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no Enem
Um estudo analítico
dos conteúdos
relativos à filosofia
ao longo das edições
do Enem entre
1998 e 2011
Brasília-DF
AGOSTO/2015
© INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA (INEP)
É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte.
O conteúdo dessa obra é produto da Consultoria OEI, termo de referência 1180, realizada pela Drª
Ester Pereira Neves de Macedo, cujo objetivo foi analisar a abordagem das questões de Filosofia no
Exame Nacional de Ensino Médio nos anos de 1998 a 2011. O produto apresentado pela consultora
foi avaliado e validado pela equipe técnica da Diretoria de Avaliação da Educação Básica – Inep.
REVISÃO
Amanda Mendes Casal
NORMALIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA
Sâmara Roberta de Sousa Castro
DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL
Raphael C. Freitas
EDITORIA
Inep/MEC – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
SIG Quadra 4, Lote 327, Edifício Villa Lobos, Térreo – Brasília-DF – CEP: 70610-908
Fones: (61) 2022-3070, 2022-3077 – editoracao@inep.gov.br
ISBN : 978-85-7863-041-6
Apresentação.................................................................................................................... 5
INTRODUção....................................................................................................................... 7
Conclusões.................................................................................................................. 101
Quadro-Resumo.......................................................................................................... 105
4 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
APRESENTAÇÃO
FILOSOFIA NO ENEM
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Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN+
(2002) e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Ocem (2008), além da distri-
buição das habilidades do componente curricular de filosofia em relação às habilidades das
matrizes de referência do Enem.
Este texto visa a servir de recurso na elaboração, revisão e análise de itens de ciências
humanas para o Enem, em particular itens na área de filosofia, apontando direções para
futuras revisões da atual Matriz de Referência de Ciências Humanas e suas Tecnologias, de
forma a fortalecer a reinserção e consolidação da filosofia como disciplina no ensino médio.
6 FILOSOFIA NO ENEM
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INTRODUÇÃO
FILOSOFIA NO ENEM
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1 Panorama da
Filosofia nas
Provas do Enem
entre 1998 e 2011
Distribuição Cronológica
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Gráfico 1 Quantidade de Itens de Filosofia em cada Prova do Enem – 1998-2011
Fonte: Elaboração própria
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outros dois anos desse núcleo – 2009 e 2011 –, porém, temos novamente uma questão de
filosofia em cada prova. Proporcionalmente, uma questão por prova em 2009 e 2011 tem
um peso menor que em 2003 uma vez que, com a mudança da matriz em 2009, o número
total de questões e o número de questões da prova de ciências humanas, em particular,
aumentaram: enquanto antes tínhamos 63 itens na prova, com número variável de ques-
tões de ciências humanas, a partir de 2009 a prova passou a ter 180 questões, com 45 só
de ciências humanas.
Por mais que em 2009 tenhamos um único item em cada uma das provas, podemos
ver nesses dois itens um retorno, ainda que tímido, da filosofia ao Enem, depois de pratica-
mente sete anos. As provas de 2010 reforçariam tal ideia, porém, a prova de 2011 mostra
uma queda quantitativa e qualitativa preocupante.
Na análise que se segue, a referência a cada item dar-se-á no formato “prova.
item”, em que “prova” é o ano da prova, considerando que 2009a e 2009b se referem,
respectivamente, à prova anulada e à prova aplicada em 2009. Da mesma maneira, a
primeira e a segunda aplicação das provas de 2010 serão referidas como “2010a” e
“2010b”, respectivamente. Os itens analisados e suas respectivas provas estão listados
na tabela a seguir:
2003 Amarela 1 48
2009a Branca 1 46
2009b Azul 1 58
2011 Azul 1 2
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Aspectos formais
Dos textos originais, 11 eram de filósofos, mas, nos anos recentes, estes têm perdido
espaço para textos adaptados de manuais de filosofia. Essa mudança contraria a orientação
do Guia de Elaboração e Revisão de Itens (GERI), publicado em 2008, que, no item 3, seção
Etapas para Elaboração de Item, recomenda: “Dê preferência a fontes primárias, originais
e sem adaptações” (Brasil. Inep, 2008, p. 10).
É importante observar que com o passar dos anos a proporção entre textos originais
e adaptados tem mudado de forma acentuada. Até 2000, todos os textos-base eram origi-
nais, enquanto da segunda aplicação de 2010 até a prova de 2011 temos somente textos
adaptados, conforme o gráfico a seguir:
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Gráfico 3 Quantidade de Itens de Filosofia segundo Texto-Base (Original ou Adaptado)
– 1998-2011
Fonte: Elaboração própria
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Distribuição de Conteúdos
Dos dez itens de filosofia entre 1998 e 2003, quatro contemplavam a h19, três a h18,
dois a h21 e um a h20, conforme o gráfico seguinte:
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Gráfico 5 Quantidade de Itens de Filosofia conforme Habilidades da Primeira Matriz de
Referência do Enem (1998) – 1999-2003
Fonte: Elaboração própria
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Nesse primeiro período, tivemos a publicação dos PCN (1999) e dos PCN+ (2002).
Não se percebe influência direta desses dois documentos na composição dos itens de filo-
sofia: de fato, como veremos abaixo, percebe-se uma influência maior desses documentos
nos itens do segundo grupo, que surgiram depois das Ocem de 2008 e da reformulação da
Matriz de Referência em 2009. No primeiro momento, portanto, a maior correlação que
se encontra entre os PCN e os PCN+ e os itens de filosofia no Enem é cronológica: itens de
filosofia começaram a aparecer no ano da publicação dos PCN (não há itens de filosofia
na primeira prova, em 1998) e deixaram de aparecer logo após a publicação dos PCN+ em
2002, ficando ausentes por seis anos até voltarem em 2009.
PCN (1999)
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compreensão”. Isso se explica porque a habilidade envolvida nessa competência é “Articular
conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais
e humanas, nas artes e em outras produções culturais”, o que condiz com a leitura filosófica
de textos de diferentes estruturas e registros exigida pela primeira dessas habilidades.
Quanto à terceira competência, “Contextualização sociocultural”, observou-se,
da mesma forma, que 7 dos 11 itens que atenderam a essa competência eram os que
envolviam “Ler textos filosóficos de modo significativo”. A habilidade em questão aqui
consistia em “Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem
específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o entorno sociopolítico, histórico
e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica”. As exceções foram 2001.30,
2009b.58, 2010a.38 e 2010b34: dois itens por envolverem a tarefa de articular e não de
contextualizar (2001.30 e 2010b34) e dois por não parecerem solicitar tarefa alguma além
da leitura e interpretação do texto.
Dos quatro itens que exigiram tanto a habilidade 1a) “Ler textos filosóficos de
modo significativo” quanto a 1b) “Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas
e registros”, três exigiram também a habilidade 2) “Articular conhecimentos filosóficos e
diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em
outras produções culturais” e a habilidade 3) “Contextualizar conhecimentos filosóficos,
tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o
entorno sociopolítico, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica”.
Como expresso acima, o fato de utilizarem dois textos-base permitiu a esses itens atender
de forma coesa a todas essas quatro tarefas. Infelizmente, esses três itens ocorreram nas
provas de 1999 e 2000, não tendo ocorrido itens desse tipo desde então.
Como casos atípicos em relação às tarefas descritas segundo os PCN, temos dois
itens com propostas bastante interessantes, ambos pertencentes à prova de 2001: 2001.31
e 2001.57. O primeiro solicita que o respondente, tendo lido um texto de Hobbes e um
de dicionário de filosofia sobre guerra e paz, encontre a alternativa em que se defende a
invasão da Otan ao Iraque e à Síria na década de 1990. O item, dessa forma, trabalha com as
habilidades: 1a) “Ler textos filosóficos de modo significativo”, 1b) “Ler, de modo filosófico,
textos de diferentes estruturas e registros” e 2) “Articular conhecimentos filosóficos e
diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em
outras produções culturais”.
