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A BASE TEOLÓGICA DA ORAÇÃO CENTRANTE

De onde vem a Oração Centralizadora? Sua fonte é a Trindade que habita dentro de nós. Está
enraizada na vida de Deus dentro de nós. Não creio que reflitamos o bastante sobre essa verdade.
Com o batismo, vem toda a presença eterna da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo.
Como seres humanos, participamos da vida divina apenas por estarmos vivos, mas muito mais
pela graça. Participamos do movimento entre o Pai, que se entrega totalmente ao Filho, e o Filho,
que se dá totalmente ao Pai. Eles se esvaziam um no outro. O Espírito de amor os reconstitui, por
assim dizer, para que possam continuar a se entregar para sempre. Esta corrente de amor divino,
constantemente renovada na vida da Trindade, é infundida em nós pela graça. Sabemos isso por
nosso desejo de Deus. Por mais golpeado que seja pelas forças da vida cotidiana, esse desejo
manifesta-se no esforço que fazemos para levar uma vida de oração e uma vida de ação que seja
profundamente influenciada pela oração.
A vida trinitária manifesta-se em nós primordialmente por nossa ânsia de Deus. A Oração
Centralizadora procede da vida de Deus movendo-se dentro de nós. Por isso é trinitária em sua
origem. Seu foco é cristológico. Estabelece-nos em um relacionamento profundo com Cristo.
Iniciado na Lectio Divina (a leitura piedosa das Escrituras) e outras devoções e, especialmente,
nos sacramentos, nosso realcionamento com Cristo move-se a novas profundezas e a novos níveis
de intimidade, à medida que nos fortalecemos na prática da oração Centralizadora .
Por último, a Oração Centralizadora é eclesial em seus efeitos; isto é, une-nos com todos os outros
no Corpo Místico de Cristo e, na verdade, com toda a família humana. De fato, não existe essa
coisa de oração particular. Não podemos rezar nesse nível profundo sem incluir todos da família
humana, especialmente os muito necessitados. Também sentimos a necessidade de expressar esse
sentimento de ligação e unidade com os outros, em alguma forma de comunidade.
Vamos examinar cada um desses pontos em detalhe. A Oração Centralizadora origina-se de um
relacionamento existencial com Cristo como nosso caminho para as profundezas dos
relacionamentos trinitários. Quando participamos da Oração Centralizadora, ligamo-nos à vida
divina dentro de nós. A palavra sagrada é um gesto de consentimento à presença e à ação divinas
dentro de nós. É como se nossa vontade espiritual ligasse a tomada e a corrente (a vida divina)
que está presente em nosso organismo, por assim dizer, fosse adiante e a energia divina fluísse.
Ela já está lá esperando ser ativada. Então, enquanto comparecemos à presença da Trindade dentro
de nós, nossa oração se manifesta em relacionamento com Cristo.
Sabemos que a Lectio Divina e nossas outras práticas piedosas nos preparam para nos
relacionarmos com Cristo. Passamos por certo processo evolucionário de convivência, afabilidade
e amizade. Esta última subentende um compromisso com o relacionamento. Todos conhecem
muito bem a experiência nas quais nos relacionamos com um conhecido, cultivamos sua amizade,
passamos a conhecê-lo melhor e, aos poucos, chegamos à posição de compromisso com ele. O
compromisso é o que caracteriza a amizade. Podemos nos afastar de conhecidos casuais, mas não
da amizade depois de demonstrada, sem partir o coração de alguém, até o nosso. A amizade com
Cristo chega ao compromisso quando decidimos iniciar uma vida de oração e um programa de
vida cotidiana, talhados para nos fazer chegar mais perto de Cristo e nos aprofundar na vida
trinitária de amor.
Pe. Thomas Keating, OCSO
Este é um ponto importante. Quando rezamos, não estamos apenas diante de Cristo. O movimento
para dentro da Morada Interior Divina sugere que nosso relacionamento com Cristo é interior,
especialmente por meio de seu Espírito Santo, que habita em nós e derrama o amor de Deus em
nosso coração. Identificamo-nos realmente com o mistério pascal. Sem passar toda a vez por uma
reflexão teológica, torna-se uma espécie de contexto para nossa oração, de modo que, quando nos
sentamos na cadeira ou no chão, relacionamo-nos com o mistério da paixão, morte e ressurreição
de Cristo, não como algo fora de nós, mas como algo dentro de nós. É por isso que logo
experimentamos uma identificação com Cristo no Getsêmani e, por fim, nossa identificação com
Cristo na cruz. Em nossa perspectiva cristã, Jesus assumiu todas as consequências de nossos
pecados e nossa pecaminosidade, em outras palavras, o falso eu com o acúmulo de mágoas que
trazemos conosco desde a primeira infância e nossos jeitos imaturos de tentar sobreviver.
Enquanto estamos ali, talvez recebamos a consolação do Espírito. Mas depois de vários anos desta
oração, sempre nos achamos no deserto, porque esse é o caminho da união divina. Não há outro
meio de sarar das feridas de nossa primeira infância, a não ser pela cruz. A cruz que Deus nos
convida a aceitar é, primordialmente, a dor que trazemos conosco desde a mais tenra idade.
Nossas feridas, nossas limitações, nossos defeitos de personalidade, todos os danos que as pessoas
nos causaram desde o início da vida até agora e nossa experiência pessoal da dor da condição
humana como a experimentamos individualmente - essa é nossa verdadeira cruz! É isso que Cristo
nos pede para aceitar e deixá-lo compartilhar. Na verdade, em sua paixão, ele já experimentou
nossa dor e a fez sua. Em outras palavras, simplesmente entramos em algo que já aconteceu, a
saber, nossa união com Cristo e tudo o que isso significa, o fato de tomar sobre si toda a nossa
dor, nossa ansiedade, nossos temores, o ódio de nós mesmos e nosso desânimo. Tudo está incluído
implicitamente em seu grito na cruz: "Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?" Essa é a
grande pergunta. Eis o filho de Deus, o amado que devemos ouvir - Cristo, que baseou toda a sua
missão e todo o seu ministério em seu relacionamento com o Pai - e tudo desapareceu. Seus
discípulos fugiram. Sua mensagem foi esfrangalhada. Ele foi condenado pelas autoridades
religiosas e romanas. Humanamente falando, nada restou de sua mensagem. Contudo, este é o
momento de nossa redenção. Por que? Porque seu grito na cruz é nosso grito de uma desesperada
alienação de Deus, erguido no dele e transformado em ressurreição. Enquanto estamos ali,
aguentamos até o fim e deixamos a dor brotar, percebemos que Cristo está sofrendo em nós e nos
redimindo. A Oração Centralizadora converge para o centro do mistério cristão, que é a paixão,
morte e ressurreição de Cristo. Toda a vez que aceitamos uma nova luz em nossa fraqueza e
impotência, estamos em um lugar mais íntimo com Cristo. Ter o lugar mais baixo é estar no lugar
mais alto na visão de Deus. Não sei dizer por que é assim. Talvez seja apenas o jeito que Deus é.
Em sua paixão, Cristo é o maior mestre de quem Deus é. Humildade pura. Altruísmo total. Serviço
absoluto. Amor incondicional. O significado essencial da Encarnação é que este amor é totalmente
disponível. A Oração Centralizadora é simplesmente um método humilde de tentar ter acesso a
essa infinita bondade, renunciando a nós mesmos. O consentimento à presença e ação de Deus
nada mais é que submissão e confiança. Note como cada uma das virtudes teologais corresponde
a cada um dos contextos sagrados. Pomos nossa fé na Morada Interior Divina da Trindade. Pomos
nossa esperança na paixão, morte e ressurreição de Cristo e confiamos completamente nossa vida
a ele. Suportanto o despertar gradual do autoconhecimento, pela paciência, expressamos nosso
amor de Deus em grau eminente.
Há outro aspecto do contexto no qual rezamos. Quando estamos aos pés da cruz, identificando-
nos com o homem na cruz que suportou todas as consequências de nossa alienação pessoal de
Deus, somos curados de nossas feridas emocionais e das mágoas que possamos ter infligido em
nossa consciência. Por intermédio de momentos de ressurreição interior, pode surgir um avanço
para a ressurreição permanente, quando o falso eu finalmente desaparece, dando-nos a liberdade
habitual dos filhos de Deus.
A união com os outros acontece quando o amor do Espírito derrama-se em nosso coração.
Sentimos que fazemos parte de nossa comunidade, da família humana, do cosmo. Sentimo-nos
em casa no universo. Sentimos que nossa oração não é apenas uma viagem particular, mas tem
efeito significativo no mundo. Derramamos no mundo o amor que o Espírito nos dá na oração.
Pleiteamos a misericórdia divina para aquelas partes do mundo que estão sendo arrasadas pela
guerra e pela violência. Compartilhamos os sentimentos de Deus, que sofre onde quer que haja
sofrimento. O que é tão terrível sobre guerra e violência é Deus estar sendo arrasado. Deus
identifica-se tanto com nossa vida e com nossa sorte que Jesus pôde dizer: "o que fizestes a cada
um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes". Essa violência tem de ser
reparada. É um desequilíbrio que precisa do tipo de amor que nasce no silêncio interior à medida
que renunciamos a nós mesmos e deixamos que Deus seja Deus em nós.
O grande privilégio dos contemplativos é sermos convidados primeiro a partilhar de nossa
redenção, aceitando nossa alienação pessoal de Deus e suas consequências em toda a nossa vida
e, então, a nos identificarmos com a compaixão divina na cura do mundo por meio dos gemidos
do Espírito dentro de nós. Os "gemidos inefáveis" do Espírito, como Paulo os chama, são nossos
desejos de trazer a paz e o conhecimento do amor de Deus ao mundo. O amor que é a fonte desses
desejos está de fato, sendo projetado no mundo e está, secretamente, curando suas feridas. Não
conheceremos os resultados de nossa participação na obra redentora de Cristo nesta vida. Uma
coisa é certa: unindo-nos ao Crucificado, unimo-nos a todas as outras pessoas, passadas presentes
e futuras.
Na Oração Centralizadora, então, a humanidade de Cristo não é ignorada, como alegam alguns
críticos, mas sim afirmada da maneira mais positiva e profunda possível. A Oração Centralizadora
pressupõe uma fé viva que a humanidade sagrada de Jesus contém a plenitude do Ente Supremo.
Cristo nos conduz ao Pai, mas ao Pai como Ele o conhece. Em virtude da morte sacrificial e da
ressurreição de Cristo, pela graça, participamos da divindade de Cristo. Somos convidados a
cultuar o Pai em espírito e verdade, o que é seguir Cristo ao seio do Pai, onde, como Eterno Filho
de Deus, ele se entrega à fonte divina da qual ele emerge - e à qual retorna - eternamente, no amor
do Espírito Santo.
(trecho extraído do livro "Intimidade com Deus", Pe. Thomas Keating, OCSO, ed. Paulus, 1999.
- cap. 3, p 38ss:)
PERGUNTAS MAIS FREQUENTES EM RELAÇÃO À PRÁTICA DA ORAÇÃO
CENTRANTE

1. Pode-se usar incenso, música, durante a meditação?


R - Coincidentemente, essa semana fui consultada duas vezes sobre a questão de se usar incenso
nas reuniões de OC, durante a meditação. A orientação é que NÃO se use, incenso, música de
fundo, altarzinho, nada. Não é que seja proibido, mas é altamente recomendável que Não se use.
"SEGUIR NU, O CRISTO NU!" (acho que é de S. Jerônimo essa frase - que viveu no deserto
como eremita antes do trabalho gigantesco de traduzir a Bíblia, se não me engano).
A OC é oriunda da espiritualidade do deserto - isto é, despojada, simples. Quanto mais, melhor,
ou quanto menos (complicada), melhor. Tanto Thomas Keating como os outros dois principais
mentores da mesma, aqueles que a resgataram para nós e a 'traduziram' para o nosso tempo,
aconselham vivamente a que a mantenhamos simples. "Keep it simple, silly", é frase do nosso
querido D. Basil Pennington. Quer dizer, "mantenha a coisa simples, seu bobo(a)!" Quanto mais
complicamos, 'enfeitamos', colocamos isso e aquilo, mais corremos o risco de nos perder, porque
somos seres humanos e nossa tendência natural é buscar 'adoçar a limonada', não é? Se a deixamos
despojada, podemos praticá-la em qualquer tempo e lugar. Se complicamos, já começamos a
necessitar daqueles elementos que adicionamos e de acessórios, que passam a ser essenciais.
Essencial na OC é Jesus Cristo e aquele que ora. Trago comigo uma multidão de irmãos e irmãs,
com certeza, mas naquele momento, fechando os olhos, entrando no "quarto interior", já não quero
nem preciso de nada mais. Precisamos nos acostumar ao deserto, precisamos nos desvencilhar de
tudo quanto nos impeça de ir a Deus. Precisamos jogar fora nossas desculpas para rezar, para orar
a sós com Ele, no silêncio! Música de fundo também NÃO DEVE ser usada.
O incenso além de poder provocar uma crise alérgica - coriza, espirros em muitas pessoas, comigo
por exemplo ocorre, e nesse caso já nos tira da meditação - meditar espirrando e com coriza é
muiiiiito difícil! dá um 'tempero' de Nova Era. A Nova Era pode até despertar em alguém uma
sede, uma curiosidade para o lado espiritual, que 'pode' desaguar numa busca de Deus, de Jesus
Cristo, mas como ela não é cristã, o perigo é da gente se perder entre os cristais, os feng-shui, as
mil terapias e coisas que ela inventa, e para quê? Exatamente para ficar rodeando, mas nunca
chegar ao Centro - Pois no centro de nós mesmos está Deus!
Então, principalmente aos coordenadores de grupos, o pessoal de SP, do Rio, e daqui de BH, peço
que fiquem atentos a esses pequenos detalhes, que fazem diferença! Há uns dois anos essa mesma
questão foi abordada por uma coordenadora nossa do Rio, e eu disse a mesma coisa. Vamos
manter a simplicidade da OC. Vamos seguir o conselho de Jesus: "Entrar no nosso quarto, fechar
a porta (dos sentidos - fechar os olhos já ajuda uns 50%, e orar a nosso Pai em segredo!" Se fosse
preciso outra coisa, Ele nos teria dito! Só precisamos: eu e Deus! E Ele está sempre conosco. Peço
que não hesitem em perguntar quando tiverem alguma dúvida. Não que eu saiba tudo, mas o que
eu não souber, posso perguntar a quem sabe.
2. A prática da Lectio Divina é obrigatória nas reuniões?
R - Nada com Deus é 'obrigatório', não é? Mas se recomenda , MUITO que a Lectio Divina seja
uma prática regular, para os que meditam através da Oração Centrante. A Lectio Divina,
principalmente quando feita com a "Palavra de Deus", com a Bíblia, ainda mais quando se
acompanham os textos da Liturgia Diária, é força para a nossa caminhada, é Pão para o Caminho.
A Lectio Divina nos fortalece, nos alimenta, nos dá coragem. Para que não seja algo muito 'aéreo',
juntamos as duas prática. Pode-se praticar uma ou outra antes, mas que é muito recomendada sua
prática, por Thomas Keating, Basil Penningon e William Meninger, isso é! Nem que façamos
apenas cinco, dez minutos, mas que possamos deixar alguns momentos para a prática da Lectio.

