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Os Sábios
do Talmud

Raban Iochanan
ben Zacai
O Raban Iochanan ben Zacai
e seus 5 discípulos

Mishná 1:9 a 1:14 do Pirkê Avót


A Ética do Sinai, Irving M. Bunim
Editora Sêfer
RABAN IOCHANAN BEN ZACAI
O Raban Iochanan ben Zacai foi um dos mais impor-
tantes tanaítas (sábios talmúdicos da Mishná) na última dé-
cada do Segundo Templo. Sem dúvida alguma, sua realiza-
ção mais importante foi obter a autorização de Roma para
fundar uma academia e um novo San’hedrin em Iavne, de-
pois que Jerusalém e o Templo foram destruídos. Foi assim
que salvaguardou a preservação e continuidade do judaísmo
nestas épocas turbulentas.
Foi o discípulo mais jovem de Hilel; não obstante, seu
mestre o chamava, profeticamente, de: “pai da sabedoria e
das futuras gerações”19, e ele realizou inteiramente esta pre-
dição. Como Hilel, Iochanan viveu, segundo se diz, 120
anos (o mesmo tempo que Moisés), dos quais dedicou qua-
renta anos ao comércio, quarenta ao estudo da Torá, e os úl-
timos quarenta anos ao ensinamento e liderança religiosa.20
Com infinita energia, assimilou totalmente os temas dos
estudos judaicos.21 Diz-se que “jamais em sua vida manteve
uma conversa mundana ou inútil, nem caminhou mais de
quatro cúbitos sem estudar Torá e usar tefilin (filactérios);
ninguém chegava antes dele ao Bêt Midrash (Casa de Estu-
do); nem ele dormiu ali, sequer por um breve momento,
nem saía de lá antes de qualquer outro. Ninguém além dele
abriu a porta para seus discípulos... e ele nunca dizia que
estava na hora de deixar o Bêt Midrash, exceto na véspera de
Pêssach e Iom Kipúr.22
Certa vez, ele disse: “Se todos os céus fossem folhas de
pergaminho, todas as árvores - penas, e todos os oceanos
- tinta, não bastariam para escrever toda a sabedoria que
aprendi com meus mestres. E eu só fui partícipe de sua sa-
bedoria na medida em que uma mosca pode tomar água do
oceano, mergulhando nele.”23 Em seu leito de morte, aben-
çoou seus discípulos: “Que lhes seja concedido temer ao
Céu como temeis aos homens... Pois, como sabeis, quando
um homem comete um pecado, diz: Espero que nenhuma
pessoa tenha me visto.”24
Quando faleceu, foi dito, como elogio, que junto com
ele havia morrido a glória da sabedoria.25

Notas

19. T. B. Guitín 56b, Avot deRabi Natan 4.


20, T. J. Nedarím 5, 7.
21. T. B. Rosh Hashaná 31b; Midrash Sifrê, Deuteronômio 357.
22. T. B. Bavá Batrá 134a; Sucá 28a, Soferim 16, 8.
23. T. B. Sucá 28a.
24. T. B. Berachot 28b.
25. Mishná Sotá 9,15 (T. B. 49b).
O Raban Iochanan ben Zacai recebeu
(a tradição oral) de Hilel e Shamai.

