar. Há um património muito
traz realidade, porque a sede, antes de tudo, não é uma
alegoria. A sede é uma impossibilidade de
santidade de todos os dias, da vida comum.
Não apenas dos santos canonizados, mas
das pessoas que lutam pela sobrevivência,
grande do feminino, nestes dois mil anos de
cristianismo, que claramente precisa de ser
lido melhor e ser mais frequentado.
traz verdade. viver assim, que tantas mulheres e homens
nossos contemporâneos experimentam hoje
na sua pele.
das que estão doentes e continuam a sorrir,
dos pais ou dos avós que dão as mãos às
Diz que, sobre Deus e o caminho
espiritual, faz bem aos crentes escutar
O cristianismo, Olhando para o índice onomástico (outra
forma de ler este livro), qual é o rio que
crianças e as ajudam a crescer, dos amigos
que partilham momentos de alegria e de
impasse... isso é expressão de um Deus
os não-crentes. O que pode um crente
aprender, sobre Deus, com um não-
crente?
com ele, tem une pessoas tão diversas como Emily
Dickinson, rodeada de puritanismo
norte-americano, Primo Levi, morto em
próximo e vizinho. E tem sido, no magistério
do Papa Francisco, uma mensagem de
A resposta mais óbvia é a sede: num não-
crente, encontramos uma sede muitas vezes
cheiro Auschwitz, Eugène Ionesco com as suas
personagens do absurdo, Etty Hillesum,
reconciliação com Deus e, muitas vezes, até em estado bruto, em estado de pergunta, Fernando Pessoa, Santo António Abade,
com a própria Igreja. Não é por acaso que num grau de pureza... Nos automatismos da São João da Cruz?...
tanta gente esteja a dar à Igreja uma segunda fé e no achar que sabemos, a ignorância que É o rio da sede. Há um rio que atravessa a
oportunidade com o Papa Francisco. Muitas
vezes até se ouve dizer que ele é a única voz
muitas vezes um não-crente tem, em relação
à fé, permite-lhe ter um olhar crítico e livre
Crer é habitar história, um caudal imenso, do qual nós
fazemos parte e que tem como pontos
humana no contexto da ordem mundial,
porque nos aproxima uns dos outros e
aproxima-nos desse sentido fundamental
que faz bem aos crentes.
Deus é um problema para todos, não é
só uma questão para os não-crentes, Deus
o caminho, luminosos os corações sedentos, aqueles
que não desistiram de levantar mais alto o
sentido da sua sede.
que acreditamos que está em Deus.
Quase podemos dizer que há sedes que o
também é uma questão para os crentes.
Deus é uma questão que nos une, não é uma
viver dentro da Se tivesse de escolher uma expressão
para dizer qual é o “elogio da sede” a
Papa está a saciar em muita gente...
Não tenho dúvidas de que o trabalho dele
questão que nos separa: Deus está em todos,
crentes e não-crentes. Esse diálogo com os procura partir do evangelho, qual seria ela?
Bem-aventurados os que têm sede.
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10 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Vestiu-se de cidade grande e fez-se epicentro da


cura da tuberculose em Portugal. O Caramulo
guardou a maior estância sanatorial da Península
Ibérica. Viu morte e devolveu vida. Depois, caiu em
ruínas. A ansiar por um resgate do esquecimento.
Retrato da vila mágica pelas linhas do romance
A Febre das Almas Sensíveis, de Isabel Rio Novo
Por Mariana Correia Pinto texto e Manuel Roberto fotografia

E Caramulo
stacionou os sonhos para guar- chamar-se Grande Hotel Sanatório. Em 1933,
dar a vida. apenas Grande Sanatório.
Tinha despistado a doença Era, na verdade, mais do que isso. Na peque-
há quatro anos, cavalgado as na localidade do distrito de Viseu nasceu uma
amarguras de tratamentos estância sanatorial que chegou a ter 20 pólos. A
dolorosos, suportado roti- Sociedade do Caramulo construiu uma rede de

A glória
nas hospitalares. Mas a duas distribuição de água, barragem própria, rede
cadeiras de conseguir o seu de esgotos, centro de tratamento e incineração
diploma de médico, enfraqueceu de novo. Tu- de lixos, uma estrutura para recuperação das
berculose. O medicamento que havia tomado águas contaminadas, estrada alcatroada até
antes já não era eficaz. E a nova droga depressa Campo de Besteiros, posto de correios, cen-
perdeu a batalha com os bacilos. O diagnósti- tral telefónica, matadouro, escola primária.
co foi comunicado sem subtilezas a um dos No Grande Sanatório — enorme edifício de três
irmãos mais velhos: “Disse-lhe que ia morrer.” pisos, dois corpos laterais, águas furtadas e ga-
À rendição da medicina acudia a crença no lerias à volta — havia bloco operatório, labora-

e a ruína
poder curativo do descanso prolongado, da tório de análises clínicas, serviço de radiologia,
comida certa, dos ares de uma serra afamada farmácia central, consultório de estomatologia,
no centro do país. zona de esterilização de louças. E bibliotecas,
— Tens de ir para o Caramulo. salas de jogos, um ecrã gigante onde chegavam
As palavras do irmão instalaram o medo. as produções cinematográficas estreadas nas
O curso inacabado. O sofrimento. A morte. salas do país, mais tarde um cineteatro.
António Passos Coelho pediu duas semanas. Ali curava-se gente. Ali morria gente.
Seria o suficiente para completar as disciplinas António Passos Coelho sabia-o bem. Fez a
em falta. Mas a medida do tempo, explicou- viagem de Lisboa para o Caramulo a mastigar

da vila
lhe o seu tisiologista em jeito de ultimato, era o medo. Filho de um lavrador e de uma pro-
agora outra. “Tu queres morrer médico, é? Se fessora primária de uma vila transmontana, es-
queres, está bem...” tudou em casa, à boleia dos nove irmãos e da
Estacionou os sonhos. ambição de chegar à Faculdade de Medicina.
Naquela década de 1950, o Caramulo vivia “Estudava 14, 15, 18 horas por dia. E malco-
os seus anos de glória. Terra rural onde no iní- mido. Nem tinha o que vestir”, conta o pai
cio do século existiam apenas algumas casas do ex-primeiro-ministro. Completou o liceu
da povoação e um punhado de construções sem professores. E na capital iniciou o sonho
simples para comércio e acolhimento de do- de menino insubmisso a destinos formatados.

onde
entes em convalescença, tinha-se transfor- Mas, contra a doença, pouco podia. Desespera-
mado em geografia central para combater a dos com a fragilidade do estudante de 25 anos,
“tísica”, o nome pelo qual era inicialmente os médicos do Caramulo quiseram fazer-lhe
apelidada a doença. A narrativa havia come- uma toracoplastia, corte de várias costelas que
çado anos antes. Jerónimo Lacerda conhecia procurava fechar as cavernas pulmonares. Ele
a fama de “bons ares” do Caramulo desde me- recusou. “Impressionava-me tirar as costelas...
nino, quando, com o pai, delegado de saúde, Preferia morrer.” Fez uma cura intensiva. Só
percorria quilómetros infindos pela serra. Já podia levantar-se para comer e ir à casa de ba-
homem feito, ao regressar a Portugal depois nho. O resto do tempo estava deitado, a dar

Portugal
de uma passagem por Angola e por solos eu- descanso aos pulmões. “Pensei que enlouque-
ropeus, o médico formado em Coimbra trazia cia ao cabo de um mês, dois...” Aos poucos,
planos de ali construir um hotel para hóspe- ganhou algum fôlego. O suficiente para fazer
des com fraquezas. uma operação alternativa. “Tenho cá óleo”,
A Sociedade do Caramulo nasce em Dezem- aponta para o pulmão esquerdo, ao recordar
bro de 1920 e menos de dois anos depois está a cirurgia que lhe devolveu os sonhos.
a abrir as portas do seu Grande Hotel. Por Eram, por vezes, experiências desespe-
esta altura, fintava-se a carga negativa da do- radas.

se tratou
ença e da palavra “sanatório” e ignorava-se “Sabia-se pouco e tentava-se tudo. Os médi-
que pudesse ser esse o fim último do espaço. cos propalavam mil recomendações, avançavam
Não se falava ainda em destino para tubercu- as hipóteses de tratamento mais extravagantes,
losos. Mas a “peste branca” assolava o país, para logo se desmentirem e recuarem. Um co-
a Europa, e o número de tísicos internados po de vinho do Porto em jejum. Beber goles de
no Caramulo aumentava de ano para ano. No petróleo. Fricções de sabão nas espáduas, duas
início dos anos 30, as estatísticas oficiais apon- vezes por semana, à hora de deitar, tendo o cui-
tavam para 13 mil mortes anuais em Portugal. dado de lavar depois com água quente a parte
Com a Guerra Civil de Espanha, primeiro, e a friccionada.”
Segunda Guerra Mundial, mais tarde, muitos A casa de Olímpia Madeira Lopes tem poiso
tuberculosos dos grandes sanatórios euro- numa serra e vista para outra. Quando chegou
peus rumaram a Portugal. E a obra de Lacer- ao Caramulo, estava a década de 50 a meio, es-
da foi reflectindo as mudanças e o crescente tranhou o frio penetrante das terras serranas.
desespero na nomenclatura: em 1928, passa a Mas encantou-se pelo manto branco que lhe
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 11

Ruínas
Muitos dos sanatórios estão
hoje abandonados. António
Passos Coelho (em baixo) foi
um dos últimos médicos
a abandonar a estância

caía à porta com frequência e pintava a serra


da Estrela, desenhada no recorte da janela da
sala. Sorriso avolumado, rosto que contraria os
91 anos cumpridos em Novembro, Olímpia pu-
xa os fios à memória. “O Caramulo já foi muito
bonito, já teve muita gente, muito movimento.
Quando vim para cá, havia 1500 doentes, 20
sanatórios, 17 médicos.”
Uma baixa no corpo clínico da estância tinha
precipitado um convite ao marido, tisiologista
num sanatório de Celas, em Coimbra. E ela, já
mãe de três pequenos, censurou as saudades
que teria da sua cidade e aceitou a mudança.
Apesar do medo. Olímpia Lopes não esquece
a primeira vez que foi à missa na capela branca
junto ao Grande Sanatório. Ao ver-se rodeada
de desconhecidos, encolheu-se timidamente.
“Para mim, era tudo tuberculoso. De maneira
que apertava o nariz, punha a mão na boca.”
Sorri ao recordar o gesto obtuso: “Que dispa-
rate! Foi só a primeira vez. Depois habituamo-
nos. Nunca houve nada de especial.”
Carlos Alberto, o marido, era técnico nos
sanatórios Lusitano e Palma. Mas tinha tam-
bém um consultório privado e desbrava a serra
em visitas domiciliárias que procuravam c
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12 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

ajudar as povoações mais distantes da zona


central. Até partos fazia, se calhava. Era uma
outra vila, aquela. “Havia absolutamente tudo
no Caramulo.”

A nossa mão e a deles


Numa aldeia próxima, Maria Domingues vivia
com a família. Com seis anos, já acompanhava
o padrinho nas idas ao Caramulo: “Vinha para
o molhe, para cavar a terra. Não havia...” Le-
vanta a mão direita, gesticula a explicar a falta
de dinheiro da casa de pouca fartura dividi-
da com cinco irmãos. Aos 25 anos, casou-se e
mudou-se para o Caramulo. “Ainda é no tempo
de estarem aqui os magalas doentes dos pul-
mões”, situa Maria, traje preto da cabeça aos
pés, capa com capuz que só tira no Verão.
A estância era o epicentro da vida do Cara-
mulo e aldeias vizinhas. Mesmo quem não es-
tava internado ou não tinha lá família mantinha
mas também se viveu muito. Tudo se governa-
va e agora ninguém aqui se governa.” Sai de
casa a passo ligeiro, sem tempo para conver-
A estância era recrutou o médico espanhol Manuel Tapia, nu-
ma jogada que concedeu ao Caramulo prestígio
internacional. Antes disso, no início da década,
muitas vezes com os sanatórios uma relação
profissional: ou trabalhava num ou vendia para
sa longa, que o dia é de confissão e missa e o
relógio não pára. “Trabalhei nos sanatórios a
o epicentro estreitava a sua amizade com António de Oli-
veira Salazar, ministro das Finanças em vias de
lá os produtos cultivados. Maria Domingues,
79 anos, fazia molhos de carqueja e carregava-
os às costas. “Ia ao Bela Vista, ao Santa Maria,
fazer camas, a lavar roupa. Havia dias em que
só se via sangue...” E mais não diz. da vida do se tornar Presidente do Conselho de Ministros.
No ano em que assume o poder, a saúde de
Salazar fraqueja, conta António Barros Veloso
onde me mandavam”, recorda. “Para ganhar
um dinheirito para comer o pão...”
Erguer o Caramulo Caramulo. no seu livro, uma espécie de monografia do
Caramulo. Com a bênção de um sacerdote de
Na estrada que serpenteia a serra até ao Ca-
ramulinho, o seu ponto mais alto, 1070 metros
acima do nível do mar, Maria Alice aparece en-
No Mercado Serrano, vende-se fruta, legumes,
carne, mel com carimbo local. José dos Praze-
res, cabelo branco bem aparado, é o rosto da
Mesmo quem Tondela, nasce o laço entre o estadista e La-
cerda, que acaba por ceder a Salazar um chalet
junto à capela. Quando subia a Santa Comba
tre o nevoeiro cerrado e uma chuva miudinha.
Sentada numa pedra, ao lado de um casebre
casa onde boa parte da aldeia com cerca de mil
habitantes faz compras. As raízes no Caramulo
não trabalhava Dão, era comum passar algum tempo na serra
de bons ares a recuperar dos dias acelerados da
semidesfeito à espera de novo dono, aguarda
pacientemente que meia dúzia de ovelhas apro-
veitem o prado verdejante. Traz galochas, capa
vêm dos bisavós. José dos Prazeres não se deixa
levar pela narrativa dominante que atribui a
Jerónimo Lacerda a “fundação do Caramulo”.
lá tinha capital. A amizade entre os dois vai crescendo.
De tal forma que o político, pouco dado a re-
tratos, aceita posar na casa dos Lacerdas para
preta, um cajado na mão. A mãe ficou viúva aos
32 anos. Ela e duas irmãs nascidas no Caramulo
Em 1905, relata para provar a tese, o seu avô já
tinha uma casa para arrendar a quem ia à loca-
muitas vezes Eduardo Malta, que em 1933 pinta o primeiro
quadro a óleo que se conhece do ditador.
fizeram-se à vida. Ainda pequenina, ia descalça
até à leitaria onde a mãe trabalhava, punha
“um bidão de 30 litros de leite à cabeça” e batia
lidade da freguesia de Guardão. “Havia meia
dúzia de pessoas que já faziam turismo aqui.
Esses foram os verdadeiros pioneiros”, aponta
uma relação No seu registo discreto, Jerónimo Lacerda
apoia o Estado Novo e torna-se membro activo
da Legião Portuguesa. No Caramulo, apesar do
às portas dos sanatórios para o vender.
Com os doentes, era “bom dia, boa tarde” e
ao referir-se a casas de repouso como o Chalet
de Matos e a Pensão Caramulo.
profissional com clima tolerante, o fundador da estância não
deixa de tentar “afinar tudo por este ritmo no-
pouco mais. “A gente passava ao largo. Mas tive
primas que trabalharam lá e nunca apanharam
nada.” Maria Domingues tem explicações para
Foi, aliás, nessa pensão com o nome da serra
que se alojou Margarida Castro Alves no início
do século, a curar o desgosto da morte da irmã
os sanatórios vo, que se sente em todo o Portugal”, como
referiu num discurso público em 1938. Foi essa
simpatia pelo regime que permitiu à estância
a convivência sã: “Não tínhamos receio por- mais nova com tuberculose. E aí ter-se-á cruza- tornear dificuldades sentidas com o início da
que eles traziam uma latinha, uma caixinha, e do pela primeira vez com Jerónimo Lacerda, Segunda Guerra Mundial, quando a carência de
quando vinha acima [a expectoração] botavam aponta o livro Caramulo - Ascensão e Queda de alimentos se sentia em todo o país. A estância
para dentro dessa latinha e a gente nunca tinha Uma Estância Sanatorial, do filho da terra e portuguesa chegou a ser a maior da Península
nojo deles”, conta a falar das escarradeiras, médico António Barros Veloso. Nessa altura, Ibérica e medalha de prata a nível europeu.
recipientes de cerâmica ou outro material que, Lacerda andaria já a fazer contactos para er- A história sabe-a de cor José dos Prazeres. Até
nos anos de epidemia da tuberculose, eram guer o seu projecto. Enamorou-se de Marga- credita aos Lacerda o desenvolvimento da lo-
presença habitual até em locais públicos, como rida. Casaram-se em 1919. Tiveram três filhos calidade rural, mas não vê a narrativa de forma
teatros e igrejas. Nos correios, havia enchentes — Maria Arminda, Abel e João — e mudaram-se linear. “Vivi esse tempo e era uma ditadura. O
de doentes saudosos em busca do vínculo pos- definitivamente para o Caramulo em 1923. meu pai dizia: ‘Tenho de vender este terreno
sível com a família e contornava-se o contacto Homem carismático, com uma capacidade porque não tenho onde colocar os meus filhos
com mestria: “A gente deixava-os abrir a porta, de liderança invulgar, Jerónimo Lacerda soube e vou ter uma certa repressão’”, aponta. E o
mas a nossa mão nunca chegava à deles.” rodear-se de figuras de relevo. Foi construindo mesmo se passava dentro dos sanatórios, onde
Era tal o movimento nas ruas que “tinha de os sanatórios ao mesmo ritmo que celebrava estava instaurado um “regime duro”.
se pedir licença para passar”. Palavra de Es- contratos com o Estado e outras entidades, José dos Prazeres contava 18 anos quando
meralda Calheiros, 82 anos, entristecida por empenhados em travar a epidemia da doen- adoeceu. Tinha andado nas cheias de Novem-
não se ter guardado o que importava daquele ça: a CP, a Direcção-Geral de Assistência, os bro de 1967 a correr contra a tragédia que rou-
tempo a preto e branco: “Morreu muita gente, ministérios do Exército e da Marinha. Em 1938, bou mais de 500 vidas em Lisboa. Constipou-
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 13

História
A estância do
Caramulo,
criada em 1920
por Jerónimo
Lacerda, chegou
a ser a maior da
Península Ibérica.
José dos Prazeres
(à esquerda)
esteve internado
num dos
sanatórios

sistência Nacional aos Tuberculosos, a partir


dos anos 60 a doença começa a dar sinais de
fraqueza.
A possível cura da tuberculose era o princí-
pio do fim do Caramulo.

