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Conselho editorial: Marcelo Bizar, Marco Trindade, Sônia Elã, Kátia Botelho
Secretária-geral: Sônia Elã
Revisão: a revisão dos textos é feita pelo próprio autor, não sofrendo alteração pela
revista (a não ser tão-somente quanto à correção de erros materiais).
Há um menino...
Viva a Democracia!
Viva a Liberdade!
SUMÁRIO
02 - Expediente
03 - Editorial
04 - Sumário
05 - Subúrbio é afeto
06- Cinemateca suburbana
07 - A melhor maneira de entender Política é lavando louça
08 - A voz do contracenso
10 - Se liga no afeto
12 - 27 de setembro
13 - Subúrbio é afeto
14 - Um lugar no subúrbio
15 - Biblioteca e Discoteca Suburbana
16 - Lila
18 - Citações e comentários
21 - Por uma Matemática Suburbana
23 - Foi um samba que passou em minha vida
24 - Desculpe-me a redundância
27 - Os poetas choram
28 - Ser criança
29 - Jovem em surto no Itanhangá
31 - Felicidade
32 - Jorge de Sena e o subúrbio portuense
35 - Dez anos sem Luiz Carlos da Vila (1ª parte)
39 - Zé Ketti da Portela e do Carnaval
42 - Um pouco sobre o Dogma Feijoada
45 - Temposição das Almas Íncubas - Segundo Pentakapitel - I. Sonidos
48 - Comida de Pé-sujo
49 - Blog do Tiziu
S u b u r b i o é a fe t o
Rodolfo Caruso
• C i n e ma te c a s u b u r b a n a
A melhor maneira de entender Política é lavando a louça
Feliz é aquele que lava a louça porque teve comida. Minha mãe dizia. Eu não
me importo de lavar, mas ter o que comer, aí eu já não sei. Feijão com farinha e
água. É comida, presidente? Deve ser. Tem lugar no mundo que nem isso. Mas não
é a comida que eu queria tá comendo não. Aqui acabou o arroz ontem. E eu bem
que queria um peixe. Se a Política fosse diferente, eu bem que podia ter comido um
peixe hoje. Precisava nem ser salmão, tava bom sardinha.
Hum, peixinho agora, hein presidente? Caía bem.
Se a Política fosse diferente. Se a política priorizasse o mais necessitado.
Vocês ficam brigando de terno e gravata. Discutindo. Complicando. Carece disso
não. É fácil entender, presidente. Aqui, lavando a louça, eu consigo explicar
direitinho.
Tá vendo a esponja? Eu passo o sabão nela. Aí ela vira a Política. Porque ela
pode mudar as coisas. Limpando as coisas. A Política que eu aprendi no meu tempo
na escola tem que mudar as coisas.
Aí vamo pra prática. Eu começo usar a esponja no copo. Sabe por que eu
começo o trabalho pelo copo, presidente? Porque o copo é o mais frágil. Se eu lavar
a panela primeiro, eu sujo o copo. O copo fica engordurado. O copo morre. Então a
ordem é essa, presidente: primeiro o copo, que é o mais frágil. Depois o garfo, a
colher, a faca, que já aguentam mais o tranco. E só no fim a panela que eu
esquentei meu feijão. Que a panela é a parte mais forte. Se cai nem quebra.
Eu sei o que você vai dizer: mas é a panela que faz a comida, dona. Que nem
essa história de que é o patrão que dá o emprego. Deixa eu te dizer, presidente,
sem comida a panela vira o quê? Hein? O que que é a panela sem arroz, a panela
de pressão sem feijão, a frigideira sem bife pra passar nela?
É que nem patrão sem trabalhador, é que nem político sem eleitor.
E mesmo nessa tua lógica aí. O copo é mais importante que a panela. Na
panela vai comida, no copo o quê? Hã? Água, presidente. Num sei você, presidente,
mas já passei sede e fome. E a sede é pior. Aí o copo, o mais fraco, se torna o mais
importante, o mais... como é que diz mesmo presidente... fundamental. É, o senhor
sabe as palavras, só não aplica.
É, eu sei. Tem esse problema aí. Os políticos não lavam louça.
Não lavam, mas comem. E não é feijão com farinha não que nem eu.
É salmão.
Falando em salmão, peixinho agora, hein presidente? Caía bem.