Ele dizia: Se tiveres estudado muito a Torá,


não te louves a ti mesmo, pois para isto
foste criado.
Nosso tratado começou listando a linha contínua de mestres
e discípulos que seguiram os Homens da Grande Assembleia, junto
com seus maiores ensinamentos e pronunciamentos. Depois de Hi-
lel, no entanto, a Mishná continuou com a dinastia dele, a linha de
tanaím que descendia diretamente dele; depois seguiu-se um grupo
de ensinamentos significativos de Hilel. Agora, a Mishná retoma sua
listagem ordeira de mestres e discípulos.
Foi o Raban Iochanan ben Zacai quem, literalmente, salva-
guardou e garantiu o futuro da Torá. O Talmud conta a história
bastante conhecida de sua decisão, quando Jerusalém estava sitiada,
de ir até o comandante do exército romano inimigo, Vespasiano,
pois sabia que Jerusalém acabaria caindo, e estava determinado a
salvar o que pudesse. Fingindo-se de morto, fez com que seus alunos
o conduzissem num esquife até fora das muralhas da cidade. Uma
vez diante de Vespasiano, disse-lhe: “A paz esteja contigo, ó Rei!” E
logo depois veio um mensageiro trazer a notícia de que o impera-
dor de Roma estava morto e o Senado escolhera Vespasiano como
seu novo governante; deveria voltar de imediato. O Raban Iochanan
ben Zacai havia profetizado com fantástica exatidão. Extremamente
emocionado, Vespasiano concordou em conceder ao Raban Iocha-
nan ben Zacai qualquer favor que este desejasse. E o sábio respon-
deu: “Conceda-me a cidade de Iavne e seus eruditos”104a para que
a Torá continue após Jerusalém e o Templo estarem em ruínas. Ele
percebeu que, com a perda de Jerusalém, o judaísmo ia ficar na de-
pendência exclusiva da Torá e seus estudiosos. A Torá tornou-se, de
fato, o Templo portátil de Israel. Ela sozinha poderia assegurar a
sobrevivência do povo judeu.
Tendo arriscado a própria vida pela Torá, tendo dedicado sua
vida a dominar os conhecimentos nela contidos, ele está bem qua-
lificado para afirmar: Se obtivestes muita Torá,104b não te consideres
digno de aplausos especiais e elogios fora do comum. Não te banhes
nesta suposta glória. É teu dever e obrigação trabalhar pela Torá para
conseguir entendê-la. Não foi algo além da obrigação. É para isto
que fostes criado.
O Todo-Poderoso criou você com uma mente, com a capacida-
de de pensar e aprender. Foi dado a você este instrumento extrema-
mente valioso para usar no estudo da Torá. Nenhuma grande distin-
ção é devida a quem usa a ferramenta para o fim a que se destina. É
assim que deve ser.
Para usar outra analogia: os músicos tocam seus instrumentos,
o professor leciona, o médico trata o paciente, e o judeu estuda a
Torá. Cada um tem sua vocação, que constitui seu propósito na vida.
E assim deve ser.
As Escrituras nos dizem: “Porque isto não é para vós coisa vã,
pois é a vossa vida.”105 A palavra traduzida como vã é rec, que literal-
mente significa “vazio.” Isto quer dizer que a Torá não é algo de que
o judeu possa se “esvaziar” ou privar-se. Uma pessoa pode tirar sua
jaqueta ou chapéu e continuar sendo a mesma. Mas um judeu au-
têntico não pode separar-se muito da Torá, porque ela é a “sua vida.”
Existe um núcleo essencial do qual a pessoa não pode ser privada
sob pena de perder a sua identidade. A Torá é nosso fôlego, nossas
batidas cardíacas, o próprio espírito de vida do povo judeu.
Algumas pessoas não irão buscar glória nem elogios por terem
estudado a Torá, mas sentem-se orgulhosas da extensão e profundi-
dade que sua erudição atingiu. O ensinamento do Raban Iochanan
aplica-se a estes também. Antes de medir o quanto de Torá você con-
seguiu aprender, você precisa descobrir quanto é capaz de aprender.
É verdade, você estudou e conseguiu muitas coisas, mas isto talvez
não chegue à metade do seu verdadeiro potencial. Existe em nós uma
tendência a subestimar os poderes da mente. Considere a erudição e
empenho de um Gaon de Vilna, Rabi Akiva Eger ou Samson Rafael
Hirsch. Se você tiver capacidade para atingir tanto quanto eles, você
ainda irá querer as honrarias e o reconhecimento pelo que já estudou?
Talvez você esteja indo bem, mas pode fazer muito mais que isto.
Nosso texto também pode ser lido assim: “Se você estudou
muita Torá, não guarde só para si mesmo.” Quando uma mulher
tem uma receita de comida que faz um tremendo sucesso, ela cha-
ma as amigas e compartilha as boas novas com as vizinhas. Se você
aprendeu muita Torá, não guarde isto para si, mas espalhe a boa
palavra; deixe os outros se beneficiarem daquilo que você aprendeu
e entendeu.
Através de seu profeta, o Todo-Poderoso diz: “Não se glorie o
homem sábio por sua sabedoria, nem o forte por sua força, nem o
rico por suas riquezas, senão que se glorifiquem nisto: em que Me
compreendem e Me conhecem, e sabem que Eu sou o Eterno, que
opera misericórdia, justiça e retidão na terra, porque em tais coisas
Me comprazo, diz o Eterno.”106
Sabedoria, força, e riquezas não são, por si sós, motivos para
vangloriar-se; mas, se nisto insistirem, que seja por entender quando
o homem forte usa sua força pela causa da justiça; e quando o ho-
mem rico usa sua riqueza para promover a bondade e a retidão – aí
então haverá algo de que vangloriar-se. Porque estas são as coisas que
comprazem ao Céu. Tais são os propósitos pelos quais o Todo-Pode-
roso nos brindou estas bênçãos. “Pois para isto foste criado.”