A ORAÇÃO E A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA


D. Basil Pennington
Jesus certamente foi um homem de oração. O Evangelho nos conta que ele ficou quarenta dias no
deserto, rezando e se preparando para o seu ministério. Durante todo o período de seus
ensinamentos, simplesmente passava noites inteiras rezando. Sabemos que os discípulos lhe
pediram para ensiná-los a rezar. Contudo, encontramos na Bíblia muito poucas lições a esse
respeito: o que lá vemos é a oração que todos conhecemos bem, O Pai Nosso, e algumas outras
menores. No fim do seu Evangelho, João nos conta que, se escrevesse tudo o que Jesus ensinou,
as palavras ocupariam todos os livros do mundo. Grande parte dos ensinamentos do Senhor
chegou a nós pela tradição oral. Tenho ceteza de que Jesus ensinou aos seus discípulos bem mais
a respeito da oração: como acabamos de ver, ele passava noites inteiras rezando e certamente não
era só repetindo o Pai Nosso.
Um pouco de história - Os primeiros autores que escreveram sobre esse tema - os padres gregos
- já ensinavam outro tipo de oração. Há quem diga que eles provavelmente retornaram aos
ensinamentos de Jesus e aos da tradição judaica, de onde extraíram esse modo de rezar. os padres
gregos chamavam esse tipo de prece de Monologian, que significa "a oração de uma palavra". No
século IV, encontramos muitos homens e mulheres saindo em busca de mestres espirituais nos
desertos, para aprender mais sobre a oração, sobre os caminhos de Deus. Entre esses buscadores
havia um jovem que estudava em Roma, cujo nome era João Cassiano. Era realmente um
buscador. Primeiro, ele foi para onde hoje estão a Síria e o Egito. Depois ficou algum tempo em
um monastério em Belém. Passou sete anos procurando entre os padres e monges, na área onde
hoje estão a Arábia e a Península do Sinai. Por fim, localizou-se no Egito, na região mais remota
do deserto. Lá encontrou um homem cuja reputação era a de ser o mais puro, o mais velho e o
mais sábio padre do deserto - o Abade Isaac. Quando fez essa jornada, João tinha um companheiro
cujo nome era Pequeno Herman. Juntos, foram ao Abade e disseram: "Padre, dê-nos uma palavra
de oração". Isaac fez uma linda e reconfortante prece naquela tarde, e os dois monges foram para
suas celas sentindo-se mais completos. No dia seguinte, quando acordaram e se puseram
novamente a caminho, o Pequeno Herman voltou-se para João e disse: "Foi lindo. Mas como
poderemos nos sintonizar nesse tipo de oração?" Como em resposta, os dois monges pegaram
suas coisas, voltaram ao Abade e disseram: "Padre, ensine-nos essa maneira de rezar". E Isaac
lhes disse" "Ah! Vejo que vocês são verdadeiros buscadores. Vou ensinar-lhes o que aprendi,
quando era jovem, com o mais puro, o mais velho e o mais sábio padre do deserto". Assim
entramos nessa tradição oral e, como eu disse, voltamos ao primeiro século e ao Mestre. O Abade
Isaac ensinou a João e a Herman esse modo de orar. Era o que João procurava. Feliz e satisfeito
ele voltou para o oeste - para onde está hoje a França - e estabeleceu duas comunidades, uma para
homens e outra para mulheres. Começou então a anotar tudo aquilo de que podia lembrar-se -
tudo o que ele havia aprendido com os padres. Na segunda conferência do Abade Isaac, conforme
o registro de João Cassiano, há referência a esse tipo de oração, transcrita pela primeira vez em
latim. No ano de 525, São Bento escreveu regras para os monastérios. Era um homem humilde e,
no último capítulo de suas prescrições, disse: "Minhas regras são para iniciantes. Se você quiser
o verdadeiro ensinamento, procure João Cassiano". Por isso, os filhos e filhas de São Bento
sempre foram à procura de Cassiano, para lá obter os ensinamentos da prece e da vida em oração.
No ano 800, Carlos Magno foi nomeado imperador de Roma. Escreveu uma orientação para a
Europa Ocidental, na qual ordenou a todos os monges e freiras que seguissem as normas de São
Bento. Essa prática se difundiu por toda a Europa daquele tempo. Nos mosteiros da Idade Média,
havia com frequência 60, 70, 80, 90 monges, e 200, 300 ou 400 noviços. Estes saíam para
trabalhar com o povo. Durante a lida cotidiana, ensinavam esse tipo de prece. Esse jeito simples
de rezar era muito comum entre os povos cristãos, até o tempo da Reforma protestante e da
Revolução Francesa, quando muitos monastérios caíram e todos os ensinamentos se perderam.
Meditar e compartilhar - O papa Paulo VI foi o verdadeiro arquiteto da reforma da Igreja Católica.
Em 1971, ele chamou alguns monges ao Vaticano e expressou sua profunda apreciação pela vida
contemplativa. E recordou o que havia sido dito no Concílio Vaticano II: nenhuma diocese será
completa sem uma comunidade de contemplação. Mas disse também que sabia que isso não
aconteceria até que a Igreja reencontrasse essa dimensão contemplativa. Perguntou então a alguns
de nós, monges, se seria possível sair e partilhar esse tipo de prece, essa parte de nossa tradição,
com as pessoas. Foi um desafio para nós. Como poderíamos partilhar essa vivência tradicional de
modo simples e prático, para que os cristãos pudessem incorporá-la facilmente às suas vidas?
Entre os primeiros escritos em língua inglesa, há um tratado muito interessante e popular
chamado A Nuvem do não-saber. Foi escrito por um mestre beneditino para um discípulo seu, um
jovem de 24 anos. O monge ensinou ao jovem esse tipo de oração e, a pedido dele, escreveu esse
tratado para ajudá-lo em sua prática. Hoje, usamos essa obra primitiva como base para transmitir
a tradição. Tentarei formular a oração, o modo de rezar, em alguns pontos simples. Quero dividi-
lo com vocês. Podemos rezar um pouco desse modo, depois teremos tempo para perguntas e
discussão. Conversaremos então sobre outros frutos da oração, como a trasformação da
consciência. Primeiro, deixem-me dizer algo sobre a postura a adotar na oração ou meditação.
Tenho vivido na China nos últimos oito anos. Também fiquei algum tempo na Índia e na
Tailândia, ensinando a prece e, é claro, descobri que existem irmãos orientais. Para eles, a postura
tem uma relação muito importante com o processo meditativo. No Ocidente, entretanto, nunca
lhe dedicamos muito tempo. O autor de A nuvem do não-saber diz ao jovem para simplesmente
sentar, relaxado e quieto. O Senhor nos disse: "Venham a mim os aflitos e eu os aliviarei". Ele
era um bom judeu e, quando se referiu a "você", quis dizer "você inteiro": corpo, mente e espírito.
Para nós, a oração deveria ser um alívio não apenas para o espírito ou a mente, mas também para
o corpo. E assim será, se conseguirmos uma maneira de deixar o corpo bem acomodado. Dessa
forma, ele poderá relaxar mais profundamente e descansaremos no Senhor. Nossos irmãos
orientais têm posturas maravilhosas: lótus, semilótus e outras. Para a maioria de nós, contudo, é
tarde demais para adotá-las. Além de não termos começado mais cedo, nossos jeans irão apertar.
Assim, para os ocidentais a melhor postura para rezar é sentar-se numa boa cadeira onde as costas
fiquem bem apoiadas. Quando meditamos, as costas bem apoiadas permitem que a energia flua
livremente, para que possamos nos revitalizar. Em outras posições, é possível que nos sentemos
relaxados, com os músculos soltos. Entretanto, nesses casos poderíamos estar pondo muita
pressão sobre a coluna, aumentando assim as tensões no resto do corpo. Por isso, é melhor que
fiquemos sentados em uma boa cadeira, com as costas bem apoiadas e os pés no chão. Então
fechemos os olhos suavemente. Isso é necessário, porque usamos mais de 25% de nossa energia
psíquica para enxergar. Eis tudo o que eu tinha a dizer sobre postura.Há pontos importantes em
relação a essa meditação ou método de oração. O primeiro é: permaneça com fé e amor em Deus,
que habita o centro do seu ser. A palavra em inglês é "be" (seja/esteja). Portanto, apenas esteja
com Deus. Não se trata de uma oração de pensamento, sentimento, visão, imaginação, audição:
trata-se de uma prece de estar-com. Nela, não entregamos a Deus nossos bons pensamentos e
nossas boas idéias: damos-Lhe o nosso ser completo. Estamos, com fé e amor. A fé é aquele
presente maravilhoso de Deus, por meio do qual sabemos que Ele nos diz a Sua verdade. E Ele
nos disse que virá e nos habitará. Sabemos que Deus habita em nós, no centro de nosso ser. Assim,
em fé e amor voltamo-nos a Ele e nos entregamos por completo. Essa é realmente a pura essência
da oração: simplesmente estar com Deus em amor. Para estar quietamente com o Senhor, para
que Ele possa nos renovar, precisamos de alguma ajuda. Foi o que o Abade Isaac ensinou a João
Cassiano. usamos, então, uma pequena palavra de amor para estar com o Senhor. Mas que palavra
é essa? Entre os irmãos bizantinos, ela é o nome de Jesus. Por isso, eles a chamam de "a oração
de Jesus". É a mais antiga e a mais pura forma de orar e corresponde exatamente à Oração
Centrante. João Cassiano a trouxe do Abade Isaac direto para o Ocidente, mas deu-lhe alguma
flexibilidade. Assim, cada um poderia escolher sua própria palavra de amor. Disse o mestre que
escreveu A nuvem do não-saber: "Escolha uma palavra, uma palavra simples". Uma palavra como
"Deus", ou "amor", é melhor. Mas escolha uma que signifique algo para você. E o significado,
claro, é" "Eu apenas me entrego ao Senhor em amor". Dessa maneira nos pomos em oração,
colocando o corpo confortavelmente e voltando-nos para Deus dentro de nós. Temos essa pequena
palavra que, mansamente, nos permite ficar em paz com o Senhor. Mas acontece que de repente
começamos a pensar em outras coisas: "Será que tranquei o carro?" Pensamos no que temos de
fazer amanhã, ouvimos alguém falar lá fora - muitos outros pensamentos afloram. Assim, sempre
que algo diferente nos vier à consciência, devemos retornar suavemente ao Senhor com o auxílio
de nossa palavra de oração: suave e docilmente, apenas voltemos ao Senhor cada vez que nos
percebermos dispersos. Deus é muito bom para nós . Ele nos deu um computador magnífico para
ligar a outros computadores. Mas há um defeito nessa máquina: ela não tem o botão de desligar.
Por isso é que chegam constantemente aos nossos pensamentos memórias idéias ou o que seja.
Quando vamos meditar ou rezar, não podemos desligá-las. Precisamos simplesmente deixá-las de
lado enquanto descansamos no centro de Deus. É mais ou menos isso: suponha que você está
sentado na sala assistindo a seu programa de TV favorito e ouve uma batida na porta. Vai atender
e lá está um amigo. Os dois conversam. Seus ouvidos continuam a ouvir a televisão e você
também pode vê-la com o canto dos olhos. Mas está por inteiro com seu amigo, apenas deixa de
prestar atenção à TV. Na oração ou meditação, orientamos nossa atenção para estar
completamente com Deus. Se algo começar a produzir sons estranhos na TV, deixamos o nosso
amigo e nos voltamos para ver o que está acontecendo. Na oração também: alguns pensamentos,
idéias, memórias, chamam a nossa atenção e nos afastam desse estar com Deus. Assim que nos
tornarmos conscientes disso, muito suavemente, muito amorosamente, com nossa pequena
palavra, retornemos ao Senhor. Eis o modo de meditação e oração ensinado pelo Abade a João
Cassiano.
Gostaria agora de sugerir que nos levantemos por um momento e nos movimentemos. Depois
vamos nos sentar e meditar por alguns minutos. Quando oramos juntos, o líder geralmente começa
com um pequeno ato de fé e amor. No fim da prece, ele reza o Pai Nosso. Mas qualquer um pode
continuar em silêncio e em seu próprio tempo. Essa parte não vem do Abade Isaac, vem do Abade
Basil. No fim da meditação sugiro que, em vez de terminar abruptamente, deixemos que nossa
palavra de oração se vá - propondo que, muito suavemente, deixemos que o Pai Nosso brote
dentro de nós. Deixemos, enfim, que a oração flua e que o Senhor nos ensine, por meio dela, o
que quiser nos ensinar. Vamos nos acomodar o mais confortavelmente possível nas cadeiras que
temos. Relaxemos o melhor que pudermos, com as costas bem apoiadas, os pés no chão, os olhos
fechados. Voltemo-nos para o Senhor, que está verdadeiramente presente e, com nossa pequena
palavra de amor, apenas descansemos n'Ele. Senhor, agradecemos pela sua maravilhosa presença
conosco. Nesses minutos, apenas queremos estar Contigo em amor. Glória a Ti em Cristo. (segue-
se um período de meditação). Agora quero convidá-los a usar três ou quatro minutos para
compartilhar com as pessoas próximas de cada um, suas experiências na meditação. Para isso,
formem pares. Quatro minutos. É espantoso o quanto as pessoas têm a dizer sobre uma oração
silenciosa. (Passa-se o tempo proposto) Gostaria de chamar a atenção sobre esse ponto. Agora
mesmo, enquanto você estava partilhando com seu parceiro, podia ouvir as pessoas à sua volta
conversando. Também podia vê-las. Mas queria estar com seu parceiro. Então só ouvia a ele e,
automaticamente, deixava todas essas outras coisas de lado. Não precisou dizer: "Não quero ouvir
isso, não quero ver aquilo". O fato de querer estar com seu parceiro fez com que você, de modo
automático, deixasse o resto de lado. Na meditação ocorre o mesmo. Você não tenta parar de ter
pensamentos ou idéias ou não ouvir nada: simplesmente deseja estar com Deus. Estando com Ele,
abandona os outros pensamentos. Contudo, enquanto está ouvindo o seu parceiro pode ouvir
alguém mencionar o seu nome. Volta-se de imediato e se pergunta: "O que estarão falando de
mim agora?" Dessa maneira, você tem que fazer um esforço para voltar a ouvir seu parceiro e
deixar a outra conversa seguir. Também na meditação em oração, quando alguns pensamentos,
memórias ou sentimentos o "pegarem", o distraírem, assim que se tornar consciente deles, use sua
palavra de oração e, suavemente, retorne ao Senhor.
O significado da Lectio - Falemos um pouco de Maria. Eu poderia falar o dia todo sobre ela. A
Oração Centrante, ou oração contemplativa, faz parte do conjunto da Lectio Divina, prática que
começa com a leitura do texto sagrado. Na verdade, São Bento nunca fala da Oração
Contemplativa, ou contemplação, quando se refere ao tempo necessário para a Lectio - e ele
dedica muito tempo a isso. Quando o faz, usa tudo que poderíamos chamar de processo de
Lectio: Meditatio (meditação), Oratio (oração), Contemplatio (contemplação). Lectio se traduz
literalmente por "leitura". Mas não precisamos fazer isso, porque hoje nossa noção de leitura
corresponde a algo que vemos numa página e que produz alguma idéia em nossa mente.
Entretanto, não era esse o significado do termo "leitura" antes dos primeiros 1000 anos da era
cristã. E assim aquele autor escreveu para o vislumbre dos outros, porque na época a maioria das
pessoa não era capaz de ler livros. Ele recebeu a palavra e aprendeu com ela a formar nossa mente
e nosso coração. E aqui Maria foi um bom exemplo para todos nós. São Lucas nos conta das
muitas vezes que ela cuidou de todas essas coisas em seu coração. Em vez de tomar uma idéia e
tentar amoldá-la ao nosso modo de pensar, trazê-la para o "nosso tamanho", a Lectio e o modo de
Maria abrem-na: deixam vir a palavra de Deus, deixar-na expandir nossas mentes e formar nossos
corações. Nossa Oração Centrante precisa estar no contexto dessa abertura para a atividade divina,
receber a palavra num nível conceitual, abrir-nos para a fé e capacitar-nos a responder em
contemplação. Gostaria muito de continuar falando de Maria, mas o tempo é curto. Apenas queria
dizer, concluindo, que suas últimas palavras para nós, nas Escrituras, foram: "Faça tudo o que
Jesus disser".
Viajando por outros domínios - No último ano, quase todas as semanas tenho recebido convites
para conferências nacionais e internacionais, com o objetivo de discutir a meditação nas áreas da
Medicina e da Psicologia. Como se sabe, somos atingidos pelas tensões o tempo inteiro. Se não