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Tabela 3 Itens de Filosofia conforme as Habilidades dos
PCN (1999) – 1999-2011
Item 1a 1b 2 3
1999.10 x x x x
1999.31 x x x x
2000.04 x x x x
2000.52 x x
2000.53 x x
2001.18 x x
2001.30 x x
2001.31 x x x
2001.57 x x x
2003.48 x x
2009a.82 x x
2009b.58 x
2010a.27 x x
2010a.28 x x
2010a.34 x x
2010a.38 x
2010a.42 x x
2010a.44 x x
2010b.27 x x
2010b.34 x x
2010b.45 x x
2011.02 x x
Fonte: Elaboração própria
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PCN+ (2002)
Gráfico 7 Quantidade de Itens de Filosofia segundo Eixos Temáticos e Temas dos PCN+ (2002)
– 2002-2011
Fonte: Elaboração própria
Analisando os itens das provas anteriores à publicação dos PCN+, vemos que nesse
primeiro bloco o eixo I não teve ocorrência, ao passo que o eixo III, que não teve ocorrência
nas provas posteriores à publicação, teve apenas um item a menos do que o eixo II:
1
Eixo II, Tema 1: “Autonomia e Liberdade”
2
Eixo II, Tema 3: “Ética e Política”
3
Eixo I, Tema 3: “O Avesso da Democracia”
4
Eixo I, Tema 1: “A Democracia Grega”
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Gráfico 8 Quantidade de Itens de Filosofia segundo Eixos Temáticos e Temas dos PCN+ (2002)
– 1998-2001
Fonte: Elaboração própria
O gráfico item a item deixa bem clara essa mudança de foco temático:
Gráfico 9 Distribuição de Eixos Temáticos dos PCN+ (2002) entre os Itens de Filosofia
– 1999-2011
Fonte: Elaboração própria
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O gráfico anterior mostra que até 2001 os temas dos itens de filosofia das provas do
Enem oscilavam entre os eixos II e III, conforme a classificação dos PCN+. Após a publicação
dos PCN+ em 2002, a alternância com o eixo II se manteve; os itens do eixo III, porém,
deram lugar a itens do eixo I. O panorama geral da ocorrência dos temas relacionados aos
eixos temáticos dos PCN+ ao longo dos 14 anos do Enem fica da seguinte maneira:
Ocem (2008)
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Gráfico 11 Quantidade de Itens de Filosofia por Conteúdos das Ocem (2008) – 2009-2011
Fonte: Elaboração própria
Seria possível supor que o motivo dessa discrepância é que as Ocem são recentes, mas,
na análise cronológica da ocorrência dos seus conteúdos nas provas do Enem, observa-se que
os itens anteriores a sua publicação distribuem-se mais regularmente por seus conteúdos do
que os itens posteriores: são dez itens distribuídos em quatro conteúdos, dos quais apenas
dois se enquadram no tema 22, tão predominante nos anos mais recentes:
Gráfico 12 Quantidade de Itens de Filosofia por Conteúdos das Ocem (2008) – 1998-2008
Fonte: Elaboração própria
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Isso ocorre porque, como veremos, com a publicação da nova Matriz de Referência
do Enem em 2009, o foco em ética e cidadania ficou mais evidente do que na matriz
anterior, em especial nas habilidades das competências 3 e 5.
Combinando os dois gráficos anteriores para que se tenha um panorama da ocor-
rência dos temas relacionados aos conteúdos das Ocem ao longo de 14 anos do Enem,
obtemos o seguinte gráfico:
Gráfico 13 Quantidade de Itens de Filosofia por Conteúdos das Ocem (2008) – 1998-2011
Fonte: Elaboração própria
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Gráfico 14 Quantidade de Itens de Filosofia por Conteúdos das Ocem (2008) – Todos os
Conteúdos – 1998-2011
Fonte: Elaboração própria
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Competências
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Observamos no gráfico anterior uma clara predominância da C5 entre 2009 e 2011,
com 7 de 12 itens, seguida da C3, com 3 itens, e da C1, com 2 itens apenas. A C5, que exige
“Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da
cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na socie-
dade”, é uma competência mais alinhada aos PCN de 1999 e aos PCN+ de 2002 do que às
Ocem de 2008.
Isso fica particularmente evidente se tentarmos ver como os itens do primeiro grupo
(1998-2008) se comportariam em termos da nova matriz. Por questão de uniformidade,
portanto, a cada item desenvolvido na matriz antiga, este estudo atribuiu uma habilidade
e competência da matriz atual. Tais escolhas são notadas e justificadas caso a caso na se-
gunda parte deste trabalho, que traz uma análise individual de cada item.
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Gráfico 17 Quantidade de Itens de Filosofia por Competências da Segunda Matriz de
Referência do Enem (2009) – 1999-2011
Fonte: Elaboração própria
Observando item a item, a diferença temática entre os dois blocos fica particular-
mente clara:
Por mais que tal exercício de transposição seja anacrônico, já que as propostas dos
itens do primeiro grupo se norteiam por uma matriz própria, ele permite, primeiramente,
evidenciar a mudança de foco na segunda matriz acompanhando a ênfase dos PCN e PCN+
em cidadania e transdisciplinaridade. Em segundo lugar, analisar os itens da primeira fase
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do Enem em termos da matriz atual é uma maneira de auxiliar os elaboradores de itens de
filosofia a vislumbrar modelos de itens que atendam a outras competências e habilidades.
Habilidades
Temos em primeiro lugar, com cinco itens, a H23, “Analisar a importância dos valores
éticos na estruturação política das sociedades”. Em segundo lugar vem a H12, “Analisar o
papel da justiça como instituição na organização das sociedades”, e a H24, “Relacionar cida-
dania e democracia na organização das sociedades”, com dois itens cada. Aqui fica claro o
foco em ética e política que marca os itens de filosofia do Enem, especialmente nos últimos
anos. Em terceiro lugar, vem a H15, a H36 e a H147, com um item cada.
5
H1: Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
6
H3: Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.
7
H14: Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de
natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas.
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Mais uma vez, para deixar mais clara a diferença de conteúdos entre os dois períodos
do Enem e indicar modelos de como algumas habilidades da matriz atual podem ser tra-
balhadas pela área de filosofia, vale o exercício de analisar os itens da matriz anterior em
termos das habilidades da matriz atual. Tal transposição gera o gráfico seguinte:
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Na seção que se segue, é oferecida uma análise individualizada de cada um dos 22
itens de filosofia da prova do Enem entre 1998 e 2011, justificando, quando for o caso,
cada uma das classificações e transposições, assim como os principais aspectos positivos e
negativos do item.
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2 Análise dos
Itens de Filosofia
(1998-2003)
A análise dos dez itens de filosofia da primeira fase do Enem seguirá o seguinte
formato: logo após a apresentação do item, serão dadas informações como as seguintes:
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
% % % % %
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Gráfico 22 Percentual de Acertos nos Itens de Filosofia – 1999-2003
Fonte: Elaboração própria
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O objetivo do quadro é oferecer um sumário para rápida referência. Nele encontram-se,
em primeiro lugar, a habilidade e a competência do item, conforme publicado no rela-
tório pedagógico. Em seguida, vem sua classificação quanto aos PCN. Esta e as informações
que se seguem são mais subjetivas, tendo sido atribuídas por este estudo e justificadas
caso a caso após o quadro. Em destaque, está a parte “anacrônica” da análise, ou seja,
como o item se posicionaria em relação a documentos que lhes são posteriores. O objetivo
desse exercício, como indicado anteriormente, é duplo: 1) indicar como os diferentes do-
cumentos acomodam diferentes tipos de itens; 2) oferecer aos elaboradores de itens mo-
delos de como outros temas e aspectos dos documentos podem ser abordados. O ponto
de interrogação que segue a classificação da parte anacrônica do quadro visa a indicar o
caráter subjetivo da classificação: é uma sugestão que este trabalho oferece de como ver o
item, e não um objetivo oficial do elaborador original.
Para cada item, houve o esforço de destacar pelo menos um aspecto positivo e um
negativo. Essa lista não visa a ser um rol completo de acertos e defeitos: o objetivo é ofe-
recer ao elaborador um ou dois exemplos claros de pontos que devem ser replicados e
pontos que devem ser evitados.
Após cada quadro, apresenta-se uma breve análise do item em questão, elucidando
em maior profundidade o que o quadro apresenta resumidamente.
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1999
Prova Amarela – Item 10
(...) de modo particular, quero encorajar os crentes empenhados no campo da filosofia para que
iluminem os diversos âmbitos da atividade humana, graças ao exercício de uma razão que se torna
mais segura e perspicaz com o apoio que recebe da fé.
(Papa João Paulo II. Carta Encíclica Fides et Ratio aos bispos da igreja católica
sobre as relações entre fé e razão, 1998)
(A) a encíclica papal está em contradição com o pensamento de São Tomás de Aquino,
refletindo a diferença de épocas.
(B) a encíclica papal procura complementar São Tomás de Aquino, pois este colocava a
razão natural acima da fé.
(C) a Igreja medieval valorizava a razão mais do que a encíclica de João Paulo II.
(D) o pensamento teológico teve sua importância na Idade Média, mas, em nossos dias,
não tem relação com o pensamento filosófico.
(E) tanto a encíclica papal como a frase de São Tomás de Aquino procuram conciliar os
pensamentos sobre fé e razão.
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
7 9 5 6 72
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Valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos,
h1998 18 identificando-a em suas manifestações e representações em diferentes
sociedades, épocas e lugares.
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Análise (1999.10)
Este é um item típico da primeira fase do Enem (1999-2003), com algumas excelentes
características que infelizmente deixaram de ocorrer nos anos mais recentes. A primeira
delas é o tema “fé e razão”, uma questão clássica da filosofia, que, como parte da filosofia
do conhecimento como um todo, tem pouco espaço tanto na matriz antiga quanto na atual.
Na matriz antiga, é enquadrada na h18, que consiste em “Valorizar a diversidade dos patri-
mônios etnoculturais e artísticos, identificando-a em suas manifestações e representações
em diferentes sociedades, épocas e lugares”. É difícil ver exatamente como essa habilidade
se aplica à questão, a menos que se considere a relação entre fé e razão um patrimônio
etnocultural expresso em épocas diferentes em cada um dos textos.
O relatório pedagógico de 1999 aponta ainda que este item aborda as competências
II e III. A CII consiste em “Construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento
para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da pro-
dução tecnológica e das manifestações artísticas”. Mais uma vez, é preciso considerar o
debate sobre fé e razão como um processo histórico-geográfico ou uma manifestação ar-
tística para enquadrar o item nessa competência, o que não faz de todo jus à importância
filosófica deste tema.