Notas

104a. T. B. Guitín 56 a-b.


104b. Isto segue uma leitura alternativa de nossa Mishná: vcrv vru, ,hag ot
105. Deuteronômio 32:47.
106. Jeremias 9:22-23.
Cinco discípulos tinha o Raban Iochanan ben Zacai.
Foram eles: o Rabi Eliezer ben Horkenos, o Rabi Iehoshua
ben Chananiá, o Rabi Iossé, o sacerdote, o Rabi Shimon
ben Netanel e o Rabi Elazar ben Arach.
Ele costumava apontar suas qualidades.
O Rabi Eliezer ben Horkenos:
uma cisterna rebocada que não perde uma só gota;
o Rabi Iehoshua ben Chananiá:
bem-aventurada a mãe que o gerou;
o Rabi Iossé, o sacerdote: homem piedoso;
o Rabi Shimon ben Netanel: temente ao pecado,
e o Rabi Elazar ben Arach:
como um manancial que se revigora.
O Raban Iochanan ben Zacai, está claro, deve ter tido cente-
nas de alunos. Estes cinco, contudo, eram verdadeiros discípulos
dele (“haiu lo”): eles refletiam plenamente a grandeza do seu mestre.
Eles absorveram seus ensinamentos e, no processo, enriqueceram e
ampliaram o próprio entendimento do sábio. Como diz o Talmud:
“aprendi muito de meus mestres, e mais de meus colegas, mas mais
do que tudo, de meus alunos.”107
Como ele os conhecia como alunos e era assim que falava a
respeito deles, o Raban Iochanan não os designa por seus respectivos
títulos rabínicos.

O Rabi Eliezer ben Horkenos: uma cisterna rebocada que


não perde uma só gota.
Este sábio tem uma memória fascinante, uma tremenda ca-
pacidade de reter tudo que aprendeu. Nada em sua mente caía no
esquecimento.
Existe outro pensamento subentendido aqui. Muitos tanques
são impermeáveis, mas depois de algum tempo a água que contêm
perde seu gosto. Uma cisterna, contudo, é um poço que conserva a
doçura natural da água. Rabi Eliezer não só recordava os ensinamen-
tos de seu mestre, mas também conservava seu sabor e conotações,
seu gosto e frescor.