as descarregarmos, se não as expirarmos, iremos construí-las dentro de nós. Isso nos causará
problemas físicos e mentais. Aliviamos parte das tensões no sono. Podemos também atenuá-las
com a prática de exercícios. No entanto, todos os que estudam o assunto concordam que o melhor
meio de ficar livre delas é a meditação. Jesus disse: "Venha a mim e eu o reconfortarei". Gosto
dessa palavra "reconfortar". É como um dia de primavera, cheio da energia da vida. Mas há outros
temas a abordar em relação ao nosso assunto principal. O diálogo ecumênico, por exemplo. Por
meio de minha experiência e da de muitos outros, concluí que o melhor meio de estar junto com
outros cristãos e outras religiões do mundo é sentarmos reunidos em silêncio. É extraordinário
perceber como um profundo entendimento acontece rapidamente entre pessoas de diferentes
tradições. O Dalai Lama me disse que ninguém que ele conheceu, no Ocidente, o entendeu tão
bem como Thomas Merton. E Merton não era academicamente profundo no budismo e em sua
teoria. No entanto, encontrou-se com o Dalai Lama e, partindo do fundo de sua tradição, foi capaz
de encontrar o budista na profundidade da tradição dele. Sinto que nós, da comunidade cristã,
ainda não fizemos nossa parte no diálogo inter-religioso. Muitos cristãos têm procurado os
indianos e budistas, mas trata-se de um caminho de mão única, não de um verdadeiro diálogo. A
morte do grande patriarca do budismo na Tailândia foi um grande acontecimento, porque ele era
o verdadeiro lider espiritual de todo o povo tailandês. Na época, o papa João Paulo II enviou um
cardeal para expressar as condolências da Santa Sé e visitar os principais monastérios budistas da
Tailândia. Fui chamado para acompanhar esse cardeal, que costumava dizer que os budistas
tentavam ensinar-lhe seus modos e costumes, enquanto que ele nunca tivera nada para ensinar-
lhes. Acabei partilhando a Oração Centrante com todos os principais monatérios budistas na
Tailândia. Em todos eles, perguntaram-me se eu poderia permanecer lá por um ano, ou no mínimo
por um mês. Naquela parte do Oriente, existe uma grande necessidade de contato com a riqueza
espiritual que eles sabem que há no Ocidente, e que produziu santos como São Francisco de Assis,
Madre Teresa de Calcutá e outros. No ano passado, em julho, tivemos um encontro de quatro dias
em Getsêmani (abadia onde Thomas Merton viveu). Convidamos o Dalai Lama para vir e pedimos
a ele para trazer 25 líderes e mestres espirituais budistas de todas as partes do mundo. Quanto a
nós, levamos 25 mestres cristãos para dialogar. Foi um compartilhamento muito rico. Ao fim
daquele período, uma das coisas que me surpreendeu foi o modo como os budistas relataram o
encontro. Em suas narrativas, a coisa a que deram mais atenção foi a Lectio. Referiram-se a ela
como algo que os havia aberto para toda uma nova maneira de chegar ao entendimento do Divino.
Costumam perguntar-me sobre as semelhanças entre a meditação transcendental e a cristã. As
pessoas querem saber se elas são idênticas, ou se devem mudar de abordagem, esquecer os
mantras e passar a usar a palavra de amor. Tive oportunidade de conversar com Maharishi,
professor de Meditação Transcendental, e membros de seu movimento. Maharishi tem uma
universidade nacional. Em meu livro, Deus ao Alcance das Mãos, já publicado em português,
(Paulinas, esgotado), há dois capítulos referentes à Meditação Transcendental. Em um deles, tento
mostrar as diferenças entre ela e a Oração Centrante. Existem semelhanças, é claro. Em todas as
tradições, há dois caminhos básicos de meditação: a de muito esforço e a de pouco esforço. Na
primeira, trabalhamos para quebrar a linearidade da consciência. Vejamos um exemplo. Na escola
Rinzai Zen, o indivíduo se senta durante horas em um pequeno banco e trabalha com seu mantra,
com o seu koan, até atingir a experiência transcendental. Em muitos dos modernos métodos
cristãos de meditação, tomamos uma palavra do Evangelho e trabalhamos com ela, pensamos a
seu respeito e tudo o mais. Enfim, tentamos usá-la para quebrar barreiras e transcender. Por outro
lado, há a Soto Zen, em que o indivíduo apenas se senta e simplesmente deixa as coisas
acontecerem. A meditação transcendental é um método de menor esforço. Usa-se um simples
mantra sonoro, relaxa-se e assim nasce um novo estado de consciência. A Oração Centrante é
também um método sem esforço: apenas nos sentamos, ficamos em Deus e usamos uma pequena
palavra de amor para descansar mansamente com Ele. Contudo, os dois métodos meditativos são
na verdade diferentes. Na meditação transcendental, o mantra é um som sem significado: sua
constante repetição leva a pessoa a um estado alterado de consciência. Na Oração Centrante
escolhemos uma palavra significativa, e esta expressa a intenção de estar realmente em amor com
Deus, de ser completamente "um" com Ele. Disse Santo Tomás de Aquino: "Quando a mente
pára, o coração prossegue". Na meditação transcendental não há conceito ou idéia de relação
interpessoal. Na Oração Centrante estamos respondendo, por isso a Lectio vem antes. Deus fala
conosco primeiro. Trata-se de um ato de fé. Estamos respondendo a uma pessoa que sabemos que
amamos ou que sabemos que nos ama, que se relaciona conosco. Existem outros pequenos
detalhes que eu poderia citar, mas não creio serem úteis agora. O que costumo dizer é que as
pessoas podem usar a meditação transcendental como um caminho cristão. É assim que fazem os
indianos: quando eles se sentam para meditar, visam abrir-se para a atividade divina em suas
vidas.
A consciência transformada - Falemos agora da transformação da consciência. A expressão
"Oração Centrante" é inspirada em Thomas Merton. É um nome novo para um antiga e tradicional
forma de oração que tem sido chamada de outras formas, em especial e mais comumente, Oração
do Coração ou Oração no Coração. Nos EUA as pessoas são muito pragmáticas. Quando se fala
em coração, elas logo pensam no órgão cardíaco, onde se gera a pressão sanguínea. Querem saber
como as coisas funcionam e assim por diante. Entretanto, nas Escrituras, nos Salmos, quando se
fala de coração, não se trata desse órgão. O sentido é o de lugar mais profundo, ao qual Deus nos
conduz em seu imenso amor. Foi por isso que Merton começou a falar sobre centro ou raiz do
Ser. A primeira vez em que compartilhei essa oração fora do monastério - e a seguir em inúmeras
outras vezes -, usei citações de Merton, como esta: "A maneira mais fácil de dirigir-se a Deus é ir
para o nosso próprio centro e passar, por meio dele, para o centro do divino". Por causa dessa
citação, um dos participantes começou a chamar esse processo de Oração Centrante. O nome
pegou e logo foi usado em todos os lugares. Esse era o modo como Thomas Merton sempre rezou.
Ele nunca usou os métodos orientais. Essa era a sua maneira de rezar. Quando falava dos frutos
da oração, uma das coisas de que ele mais gostava de mencionar era a transformção da
consciência. Consciência é o modo como nos colocamos em relação às coisas, ou como
permitimos que elas cheguem até nós. É uma maneira de "ouvir" o que somos. A formação da
nossa consciência começa no útero materno. Em nossas primeiras experiências pessoais, é como
se fôssemos um pequeno "pacote" de necessidades básicas. Precisamos de muitas coisas e
gritamos e choramos para consegui-las. À medida que nossa consicência se expande, começamos
a prestar muito mais atenção às pessoas que nos proporcionam as coisas, e assim nos relacionamos
profundamente com elas, de quem dependemos. Por esse meio, tornamo-nos consciêntes do que
fazemos - de nossas ações. Aqui há algo ao qual principalmente os jovens pais deveriam estar
atentos: o amor dos pais é a coisa mais parecida com o amor de Deus que existe na Criação. Com
Deus, os pais trazem as crianças ao mundo. Apenas derramam amor sobre elas, que não precisam
fazer nada para ganhar ou merecer esse amor. Recentemente, um casal de sobrinhos teve o seu
primeiro filho, uma garotinha. É maravilhoso ver um homem grande e maduro segurando o seu
pequeno "pacote" e ver todo esse amor se derramando. Se os pais derramassem sempre esse amor,
seriam, as pessoas mais lindas do mundo. Mas o que acontece, infelizmente, é que eles,
conscientes de sua responsabilidade de educar e formar a criança, começam a enviar-lhe certas
mensagens. Falam como se dissessem: "Assim, mamãe não vai mais amar você. Você deveria se
comportar, guardar seus brinquedos, ir bem na escola e outras coisas. O papai não vai mais amá-
lo, se você não for bem na escola, nos esportes, etc." Dessa maneira, a mensagem que a criança
recebe informa-lhe que os pais não a amam por si mesma, mas porque ela age de determinados
modos, faz certas coisas. Essa mensagem é reforçada pelas experiências que a criança tem com
seus companheiros, colegas de brincadeiras, de escola. Os bons parceiros são aqueles que têm
coisas, antes de tudo: piscina, jogos de TV, bola e assim por diate. Assim, o mais popular é aquele
que faz mais coisas: o bom jogador de futebol, de tênis, o bom dançarino, etc. Desse modo, todos
os retornos que obtemos nos levam a crer que nosso valor está no que fazemos, no que temos, no
que os outros pensam de nós. Essa é a espécie de conceito que começamos a formar sobre nós
mesmos. Não esqueçamos que Jesus disse que devemos deixar morrer esse falso eu para conhecer
nosso eu verdadeiro. Os homens se apegam principalmente ao que fazem. Quando uma pessoa se
apresenta, quase sempre informa o que faz: "Eu sou Joe Green, professor no Seminário". É por
isso que muitas vezes a aposentadoria é difícil para os homens: durante 40 anos tenho sido Joe
Green, professor do colégio, e agora subitamente eu sou só Joe Green. Quanto às mulheres, elas
costumavam cuidar da casa, tinham filhos, e por isso não eram tão ligadas ao que eram, mas muito
mais ao que tinham: roupas, jóias e até seus corpos. É claro que os tempos mudaram, e hoje Mary
Green é presidente da Universidade enquanto Joe Green está usando brincos. Essa preoucupação
também existe na religião. Para muitas pessoas, Deus é algum personagem que vive em algum
lugar, e nós fazemos certas coisas para obter as bênçãos eternas: é tudo uma troca. Todos nós
vivemos, em alguma medida, nesse domínio do falso eu. Todas as vezes em que se sentir triste,
pergunte a si mesmo qual das três coisas está acontecendo: a) não posso fazer o que quero; b) não
tenho o que quero; c) estou preocupado com o que pensam a meu respeito. Com que frequência
deixamos de fazer o que realmente queremos por causa do que os outros irão pensar? Este não é
um lugar muito feliz para se viver. Estamos cientes da possibilidade de perder o que temos ou o
que fazemos. Estamos sempre em perigo ou sentimos sempre um certo medo. Lá no fundo,
persiste o sentimento de que ainda somos aquele pequeno "pacote" de necessidades básicas. E
então deixamos de lado essa grande fachada de fazer tudo, de possuir tudo, e mantemos todos
afastados de nossa vida. Este é um lugar muito solitário para se viver. O Senhor nos disse que
devemos morrer para esse falso eu. E é o que realmente fazemos, na Oração Centrante. O que
fazemos? Nada: apenas sentamos com Deus. O que as pessoas pensam de nós? A maioria pensa
que somos loucos. E o que temos? Não temos nada: abandonamos inclusive os nossos
pensamentos. Na Europa ocidental, a filosofia mais influente nos tempos modernos tem sido a de
Descartes. Sua proposição fundamental é: "Penso, logo existo". Eis o limite do falso eu. É claro
que a relidade é outra: eu sou, logo penso - danço, canto, brinco, rezo. Na Oração Centrante
abandonamos até o que pensamos. Abandonamos tudo. Morremos para esse falso eu. A
experiência de nós mesmos como um "pacote" de necessidades básicas é o que tradicionalmente
chamamos de pecado original. Mas na realidade Deus está no nosso coração, no centro do nosso
ser e, em todos os momentos nos transfere o melhor de Seu amor. Lembremos uma passagem do
Evangelho, em que um jovem rico corre para Nosso Senhor e diz: "Bom Mestre, o que eu devo
fazer para ter a vida eterna?" E Jesus, como bom professor e bom rabino, não dá uma resposta.
Retruca com outra pergunta: "Por que você me chama de bom? Bom é Deus". Ele pensou que o
rapaz fosse dar mais um passo e dizer: "Você é Deus!" Mas o jovem rapaz não estava pronto para
aquilo. Entretanto, Jesus fez uma afirmação fundamental e antológica: "Um é bom: Deus". Não
sei se no Brasil vocês foram treinados com um pequeno catecismo, como nós nos EUA. Era uma
coisa terrível. Uma das perguntas era: "Como Deus me fez?" Eis a resposta: "Deus me fez do
nada". Não é uma coisa terrível para se dizer a uma criança? Se somos feitos de nada, o que
valemos? Deus não nos fez do nada. Também não nos fez de alguma coisa. Mas Ele sempre nos
põe diante de Seu puro amor, partilha conosco alguma coisa de Seu maravilhoso ser, Sua
benevolência e beleza. Essa é a realidade: Deus está sempre em nosso centro, trazendo-nos para
a maravilhosa realidade da Sua imagem. Quando nos ligamos a essa circunstância, certamente
não nos preocupamos com o que os outros pensam: se vocês não gostam de mim estão "por fora",
porque Deus gosta. É com isso que tomamos contato na Oração Centrante: não apenas morremos
para essas coisas, mas abrimo-nos para tornar real a experiência de Deus em nós, e assim nos
encontrarmos repletos da beleza divina. Na verdade, Deus não está lá para nos deixar ver a nós
mesmos fora dele, porque somos a Sua imagem. E quando de fato nos encontramos em Deus, e
descobrimos que Ele é esse caminho de amor em nós, então ficamos sabendo que podemos fazer
tudo o que queremos e ter o que quisermos, porque Ele disse: "Peça e receberá". Essa é a
transformação da consciência: começo a ver tudo de uma forma completamente diferente. Não
mais tento me formar fazendo muitas coisas: trabalho, trabalho, trabalho. Não mais quero tornar-
me indispensável. Não mais tento me aprimorar adquirindo coisas. Sei que sou esse lindo presente
de Deus. É um sentimento de tremenda liberdade e alegria. Essa transformação, obviamente, não
acontece na primeira vez que você se centra e talvez nem na quinquagésima. Contudo, pouco a
pouco ela acontece. E então chega para você esta tremenda alegria: paz, liberdade e amor - todos
os presentes ou frutos do espírito que são possíveis em sua vida. Tenho praticado a Oração
Centrante por muitas décadas, e a tenho partilhado com centenas de milhares de pessoas por todo
o mundo. Ainda assim, continua a me surpreender que esse simples ato de sentar por vinte
minutos, duas vezes por dia, ficando apenas com Deus, pode nos transformar de uma forma tão
completa. Quando eu era um jovem monge, comecei a ler um dos maravilhosos escritos espirituais
de São Bernardo, que dizia: aqueles que experimentaram, sabiam do que ele estava falando. Os
que não tiveram a experiência deveriam experimentar - e então ficariam sabendo. Há coisas que
só podem ser conhecidas pela experiência. Eu costumava me irritar com São Bernardo, mas um
dia o compreendi. Lembro-me de que quando estava na escola me apaixonei por uma garota. Fui
para casa e falei para o meu irmão a respeito dela. Ele não conseguia ver o que eu via. Certas
coisas você só consegue ver com a intuição do amor. E Deus é amor, e a única maneira de vê-Lo
é amando. Esse é um dos frutos da Oração Centrante: essa transformação da consciência por meio
da qual chegamos verdadeiramente a descobrir o quanto Deus nos ama, o quanto Ele está conosco,
e saber como somos magníficos e o quanto somos amados, e que dádiva somos para todos os
outros. A experiência inicial que temos é como se Deus estivesse ausente de nós. É uma coisa
terrível, porque apenas Ele pode nos preencher. Mas é pelo fato de existir o pecado original que
se dá a mudança. Essa é uma culpa feliz, porque nos trouxe a salvação."