A CIII, “Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações represen-
tados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema”, por sua
vez, remete ao segundo mérito do item, que é o exercício de articular dados em textos e
contextos diferentes. De fato, a presença de dois textos clássicos no texto-base permite ao
item atender não só à CIII, mas também a quatro habilidades dos PCN de 1999:
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2) Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos
nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções culturais – a
relação entre fé e razão nos dois textos.
3) Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem espe-
cífica, quanto em outros planos – o pessoal-biográfico; o entorno sociopolítico,
histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica: a maneira
que a exortação do Papa João Paulo II, no final do século XX, retoma uma questão
filosófica central também na Idade Média, como mostra o texto de Tomás de
Aquino.
Usando esta questão para avaliar os documentos curriculares que vieram depois,
vemos que, por retomar uma questão canônica da história da filosofia, ela tem o perfil de
item das Ocem, enquadrando-se perfeitamente no conteúdo 14, “Teoria do conhecimento
e do juízo em Tomás de Aquino”. Por outro lado, nem os PCN+, de 2002, nem a matriz
de 2009 dão muita margem para o conteúdo da questão. Nos PCN+, o eixo mais próximo
seria o terceiro “O que é filosofia”, de cujos temas o mais próximo talvez seja o primeiro,
“Filosofia, mito e senso comum”, embora este seja um título extremamente problemático
para uma questão central tanto da filosofia do conhecimento quanto da filosofia da religião.
Este também é um ponto cego na nova Matriz de Referência. A habilidade mais pró-
xima para contemplar esse tipo de item seria a H4, “Comparar pontos de vista expressos
em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura”, inclusa na C1, “Compreender
os elementos culturais que constituem as identidades”. Mais uma vez, classificar o debate
entre fé e razão como elemento da cultura simplesmente deixa muito a desejar não só em
relação ao debate em si, mas também quanto ao campo da filosofia do conhecimento e da
filosofia da religião como um todo.
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1999
Prova Amarela – Item 31
(...) Depois de longas investigações, convenci-me por fim de que o Sol é uma estrela fixa rodeada de
planetas que giram em volta dela e de que ela é o centro e a chama. Que, além dos planetas princi-
pais, há outros de segunda ordem que circulam primeiro como satélites em redor dos planetas prin-
cipais e com estes em redor do Sol. (...) Não duvido de que os matemáticos sejam da minha opinião,
se quiserem dar-se ao trabalho de tomar conhecimento, não superficialmente mas duma maneira
aprofundada, das demonstrações que darei nesta obra. Se alguns homens ligeiros e ignorantes qui-
serem cometer contra mim o abuso de invocar alguns passos da Escritura (sagrada), a que torçam
o sentido, desprezarei os seus ataques: as verdades matemáticas não devem ser julgadas senão por
matemáticos.
(COPÉRNICO, N. De Revolutionibus orbium caelestium.)
Aqueles que se entregam à prática sem ciência são como o navegador que embarca em um navio
sem leme nem bússola. Sempre a prática deve fundamentar-se em boa teoria. Antes de fazer de um
caso uma regra geral, experimente-o duas ou três vezes e verifique se as experiências produzem os
mesmos efeitos. Nenhuma investigação humana pode se considerar verdadeira ciência se não passa
por demonstrações matemáticas.
(VINCI, Leonardo da. Carnets.)
38 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
3 3 12 80 2
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 39
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (1999.31)
Este item proporciona ótimo contraste com o item anterior, sendo também um
clássico da filosofia da ciência, com repercussões relevantes na filosofia da religião.
Como o item anterior, ele reflete um ponto cego tanto da matriz antiga quanto da nova,
no que diz respeito às questões de filosofia do conhecimento. Ele foi elaborado segundo a matriz
antiga conforme a h19, que prevê como tarefa “Confrontar interpretações diversas de situações
ou fatos de natureza histórico-geográfica, técnico-científica, artístico-cultural ou do cotidiano,
comparando diferentes pontos de vista, identificando os pressupostos de cada interpretação
e analisando a validade dos argumentos utilizados”. Temos, com efeito, neste item, um fato
que tem natureza não só técnico-científica, mas também profundamente filosófica, que tanto a
matriz antiga quanto a nova são incapazes de refletir. Na matriz atual, o único espaço para ele –
assim como para o item anterior – seria a H4, que solicita “Comparar pontos de vista expressos
em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura”. Mais uma vez, reduzir o contexto
da revolução científica a um “aspecto da cultura” não capta a importância do tema.
O relatório pedagógico de 1999 aponta que este item corresponde às competências
III e IV. A CIII consiste em “Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações
representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema”.
Como este item contém dois textos clássicos da história do pensamento ocidental, é bastante
propício para exercitar essa competência, assim como a CIV, “Relacionar informações,
representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas,
para construir argumentação consistente”.
40 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
A presença de dois textos clássicos confere ainda ao item a possibilidade de trabalhar
quatro habilidades dos PCN de 1999. Uma vez que ambos os textos são simultaneamente
filosóficos e científicos, o item exercita tanto a habilidade 1a) “Ler textos filosóficos
de modo significativo” quanto a 1b) “Ler, de modo filosófico, textos de diferentes
estruturas e registros”. Pelo mesmo motivo, por serem textos de articulação entre
áreas de conhecimento, o item exige do respondente também a habilidade 2) “Articular
conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências
naturais e humanas, nas artes e em outras produções culturais” e a 3) “Contextualizar
conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros
planos: o pessoal-biográfico; o entorno sociopolítico, histórico e cultural; o horizonte da
sociedade científico-tecnológica”.
Já, ao avaliar os documentos curriculares posteriores a essa prova com base neste
item, nota-se que, ao contrário do item anterior, o tema aqui tratado tem um espaço mais
apropriado nos PCN+ e menos apropriado nas Ocem. Nos PCN+, ele se enquadraria no
segundo eixo, “O que é filosofia?”, no segundo sub-eixo, “Filosofia e ciência”, ao passo que
nas Ocem, se não fosse o elemento “contemporâneo”, o conteúdo 29 seria adequado, ao
abordar “Filosofia da ciência; o problema da demarcação entre ciência e metafísica”, mas,
como as Ocem incluem esse conteúdo no contexto de epistemologias contemporâneas, a
outra opção seria 1) “Filosofia e conhecimento; filosofia e ciência; definição de filosofia”,
que é um tanto quanto amplo.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 41
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2000
Prova Amarela – Item 4
As frases acima são de dois cidadãos da Roma Clássica que viveram praticamente no
mesmo século, quando ocorreu a transição da República (Cícero) para o Império (Ulpiano).
I A diferença nos significados da lei é apenas aparente, uma vez que os romanos não
levavam em consideração as normas jurídicas.
II Tanto na República como no Império, a lei era o resultado de discussões entre os re-
presentantes escolhidos pelo povo romano.
III A lei republicana definia que os direitos de um cidadão acabavam quando começavam
os direitos de outro cidadão.
IV Existia, na época imperial, um poder acima da legislação romana.
(A) I e II.
(B) I e III.
(C) II e III.
(D) II e IV.
(E) III e IV.
42 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
7 8 21 23 41
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 43
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2000.04)
Apesar de também utilizar dois textos que poderiam ser considerados clássicos, este
item é inferior aos anteriores em muitos aspectos.
Primeiro, no aspecto factual: Cícero (106 a.C - 43 a.C) morreu mais de duzentos
anos antes do nascimento de Ulpiano (170 d.C - 228 d.C). Desse modo, é incorreto afirmar
que “viveram praticamente no mesmo século”. Tal afirmação, embora irrelevante, talvez
tentasse dar ênfase à diferença no teor das afirmações, justapondo-as como se fossem
cronologicamente mais próximas do que na verdade são, não atentando que na época de
Ulpiano o Império Romano – com seus quase duzentos anos – já estava bem estabelecido.
No aspecto formal, vemos a primeira de muitas questões de filosofia no formato
“verdadeiro ou falso”. As alternativas são confusas, o que explica em parte o baixo índice de
acerto da questão. A alternativa I carece de plausibilidade, e, pelo baixo índice de marcação
das alternativas A e B, podemos deduzir que ela foi facilmente eliminada.
Quanto ao conteúdo, vemos um tema que será bastante abordado em anos
mais recentes: o fundamento das leis. Na matriz antiga ele atendia à h19, “Confrontar
interpretações diversas de situações ou fatos de natureza histórico-geográfica, técnico-
científica, artístico-cultural ou do cotidiano, comparando diferentes pontos de vista,
identificando os pressupostos de cada interpretação e analisando a validade dos argumentos
utilizados”. Mais uma vez, é impreciso classificar o tema da fundamentação legal como fato
de natureza “artístico-cultural” ou “do cotidiano”, mas, dado o pouco espaço para questões
44 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
especificamente filosóficas na matriz antiga, a h19 realmente é a que mais dá margem para
esse tipo de questão. O relatório pedagógico de 2000 não indica a(s) competência(s) dos
itens desta prova, mas, por exercitar a h19, podemos inferir que este item, como o anterior,
trabalha as competências III e IV.
Como os itens anteriores, os dois textos permitem trabalhar quatro habilidades
dos PCN: 1a) “Ler textos filosóficos de modo significativo”, 1b) “Ler, de modo filosófico,
textos de diferentes estruturas e registros” e, por serem textos de articulação entre áreas
de conhecimento, o item exige do respondente também as habilidades 2) “Articular
conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais
e humanas, nas artes e em outras produções culturais” e 3) “Contextualizar conhecimentos
filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-
biográfico; o entorno sociopolítico, histórico e cultural; o horizonte da sociedade
científico-tecnológica”.