O Rabi Iehoshua ben Chananiá: bem-aventurada a (mãe)


que o gerou.
Quando este sábio ainda estava no ventre materno, em gesta-
ção, a boa mulher ia visitar todos os batê midrash (“casas de estudo”)
de sua cidade para solicitar aos sábios: “Suplico que oreis para que
meu filho por nascer cresça sábio”, e depois que o bebê nasceu, ela
costumava levá-lo em seu berço ao bêt midrash para que, desde os
seus primeiros dias, seus ouvidos fossem atraídos pelo doce canto do
estudo da Torá.108 Quando uma mãe prepara deste modo o seu filho
para amar a Torá e se esforça tanto por envolvê-lo com a herança
imortal de seu povo, então, quando a criança torna-se um sábio de
renome, pode-se dizer: bem-aventurada a (mãe) que o gerou.
Nunca é cedo demais para iniciar o processo de educação judai-
ca. Uma mãe certa vez perguntou a um médico quando ela deveria
começar a preparar o desenvolvimento de seu filho. O médico per-
guntou: “Qual a idade dele?” A mulher respondeu que estava para dar
à luz. O médico respondeu: “A senhora já está nove meses atrasada.”

O Rabi Iossé, o sacerdote: homem piedoso.


É difícil determinar o que exatamente quer dizer chassíd, pie-
doso, neste caso. Depende do tipo de pessoas que o Rabi Iochanan
e os sábios de seu tempo eram. Uma época de pessoas iluminadas
como estas, devia ser, sem dúvida, uma época de devoção. Se o Rabi
Iochanan ben Zacai o designava como “piedoso”, numa época de
devoção, isto só pode significar que o Rabi Iossé chegou aos mais
altos níveis de religiosidade interior e benevolência para com o Céu
e o homem.

O Rabi Shimon ben Netanel: temente ao pecado.


Isto sugere uma grande aversão ao pecado, ao ponto de o Rabi
Shimon evitar todo tipo de pensamentos e feitos que poderiam con-
duzir a ele. Rabi Shimon mantinha-se afastado do pecado observan-
do o princípio: “Montai uma cerca em torno da Torá.”109
O Rabi Elazar ben Arach: como um manancial que se revigora.
Um rio é um acúmulo de águas que se despejam nele a partir
de fontes externas. Um manancial, por outro lado, parece fluir a par-
tir de sua própria fonte secreta. No interior do próprio Rabi Elazar
havia uma fonte de sabedoria nascente, e de notável introspecção.
E, diferentemente dos mananciais, que às vezes secam ou diminuem
sua força, a sabedoria deste sábio “sempre fluiu com vigor renova-
do.” À medida que envelhecia, mais bela e prolificamente florescia
sua sabedoria.
Ele dizia:
Se todos os sábios de Israel estivessem num dos pratos de
uma balança e Eliezer ben Horkenos no outro, este pe-
saria mais do que todos.

Aba Shaul dizia em seu nome:


