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Acto II – Cenas XIV e XV

1. Comenta a ironia trágica presente na terceira fala de Madalena.


A incredulidade de Madalena perante a dura caracterização que o Romeiro faz dos familiares que o
esqueceram — “Haverá tão má gente e tão vil que tal faça?” — faz com que a sua pergunta assuma um valor
irónico — embora involuntário por parte da personagem —, visto que as palavras do Romeiro a têm como
referente, ou seja, descrevem o comportamento que, na óptica de D. João de Portugal, a própria Madalena
protagonizou: facto que ela, obviamente, desconhece.

2. Ao longo desta cena, podemos concluir que o Romeiro está convicto de que possui uma certa
superioridade moral relativamente às outras personagens em cena.
2.1. Comenta a afirmação anterior, apoiando-te em dados textuais.
Ao longo da cena, o Romeiro vai adoptando um registo cada vez mais sentencioso — “Não há ofensa
verdadeira senão as que se fazem a Deus.” — e lacónico, parecendo mesmo ter algum prazer no sofrimento
dos outros, que ele encara como merecido e, portanto, justo — “Agora acabo: sofrei, que ele também sofreu
muito.”. A gestão meticulosa da divulgação do segredo revela alguma crueldade — principalmente para com D.
Madalena — “Madalena — Como se chama? / Romeiro - O seu nome, nem o da sua gente nunca o disse a
ninguém no cativeiro.” e, simultaneamente, uma convicção de que terá a razão do seu lado e, portanto, direito
a agir como age.

3. Na cena final, a linguagem veicula o desnorte emocional da D. Madalena.


3.1. Explica como.
A última fala de Madalena caracteriza-se pela repetição das apóstrofes e pela presença da interjeição —
“Minha filha, minha filha, minha filha! “Oh! minha filha, minha filha!...”-, pelas indecisões sintácticas e
vocabulares, que indiciam a incapacidade de, devido à emoção, designar a realidade, ou então o medo da
força das próprias palavras — “Estou.., estás... perdidas, desonradas... infames!” — e ainda pelo predomínio
das frases de tipo exclamativo, Todas estas características discursivas, aliadas à informação veiculada pelas
didascálias, materializam o estado de consciência da personagem cujo mundo acaba de se esboroar e que,
com ele, ameaça arrastar mãe e filha.

4. Interpreta o sentido do pronome indefinido “Ninguém” proferido pelo Romeiro no final da peça.
D. João é “ninguém” pois está morto para aqueles (aquela) que ama. Até a casa que tinha sido sua está agora
ocupada por uma nova família constituída sobre a sua morte. Funciona, também, como uma espécie de
antecipação do desenlace que ele pretenderia, a certa altura, para ele próprio quando pede a Telmo para
tentar remediar a situação que o seu regresso tinha criado: afinal , ele não era “ninguém”.

5. Explica de que modo esta cena é exemplificativa do contributo de Garrett para a renovação da
escrita dramática ao nível do diálogo.
Uma das características mais inovadoras da escrita de Garrett foi o seu estilo marcadamente coloquial e
fluente, desejoso de reproduzir, com a maior verosimilhança possível, a realidade da interacção verbal. A cena
transcrita é paradigmática dessa característica, se tivermos em conta o modo como os sentidos são veiculados
de forma quase escondida, através de sugestões e subentendidos — “Terá...” — informações truncadas —
“Um homem foi, e um honrado homem… a quem unicamente devi a liberdade… a ninguém mais. Jurei fazer-
lhe a vontade, e vim.”, suspensões de frase — “Sim, mas...”; “Mas, enfim, dizei vós” . Estas características
discursivas contribuem para a vivacidade do discurso dramático, reforçando o efeito de verosimilhança,
aproximando o leitor/espectador das emoções das personagens, desse modo promovendo a empatia e
aumentando a tensão dramática.

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