J o n a ta n M a g e l l a
A v o z d o c o n tr a s e n s o
Silvio Silva
S e l i g a n o a fe t o ! *
* O texto foi concebido e redigido de forma a aproximá-lo do falar popular dos 'MCs'
e "Rappers" da periferia paulistana. Pra ouvir o hip-hop:
link: https://soundcloud.com/marcelo-bizar/se-liga-no-afeto
Marcelo Bizar
27 de setembro
Marco Trindade
* (Este poema é parte do novo livro do autor, que será lançado em breve)
S u b ú r b i o é a fe t o
• Di s c o t e c a S u b u r b a n a
Do r i n a G u i m a r ã e s
C i ta ç õ e s e c o me n tá r i o s
O que mais gostei quando fui convidado para escrever na Revista Sarau
Subúrbio foi que me disseram "Não, na revista você pode escrever crônica, poema,
conto. Não tem importância."
Gostei muito disso. O texto não precisa ter uma forma de antemão.
E veio a condição: "Bem, só precisa ser do subúrbio."
Não me lembro quem falou isso: o Marcelo ou o Marco?
Mas não me importo com isso agora. Fiquei foi é muito feliz de ter o subúrbio
carioca (ou qualquer subúrbio ou periferia brasileiros) como Universo. E explico-me.
Acho que já falei isso em alguma coluna anterior. Repito para convencer o
leitor. Eu já tenho essa minha tese como certeza.
As periferias, os subúrbios periféricos, subúrbios operários, os subúrbios do
mundo todo na verdade, tem uma riqueza sem igual.
Participar de uma sociedade é se movimentar nela e o suburbano caminha em toda
a cidade. O mesmo não ocorre com aqueles que vivem nas suas zonas de exclusão.
Uma conversa com um suburbano típico:
- Jonas, eu moro em Ramos, trabalho no Leblon de jardineiro num condomínio
e estudo à noite num cursinho de cuidador de idosos no Centro da cidade. Ali
pertinho da Uruguaiana."
E eu não pude deixar de perguntar pro amigo Luizinho, num bar de Marechal
Hermes:
- E a diversão de final de semana, parceiro! Onde rola a gelada tranquila?
- Amigo, onde o dinheiro deixar!
E rimos muito no entendimento mútuo do significado daquelas palavras. O
suburbano é antes de tudo um adaptado!
J o n a s H é b ri o
Por uma Matemática Suburbana
H e r a l d C o s ta
• Foi um samba que passou em minha vida
Onesio Meirelles
link: https://soundcloud.com/sarau-suburbio/depoimento-de-onesio-meirelles
Desculpe-me a redundância
Kaju Filho
Os p o e ta s c h o r a m . . .
Márcia Lopes
S e r C ri a n ç a
Júnior da Prata
J o v e m e m s u r to n o I ta n h a n g á
Nunca tinha dito ainda, pro meu único leitor, que sou formado em Direito.
Estudei numa universidade pública aqui do Rio de Janeiro. Conhecida por oferecer
um curso de qualidade.
Na minha modesta opinião, Direito bem cursado é o curso feito com muita leitura,
não só das leis, mas de livros de diversas e diferentes matérias, principalmente
Filosofia e Sociologia.
Mas, vejamos.
Aqui no meu subúrbio do Itanhangá tem um pouco de tudo e muito de poucas
coisas, pois é, e justamente no meu pacao prédio veio morar um jovem com umas
tendências esquisitas.
Deixe-me explicar pois o meu único leitor pode deixar de sê-lo, fazendo um
julgamento apressado da minha pessoa.
O tal jovem era estranho no sentido e pelos fatos que passo a narrar aqui
embaixo.
Foi numa madrugada de domingo pra segunda.
Todos nós do prédio fomos acordados por gritos de "Eu disse que estávamos
sendo vigiados... não existe governo brasileiro... o comando vem de outras
regiões... mas acabam errando seus alvos... eu estou sendo perseguido e posso ser
assassinado agora..."
Todos no prédio se assustaram bastante, óbvio.
Eu fiquei calmo pois não tenho como agir diferente nesses casos.
Um plano de fuga é complicado para um cadeirante.
O que pude fazer foi esperar com o ouvido colado à porta de entrada do meu
apartamento.
Quando o portão de entrada bateu lá embaixo fui rapidamente (na medida do
possível) até a janela na tentativa de avistar o jovem. E o vi.
Ele brigava com o espaço ao seu redor com murros no vento que passava.
Esbravejava e gritava que estávamos todos sendo perseguidos pelo governo.
Depois de um tempo, sentou-se num dos bancos da praça com a cabeça entre
as mãos e os cotovelos entre suas coxas. E ficou ali parado. Talvez pensasse num
modo de sair do próprio desespero.
Eu o observei durante algumas horas, sim foram horas, com pequenos
intervalos para fazer um chá-preto com torradas de pão dormido e voltar à janela.
Ele acabou por dormir num banco ao relento.
Mas é só aqui que começa a história do porquê falei em Filosofia e Sociologia
lá no início do texto.