Comparando o tema deste item com os documentos curriculares que vieram depois,
vemos que os PCN+ abrem espaço para esta questão no segundo eixo “Construção do
sujeito moral”, dentro do tema “Autonomia e liberdade”. Nas Ocem ele entraria no âmbito
do conteúdo 22) “Éticas do dever; fundamentações da moral; autonomia do sujeito”; já
a matriz atual aborda esse tema na H12, “Analisar o papel da justiça como instituição na
organização das sociedades”, uma habilidade que tem sido de fato bastante recorrente em
anos recentes.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 45
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2000
Prova Amarela – Itens 52 e 53
“Se o homem no estado de natureza é tão livre, conforme dissemos, se é senhor absoluto da sua
própria pessoa e posses, igual ao maior e a ninguém sujeito, por que abrirá ele mão dessa liberdade,
por que abandonará o seu império e sujeitar-se-á ao domínio e controle de qualquer outro poder?
Ao que é óbvio responder que, embora no estado de natureza tenha tal direito, a utilização do mesmo
é muito incerta e está constantemente exposto à invasão de terceiros porque, sendo todos senhores
tanto quanto ele, todo homem igual a ele e, na maior parte, pouco observadores da equidade e da
justiça, o proveito da propriedade que possui nesse estado é muito inseguro e muito arriscado. Estas
circunstâncias obrigam-no a abandonar uma condição que, embora livre, está cheia de temores e
perigos constantes; e não é sem razão que procura de boa vontade juntar-se em sociedade com ou-
tros que estão já unidos, ou pretendem unir-se, para a mútua conservação da vida, da liberdade e
dos bens a que chamo de propriedade.”
(Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1991)
Item 52
46 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
8 6 19 45 21
+ Texto-base: clássico.
- Distratores C e E: ambíguos.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 47
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2000.52)
48 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Item 53
(A) do liberalismo.
(B) do socialismo utópico.
(C) do absolutismo monárquico.
(D) do socialismo científico.
(E) do anarquismo
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
39 19 25 11 6
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 49
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2000.53)
Este item, que utiliza o mesmo texto-base do anterior, trabalha também os mesmos
conteúdos, enquadrando-se no tema II.1 dos PCN+, “Autonomia e liberdade”, e no con-
teúdo 20 das Ocem, “O contratualismo”. Ele prevê, porém, um exercício diferente, que é,
fundamentalmente, o de contextualizar o liberalismo. Esta tarefa provou-se mais difícil do
que a proposta pelo item anterior, de modo que o percentual de acertos foi de apenas 39%.
O enunciado é claro e conciso, assim como as alternativas. O texto-base é um clás-
sico da história da filosofia. O baixo nível de acerto deste item é indicativo, talvez, não de
problema estrutural do item, mas de trabalho insatisfatório do conteúdo nas escolas.
Na matriz antiga, ele aborda a h20, “Comparar processos de formação socioeconô-
mica, relacionando-os com seu contexto histórico e geográfico”, no caso, o contexto do li-
beralismo e sua relação com o absolutismo monárquico, comparação que os respondentes
tiveram dificuldade de traçar. Nos PCN, além da tarefa de 1a) “Ler textos filosóficos de
modo significativo”(o texto de Locke), o item também trabalha a tarefa 3) “Contextualizar
conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros
planos: o pessoal-biográfico; o entorno sociopolítico, histórico e cultural; o horizonte da
sociedade científico-tecnológica”.
Na matriz atual, o item se enquadraria na H1, “Interpretar historicamente e/ou geo-
graficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura”, em se considerando a
origem do pensamento liberal como aspecto cultural abordado no item.
50 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2001
Prova Amarela – Item 18
O franciscano Roger Bacon foi condenado, entre 1277 e 1279, por dirigir ataques aos
teólogos, por uma suposta crença na alquimia, na astrologia e no método experimental, e
também por introduzir, no ensino, as ideias de Aristóteles. Em 1260, Roger Bacon escreveu:
“Pode ser que se fabriquem máquinas graças às quais os maiores navios, dirigidos por um único
homem, se desloquem mais depressa do que se fossem cheios de remadores; que se construam
carros que avancem a uma velocidade incrível sem a ajuda de animais; que se fabriquem máquinas
voadoras nas quais um homem (...) bata o ar com asas como um pássaro.(...) Máquinas que per-
mitam ir ao fundo dos mares e dos rios”
(apud. BRAUDEL, Fernand. Civilização material, economia e capitalismo: séculos XV-XVIII,
São Paulo: Martins Fontes, 1996, vol. 3.).
D) eram fundamentalmente voltadas para o passado, pois não apenas seguiam Aristóteles,
como também baseavam-se na tradição e na teologia.
E) inseriam-se num movimento que convergiria mais tarde para o Renascimento, ao
contemplarem a possibilidade de o ser humano controlar a natureza por meio das
invenções.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 51
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
8 6 12 13 60
52 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2001.18)
Este item retoma em parte o padrão dos itens de filosofia da prova de 1999, ao utilizar
um texto canônico para abordar questões de filosofia do conhecimento, apesar de o texto-
base trazer uma fonte original dentro de uma segunda fonte, o que não é recomendável. O
enunciado, baseado na fórmula “pode-se afirmar”, acaba por propor um exercício de “V ou
F”, em que cada item exige uma tarefa diferente, mas cuja resposta pode ser encontrada
mediante a interpretação do texto. A implausibilidade dos distratores, todos claramente
negados no texto, explica o alto índice de acertos (60%).
Trabalha a antiga h18, “Valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e
artísticos, identificando-a em suas manifestações e representações em diferentes sociedades,
épocas e lugares”. O aspecto a ser interpretado neste caso é a evolução da visão científica,
apesar de a interpretação, mais uma vez, ser mais filosófica do que histórica ou geográfica.
Quanto aos PCN, exige as seguintes tarefas: 1a) “Ler textos filosóficos de modo
significativo” – neste caso, o texto de Bacon; e 3) “Contextualizar conhecimentos filosóficos,
tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o
entorno sociopolítico, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica” –
no item, as ideias de Bacon como precursor da revolução técnico-científica.
Em relação aos PCN+, poderia juntar-se ao terceiro eixo, “O que é filosofia?”,
tema “Filosofia e ciência”. Quanto às Ocem, visto que se identifica com filosofia da
ciência, seria mais um item que se enquadraria no tema 29 se não fosse a especificação
“Epistemologias contemporâneas”. Por não ter enfoque contemporâneo, o conteúdo
1) “Filosofia e conhecimento; filosofia e ciência; definição de filosofia” é o mais
adequado para descrevê-la.
Este item, na matriz atual, atende à H1, “Interpretar historicamente e/ou
geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura”. Mais uma vez, o
aspecto da cultura é a evolução técnico-científica, e a interpretação exigida é filosófica e
não histórica ou geográfica, no entanto, este é o espaço que a matriz atual oferece para
questões desse tipo.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 53
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2001
Prova Amarela – Itens 30 e 31
I - Para o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679), o estado de natureza é um estado de guerra
universal e perpétua. Contraposto ao estado de natureza, entendido como estado de guerra, o es-
tado de paz é a sociedade civilizada.
Dentre outras tendências que dialogam com as idéias de Hobbes, destaca-se a definida pelo texto
abaixo.
II - Nem todas as guerras são injustas e correlativamente, nem toda paz é justa, razão pela qual a
guerra nem sempre é um desvalor, e a paz nem sempre um valor.
Item 30
54 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
7 38 9 36 10
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 55
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2001.30)
56 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
segunda parte do gabarito é clara no segundo texto; é mais difícil, porém, extrair do texto
que “para Hobbes, a paz é inerente à civilização”. Algo semelhante acontece com o distrator
D, “em ambos, a guerra ou a paz são boas quando o fim é justo”: a informação pertinente
ao segundo texto é clara, mas não ao primeiro. A operação mental do aluno, portanto,
parece ter sido a de decidir qual afirmação era mais próxima do texto de Hobbes: “a paz é
inerente à civilização” ou “a guerra ou a paz são boas quando o fim é justo”. Apesar de a
segunda afirmação extrapolar o texto, ela pareceu quase tão plausível quanto a primeira.
Item 31
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
6 19 11 32 32
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 57
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dado um conjunto de informações sobre uma realidade histórico-
geográfica, contextualizar e ordenar os eventos registrados,
h1998 21
compreendendo a importância dos fatores sociais, econômicos, políticos
ou culturais.
58 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2001.31)
Este item trabalha a antiga h21, “Dado um conjunto de informações sobre uma realidade
histórico-geográfica, contextualizar e ordenar os eventos registrados, compreendendo a
importância dos fatores sociais, econômicos, políticos ou culturais”. A realidade, no caso, são
as invasões da Otan ao Iraque e à Sérvia na década de 1990. A tarefa, porém, não é tanto
de “contextualizar e ordenar eventos registrados”. Espera-se que o respondente extraia dos
textos-base argumentos em defesa da invasão da Otan a esses países.
Temos o pensamento de um autor clássico aplicado a contexto contemporâneo,
exercitando, portanto, as seguintes habilidades dos PCN: a) “Ler textos filosóficos de modo
significativo”; 1b) “Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros”; e
2) “Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas
ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções culturais”. A atratividade
da alternativa E mostra que a tarefa proposta não ficou clara, dado que a opção oferecida
por esse distrator não se refere aos textos. Um paralelismo maior das alternativas (sem
a alternância entre “teoria”, “fato” e “necessidade”) talvez pudesse ter deixado menos
confusa essa tarefa.