“Boa tarde e boa cura”


Lopes da Rosa cumpriu serviço militar no Nor-
te de Angola durante dois anos. No regresso ao
país, ansioso pelo restabelecimento da vida
normal, a inspecção médica detectou-lhe ainda
no aeroporto uma infecção nos pulmões. Era
Janeiro de 74. No dia em que os cravos saíram às
ruas, estava internado no hospital de Coimbra.
De lá transitou para Lisboa. E da capital, com
um diagnóstico mais preciso na mão, enviaram-
no, em Maio, para um sanatório destinado a mi-
rar a uma estranha espécie de medida biológica, litares no Caramulo. Baptizado de Salazar até
na qual a aparência radiológica dos pulmões e a ali, mas renomeado pelo povo como Sanatório
quantidade de bacilos contados em cada amostra 25 de Abril dias depois da Revolução.
de escarro analisada determinavam o tempo que Ao saber do seu caminho forçado, Lopes da
se permanecia no sanatório, a esperança de se Rosa inquietou-se com o destino que lhe soava
sair de lá com vida. Um tempo rápido ou arras- desconhecido. “Fazia disto uma serra com dois
tado, fora das medidas humanas.” ou três edifícios. Ainda disse a uma enfermeira:
José António Costa, “mais conhecido por Zé ‘Se calhar, fico curado da tuberculose, mas fico
Tó”, cita de cor o nome dos sanatórios quando doente da cabeça’.” Partiu sem saber ao que
percebe ao que vem a conversa: o Santa Maria, ia, um bilhete de regresso a Lisboa com data
ali ao lado, o Lusitano, mesmo atrás, o Grande indefinida: “Podia ser um ano, dois, três...”
Sanatório, o Sanatório Infantil, o Palma, o Sala- Foi a vida toda.
zar, o Bela Vista, o Sameiro, o Pedras Soltas... A culpa foi de Maria Helena. Os avós paternos
“Eram tantos... isto parecia uma cidade”, sorri tinham deixado para trás a Póvoa de Varzim,
por detrás dos óculos castanhos e gorro de pêlo terra do fundador da estância, para ali agar-
ajustado a locais gélidos. Nascido em Castelo rarem um emprego certo. O avô era encarre-
Branco, sabe por alto a história dos pais que se gado das instalações do Grande Sanatório. A
enamoraram a dois passos dali: “O meu faleci- avó, dona de casa. Criaram raízes. Formaram
do pai esteve internado aqui no Santa Maria. família. A neta, Maria Helena, empregou-se
A minha mãe era lá empregada”, conta. “Ele numa alfaiataria ao cumprir os dez anos para
tinha uns sobrinhos e dizia-lhes: ‘Chama aquela ajudar a compor as contas da casa. Mas o so-
tia.’ E eles chamavam.” nho dela estava no Grande Sanatório, numa
A conquista original acabou em casamento. rádio ali criada onde a mãe trabalhava como
Quando o pai se curou, mudaram-se para Cas- empregada de limpeza.
se. Mas relevou a importância dos espirros, da estar nos corredores ou fazer barulho. A elec- telo Branco e iniciaram uma vida nova. Mas Pequenita, ouvia intrigada as emissões da Rá-
febre que não passava. Um dia, no Caramulo, tricidade disponível passava a ser fraca, não se um dia, num trágico acidente, o pai morreu. dio Pólo Norte — depois baptizada como Rádio
depois de umas noitadas de bailarico e paró- podia ouvir música nem ler. Ainda de dia, nos E Zé Tó, menino de seis anos, mudou-se com Emissora das Beiras — e implorava à mãe que
dias, um amigo detectou-lhe o ar cansado. Tão intervalos dos tratamentos, os pacientes com a mãe para a terra dela. Aprendeu a lidar com lhe arranjasse um emprego por lá. Um dia, ao
habituado estava a ver o semblante dos tísi- autorização de saída enchiam a vila. Iam aos os doentes sem medo, fez amigos entre eles. Já saber de uma vaga, pediu lugar para a menina.
cos que tinha aprendido a descobrir a febre a correios enviar e buscar cartas. Entravam nas adulto, corria a década de 70, “um problema Estávamos em 1966. Maria Helena arrumava
apoderar-se dos corpos. lojas, nos cafés equipados com “louça D e S”, nos pulmões” obrigou ao internamento. Curou- os discos, batia cartas à máquina, levava-as ao
para Doentes e Saudáveis. Em alguns locais, se no ano em que a liberdade abraçou o país. correio. Aos poucos, foi aprendendo a colocar a
Louça D e S como tabernas, tinham o acesso interdito: “Ca- Nesses tempos, os recursos para o tratamen- agulha no vinil, a conhecer as fitas magnéticas.
da uma tinha um fiscal à porta e não deixavam to da tuberculose tinham avançado extraordi- Em 1970, já fazia locução.
O ano de 1968 tinha começado havia poucos entrar doentes.” nariamente. Se, antes de 1944, a solução não A antena de rádio denuncia a chegada à
dias quando o diagnóstico se confirmou. Estava Aconteceu-lhe uma vez. Numa colectivida- ia muito além da estadia em climas secos de moradia onde funciona agora a Emissora das
tuberculoso. José dos Prazeres ficou internado de que ele próprio tinha ajudado a construir, média altitude, alimentação calórica e rica em Beiras. Maria Helena continua a fazer locução.
quase um ano no sanatório Palma. Lá, como barraram-lhe a entrada. José dos Prazeres ficou proteínas e muito repouso, quando José dos Lopes da Rosa é director. Casaram-se há mais
nos outros pólos da estância, as curas tinham marcado pela “humilhação”: “Sabia que não Prazeres e Zé Tó adoeceram a história já era de 40 anos: ele com os pulmões recuperados,
horas certas. De manhã, entre as 10h e o meio- me deixavam entrar. Mas como era daqui, era outra. A estreptomicina, antibiótico descober- ela trabalhadora na rádio. “Aqui houve muitos
dia, em ambiente relaxado. À tarde, entre as sócio... fui com aquela esperança. Puseram- to nos EUA nos anos 40, abrira um mundo de casamentos saídos da estância”, graceja Maria
14h e as 16h, em modo rigoroso: os doentes me cá fora.” esperança no combate ao bacilo de Koch, iden- Helena. Na redacção, há centenas de CD empi-
não podiam mexer-se, falar, ler. Às 23 horas O preconceito. Era talvez essa a dor maior. tificado em 1882 por Robert Koch. E se, nessa lhados, vinis, posters de cantores populares afi-
— com excepção dos dias de cinema, em que “A partir do momento em que o doente era as- década e na seguinte, as vagas no Caramulo xados nas paredes, recortes de jornais a atestar
havia meia hora de tolerância extra — davam-se sumido pelas malhas do isolamento, o tempo per- eram disputadas e muitos doentes eram para a história ali guardada. A rádio modernizou-se,
três sinais de luz. Ao último já ninguém podia dia a sua grandeza matemática para se equipa- ali canalizados pelo próprio Instituto de As- mas continua fiel à programação inspi- c
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14 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

“Peste branca”
Nos anos 1930,
as estatísticas
falavam de 13 mil
mortes anuais
em Portugal. No
Grande Sanatório
foi criada em
1939 uma rádio
que sobrevive
até hoje. Maria
Helena é locutora
desde os anos 70

rada nos tempos da onda média, a pensar na


população serrana.
Tudo começou em 1939. Joaquim António
A tuberculose ma tentativa desesperada de salvar a vida do
pai, apanhado pela tísica. Palmira, a mãe, em-
pregou-se nos sanatórios. E mesmo depois da
“Senhor doutor, estive a dar vivas ao Benfica...”
Cenário demasiado inverosímil para quem
não o viveu, talvez. “A tuberculose matava. Era
Seabra interrompeu o curso de Electrotécnica
por causa da tuberculose. Foi para o Caramu-
matava. Era morte do marido não voltou ao Sul.
Naquela tarde, António não quis sair do
uma tragédia. Não havia quase família nenhu-
ma que não tivesse um tísico.”
lo rendido a um fim inesperado mas, pouco a
pouco, sentiu-se outro. No maior sanatório da
estância, onde se internavam os doentes com
uma tragédia. quarto para a cura. Deixou-se muito quieto na
cama, janela virada para as galerias, e adorme-
ceu sem agasalho. Sonhou com a enfermeira.
”A tuberculose não era, afinal, a febre das al-
mas sensíveis. Era a doença das multidões ope-
rárias das cidades, trabalhando mais do que o
mais capacidade financeira, montou, por brin-
cadeira, uma pequena rádio de baixa potência,
Não havia E, ao acordar, estava coberto. “Perguntei a uma
empregada quem tinha ido ao meu quarto.
permitido por lei, amontoadas em mansardas
sem esgotos, exaustas e mal alimentadas. Era a
em onda média. Portugal tinha inaugurado a
sua primeira estação quatro anos antes, com
a Emissora Nacional de Radiodifusão, à qual
quase família ‘[Disseram-me:] foi a menina Bia’”, recorda
numa conversa em Vila Real, cidade onde vive
desde 1975. “Comecei a gostar dela, ela de mim.
doença dos sobreviventes das guerras, estropia-
dos, desnutridos, desprovidos de tratamento,
deambulando pelas ruas com quadros graves de
se seguiu a Rádio Renascença. Seabra punha
discos pedidos, música à sua escolha, envia-
nenhuma que E a gente começou-se a namorar.”
O romance tinha limites. Dentro dos sana-
primoinfecção. Era a doença das sociedades mise-
ráveis. E Portugal era uma sociedade miserável.”
va mensagens com votos de “boa tarde e boa
cura”. não tivesse tórios estavam proibidos os beijos e as mãos
dadas. “Namorar era conversa só, mais nada”,
explica. “Mas depois de já ser médico essa mú-
A cicatriz
“Transformar um cavernão
numa caverninha”
um tísico sica mudou.” A expressão do rosto alegra-se ao
recordar o Caramulo. Recuperado, o doente foi
As nuvens parecem um cobertor caído do céu
à chegada ao Caramulo. Demasiado baixas. Ou
convidado a trabalhar no sanatório, solicitação então é a serra que é demasiado alta. Isabel Rio
“Era assim: ‘Aqui Rádio Pólo Norte, estação de causar inveja: “Qualquer médico que fizesse Novo tinha visitado a vila no Verão de 2016, em
Emissora das Beiras’.” A alegria da recorda- lá um estágio chegava cá fora e punha numa busca de realidade para a sua ficção: A Febre
ção é contagiante. António Passos Coelho, 91 tabuleta: estagiário do Caramulo”, conta a ex- das Almas Sensíveis (D. Quixote). O romance
anos, autor de vários livros de contos e poesia, plicar a dimensão da sua conquista. finalista em 2017 do prémio Leya, o maior ga-
parece ouvir ainda a emissão saída dos alti- Mas ser testemunha do que ali se vivia não lardão de literatura em Portugal, é todo este
falantes espalhados pelo Grande Sanatório. era para todos. “A gente sofria muito. Arre- Caramulo onde agora regressa. E são dela os
Seabra, “sempre engravatado, bem vestido, pendi-me muitas vezes de ir para médico.” pedaços de texto que intervalam as histórias
magrinho”, era o homem habilidoso a quem No Caramulo, viu morrer amigos e pacientes. aqui relatadas. Nas quase 200 páginas do seu
todos recorriam quando tinham algum pro- Viu o desespero nas lágrimas de um doente livro, desenterra uma doença para retratar um
blema de electricidade. E a sua rádio era parte que lhe pedia para ir passar o Natal a casa, país com amarras. Passado e presente. Memó-
importante do dia-a-dia dos doentes. Um dia, emocionou-se a ler cartas de famílias suplican- ria e esquecimento. Vigor e ruínas. Numa via-
estava Passos Coelho na galeria a fazer cura, do que não autorizasse a saída de entes que- gem à vila e aos seus sanatórios — símbolos de
quando os colegas o alertaram para o que se ridos, com medo do contágio: “A gente gosta “um micro-Portugal, estagnado e bonitinho”
ouvia na rádio: “Atenção, Grande Sanatório! muito de o ver, mas assim não.” Espantou-se —, a escritora portuense desenhou uma his-
O disco seguinte é dedicado a um doente des- com os nomes encontrados para contornar o tória com duas narrativas paralelas: o drama
se sanatório pelo facto de ter conseguido, em peso das palavras. Umas gotinhas de sangue de Armando e da sua família, colhidos pela
menos de quatro meses, o que outros não con- eram “pintassilgos”, umas gotas um pouco tísica, e uma misteriosa personagem que vive
seguem em quarenta: transformar um caver- maiores eram “flores”, se a coisa aparecia às no presente e, entre as ruínas, faz uma ponte
não numa caverninha.” O episódio é contado golfadas, os doentes apareciam de ar soturno: com a ideia romântica da doença, percorrendo
por Passos Coelho no livro Caramulo - Crónica a vida de nomes maiores da literatura, como
Romanceada. Com a saúde a manifestar-se, ti- Júlio Dinis, António Nobre, Cesário Verde ou
nha engordado tanto que agora as calças não Soares dos Passos. Tudo isto num livro edifi-
lhe serviam e andava a mostrar as cuecas pe- cado a partir de cartas familiares reais. Num
lo sanatório: “Não espreites, não espreites/ É romance que se lê a suster a respiração.
proibido/ Não te deites, não te deites/ No meu O Sanatório Santa Maria permanece aberto.
vestido.” A música soou na telefonia e a folia Gigante adormecido, grau zero do esquecimen-
espalhou-se pelo sanatório. to. Placa a anunciar a venda na fachada. O por-
As partidas entre os doentes eram estratégias tão tem cadeado, mas o muro circundante terá
para enganar o tempo. Aos mais ingénuos ten- pouco mais de meio metro. Na serra do Cara-
tava-se convencer de que um pneumotórax era mulo, naquele sanatório onde habitaram morte
mais eficaz se levasse ar puro. Por isso, alguns e vida, os decibéis parecem obedecer a outra
chegavam ao médico com um pedido original: escala: ouve-se o ranger do portão metálico,
“Senhor doutor, se o pneumotórax pudesse ser as gotas de água no soalho, um eco perturba-
com ar do Caramulinho...” dor. Numa sala, há armários caídos e centenas
António Passos Coelho passava boa parte de papéis gastos pelo tempo. São arquivos do
do tempo livre na “fantástica biblioteca” do sanatório com mais de 60 anos. Notas de en-
sanatório, apetrechada com “as melhores re- comenda, nomes de doentes escritos à mão
vistas do mundo da especialidade”. Uma relí- em letra impecavelmente desenhada. Noutra
quia para um estudante a duas cadeiras de se janela, espreita-se um chão coberto de caixas
formar. Ainda doente, deixou-se cativar por de medicamentos: hidrazida, lê-se num reci-
uma enfermeira alentejana. Maria Rodrigues piente de vidro ali deixado. “De repente, tudo é
Santos Mamede, a quem todos chamavam Bia, mais real ao ver estas memórias perdidas”, co-
mudou-se para o Caramulo ainda criança, nu- menta Isabel, impressionada com os despojos.
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 15

— Consegue imaginar aquele tempo ao en- Ficção real no chão, tectos caídos, tinta a soltar-se das pa- As ruínas
trar aqui? Isabel Rio Novo foi redes como casca de ovo, pingos da chuva que
— Perfeitamente. Sobretudo ao chegar às finalista do Prémio Leya fazem eco. No corredor à esquerda, avista-se Maria Alice vai com o cajado na mão a arrastar
galerias. Imaginei logo as pessoas a fazerem a com um romance que uma sala redonda onde vive uma estrutura que as suas ovelhas. Entristece ao admitir o cami-
cura em frente à serra. desenterra uma doença parece ter sido uma mesa de operações. Ao nho sem volta: “Então é que era, agora nem é
Para lá da ficção, está sempre a realidade. para retratar um país lado, uma máquina de raio x Siemens largada o Caramulo”, comenta, a rematar a conversa
Por isso, visitar os locais sobre os quais roman- com amarras. Um livro à sua sorte. À direita, uma maca perdida com antes de desaparecer no nevoeiro cinemato-
ceia é essencial para Isabel Rio Novo. “É preciso poderoso que se lê parte do tecto em cima. gráfico que se abateu sobre a serra.
sentir para depois fingir e ficcionar”, diz. A sua a suster a respiração Parecem templos de dor. Agudizam a vera- Às vezes, de olhos fechados ou pensamentos
primeira ida ao Caramulo com esse objecti- cidade de tudo o que se leu e ouviu. voadores, António Passos Coelho ainda está em
vo aconteceu meio ano depois de inaugurar a Há no Caramulo um silencioso despovoa- terras serranas. Traz um sobretudo e chapéu
narrativa. Com o marido, o também escritor mento, uma mágoa ensurdecedora. pretos, livros na mão, poesia decorada para
Paulo M. Morais, foi do Porto ao distrito de grandes da literatura portuguesa como Camilo Quando Jerónimo Lacerda morreu, inespe- explicar a alma.
Viseu para respirar o ambiente ali vivido. E Castelo Branco, Agustina Bessa-Luís ou Mário radamente, em 1945, os filhos João e Abel assu- Caramulo,
na vila mágica aumentou um sentimento que Cláudio — são invulgares e “aparentemente miram os destinos da sua empreitada. Sabiam Boa terra!
depositou nas páginas do seu romance: “Acre- pouco organizados”. Sabe sempre como vai da inevitável queda da estância, à boleia da Boa serra!
dito que há sítios alegres e sítios que não o são. terminar a história, começa por um excerto em evolução da medicina. E burilaram alternati- Que saudades acumulo.
Como se ficassem marcas das vivências. Senti que se sinta confiante e não pelo início (dica vas. Abel tinha o sonho de transformar o Cara- Sabe de cor todos os nomes. Daqueles que
essa cicatriz no Caramulo.” de Umberto Eco no seu livro Como se Faz Uma mulo numa estância cultural. E chegou a reunir lhe devolveram os sonhos, daqueles a quem
Aconteceu-lhe sobretudo ao chegar ao Sa- Tese) e sabe sempre o título à partida. mais de 400 peças de arte — quadros doados recuperou a vida. Ali se curou, se fez médico,
natório Infantil. “A partir daquele momento Nas ruínas do Caramulo, Isabel descobriu por Picasso e Dali incluídos — na sua colecção. descobriu o amor, foi pai. “Nunca mais aprendi
tudo foi real”, recorda a escritora de 45 anos. uma “beleza soturna” — algo que os românticos Mas um acidente trágico numa passagem de nada desde que saí do Caramulo”, certifica. Não
Os tectos mais baixos, as portas mais estreitas, apreciariam. É o que sobra de uma história dei- nível roubou-lhe a vida precocemente, em 1957. precisa estar lá para ver as ruínas. Estão-lhe na
as estruturas enferrujadas de um baloiço, um xada ao abandono, “uma boa metáfora daquilo João não abandonou completamente a ideia: memória, quais metástases de uma doença que
escorrega, um balancé. E o recorte da serra que é a vida humana e o esquecimento”. A tra- o Museu do Caramulo, inaugurado em 1959, não vacila. Costuras de um país que escolheu
em frente, a igreja de branco cálido que não gédia que assolou milhares de pessoas durante é parte do sonho do irmão. E podia ter sido o esquecer. Era possível “outro destino” para a
salvou. “Pensei: ‘Aqui morreu gente. Aqui séculos esvaiu-se, tal como os espaços onde a princípio da mudança do Caramulo. vila mágica, aponta, a notar a mágoa que não é
morreram crianças’.” tragédia viveu. Não foi suficiente. Em 1978, o jornal A Capital só dele. Mas os apagões não são globais.
Para construir o romance, Isabel percorreu Dos 20 sanatórios, quatro foram transfor- dava conta da grave crise financeira da Socie- — Sou todo do Caramulo. O meu coração
livros de histórias, jornais, manuais médicos, mados em lares. Um em hotel. Alguns foram dade do Caramulo, falava numa “reconversão está lá.
livros de memórias como o de António Passos demolidos. A maioria é agora ruína. No Grande inevitável” que nunca aconteceu. Já havia mais
Coelho. Depois, a partir de uma base real de Sanatório, há janelas entaipadas com tijolos camas do que doentes. mariana.pinto@publico.pt
cartas trocadas entre familiares, escreveu. Em vermelhos, vidros partidos, cadeados enferru- As portas dos sanatórios vão-se fechando,
apenas um ano. Os métodos da autora — cujo jados a proibir a entrada. No Pavilhão Cirúrgi- um a um, até ao derradeiro fim, já nos anos Veja o vídeo em
estilo da escrita tem sido comparado a nomes co, as portas permanecem abertas. Há buracos 80. Sobra, agora, um Caramulo vazio. www.publico.pt/multimedia
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16 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Depois de Mora e Viana


do Castelo, os prémios que
problematizam e reconhecem
as melhores reportagens e
ensaios documentais do último
ano chegam ao centro do país
entre 17 de Abril e 20 de Maio
Por Sérgio B. Gomes

Pessoas e natureza
Até à Morte — História das Lutas Políticas em África
é a exposição que Marco Longari apresentará
na Galeria Pedro Olayo (filho). Em cima, instante
de uma uMkhosi woMhlanga (dança da cana),
cerimónia tradicional zulu de maturidade. Em
baixo, o orfanato da Fundação David Sheldrick para
a Vida Selvagem, Nairobi, Quénia, que faz parte da
retrospectiva de Michael Nichols. A exposição Uma
Vida Selvagem pode ser vista na Sala da Cidade
© MARCO LONGARI

© MICHAEL NICHOLS/NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY Estação I


Próxima p
Coimbra
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 17


© AMY TOENSING
Na viuvez e na juventude
Dos 40 milhões de viúvas que existirão
por toda a Índia, vários milhares procuram
refúgio em cidades sagradas como
Vrindavan ou Varanasi, onde cumprem
uma “pena perpétua”, com o cabelo
cortado, vestidas de branco e celibatárias
para sempre. A repórter Amy Toensing
procurou aprofundar esta realidade no
ensaio Viúvas, que poderá ser visto na
Galeria Pinho Dinis. Em baixo, imagem
da série Anjo Branco — As crianças
de Tchernobil já cresceram, de Niels
Ackermann, cujo trabalho será exposto no
Círculo de Artes Plásticas