Passei a confabular o que teria acontecido ao jovem. O que era de se notar
era o medo extremado em sua fala.
" - O medo é uma das formas de dominação!", dizia meu professor de
Sociologia Jurídica nos bons idos da faculdade.
Ainda não andava pra lá e pra cá com minha querida cadeira nessa época.
Na aula o que ele queria nos explicar era de como o Direito tentava "dominar
nossos impulsos mais animalescos", isso dito em suas palavras.
O professor Osvaldo era uma figura, como dizem por aí atualmente.
Um camarada extremamente polido e formal, bem diferente do que se
poderia esperar de um professor de Sociologia.
Tinha feito seu mestrado na França. O doutorado na Inglaterra. Uma formação
estranha, conflituosa, pelo menos eu pensava assim, imaginando culturas ditas
europeias, mas que sabíamos tão conflituosas.
Lembrando de suas aulas sei que a Sociologia tem um sentido de dominação
diferente do senso comum. Seria uma forma de encontrar obediência a um
comando. Bem, posso estar errado, mas é o que lembro das leituras do Max Weber.
Os que obedecem não o fazem porque são bonzinhos. Longe disso.
Uma dominação bem-feita deixa transparecer que haverá para os obedientes
muitas vantagens: “ficando quietinho terá seu docinho”, numa lembrança típica de
nossas infâncias.
A obediência além de vir da lei poderia vir de outras duas formas ditas puras
pelo sociólogo (tive que decorar tudo isso para uma prova de primeiro período).
As outras duas formas de obediência pura se dariam pelo costume e pelo
afeto.
O sociólogo Max Weber explicava que os que nos dominam tradicionalmente,
trazendo-nos o costume de obedecer, por exemplo, podem ser personificados na
figura de nossos pais e há ainda os dominados pelo afeto, que seriam os dominados
simplesmente por uma mera inclinação pessoal.
E terminava a matéria sobre “A dominação em Sociedade” com uma analogia
interessante:
- Observem alunos que os que lutam por manter a Tradição, Família e
Propriedade, os que defendem este slogan, estão defendendo a continuidade da
dominação social por meio tradicional, carismático e legal, com palavras sinônimas
às analisadas pelo Weber!"
Não falei nada da Filosofia né mesmo. Ela fica pra outra oportunidade.
E quanto ao jovem luco, o Malaquias, ele teve foi um surto causado pelo
consumo de drogas.
O desfecho de seu surto é interessante e um pouco inesperado, mas fica pra
um mês futuro.
Antero Catan
Felicidade
Conheço o sal
Rendimento
Leonardo Bruno
Dez anos sem Luiz Carlos da Vila (1ª parte)
Leviana:
O Azar é seu
Em vir me procurar
Me abandona, me deixa
Eu não quero mais ver a luz do seu olhar
Você manchou
Um lar que era feliz,
E agora quer voltar,
Leviana, sinto muito, mas vá tratar da sua vida,
Leviana, precisando lhe posso,
Dar uma guarida, mas o meu lar,
Senti vergonha como eu,
O nosso amor morreu.
Em 1954, deu uma passada na União de Vaz Lobo e compôs o seu mais
famoso Samba de terreiro “ A Voz do Morro” e que depois fez parte da trilha sonora,
do filme Rio, Zona Norte de Nelson Pereira dos Santos, surgindo ai o Cinema Novo,
A Voz do Morro
Eu sou o samba,
A voz do Morro,
Sou eu mesmo, sim senhor,
Quero mostrar ao mundo que tenho valor,
Eu Sou o Rei dos terreiros...
No final desta década, a sede da Portela, que não tinha cobertura, entrou em
obras para ser coberta. Para isso era necessário derrubar uma Jaqueira frondosa
que servia de sombra para os componentes quando o sol castigava. A arvore, foi
derrubada para a conclusão da obra.
O compositor Zé Ketti num dos vários momentos de inspiração, compôs A
Jaqueira da Portela que Paulinho da Viola gravou e foi sucesso.
A Jaqueira da Portela
Zé Ketti brilhou no Zicartola, onde foi Diretor Artístico, e fazia muito sucesso
com as suas composições opinião, acender as velas, diz que fui por ai, e caiu nas
graças da Musa da Bossa Nova a Nara Leão, que gravou as três composições de Zé
Ketti.
Mas como ele era arrojado, também compunha músicas de carnaval para ser
cantada nos Salões de Bailes de Carnaval da Sociedade e nos Blocos de Sujo e no
ano de 1967 sua marcha rancho Máscara negras, gravada por Dalva de Oliveira e
por ele, estourou no carnaval do Rio e do Brasil, essa música é cantada até hoje e
entrou para a lista das Músicas imortais.