RESTRIÇÕES À PRÁTICA MEDITATIVA


A Oração Centrante, a Meditação Cristã, bem como outras formas de meditação, principalmente
se forem conjugadas com a respiração "Pranayama" ou outras modalidades, liberam muita energia
psíquica e por conseguinte não devem ser praticadas por pessoas portadoras de distúrbio bipolar,
(psicose maníaco-depressiva) e outros problemas semelhantes, sem antes se aconselhar com seu
psicólogo, pois o estado mental da pessoa pode piorar, (embora também possa melhorar). Essas
pessoas, devidamente acompanhadas pelo médico especialista (psiquiatra, psicólogo) e também
por um bom e experiente diretor espiritual, que conheça meditação e seus efeitos na pessoa,
poderão praticar, desde que medicados e acompanhados de perto.
Talvez seja melhor para essas pessoas praticarem a Oração de Jesus em algum momento do dia,
pois a repetição de uma frase inteira tem outro tipo de efeito na pessoa e fica mais difícil ocasionar
um "estado alterado de consciência", que definitivamente não é o objetivo da meditação proposta
nesse site, (Oração Centrante). Que essas pessoas busquem tanto quanto possível o equilíbrio
entre ação/atividade física e oração. E não dediquem mais que dois períodos de 20 minutos à
prática da OC/MC, isto no caso de ter sido aprovado pelo seu médico, não dispensando de modo
algum a medicação prescrita. O padre Thomas Keating, OCSO, em seu livro "Intimidade com
Deus" (ed. Paulus) e em outros escritos seus, sem tradução em português, ainda, aborda o assunto.
Pessoas com tendência à depressão e/ou problemas mentais não devem, portanto, fazer uso dessas
modalidades de oração/meditação, embora seu objetivo seja a união com Deus, buscando viver
em sua Presença e não sejam em absoluto "técnicas" que busquem estados alterados de
consciência.

Os Frutos da Oração Centrante


Conferência por Bill Ryan, USA.
Somos introduzidos à OC como sendo um método para nos abrirmos a uma relação íntima com
Deus. Aprendemos sobre o uso da Palavra Sagrada na prática da mesma oração. Nessa
conferência vamos explorar os frutos da transformação da Prática, em nossas vidas.
Sessão IV - FRUTOS DA ORAÇÃO CENTRANTE
- Os frutos da Oração Centrante são experienciados na vida diária, não necessariamente no
período em que praticamos a OC.
- Não há uma relação direta de causa e efeito na OC mas existem os frutos. A oração não é
praticada em virtude dos frutos mas a fidelidade à prática trará os frutos com toda certeza.
- Nos Evangelhos Jesus diz que nossa capacidade para o amor e serviço como uma manifestação
do amor, são os frutos desse relacionamento com Deus.
- A atitude de consentir na Presença e Ação de Deus em nós, é trazida para a vida diária. Há um
ritmo na prática, os pensamentos surgem, deixamos que eles passem, não opomos nenhuma
resistência aos pensamentos e não nos apegamos a nenhum. Acontece um desapego pacífico e
alegre no dia a dia.
- O desapego impacta nossa vida diária na medida em que recebemos a graça de "largar".
Aprendemos a viver plenamente o momento presente, nem nos agarrando a nada nem
"empurrando" o que está diante de nós.
- Experimenta-se uma nova liberdade de agir a partir do Reino de Deus dentro de si mesmo, ao
invés das compulsões ditadas pelos programas emocionais para a felicidade que alimentam o
sistema de nosso falso eu.
- Descobrimos que a base de nosso ser, de nossa vida, brota não das necessidades de nosso falso
eu, nossas compulsões ditadas pelo medo, mas antes brotam do Reino interior do qual Jesus falou.
- Os primeiros frutos podem se refletir num gosto para o silêncio, a solidão, para uma simplicidade
de vida. Geralmente os frutos são notados primeiramente por outras pessoas, ainda antes que
possamos percebê-los.
- Os frutos da Oração Centrante podem nos tocar ou a outros, das seguintes maneiras:
- Crescimento pessoal - e.g.: aumento da empatia, capacidade para ouvir, sensibilidade aos outros,
menos julgadores, uma abertura à mudança e transformação.
- Relacionamentos - e.g.: Menos reações veementes aos outros, maior aceitação dos outros, mais
atenção.
- Serviço aos outros - Chamados aos Ministérios ou Serviço de vários tipos em comunidades
espirituais ou seculares.
Eu estava presente há aproximadamente três anos atrás, quando o padre Thomas Keating foi
perguntado sobre o que seria melhor, servir aos mais necessitados ou praticar a Oração Centrante
em silêncio. Ele respondeu, "é a mesma coisa... sãos dois lados da mesma moeda."
Creio que ele realmente estava dizendo como a nossa jornada interior e exterior, brotam ambas,
de nosso relacionamento com Deus, e a prática do relacionamento é verdadeira seja na nossa
abertura a Deus no silêncio, seja servindo e amando a Deus em e através de sua Criação ao nosso
redor.
Novamente a medida de Jesus, a medida da vida é nossa capacidade de amar. Quando estamos
enraizados na Fonte do Amor e os obstáculos a um maior amor e serviço foram transformados
dentro de nós, somos capazes de dar com maior sabedoria, maior profundidade e maior
desprendimento. E nosso próprio poço não seca, porque ele está sendo continuamente completado
com a Água Viva de que Jesus falou.
Alguns dos modos pelos quais nos abrimos à essa Água Viva de Jesus podem incluir os seguintes:
- Um gosto adquirido pelo silêncio em nossas vidas. - Uma
maior capacidade de desapego durante o curso de nossas
vidas.
- Aprende-se a amar incondicionalmente.
- Vê-se a bondade fundamental nos outros.
- Aprende-se a ser abertos para dar e receber mais
completamente.
- Um enriquecimento mais completo na vida de oração.
- Uma maior clareza concernente às motivações na vida.
- Cura e reconciliação dentro de si mesmo e com outros.
- Serviço ao mundo e uma escuta genuína aos clamores dos
pobres.