Como o item anterior, abordaria o tema “Ética e política” dos PCN+ e o conteúdo
20 das Ocem, “O contratualismo”. Na matriz atual, provavelmente se enquadraria na H14,
“Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos,
sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições sociais,
políticas e econômicas”; o fato de natureza histórico-geográfica seria a invasão da Otan à
Síria e ao Iraque na década de 1990.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 59
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2001
Prova Amarela – Item 57
O texto foi extraído da peça Tróilo e Créssida de William Shakespeare, escrita, prova-
velmente, em 1601.
60 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
12 12 26 32 18
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 61
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2001.57)
62 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2003
Prova Amarela – Item 48
A escravidão não é boa por natureza; não é útil nem ao senhor, nem ao escravo: a este porque nada
pode fazer por virtude; àquele, porque contrai com seus escravos toda sorte de maus hábitos e se
acostuma insensivelmente a faltar contra todas as virtudes morais: torna-se orgulhoso, brusco, duro,
colérico, voluptuoso, cruel.
Se eu tivesse que defender o direito que tivemos de tornar escravos os negros, eis o que eu diria:
tendo os povos da Europa exterminado os da América, tiveram que escravizar os da África para
utilizá-los para abrir tantas terras. O açúcar seria muito caro se não fizéssemos que escravos culti-
vassem a planta que o produz.
(Montesquieu. O espírito das leis.)
Dados do item:
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A B C D E
8 28 29 5 29
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 63
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Confrontar interpretações diversas de situações ou fatos de natureza
histórico-geográfica, técnico-científica, artístico-cultural ou do cotidiano,
h1998 19
comparando diferentes pontos de vista, identificando os pressupostos de
cada interpretação e analisando a validade dos argumentos utilizados.
+ Texto-base: clássico.
- Enunciado: “podemos afirmar que”.
64 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2003.48)
Este era um item difícil de ser respondido (pois apresentava duas formulações contrárias
a serem relacionadas), mas que discriminou adequadamente os participantes segundo
a habilidade requerida. Assim, podemos deduzir das proporções de respostas que 57%
dos participantes (os que assinalaram as respostas B, 28%, e C, 29%) só compreenderam
um dos textos propostos para análise, e provavelmente se identificaram com um dos
enunciados contidos nas alternativas (justificativa econômica da escravidão ou condenação
da escravidão), não percebendo a contrariedade existente entre os textos e, também, não
relacionando os textos entre si.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 65
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Transpondo para a matriz atual, a habilidade mais próxima para esse tipo de questão
seria a H14, que consiste em “Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos
analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica
acerca das instituições sociais, políticas e econômicas”. Aqui, mais uma vez, estaríamos
comparando Montesquieu consigo mesmo. Outra habilidade da matriz nova relevante a
este item seria a H12, “Analisar o papel da justiça como instituição na organização das
sociedades”. Neste caso, é evidente, no raciocínio de Montesquieu, o papel submisso da
justiça em face de questões econômicas.
Em termos das competências e habilidades dos PCN, esse item exige as tarefas de
leitura significativa de textos filosóficos (1a) e de contextualização no plano sociopolítico
e histórico (3). Quanto aos PCN+, ele se insere no segundo eixo, “A construção moral do
sujeito”, tema 1, “Autonomia e liberdade”, subtema que trata das “Várias dimensões da
liberdade (ética, econômica, política)”. Quanto às Ocem, ele atenderia ao conteúdo 22)
“Éticas do dever; fundamentações da moral; autonomia do sujeito”.
66 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
3 Análise dos
Itens de Filosofia
(2009-2011)
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 67
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
e de acerto das questões, como tínhamos nas questões anteriores. A análise seguirá, por-
tanto, o seguinte modelo:
Dados do item:
Como todos os itens deste bloco são posteriores às Ocem e foram elaborados de
acordo com a matriz de 2009, essas informações agora aparecem em destaque. O campo
dedicado à matriz antiga foi excluído, assim como os pontos de interrogação. Nos demais
aspectos, o quadro segue as mesmas características do modelo anterior.
68 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2009 (Anulada)
Prova Branca – Item 82
A lei dos lombardos (Edictus Rothari), povo que se instalou na Itália no século VII e era considerado
bárbaro pelos romanos, estabelecia uma série de reparações pecuniárias (composições) para punir
aqueles que matassem, ferissem ou aleijassem os homens livres. A lei dizia: para todas estas chagas
e feridas estabelecemos uma composição maior do que a de nossos antepassados, para que a vin-
gança que é inimizade seja relegada depois de aceita a dita composição e não seja mais exigida nem
permaneça o desgosto, mas dê-se a causa por terminada e mantenha-se a amizade.
Espinosa, F. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa, 1976 (adaptado).
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 69
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
Análise (2009a.82)
Por considerar o fundamento e a justificativa das leis, este item, criado já de acordo
com a atual Matriz de Referência, atende à H12, “Analisar o papel da justiça como instituição
na organização das sociedades”. Apesar de ser um enfoque diferente para uma temática
recorrente, o texto-base, sendo um fragmento adaptado de uma antologia, é um exemplo
de algo que o GERI, publicado no ano seguinte, orienta evitar, ao indicar preferência por
fontes originais sem adaptações (Brasil. Inep, 2010, p. 10).
70 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Embora não estivessem disponíveis até o término deste estudo as estatísticas
referentes ao percentual de acertos de cada questão, este item é do tipo que geraria
um percentual baixo de acerto, pela ausência de clareza na tarefa exigida. Ao perguntar
sobre o que se evidencia, o enunciado é muito aberto e de difícil interpretação. Falta
contextualização para o problema sugerido: por mais que o texto-base mencione um
povo específico numa época específica, um enunciado que pergunta “o que evidencia a
justificativa da lei?” deixa de perguntar “que lei? De quem? E o que ela tem a ver conosco
hoje?”
O tema é próprio da filosofia, apesar de o texto-base ser extraído de uma antologia
de textos históricos. Por essa característica do texto-base e da tarefa pedida pelo item,
ele se enquadra, quanto aos PCN, no grupo de itens que trabalham as tarefas 1) “Ler de
modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros” e 2) “Articular conhecimentos
filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais e humanas, nas
artes e em outras produções culturais”. O item ganharia muito, porém, se além ou em vez
do texto utilizado houvesse o texto de um filósofo clássico. Não se trata aqui de defender
a supremacia dos textos clássicos só por serem clássicos haja vista que a diversidade de
fontes assim como a articulação do clássico com o atual devem ser encorajadas. No entanto,
o maior uso de textos filosóficos clássicos no Enem serve a outro objetivo importante:
fortalecer o espaço da filosofia, tanto no Enem quanto no ensino médio.
Quanto aos PCN+, ele se insere no segundo eixo, “A construção moral do sujeito”,
tema 3, “Ética e política”, subtema “Cidadania: os limites entre o público e o privado”. Quanto
às Ocem, o conteúdo 22 é o que mais se aproxima: “Éticas do dever; fundamentações da
moral; autonomia do sujeito”.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 71
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2009 (Aplicada)
Prova Azul – Item 58
Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens
absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios —
esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem
ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das
qualidades morais e à prática das atividades políticas”.
VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.
(A) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os
políticos de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos
cidadãos tem de trabalhar.
(B) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de
uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade.
(C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava
todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica.
(D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos
deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais.
(E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que
tinham tempo para resolver os problemas da cidade.
72 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
Análise (2009b.58)
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 73
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
de contextualização não é solicitada explicitamente: o enunciado apresenta o termo
“cidadania” fora de contexto, e o respondente deve, em cada alternativa, refletir sobre um
contexto diferente. A falta de paralelismo sintático nas alternativas torna essa tarefa ainda
mais difícil.
Os distratores C e E induzem ao erro: o primeiro porque, de fato, em Atenas havia
um sistema de democracia direta. A pegadinha aqui é que nem todos os habitantes eram
cidadãos (mulheres e escravos não tinham cidadania) e que esse sistema não se estendia
a toda Grécia Antiga (nem geograficamente nem historicamente). O segundo pode
ser considerado duplo gabarito pela ambiguidade do termo “de fato”. Possivelmente,
corresponde ao que ocorria “de fato” mas não “de direito”, ou seja, apesar de o ideal
expresso por Aristóteles no texto-base pregar que agricultores não devessem ter cidadania,
eles, naquela época, a possuíam mesmo que não a exercessem.
O trecho é mais uma citação indireta de um autor, o que é problemático, em virtude
do perigo de distorção do que foi expresso pelo autor original.
74 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (1ª Aplicação)
Prova Rosa – Item 27
O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o
povo unido e leal. De fato, com uns poucos exemplos duros poderá ser mais clemente do que outros
que, por muita piedade, permitem os distúrbios que levem ao assassínio e ao roubo.
MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2009.
Dados do item:
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 75
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2010a.27)
Como o anterior, este item também trabalha a H12, “Analisar o papel da justiça
como instituição na organização das sociedades”. Quanto aos PCN, aborda as tarefas de
leitura significativa de textos filosóficos (1a) e de contextualização no plano sociopolítico e
histórico (3).