© NIELS ACKERMANN

E
com esta já lá vão três para- agência de notícias norte-americana Asso-
gens para o Prémio Estação ciated Press, e os fotojornalistas Sara Naomi
Imagem. Depois de Mora e Lewkowicz, norte-americana com dois World
de Viana do Castelo, é a vez Press Photo (WPP) no currículo, Marco Lon-
de Coimbra acolher um dos gari, responsável de fotografia da AFP para
mais importantes encontros o continente africano, e Tanya Habjouqa,
de fotografia documental da fotógrafa jordana vencedora de um WPP.
Península Ibérica. O progra- A cerimónia de anúncio dos vencedores
ma arranca esta terça-feira, com um leque está marcada para o dia 21 de Abril, no Con-

Imagem
alargado de actividades e dez exposições vento de São Francisco. Para além dos pré-
espalhadas por vários espaços da cidade, que mios nas várias categorias a concurso, será
incluem uma retrospectiva do trabalho ligado anunciada a primeira bolsa de criação ligada
à natureza de Michael Nichols, reconhecido à região de Coimbra. Em conversa com o P2,
e veterano repórter da National Geographic, Luís Vasconcelos avança que houve este ano
apontamentos sobre as lutas políticas em mais candidatos à bolsa de criação do que em
África de Marco Longari, fotógrafo da Agence anos anteriores (ao contrário de Mora, com o
France-Presse, o quotidiano da geração que Alentejo como pano de fundo, a bolsa de cria-
nasceu após o desastre de Tchernobil, na ção ligada a Viana do Castelo, com o Minho e a
cidade ucraniana de Slavutich, pela lente do Galiza como tema genérico, mantém-se).
freelancer Niels Ackermann, ou um retrato da A exposição com os trabalhos vencedores

paragem,
comunidade cristã do Líbano, da autoria de será inaugurada no dia 2 de Junho, na Ga-
Patrick Baz, que decidiu olhar para as suas leria Pedro Olayo (Filho), no Convento São
próprias raízes depois de muitos anos como Francisco, onde poderá ser visitada até 10
repórter de guerra. de Julho.
Para Luís Vasconcelos, da organização, Entre as várias actividades durante a se-
a chegada dos Prémios a Coimbra assume mana de arranque, destaque ainda para o
particular relevância tendo em conta “a for- ciclo de projecções no auditório do Círculo
te ligação da cidade à fotografia”, por causa de Artes Plásticas de Coimbra (entre os dias
dos Encontros que ali se realizaram durante 17 e 21 de Abril), onde serão mostradas re-
quase duas décadas. Esse encontro regular portagens das principais agências noticio-
deixou marcas e criou naquela região “um sas do mundo e trabalhos de fotojornalistas
público específico” que, na opinião do pre- como Francesco Zizola ou Stanley Greene, o
sidente da associação cultural Estação Ima- influente repórter que morreu no ano passa-
gem, ficou “órfão” de iniciativas do género. do. Durante o mesmo período, o espaço Bla-
Para a selecção dos melhores trabalhos ckbox, no Convento São Francisco, receberá
enviados à nona edição do Prémio Estação documentários vindos da programação do
Imagem, foram convidados o espanhol San- DocLisboa e do catálogo da Midas Filmes.
tiago Lyon, presidente do júri do World Press
Photo 2013 e antigo director de fotografia da sgomes@publico.pt
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18 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

João Ferreira
Um arquipélago
entre o real e o onírico

• Arquipélago, reconhecido com vários


prémios, tem sido mostrado com
regularidade desde 2015. Há alguma
abordagem nova na selecção de imagens
para a exposição de Coimbra?
Desde a apresentação em Leiria em
2015, este Arquipélago tem crescido e
ganhou novas “ilhas”, com outra incursão
a Cabo Verde, para procurar um lado
mais profundo/intimista do quotidiano
deste país. A leitura de portfólio que tive
com o editor Olivier Laurent da revista
Time, no [festival] Visa pour l’Image em
Perpignan e a selecção para os Encontros
da Imagem de Braga, ambos em 2016,
resultaram numa troca de experiências
importantes. Aí tive a oportunidade de
ouvir a opinião de pessoas com uma
cultura fotográfica extremamente rica e
díspar. No seguimento dessas conversas
consegui distanciar-me das primeiras
fotografias deste ensaio e de perceber,
por exemplo, que estavam demasiado
focadas no exterior. Após os Encontros
decidi fazer uma nova viagem a Cabo
Verde para tentar sair da minha zona de
conforto, procurando entrar na casa e
no quotidiano das ilhas. Algumas dessas
novas fotografias, em conjunto com as
realizadas anteriormente, foram incluídas
na selecção que fiz para apresentar a
candidatura ao prémio Estação Imagem
de 2017 e que serão mostradas agora.
Este ensaio tem sido descrito como uma
abordagem humanista que procura
captar instantes reveladores daquilo a
que comummente se chama ”país real”.
Parece-lhe acertada esta descrição?
Os projectos que apresento são
desenvolvidos de uma forma crua, sem
recurso a artifícios e muito focados nas
pessoas. Daí talvez a descrição destas
fotografias como tendo uma abordagem
humanista. Obviamente, não consigo
dissociar todas as minhas vivências e
acabo por incluir um lado poético e um
pouco clássico nessa visão, que acaba
por ser projectada nos trabalhos. Não quis
fugir das situações que mostram um país
carente e onde se vive com dificuldades, Um país por fora
mas percebi que queria construir uma e por dentro
narrativa que incluísse uma perspectiva Depois de uma
um tanto onírica, respeitando ao mesmo primeira estadia
tempo a realidade de quem habita naquele em que procurou
território. sobretudo registos
Arquipélago é um capítulo fechado? Que da paisagem exterior
trabalhos o ocupam agora? das ilhas de Cabo
Diria antes que Arquipélago é para já Verde, João Ferreira
um trabalho em período de maturação. regressou ao
Tinha interesse em continuar a explorar a arquipélago para uma
abordagem mais intimista que desenvolvi abordagem capaz
na última viagem àquelas ilhas. No de revelar paisagens
entanto, tenho um outro trabalho que interiores, mais
iniciei em 2016 e que aborda um ritual próximas do dia-a-dia
secular da ilha de S. Miguel, nos Açores.
É um ritual de recolhimento, que tem
origem no século XVI e que procura a
reconciliação do homem com a natureza
através de preces pelo fim das erupções
vulcânicas e dos movimentos sísmicos. É
um trabalho que será apresentado no dia
20 de Setembro n’A Pequena Galeria, em
Lisboa, e, no início do próximo ano, no
Mira Fórum, no Porto. S.B.G.
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 19

Isadora Kosofsky
Os três (ou o amor como
uma ciência pouco exacta)

• O que Isadora Kosofsky conta em The


Three está longe de ser uma história
da carochinha. Ou uma narrativa
que se encaminha, com mais ou
menos sobressaltos, para um final
feliz. Ao percorrermos as imagens
que testemunham o quotidiano e a
intimidade de um homem (Will, com 84
anos) e de duas mulheres (Jeanie, de 81,
e Adina, de 90) que, na terceira idade,
decidiram estabelecer um triângulo
sentimental (amoroso? apaixonado?),
podemos sentir em muitas delas a
tensão, o desencontro, o desespero, a
mágoa e o ciúme. E talvez não seja por
acaso que Kosofsky — uma repórter
freelancer de Los Angeles que foca
o seu trabalho de fotografia e vídeo
em temas sociais como os direitos de
pessoas com deficiência, violência de
género e direitos dos cidadãos idosos
— se refere a esta ligação como “um
conflito amoroso” e não como uma
(mais próxima de um ideal cor-de-rosa)
“relação amorosa”.
Ao longo deste ensaio, que levou
quatro anos a concretizar, também
vemos os momentos de ternura, de
companheirismo e de cumplicidade
(seria estranho se não os houvesse).
Mas é no registo subtil da “luta” por
ocupar um qualquer lugar na vida (e nos
braços) uns dos outros que esta série
ganha força, conseguindo manter uma
ambiência que parece sempre no limite,
à beira do fim de qualquer coisa, perto
da separação e da dor. Por baixo da capa
do romantismo, um mal-estar constante,
impossível de ultrapassar.
Quando viu The Three pela primeira
vez no Festival Visa pour L’Image,
em Perpignan, França, o presidente
do Prémio Estação Imagem, Luís
Vasconcelos, sentiu essa força e
decidiu que à primeira oportunidade
mostraria este trabalho em Portugal.
“O tema é surpreendente. Não estamos
habituados a ver relações vividas desta
forma. Estas imagens põem em causa as
Uma boa história ideias preconcebidas sobre as relações
aqui tão perto e a maneira de viver o amor e a solidão
Para Luís Vasconcelos, na velhice.”
The Three é “um bom Isadora confessa que à medida que foi
exemplo de como não entrando na vida de Jeanie, Will e Adina
é preciso viajar para sentiu-se “a participar numa actividade
muito longe, para clandestina, nalguma coisa diferente”.
cenários de guerra, “A cada dia procurámos uma nova
para se fazer um ‘aventura’. Senti o conforto de fazer parte
excelente trabalho, do grupo.” Com enorme sensibilidade,
que consegue pôr- soube, contudo, evitar o registo freak
-nos a pensar sobre a show. Will também se afasta desse
vida”. A exposição de universo: “Vivemos fora da lei, mas não
Isadora Kosofsky pode acima da lei. Não somos uns marginais.”
ser vista no Edifício Há dias, numa TEDTalk, Isadora resumiu o
Chiado — Museu resultado do tempo que passou no meio
Municipal deste triângulo sentimental: “Além de
desafiar as normas socioculturais sobre
os idosos, este trio lança luz sobre o
medo do afastamento.” S.B.G.
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20 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Entrevista Adam Kampff Licenciado em Astronomia e doutorado


em Neurociências pela Universidade de Harvard, Kampff perscruta
os mais ínfimos sinais do cérebro, sobretudo à procura de respostas
sobre a origem dos modelos de realidade que vamos formando
Por Graça Castanheira texto e Miguel Manso fotografia

“Não precisamos de
mais dados, precisamos
de ideias melhores”
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 21

Não creio que 2084 – Imagine é um


ciclo de conversas sobre o
tempo da próxima geração.
tenhamos encontrado Numa parceria entre o
Centro Cultural de Belém

algo no cérebro e o PÚBLICO, a realizadora


Graça Castanheira ouve
pessoas que, a partir das
que nos diferencie suas áreas de estudo,
pensam e idealizam a

[homens e mulheres] nossa existência comum,


procurando debater
especificamente o impacto
radicalmente de tecnologias emergentes
na vida de todos os dias

O
fascínio de Adam cérebro de um peixe — que é um vertebrado chamada “córtex”, que é imensamente que é construir um robô bípede, que ande
Kampff pelos — e para o de um humano, eles são muito importante para aquilo que significa ser-se de pé. Noutros mamíferos e na maioria
sistemas inteligentes parecidos. Quase idênticos. humano. dos outros vertebrados, os comandos
tem-no levado ao Quais são as semelhanças? Qual é a relação entre estas três partes? para movimentar os músculos não vêm
aprofundamento A imagem genérica mais crua de um Lutam, cooperam entre si? do córtex, vêm do mesencéfalo e do
do estudo das cérebro de um peixe com 400 milhões Nos inputs de entrada, a informação chega rombencéfalo. Uma analogia perfeita é
funções nervosas de anos consiste em três estruturas a todos estes níveis, incluindo a espinal a seguinte: imaginemos que um cavalo
que os suportam. básica: o rombencéfalo, o mesencéfalo medula. Se removermos o cérebro a um é o mesencéfalo e o rombencéfalo; o
Licenciado em Astronomia e doutorado e o prosencéfalo — respectivamente, a sapo, ficando somente com a espinal córtex de um mamífero inferior e de
em Neurociências pela Universidade de parte de trás, do meio e da frente. Cada medula, ainda podemos “fazer cócegas” no outros vertebrados tem o controlo que
Harvard, onde ensinou, tenta perceber uma destas partes desempenha tarefas flanco do sapo, que ele activa a pata para se um cavaleiro teria. O cavaleiro consegue
com exactidão que partes do cérebro mais diferentes. A parte de trás é aquela que coçar. Trata-se apenas da espinal medula orientá-los na direcção certa, consegue
contribuem para vermos o mundo como está mais próxima da espinal medula e a responder. Se tropeçarmos, se a parte ajustar os seus movimentos, os seus
vemos. Kampff acredita que um dia, vamos acaba por ser uma longa faixa de neurónios da frente do nosso pé bater contra um saltos. Ao fazer isso, terá inevitavelmente
ser capazes de controlar totalmente estados responsável por controlar os músculos obstáculo, o outro pé começa logo a esticar- consequências sobre o destino do cavalo.
emocionais, como por exemplo evitar ter — no caso de um peixe, a sua cauda. se para a frente para nos equilibrarmos, E penso que essa é a principal razão pela
ciúmes. “Seria muito semelhante, creio, O mesencéfalo é onde estão os inputs antes mesmo de qualquer informação qual o córtex se tornou tão grande. Não
a ter controlo sobre os nossos músculos”, sensoriais, a informação visual ou sonora. chegar às outras três partes do cérebro, só por causa da quantidade de detalhes
diz o investigador numa conversa onde Esses inputs chegam e geram comandos. por acção da espinal medula. À medida que que controla, mas pelo facto de poder
revela que a sua experiência como pai de Se virmos comida, ou um predador, é subimos de nível, da parte de trás para a ter em conta todas as variantes: onde
duas crianças pequenas (um rapaz e uma transmitido um sinal ao rombencéfalo para parte da frente do cérebro, a informação estamos, qual a decisão certa a tomar. E
rapariga) o tem ajudado a fazer novas construir um movimento que nos permita é processada cada vez com maior detalhe. isso influencia a forma como usamos o
perguntas. Entre 2011 e 2015, Adam Kampff fugir, por exemplo. Foi essencialmente No sentido inverso, em outputs, a história mesencéfalo e o rombencéfalo para nos
foi investigador principal no Programa de o que estudei nos meus primeiros anos torna-se mais complicada. Descobriu-se movimentarmos. O melhor exemplo, se
Neurociências da Fundação Champalimaud. como neurocientista, a ligação entre o muito recentemente que o prosencéfalo, quisermos saber de que forma o córtex é
Actualmente, é investigador principal no mesencéfalo e o rombencéfalo. Estas o córtex, não detém informação muito importante para um humano, da mesma
Kampff Lab, que fundou em Londres. A duas estruturas estão presentes em todos detalhada sobre o movimento. Isto é o que forma que é importante para um rato ou
partir daqui partilha muita da informação os cérebros. Se ouvirmos um ruído, a estudamos há vários anos nos laboratórios um cão, é imaginarmo-nos a saltar ao pé-
recolhida, porque acredita que a melhor nossa cabeça vira-se: é o mesencéfalo a do Instituto Champalimaud. Assumimos, tal coxinho. Pomo-nos num pé e começamos a
maneira de descobrir o funcionamento do trabalhar de uma forma muito parecida como a maioria da comunidade científica, saltar. Fazemos isso aqui, ou num passeio,
cérebro, é envolvendo o maior número de com o cérebro de um peixe. A parte da que o córtex, por ser muito importante na rua. Depois fazemos exactamente o
cérebros possíveis. frente do cérebro do peixe que estudei tem para o processamento de inputs sensoriais mesmo, mas à beira de um precipício, ou
Em que é que trabalha exactamente no umas centenas, talvez uns mil neurónios. complexos, também seria necessário num parapeito desprotegido. A sensação
Kampff Lab? Todo o cérebro do peixe tem cerca de 100 para executar movimentos complexos. é logo diferente. Como é diferente andar
Tento perceber como é que o cérebro mil. O prosencéfalo do peixe é uma parte E de facto não é verdade, a não ser que numa superfície perfeitamente normal,
constrói um modelo do mundo, uma visão relativamente pequena de um cérebro consideremos apenas uma pequena com e sem um corrimão a proteger-nos de
tridimensional do espaço em que vivemos. já de si pequeno. E esta é uma parte espécie de mamíferos, que são os primatas, uma queda de 50 metros. O nosso córtex é
Mas é mais do que isso, porque não consiste muito misteriosa. Porque se olharmos incluindo nós. O cérebro humano é o único o que faz com que a sensação seja diferente.
apenas na estrutura do mundo, como um para o cérebro de um peixe, para o seu do planeta que precisa do prosencéfalo E é diferente porque os nossos músculos
modelo arquitectónico; tem também que mesencéfalo, está simplesmente ali, não para andar. É uma longa história, mas creio estão a ser estimulados através de sinais
ver com a percepção das propriedades faz muito. Quando é emitido um estímulo que estamos a começar a juntar as peças. do córtex que viajam pelo mesencéfalo,
físicas. Na realidade, com a percepção visual de alguma coisa que lhe possa Porque é que precisamos do pelo rombencéfalo. Não mudam o facto
de todas as interligações, de como tudo interessar, o mesencéfalo activa-se e o prosencéfalo para andar? Por sermos de estarmos a caminhar de A até B. O que
funciona. Olhamos por exemplo para o animal foge ou ataca. Mas, se olharmos bípedes? fazem é preparar-nos: se escorregarmos ou
modelo de um copo: sabemos identificá- para o prosencéfalo, está a cintilar É sem dúvida parte da resposta. Andar se alguém aparecer e gritar “Olá!”, a forma
lo, tem um certo aspecto, mas também energicamente. Chamamos-lhe “actividade de pé é raro na vasta diversidade de como reagimos, estando no meio da rua
sabemos que ruído vai produzir quando o espontânea” porque não sabemos bem espécies do reino animal. As avestruzes e ou à beira de um precipício, vai ser muito
pousamos numa mesa de vidro. Sabemos o que provoca ou o que significa. O muitos pássaros fazem-no, mas penso que diferente. O córtex é, neste caso, a parte do
o que aconteceria se entornasse a água que sabemos dos peixes é que no seu fazem batota, porque têm umas pernas cérebro que conhece a estrutura do mundo,
que contém e se cair na minha roupa, telencéfalo, que faz parte do prosencéfalo, magrinhas, umas barrigas enormes e um para determinar qual será a melhor coisa
sei calcular o tempo que levaria a secar. esta actividade está apenas marginalmente pescoço longo. O seu centro de equilíbrio a fazer no caso de qualquer coisa correr
Sabemos um número desmesurado de ligada aos inputs (estímulos?) sensoriais, proporciona-lhes mais estabilidade. menos bem.
coisas sobre o mundo. É este modelo do tendo uma fraca influência no Portanto, não os consideramos. Passou os últimos anos a estudar o
mundo que o cérebro cria que procuro comportamento que o peixe irá exibir. A O bipedismo é mesmo difícil por ser córtex. Quais são os seus métodos de
perceber, já há mais de dez anos. razão pela qual damos importância a esta intrinsecamente instável. O problema análise?
Como é que se deu a evolução do parte da frente do cérebro está relacionada motor para manter a estabilidade é muito Em termos práticos, colocamos eléctrodos
cérebro? Existe uma sequência de com o facto de se ter tornado enorme nos mais fácil de resolver em seres de quatro nos cérebros de animais que têm córtex.
eventos que nos trouxe ao cérebro humanos. Na realidade, o prosencéfalo patas e mais fácil ainda para seres que Idealmente, enquanto estão a criar um
actual? expandiu-se de uma forma que engloba vivem no mar. As exigências para um corpo modelo de um mundo que criámos para
Sim. Começou bem atrás, há cerca de quase o resto do cérebro. No ser humano, se manter estável num mundo complexo eles. Usamos ferramentas como a realidade
400 milhões de anos, quando os seres é apenas isso que se vê quando se olha são muito subestimadas, até mesmo virtual ou realidade aumentada. Estão
vertebrados surgiram. Animais que, para uma imagem do cérebro, toda aquela por neurocientistas. Mas são exigências numa caixa com projectores e sons, e jogam
como nós, tinham espinal medula. O que superfície ondulosa é toda o prosencéfalo. com que os especialistas em robótica se um videojogo. Eu uso especificamente
é fascinante é que, se olharmos para o Em particular, é uma parte do cérebro deparam; eles sabem bem a dificuldade ratos. Os ratos andam por ali num c
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22 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