A Tradição nos ensina que alguns dos frutos da oração e união com Deus, de viver no Reino de
Deus, são dolorosos. Sentimos a dor do mundo, de nossos irmãos, de todas as criaturas de modo
mais agudo. A dureza do coração se dissolve e ficamos mais sintonizados com a Presença de
Deus, e o Cristo sofredor no mundo à nossa volta.
Por conseguinte experimentamos:
- Maior sensibilidade às injustiças no mundo.
- Maior desejo de nos arriscarmos pelos outros, e pelo amor do Reino de Deus.
Os frutos da Oração Contemplativa são a realização das Bem-aventuranças. E elas falam de
felicidade num sentido contrário aos valores do mundo.
Ao nos desarmarmos, tornando-nos mais vulneráveis ao sofrimento em nós mesmos e nos outros,
encontramos a verdadeira felicidade.
Podemos fundamentar nossa prática da OC e estender os Frutos em nossa vida diária com algumas
das seguintes sugestões:
-Prática de pelo menos dois períodos de OC, de vinte minutos cada,
diariamente.
- Participar de um grupo de suporte à OC.
- Prática regular de leitura espiritual, incluindo a prática da Lectio Divina.
- Continuar a ler e aprender sobre a prática da oração contemplativa,
incluindo livros escritos pelo padre Thomas Keating, Basil Pennington e Fr.
Menninger. Ver indicação bibliográfica nesse site.
- Prática da Atenção/Intenção - como ensinadas pelo padre Keating que é dar
nosso consentimento de estar com Deus, de amar e servi-lo na vida diária e
trazer nossa atenção à Presença de Deus em tudo o que fazemos.
- O uso da frase da oração ativa na vida diária. Isto é bem explicado no livro
"Open Mind, Open Heart", do padre Keating. Aconselha-se a tomar uma
frase de cinco a nove palavras da Escritura e usá-la durante todo o dia para
se retornar à atenção e ao consentimento da Presença de Deus e manter uma
ligação com o silêncio interior, especialmente em momentos em que as
emoções nos afligem. (Oração de Jesus)
Por exemplo, a do peregrino russo: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Davi, tende
compaixão de mim, pecador", pode ser uma.

Tradução: Jandira Pimentel

ESTENDENDO OS EFEITOS DA ORAÇÃO CONTEMPLATIVA NA VIDA DIÁRIA.

A Oração Centrante é a pedra fundamental de um compromisso maior visando a dimensão


contemplativa do Evangelho. Dois períodos diários de vinte ou trinta minutos - um pela manhã e
o outro pela tarde ou ao anoitecer - ajudam a manter sempre num nível alto o reservatório de
silêncio interior . Aqueles que dispõem de mais tempo poderiam começar com uma leitura breve
do Evangelho, por dez ou quinze minutos. Para aquela pessoa que deseja e pode dispender uma
hora inteira de silêncio interior pela manhã, comece com dez minutos de leitura do Evangelho e
a seguir faça a Oração Centrante por vinte minutos. Em seguida, faça uma lenta meditação
andando, dentro do próprio ambiente em que estiver, por cinco a sete minutos; sente-se e faça o
segundo período de OC. Você ainda tem dez minutos para planejar seu dia, rezar pelos outros ou
conversar com o Senhor.
Encontrar tempo para um segundo período mais tarde no corre-corre do dia, talvez seja mais
difícil. Se você tem que estar disponível para sua família assim que entra pela porta a dentro,
talvez você possa meditar durante sua hora de almoço. Ou talvez parar no caminho do trabalho e
meditar numa igreja, quem sabe? Se realmente for impossível fazer o segundo período de oração,
então é importante que você aumente o tempo do primeiro. Há um número de práticas que ajudam
a manter seu reservatório interior de silêncio durante o dia e assim estender seus efeitos nas
atividades do seu dia.
MEIOS DE ESTENDER OS EFEITOS DA ORAÇÃO CENTRANTE NA VIDA DIÁRIA
1. CULTIVE UMA ACEITAÇÃO BÁSICA SI MESMO(A). Tenha uma compaixão verdadeira
por si mesmo(a), incluindo todo seu passado, falhas, limitações e pecados. Espere cometer erros.
E, aprenda com eles. Aprender com a experiência é o caminho para a sabedoria. (A partir daí,
reconhecendo-nos limitados e falhos, teremos também mais compaixão com o outro, não é?)
2. TENHA UMA ORAÇÃO PARA A AÇÃO. Uma frase de cinco a nove sílabas tirada da
Escritura que você gradualmente vai colocando no seu subconsciente, repetindo-a mentalmente
quando estiver com a mente relativamente desocupada, tal como quando está lavando a louça,
fazendo trabalhos caseiros, caminhando, dirigindo, aguardando numa sala de espera, na fila do
banco, etc. Sincronize-a com seu batimento cardíaco, sua respiração. Eventualmente ela começa
a se repetir por si mesma e mantém uma ligação com seu reservatório interior de silêncio ao longo
do dia. Entretanto, se você tem uma tendência à escrupulosidade e sentir uma compulsão para
repeti-la seguidamente, ou a repetição frequente te trouxer uma dor de cabeça ou dor nas costas,
essa prática não é para você!
3. SEPARE UM TEMPO DIARIAMENTE PARA OUVIR A PALAVRA DE DEUS NA
LECTIO DIVINA. Separe uns quinze minutos ou mais, todos os dias, para a leitura do Novo
Testamento ou um livro de espiritualidade que falar ao seu coração. (Veja nesse site sobre Lectio
Divina!)
4. CARREGUE UM "LIVRO MINUTO". Tipo aqueles livrinhos com mensagens curtas e
inspiradoras - uma frase ou duas no máximo - de seus autores espirituais favoritos or de seu
próprio diário espiritual que te lembre seu compromisso com Cristo e com a oração contemplativa.
Carregue-o no seu bolso ou bolsa e quando você dispuser de alguns minutinhos, leia umas poucas
linhas. Talvez um pequeno Evangelho de bolso.
5. DELIBERADAMENTE, DESMONTE A PROGRAMAÇÃO DO SEU FALSO EU. Observe
as emoções que mais o aborrecem e os acontecimentos que os desencadeiam, porém, sem analizar,
racionalizar ou justificar suas reações. Identifique, dê nome à emoção principal que você está
sentindo e o evento particular que a desencadeou e libere a energia que está surgindo por um ato
forte de sua vontade tal como "Abro mão de meu desejo por (segurança, estima, controle)! O
esforço para desmontar o 'falso Eu' e a prática diária da oração contemplativa são os dois motores
de sua nave espiritual que te dão o impulso para sair do chão. A razão pela qual a Oração Centrante
não é tão eficaz como poderia, é que quando você sai dela para suas ações rotineiras na vida diária,
seus programas emocionais começam a decolar novamente. Emoções negativas imediatamente
começam a drenar o reservatório de silêncio interior que você armazenou durante a oração. Por
outro lado, se você trabalha no desmanche dos centros de energia que causam as emoções
negativas, seus esforços estenderão os bons efeitos de sua centralização em cada aspecto de sua
vida diária.
6. PRATIQUE A GUARDA DO CORAÇÃO. Esta é a prática de liberar as emoções negativas no
momento presente. Isto pode ser feito de um desses três modos: 'fazendo o que realmente você
está fazendo'; 'voltando sua atenção para alguma outra ocupação', ou 'oferecendo o
sentimento/emoção a Cristo'. A "guarda do coração' requer o desapego imediato de atrações e
repulsas pessoais - (gostar, não gostar, desapegar-se do mesmo jeito). Quando algo acontece
independentemente de nossos planos, nós espontaneamente tentamos modificar isto. Nossa
primeira reação, contudo, deveria ser abertura para o que está realmente acontecendo de modo
que se nossos planos dão errado, não nos aborrecemos por isto. O fruto da 'guarda do coração' é
uma boa-vontade habitual para mudar nossos planos assim que for preciso. Isto nos dispõe a
aceitar situações dolorosas quando elas surgem. Então, podemos decidir o que fazer com elas,
modificando, corrigindo ou melhorando-as. Em outras palavras, os eventos rotineiros da vida
diária se tornam nossa prática. Não posso enfatizar isso o suficiente. Uma estrutura monástica não
é o caminho para a santidade para leigos. A rotina da vida diária é. A oração contemplativa tem
o objetivo de transformar a vida diária com sua sucessão infindável de atividades rotineiras.
7. PRATIQUE UMA ACEITAÇÃO INCONDICIONAL DOS OUTROS. Esta prática é
especialmente poderosa em aquietar as emoções do 'serviço do Apetite': medo, raiva, coragem,
esperança e desespero. Aceitando as outras pessoas incondicionalmente, você disciplina suas
emoções que desejam se vingar dos outros ou fugir deles. Você permite que as pessoas sejam
quem são, com todas as suas peculiaridades e com seu comportamento particular que tanto te
perturba. A situação se complica ainda mais quando você se sente na obrigação de corrigir
alguém. Se você corrige alguém quando está aborrecido, provavelmente você não conseguirá
nada. Isto desperta as defesas dos outros e lhes dá motivos para jogar a culpa em você. Espere até
se acalmar e então aconselhe, corrija, a partir de uma preocupação verdadeira com a pessoa.
8. DELIBERADAMENTE DESMONTE A EXCESSIVA IDENTIFICAÇÃO GRUPAL. Esta é
a prática do desapego de nossos condicionamentos culturais, idéias pré-concebidas, e super-
identificação com os valores de nosso grupo particular. Isto também significa abertura à mudança
em nós mesmos, abertura ao desenvolvimento espiritual além da fidelidade a grupos, abertura ao
que o futuro nos trouxer.
9. CELEBRE A EUCARISTIA REGULARMENTE. Participe regularmente no mistério da
Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, a fonte da transformação cristã.
10. PARTICIPE DE UM GRUPO DE ORAÇÃO CONTEMPLATIVA. Participe de um grupo de
apoio que se reúna semanalmente para praticarem juntos a Oração Centrante e a "Lectio Divina"
e para se encorajarem mutuamente, no compromisso de viver a dimensão contemplativa do
Evangelho.
FERRAMENTAS BÁSICAS PARA TEMPOS DE TENTAÇÃO:
1. Determinação de perseverar na jornada espiritual.
2. Confiar na infinita misericórdia de Deus.
3. Prática contínua da Presença de Deus através da oração e abertura à Sua inspiração.
(Traduzido por Jandira de texto da "Jornada Espiritual" do padre Thomas Keating, OCSO)
*****
Quando se tenta manipular Deus
Em um determinado momento de nossa jornada espiritual, podemos talvez tentar manipular a
Deus de uma maneira muito sutil. E então, Deus deliberadamente nos desafia, ensinando-nos
amorosamente que uma atitude não possessiva, no nível espiritual, vai nos possibilitar transcender
o sistema do falso eu e alcançar a união divina. Temos que permitir que se desenvolva em nós
essa atitude não-possessiva. E então, há abundância de Deus, como há abundância de energia no
universo, como há abundância de luz do sol. Está tudo preparado, se você sabe como plugar-se e
encaixar seus circuitos no lugar certo. Tudo está aí, esperando. Mas, temos esse barulho em nosso
circuito e o barulho maior é nosso desejo de possuir para nós mesmos. E o amor divino é a entrega
de si mesmo. Se pudermos dar esse passo e novamente, a Oração Centrante é a disciplina que
gradualmente nos ensina a desapegar-nos de cada atitude possessiva, que é bem diferente de fazer
uso das boas coisas desse mundo. A atitude não-possessiva é simplesmente o uso correto de tudo
- é apreciar tudo o que está presente e desapegar-se daquilo que não está. E isto é liberdade, esse
desapego que significa não apenas desprender-se das coisas que passam, mas também aceitar o
que está acontecendo em nossas vidas - isso também é desapego: a aceitação de cada momento e
cada coisa, cada alegria como ela vem, sem tentar segurá-la e fazê-la nossa, apossando-se dela
mesmo contra todas as pessoas no universo. E então é como o ar. Há abundância dele, você pode
ter todo o ar que quiser. Mas você não pode pegar um pedaço dele e colocá-lo no sua gaveta.
Então, a possessividade é o tipo errado de resposta à jornada espiritual e ao tipo de amor divino
que estamos tentando desenvolver. Então esse processo nos habilita a nos desvincularmos de
nossos velhos hábitos e nosso modo rotineiro de responder às nossas preferências e aversões,
transcendendo-os na confiança e crendo no amor de Deus, seja o que for que recebermos, notando
os frutos em nossas vidas, modestamente, não esperando mudar repentinamente, ou sermos
transformados de uma vez, mas desejando nos engajar nesse processo. Pois toda a vida é
processo." (Thomas Keating, Jornada Espiritual)

PRÁTICA DAS "BOAS-VINDAS" NA OC


Texto por Bill Ryan (USA) - tradução de Jandira Pimentel
Muitos de nós quando iniciamos a prática da OC ou alguma outra forma de oração contemplativa,
começamos a experimentar em um dado momento uma paz interior que parece crescer e se
espalhar em nossa vida diária. Esse processo também nos deixa mais conscientes do
surpreendente contraste em áreas onde não estamos tão pacificados. Isto sobressai mais quando
encontramos as emoções aflitivas, aquelas emoções e "comentários" (interiores) que nos impedem
de nos enraizar na Presença de Deus e na paz diária. Elas oscilam das emoções muito "frias" da
apatia, do pesar, medo, assim por diante, até as emoções "quentes" da raiva, lascívia, orgulho, etc.
Reagir com aversão ou com indulgência não vai ajudar na transformação dessas emoções no amor
e na compaixão que Deus deseja para nós.
Elas são manifestações do falso eu, ou do nosso senso de separação de Deus, quando nossos
programas emocionais para a felicidade são frustrados ou bloqueados. Nosso desejo de estar com
eles, aceitá-los, apresentá-los a Deus, sem abandonarmo-nos a eles ou sem julgá-los, torna
possível desmantelar os programas emocionais que alimentam o falso eu e o redirecionamento de
todos os nossos desejos e necessidades de completude, a Deus.