De fato, o texto-base é um clássico da filosofia, mas a tarefa exigida ao aluno fica
aquém do potencial do texto. Embora as informações sobre o padrão de resposta não
estivem disponíveis à época da conclusão deste estudo, este item parece pertencer ao
grupo daqueles que devem ser respondidos por eliminação: se, por um lado, o gabarito é
confuso, os distratores, por outro lado, são claramente falsos. Enquanto o texto defende
“uns poucos exemplos duros”, as alternativas A, B, C e D falam de “inércia”, “bondade”,
“compaixão” e “neutralidade”, respectivamente, as quais claramente vão de encontro à
ideia de “dureza”. A única alternativa que não é claramente implausível é a E, que, de fato,
é o gabarito.
Quanto aos PCN+, ele se enquadra no segundo eixo, “A construção moral do sujeito”,
tema 3, “Ética e política”, que tem um subtema específico intitulado “Maquiavel: as
relações entre moral e política”. Quanto às Ocem, o tema de ética e política faz com que
seja mais um item no âmbito do conteúdo 22) “Éticas do dever; fundamentações da moral;
autonomia do sujeito”.
76 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (1ª Aplicação)
Prova Rosa – Item 28
A política foi, inicialmente, a arte de impedir as pessoas de se ocuparem do que lhes diz respeito.
Posteriormente, passou a ser a arte de compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que nada
entendem.
VALÉRY, P. Cadernos. Apud BENEVIDES, M. V. M. A cidadania ativa. São Paulo: Ática, 1996.
Nessa definição, o autor entende que a história da política está dividida em dois
momentos principais: um primeiro, marcado pelo autoritarismo excludente, e um segundo,
caracterizado por uma democracia incompleta. Considerando o texto, qual é o elemento
comum a esses dois momentos da história política?
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 77
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
Análise (2010a.28)
Este item também apresenta muitas ambiguidades. Trabalhar com um texto retirado
de outro é problemático pelo perigo de distorção da intenção do autor original pelo autor
que o cita. Mais uma vez, vale ressaltar a orientação do GERI de preferir “fontes primárias,
originais, sem adaptações” (Brasil. Inep, 2010, p. 10). Além disso, seu enunciado é longo,
maior até que o texto-base, e traz em si uma terceira opinião sobre o tema.
Oficialmente, o item visa a enquadrar-se na H14, “Comparar diferentes pontos de
vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza
78 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
histórico-geográfica acerca das instituições sociais, políticas e econômicas”. O ponto de
vista exposto no texto-base, porém, é um só, sobre momentos diferentes. Uma habilidade
mais adequada talvez fosse a H24, “Relacionar cidadania e democracia na organização das
sociedades”, embora o foco do texto seja justamente situações de ausência ou de limitações
da democracia.
É difícil classificar este item quanto aos PCN, pois, dada a natureza do texto e
da proposta, não é claro se demanda a tarefa 1a) “Ler textos filosóficos de modo
significativo” ou 2) “Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros”;
se exige articular conhecimentos filosóficos (2) ou contextualizar conhecimentos
filosóficos no plano sociopolítico e histórico (3). Sua correspondência com os PCN+ é
mais clara, incluindo-se no primeiro eixo, “Relações de poder e democracia”, tema 3, “O
avesso da democracia”, que trata de conceitos de cidadania e de totalitarismos de direita
e esquerda. Quanto às Ocem, mais uma vez o conteúdo 22 é o que mais se aproxima da
temática política do item: “Éticas do dever; fundamentações da moral; autonomia do
sujeito”.
Trata-se de mais um item a ser resolvido por eliminação, dada a implausibilidade
dos distratores e a força dos termos utilizados. A alternativa A é eliminada, pois logo no
começo do texto fala-se em “impedir as pessoas de se ocuparem do que lhes diz respeito”.
Além disso, o enunciado menciona autoritarismo excludente e democracia incompleta,
invalidando veementemente a ideia de distribuição equilibrada do poder. O trecho sobre
“compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que nada entendem” ajuda a descartar
a alternativa B, sobre impedimento da participação popular. Mais uma vez, “compelir”
e “impedimento” são quase termos absolutos, deixando a alternativa implausível. O
mesmo trecho ajuda também a eliminar a alternativa D, pela contradição entre “compelir
as pessoas a decidirem sobre aquilo de que nada entendem” e “valorização das opiniões
mais competentes”. Finalmente, o termo do enunciado “democracia incompleta” ajuda
a eliminar a ideia de “sistematização” dos processos decisórios, restando como plausível
apenas a alternativa C, que, de fato, corresponde ao gabarito.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 79
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (1ª Aplicação)
Prova Rosa – Item 34
A lei não nasce da natureza, junto das fontes frequentadas pelos primeiros pastores; a lei nasce das
batalhas reais, das vitórias, dos massacres, das conquistas que têm sua data e seus heróis de horror:
a lei nasce das cidades incendiadas, das terras devastadas; ela nasce com os famosos inocentes que
agonizam no dia que está amanhecendo.
FOUCAULT, M. Aula de 14 de janeiro de 1976. In: Em defesa da sociedade.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
O filósofo Michel Foucault (séc. XX) inova ao pensar a política e a lei em relação ao
poder e à organização social. Com base na reflexão de Foucault, a finalidade das leis na
organização das sociedades modernas é
Dados do item:
80 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2010a.34)
Este é mais um item com um texto-base excelente que ficou aquém de seu potencial.
Oficialmente contempla a H24, “Relacionar cidadania e democracia na organização das
sociedades”. Ainda que abordem a organização das sociedades, nem o texto, nem o
enunciado, nem as alternativas falam sobre cidadania ou democracia. Por esse motivo, e
por seu foco nos fundamentos da lei, atende melhor à H12, que envolve “Analisar o papel
da justiça como instituição na organização das sociedades”.
Analisando as alternativas, o distrator A parece ter o mesmo teor do distrator D, e o B
o mesmo do C. Por eliminação, resta somente a alternativa E, que corresponde, de fato, ao
gabarito. A questão de escopo intra ou interestatal, que é central tanto no gabarito quanto
nos distratores, não está presente, contudo, no texto-base, mas apenas no enunciado.
Quanto aos PCN, este item exige a tarefa de 1a) “Ler textos filosóficos de modo
significativo” e 2) “Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos
discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções culturais”.
Quanto aos PCN+, pertenceria ao segundo eixo, “A construção moral do sujeito”, tema 3,
“Ética e política”, subtema “Cidadania: os limites entre o público e o privado”, ao passo
que em relação às Ocem ele se insere explicitamente no conteúdo 30) “filosofia francesa
contemporânea; Foucault; Deleuze”.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 81
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (1ª Aplicação)
Prova Rosa – Item 38
A ética precisa ser compreendida como um empreendimento coletivo a ser constantemente reto-
mado e rediscutido, porque é produto da relação interpessoal e social. A ética supõe ainda que cada
grupo social se organize sentindo-se responsável por todos e que crie condições para o exercício de
um pensar e agir autônomos. A relação entre ética e política é também uma questão de educação e
luta pela soberania dos povos. É necessária uma ética renovada, que se construa a partir da natureza
dos valores sociais para organizar também uma nova prática política.
CORDI et al. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 2007 (adaptado).
O Século XX teve de repensar a ética para enfrentar novos problemas oriundos de di-
ferentes crises sociais, conflitos ideológicos e contradições da realidade. Sob esse enfoque
e a partir do texto, a ética pode ser compreendida como
82 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
Análise (2010a.38)
Este item é um modelo clássico dos itens de filosofia na prova do Enem entre
2010 e 2011. É o primeiro em uma série de cinco itens que contempla a H23, “Analisar a
importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades”.
Ele trabalha os PCN de forma tangencial. O texto-base, retirado de um manual de
filosofia, é, por assim dizer, meta-filosófico: não é um texto filosófico em si, nem um texto
de outro registro a ser lido de maneira filosófica. A tarefa exigida também não é articular
nem contextualizar um conhecimento filosófico, mas interpretar o texto para responder à
questão: “O que é ética, de acordo com o texto”. O enunciado e as alternativas são longas e
com termos difíceis (“oriundos”, “primando”). Apesar do paralelismo sintático e semântico,
a utilização de sinônimos (“instrumento”, “mecanismo”, “meio”) é cansativa.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 83
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Quanto aos PCN+, o item é um entre os seis que pertencem ao segundo eixo, “A
construção moral do sujeito”, tema 3, “Ética e política”, subtema “Cidadania: os limites
entre o público e o privado”, sendo um dos sete que abordam o conteúdo 22 das Ocem:
“Éticas do dever; fundamentações da moral; autonomia do sujeito”.
84 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (1ª Aplicação)
Prova Rosa – Item 42
Democracia: “regime político no qual a soberania é exercida pelo povo, pertence ao conjunto dos
cidadãos.”
JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 85
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
Análise (2010a.42)
Se o item anterior é um exemplo típico dos itens de filosofia no Enem entre 2009 e
2011, este é um exemplo atípico. Trata-se do único item de filosofia do Enem que contém um
quadrinho e da ocorrência mais recente de texto original, sem adaptações, ainda que não deixe
de conter um fragmento de dicionário de filosofia, que não só vai contra a orientação de textos
originais e sem adaptações, como é completamente desnecessário à resolução da questão.