ambiente determinado e fazem jogos que


lembram o Pac-man, mas em 3D. Eles têm
de aprender como o jogo funciona, quais
a afogar-nos em dados. Já não dedicamos
tempo a digerir e a encaixar as peças. Foi
um grande esforço e pensámos de facto que
Como que problema resolver. E o engraçado é
que qualquer humano no mundo podia
aparecer e desembaraçar-se razoavelmente
as regras, onde as coisas estão. Têm de
criar um modelo do meio envolvente e
se medíssemos 10 mil canais em vez de mil
tudo se tornaria mais claro. E o que é certo
neurocientista, bem. Mas gostava de ver o robô campeão
em xadrez ser capaz de guiar um SUV pelo
são muito bons nisso. O que é bom para
nós, que os estudamos, é que fomos nós
a conceber esse meio, por isso podemos
agora é que nunca conseguiremos ter uma
imagem clara até lhe adicionarmos alguma
clarividência. E isso implica pensar. Neste
o que deserto. Não tem rodas, mas também tem
uma série de outros problemas. Tinha a sua
piada. É quando pensarmos em construir
observar o cérebro enquanto ele cria o
modelo do espaço por nós desenhado.
momento, não precisamos propriamente de
mais dados, precisamos de ideias melhores.
ambiciono é que sistemas inteligentes que vão encontrar
desafios não especificados que, aí sim,
Ainda mais importante: podemos observar
o que acontece quando intencionalmente
mudamos alguma coisa no ambiente
Quando altera as condições do meio
envolvente do rato, ele tem de resolver
um problema. É aí que o estudo da
o córtex tenha começaremos a pensar nos problemas
certos.
Simpatiza com o desenvolvimento de
em que o rato se movimenta. Esse
momento é extremamente interessante
inteligência começa para si?
Sim, acabámos por nos concentrar em
o mesmo tipo replicants ou os seres humanos clonados do
filme Blade Runner como solução? Parecem
para observar como é que o cérebro lida
com alterações inesperadas no modelo.
A informação relevante está ao nível da
momentos em que uma coisa não está a
correr bem e é preciso actuar depressa:
é aí que se revela o que sabemos sobre o
de controlo tão aptos como nós e até têm angústias
existenciais.
As pessoas não têm noção de como será
actividade eléctrica, que perseguimos
com agulhas minúsculas. Os humanos não
mundo. Foi com o [investigador] Gonçalo
Lopes, na Fundação Champalimaud, que
sobre o que difícil conceber algo assim — não uma coisa
que contenha células ou sangue, baseado
gostam muito disto, a não ser para casos
muito específicos, como a localização de
tumores ou fontes de epilepsia. Já os ratos
começámos este processo: removemos
parte de córtex dos ratos e descobrimos
que a única altura em que se vê alguma
sinto que aquele em tecidos, isso é fácil. Ou seja, é difícil,
mas irá acontecer. Já temos os chamados
soft robots, engenharia de tecidos e por
permitem-nos colocar-lhes facilmente
eléctrodos no cérebro, enquanto jogam
diferença é quando o animal tem de agir
imediatamente, no momento em que o seu
que tem sobre a aí fora. Mas as nossas células são como
são, estão onde estão, comunicam como
videojogos. Encaramos estas experiências
como uma oportunidade de vislumbrar
actividade neuronal como nunca vimos, a
“mundo” mudou.
O ensaio era assim: os ratos estavam a
correr por um escadote horizontal, não
forma como me comunicam, não só as do cérebro mas as
do corpo inteiro; a forma como procuram
energia, como se organizam em tecidos
esta escala. Quando comecei a trabalhar no
laboratório da Fundação Champalimaud,
para cima, apenas degraus espaçados.
À medida que corriam — e faziam isto
movimento e órgãos... As células, as vias químicas,
a expressão genética, os genes em si,
colocávamos entre 16 a 32 fios. Agora, no escuro — aprendiam de forma muito tudo isto foi seleccionado, aperfeiçoado,
eu e uma equipa gigante espalhada pelo elegante onde cada degrau estava e, “esculpido” pela evolução ao longo de um
mundo desenvolvemos dispositivos que passado muito pouco tempo, conseguiam grande período de tempo.
são do mesmo tamanho que os eléctrodos fazer aquilo na perfeição, mesmo Ao longo de quatro milhões de anos.
que eu usava há cinco anos, mas com um sem córtex praticamente nenhum. Exacto. Quando sentimos “fome”, o
circuito embutido na agulha, finíssima, Completamente inesperado foi que, no mas vagamente previsíveis. Os macacos, que acontece é que algumas células no
que faz uma análise a todo o comprimento, ensaio n.º 20, mudámos um dos degraus. para se movimentarem com elegância entre hipotálamo se activam porque os níveis
conseguindo fazer medições de 1344 Ou seja, ao colocar o peso no degrau, este árvores, estão constantemente a responder de glucose estão em baixo, mas é também
posições diferentes. Desde Setembro cedia, era instável. E a pergunta era: o que a desvios subtis. Quando vemos macacos a uma combinação de muitos outros sinais e
que usamos esses eléctrodos no córtex vai acontecer quando o rato se deparar balançar-se pelas árvores, é o córtex a ser sugestões que se dão a muitos níveis. Desde
e passámos do registo de 16 “canais” pela primeira vez com o facto de a sua usado para controlar os movimentos com a o nível individual de uma molécula capaz
para o de muitos milhares de “canais”, escada estar ‘partida’? Os ratos com córtex exactidão de bons trapezistas. Penso que a de converter eficazmente ATP (trifosfato de
que equivalem a duas ou três ordens superaram o degrau, entenderam o que atribuição desse tipo de controlo ao córtex adenosina) em ADP (adenosina difosfato).
de grandeza. E na realidade agora não tinham de fazer para o seguir caminho. é, na sua essência, o que permitiu aos E se essa molécula não contiver energia
sabemos o que havemos de fazer com estes Mas os ratos sem córtex não fizeram nada, humanos desenvolverem-se. Precisávamos suficiente para essa conversão, reage de
resultados. ficaram parados, como se o programa de usar esse modelo sofisticado do meio uma forma que provoca a sensação de fome
É demasiada informação? tivesse “crashado”. envolvente para nos movimentarmos, que, em si, não pode ser separada dessa
Sim. Pensávamos que precisávamos Isto realça os elementos-chave daquilo mas depois descobrirmos que podíamos cadeia de acontecimentos. Para expressar
de analisar uma quantidade maior de que constitui um sistema inteligente. Os também partilhar esse mesmo modelo o desejo de comer, ou desejo sexual, ou
neurónios. Pensávamos que a razão pela ratos dependem do córtex para reagir e nós sofisticado para nos relacionarmos evitar ter dor, estamos a falar de um sistema
qual ainda não tínhamos compreendido também. O córtex tornou-se muito bom a e coordenarmos entre nós próprios. muito, muito antigo, que é anterior à
o córtex era por não estarmos a pensar constantemente sobre a estrutura Descendo assim das árvores e criando existência do próprio cérebro.
registar componentes suficientes que do mundo em que vivemos, e a seguir deu sociedades. Enfim, omitindo aqui várias Quando falamos num robô ter uma
nos permitissem entender como é prioridade ao controlo dessa estrutura etapas. “vontade” ou de um robô se preocupar
que os neurónios funcionam em rede. em detrimento dos movimentos normais. O que falta pensar? Nesse esforço de com alguma coisa, estamos a misturar
Actualmente, estamos a registar ao nível E isto por razões que acredito estarem clarividência que referiu, no que é metáforas. Os estímulos que influenciam o
de uma rede e está na altura de resolver o relacionadas com as sucessivas mudanças preciso pensar quando se pensa? córtex a escolher o que faz, a forma como
problema de descobrir que informação está do ambiente em que os primatas viviam, Uma boa ideia, que daria que pensar, simula os comportamentos que selecciona,
contida nessa mesma rede. É óptimo ter que nunca era estável. Por exemplo, porque seria propor o seguinte desafio a quem esses são tão antigos como a vida. Por
estes dados, mas estamos num ponto em é que não existem outros animais grandes esteja a construir sistemas inteligentes: isso, a ideia de uma inteligência artificial
que nem sequer sabemos como estas redes a viver nas árvores? Parece ser o lugar apareçam em tal dia, tragam os vossos existencialista. Um Uber que se orienta
neuronais funcionam. Há uma sensação óbvio: é onde está a fruta, há protecção carros autopilotados ou os vossos drones, automaticamente está-se nas tintas para se
na comunidade [científica] — e creio que dos predadores. As árvores têm esta os robôs que jogam xadrez, assistentes chegamos a horas ou não. Pode ter algum
em várias outras áreas — de que estamos propriedade notável de serem complexas, digitais, qualquer coisa, mas sem saberem algoritmo penalizador que o castigue por
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 23

brincar, a Alice pega em objectos que Isso libertou-nos as mãos, mas também
possam falar uns com os outros. O Albert nos permitiu falar, comunicar e, no fundo,
preocupa-se mais com o som que aquilo criar de forma coordenada as sociedades
faz, se começar a bater com as coisas umas em que vivemos como humanos. A
nas outras. E essas são duas características próxima coisa que precisamos de controlar
fundamentais sobre o que significa ser- são as fontes profundas, antigas e
se humano: é necessário perceber o poderosas das “vontades” e das emoções.
mundo relacional; é preciso saber como Não sei quanto tempo irá levar, mas serão
os materiais do mundo funcionam para se aspectos que o córtex terá de um dia
poder operar nele. Ambos são essenciais. conseguir controlar. Temos de ser capazes
Mas se as hormonas sexuais ditarem que de decidir se vamos ser felizes ou tristes,
nos preocupemos 51% com as relações zangados ou apaixonados. E tenho noção
e 49% com a simulação física, essa de que isto soa muito mal, mas precisamos
diferença é suficiente para influenciar o de ter controlo sobre estas dimensões
comportamento. emocionais em nós.
A sociedade pode empurrar-nos para À partida, o que parece é que estou a
determinadas categorias, mas não há sugerir que um simulador inteligente, que
verdadeira necessidade de o fazer. Não não tem nenhum desses ingredientes,
creio que tenhamos encontrado algo no passe a controlar o meu comportamento e
cérebro que nos diferencie radicalmente. as minhas emoções. Mas eu argumento o
Diz-se que os homens têm melhor noção seguinte: a razão pela qual existe ballet ou
espacial que as mulheres. Mas também break-dance é porque o córtex consegue
pode ser apenas porque preferem brincar fazer os nossos corpos dançar e movimentar-
desde tenra idade a chocar objectos uns se de diferentes formas. O córtex consegue
com os outros e observar os resultados. brincar com o movimento. Consegue
Para além de que somos encorajados a torná-lo ainda mais interessante do que
agir dessa forma. A diferença entre 51% quando apenas se preocupava em fugir de
e 49% é subtil. Mas diferenças subtis no predadores e não cair de precipícios. Penso
cérebro podem ter enormes repercussões, que usar a inteligência para controlar as
dado que treinamos o nosso simulador, o emoções pode ser interessante. Os estados
nosso “motor”, no aspecto do mundo que emocionais têm um impacto muito forte
preferimos: pessoas ou coisas. no simulador, e penso que todos nós já
Há então espaço para um futuro queer? tomámos decisões que desejávamos ter sido
O movimento queer é um sinal muito capazes de evitar. Não seria óptimo saber
motivador de que um dia teremos de saber evitar sentir ciúmes? Ou sentir, sim, mas
chegar atrasado, pode ter uma dúzia de que existe uma certa vontade social para como lidar com estes aspectos. Acredito sermos verdadeiramente capazes de decidir
programações algorítmicas, mas não se vai estar em sintonia, para a existência de que a preferência sexual e identidade de como lidar com o que estamos a sentir? Seria
sentir envergonhado. A “vergonha” resulta um acordo sobre aquilo que estamos a género se vão transformar em conceitos muito semelhante, creio, a ter controlo sobre
de uma rede gigante de factores e é preciso representar. Essa vontade é determinante arcaicos, tal como com o imperialismo e os nossos músculos. Diria que as religiões
ir ao nível molecular para a conseguir na comunicação. E de onde é que isto a escravatura. Vai-nos parecer impossível ocidentais ou em particular o budismo têm
explicar e entender. E isso é parte do que vem? Como é que isto está construído? já termos pensado assim, não vamos vindo a referir-se a esta questão, só que não
significa estar vivo. Se construirmos um Que consequências tem? Vemos isto acreditar. Da perspectiva do córtex, que sendo neurocientistas pararam em conceitos
replicant a partir de moléculas, temos de em qualquer criança jovem. Os seres interessa por quem nos sentimos atraídos? como a calma ou o desapego, no fundo
construir todos esses componentes. E isso humanos são uma espécie incrivelmente Óptimo é sentir atracção. E porque é que estratégias para não deixar as emoções
ainda vai levar muito, mas mesmo muito social. Estamos atentos ao que fazemos e isso havia de ser um factor de decisão controlar o que pensamos.
mais tempo do que construir um robô dizemos, somos extremamente sensíveis para o que quer que seja? Mas o facto de Como neurocientista, o que ambiciono
inteligente capaz de andar por aí e falar a este ambiente social. E perceber o ainda não estarmos bem aí é um sinal de é que o córtex tenha o mesmo tipo de
connosco. funcionamento de um ambiente social que as sociedades humanas ainda têm um controlo sobre o que sinto que aquele que
Como é que as hormonas influenciam é um projecto enorme para um cérebro conjunto de programas, de normas e de tem sobre a forma como me movimento.
o cérebro? Há diferenças observáveis jovem. restrições, mas acho que são superáveis. E não é uma questão de deixarmos de nos
entre homens e mulheres? O outro aspecto que torna o cérebro Já ultrapassámos vários obstáculos; ainda preocupar, mas antes a possibilidade de
Há diferenças nos géneros. Tanto a nível humano tão fascinante e que já aqui nos faltam muitos outros. Mas termos brincar com o que nos preocupa. Penso
cerebral como em vários outros tecidos aflorámos um pouco tem que ver com o começado a entender a necessidade que é o projecto do futuro e pode levar um
do corpo. Aqui vou simplesmente dar volume do simulador, como ele é bom de discutir estes conceitos, parece-me milhão de anos, mas consigo imaginar uma
a minha opinião como pai de um rapaz a representar um mundo cada vez mais muito entusiasmante. Mas não vai ser um sociedade humana que finalmente dominou
e de uma rapariga, na perspectiva de complexo, dinâmico e em constante percurso fácil ou linear. as suas últimas teimosias — e aí poderemos
um neurocientista bastante interessado mutação, como os primatas que o usam Do que é que depende? começar a fazer coisas verdadeiramente
em tudo o que está a acontecer, com para se balançar pelas árvores. Acima de tudo, a história dos mamíferos incríveis. O meu único receio é que
relativamente pouca compreensão sobre o Ao olhar para os meus dois filhos — a até aos primatas, e dos primatas até estraguemos tudo antes de lá chegarmos.
assunto, mas aberto a especulações. Alice e o Albert, ele tem dois anos e meio e aos humanos é a história do córtex a Porque vai acontecer. Não sei exactamente
Há dois aspectos literalmente fascinantes ela tem quase quatro —, noto que se eles se aperceber-se do seu poder sobre o seu como lá chegar, mas é para aí que devemos
sobre o ser humano que nos separam de sentarem numa mesa ambos querem saber simulador. O córtex apoderou-se de caminhar.
todos os outros cérebros. A capacidade como tudo funciona. Dada a liberdade sistemas bem antigos de que não tinha
para coordenar os nossos modelos significa suficiente, quando os dois começam a controlo antes, e fez um bom trabalho. Realizadora
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24 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Media&Tecnologia

Tecnologia Televisão
É bom ou mau
O que é um associar uma
computador? nova série
a Perdidos?
muitos levam no bolso. Já serve para baixo custo” torna impossível dei- Joana Amaral Cardoso
Karla Pequenino quase tudo: de passar as barreiras xar o aparelho na hora de dormir.
no aeroporto com um bilhete elec- No extremo, a situação cria aqui- É ou não vantajoso associar uma no-
A resposta não é assim tão fácil — em trónico a acordar a horas. Já é (des- lo a que os investigadores chamam va série a Perdidos? O risco está em
menos de dois séculos, os computa- de 2016) o aparelho mais utilizado “tecnostress”: agitação induzida pe- nós, espectadores, ao começar esta
dores passaram de uma palavra que para navegar na Internet e dados lo excesso de informação dada pelos nova aventura, e está também no
define humanos, a pequenas máqui- de 2017 da Delloite mostram que computadores modernos, permanen- próprio modelo televisivo que Lost
nas que se podem levar no bolso. Pa- 78% dos consumidores em países temente ligados. Instabilidade emo- representava e no qual The Crossing
rece ficção científica, mas é história. desenvolvidos olham para o smar- cional e pouca qualidade de sono es- TVSéries vem agora inscrever-se — mas nesta
E a Apple lembra as pessoas que está tphone menos de uma hora depois tão entre as consequências comuns, estreia mistério última década tudo mudou. Risco
longe de acabar. de acordar. Para alguns, é menos. mas deixar a tecnologia não faz sem- da ABC sobre 1: esta série não vem nem bem nem
“Mas o que é um computador?”, Em Dormir com o inimigo, um es- pre parte da solução. Há empresas, refugiados mal cotada dos EUA, onde se estreou
remata a jovem protagonista de um tudo publicado este ano na revista como a holandesa Somnox, a desen- do futuro no canal generalista ABC há duas se-
anúncio da marca ao deslizar os de- científica Computers in Human Beha- volver almofadas especiais, programa- com apenas manas. Os espectadores e os críticos
dos por um tablet quando uma vizi- viour, os autores argumentam que das via smartphone, que copiam o res- 11 episódios estão pouco entusiasmados, mas so-
nha pergunta o que está a fazer com a “prevalência de smartphones a pirar humano para embalar adultos. garantidos e bretudo à espera para ver. Risco 2:
o aparelho no jardim. Nas redes so- Com os aparelhos cada vez mais uma colagem só se sabe que The Crossing, que se
ciais, o debate sobre a pergunta dura próximos, há quem os veja a fazer, conceptual à estreia este domingo no TVSéries às
desde que o anúncio surgiu, no final
de 2017. Antes, a rapariga já tinha tre- Há anos, novamente, parte da definição de
humano. Uma equipa do MIT, lide-
série de 2004.
Quais são os
21h15, terá para já 11 episódios. Risco
3: ao longo do primeiro episódio as
riscos?
pado árvores com o tablet, teclado o
trabalho de casa e enviado fotogra-
fias à mãe. A ideia que a marca ten-
a resposta rada por Canan Dagdeviren, está a
testar a possibilidade de transmitir
energia gerada pelo corpo para pe-
referências ou ecos de séries passadas
são tantos que sabemos demasiado
bem em que viagem estamos a em-
ta passar é que nunca o abandonou
durante o dia inteiro. Para os mais certa era quenos computadores. É algo que vê
a ocorrer nos próximos dez anos. A
barcar. É uma viagem sem garantias.
Numa praia de Port Canaan, no chu-
críticos, a Apple está a ser “pompo-
sa” ao insinuar que as crianças não
vêem um tablet como um compu-
“uma prioridade é gerar energia para pa-
cemakers, mas estes aparelhos tam-
bém devem enviar informação sobre
voso e sombrio estado de Washington,
aparecem 499 pessoas. Só 47 estão
vivas. E falam de coisas que o xerife
tador, mas a história mostra que o
significado de “computador” está a
mulher”. No o corpo, via wifi, aos pequenos com-
putadores que temos no bolso.
(Steve Zahn) e as autoridades federais
(Sandrine Holt) não podem perceber
mudar desde que surgiu.
Desde o final do século XIX que os
humanos dependem de computado-
futuro, pode Independentemente da definição
de “computador”, é cada vez mais
difícil viver sem os avistar: caso con-
porque ainda não aconteceram. Esta
é uma história de refugiados. Refugia-
dos que falam a mesma língua que os
res para fazer cálculos e resolver os
mistérios do universo. Na altura, po-
estar ligado trário, o anúncio da Apple não teria
causado tanta indignação.
seus anfitriões porque, saberemos
logo, são refugiados do futuro. Lá,
rém, a palavra “computador” não vi-
nha com um monitor, processador e
teclado anexado. Era o título dado às
ao coração karla.pequenino@publico.pt
no futuro, há pessoas evoluídas, sem
doenças e com capacidades físicas e
cognitivas desenvolvidas. E planos.
CORTESIA NASA/JPL CAL-TECH
mulheres — pouco lembradas — que Uma década depois, essas séries
processavam dados manualmente e têm uma impressão digital difusa,
mapeavam estrelas para a NASA criar prejudicada pelo que se considerara
novas cartografias do universo. ser o final falhado de Perdidos e pelos
Com o passar dos anos, foram-se sucedâneos menores (Heróis, The Nine,
desenvolvendo máquinas enormes Flashforward), mas também beneficia-
cada vez mais complexas que as da pelo que alguns que fizeram Perdi-
substituíram na função, mas o termo dos tentaram emendar em novas séries
só ganhou fama na década de 1970, — Damon Lindelof em The Leftovers
quando empresas como a Apple, a (HBO), exemplo mais brilhante. Nes-
IBM e a Microsoft desenvolveram a ta equação em que parece obsessivo
ideia de um “computador pessoal” olhar para uma nova série pelo prisma
para ter na secretária. Foi a última, das antecessoras ou dos marcadores
com a missão de pôr um “em cada genéticos também houve Wayward
casa”, que ganhou a batalha e tornou Pines ou Fringe. Mas é a própria série
o Windows o sistema operativo do- que se promove assim, lembrando que
minante, cimentando a ideia daquilo A NASA vem “do canal que lhe deu Perdidos”.
que as pessoas vêem como um com- diz que os Durará a série criada por Dan Dworkin
putador. Mas, décadas mais tarde, a computadores e Jay Battie (The Event, Surface) o tem-
definição volta a mudar. humanos po suficiente para se desenvolver co-
ajudaram mo série de mistério serializada para
Da secretária ao bolso a lançar a além do seu aparente potencial?
Hoje, o aparelho de computação exploração
mais popular é o smartphone, que espacial joana.amaral.cardoso@publico.pt
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 25

Semana de lazer Por Sílvia Pereira


lazer@publico.pt

Música
LISBO
LISBOA
Oud e jazz entre mestres Fundação Calouste Gulbenkian
Funda
O tunisino Anouar Brahem é um dos maiores executantes de oud Dia 16 de Abril, às 21h.
(alaúde árabe) da actualidade. Tem obra gravada na editora alemã ECM,M, Bilhetes de 25€ a 40€
Bilhet
o que significa que o jazz também paira por aqui. E é na companhia de
três gigantes do jazz que regressa a Portugal para apresentar o álbum
Blue Maqams (2017): o baterista Jack DeJohnette, o pianista Django
Bates e o contrabaixista Dave Holland, com quem retomou finalmente
uma colaboração iniciada 20 anos antes, no aclamado Thimar.