Se todos os sábios de Israel estivessem num dos pratos de
uma balança bem como Eliezer ben Horkenos com eles,
e Elazar ben Arach no outro, este pesaria mais do que
todos.
Nesta Mishná, temos duas versões de uma declaração do Rabi
Iochanan ben Zacai: uma que, em geral, é aceita como dele e outra
que Aba Shaul citou em seu nome. Na primeira versão, o mestre
considera o Rabi Eliezer ben Horkenos, a “cisterna revestida” que
não esquecia nada, como o mais notável de seus principais discí-
pulos – mais importante que todos os outros somados. Na segunda
versão, ele considera o Rabi Elazar ben Arach, o “manancial que se
renova”, digno de tal distinção.
Existe um tipo de estudioso cujo principal atributo é o da me-
mória. Ele é o fiel transmissor da tradição, de tudo o que apren-
deu. Ele lembra com precisão e exatidão todas as leis e tradições que
aprende, e transmite tudo fielmente; nem mais nem menos. A tra-
dição rabínica o denomina sinai, porque a Torá inteira é transmitida
através dele, e a tradição o chama ainda de baki, o especialista com
conhecimento enciclopédico e nítido, totalmente versado e familia-
rizado com a Torá. Eliezer ben Horkenos era assim.
Existe, depois, o estudioso com uma mente perspicaz e analíti-
ca e percepção aguda, que pode rapidamente perceber diferenças, se-
melhanças e consequências lógicas. Partindo de material conhecido
e familiar, ele consegue encontrar e deduzir do mesmo novas eluci-
dações e conclusões, simplesmente aplicando seu intelecto brilhante
e criativo. A tradição rabínica chama-o de oker harim, “o demolidor
de montanhas”, descrição metafórica de sua habilidade mental; ou
charif, o agudo e engenhoso. Estes termos sem dúvida aplicam-se ao
Rabi Elazar ben Arach.
No Talmud, surge a questão: qual destes tipos é o maior? 110 E
ele situa o sinai enciclopédico como o mais elevado dos dois, por-
que ele é fundamental para preservar a Torá Oral e os ensinamentos
autorizados em meio ao povo. Entretanto, o Talmud reconhece que
ambos são realmente muito necessários.
Em certos períodos de nossa história, durante épocas turbu-
lentas em que há o perigo de que a Torá seja esquecida, o homem
de memória infalível é da maior importância para transmitir a Torá
por inteiro e com exatidão. Em outras épocas, em que a Torá oral
e escrita são, em geral, bem conhecidas, o intelecto criativo e agu-
çado pode contribuir muito mais do que o seu colega de memória
fabulosa, pois ele estimula o desenvolvimento da Torá, aplicando-a
brilhantemente a novos problemas e novas áreas do pensamento e
atividade humanos.
Houve, de fato, muitos tipos entre os sábios, e cada um tinha
seu valor e importância. O Talmud conta que, certa vez, dois ta-
naím, o Rabi Chanina e o Rabi Chíia, envolveram-se num debate
acalorado. O Rabi Chanina disse: “Você quer discutir comigo? Se,
que o Céu não o permita, a Torá fosse perdida da memória do povo
de Israel, eu a recuperaria através de meus sutis poderes de raciocínio
e análise.”
A isto, o Rabi Chíia retrucou: “Eu poderia assegurar que a Torá
não fosse esquecida no seio do povo de Israel. De que modo? Plan-
taria sementes de linho e (do linho crescido faria um fio; com ele)
teceria redes, e as usaria para capturar veados. A carne seria dada aos
órfãos como alimento, enquanto de suas peles faria rolos de perga-
minho. Neles, escreveria os Cinco Livros de Moisés e em seguida iria
a uma cidade que não tivesse professores para as crianças; ensinaria
cinco meninos a lê-los; (um livro cada um; de forma similar) ensi-
naria as seis seções (ordens) da Mishná a seis meninos (um para cada
um), e em seguida lhes diria: “Até que eu volte aqui, estudem e ensi-
nem tudo uns aos outros”; diria a cada um: “Ensine a sua parte a um
amigo.” Seria isto que eu faria para que a Torá não fosse esquecida
pelo povo de Israel.” E esta é a razão pela qual o Rabi Iehudá Hanassí
disse: “Quão grandes são os atos de Chíia.”111
O Raban Iochanan ben Zacai lhes disse: Observai qual
o bom caminho a que se deve apegar o homem. O Rabi
Eliezer diz: um bom olho; o Rabi Iehoshua diz: um bom
companheiro; o Rabi Iossé diz: um bom vizinho; o Rabi
Shimon diz: aquele que prevê o que vai acontecer;111a o
Rabi Elazar diz: um bom coração. Disse-lhes (o mestre):
Prefiro as palavras de Elazar ben Arach às vossas, pois
nelas já estão contidas todas as vossas.