Quanto ao conteúdo, o item contempla a H24, “Relacionar cidadania e democracia
na organização das sociedades”. A tarefa solicitada, porém, é simplesmente responder “o
que é o despotismo?”. Sem acesso às estatísticas sobre a resposta a este item, acredita-se,
86 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
porém, que tenha tido um alto percentual de acertos, dado que todos os distratores
carecem de plausibilidade.
Quanto aos PCN, o item é o único dos seis desta prova a retomar as tarefas 1b) “Ler de
modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros” e 2) “Articular conhecimentos
filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais e humanas, nas
artes e em outras produções culturais”, pelo caráter diferenciado de seu texto-base.
Quanto aos PCN+, ele se enquadra no primeiro eixo, “Relações de poder e
democracia”, tema 3, “O avesso da democracia”, que trata de conceitos de cidadania e de
totalitarismos de direita e esquerda. Quanto às Ocem, o conteúdo 22 é o mais próximo:
“Éticas do dever; fundamentações da moral; autonomia do sujeito”.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 87
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (1ª Aplicação) – Prova Rosa – Item 44
88 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
1a) Ler textos filosóficos de modo significativo.
1a 3) Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem
PCN1999 específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o entorno
3 sociopolítico, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-
tecnológica.
PCN+2002 II.3 Ética e política.
+
Texto-base: extraído de manual de filosofia.
- Temática recorrente.
Gabarito com termos atraentes.
Análise (2010a.44)
O item é o segundo que se orienta pela habilidade H23, que exige “Analisar a
importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades”, nos últimos dois
anos do período em análise. Como o primeiro item na série (2010a.38), o texto-base extrai
de um manual de filosofia um conceito sobre ética e política, não sendo, portanto, nem uma
questão de filosofia em si, nem um texto de outro registro a ser lido de maneira filosófica.
Trata-se de uma questão de interpretação de um fragmento de texto sobre filosofia. Desse
modo, com relação aos PCN, é difícil classificá-lo como se exercitasse as tarefas 1a) “Ler
textos filosóficos de modo significativo” ou 1b) “Ler textos de diferentes registros de
modo filosófico”. Da mesma forma, não se demanda articular (2) nem contextualizar (3)
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 89
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
conhecimentos filosóficos. O item ganharia bastante, portanto, se contivesse, além do
fragmento utilizado ou em lugar dele, um excerto de filósofo clássico representativo da
ideia apresentada.
Quanto aos PCN+, o item pertence ao segundo eixo, “A construção moral do sujeito”,
tema 3, “Ética e política”, subtema “Cidadania: os limites entre o público e o privado”;
quanto às Ocem, ele retoma o conteúdo 22) “Éticas do dever; fundamentações da moral;
autonomia do sujeito”.
Em relação às alternativas, o gabarito é mais atrativo que os distratores, por conter
duas palavras-chave presentes no texto-base: “coletivo” e “político” (o texto não menciona
“ideologias político-partidárias”, “preceitos metafísicos”, “eleições”, “valores” ou “cultura”,
que são palavras-chave dos distratores).
90 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (2ª Aplicação)
Prova Azul – Item 27
A ética exige um governo que amplie a igualdade entre os cidadãos. Essa é a base da pátria. Sem
ela, muitos indivíduos não se sentem “em casa”. Experimentam-se como estrangeiros em seu próprio
lugar de nascimento.
SILVA, R. R. Ética, defesa nacional, cooperação dos povos. OLIVEIRA, E. R (Org.)
Segurança & Defesa Nacional: da competição à cooperação regional. São Paulo:
Fundação Memorial da América Latina, 2007 (adaptado).
Dados do item:
1b) Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros.
1b
PCN1999 2) Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos
2 discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras
produções culturais.
PCN+2002 II.3 Ética e política.
Ocem 2008 22 Éticas do dever; fundamentações da moral; autonomia do sujeito.
Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais,
C2009 C5 políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos, conflitos e
movimentos sociais.
Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das
H2009 H23
sociedades.
+ N/A
Temática recorrente.
- Falta contextualização.
Gabarito questionável.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 91
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2010b.27)
92 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (2ª Aplicação)
Prova Azul – Item 34
(A) os valores culturais praticados pelos diferentes povos em suas tradições e costumes
locais.
(B) os pactos assinados pelos grandes líderes políticos, os quais dispõem de condições
para tomar decisões.
(C) os sentimentos de respeito e fé no cumprimento de valores religiosos relativos à jus-
tiça divina.
(D) os sistemas políticos e seus processos consensuais e democráticos de formação de
normas gerais.
(E) os imperativos técnicos-científicos, que determinam com exatidão o grau de justiça
das normas.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 93
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
Análise (2010b.34)
94 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Com relação aos PCN, o item trabalha as tarefas 1a) “Ler textos filosóficos de modo
significativo” e 2) “Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos
discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras produções culturais”.
Quanto aos PCN+, se considerado do ponto de vista ético, ele se enquadra no recorrente
tema II.3, “Ética e política”. Contudo, o texto-base remete também ao terceiro eixo, “O que
é a filosofia”, tema 2, “Filosofia, ciência e tecnocracia”, subtema “A tecnologia a serviço de
objetivos humanos e os riscos da tecnocracia”. Quanto às Ocem, talvez o conteúdo 28 seja
o mais próximo: “Marxismo e Escola de Frankfurt”, pela linha seguida por Habermas.
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 95
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2010 (2ª Aplicação)
Prova Azul – Item 45
Quando Édipo nasceu, seus pais, Laio e Jocasta, os reis de Tebas, foram informados de uma profecia
na qual o filho mataria o pai e se casaria com a mãe. Para evitá-la, ordenaram a um criado que ma-
tasse o menino. Porém, penalizado com a sorte de Édipo, ele o entregou a um casal de camponeses
que morava longe de Tebas para que o criasse. Édipo soube da profecia quando se tornou adulto.
Saiu então da casa de seus pais para evitar a tragédia. Eis que, perambulando pelos caminhos da
Grécia, encontrou-se com Laio e seu séquito, que, insolentemente, ordenou que saísse da estrada.
Édipo reagiu e matou todos os integrantes do grupo, sem saber que entre eles estava seu verdadeiro
pai. Continuou a viagem até chegar a Tebas, dominada por uma Esfinge. Ele decifrou o enigma da
Esfinge, tornou-se rei de Tebas e casou-se com a rainha, Jocasta, a mãe que desconhecia.
Disponível em: http://www.culturabrasil.org. Acesso em: 28 ago. 2010 (adaptado).
(A) “Nasci para satisfazer a grande necessidade que eu tinha de mim mesmo.” Jean Paul
Sartre
(B) “Ter fé é assinar uma folha em branco e deixar que Deus nela escreva o que quiser.”
Santo Agostinho
(C) “Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte.” Arthur Schopenhauer
(D) “Não me pergunte quem sou eu e não me diga para permanecer o mesmo.” Michel
Foucault.
(E) “O homem, em seu orgulho, criou a Deus a sua imagem e semelhança.” Friedrich
Nietzsche
96 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Dados do item:
1b) Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros.
1b
PCN1999 2) Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos
2 discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras
produções culturais.
PCN+2002 II.1 Autonomia e Liberdade.
Análise (2010b.45)
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 97
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
parecem, porém, desnecessariamente extensos, e os distratores parecem muito distantes
da questão exposta no texto e repetida no enunciado.
Quanto aos PCN+, o item pertence claramente ao segundo eixo, “A construção
do sujeito moral”, tema 1, “Autonomia e liberdade”, subtema que trata de liberdade e
determinismo. Também é clara nas Ocem sua correspondência ao conteúdo 18) “Vontade
divina e liberdade humana”. Trata-se do primeiro item desde 2003 a lidar com o tema da
liberdade.
98 FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
2011
Prova Azul – Item 2
O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o es-
pectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas
dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga
FRAGA, P. Ninguém e inocente. Folha de S. Paulo. 4 out. 2009 (adaptado).
Dados do item:
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 99
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
Análise (2011.02)
Este item é o quinto da série que explora a H23, “Analisar a importância dos valores
éticos na estruturação política das sociedades”. Em termos das competências e habilidades
dos PCN, como o anterior, ele compreende a habilidade 1b) “Ler, de modo filosófico, textos
de diferentes estruturas e registros” e 2) “Articular conhecimentos filosóficos e diferentes
conteúdos e modos discursivos nas ciências naturais e humanas, nas artes e em outras
produções culturais”, que são tarefas relativamente pouco exploradas nos itens de filosofia
nos últimos anos. Porém, o conteúdo filosófico a ser articulado – a concepção kantiana de
autonomia – não está explícito no item, o que é problemático.
Para Kant, de fato, normas morais são “criadas pelo homem, que concede a si mesmo
a lei à qual deve se submeter”, como afirma o gabarito. O que o texto-base mostra, porém,
é um exemplo que vai contra essa teoria: pessoas que não cumprem o que julgam ser
certo. Na ética kantiana, este “distanciamento entre ‘reconhecer’ e ‘cumprir’” poderia ser
considerado um exemplo de comportamento ambíguo: o ser humano recusa-se a obedecer
à lei que ele mesmo fez. Todavia, outros pensadores poderiam considerá-lo, por exemplo,
uma limitação da teoria kantiana, um motivo para rejeitá-la. Isso explica a alta atratividade
de outras alternativas, que chegaram a ser postadas em diversos sites como gabarito (ver
http://filoescola.blogspot.com.br/2011/10/questao-do-enem-2011-mal-formulada.htm).