A Prática de Boas-Vindas do livro "Open Mind, Open Heart", de Thomas Keating, OCSO, é a
aplicação da Oração Centrante e a ação transformativa do Espírito Santo em nossa vida diária.
Foi formulada pela saudosa Mary Mrozowski, do "Contemplative Outreach". Na prática da OC,
aprendemos experimentalmente que nossa verdadeira identidade se encontra na Presença de Deus,
que nossa vida verdadeira está na Vida de Deus e sua Ação dentro de nós. Aprendemos que os
distúrbios emocionais e comentários de nossa mente reforçam o sofrimento em nossa vida e
necessitam, por isso de compaixão e aceitação e precisam também ser trazidas a Deus para que a
paz seja encontrada. Uma maneira de se fazer isso é a prática de "Boas-Vindas". A prática é
simples e direta mas necessita um grande coração e bastante Fé.
Quando nos tornamos conscientes de emoções aflitivas, pensamentos ou comentários da mente:
Passo 1: Concentre-se e esteja Presente: à energia do sentimento, pensamento, emoção, sensação
corpórea, comentário. (Sem se identificar com eles, consentir neles ou ser levados por eles). (Em
suma, atenção ao momento presente, à emoção ou sentimento, aqui e agora, do jeito que ela é.
Perceber que eu não sou minhas emoções, sentimentos, etc. Eu observo, mas não sou aquilo que
observo. - nota da tradutora)
Passo 2: Dar as boas-vindas, verbalizar internamente sua intenção de entregar, devolver, esta
experiência aflitiva ao Espírito Santo, na totalidade do Cristo. Sendo gentis com nossa
humanidade, damos as boas-vindas à experiência, oferecendo-a em compaixão, por amor à
Presença e Ação de Deus dentro de nós. Mais uma vez, como na prática da OC, damos nosso
consentimento à Presença e Ação de Deus em nós, para curar e solucionar este sentimento,
pensamento, emoção, sensação ou comentário.
Passo 3: Desapegar-se. Desapegamo-nos de nossos desejos desordenados a resultados ou
escapismos.
Expressamos internamente o seguinte:
"Desapego-me de meu desejo por Poder e Controle";
"Desapego-me de meu desejo por Estima e Afeição";
"Desapego-me de meu desejo por Sobrevivência e Segurança";
"Desapego-me de meu desejo ou insistência em mudar a situação que dá origem às emoções
aflitivas (pensamento, sentimento, sensação, comentário, ou evento)."
Esta prática pretende nos ajudar diretamente a redirecionar nossas necessidades inapropriadas a
Deus, para além dos programas emocionais que criamos para nós, ainda numa tenra idade, talvez
a partir de nossa necessidade naquela época, ou pela falta de amor apropriado em nossa criação,
mas que mesmo assim alimentam nosso sofrimento e senso de separação neste momento de nossas
vidas.
Obviamente, há outras circunstâncias, em que esta prática não é apropriada, ou em que nos
sentimos esmagados, tais como circunstâncias abusivas ou perigosas, ou em que o simples
sentimento, ou a lembrança se tornam muito pesados. Em tais casos, a prática da oração ativa ou
"guarda do coração" (oração de Jesus), pode ser mais apropriada. Esta prática é pensada para nos
ajudar no desapego, em Deus, quando mais necessitamos, e facilitar a abertura ao Amor de Deus
e da Graça para nos trazer a transformação e libertação daqueles obstáculos à uma resposta plena
ao amor de Deus.
É importante nisso tudo estar compromissado com uma disposição para o amor compassivo em
relação às feridas de nossa humanidade. Compaixão conosco mesmos!
O livro "Intimidade com Deus" de Thomas Keating, da ed. Paulus, aprofunda a questão dos nosso
programas emocionais para a felicidade, desembocando nos centros de energia por controle, auto-
estima, segurança, que em si são coisas boas, mas que devem estar equilibrados. O livro "Mente
Aberta, Coração Aberto " é ainda mais abrangente, editado pela Loyola.
por Bill Ryan - tradução de Jandira Pimentel
Orações de Perdão
Para rezarmos bem, precisamos antes ser capazes de perdoar e sermos perdoados. Jesus nos diz
para deixarmos nossa oferta sobre o altar e irmos antes nos reconciliarmos com nossos irmãos e
irmãs, conosco mesmos, muitas vezes. Precisamos experimentar a Cura e Libertação de nossos
pecados, traumas, sofrimentos. Sentimentos aos quais nos apegamos e justificamos nossa
infelicidade. Jesus é a Luz do Mundo. Sempre perdoava os pecados àqueles que O buscavam ou
buscavam curas e milagres. No entanto, só Deus, só o Espírito Santo, pode nos conceder essa
grande graça. Precisamos nos dispor para ela, abrir nossos corações e desejar verdadeiramente
nos libertarmos do sofrimento. Muitas doenças, o câncer principalmente, alergias, problemas
digestivos, tem origem na falta de perdão, nas emoções negativas que acumulamos dentro de nós.
A Oração Centrante promove e facilita a "descarga do inconsciente", como a chama o padre
Thomas Keating, levando-nos à tomar conhecimento de muitos traumas, muitas situações que nos
levaram ao estado atual. Porém, podemos dar uma "mãozinha" ao Espírito Santo, nos dispondo e
facilitando essa Cura, que sem dúvida Deus quer nos conceder.
Desejo a todos e todas uma boa "terapia no Espírito": Leiam devagar, saboreiem esses momentos,
que podem se diários, em busca do perdão de que tanto necessitamos para viver na fraternidade,
no amor, sermos felizes, sermos mais humanos. Lembremo-nos de que nossa conversão, nossa
volta para Deus tem de ser diária. Todos os dias nos afastamos d'Ele, todos os dias devemos voltar
à Casa do Pai. A Casa do Pai é o nosso coração. Nele, Ele espera constantemente por nós.

3a.) O PROCESSO DO PERDÃO

Padre William Meninger, OCSO, monge trapista, americano, esteve entre nós recentemente,
dando retiro sobre a oração centrante e palestras sobre o ‘Processo do Perdão’. Ensinou-nos nas
palestras sobre o processo do perdão, entre outras coisas, que, se temos alguma coisa para
perdoar, devemos fazê-lo e que sem dúvida, o maior beneficiado nesses casos é quem consegue
perdoar. Que em casos de termos uma grande dificuldade em perdoar, e ele contou vários casos
sobre isso, se pelos menos formos capazes de rezarmos por nós mesmos, já teremos dado um
grande passo. Se fizermos isso diariamente, com o passar do tempo seremos capazes de perdoar.
Perdoar não é esquecer. Não se pode esquecer uma ferida. Jesus se orgulha de suas chagas e não
quer se esquecer delas, pois é sua prova de amor por nós. Releiam os textos da Ressurreição!
Que nós também devemos nos orgulhar de nossas chagas, pois é nossa parte na Redenção. A
pessoa que nos magoou, feriu, nem precisa saber que a perdoamos. Não precisamos nos
relacionar com ela, como em casos em que a pessoa foi molestada sexualmente, ou de grandes
traumas. Mesmo que a pessoa a quem devemos perdoar já tenha falecido, ainda assim podemos
e devemos perdoar. Muitas curas acontecem em nossa saúde quando perdoamos de verdade.
Ensinou o exercício abaixo, que deveríamos fazer sempre:

Oração ou Meditação da Compaixão

1. Traga à mente - o mais viva e realisticamente que puder - alguém (vivo ou morto) que ame
você ou a quem você ame. Torne a captar e até intensifique o seu sentimento por essa pessoa.
Diga-lhe o quanto a(o) ama, o quanto deseja que ela seja feliz, o quanto você é grato(a) a ela,
por tudo. Faça a Oração da Compaixão por ela (texto abaixo).

2. Escolha uma pessoa que lhe seja indiferente - estranha, ou até desconhecida. Peça permissão
à primeira pessoa acima, mentalmente, para partilhar seu amor com essa segunda pessoa, que
lhe é indiferente. A pessoa, viva ou morta, concordará porque se trata de uma coisa boa. E
também porque cremos na “Comunhão dos Santos”, não é? Partilhe com essa pessoa o
sentimento e a qualidade do amor que você tem pela pessoa amada, acima. Fale-lhe desse amor,
envolva-a nesse amor, etc. Em seguida, faça a Oração da Compaixão por ela.

3. Escolha um "inimigo" (vivo ou morto). Peça permissão em pensamento às outras duas


pessoas, de dividir seu amor com esse ‘inimigo’. Eles sempre irão concordar porque se trata de
uma coisa boa, não é? Transfira ao "inimigo" o mesmo amor que você deu às duas pessoas
anteriores. Fale-lhe do seu desejo de partilhar o amor, o perdão, etc. Faça a Oração da
Compaixão por ela.

Texto da Oração ou Meditação da Compaixão


(Acrescente o que desejar. Reze com intensidade e muita sinceridade.)
Que você seja feliz.
Que você seja livre.
Que você seja amoroso.
Que você seja amado.
Que o Senhor o(a) leve à mais completa perfeição a que seu amor o chama.
Que você seja bem-sucedido em todos os seus esforços.
Que você experimente a satisfação da paz no corpo e na alma.
Que você conheça o Senhor em toda a sua bondade.
Que você tenha perdoadas todas as transgressões.
Eu perdôo a você de todo o meu coração e alma.
Que você saiba o que significa ser filho de Deus.
Que você experimente a glória de possuir o Reino de Deus.
Que você viva e caminhe em paz e amizade com todas as criaturas de Deus.
Que todas as bênçãos sejam suas.
Que a bondade e o amor mostrem-se em todas as coisas que você fizer e em tudo o que for feito
a você.
Que você seja um, com toda a criação de Deus.
Que você experimente as bênçãos da graça de Deus por toda a eternidade!"

Mesmo que voce nao consiga perdoar na primeira vez, vá repetindo o exercício outras vezes, até
conseguir perdoar. Que possamos rezar o Pai Nosso, como Ele nos pede: "Pai, perdoai as nossas
ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos têm ofendido!"
O primeiro livro do padre William Meninger traduzido para o português, “O Processo do Perdão”,
que trata desse tema em mais profundidade, acaba de ser lançado pela editora Santuário, e se
encontra à venda nas Paulinas/Paulus, etc.

Saúde Mental, Direção Espiritual e Oração Contemplativa

Por William Ryan, M.A.


Tradução do inglês: Jandira S. Pimentel, publicado aqui com autorização do autor, a quem
agradecemos. Thank you Bill, God bless you!

Origem, Desenvolvimento e Orientação.

"Durante anos trabalhando no ministério da oração contemplativa e como diretor espiritual, recebi
um grande número de consultas sobre a relação entre doença mental e a prática da oração
contemplativa e a experiência transformativa decorrente da última. Além de ser um professor de
oração contemplativa e diretor espiritual, sou conselheiro clínico e trabalhei no campo da saúde
mental por trinta anos, (nos EUA) muito desse tempo em clínicas mentais comunitárias. Passei
também grande parte desse tempo trabalhando tanto com desordens mentais de maior
complexidade, como as de caráter transitório ou distúrbios emocionais.

Doença Mental

Até recentemente, os seres humanos não haviam compreendido as causas da doença mental.
Agora se sabe que muitas formas das principais doenças mentais são distúrbios cerebrais. Isto
inclui o Transtorno Bipolar, Depressões Profundas, Desordens Esquizofrênicas, Distúrbio do
Pânico e outros. As principais desordens mentais são causadas por desequilíbrio na química
cerebral. Em tempos mais antigos, porque essas doenças não eram compreendidas e eram
atribuídas a possessões demoníacas, doenças espirituais ou de algum outro tipo. Isto se deu com
grande dano às pessoas mentalmente doentes, que eram vítimas do medo e da incompreensão. Em
nosso tempo muitas pessoas, não todas, já descartaram a teoria de forças demoníacas como causa
de doença mental ou emocional. Contudo, há outras noções causais mais sutis e igualmente
perigosas, que permanecem em nosso sistema de crenças, sugerindo que a doença mental, na
verdade, qualquer doença, pode ser um sintoma de desarmonia espiritual em nosso
relacionamento com Deus ou com nosso próprio ser mais profundo.

Causas da Doença Mental

Essas idéias que a doença tem uma relação causal com a saúde espiritual ou harmonia, causam
um grande desserviço a pessoas com doença mental ou outra doença física. (Por favor, notem que
eu digo *outra* porque as principais doenças mentais *são* doença física no cérebro.) Em toda
minha vida conheci entre meus amigos, em meu círculo de professores e companheiros espirituais,
e em minha própria família, excelentes praticantes de oração e meditação, muitas pessoas boas e
amáveis, que eram afligidas por formas variadas de distúrbios mentais ou emocionais. Estes
distúrbios aconteceram através de fatores desvinculados do amadurecimento espiritual ou a
resistência da pessoa. Na maior parte dos casos era por herança ou predisposição genética.
Acrescentemos que pesquisas recentes com o cérebro (imagem PET) revelam mais ainda sobre
as áreas do cérebro afetadas por uma forma particular de doença mental e o correspondente
desequilíbrio químico que ocorre.