Festival

Leiria aos museus


A pianista Joana Gama toca no Centro de Diálogo Intercultural.
A brasileira La Baq exibe o álbum Voa no Mimo — Museu
da Imagem em Movimento. Victor Torpedo põe o projecto
Karaoke a mexer no Moinho do Papel. B Fachada leva ao
Museu de Leiria o seu “folque(lore) muito erudito”. Muitos
outros se farão ouvir na Festa dos Museus de Leiria, este ano
regida pelo tema Contigo a história é outra. A programação
Teatro está longe de se esgotar na música: inclui espectáculos Música
Você decide de teatro, circo e ilusionismo, exposições, cinema, visitas Metz em paz inquieta
O percurso do catalão Roger
guiadas, roteiros culturais, oficinas, jogos e actividades para Alex
e Edkins,
d s, Haydenayde Menzies
e es
Bernat tem sido marcado crianças. Ao todo, são cerca de 60 e Chris Slorach são os vértices
por trabalhos que chamam à eventos ao longo de sete dias de um trio apostado em Arte
participação, ou mesmo ao (incluindo a celebração do lembrar os poderes do Pop desviada
protagonismo, do público. Dia Internacional dos noise-rock. O álbum
Pendiente de Voto — Sujeito a Monumentos e Sítios, 18 de estreia homónimo As ligações entre artistas
Voto é mais um passo nesse de Abril), em sete locais dos canadianos foi portugueses e ingleses dão
sentido. Num cenário-parlamento da cidade que quer ser lançado em 2012 e o mote à nova exposição da
de cores políticas desconhecidas, Capital Europeia da Cultura a recebeu da New Yorker Gulbenkian, Pós-Pop. Fora do
cada espectador é elemento os adjectivos “duro, Lugar-Comum — Desvios da Pop
em 2027.
de uma assembleia. Dispõe de severo e excelente”. em Portugal e Inglaterra. Mostra
um dispositivo de voto para O sucessor, II um conjunto de obras produzidas
se pronunciar sobre questões LEIRIA
EIRIA Centro de (2015), deu o mote entre 1965 e 1975 que sublinham,
que vão sendo lançadas, Diálogo Intercultural à passagem pelo segundo as curadoras, Ana
debatidas e argumentadas, de Leiria, Museu festival Amplifest. Vasconcelos e Patrícia Rosas,
sejam elas sobre política ou do Moinho do Os Metz regressam uma “divergência bem-humorada
gostos pessoais. São essas Papel, Museu de agora com Strange em relação ao lugar-comum
decisões que vão encaminhando Leiria,
eiria, Castelo de Peace (2017), mais proposto pela pop art”. Estão
o guião. Adequada a adultos e Leiria,
eiria, Mimo — um disco para a Sub representados artistas como
jovens, a peça acaba por ser, Museu da Imagem Pop, desta vez com a Teresa Magalhães, Ruy Leitão
como referiu o Le Monde, “uma em
m Movimento, melodia a penetrar na (na imagem, um trabalho sem
verdadeira reflexão política, Agromuseu Municipal inquietação sonora e título de 1966), Eduardo Batarda,
mais séria do que parece, acerca D. Julinha, Centro com o dedo de Steve Menez, Nikias Skapinakis, Fátima
dos mecanismos de poder em de Interpretação do Albini na produção. Vaz, Sérgio Pombo, João Cutileiro,
qualquer democracia e das Abrigo do Lagar Velho LISBOA MusicBox José de Guimarães, Bernard
derivas totalitárias germinantes De 16 a 22 de Abril. Dia 17 de Abril, às Cohen, Tom Phillips, Jeremy Moon
num colectivo”. Programa completo 22h30. ou Allen Jones. Em complemento,
PORTO Teatro Municipal Campo em
m www.cm-leiria.pt. PORTO Hard Club foi alinhado um programa de
Alegre Grátis a 5€ Dia 18 de Abril, às 21h30. visitas orientadas (incluindo uma
Dia 21 de Abril, às 16h. Bilhetes a 20€ com as curadoras, no dia 21 de
Bilhetes a 5€ Abril, às 16h), uma conferência
LISBOA Maria Matos Teatro com Alex Seago (23 de Maio,
Municipal 18h30), uma série de oficinas e
Dia 22 de Abril, às 18h (sessão um Ciclo de Encontros que pensa
para escolas dia 24, às 15h) estas artes em relação com áreas
Bilhetes de 3€ a 7€ como política, cineclubismo,
feminismo ou jazz.
LISBOA Museu Calouste
Gulbenkian
De 20 de Abril a 10 de Setembro.
Todos os dias, excepto terça, das
10h às 18h.
Bilhetes a 11,50€
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26 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Dia de ficar

CINEMA Os mais vistos da TV RTP1 11,3% TALK-SHOW


Sexta-feira, 13
007 — Quantum of Solace
SIC, 17h45 A Herdeira II
% Aud. Share
TVI 12,7 26,9
RTP2 1,6 Curso de Cultura Geral
RTP2, 22h59
A segunda encarnação de Daniel
Craig como 007. Desta feita, o
Jornal das 8 TVI 11,1 25,5 SIC 15,9 O “curso” de Anabela Mota Ribeiro,
para ver ou repetir lições. Assenta
TVI
Paixão II SIC 10,1 22,3
agente está determinado a perseguir
quem obrigou Vesper, a mulher que
Televisão Vidas Opostas SIC 9,7 20,4 21,3 em conversas sobre a cultura e o
saber, tão gerais quanto específicos,
Cabo
Espelho d'Água SIC 8,8 24,5
amou, a traí-lo. Juntamente com
lazer@publico.pt 37,7 já que cada aula depende do rumo
FONTE: CAEM
M ( Judi Dench), Bond percebe que e vida dos convidados. Hoje com
a organização que a chantageou é a bióloga Patrícia Garcia Pereira,
bem mais complexa e perigosa do RTP1 - A Longa Estrada para Casa 17.40 Solace 22.00 Walking Tall - Justiceiro especialista em borboletas, e as
que tinha imaginado. É então que 6.30 Espaço Zig Zag 8.00 Bom Milagre no Rio Hudson 19.20 O Bebé Incorruptível 23.48 Velocidade Furiosa escritoras Alexandra Lucas Coelho
se cruza com Camille, também em Dia Portugal Fim de Semana 10.30 de Bridget Jones 21.30 Juntos para - Ligação Tóquio 1.43 Hawai Força e Rita Natálio, ambas convidadas
busca de vingança. Esta coloca-o Eucaristia Dominical 11.34 Paraíso Sempre 23.15 Madoff: Teia de Mentiras Especial 2.30 The Walking Dead 3.20 versar sobre Grande Sertão: Veredas,
na pista de Dominic Greene, um Verde 12.10 Expedição ao Antárctico 1.35 Equidade 3.20 Morgan 5.00 Ali e Investigação Criminal: Los Angeles escrito em 1956 por Guimarães Rosa.
impiedoso homem de negócios e 13.00 Jornal da Tarde 14.19 Sociedade Nino: Uma História de Amor 5.36 C.S.I.

DOCUMENTÁRIO
um dos pilares da tal misteriosa Recreativa 15.13 Lendas do Futuro
organização. Durante a missão, 16.44 Hancock 18.17 Ela É Mesmo...
Bond vai descobrir que Greene está o Máximo 19.59 Telejornal 21.08 Got FOX MOVIES FOX LIFE
a tentar apoderar-se de um dos Talent Portugal 23.02 Um Quente 9.42 Piratas das Caraíbas - O Cofre 13.22 For the People 13.57 All for Love A Máquina Assassina de Hitler
recursos naturais mais importantes Agosto 1.16 Expedição ao Antárctico do Homem Morto 12.05 Homem sem 15.41 Deadly Exchange 17.34 O Chef História, 21h51
do mundo... De Marc Forster. 2.09 Sociedade Recreativa 2.56 Rumo 13.50 Os Profissionais 15.38 (2014) 19.49 Noivo de Aluguer 22.20 Maio de 1945. Com o fim da guerra e
Parlamento 3.43 Televendas Deus Perdoa... Eu Não! 17.26 Um Burlesque 0.39 Serena 2.37 Ossos a rendição nazi o mundo descobriu
Juntos para Sempre Homem sem Medo 19.19 Nevada Smith o horror brutal de um sistema de
TVC1, 21h30 21.15 Piratas das Caraíbas - Nos Confins genocídio. A eliminação de milhões
Esta é a história de Bailey, também RTP2 do Mundo 23.56 Piratas das Caraíbas DISNEY de pessoas foi meticulosamente
conhecido pelo nome de Buddy, 7.00 Euronews 8.00 Espaço Zig Zag - Por Estranhas Marés 2.06 Desperado 15.21 Lab Rats 15.44 A Raven Voltou planeada por um regime, cuja
Tino ou Ellie. Ao longo de múltiplas 12.59 Voz do Cidadão 13.16 Caminhos (1995) 3.45 O Leopardo 16.08 K.C. Agente Secreta 16.31 organização e métodos começavam
reencarnações, a sua alma canina 13.43 70x7 14.14 Nikolaj e Julie 15.00 Mickey Mouse - Edição Especial a ser conhecidos. Neste episódio,
cruzou-se com vários donos. O Desporto 2 17.01 Vamos à Descoberta 16.59 Entrelaçados: A Série 17.22 recorda-se Hjalmar Schacht, figura
primeiro de que se recorda é 17.52 A Mentira da Verdade 18.21 Bob‘s CANAL HOLLYWOOD Acampamento Kikiwaka 17.45 muito esquecida, mas da qual
Ethan, um rapazinho que foi seu Burgers 18.45 A Ilha de Black Mor 20.11 10.20 A Lenda de Bagger Vance 12.25 Melhores Amigas Sempre 18.10 K.C. dependeu a ascensão de Hitler.
companheiro durante anos e com E2 - Escola Superior de Comunicação Milhões 14.05 Escola de Rock 16.00 Agente Secreta 18.33 Lab Rats 18.56 Adaptado do romance The Devil
quem teve uma ligação muito Social 20.35 Madeira Prima 21.03 Jóias A Saga Twilight: Amanhecer - Parte 1 Acampamento Kikiwaka 20.58 Andi Banker, de Jean-François Bouchard,
especial. A separação foi difícil e, para Que Vos Quero? 21.30 Jornal 17.55 Need for Speed: O Filme 20.10 Mack 21.45 K.C. Agente Secreta 22.08 um documentário que traça o
ainda hoje, apesar de ter regressado 2 22.14 O Gerente da Noite 22.59 Snitch - Infiltrado 22.00 Rush - Duelo Mickey Mouse - Edição Especial retrato de uma personagem que,
sob a forma de outros cães e de Curso de Cultura Geral 23.57 Ryuichi de Rivais 0.10 Procurado 2.05 O sem nunca ter feito parte do partido
ter pertencido a donos igualmente Sakamoto: Tocando Orquestra 2014 Exterminador da Noite 3.45 Forte Utah nazi, constituiu um dos seus mais
dedicados, mantém a esperança 1.58 Cinemax 3.04 Afinidades DISCOVERY sólidos pilares.
de o reencontrar. Uma história de 17.20 Chapa e Pintura 18.15 Corridas
AXN
MÚSICA
devoção e amizade com realização Ilegais 20.05 A Febre do Jade 21.00
de Lasse Hallström. SIC 13.26 O Lobo de Wall Street 16.21 A Febre do Ouro 2.15 A Febre do Jade
6.55 Espaço Infantil 8.45 Marco 10.15 Agentes de Reserva 18.19 Ladrões 3.05 Já Estavas Avisado! 4.35 Negócio
Um Quente Agosto Força Ralph (v.p.) 12.15 Vida Selvagem: com Estilo 19.59 Trip de Família 21.55 Fechado 5.00 Caçadores de Leilões Ryuichi Sakamoto: Tocando
RTP1, 23h02 Spy in the Wild 13.00 Primeiro Jornal Agentes Secundários 23.57 Chicago 5.25 Gas Monkey ao Resgate Orquestra
Com produção de George Clooney, 14.10 Fama Show 14.45 I’m Out of Fire 0.47 Isto É o Fim! 2.39 Quântico RTP2, 23h57
Jean Doumanian e Grant Heslov, Office 15.00 Os Guardiões da Galáxia 4.09 Mentes Criminosas 4.54 Agentes O japonês Ryuichi Sakamoto já
uma comédia negra assinada 17.45 007 - Quantum of Solace 19.57 Secundários HISTÓRIA compôs bandas sonoras de filmes,
pelo produtor, argumentista e Jornal da Noite 21.35 DivertidaMente 17.34 O Estripador 18.17 O Universo: música electrónica, uma ópera e
realizador John Wells, a partir 23.00 O Outro Lado do Paraíso 0.40 Enigmas Ancestrais 20.26 Caçadores até toques para telemóvel. Em 2014,
da peça homónima de Tracy Dentro do Labirinto Cinzento 2.25 Os AXN BLACK de Mistérios 21.08 Caçadores de apresentou no Suntory Concert
Letts, vencedora de um Pulitzer. Europeus 2.50 Poderosas 14.32 A Viagem a Itália 16.21 Mistérios 21.51 A Máquina Assassina Hall, em Tóquio, algumas das suas
Em Osage County, no estado Assassinos de Férias 17.50 Jackie de Hitler 0.31 Hitler 1.19 Hitler 2.07 peças mais famosas, com o apoio da
norte-americano de Oklahoma, Brown 20.18 Até à Morte 22.00 Alienígenas 2.49 Alienígenas 3.31 Orquestra Filarmónica de Tóquio.
a história dos Weston durante o TVI Motorista para Todo o Serviço 23.37 Extraterrestres? 4.12 Extraterrestres? Um belíssimo concerto, repleto de
mês mais quente do ano. A família 6.15 Os Batanetes 6.30 Campeões e Caçada Mortal 1.15 Jackie Brown 3.43 4.53 O Preço da História 5.14 O paisagens sonoras quase etéreas.
disfuncional reúne-se devido ao Detectives 8.15 Detective Maravilhas Sobrenatural 4.26 Até à Morte Estripador 5.56 O Estripador

INFANTIL
estranho desaparecimento de 9.00 O Bando dos Quatro 10.00
Beverly Weston, o patriarca. E, à Querido, Mudei a Casa! 11.00 Missa
medida que os dias passam e eles - Belas, Sintra 12.30 Somos Portugal AXN WHITE ODISSEIA
são forçados a uma convivência 13.00 Jornal da Uma 14.00 Somos 14.12 A Guerra dos Botões (2011) 16.06 17.13 Através da Objectiva 17.41 Andi Mack
imposta pelas circunstâncias, tudo Portugal 19.58 Jornal das 8 21.30 Família de Acolhimento 16.51 Psych - Planeta Azul Selvagem 18.30 Cidade Disney, 20h58
se revela: as crises, os ciúmes, os Secret Story 7 - Gala 0.00 Secret Agentes Especiais 18.23 A Teoria do Selvagem: Singapura 19.17 Israel Andi é uma adolescente que está a
ressentimentos e as fragilidades de Story 7 - Pós-Gala 0.45 Secret Story 7 - Big Bang 20.27 Young Sheldon 21.13 A Selvagem 20.04 As Serpentes Mais descobrir quem é, contando com
cada um. Porém, no meio de tantos Ligação à Casa 1.00 Querido, Comprei Teoria do Big Bang 22.00 Detonação Mortíferas 20.48 Através da Objectiva um empurrão da irmã mais velha,
sentimentos, haverá espaço para Uma Casa 1.30 Querido, Mudei a Casa! 0.08 World Trade Center 2.10 Trocadas 21.38 Grande Tubarão Branco 22.31 Bex, quando esta regressa a casa
reencontrar o amor que, apesar 2.30 Anjo Meu 3.00 Olhos de Água à Nascença 2.56 Detonação Resgate na Praia 0.01 Diário Secreto do com uma grande revelação. Ao lado
de tudo, ainda teima em uni-los. Sexo 0.48 Bonecas Sexuais 1.45 Diário de Andi, os seus melhores amigos,
O elenco é de luxo: Meryl Streep, Secreto do Sexo 2.33 Bonecas Sexuais Cyrus e Buffy, que também estão
Sam Shepard, Julia Roberts, Ewan TVC1 FOX 3.36 Resgate na Praia 4.43 Resgate na a tentar perceber quem são e de
McGregor, Chris Cooper, Abigail 10.00 Escritos Secretos 11.50 Cantar! 13.38 Hawai Força Especial 17.05 007: Praia 5.10 Cidade Selvagem: Singapura que forma podem integrar-se no
Breslin, Juliette Lewis e Benedict (v.p.) 13.40 O Fundador 15.40 Lion Casino Royale 19.54 007: Quantum of 5.57 Israel Selvagem mundo. Uma série dirigida a jovens
Cumberbatch. entre os 6 e os 14 anos.
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 27

Dia de sair

18h20 (V.Port./2D); Batalha do Pacífico: A 14h, 17h10, 20h50, 24h; Assim Não Vais Milhões M12. 12h30, 15h, 17h10, 19h15, 21h20, 21h20; Operação Entebbe 13h10; Peter