Máscara Negra
Tanto Riso,
Oh! Quanta alegria,
Mais de mil palhações no salão,
Arlequim está chorando pelo amor da Colombina,
No meio da multidão...
Onésio Meirelles
O Dogma Feijoada
Malkia Usiku
Temposição das Almas Íncubas - Segundo Pentakapitel
I. Sonidos
link: https://soundcloud.com/user-860593343/vovo-mandou-acordar
Pazuzu Silva
Só uma coisa a dizer... meu negócio é beber.
Chego num bar só quero beber mesmo, biritar e "pesquisar a onda"... por aí!
Mas, o confrade Bizar me pediu pra "em poucas palavras..." escrever um
petisco de buteco que conheço... vai então um bem atrevido... lá das bandas de
Quintino... só não digo o nome do BM (Buteco Maneiro). Segue:
AZEITONA EMPANADA
INGREDIENTES:
300 g de azeitona sem caroço (pode ser recheada)
1 xícara de farinha de trigo
1 xícara de farinha de rosca
1 colher (sopa) de queijo ralado
2 ovos inteiros batidos
óleo para fritar
J o n a s H é b ri o
Dois passarinhos conversando enquanto navegam pelas redes passarinhais...
-Tava aqui vendo no piu-piu-zap: "Viagem para pássaros nativos brasileiros.
Destinos confirmados: USA, Europa e Ásia. Tudo de graça. Sem sustos com taxas
adicionais! Não se preocupe com com passagens e acomodações. Tudo pago pelo
passarinheiro! Embarque em breve! Para usufruir desta promoção basta entrar no
primeiro alçapão que encontrar na mata! Venha voar e conhecer o mundo com a
Feiquinius Turismo! São anos de tradição desde 1964!"
-- É mesmo!? Que legal! Tô pensando mesmo em ir para Portugal. Dizem que
lá é muito seguro e não tem os Piutralhas pra atrapalhar tudo. Mas, olha o que eu
estou vendo aqui no Penabook: "Cansado dos Piutralhas? Não tem mais condições,
não é verdade!? Os Piutralhas quase exterminaram com os pássaros da mata com
essa história de que todos os pássaros são iguais. Afundaram a economia da
Floresta Atlântica com o Alpiste Família. Eles são uma piuada de mal gosto! Vamos
exterminar ou expulsar esses Piutralhas com estilingues de última geração!"
- Caramba! Que bom! Finalmente esses pássaros vermelhos vão embora
daqui. Devem ir pras matas de Cuba ou Venezuela, né não!? Quem disse que vai
acabar de vez com os Piutralhas?
-- Foi um águia que vive no lado bem à direita da mata.
- Amigo, as águias não costumam caçar e comer os da nossa espécie?
Principalmente as que vivem na parte bem à direita da mata?
-- Sim, é verdade! Mas essa águia dizem que é diferente. É doidinha. Pia um
monte de canto que ninguém entende nada na maior parte das vezes.
- Além de ser uma águia é "doidinha"? Amigo, isso não é furada na certa,
não!?
-- Né não! Foi essa águia que disse que vai acabar com os Piutralhas! Tá aqui
no Penasgram e também no Piuitter! Geral piando que é uma águia maneira! E que
vai até trazer mais segurança para os passarinhos!
- É mesmo! Que bom, né! A mata anda muito perigosa com todos esses
animais à solta! Outro dia quase fui levado por um humano!
-- Não! Verdade?
- Sim, verdade! Precisamos mesmo de mais segurança! Eu quero essa águia
pra ser nossa líder na mata. Mas, me explica uma coisa: essa águia ficou só na
promessa ou disse o que vai fazer pra termos mais segurança?
-- Tá de brincadeira, não! A águia disse! É algo moderno demais, poucos
ouviram falar disso aqui na nossa mata dentro da reserva.
- Diz logo o que é, amigo!
-- Gaiola! Gaiola é o novo conceito de segurança! Já ouviu falar?
- Não, nunca tinha ouvido falar.
-- Tô dizendo que a águia é maneira! A tal da gaiola te dá segurança através
de cercamentos. Cercamentos são grades e tampas que nos separam dos perigos
externos da mata. E olha só a regalia... essa águia é demais!... ainda temos dentro
desta tal de gaiola água, comida, casinha, poleiro pra fazermos exercícios, passeios
quase que diários, tudo dentro da tal gaiola!
- Nossa essa águia vai nos salvar dos Piutralhas e ainda teremos segurança!
Que demais!
-- Nem vou mais pra Portugal!
^ ---§--- ^
Tiziu