Atitudes em Relação à Doença

Muitos de nós, sem uma reflexão profunda, adotamos uma forma de pensar inconsciente, mágica,
otimista, de que podemos de alguma forma ser menos vulneráveis às doenças e aflições, se formos
espiritualmente maduros ou espiritualmente sintonizados, ou se de alguma forma estamos em
maior harmonia com Deus. No tempo de Jesus, aqueles que eram leprosos, ou que tinham aflições
ou doenças mentais eram marginalizados e acreditavam estarem sendo punidos por Deus. As
curas realizadas por Jesus, além da cura física em si, eram mais no sentido de tirar aquelas pessoas
do isolamento e envolvê-las no abraço da comunidade humana.
No mais profundo de cada um de nós há um medo da doença, da perda do controle e da morte.
Entre as nossas mais profundas e arraigadas motivações, que estão ligadas aos nossos desejos de
segurança, é a crença errônea de que podemos estar seguros, salvos, invulneráveis, (num sentido
físico e psicológico) se de alguma forma, estivermos bem com Deus. Essas crenças ilusórias,
geralmente aparecem de modo destrutivo. Relembro com tristeza amigos meus, pais de uma
criança morrendo de câncer, que começaram a ser evitados pelos vizinhos cristãos e seus filhos.
Eles ouviam afirmações insinuando, que, por exemplo, eles não deviam estar agindo corretamente
com Deus, para uma situação tão aflitiva estar acontecendo em sua família. Lembro-me dos
comentários ferinos ouvidos por minha esposa, tanto ditos pelo capelão fundamentalista, e por
um terapeuta da 'Nova Era', de que devia haver alguma coisa errada em nossa família, para que
nosso filhinho de um ano estivesse morrendo de leucemia. Numa hora em que famílias e pessoas
mais precisam de apoio da comunidade eles geralmente enfrentam esquivamento, isolamento, e
culpa da parte daqueles que atribuem causas espirituais para aflições naturais da humanidade.

Vulnerabilidade e Força

Em nossa cultura somos viciados por uma quase obrigatoriedade em sermos saudáveis e estarmos
no controle. Frequentemente ainda tentamos colocar nossas práticas espirituais a serviço dessa
ilusão tão destrutiva. Se refletirmos sobre os Evangelhos, na mensagem de Jesus nas Bem-
Aventuranças, torna-se claro que é através da nossa aceitação da vulnerabilidade e nossa radical
entrega a Deus, que nos abrimos a um relacionamento íntimo com o Bem-Amado. Tentativas
fúteis de proteger nosso 'eu' e estratégias de invulnerabilidade são claramente destinadas ao
fracasso. Esta afirmação e aceitação de nossa humanidade e fragilidade é o meio pelo qual nos
abrimos a uma maior confiança e dependência de Deus. É pela nossa humanidade e consequente
fragilidade que chegamos à Comunhão com Deus, não pela negação ou escapando para a ilusão.
Somos vasos de barro contendo a Água Viva, somos lâmpadas acesas que brilham com a Vida de
Cristo, se nos entregarmos sem reservas ao Divino. As feridas psicológicas inconscientes e não
curadas de toda uma vida afetam sim, nossa capacidade de sermos esse vaso aberto à Vida Divina
dentro de nós. Mas é através de nossa prática de auto-entrega, desejo, e compromisso, que estas
feridas são oferecidas ao Amor de Cristo e à cura. Desse modo nossa confiança na ação de Deus
dentro de nós, se aprofunda, e nossa capacidade de ser um instrumento do amor de Deus a serviço
dos outros se expande. Isto não significa necessariamente que nossas aflições são tiradas de nós.
Isto pode significar que aprendemos a usar nossas aflições humanas e vulnerabilidades para
aprofundar nosso enraizamento em Deus e nossa busca de refúgio nele apenas, mais do que em
nossas ilusões, invulnerabilidade e bem-estar.

Prática Contemplativa e Aflições Humanas

A prática da Oração Centrante, da Oração do Coração, em silêncio e quietude na vida diária, é


um meio pelo qual aprendemos a nos ancorar no Coração de Cristo, em nosso próprio coração.
Desse modo, aprendemos a viver a vida na completude e inteireza do Amor Divino em nosso
coração ou espírito verdadeiro, enquando abrimos nossa alma, nosso inconsciente humano ferido
ao poder curador de Cristo. Mais do que algo que se alcance num determinado momento, isto é
um processo para toda a vida e enquanto seres humanos, sempre estaremos necessitados de cura.
Precisaremos de apoio contínuo e confiança na graça de Deus para viver com o problema,
encontrar forças para estar com aquela pessoa querida que sofre as aflições que a vida coloca no
nosso caminho. Nossos sofrimentos não são punições, mas são a matéria prima para nossa
caminhada para Deus. Eles podem se tornar o meio pelo qual nos abriremos a uma maior
capacidade de amar e sermos gentis conosco mesmo e com os outros, e para servirmos com
compaixão ao mundo em que vivemos. (Meu pai sempre disse que o alcoolismo, que em sua
essência é uma doença do cérebro, foi o seu meio pessoal de salvação e transformação.)
Transformação e cura através da oração contemplativa não irá remover nossos dirtúrbios do
cérebro, ou do resto de nossos corpos. Porém irá nos firmar na prática da comunhão íntima com
Deus a tal ponto que seremos capazes de suportar nossos transtornos e nosso sofrimento e com
eles, aprenderemos a amar e a servir mais profundamente, não apesar deles, mas por causa deles.

Contra-indicações para a Prática da Oração Contemplativa

As principais desordens mentais são distúrbios do pensamento e das emoções. A origem desses
distúrbios é o desequilíbrio ou disfunção de certos neuro-transmissores do cérebro. Esses neuro-
transmissores mediam as sinapses no cérebro que regulam o funcionamento da mente, corpo e
das emoções. A medicação psiquiátrica em graus variados é uma tentativa de corrigir esses
desequilíbrios. Nos últimos trinta anos, a eficácia dessa medicação aumentou de tal maneira, que
muitos dos sintomas dessas desordens já podem ser controladas, particularmente as desordens do
humor, tais como Transtorno Bipolar e Depressões Profundas. Os resultados podem variar mais
com desordens do pensamento, tais como Esquizofrenia ou outras formas de psicoses. Geralmente
se pensa que pessoas com distúrbios mentais podem praticar formas de oração contemplativa sem
efeito colateral, quando os sintomas estão controlados. Nos casos em que os sintomas não podem
ser controlados, particularmente quando há evidência dos mesmos, tais como psicoses (delírios
ou alucinações), ou distúrbios de humor extremos (mania ou depressão profunda), formas de
oração contemplativa apofáticas (sem palavras, silenciosa), podem ser contra-indicadas e se
tornar difíceis ou impossíveis, por causa da interferência do sintoma com o processo da oração.
Nesses casos, outras formas de oração e devoção devem ser recomendadas.

Psicoterapia e Prática Contemplativa


Deve-se notar que entre os distúrbios psicológicos que causam transtornos e prejuízo na qualidade
de vida, estão frequentemente também aqueles causados pelos condicionamentos da vida, ou as
"feridas existenciais". Isto pode incluir algumas das desordens da ansiedade, tais como Distúrbio
do Stres Pós-Traumático, Distúrbios de Ajustamento e alguns Distúrbios da Ansiedade. Tais
condições geralmente respondem à psicoterapia ou medicação ou a combinação dos dois.
Contudo, novamente eles não são atribuídos a um pequeno desenvolvimento espiritual e devem
ser encaminhados a aconselhamento profissional para tratamento. A transformação contemplativa
pode ser complementada por formas adequadas de psicoterapia.

"Noite Escura"

Como diretor espiritual e praticante da oração contemplativa, defrontei-me tanto com a


terminologia quanto com a experiência, referidas na linguagem da tradição Cristã como "noite
escura", ou outras metáforas para a transição ou transformação. A "noite dos sentidos" e a "noite
do espírito", foram muitas vezes confundidas com sintomas de distúrbios psicológicos ou
psiquiátricos. Muitos tornaram popular a confusão entre algum tipo de transição dolorosa na vida,
que podem envolver depressão ou piora no humor, desafio existencial, perdas, etc, com as
mudanças que ocorrem na terminologia da "noite escura". Como clínico posso afirmar com
segurança que há distinções específicas entre essas experiências, sintomas ou doenças mentais,
distúrbios, e passagens espirituais, referidas na literatura como "noite escura". Diretores
espirituais com larga experiência com a prática contemplativa e a transformação e algum
conhecimento de aconselhamento clínico, devem estar capacitados a avaliar e articular essas
distinções. Faltando-lhes a especialização clínica, devem procurar aconselhamento de saúde
mental quando necessário.

Resumindo

Deve-se afirmar claramente e inequivocamente que não há relação causal entre doença mental e
desenvolvimento espiritual ou por falta dele. Estas doenças ocorrem independentemente de nossa
prática e desenvolvimento espiritual. A vida espiritual pode ajudar uma pessoa a enfrentar ou
suportar com mais coragem e liberdade um distúrbio mental, tanto quanto ajudaria em qualquer
outra forma de doença física, mas a aparência do transtorno tem sua etiologia em nossa disposição
genética, nossa bioquímica, e não nossa vida espiritual. Isto é verdade quanto a distúrbios do
cérebro e também quanto a outras desordens física, como Diabetes, Mal de Parkinson, Lupus ou
qualquer outra doença crônica ou aguda.
Se uma pessoa que pratica Oração Contemplativa, Oração Centrante, Oração do Coração, como
sua principal prática, tiver também uma doença mental tal como o Transtorno Bipolar ou
Depressão Profunda, a coisa mais importante a fazer é seguir fielmente a prescrição médica
psiquiátrica e outras intervenções psicoterapêuticas, para controlar os sintomas da desordem, do
mesmo modo que um diabético faz uso da insulina e outros medicamentos para tratar sua
desordem física. No campo espiritual uma disciplina de uma prática de oração intensa irá ajudar
essa pessoa a refugiar-se na Comunhão íntima com Deus, estejam os sintomas presentes ou
ausentes. A uma pessoa que busca a Deus seriamente, deve ser dito que ela pode ter um distúrbio
mas ela não é um distúrbio (em sua identidade) e ela deve refugiar-se no Coração de Cristo apenas,
como a origem de sua identidade verdadeira e sua essência como Filho/Filha de Deus. Nossa
caminhada para a transformação e crescimento no amor e compaixão, é aprender a usar as aflições
humanas como passagens para a prática de um profundo refúgio no santuário interior do Reino
de Deus, dentro de nossos corações, no centro de nosso ser. Não temos escolha quanto ao
sofrimento que a vida nos traz. Mas, temos uma escolha quanto a responder com desespero e
aflição, ou se vemos nossas aflições e vulnerabilidades como meios para uma busca de maior
refúgio no amor indestrutível e infalível da vida de Cristo em nós."

“A ORAÇÃO CENTRANTE E O DESPERTAR INTERIOR”

Palestra por Reverenda Cynthia Bourgeault, da Igreja Episcopal dos EUA, autora de “Centering
Prayer and Inner Awakening”- 24/01/05, aos monges trapistas do Mosteiro “Our Lady of the Holy
Spirit” (Conyers, Georgia, USA)
O DESAFIO DA LINGUAGEM - O resgate da oração contemplativa, que virou sinônimo de
meditação, tornou-se uma estrada difícil de se trilhar no Cristianismo Ocidental. As categorias
onde se pode situá-la - após os séculos 16 e 17, após Teresa de Ávila e João da Cruz e toda a
experiência interpretada, são de difícil tradução e classificação.

Muitos mestres, e penso que Thomas Keating é o exemplo clássico aqui - compreenderam de
maneira muito clara e perspicaz, que esse processo de apenas nos sentarmos e meditarmos,
contém algo crucial e essencial ao coração da prática espiritual cristã, presente desde o seu início.
Mas nunca houve muitas expressões adequadas para expressar esse “algo”.

Muito frequentemente, acontece tomarmos emprestado de linguagens metafísicas do Oriente ou


de outras experiências, categorias que fazem com que a Oração Centrante se pareça com uma
oração que vise esvaziar a mente ou cultivar a quietude. Muitas pessoas nos movimentos
carismáticos - tanto Católicos como no Protestantismo Fundamentalista - criticam muito isso.
Dizem eles, “Isso não é Cristão, absolutamente! Nada tem a ver com as raízes de nossa
experiência. Onde vocês encontraram isso na Escritura ou na Tradição?”

Acredito que muitos problemas que essas pessoas tem com a meditação, como prática Cristã ,
está no âmbito da linguagem - a nomenclatura. Sempre que se começa a falar sobre oração de
esvaziamento e quietude, ou então de se iniciar a prática da meditação (sem passar antes pelos
passos da oração mental ou ‘oratio’), vamos ter pessoas enlouquecidas dizendo, “Isto não se
parece com nada que tenhamos aprendido!”. E toda sorte de problemas.

Queria muito saber se haveria pontos de partida mais amigáveis, compatíveis com o Cristianismo,
realmente sérios e inegociáveis, para a compreensão da meditação dentro de um contexto
teológico Cristão.
Penso que a Oração Centrante se presta muito bem a essa abordagem teológica, provavelmente
melhor do que qualquer outra forma meditativa disponível hoje em dia, dentro da esfera das
práticas Cristãs.

Intenção e Disponibilidade. Na Oração Centrante, como nos ensinam as instruções, não se fica
tentando concentrar a mente, como na repetição de um mantra, continuamente. Também não é
um processo de auto-consciência, como na prática Budista - como quando se fica consciente de
um pensamento ou emoção emergindo, e se observa o processo inteiro e algumas vezes se rotula
o mesmo: “pensamento enraivecido”, ou “pensamento sensual”. A Oração Centrante não faz isso.

