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2. Ao longo desta cena, podemos concluir que o Romeiro está convicto de que possui uma certa
superioridade moral relativamente às outras personagens em cena.
2.1. Comenta a afirmação anterior, apoiando-te em dados textuais.
Ao longo da cena, o Romeiro vai adoptando um registo cada vez mais sentencioso — “Não há ofensa
verdadeira senão as que se fazem a Deus.” — e lacónico, parecendo mesmo ter algum prazer no sofrimento
dos outros, que ele encara como merecido e, portanto, justo — “Agora acabo: sofrei, que ele também sofreu
muito.”. A gestão meticulosa da divulgação do segredo revela alguma crueldade — principalmente para com D.
Madalena — “Madalena — Como se chama? / Romeiro - O seu nome, nem o da sua gente nunca o disse a
ninguém no cativeiro.” e, simultaneamente, uma convicção de que terá a razão do seu lado e, portanto, direito
a agir como age.
4. Interpreta o sentido do pronome indefinido “Ninguém” proferido pelo Romeiro no final da peça.
D. João é “ninguém” pois está morto para aqueles (aquela) que ama. Até a casa que tinha sido sua está agora
ocupada por uma nova família constituída sobre a sua morte. Funciona, também, como uma espécie de
antecipação do desenlace que ele pretenderia, a certa altura, para ele próprio quando pede a Telmo para
tentar remediar a situação que o seu regresso tinha criado: afinal , ele não era “ninguém”.
5. Explica de que modo esta cena é exemplificativa do contributo de Garrett para a renovação da
escrita dramática ao nível do diálogo.
Uma das características mais inovadoras da escrita de Garrett foi o seu estilo marcadamente coloquial e
fluente, desejoso de reproduzir, com a maior verosimilhança possível, a realidade da interacção verbal. A cena
transcrita é paradigmática dessa característica, se tivermos em conta o modo como os sentidos são veiculados
de forma quase escondida, através de sugestões e subentendidos — “Terá...” — informações truncadas —
“Um homem foi, e um honrado homem… a quem unicamente devi a liberdade… a ninguém mais. Jurei fazer-
lhe a vontade, e vim.”, suspensões de frase — “Sim, mas...”; “Mas, enfim, dizei vós” . Estas características
discursivas contribuem para a vivacidade do discurso dramático, reforçando o efeito de verosimilhança,
aproximando o leitor/espectador das emoções das personagens, desse modo promovendo a empatia e
aumentando a tensão dramática.