CINEMAS Revolta M12. 13h05, 15h50, 18h30, 21h10,


23h50; Rampage - Fora de Controlo M12.
13h, 15h40, 18h10, 21h, 23h40; Soldado
Longe M12. 12h55, 16h30, 19h10, 21h45; A
Maldição da Casa Winchester M14. 16h20,
19h, 21h25, 23h55; Rampage - Fora de
23h25; A Maldição da Casa Winchester M14.
13h40, 16h10, 18h40, 21h30, 00h10; Rampage
- Fora de Controlo M12. Sala Imax - 12h40,
Rabbit M6. 11h20, 13h25, 15h30, 17h35,
19h40 (V.Port./2D);
Batalha do Pacífico: A Revolta M12. 13h30,
Lisboa Milhões M12. 12h50, 15h, 17h10, 19h25, Controlo M12. 13h30, 16h15, 18h50, 21h30, 15h10, 17h40, 20h40, 23h20 15h40, 21h45; Rampage - Fora de Controlo
21h35, 23h45; Assim Não Vais Longe M12. 00h10; Rampage - Fora de Controlo M12. O Cinema da Villa - Cascais M12. 11h15, 13h35, 15h55, 17h20, 18h50,
Cinema City Alvalade 13h20, 16h10, 18h50, 21h40, 00h20; A Sala 4DX - 14h30, 17h, 19h30, 21h50, 00h30 Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2. T. 215887311 19h30, 21h30; Soldado Milhões M12. 13h45,
Av. de Roma, nº 100. T. 218413040 Maldição da Casa Winchester M14. Cinema Paraíso M12. 18h40, 21h20; 15h30, 17h50, 19h40, 22h
Madame M12. 13h40, 15h30, 21h40; A Hora 17h50, 21h50, 00h30; Rampage - Fora de Madame M12. 13h40, 15h40, 17h40, 19h40, Cineplace - Leiria Shopping
Mais Negra M12. 19h35; Três Cartazes à Controlo M12. Sala Imax 13h30, 16h10,
Amadora 21h40; Sherlock Gnomes M6. 11h (V.P./2D); CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516
Beira da Estrada M16. 17h10; A Idade da 18h40, 21h30, 00h10 CinemaCity Alegro Alfragide Ready Player One: Jogador 1 M12. 13h15, Madame M12. 21h40; Ferdinando M6.
Pedra M6. 11h40 (V.Port./2D); Manifesto Cinemas Nos Vasco da Gama C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030 18h30, 21h20; Operação Entebbe 16h10; 14h30 (V.Port./2D); Réplica Violenta M16.
M12. 13h20 Não Me Ames M16. 19h25; Parque das Nações. T. 16996 Ferdinando M6. 11h10, 15h35 (V.Port./2D); Peter Rabbit M6. 11h, 14h, 16h30 (V.P./2D); 19h50, 21h50; A Idade da Pedra M6. 14h20
Rudolfo, o Gatinho Preto M3. 11h30 (V.P./2D) Réplica Violenta M16. 21h50, 00h10; Tomb Três Cartazes à Beira da Estrada M16. Batalha do Pacífico: A Revolta M12. 14h30, (V.Port./2D); Tomb Raider: O Começo M12.
Aparição M12. 17h20; Maria Madalena M12. Raider: O Começo M12. 13h40, 16h10, 17h30; Réplica Violenta M16. 11h30, 14h, 17h, 19h15, 21h30; Acerta o Passo M12. 16h20, 21h20 (2D), 18h50 (3D); Rudolfo,
22h; Peter Rabbit M6. 11h10, 13h15, 15h20, 18h50, 21h40, 00h30; Sherlock Gnomes 21h50; Patrulha de Gnomos M6. 11h40 14h20, 16h40, 19h10, 21h30 o Gatinho Preto M3. 13h20, 15h20, 17h20
17h25 (V.Port./2D); Acerta o Passo M12. M6. 11h, 13h30, 16h (V.Port./2D); Ready (V.Port./2D); The Post M12. 21h40; As (V.Port./2D); Sherlock Gnomes M6. 16h20
13h30, 15h40, 19h40, 21h50; Soldado Player One: Jogador 1 M12. 14h, 21h, 23h50 Cinquenta Sombras Livre M16. 23h45; (V.Port./2D); Ready Player One: Jogador
Milhões M12. 15h25, 17h50, 21h30; (2D), 17h40 (3D); Peter Rabbit M6. 11h, Black Panther M12. 15h55, 21h20; Abelha
Carcavelos 1 M12. 13h30, 18h20, 21h10; Peter Rabbit M6.
Setembro a Vida Inteira 19h30 13h10, 15h20, 17h20, 19h30 (V.Port./2D); Maia: Os Jogos de Mel M3. 11h20 (V.P./2D); Atlântida-Cine 13h, 15h10, 17h20, 19h30 (V.Port./2D); Batalha
Cinema Ideal Batalha do Pacífico: A Revolta M12. 18h40, A Agente Vermelha M16. 18h20, 21h10, R. Dr. Manuel Arriaga. T. 214565653 do Pacífico: A Revolta M12. 12h50, 15h10,
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295 21h20, 24h; Rampage - Fora de Controlo 23h55; Snow: Uma Viagem Heróica M6. Cinema Paraíso M12. 15h, 21h30; Três 17h30 (V.Port./2D); Acerta o Passo M12. 19h20,
Festival Cortex 22h; Cinema Novo M12. M12. 13h20, 15h40, 21h30, 00h20 (2D), 11h25 (V.Port./2D); A Idade da Pedra M6. Cartazes à Beira da Estrada M16. 17h45; 21h40; Rampage - Fora de Controlo M12.
17h45 Ammore e Malavita M12. 15h15, 19h30 18h10 (3D); A Maldição da Casa Winchester 11h15, 17h35 (V.Port./2D); Lady Bird M14. Linha Fantasma M12. 17h45; Acerta o 14h30, 16h50, 21h30 (2D), 19h10 (3D); Assim
CinemaCity Campo Pequeno M14. 13h, 15h10, 17h30, 19h40, 22h, 00h25 13h40, 19h30; Tomb Raider: O Começo M12. Passo M12. 15h, 21h30 Não Vais Longe M12. 16h50, 19h10, 21h30
Centro de Lazer. T. 217981420 Medeia Monumental 16h10, 21h35, 00h05; The Strangers -
Coco M6. 11h15 (V.Port./2D); Patrulha Av. Praia da Vitória, 72. T. 213142223 Predadores da Noite M16. 00h30; Rudolfo,
de Gnomos M6. 11h25 (V.Port./2D); The Colo M16. 14h30, 19h15, 21h45; Coco M6. o Gatinho Preto M3. 11h30, 13h30, 15h30,
Sintra Odivelas
Post M12. 19h45; Black Panther M12. 11h30 (V.Port./2D); Manifesto M12. 13h15, 17h30 (V.Port./2D); Maria Madalena M12. Cinema City Beloura Cinemas Nos Odivelas Parque
21h40; A Idade da Pedra M6. 11h15, 13h15, 17h15, 19h45; O Capitão M16. 15h15, 17h30, 19h; Sherlock Gnomes M6. 11h20, 13h20, Beloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9, C. C. Odivelasparque. T. 16996
15h20, 17h20 (V.Port./2D); Tomb Raider: O 19h45, 22h; Custódia Partilhada M12. 15h20 (V.Port./2D); Ready Player One: Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643 Gringo M14. 21h30; Tomb Raider: O
Começo M12. 21h55, 00h30; Rudolfo, o 13h45, 15h45, 17h45, 21h45; Ammore e Jogador 1 M12. 13h10, 16h, 18h50, 21h25, Madame M12. 15h40, 17h30, 19h20, Começo M12. 12h50, 15h30, 18h30,
Gatinho Preto M3. 11h10, 13h10, 15h20, 17h20 Malavita M12. 14h, 16h30, 19h, 21h30 00h15; Operação Entebbe 00h25; Peter 21h45; Três Cartazes à Beira da 21h10; Sherlock Gnomes M6. 10h50, 13h05,
(V.Port./2D); Maria Madalena M12. 13h40, Nimas Rabbit M6. 11h25, 13h35, 15h40, 17h45, Estrada M16. 19h35; Patrulha de 15h20, 17h50 (V.Port./2D); Ready Player One:
21h30; Sherlock Gnomes M6. 11h20, 15h40 Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362 19h45 (V.Port./2D); Batalha do Pacífico: Gnomos M6. 11h10 (V.Port./2D); A Agente Jogador 1 M12. 20h40; Peter Rabbit M6. 11h,
(V.Port./2D); Braven M12. 23h55; Ready Chavela M12. 13h45, 15h45, 17h45, 19h45, A Revolta M12. 13h25, 18h40, 21h55, Vermelha M16. 21h35; Snow: Uma Viagem 13h20, 16h, 18h40 (V.Port./2D); Batalha do
Player One: Jogador 1 M12. 16h, 18h50, 21h45 00h20; The Wailing - O Lamento M16. Heróica M6. 11h35 (V.Port./2D); A Idade Pacífico: A Revolta M12. 13h15, 15h50, 18h20,
21h25, 00h15; Peter Rabbit M6. 11h20, 13h25, UCI Cinemas - El Corte Inglés 23h55; Acerta o Passo M12. 13h15, 15h25, da Pedra M6. 16h10 (V.Port./2D) ; Lady 20h50; Rampage - Fora de Controlo M12.
15h30, 17h35, 19h20 (V.Port./2D); Batalha do Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. 19h35, 21h45, 24h; Rampage - Fora de Bird M14. 19h45; Rudolfo, o Gatinho 13h10, 15h40, 18h, 21h
Pacífico: A Revolta M12. 13h25, 19h35, 22h, Cinema Novo M12. 13h40, 16h20, 18h55, Controlo M12. 11h10, 13h30, 15h50, 18h30, Preto M3. 11h15, 13h15, 15h20, 17h20
00h25; Bullet Head - O Último Golpe 21h40, 00h20; Rock’n Roll M12. 18h30, 19h45, 21h30, 23h50; A Maldição da Casa (V.Port./2D); Maria Madalena M12. 13h20,
M16. 17h50, 00h30; Rampage - Fora 23h40; Madame M12. 11h30, 13h50, 16h20, Winchester M14. 13h45, 15h45, 17h45, 22h; Sherlock Gnomes M6. 11h20,
Setúbal
de Controlo M12. 11h10, 13h30, 15h50, 18h45, 21h25, 23h50; A Hora Mais Negra M12. 19h50, 22h, 00h10 15h40 (V.Port./2D); Ready Player One: Cinema City Alegro Setúbal
18h30, 19h40, 21h20, 00h05; Assim Não 13h45; Três Cartazes à Beira da Estrada M16. UCI Dolce Vita Tejo Jogador 1 M12. 13h, 18h40, 21h10; Peter C. C. Alegro Setúbal. T. 265239853
Vais Longe M12. 13h20, 15h30, 17h40, 16h25, 21h45; Chama-me pelo Teu Estrada Nacional 249/1, Venteira. Rabbit M6. 11h20, 13h25, 15h30, 17h35, Cinema Paraíso M12. 19h30; Réplica
19h20, 21h50, 24h; A Maldição da Casa Nome M14. 18h50; A Forma da Água M16. Coco M6. 11h30, 13h50 (V.Port./2D); Réplica 19h40 (V.Port./2D), 17h40 (V.Orig./2D) Violenta M16. 15h35, 22h, 00h20; Patrulha
Winchester M14. 11h10, 13h15, 15h35, 17h35, 13h35, 00h10; Linha Fantasma M12. Violenta M16. 16h50, 19h15, 21h50; Black ; Batalha do Pacífico: A Revolta M12. de Gnomos M6. 11h40 (V.Port./2D); Black
19h50, 21h45, 00h10 19h05; Hostis M12. 24h; A Agente Panther M12. 21h15; A Agente Vermelha 13h20, 21h50; Acerta o Passo M12. 13h15, Panther M12. 18h40, 23h40; A Agente
Cinemas Nos Alvaláxia Vermelha M16. 18h30, 21h20, 00h10; Lady M16. 21h20; Snow: Uma Viagem Heróica 15h25, 17h35, 21h40; Rampage - Fora de Vermelha M16. 21h40; A Idade da Pedra
Estádio José Alvalade. T. 16996 Bird M14. 16h50, 21h50; Manifesto M12. M6. 11h30, 14h15 (V.Port./2D); A Idade da Controlo M12. 11h10, 13h30, 16h, 17h30, M6. 11h15 (V.Port./2D); Tomb Raider: O
Três Cartazes à Beira da Estrada M16. 16h10, 21h30; Maria Madalena M12. Pedra M6. 11h30, 16h20 (V.Port./2D); Tomb 18h30, 19h40, 21h30; Assim Não Vais Começo M12. 11h10, 13h40, 16h10, 17h15,
21h; Réplica Violenta M16. 14h, 16h40, 16h30, 21h35; Wonderstruck: O Museu Raider: O Começo M12. 13h45, 16h30, Longe M12. 19h25, 21h35; Assim Não Vais 21h45, 00h15; The Strangers - Predadores
19h10, 21h35; As Cinquenta Sombras das Maravilhas M12. 13h40; Ready 19h10, 21h50; Rudolfo, o Gatinho Preto Longe M12. 13h10, 15h20 da Noite M16. 00h30; Rudolfo, o Gatinho
Livre M16. 20h50; Black Panther M12. Player One: Jogador 1 M12. 13h55, 17h, M3. 11h30, 14h, 16h30, 19h05 (V.Port./2D); Castello Lopes - Fórum Sintra Preto M3. 11h30, 13h20, 15h20, 17h20
15h30, 21h10; A Agente Vermelha M16. 21h15, 00h15; Operação Entebbe 11h30, Sherlock Gnomes M6. 11h30, 14h05, 16h40, Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352 (V.Port./2D); Sherlock Gnomes M6. 11h10
15h20, 18h20, 21h25; Tomb Raider: O 14h15, 16h45, 19h10, 21h40, 00h10; Peter 19h (V.Port./2D); Braven M12. 21h45; Ready Réplica Violenta M16. 21h50; Black (V.Port./2D); Sherlock Gnomes M6. 11h10,
Começo M12. 16h, 18h40, 21h30; Rudolfo, o Rabbit M6. 11h30, 14h, 16h10 (V.Port./2D); Player One: Jogador 1 M12. 14h, 17h, 21h15; Panther M12. 15h20, 18h05, 21h10; Tomb 17h30 (V.Port./2D); Ready Player One:
Gatinho Preto M3. 11h, 13h15, 15h25, 17h40 Batalha do Pacífico: A Revolta M12. 13h50, Peter Rabbit M6. 11h30, 13h40, 16h10, Raider: O Começo M12. 13h20, 16h, 18h25, Jogador 1 M12. 13h10, 16h, 18h50, 21h20,
(V.Port./2D); Sherlock Gnomes M6. 11h15, 19h, 00h05; Acerta o Passo M12. 11h30, 14h, 18h40 (V.Port./2D); Batalha do Pacífico: A 21h20; Sherlock Gnomes M6. 11h, 13h10 00h10; Operação Entebbe 11h15, 13h25;
13h25, 15h40, 18h (V.Port./2D); Braven M12. 16h30, 19h05, 21h30, 24h; Rampage - Fora Revolta M12. 13h40, 16h25, 21h35 (2D), 19h10 (V.Port./2D); Ready Player One: Jogador Peter Rabbit M6. 11h20, 13h25, 15h30,
22h; Ready Player One: Jogador 1 M12. de Controlo M12. 11h30, 13h55, 16h25, 21h25, (3D); Bullet Head - O Último Golpe M16. 1 M12. 12h50, 15h35, 18h25, 21h15; Peter 17h35, 19h40, 21h25 (V.Port./2D); Batalha
13h30, 16h50, 21h20; Peter Rabbit M6. 11h, 24h (2D), 18h50 (3D); Soldado Milhões M12. 21h40; Acerta o Passo M12. 13h55, 16h25, Rabbit M6. 11h, 13h, 15h10, 17h15, 18h, do Pacífico: A Revolta M12. 13h15, 15h25,
13h40, 16h10, 18h30 (V.Port./2D); Batalha do 11h30, 14h05, 16h35, 18h55, 21h25, 19h, 21h30; Rampage - Fora de Controlo M12. 19h20 (V.Port./2D); Batalha do Pacífico: A 19h20, 21h35, 23h55; Rampage - Fora de
Pacífico: A Revolta M12. 13h40, 16h30, 19h05, 23h45; Ammore e Malavita M12. 13h30, 13h45, 16h20, 19h05, 21h35 (2D), 18h50 Revolta M12. 13h, 15h30, 18h30, 21h30; Controlo M12. 13h30, 15h50, 17h35, 18h30,
21h40; Encontro Silencioso M12. 13h35; Bullet 16h15, 19h, 21h45, 00h25; A Maldição da (3D); Soldado Milhões M12. 14h05, 16h35, Rampage - Fora de Controlo M12. 13h15, 19h45, 21h30, 24h; Soldado Milhões M12.
Head - O Último Golpe M16. 18h25; Rampage Casa Winchester M14. 11h30, 14h10, 16h40, 19h05, 21h35 15h40, 18h40, 21h40; A Maldição da Casa 13h45, 15h30, 19h35, 21h55, 23h50; A
- Fora de Controlo M12. 11h15, 13h50, 16h20, 19h10, 21h35, 24h Winchester M14. 14h, 16h, 18h, 20h, 22h Maldição da Casa Winchester M14. 11h20,
18h50, 21h30; Soldado Milhões M12. 13h45, 13h20, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 00h05
16h40, 19h, 21h45; A Maldição da Casa
Cascais
Winchester M14. 13h20, 15h50, 18h10, 21h50
Almada Cinemas Nos
Leiria
L
Cinemas Nos Amoreiras Cinemas Nos Almada Fórum CascaiShopping C
Cinema City Leiria
Albufeira
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996 Estr. Caminho Municipal, 1011. T. 16996 CascaiShopping-EN N 9. Rua Dr. Virgílio Vieira Cunha.
Ru Cineplace - AlgarveShopping
Madame M12. 13h20, 16h, 18h50, 21h40, Madame M12. 18h45, 21h, 23h30; Réplica T. 16996 2
T. 244845071 Estrada Nacional 125 - Vale Verde.
00h10; A Forma da Água M16. 12h50, Violenta M16. 22h, 00h15; A Agente Madame M12. 21h50, Cin
Cinema Paraíso M12. Madame M12. 19h40, 21h40; Réplica Violenta
15h30, 20h50; Lady Bird M14. 13h30, Vermelha M16. 20h55, 24h; Tomb Raider: O 00h20; Tomb Raider:: 19h35;
19h Ferdinando M16. 22h; Black Panther M12. 14h30; Snow:
15h50, 21h10, 23h30; Manifesto M12. 18h20, Começo M12. 13h10, 15h50, 18h40, 21h40, O Começo M12. 21h10, 0, M6. 11h25 (V.Port./2D); Black Uma Viagem Heróica M6. 15h (V.P./2D); A
23h40; Ready Player One: Jogador 1 M12. 00h20; Rudolfo, o Gatinho Preto M3. 23h50; Rudolfo, o Panther
Pant M12. 21h40; A Agente Idade da Pedra M6. 16h20 (V.P./2D); Tomb
21h, 24h; Peter Rabbit M6. 10h40, 13h, 15h20, 10h30, 12h45, 15h10, 17h30, 19h45 Gatinho Preto M3. Vermelha
Verm M16. 21h25; Raider: O Começo M12. 14h40, 17h10;
18h10 (V.Port./2D); Batalha do Pacífico: (V.Port./2D); Sherlock Gnomes M6. 10h45, 11h, 13h10, 15h20, A Idade
Id da Pedra M6. 11h30 Rudolfo, o Gatinho Preto M3. 14h, 16h, 18h,
A Revolta M12. 18h; Acerta o Passo M12. 13h50, 16h30 (V.Port./2D); Ready Player 17h30, 19h40 (V.Port./2D);
(V.P Tomb Raider: 20h (V.P./2D); Sherlock Gnomes M6. 15h40
13h10, 15h40, 18h30, 21h20, 23h50; Soldado One: Jogador 1 M12. 12h20, 15h20, 18h20, (V.Port./2D); Ready O Começo
C M12. 16h, 17h15, (V.P./2D); Braven M12. 22h; Ready Player One:
Milhões M12. 13h, 15h10, 17h15, 19h20, 21h50, 21h20, 00h20; Peter Rabbit M6. 11h, 13h20, Player One: 21h50;
21h Não Me Ames M16. Jogador 1 M12. 13h30, 18h20, 21h10; Peter
23h55; Assim Não Vais Longe M12. 13h10, 16h, 18h30 (V.Port./2D); Batalha do Pacífico: Jogador 1 M12. 19h50;
19h Rudolfo, o Gatinho Rabbit M6. 13h20, 15h30, 17h40 (V.P./2D),
16h10, 18h40, 21h30, 00h05 A Revolta M12. 12h50, 15h40, 18h25, 13h30, 16h50, 20h30,, Preto
Pret M3. 11h40, 13h50, 19h50 (V.O./2D); Batalha do Pacífico: A
Cinemas Nos Colombo 21h10, 23h50; Encontro Silencioso M12. 23h30; Peter Rabbit M6. 15h50, 17h50 (V.Port./2D); Maria
15h50 Revolta M12. 12h40, 17h, 19h20, 21h40; Bullet
Av. Lusíada. T. 16996 13h40; Bullet Head - O Último Golpe M16. 11h, 13h20, 15h50, 18h10
h10 Madalena M12. 11h20,
Mada Head - O Último Golpe M16. 17h50; Acerta o
Madame M12. 20h40, 23h20; Tomb Raider: 00h20; Acerta o Passo M12. 13h15, 16h10, (V.Port./2D); Batalha do 13h40; Sherlock Gnomes M6.
13h40 Passo M12 12h40, 16h50, 19h10, 21h30;
O Começo M12. 12h40, 15h20, 18h, 21h20, 19h05, 21h45, 00h25; Rampage - Fora Pacífico: A Revolta M12.
12. 11h10, 115h20 (V.Port./2D); Ready Rampage - Fora de Controlo M12 14h30,
00h15; Rudolfo, o Gatinho Preto M3. 10h50, de Controlo M12. 12h40, 15h30, 18h, 12h50, 15h40, 18h20, 20h50, Player One:
On Jogador 1 M12. 18h30, 16h50, 21h30 (2D), 19h10 (3D) Soldado
13h10, 15h30 (V.Port./2D); Ready Player 20h40, 23h20 (V.Port./2D); Soldado 23h40; Rampage - Foraora de Milhões M12 13h50, 15h50, 19h50, 21h50; A
One: Jogador 1 M12. 14h, 17h10, 20h50, Milhões M12. 13h, 15h15, 17h30, 19h40, Controlo M12. 13h, 15h30,
h30, Maldição da Casa Winchester M14. 17h30,
00h10; Peter Rabbit M6. 11h10, 13h40, 16h, 21h50, 00h05; Ammore e Malavita M12. 18h, 21h, 23h30; Soldado
ado Rudolfo, o Gatinho Preto 19h40, 21h50
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28 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Jogos