Ele lhes disse: Observai qual o mau caminho do qual o


homem se deve afastar. O Rabi Eliezer diz: um mau olho;
o Rabi Iehoshua diz: um mau companheiro; o Rabi Iossé
diz: um mau vizinho; o Rabi Shimon diz: aquele que
toma emprestado e não paga, tanto faz se toma empresta-
do do homem como de Deus, pois foi dito, “O ímpio toma
o empréstimo e não paga; o justo é compassivo e dá111b; o
Rabi Elazar diz: um mau coração.
Disse-lhes (o mestre): Prefiro as palavras de Elazar ben
Arach às vossas, pois nelas já estão contidas todas as vossas.
O Raban Iochanan quis dizer a seus discípulos: “Agora que
vocês absorveram tanto ensinamento dos livros e são homens de
conhecimento e compreensão, observem.” Saiam para o mundo de
assuntos e experiências práticas, observem o que acontece e tentem
descobrir qual é a melhor estrada para o homem percorrer, a maior
qualidade a cultivar. Desçam da torre de marfim do bêt midrash e
apliquem seu conhecimento ao mundo real do dia-a-dia.
Em um versículo dos Tehilim, o salmista diz, literalmente: “Ide
(lechú), escutai-me. Eu vos ensinarei o temor ao Eterno.”112 A pri-
meira palavra é geralmente traduzida como “Vinde”, e de fato pa-
rece que seria mais adequada. Quando você deseja ensinar alguma
coisa a alguém, geralmente acena para ele e diz: “Venha aqui”, e não
“Vá embora.” Ainda assim, a palavra hebraica é lechú (“vá”)!
Mas talvez o salmista usasse a palavra para dizer: “Enquanto
vocês são crianças e estão dentro de casa, num ambiente protegi-
do, sentados à mesa dos pais, rodeados por parentes e amigos, com
modos de pensar semelhantes, eu não tenho como saber se meus
ensinamentos e educação criaram raízes.” Muito bem, então “vão,
crianças” – saiam para o mundo inamistoso, encontrem pessoas es-
tranhas e doutrinas diferentes, e se após esta experiência, depois de
estar por conta própria, ainda “me escutarem”, então saberei que
“ensinei o temor ao Eterno.”
É o que também diz o Raban Iochanan ben Zacai: vá e decida
seus valores sob o fogo da experiência.
Em que consiste – ele pergunta aos discípulos – o bom cami-
nho a que o homem deve apegar-se?
A partir das respostas, poderia parecer que o sábio de Iavne ti-
nha em mente alguma qualidade ou característica cujo cultivo fosse
um grande mérito ou benefício, embora a falta do mesmo não fosse
necessariamente pecaminosa. É interessante notar como cada discí-
pulo, em sua resposta, reflete a influência de seu próprio tempera-
mento e caráter particulares.

O Rabi Eliezer diz: um bom olho.