O item falha por não contextualizar: coloca a alternativa correta como se fosse uma
verdade universal, e não uma visão específica articulada por um filósofo específico. O item
ganharia bastante, portanto, se contivesse, além do fragmento utilizado, um fragmento de
Kant representativo dessa ideia.
Seu tema recorrente, quanto aos PCN+, pertence ao segundo eixo, “A construção
moral do sujeito”, tema 3, “Ética e política”, subtema “Cidadania: os limites entre o público
e o privado”. Em relação às Ocem, é mais um item do conteúdo 22) “Éticas do dever;
fundamentações da moral; autonomia do sujeito”.
Este estudo apontou que houve poucos itens de filosofia (22) nas provas do Enem
entre 1999 e 2011 e que 40% desses itens se concentraram no ano de 2010. O fato de cada
uma das provas de 2009 e 2011 ter somente um item de filosofia entre os 45 de ciências
humanas (uma percentagem menor do que durante a vigência da matriz anterior) indica que
os mecanismos que conduzem à maior presença de filosofia nas provas do Enem ainda são
precários. É necessário, portanto, um maior esforço no sentido de capacitar elaboradores e
revisores de itens de filosofia para o Enem, a fim de aumentar tanto o número de itens na
prova quanto sua qualidade.
Dispondo os primeiros itens de filosofia das provas de 1999 ao lado dos itens das
provas de 2009 a 2011, nota-se claramente uma primeira diferença entre as primeiras provas
e as mais recentes: a proporção do uso de textos filosóficos originais. Enquanto os primeiros
itens de filosofia em 1999 e 2000 continham dois textos extraídos de fontes clássicas, sem
adaptações, os últimos geralmente contêm somente um fragmento adaptado, publicado
em um manual de filosofia ou em um jornal. Temos somente três questões com textos-
base de autoria de filósofos clássicos: Maquiavel, em 2010a.27, Foucault, em 2010a.34,
e Habermas, em 2010b.34. Em contrapartida, cinco de doze itens foram retirados de
antologias ou manuais de filosofia (2009.82, 2010a.28, 38 e 44 e 2010b27).
Por mais que a diversidade de fontes seja algo positivo, assim como a tarefa de incitar
o respondente a ver a relevância de questões filosóficas clássicas em textos cotidianos
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Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 101
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
atuais, tal tarefa perde o sentido se somente os textos atuais forem incluídos. Não se trata
aqui de defender a supremacia dos textos clássicos só por serem clássicos. A diversidade
de fontes assim como a articulação do clássico com o atual devem ser encorajadas, mas
o maior uso de textos filosóficos clássicos no Enem serve a outro objetivo importante:
fortalecer o espaço da filosofia, tanto no exame quanto no ensino médio.
Mais problemático é o número de itens que tinham seu texto-base extraído de
manuais ou antologias, pois isso pode sugerir que mais importante do que ler os textos
clássicos é ler o manual. Infelizmente tivemos uma abundância deste, em geral com questões
de ordem meta-ética. Tais itens apresentam a definição de um manual ou antologia, em
que a proposta poderia ser reduzida a uma questão de interpretação de texto no seguinte
formato: “segundo o texto-base, o que é ética/política?”. Tanto o texto quanto o enunciado
não apresentam nenhuma contextualização da questão, colocando-a como se tivesse uma
resposta única ao longo da história da filosofia.
Em termos de conteúdo, de fato, vemos entre 2010 e 2011 uma queda no número
de itens na competência 18 e um aumento no número de itens na competência 59, que até
então não tinha sido contemplada. Isso mostra um foco cada vez maior em questões de
ética, cidadania e democracia, que aproxima o Enem dos PCN, ao passo que o distancia das
Ocem.
Por outro lado, quanto às competências e habilidades sugeridas pelos PCN,
observou-se que, apesar do equilíbrio numérico entre itens que exigiam a tarefa de articular
e de contextualizar, a mudança no tipo de fonte utilizada favoreceu, a partir de 2010, uma
tendência maior à tarefa de contextualizar conhecimentos filosóficos, em detrimento da
tarefa de articular conhecimentos filosóficos em textos de diferentes registros.
Em relação aos eixos temáticos dos PCN+, notou-se a predominância do eixo II, “A
construção do sujeito moral”, que concentra mais da metade das questões, com ênfase
especial no tema 3, “Ética e política”. Essa tendência tem se acentuado nos anos mais
recentes, após a publicação da matriz atual em 2009, o que significa que os outros eixos
têm sido cada vez mais subutilizados.
Algo semelhante se aplica em relação às Ocem: o que é usado é pouco em
comparação ao total disponível. É certo que as reservas apresentadas pelas Ocem em
Competência de área 5: “Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania
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QUADRO-RESUMO
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ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
referências
bibliográficas
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Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 107
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ANEXO I:
Matriz de
Competências
e Habilidades
do Enem (1998)
O Enem é estruturado por uma matriz que indica a associação entre conteúdos,
competências e habilidades básicas próprias ao jovem e jovem adulto, na fase de
desenvolvimento cognitivo e social correspondente ao término da escolaridade básica.
Considera como referências norteadoras: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Diretrizes do Conselho Nacional de
Educação sobre a Educação Básica e os textos da Reforma do Ensino Médio. Cada uma
das cinco competências que estruturam o exame, embora correspondam a domínios
específicos da estrutura mental, funcionam de forma orgânica e integrada e expressam-se,
especificamente no caso do Enem, em vinte e uma habilidades.
Competências
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Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 109
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III. Selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados
de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situações-problema.
IV. Relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos
disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente.
V. Recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de
propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores
humanos e considerando a diversidade sociocultural.
Habilidades
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Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 111
ao longo das edições do Enem entre 1998 e 2011
18. Valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos, identificando-a
em suas manifestações e representações em diferentes sociedades, épocas e
lugares.
19. Confrontar interpretações diversas de situações ou fatos de natureza histórico-
geográfica, técnico-científica, artístico-cultural ou do cotidiano, comparando
diferentes pontos de vista, identificando os pressupostos de cada interpretação
e analisando a validade dos argumentos utilizados.
20. Comparar processos de formação socioeconômica, relacionando-os com seu
contexto histórico e geográfico.
21. Dado um conjunto de informações sobre uma realidade histórico-geográfica,
contextualizar e ordenar os eventos registrados, compreendendo a importância
dos fatores sociais, econômicos, políticos ou culturais.
Representação e comunicação
Investigação e compreensão
• Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos
nas Ciências Naturais e Humanas, nas artes e em outras produções culturais.
Contextualização sociocultural
• Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica,
quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o entorno sociopolítico, histórico
e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica. (PCN, 1999, p. 64)
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Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 113
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ANEXO III:
PCN+: Eixos
Temáticos em
Filosofia (2002)
Temas Subtemas
• A ágora e a assembleia: igualdade nas leis e no
direito à palavra
1. A democracia grega
• Democracia direta: formas contemporâneas
possíveis de participação da sociedade civil
• Antecedentes:
– Montesquieu e a teoria dos três poderes
2. A democracia contemporânea
– Rousseau e a soberania do povo
• O confronto entre as ideias liberais e o socialismo
• O conceito de cidadania
3. O avesso da democracia
• Os totalitarismos de direita e esquerda
FILOSOFIA NO ENEM
Um estudo analítico dos conteúdos relativos à Filosofia 115
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II. A Construção do Sujeito Moral
Temas Subtemas
• Descentração do indivíduo e o reconhecimento do
outro
1. Autonomia e liberdade • As várias dimensões da liberdade (ética,
econômica, política)
• Liberdade e determinismo
Temas Subtemas
• Mito e Filosofia: o nascimento da Filosofia na
Grécia
1. Filosofia, mito e senso comum
• Mitos contemporâneos
• Do senso comum ao pensamento filosófico
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18) vontade divina e liberdade humana;
19) teorias do sujeito na filosofia moderna;
20) o contratualismo;
21) razão e entendimento; razão e sensibilidade; intuição e conceito;
22) éticas do dever; fundamentações da moral; autonomia do sujeito;
23) idealismo alemão; filosofias da história;
24) razão e vontade; o belo e o sublime na Filosofia alemã;
25) crítica à metafísica na contemporaneidade; Nietzsche; Wittgenstein; Heidegger;
26) fenomenologia; existencialismo;
27) Filosofia analítica; Frege, Russell e Wittgenstein; o Círculo de Viena;
28) marxismo e Escola de Frankfurt;
29) epistemologias contemporâneas; Filosofia da ciência; o problema da demarcação
entre ciência e metafísica;
30) Filosofia francesa contemporânea; Foucault; Deleuze. (Brasil. MEC, 2008, p. 34-35)
Competência de área 1:
Compreender os elementos culturais que constituem as identidades
Competência de área 2:
Compreender as transformações dos espaços geográficos como
produto das relações socioeconômicas e culturais de poder.
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H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos
populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socio-
econômicas em escala local, regional ou mundial.
H10 Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da
participação da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica.
Competência de área 3:
Compreender a produção e o papel histórico das instituições
sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes grupos,
conflitos e movimentos sociais.
Competência de área 4:
Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto
nos processos de produção, no desenvolvimento do conhecimento
e na vida social.
Competência de área 5:
Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar
os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma
atuação consciente do indivíduo na sociedade.
Competência de área 6:
Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas
interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações
da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em
consideração aspectos históricos e(ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes
contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico,
relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes
escalas.
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