POLICIÁRIO1393 LUÍS PESSOA FARMÁCIAS


Dia de taça Lisboa - Serviço Permanente
Martim Moniz (Martim Moniz) - Rua da
Palma, 194 - Tel. 218882755 Padre Cruz
(Carnide - Bº Pe. Cruz(Junto à Igreja)) -

Desafios O nosso espaço de hoje é integralmente


preenchido com a divulgação dos
Ó Bama – Silvana; Vítor Patrício – Xábi;
Maluff – Professor Rotor; Professor
Rua A - Lt. 138 R/C - Bº Padre Cruz - Tel.
217121520 Gare do Oriente (Santa Maria

José Paulo Viana e Cristina Sampaio


confrontos para a 2.ª eliminatória Inácio – Det. Himalaia; Ben Bolt – Calvin dos Olivais) - Av. D. João II, Lote 1.15, Loja
da Taça de Portugal. Cada confrade K; Carreto Marrão – Riba Mar; Ruca G220 - Tel. 218963270
disputa o acesso à 3.ª eliminatória com Mil – Andarilho; Det. Duralex – Haal;
o seu opositor directo, tendo como Indygo – Justiceiro Negro; Kuskas Outras Localidades
pano de fundo os problemas da prova – Neco Tareco; O Holmes – Q; Xlem – Serviço Permanente
Frações harmónicas n.º 2, de autoria de Insp. Boavida.
Eis o resultado do sorteio:
Bel Beto; Det. Kirow – Insp. Lupinha;
Albano Pistacho – Celestino; Dragão
Alandroal - Santiago Maior ,
Alandroalense Albufeira - Albufeira
TAÇA DE PORTUGAL - 2018 Dourado – Época; Etna – Tó Oliveira; Alcácer do Sal - Alcacerense Alcobaça
Uma das séries mais famosas é a harmónica:
CONFRONTOS 2.ª ELIMINATÓRIA Tiro Certeiro – Professor Martelo; - Campeão Alcochete - Cavaquinha ,
1+1+1+1+1+1+1 Radialista – Inácio Santos; Lois Lane Póvoas (Samouco) Alcoutim - Caimoto
– – – – – – – +… Alenquer - Catarino Aljustrel - Pereira
1 2 3 4 5 6 7 Fernames – A Fresh; Bernie Leceiro – – Oligarca; Sentinela – Det. Brasileiro;
Almada - Nita (Charneca de Caparica)
Holmes; Not Me – Rigor Mortis; Moratti – Fidúciu – Gaal; Hilária Clintona – Luna
Se formos efetuando as adições sucessivas, constatamos que a série, embora Almodôvar - Ramos Alter do Chão -
X Boavista; Paulo – Boatola; Protocopus Bala; Luís Gomes – M Célia; Tanita Alter , Portugal (Chança) Alvito - Nobre
cresça cada vez mais lentamente, é divergente, isto é, ultrapassa qualquer
– Búfalos Associados; Ego – Sofacada; Tananca – Vénus; Viriato – Vilamorena; Sobrinho Amadora - Flama , Igreja
valor que se queira e o seu limite é infinito.
Acosta - Det. Jeremias; Giant – Trianon; Cobra – Filósofo; Jofira – Spiridon; Zé Arraiolos - Vieira Arronches - Batista
Vamos usar apenas alguns
Deco – Július Bacanos; Det. Alfacinha Zarolho – Toni Pratas; Capitolina – FCP; , Esperança (Esperança/Arronches)
elementos desta série,
não obrigatoriamente – Larissa; Frolico – Lacsif; Fosfonitrol Gasos Pancali – Miss Dárius; Mister X Arruda dos Vinhos - Da Misericórdia Avis
consecutivos, de modo – Super Dragon; Leal – Batman; Mapei – Udaca; Ave Selvagem – Det. Popular; - Nova de Aviz Azambuja - Nova , Peralta
que a sua soma seja – Teodoro Morais; Mars – Cabo Branco; Dib Rasco – Maria Bruxa; Parlatório – (Alcoentre), Ferreira Camilo (Manique do
exatamente igual a 3. Mister H – Caró; Airam Semog – Seven; Wood Casual; André Urtiga – Chalor; Intendente) Barrancos - Barranquense
Milau – Balacó; Nagachi – Articrime; Det. Ulrich – Dr. Famoso; Gilberto Beja - Palma Belmonte - Costa , Central
Qual é o número
Padre Amaro – Ato Final; Pokemon Cruz – Sargento Kirk; Zaah – Sá Xábi; (Caria) Bombarral - Franca Borba - Central
mínimo de frações que
– Cota Mil; Xakal – Caridon; Zuzarte – Tolentino – 4G; Castelão – P Sintrão; Cadaval - Misericórdia Caldas da Rainha -
temos de usar?
Barriosa; Karl Marques – Big Boss; Insp. Papari – Carlos Gilbert; Metrossex – Maldonado Campo Maior - Campo Maior
Januário – Agente Guima; Zeca Poirot Tino Serrão; Zé Carioca – Det. Olga; Cascais - D’Aldeia , Artur Brandão (Parede)
Castelo Branco - Grave Castelo de Vide -
– Lin Hu; Zé Rambo – Agente Tucano; Artur Olavo – Lenkinha; Det. Marafado
Roque Castro Verde - Alentejana Covilhã
Udorico – Celina Catáu; Zé - Minotauro; – Insp. Columbo; Noitne – The Boss; The - São Cosme Cuba - Da Misericórdia Elvas
Cromo – Essec; A Raposo & Lena – Red Beatles – Busina; Caramelo – Garanho; - Moutta Estremoz - Costa Évora - Motta
Troop; Moroless – Xispeteó; Wipp – GPS – Macrocéfalo; Manuel Silva – Mário Ferreira do Alentejo - Salgado Fronteira
Abrótea; Daniel Falcão – Académico; Raposo; Quimtrofa – Tó Dani; Trinitá – - Vaz (Cabeço de Vide) Fundão - Sena
Anduócrime – Queluz 2020; André Evolution; João Vitola – Zendoff; Treko Padez (Fatela) Gavião - Mendes (Belver) ,
Pi – Rui Nanico; Agente Bolota – Chico – Tritão; Cool – Insp. Isótopo; KG – L Gavião Grândola - Pablo Idanha-a-Nova
Bento; Det. Bala – Insp. Boavida; Urso Revis; Nurse – Tarra Mecce; Wimpee - Andrade (Idanha A Nova) Lagoa - José
Pardo – Fantasma; A Troikista – Insp. – Real House; Ayalla – Cisco Kid; Maceta Lagos - Silva Loulé - Silveira
Sonntag; Insp. Aranha – Sorgan; Ana Cibernético – Red Lib; Rui Xabregas Algarve , Pinto, Maria Paula (Quarteira)
Xeltox – Zzz; Dr. Sócrates – Larama – Sam Spade; Semog – Tó Nuno; Loures - Cortes (Sacavém) , Barreiros Faria
Coyote; Edite Cardoso – Orta Kary; Zubulanda – Tó Almeida; Professor (Santo António dos Cavaleiros) Lourinhã -
Flo & Tânia – Agente Dourado; AA Tonecas – Comissário Maigret; CSI Correia Mendes (Moita dos Ferreiros) , Leal
Nogueira – Sertório; Agapito – Ribeiro de Brandoa – Det. Tommy; Gardénia – (Rio Tinto) Mafra - Medeiros (Fânzeres) ,
Ferreira (Malveira) Marvão - Roque Pinto
Carvalho; Det. Zorba – Insp. Moscardo; Helicor; Hugo Foguete – Teresa M; Insp.
Mértola - Pancada Monchique - Higya
Acacrime – Rei dos Pontos; Botelli – Bilharda – Insp. Alegria; DR36 – Almiro;
Monforte - Jardim Montemor-o-Novo
Neusa; Det. Cibernético – Golden Ret; Albano Fatela – Mimo; Vulk – Serpa; Rio - Freitas (Lavre/Montemor-O-Novo)
Insp. E-Faturado – Stum; Insp. James Tagus – Insp. Kulpado; Insp. Malufo – Montijo - Higiene Mora - Canelas Pais
– Nivel Z; João Jennif – Vercce; Mr. Uniaque; Rei Kukas – Kim Milá; Dalila – (Cabeção) , Falcão, Central (Pavia) Moura
Corbin – Mourinno; Joca Porreta – U; Galileu; David Belga – Rato Sega; Agente - Ferreira da Costa Mourão - Central
MSS – Oracle; Major Alvega – Arco.com; Malapata – Agente Privado; Bernardo Nazaré - Silvério , Maria Orlanda (Sitio da
O desafio proposto na semana passada foi o seguinte Merkelina – Corto Maltese; Oioppa – Jota Cueca – Agente Lapónia; Dr. Fonseca Nazaré) Nisa - Ferreira Pinto Óbidos - Vital

Gomas, bombons e chocolates Petrus; Padrão Graminho – Yang Chan;


Pistoleiro – Tracy; Tapioca – Anoli; Zé
– Erme Linda; A Luna – Corporel;
Insp. Podemos – Testa Rossa; Voar
(Amoreira/Óbidos) , Senhora da Ajuda
(Gaeiras), Oliveira Oeiras - Alcântara
Ferry – Azico; Insp. Faruk – Bochum; Raov – Assavil; Azarado – Nando Serpa; Guerreiro Oleiros - Martins Gonçalves
“Se comprarmos uma goma, um a alguns cuidados na elaboração do A Gatucha – Lima Amaro; Perry Mason Morgain – Wanda Milá; Vidal – Good (Estreito - Oleiros) , Garcia Guerra, Xavier
bombom e um chocolate naquele gráfico e na sua análise. – Xico Milas; Professor Poirot – Chefe Files; Futrica – Al Gany; Albino Calhau Gomes (Orvalho-Oleiros) Olhão - Brito
quiosque, pagamos exatamente um Vamos antes seguir outro método, Zé; António Verdi – Passolini; The – Insp.ª Aline; Irmandade do Crime – JJ; Ourique - Nova (Garvão) , Ouriquense
euro. tentando enquadrar as variáveis uma Lartiste – Libanês; João Alarcão – Nico; Ofaza – Amorini; A Matrioska – P Coruja; Palmela - Coelho Marques Penamacor
Um chocolate custa mais que dois a uma. - Melo Peniche - Higiénica Ponte de Sor
Piaxo – O Cobra; Ocosso – A Neal; Penalva – Primavera; Procópo – Aleto;
bombons. Substituindo (2) em (1) vem - Varela Dias Portalegre - Chambel Suc.
Belcato – Criolo; Dr. Libório – Francis; Amarulho – Insp. Pi; Insp. Xunga – O
Três bombons são mais caros que G + B + 2B < 100 ou G + 3B < 100 Portel - Misericordia Portimão - Pedra
Luz Farrajota – Tia Mia; Insp. Xabalo Lunático; Somaro – Machumbo; Marcus Mourinha Proença-a-Nova - Roda , Daniel
quatro gomas. Usando agora (3) fica – Lili; Miss Marple – Unicafor; Tropa Solus – Tarik Az; Vulcão - Desler Cali;
Paga-se mais por três gomas do que G + 4G < 100 ou G < 20. de Matos (Sobreira Formosa) Redondo -
K – O Mocho; Rao Kito – Bruno Capas; Cuore Dolce - Ozela; Pecador Militante Xavier da Cunha Reguengos de Monsaraz
por um chocolate. De (2) e (4) vem 3G > 2B ou 3G/2 > B
Hybrid – Olga Pedras; Werr – Mason; – Bino; Bitrolha – Cbe; Pequenote – - Paulitos Santiago do Cacém - Corte
Qual é o preço unitário de cada uma (ineq 5).
destas guloseimas?” De (4) e (1), fica G + B + 3G > 100 ou B
Elpídio Rocha – Lira Corrupta; Gafto Zurc; Tola Big – Kolka; Det. Juca – Anak; Real São Brás de Alportel - São Brás
Vamos representar G o preço de uma + 4G > 100. – Det. Lisboa; Jonas Tubarão – Tuxa; Ninoko – Badmix; Marvelisor – Zarú; Seixal - Silva Carvalho Serpa - Central
goma, por B o de um bombom e por C o Logo, por (5), 3G/2 + 4G > 100 ou 3G Cartopan – Alpinista; Betina – Insp. Yutelmi – Sir Lapidus; Soldado – Obélix; Sertã - Lima da Silva , Farinha (Cernache
de um chocolate. + 8G > 200 ou G > 18,18. Martelada; Insp. Leonel – Otutit; Arma Scripto – Ami; Gold Medal – Rui Catal; do Bonjardim) Sesimbra - da Cotovia
Para simplificar, vamos trabalhar com Como G é inteiro e tem de estar entre Dura – Lottar; Pikachu – Ph Bat; Retni – Samurai – Det. Silva; Bibó – Det. Setúbal - Louro , Rodrigues Ferreira Silves
os preços em cêntimos. As quatro 18,18 e 20, a única possibilidade é G=19. Ix; Lucifer – Alkazar; Aldino Pires – Det. Pilantra; Insp. Fitão – The Special; - Algarve , Cruz de Portugal, Sousa Coelho
informações fornecidas podem ser Conhecido o valor de G, podemos Satã; Fina Live – Dique Forte; Cão Fera – Tassolino – Ponto Pt; Professor Neca – Sines - Monteiro Telhada (Porto Covo)
escritas da seguinte forma: substituir: Japires; Máfrica – Salomão; Troca Troiko Sir Dragon; Troca Tintas – Mirrala; Ndéti , Central Sintra - O´Neill Pedrosa , São
(1) G + B + C = 100 (1) 19 + B + C = 100 ou B + C = 81 – Quinto Portal; Gelson – Pirómano; A – Sininho; Apoulos – Insp. Burc; Insp. Francisco Xavier, Silveira Mem Martins
(Mem Martins) Sobral Monte Agraço -
(2) C > 2B Usando (2) vem C/2 + C > 81 ou C > Bola – Malone; Maria Segura – Turista; Nublio – Vari Sela; Vampirina – Fochild;
Costa Sousel - Mendes Dordio (Cano)
(3) 3B > 4G 54. Van Biz – Udumastic; Quick – Rei Bingo; Geringonça – Jack Boamassa; Juno – SK;
, Andrade Tavira - Montepio Artistico
(4) 3G > C Por outro lado, (3) fica 3B > 4x19 ou B Microlta – Navalista; Muralha – Andrina; Vetux – Silumano; Sixolina – Careto; Tavirense Torres Vedras - Torreense
Uma maneira de resolver o problema > 76/3. Arzap Dil – Yek; XPTO – Abreu; Agente Brocas – Caramujo; Kolka – Vampiro do Vendas Novas - Santos Monteiro Viana
seria, por substituição de variáveis, Substituindo em (1), 76/3 + C < 81 ou Gordo – Barba Azul; Babaco – Melo Ó; Agente Mila Sousa – Fulas; BA Loko do Alentejo - Nova Vidigueira - Pulido
arranjar inequações só com duas C < 55,67. Tino; Sunita – Brilhantina; Alfonse – Lua – Banonas; Fastio – Agente Irish; Adelix Suc. Vila de Rei - Silva Domingos Vila
variáveis, representá-las graficamente Sendo C inteiro entre 54 e 55,67 terá de Nova; Loc Terry – Telma Sousa; Xeltox – – Stic; Surrela – Tigana; Tino Abreu – D. Franca de Xira - Nova Alverca Vila Real
e ver, na região do gráfico que cumpre ser C=55. Terramar; The Indian – Mary Doll; Milit. Quixote; Dani Dias – Regola; Esférico de Santo António - Carmo Vila Velha de
as condições, que valores inteiros Logo, B + 55 = 81, ou B=26.
com – Arnaldo Pintas; Gregory – O Gato – Aragonês; Arquimedes – Det. Rasca; Rodão - Pinto Vila Viçosa - Torrinha Alvito
seriam possíveis para as incógnitas. Uma goma custa 19 cêntimos, um
Preto; Today Good – Roller; C Alberto Det. Xanfrado – Pedroski; Zona J – Tiko; - Baronia Redondo - Alentejo
Não seria difícil, embora obrigasse bombom 26 e um chocolate 55.
– Erzália; Família Holmes – Muchicco; Dr. Pereira – Miss X.
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 29

Jogos

CRUZADAS 10.221 SUDOKU TEMPO PARA HOJE


HORIZONTAIS: 1. Dá passos. Espécie
de vassoura para limpar o convés do Problema
navio. 2 - Deus da guerra (na mitologia 8216
romana). Mio. 3 - Pane. Recurso (fig.).
4 - Retirar. Gracejar. 5 - Nome da letra Dificuldade: Bragança
H. Ligar-se. 6 - Descaramento (fam.). Viana do
Produzir um efeito. 7 - Concordância Fácil Castelo 7º 15º
dos sons finais de dois ou mais versos. 9º 16º
Braga
Autoridade Tributária e Aduaneira.
Prefixo (repetição). 8 - Corresponder 8º 16º Vila Real
ao prometido. 9 - Conhecimento. Fio Solução do
problema 8214 13º Porto 7º 14º
metálico. 10 - Na mitologia grega, deus
dos rebanhos, das campinas e dos 10º 16º
bosques. Organização das Nações Viseu
Unidas (acrónimo). Gostes muito. 11 -
6º 14º Guarda
Ruído. Parte superior do braço. 3-4m Aveiro
VERTICAIS: 1 - Casta de videira 4º 10º
cultivada em Portugal. Sociedade 10º 17º Penha
Gestora de Participações Sociais. 2 - Douradas
Percorrer (o mar) em navio. Partícula Coimbra 1º 8º
de negação. 3 - Diz-se do género
literário em que são escritas as obras 8º 15º
Castelo
de teatro. 4 - Tenebroso. Incapaz Branco
de produzir qualquer obra de arte.
5 - Nódoa na fruta que começa a
Problema Leiria 8º 16º
apodrecer. Suave. 6 - Poeta primitivo
Solução do problema anterior
8217 9º 17º
entre os Gregos. A unidade. 7 - Antes
do meio-dia. Conserta. 8 - (...) Couto, HORIZONTAIS: 1 - Ditar. Casal. 2 - Ocupar. Rena. Dificuldade:
3 - HOMEM. Morim. 4 - Ar. Dolo. Ema. 5 - PR. Aia. 6 - Santarém
escritor moçambicano. Remover.
NECESSITADO. 7 - On. Joana. 8 - Rimar. Sic. 9 - Mg. Dote. Muito Difícil Portalegre
9 - Soltar a voz, o elefante e outros 9º 19º
animais. Galho. 10 - Ver com espanto. ANO. 10 - Amuo. Aradar. 11 - Lar. Ruela. 7º 13º
A mim. 11 - Emitir som forte e zoante. VERTICAIS: 1 - Doha. Normal. 2 - Icor. Enigma. 3 - Tum. PC. Lisboa
Arrependido. Ur. 4 - APEDREJADO. 5 - Ramo. Soro. 6 - Lisa. Tau. 7 - Mo.
Insere. 8 - Aro. Atai. Al. 9 - Sereia. CADA. 10 - Animado. Na. Solução do 11º 19º
11 - Lama. Fora. problema 8215
Depois do problema resolvido Setúbal
encontre o título de um filme de
Alexandre Avranas (3 palavras). PROVÉRBIO: Homem necessitado, cada ano apedrejado. 8º 17º Évora
8º 17º
AMANHÃ