“Um bom olho” denota um espírito generoso, altruísta; uma
receptividade junto com um coração aberto às pessoas, coisas e
ideias; uma aceitação de bom grado de si mesmo e da sua sina. Rabi
Eliezer era a cisterna revestida cuja memória perfeita não perdia
uma gota de conhecimento. Para desenvolver-se assim, ele tinha
de ser receptivo, desejoso de receber e reter a herança espiritual da
Torá, sem a resistência provocada pela má vontade, protesto ou ran-
cor. É preciso também um espírito nobre e gentil, capaz de trans-
mitir, voluntária e generosamente, este conhecimento aos outros e
não retê-lo visando benefícios ulteriores, egoístas. Moisés é descrito
desta forma em uma piut (oração poética) recitada no Shacharit, o
serviço religioso da manhã de Shabat: “Moisés regozijava-se com
o dom de seu destino.” Poder receber e transmitir toda a Torá era
um motivo para sentir-se feliz e contente e, portanto, generoso. E
Moisés era realmente assim.
Na Mishná seguinte (14), eles procuram descrever “o mau ca-
minho” que uma pessoa deveria evitar com veemência. Rabi Eliezer
responde: um mau olho. Isto implica na inveja, ciúmes, insatisfação
constante e um espírito avaro que abomina compartilhar algo ou
servir aos outros. Com um “mau olho”, a pessoa dirá: “O que tenho
nunca é o bastante e o outro sempre tem demais.” É contra isto que
a Torá nos alerta: “Guarda-te que não... seja o teu olho mau para
com teu irmão o mendigo e não lhe dês nada.”113 Seu olho é mau se
você subestimar o seu próprio poder de dar, ou subestimar as neces-
sidades dos outros, e decidir que não precisa ou não deve ajudá-los.
A pessoa de “olho bom” sente-se profundamente gratificada
quando ensina ou ajuda aos demais. Como está escrito no livro dos
Provérbios: “Aquele que tem o olho generoso será abençoado, por-
que dá de seu pão ao pobre.”114
Generosamente, sem restringir-se, Rabi Eliezer dedicou toda
sua erudição a transmitir nossa preciosa e sagrada herança judaica às
gerações seguintes. No Livro de Jó, lemos: “O homem nasce para o
trabalho duro (leamal)”115. A palavra leamal é formada pelas letras
iniciais das quatro palavras, lilmod al menat lelamed: “aprender com
o objetivo de ensinar.” Esta é, na realidade, a árdua tarefa para a qual
nasce o homem.

O Rabi Iehoshua diz: um bom companheiro.


Você deve não somente ser um bom amigo, mas também esco-
lher para si um bom amigo. Estamos em geral cientes da influência
decisiva que os amigos exercem sobre nossas vidas. Precisamos, en-
tão, ser bastante cuidadosos ao escolher nossas companhias. Portan-
to, o mau caminho, segundo Rabi Iehoshua, é um “mau amigo.”
O Raban Iochanan disse do Rabi Iehoshua: “Bem-aventurada
a que o gerou.” Isto sugere que todos consideravam ser uma bênção
e um prazer conhecer o Rabi Iehoshua. Podemos imaginá-lo como
um homem jovial, alegre, amistoso, que amava as pessoas e era bom
com todos, e sua afirmação reflete algo de sua própria personalidade.

O Rabi Iossé diz: um bom vizinho.


O Raban Iochanan foi descrito como um chassíd, um homem
piedoso. O chassíd sempre vai além do sentido literal da lei, freqüen-
temente abdicando de seus direitos, seguindo a regra: “O meu é teu
e o teu é teu.”116 Este é, realmente, o “bom vizinho.”
O “mau vizinho” é bem o oposto disto. Ele não quer ceder uma
polegada do espaço que lhe pertence. Não quer que você coloque o
carrinho do bebê em seu espaçoso vestíbulo. É do tipo que ergue
uma “cerca de má vontade” entre a varanda dele e a sua.
Mas neste caso, também, o ensinamento significa não ser ape-
nas um vizinho, mas escolher para si um bom vizinho. Rabi Iossé
alerta que, para continuar sendo um chassíd e viver com benevo-
lência e piedade, você deve afastar-se do “mau vizinho”, pois ele irá
ridicularizar as suas observâncias e rir do seu modo religioso de vida.
Incapaz de entender seus modos piedosos, ele irá escarnecer e tornar
a vida desagradável para você, sua esposa e filhos.
E, ademais, se você for um chassíd e seu vizinho for alguém
inescrupuloso, ele irá cinicamente tirar vantagem de você, explorar
sua boa índole e até tirar o que lhe pertence, pois, como o Chafets
Chayím observou certa vez: “Se você tiver escrúpulos e o outro o
poder, você provavelmente perderá a disputa.” O Rabi Iossé, o chas-
síd, em sua autêntica sabedoria nos incita a ser um bom vizinho e a
escolher um bom vizinho. Ninguém irá permanecer o resto da vida
sendo uma vítima rodeada de maus vizinhos; se continuar com eles,
até mesmo o chassíd acabará por adotar os seus métodos, nem que
seja por autodefesa.