Na Oração Centrante iniciamos com a “intenção”, mais do que “atenção”. Thomas Keating
enfatiza isto sempre. A nossa intenção é estarmos completamente abertos a Deus - completamente
disponíveis. Tão profundamente como se pode ser aberto interiormente: mais profundo do que o
nosso pensar, mais profundo do que nossas emoções, mais do que sua própria estória, seus sonhos,
suas visões.

As palavras “disponível” e “vazio”não são sinônimas. Quando se diz, “Meu objetivo é esvaziar-
me”, você está num jogo da linguagem - e numa impossibilidade. Mas, estar “disponível”, é
realmente abrir nosso coração ao amor. Penso que nos colocamos a caminho com o pé direito na
Oração Centrante, se falarmos do objetivo como sendo uma profunda disponibilidade. Mais
profunda do que as coisas que determinam nosso senso usual de ser.

Mas, naturalmente, “a estrada que leva ao inferno está cheia de boas intenções.” Na Oração
Centrante, pode-se ter a intenção maravilhosa de estarmos profundamente disponíveis, mas, e
daí? Sentamo-nos em oração e dizemos, “Vou estar profundamente disponível a Deus. Vou me
abrir a Deus. Aqui estou Senhor. Preencha-me. Esvazie-me. Faça o que quiseres comigo.” Então
você se senta. Antes que se passem trinta segundos você já está pensando: “Será que guardei as
chaves?” Ou, “Isto já é contemplação?” A mente começa a viajar. Apenas isto. Esta é a natureza
da mente humana.

O ACORDO. Na Oração Centrante, a maneira como se coloca a intenção é o modo como gosto
de chamar, um pequeno “acordo”. E o acordo é este: “Quando percebemos que estamos pensando,
simplesmente deixamos que o pensamento se vá.” Não porque pensar seja algo ruim, mas porque
dentro dessa oração, o deixar que os pensamentos passem é o símbolo do ‘deixar nossas próprias
coisas’ e retornar àquela aberta e imediata disponibilidade.

Digo que o objetivo não é sentarmo-nos munidos com arma e munição e tentarmos abater todos
os pensamentos assim que surgem. E encare isto: Na Oração Centrante passamos algum tempo
sonhando acordado. Faz parte dela. Mas quando se tem um pensamento e algo nos recorda isso
(e misteriosamente isso acontece!), deixamos que ele se vá. Para mim, esse “deixar ir” é a essência
absoluta do método da Oração Centrante.

KENOSE. O que esse ‘deixar ir’, desapegar, "Ele, existindo em forma divina,
largar, realmente significa, quando visto não considerou como presa a agarrar o ser
teologicamente, é ‘kenose’ na forma igual a Deus,
meditativa. Sim, kenose, como descrita por São mas despojou-se,
Paulo em seu Hino aos Filipenses, 2, 6-9. A raiz assumindo a forma de escravo
teológica da Oração Centrante está na teologia e tornando-se igual ao ser humano.
da Kenose - da completa auto-doação no amor. Aparecendo como qualquer homem,
humilhou-se, fazendo-se obediente
Chamo essa oração de “Campo de Treinamento até a morte - e morte de cruz!
no Getsemâni”. O que fazemos, pensamento, Por isso, Deus o exaltou acima de tudo
por pensamento, por pensamento, por e lhe deu o Nome que está acima de todo
pensamento, é, estamos praticando. “Não a nome." (Fil, 2,6-9)
minha vontade, mas a Vossa, Ó Senhor!” A
cada vez que nos desapegamos de um
pensamento e deixamos que ele se vá, e fazemos
este gesto internamente, livremente, isto se
torna um símbolo de nossa vontade de
deixarmos nossas ‘coisas’ e estarmos
totalmente abertos e disponíveis a qualquer
coisa que Deus tenha em mente. Nos
entregamos num nível verdadeiramente
profundo.

Uma das estórias de Thomas Keating, que traz


um ensinamento poderoso, é sobre uma freira
que veio a uma palestra introdutória sobre
Oração Centrante e disse, depois da prática de
vinte minutos: “Oh padre Thomas, fui um
fracasso nessa oração. Tive mais de 10.000
pensamentos em vinte minutos.” Ao que ele
respondeu: “Que maravilha!!! Dez mil
oportunidades de retornar a Deus!”

GANHAR OU GANHAR. Isto faz da Oração Centrante uma situação de ganhar ou ganhar. A
natureza sagrada desta oração - o lugar sacramental nela - não é alcançado através da tentativa de
manter sua mente num estado único de consciência, em nenhum estado alterado de consciência.
O objetivo não é tentar e atingir a alegria. Não é buscar atingir coisa alguma. Os momentos de
sacralidade nesta oração vêm quando algo em nós compreende - e isto se dá de um modo
engraçado - “Ó, estou pensando...” e desejamos que isto se vá, como símbolo de “Não a minha,
mas a Vossa Vontade seja feita, Ó Senhor.”

Vejo a oração operando completamente sob o emblema da Kenose. Quando praticada desse modo,
as perguntas se dissolvem: “Isto é Cristão?”, Pode apostar que é Cristã! É segura e pode ser
praticada até por iniciantes. Quem disse que é necessário ser “avançado”, para entregar nosso
coração a Deus?

Sempre digo às pessoas que esta oração é uma situação de ganhar ou ganhar, porque quando nos
sentamos para meditar e a mente se aquieta imediatamente, ótimo. Já tivemos essa experiência,
seguramente. Se nos sentamos e nossa mente se assemelha a uma dessas máquinas de fazer
pipoca, “pop, pop, pop, pop” - um pensamento após o outro - e ainda estamos fazendo o melhor
que podemos para deixar os pensamentos irem, então estaremos praticando a Oração Centrante.
Se nos sentamos e estamos com uma terrível dor de cabeça e quase não podemos nos concentrar
em nada, e pensamos, “Meu Senhor amado, hoje estou um farrapo diante de Vós”, e ainda assim
tentamos deixar esse pensamento passar, então estamos praticando a Oração Centrante. É uma
situação de ganhar sempre. Quando a luta com os pensamentos ocorre de maneira acidentada,
então se obtém um bom exercício aeróbico para os 'músculos da entrega'.

O gesto de ‘deixar ir’. Há umas duas vantagens nessa abordagem. Uma é prática e a outra é
teológica. A prática é que há cem por cento de chances de se levar a prática dessa meditação para
nossa vida diária. Tento mostrar às pessoas que esse gesto de ‘deixar ir’, praticado por algum
tempo na Oração Centrante, é apenas isto - um gesto interior. Não é uma atitude. Quando se deixa
que um pensamento se vá, algo realmente acontece dentro da estrutura física de nosso corpo; algo
vai sendo liberado. Com o tempo e perseverança na prática, começamos a perceber gradualmente
que podemos enfrentar as situações da vida com o mesmo gesto interior com o qual praticamos a
Oração Centrante. Antes de ficarmos irados e reagir, ou ficarmos magoados ou feridos, podemos
apenas ‘deixar ir’.

Algumas vezes a “palavra sagrada” pode simplesmente surgir e nos ajudar. Como parte do
método, a Oração Centrante ensina as pessoas a usar o que chamamos de “palavra sagrada” ou
“palavra de oração”, como meio de nos ajudar a deixar que os pensamentos passem. Pode ser uma
palavra como “Abba”, “Jesus”, “Luz”, etc... (Uma pequena palavra de uma sílaba ou duas, no
máximo). Ou uma palavra que seja próxima de uma atitude que gostaríamos de trazer para nossa
oração, como “Paz”, “desapego”, “aqui”, etc... Trabalhamos com essa palavra. Não é um mantra
como no sentido clássico do termo, porque não a repetimos seguidamente, como ponto focal de
nossa atenção. Ela apenas é usada quando algo em nós se torna consciente de que estamos
pensando, para nos ajudar a deixarmos esse pensamento passar e a realmente nos lembrar o que
pretendemos, estando assentados aqui.

O que começa a acontecer é que a ‘palavra’ aparece borbulhando em você, também no meio dos
seus afazeres diários. Lembro-me de uma vez em que eu me apressava para pegar um vôo. Estava
atrasada, no meio de um congestionamento. Pude compreender que não haveria meio de eu pegar
aquele avião. Eu estava ficando mais e mais irritada. De repente, não sei de onde, surge esta
palavra: “coração”. Minha palavra sagrada: “coração”. Era, “ok, deixe que passe. Meu
aborrecimento não vai fazer com que o tráfego se mova mais rapidamente. Tudo o que vai fazer
é tirar-me para fora da lembrança de Deus.”
Modelar o gesto e a palavra ajuda-nos a fazer esta fiel conexão entre o que fazemos no tempo da
oração e o que fazemos no tempo da vida. Penso que esse é o aspecto prático. Não acontece
automaticamente, mas ele fornece uma base sólida para ajudar as pessoas a compreenderem que
a atitude de “auto-entrega” é na verdade, oração na ação.

A teologia do ‘deixar ir’ e ‘deixar ser’. Teologicamente, considerar a Oração Centrante


essencialmente como a prática da kenose em forma de meditação, também nos liga a uma das
mais profundas ajudas energéticas - e eu diria ainda, profundamente Cristã e Judaico-Cristã - que
existem. Se olharmos de certa maneira, nossa compreensão Cristã é baseada nessa idéia do “deixe
ser, deixe ir”.
Penso que “deixe ser”, e “deixe ir”, são de maneira profunda, sinônimos. Sabemos que foi aquele
“deixe ser”, que Jesus foi capaz de dizer no Jardim do Getsemani, que tornou possível a
manifestação da redenção da humanidade. Sabemos - voltando um pouco na história - que foi o
“deixe ser” de Maria que tornou possível a manifestação na carne, de nosso Salvador e Redentor.
Retrocedendo ainda mais, foi o “deixe ser” de Deus que trouxe à existência essa linda Criação.

Eu diria que nossa tradição, Judaico-Cristã, e particularmente, nossa herança Cristã, está
profundamente baseada nesse “Deixe ser, deixe ir, deixe ser”. Isto é lugar e o modo onde a
criatividade do amor pode vir à tona. Isto é o segredo, esta é a maneira pela qual a luz se faz:
“deixe ser”.
Penso que é onde devemos trazer as pessoas para meditar, na tradição cristã - deixemos que
comecem praticando sobre a bandeira da ‘kenose’, compreendendo que o que estão fazendo ao
meditar na Oração Centante é aprender o gesto sagrado, aquela atitude sagrada do “Deixe ser,
deixe ir, deixe que Deus permaneça”. Então vamos poder levar este mesmo gesto para a vida e
praticá-lo na vida, e iremos permitir que o mesmo gesto nos conduza à Presença. A grande dança
da criatividade divina inicia seu bailado dentro de nós, quando podemos relaxar nessa atitude de
‘deixar ir’, deixar que tudo passe.
Porque meditação? Pratico a Oração Centrante porque ela foi a primeira prática que realmente
quebrou a minha ‘casca’ e me permitiu iniciar a imitação de Cristo a partir de dentro, e não mais
de fora. Se ela pertence ou não, à história real de nossa tradição meditativa Cristã - e eu acho que
não - penso que ela é tão profundamente teológica e são tão verdadeiros os seus frutos, que ela
pode ser recebida com alegria dentro do conjunto das práticas transformacionais mais
genuinamente cristãs.

Quando as pessoas me perguntam, “Por que você medita?” Não respondo que é “Bem, porque ela
controla minha pressão alta”, ou “Porque ela me deixa mais calma e tranquila.” Nem mesmo digo
que é porque o silêncio é mais agradável a Deus, porque eu realmente não penso que isso seja
verdade. O que a meditação faz é que ela muda a nossa maneira de pensar. Geralmente, dentro do
Cristianismo, quando se fala em mudar nossa mente ou revestirmo-nos uma nova mentalidade,
falamos na verdade de mudar o conteúdo daquilo que pensamos. Então, passamos de pensamentos
retorcidos, egoístas, para pensamentos bons e piedosos. Mas o que quero dizer é que a meditação
muda nossa maneira de pensar - o filtro real, as lentes pelas quais percebemos a realidade. Ela
muda no sentido de ficarmos mais capazes de viver o extraordinário paradoxo, o paradoxo
salvador da vida Cristã. Para mim, meditação é basicamente o pensamento místico cristão
fundacional.

Expectativas na Meditação. Há uma tendência inerente em nós de ir para a meditação com


expectativas. E geralmente pensamos que sabemos o que é uma boa meditação e o que é uma
meditação ruim. E admitamos isso ou não, dizemos que um bom período meditativo seja aquele
em que possamos atingir uma prolongada e profunda quietude. Isso realmente coloca a ênfase no
resultado, e então sentimos toda aquela ansiedade da performance ao redor, e desejamos então
organizar tudo para que tenhamos uma melhor meditação (por exemplo, mais calma, mais quieta).
Algumas das melhores meditações são aquelas em que nos sentamos, ainda que contorcendo-nos
em nossa própria pele e praticamos o ‘deixar ir, deixar ir, deixar ir’. Algumas vezes,
deliberadamente, vou para a meditação quando sei que estou absolutamente péssima! Quando
mudamos a atitude, de modo que não seja uma oração na qual estamos buscando algo, mas uma
oração onde nós nos ofertamos, pelo fato de simplesmente estarmos presentes e de deixar que os
pensamentos passem, então qualquer tipo de controle do ambiente externo ao redor, se torna
menos importante. Quero evitar que a meditação se torne mais um ato de piedade ou uma outra
idolatria. Ela é apenas um processo através do qual encontramos a Deus, não um lugar no qual O
encontramos.

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