CRUZADAS BRANCAS 14º Sines


Beja
8º 18º
10º 16º
HORIZONTAIS: 1. Chorar, prantear.
Voz imitativa do sino, do choque de
moedas, etc. 2. Execrável. Unidade © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com 3-4m
de medida agrária. 3. E não. Filial de
estabelecimento. 4. Que se refere a Sagres
dois. Discursar. 5. Terceira vogal (pl.).
Dar aprovação. 6. Protecção (fig.). DESCUBRA AS 8 DIFERENÇAS 12º 18º
Faro
10º 20º
Observar. 7. Letra do alfabeto grego,
correspondente ao e breve latino. 15º
A tua pessoa. 8. Capital de Samoa, 1m
situada na ilha Upolu. Dar asas a. 9.
Sal do ácido nítrico. Aqui está. 10. Açores
Vazia. Doença febril eruptiva muito Corvo
contagiosa, caracterizada por Graciosa
manchas vermelhas na pele e que é Terceira
provocada por um vírus. 11. Montão, Flores
S. Jorge 10º 17º
acervo. Tornar menos assíduo. 13º 19º
VERTICAIS 1. Manipular.
Aniversário natalício. 2. 16º 16º
Pico
Despedida. Relativo a epopeia. 3. 3-5m
Concordância dos sons finais de Faial
dois ou mais versos. Tocar apito. 4.
Parte mais larga da enxada. Tornar 12º 17º
5-6m S. Miguel
lasso. 5. Planta labiada, vivaz com
base lenhosa. Progenitor. Aquelas. 11º 17º
6. Humedecer por irrigação ou Ponta
aspersão. Dividir em lotes. 7. 17º Delgada
Interpreta por meio de leitura. 2-3m
Célula reprodutora feminina dos
seres pluricelulares. Além disso. 8.
11. Mear, Cursor.
Novena, Ar. 9. Lacrar, Leme. 10. Iriar, Taipa. Madeira Sta Maria

4. Pá, Lassar. 5. Iva, Pai, As. 6. Regar, Lotar. 7. Lê, Ovo, Ora. 8.
Exercícios religiosos feitos durante
nove dias. Brisa. 9. Pôr lacre
VERTICAIS: 1. Condir, Anos. 2. Adeus, Épico. 3. Rima, Apitar. Porto Santo
em. Aparelho com que se dirige 8. Apia, Alar. 9. Nitrato, Eis. 10. Oca, Sarampo. 11. Soro, Rarear. 15º 21º
embarcação ou avião. 10. Irisar. Agência. 4. Dual, Orar. 5. Is, Aprovar. 6. Asa, Ver. 7. Épsilon, Tu. 18º
Tapume. 11. Dividir ao meio. Que HORIZONTAIS: 1. Carpir, Tlim. 2. Odiável, Are. 3. Nem,
corre ao longo de. Solução
Funchal
3-3,5m
18º 16º 21º
1-1,5m

XADREZ Sol Lua Nova


Nascente 07h03
E. Dobrescu – 15 ABRIL
Poente 20h11 16 Abr. 02h57
1º cl., 1985
(As brancas ganham)
1–0
6...Rg6 7.Bc2 Th3+ 8.Rg8 Th5 9.Tb6+ d6 10.Txd6#
[6.Txf5+? Rg4 7.Bc2 Tf3]
Marés
Leixões Cascais Faro
5.gxf4 Tg3 6.Bd1+
5.Bd1+ Rg6 6.Bxg5 Rxg5 (6...Cf2 7.Bc2) 7.g4]
[4...Rg6 5.Bxg5 Rxg5 6.Bc2 ; 4...Ce1 5.Bd1+ ; 4...Cf2 5.Bxg5 ; 4...d6
4...Cxf4
[4.Bd1+? Rh6 5.Bf4 (5.Bf8+ Rg6 6.Tb6+ Rf7) Cxf4 6.gxf4 Tg1] Preia-mar 15:37 3,4 15:13 3,4 15:19 3,4
2.Tb5 Tg7+ 3.Rh8 Tg5 4.Bf4!
03:53* 3,6 03:28* 3,6 03:37* 3,4
4.Bf3+) 4.Bf3+ Cfg4 5.Txg5+ Rxg5 6.Bf4+]
Baixa-mar 09:27
Cf2 2.Tb5+ Tg5 3.Txg5+ Rxg5 4.Bf4+ ; 1...Tg6 2.Tb5+ Tg5 3.Bd5 Cf2 (3...Tf5
[1...Te4 2.Tb5+ ; 1...Td4 2.Bd1+ ; 1...Rg5 2.Tb5+ Cf5 3.Be7+ Rh5 4.Bf7+ ; 1... 0,5 09:01 0,7 08:55 0,6
1...Cf5
[1.Txd7? Td4 2.Bd1+ Cg4 ; 1.Bd1? Cf7+ 2.Rh7 Cxd6 ; 1.Be7? Cf5 2.Tb5 Rg6] 21:42 0,6 21:16 0,7 21:10 0,5
1.Rh7! O bigode; A pá do remo; O cabo do remo.
Solução: Soluções: A bandeira; O pé; A onda de água; A janela; O chapéu na cabeça;
Fonte: www.AccuWeather.com *de amanhã
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30 • Público • Domingo, 15 de Abril de 2018

Estar bem

Nem só de carne e frutos secos


se alimenta um crossfitter
A relação dos O advento do CrossFit® em de algumas box’s, “faça uma dieta frequentemente treinos bidiários que a quantidade de hidratos
Portugal começou em 2012 e com carne e legumes, frutos e, ao contrário de um treino de carbono que comemos, até
crossfitters com nessa altura a realidade era bem gordos e sementes, alguma típico de musculação, aqui não chegar ao músculo, precisa de
nutricionistas começou diferente da que temos hoje. fruta, pouco amido e nenhum existe um total isolamento de bem mais do que as duas ou três
mal, mas começa a Existia menos conhecimento açúcar”, pode até ser válida para grupos musculares. Como tal, a horas da refeição anterior e que
sobre nutrição e desporto, quem lá treina uma, duas ou três reposição de glicogénio muscular por isso todas as refeições são
melhorar por menos nutricionistas pouco preparados vezes por semana e está a tentar no intervalo do próprio treino é importantes desde o pequeno-
fundamentalismo por para trabalhar com este tipo de emagrecer, mas quem procura uma necessidade, até porque, almoço até à ceia. Ainda assim,
parte dos primeiros, atletas e a igreja universal do reino melhorar o rendimento depressa tendo em conta a intensidade dos neste tipo de treinos abre-se
paleolítico estava no seu auge. se apercebe de que assim não mesmos, o substrato energético uma excepção, pois o que
mas principalmente por Tudo isto misturado originou uma chega lá. mais utilizado são mesmo os se come antes tem extrema
mais conhecimento de clivagem que aos dias de hoje, E aqui reside o primeiro ponto- hidratos de carbono. importância. Não no sentido
nutrição no desporto com bastantes nutricionistas chave na abordagem nutricional a Neste contexto, a maltodextrina de potenciar a performance no
“desportivos” muito competentes um crossfitter. É necessário fazer é eventualmente a fonte de treino, mas sim de o fazer de
por parte dos últimos no mercado, já não faz sentido uma grande distinção entre quem hidratos de carbono com maior forma completamente “limpa”,
existir. Num desporto que é tantas o faz por recreação e quem o faz índice glicémico (IG) conhecido literalmente falando.
Pedro Carvalho vezes injustamente estereotipado “a sério”. Quem habitualmente o (existem trabalhos que lhe Existem exercícios piores
com o risco acrescido de lesões faz de forma recreativa, participa atribuem um IG de 163, bem que outros, é certo, mas a
e Catarina Augusto e de rabdomiólise, não convém em aulas que terminam com um acima do IG do waxy maize, 63, grande intensidade do desafio
também ele ter preconceitos com workout of the day (WOD) mais e do pão branco, 71) e a melhor do final do treino associada a
classes profissionais. intenso, mas cuja duração não se opção quando o objectivo é alguns exercícios onde o nosso
Pazes feitas, vamos então falar estenderá a uma hora. Quando recuperar o mais rápido possível estômago pode parecer uma
do que realmente interessa que é: falamos na prática de uma forma os níveis de glicogénio muscular. “máquina de lavar” (desde
como deve ser a alimentação de competitiva, podem existir várias Por isso, facilmente conseguimos saltos à corda ou para a caixa,
um crossfitter? sessões de treino até às 4-5h perceber que os hidratos de flexões em pino, burpees, etc),
Olhando as páginas dedicadas por dia. São realidades distintas carbono e o seu IG não só não a probabilidade de terminar o
à nutrição do guia oficial de que devem ser entendidas de devem ser demonizados, como treino com o estômago perto
treinos, facilmente percebemos forma singular, da mesma forma farão parte do sucesso de quem da boca é elevada. Como tal,
o porquê de tantas pessoas que alguém que corre duas treina e compete. independentemente do que
sem formação na área terem ou três vezes por semana não coma, a antecedência é um factor
ficado com uma fobia extrema deve ter a mesma alimentação O estômago perto da boca determinante. Cada indivíduo
dos hidratos de carbono sem de um fundista profissional ou Trabalhos sobre alimentação e tem a sua tolerância, mas, se
justificação, uma vez que aqui o que um praticante ocasional de performance em crossfitters são possível, deve-se respeitar 1h30
índice glicémico dos alimentos musculação não tem as mesmas praticamente inexistentes, mas a 2h desde a última refeição
é completamente demonizado. necessidades nutricionais um dos poucos que corroboram até ao início do treino. E sim, as
Na página 66 deste documento, de um culturista. Como tal, totalmente esta mensagem muitas pessoas que treinam às
verificamos que alimentos nestes praticantes recreativos, verificou que os participantes que 7h00 podem treinar em jejum
ótimos que possuem um índice o principal objectivo antes da nos três dias anteriores ingeriram (ou apenas com um café para
glicémico moderado/elevado performance é a saúde e ter uma em média 6g/kg de hidratos de acordar) sem grande prejuízo da
são desaconselhados: beterraba, composição corporal adequada. carbono tiveram uma melhoria de performance. Tudo o que tenha
feijão, cenoura cozida, ervilhas, Por isso, a quantidade de hidratos performance no workout “Rahoi” muita gordura, lactose, caseína
batata, batata-doce, banana (sim, deve ser moderada, a proteína (aumento de 15 repetições) e fibra são coisas altamente
leu bem), manga, papaia, pão, deve estar sempre presente em em relação aos que comeram indesejáveis para um pré-treino
aveia instantânea e arroz. Por todas as refeições e o balanço apenas 3g/kg. Assim, mesmo (sobretudo quando feito muito
outro lado, alimentos sem grande calórico deve ser ligeiramente que um atleta esteja a precisar em cima do mesmo). Refeições
interesse para a saúde, mas que negativo de forma crónica para de emagrecer, será bem mais com ovos mexidos e bacon,
possuem baixo índice glicémico dar espaço às asneiras de fim-de- benéfico cortar na gordura do panquecas com ovos, leite e
estão na lista de “good foods”: semana sem comprometimento que nos hidratos, mesmo que seja aveia, iogurtes hiperproteicos
salsichas e hambúrgueres de soja, da massa gorda. à custa de alimentos endeusados com manteiga de amendoim
tofu, maionese, bebida de soja, Quando falamos de atletas pela corrente paleo como o são tudo opções válidas (à
óleo, cachorros, feijão de soja “a sério”, o índice glicémico abacate, ovos, óleo de coco, excepção do bacon vá), mas para
e carnes curadas. Felizmente, dos alimentos tem justamente bacon, frutos gordos, manteiga outras alturas do dia que não
quase nenhuns destes últimos a função oposta àquela que de amendoim e afins. um pré-treino na hora anterior
alimentos fazem parte da história costuma ser hipervalorizada Em grande parte dos desportos, ao mesmo. Se for cumprida a
alimentar de grande parte dos pelos guias de treino. Ou seja, dá-se um ênfase excessivo ao que 1h30 de “segurança”, são opções
crossfitters, mas este é um a melhor utilização que se lhe se deve comer antes e depois do válidas, mais uma vez avaliando a
bom exemplo de que analisar pode dar é a de se escolherem treino. Quem entende a fisiologia tolerância individual às mesmas.
alimentos à luz do seu índice os alimentos certos para permitir humana sabe que o músculo Em suma, quando falamos
glicémico é uma asneira das uma recuperação de glicogénio constrói-se e desconstrói-se da abordagem nutricional a um
grandes. muscular mais eficiente de continuamente, o que reforça a crossfitter, podemos dizer que
Nutricionistas treino para treino ou wod para necessidade de um bom aporte “nem tanto ao bacon, nem tanto
A sério ou a brincar wod durante uma competição. proteico (0,3g/kg) em cada à bolacha Maria”. Nenhuma das
Os autores escrevem segundo Outra das máximas mais Isto porque quem treina de refeição, idealmente espaçadas visões está correcta e no bom
o novo acordo ortográfico presentes e pintada nas paredes forma mais profissional faz três a cinco horas. Sabe também senso estará sempre a virtude.
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Público • Domingo, 15 de Abril de 2018 • 31

Crónica

Sobre a participação das crianças nas notícias

N
ão era um tema la, expondo-a ao julgamento dos corroborou que a preservação da tendência para falar por cima
controverso. colegas da escola, porventura identidade das crianças em risco delas. E nós, jornalistas, nem
Era só uma re- menos preparados para lidar com é o primeiro grande desafio de sempre nos conseguimos libertar
portagem sobre a diferença. qualquer cobertura jornalística do espartilho tecido pelas nossas
monoparentali- O direito à reserva da intimidade respeitadora dos direitos das rotinas. Falar com crianças exige
dade masculina. da vida privada e familiar está crianças. tempo para ir aos sítios, para
Procurámos ouvir consagrado na Constituição, a Aquela especialista, autora dos quebrar o gelo, para ouvir. Não dá
alguns pais e as suas respectivas Lei de Protecção de Crianças e livros A Construção da Agenda para entrevistá-las por telefone ou
crianças. Ninguém nos pediu que Jovens em Risco reclama respeito Mediática da Infância (Livros por correio electrónico. E há que
Por Ana Cristina omitíssemos identidades, mas, no pela privacidade em caso de risco Horizontes, 2008) e Jornalismo assumir alguns cuidados.
Pereira final da conversa com o segundo
pai, eu e o fotojornalista Paulo
social e a ética jornalística não
ignora esses preceitos. O código diz
e Direitos da Criança - Conflitos e
Oportunidades em Portugal e no
Quando me pedem para falar
sobre este assunto, gosto de
Pimenta nem precisámos de falar que “o jornalista deve respeitar a Brasil (Editora Minerva, Coimbra, lembrar meia dúzia de princípios
um com o outro para perceber que, privacidade dos cidadãos, excepto 2013), apontou outros desafios: propagados por entidades como
naquele caso, teríamos de o fazer. quando estiver em causa o interesse evitar a estigmatização, ultrapassar a Federação Internacional de
Sendo a identificação das fontes público ou a conduta do indivíduo a perspectiva factual, promover a Jornalistas. 1. Não custa o jornalista
regra, para tudo há excepções. contradiga, manifestamente, pluralidade de fontes, privilegiar o colocar-se ao nível da criança. Há
E a cobertura jornalística exige valores e princípios que ponto de vista das crianças, fazer o várias estratégias que o livram de
especial cuidado com crianças. publicamente defende”. enquadramento público-privado, olhar de cima para baixo. Basta
O Código Deontológico do Partilhei esta história em difundir a busca de soluções. arranjar um banco mais pequeno
Jornalista, revisto em 2017, Março, no V Encontro Nacional Não se pode dizer que haja ou curvar-se sobre a mesa. 2. Não
refere que “o jornalista não sobre Maus Tratos, Negligência e um ambiente favorável. As é preciso fazer uma voz afectada.
deve identificar, directa ou Risco na Infância e Adolescência, instituições (as escolas, os centros Ser criança não é ter défice
indirectamente, as vítimas de organizado pela ASAS - Associação de acolhimento, os centros cognitivo. Há que conversar com
crimes sexuais”. E que “não de Solidariedade e Acção Social educativos, as comissões de ela com naturalidade, mostrando
deve identificar, directa ou de Santo Tirso. E logo ali Lídia protecção) tendem a dificultar o um interesse genuíno pelo que
indirectamente, menores, sejam Marôpo, professora adjunta do acesso às crianças. Na ânsia de as ela tem para dizer. 3. Não se deve
fontes, sejam testemunhas de Instituto Politécnico de Setúbal e proteger, negam-lhes o direito a julgar a criança, nem os adultos
factos noticiosos, sejam vítimas ou investigadora integrada no Centro expressar os seus pontos de vista. que fazem parte da vida dela. O
autores de actos que a lei qualifica Interdisciplinar de Ciências Sociais Entre os adultos que concedem melhor é abster-se de comentar,
como crime”. da Universidade Nova de Lisboa, deixá-las falar, há os que têm até por haver muita ambivalência
Há que admitir que a redacção MANUEL ROBERTO
nas histórias de abuso, mau trato,

Ter em conta desse artigo é infeliz. Parece que


em nenhuma circunstância se
negligência. 4. Funciona a regra
básica: fazer perguntas simples,

os grupos mais pode identificar crianças (o que


seria um atentado à Convenção
directas — mais abertas a arrancar,
mais fechadas com o avançar da
sobre os Direitos da Criança, que conversa. Se a criança der sinais de
vulneráveis salvaguarda o direito à expressão e estar a ficar transtornada, o melhor
à opinião — e as opiniões anónimas mesmo é levar a conversa para
não é um não têm, ou não devem ter, lugar).
Mas o que está em causa é apenas
outro lado e regressar por outra
via. 5. Há que respeitar o ritmo da
favor que se a cobertura jornalística de actos
tipificados como crime.
criança. Se ela quiser parar, pára-
se. 6. Não identificar não quer
lhes faz. É uma A criança em causa não fora
vítima de crimes sexuais. Tão-
dizer usar nome falso, é bem mais
complexo.
obrigação pouco fora testemunha, vítima
ou autora de qualquer outro
Vamos lá repetir, como se fosse
um mantra: todos — homens,
ética crime. O pai batera-se pela guarda
exclusiva por a mãe ter iniciado
mulheres, trans, crianças, adultos
em idade activa ou reformados,
um problemático percurso pessoas saudáveis, com doenças
de consumo de drogas. Com físicas ou mentais, de diferentes
grande dedicação, educara a etnias e cores, de diferentes
filha sozinho. Volvidos alguns ideologias e crenças religiosas, de
anos, refizera a sua vida amorosa. diferentes orientações sexuais,
Assumira uma relação com um de diferentes condições sociais
homem. E, entretanto, a mãe e económicas — têm direito a
recuperara. Estavam no começo expressar os seus pontos de vista
de uma nova fase, com guarda e a ser ouvidos nos assuntos que
partilhada e residência alternada. lhes dizem respeito. Ter em conta
Não podíamos ignorar o facto de os grupos mais vulneráveis não é
a criança ter decidido que não um favor que se lhes faz. É uma
queria aparecer, sequer falar com obrigação ética e um factor de
o jornal. E que identificar o pai coesão social e de democracia de
acpereira@publico.pt seria, de certo modo, identificá- qualidade.
Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.

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