O Rabi Shimon diz: aquele que prevê o que vai acontecer.


Na descrição do Raban Iochanan ben Zacai, o Rabi Shimon era
uma pessoa que temia ao pecado. Não surpreende, então, que seu
“bom caminho” seja dotipo que possa ajudar muito a evitar ações
imorais. Pois o pecado frequentemente parece tentador e convida-
tivo à primeira vista. As consequências horríveis, o remorso amargo
e a culpa agonizante podem não ser percebidas até muito tempo
depois de o pecado ter sido cometido. Se as pessoas previssem, com
uma visão nítida, as consequências de seus atos – as repercussões
sociais, os danos às pessoas próximas, a agonia espiritual ou até a
morte – provavelmente nunca cometeriam um erro.
É interessante observar que, quando o Raban Iochanan pede
os exemplos definitivos de “mau caminho”, o Rabi Shimon, diferen-
temente dos demais, não dá o oposto do seu bom atributo: “aquele
que não prevê o que vai acontecer.” Em vez disto, ele diz: “aquele
que toma emprestado e não paga.” Mas talvez uma pessoa assim seja
de fato o oposto de quem “prevê o que vai acontecer”. Ela não per-
cebe que, se não devolver o empréstimo, as pessoas irão recusar-se
a emprestar-lhe novamente, e ele perderá seu crédito e seus amigos.

Aquele que toma emprestado e não paga,


tanto faz se toma emprestado do homem como de Deus.

Em um sentido bem real, quando alguém não paga um em-


préstimo, comete um crime não apenas contra seu semelhante, mas
contra o Todo-Poderoso, pois Ele Próprio, na Sua Torá, nos ordena
que “Se, no meio de ti, houver um pobre entre teus irmãos... lhe
emprestarás o suficiente para o que lhe faltar.”117 Se o Todo-Poderoso
nos ordena emprestar aos necessitados, nada mais justo que conside-
rá-Lo, por assim dizer, como fiador e endossante deste empréstimo,
feito em obediência ao decreto da Torá. Quando o tomador do em-
préstimo não o devolve, comete um delito não só contra seu credor,
mas também contra o Eterno, seu Criador, que atua neste caso como
fiador, pois além de o credor considerar-se privado de seu legítimo
dinheiro, o Todo-Poderoso terá que, por assim dizer, reembolsar o
credor para que não dar margem à acusação de que Sua mitsvá de-
monstrou ser injusta.
Conta-se a história de um homem que foi pedir um emprésti-
mo de $1000 ao Barão de Rotschild. O Barão respondeu que pode-
ria concedê-lo, desde que o solicitante apresentasse um endossante.
O homem pensou um pouco e, finalmente, admitiu que não
conseguia pensar em ninguém que assinasse por ele. “De fato” –
concluiu o homem, triste senão amargamente – “o único que prova-
velmente confia em mim é o Todo-Poderoso.”
Rotschild lançou-lhe um olhar penetrante. “Muito bem, este
nome será adequado.” Diante do homem surpreso, ele pegou a nota
promissória e escreveu nela: “Endossada pelo Senhor do Universo.”
E o solicitante recebeu o dinheiro solicitado.
Seis meses mais tarde, o tomador do empréstimo apareceu para
devolvê-lo, mas Rotschild recusou-se a receber. Totalmente desnor-
teado, o homem pediu uma explicação, ao que o barão respondeu,
sorrindo: “O empréstimo já foi pago pelo fiador!”

O Rabi Elazar diz: um bom coração.


Isto parece denotar um amor irrestrito e espontâneo pelo bem,
em todos os lugares. Uma compreensão intuitiva daquilo que é bom
em todas as situações, e um anseio constante pelo bem. Pode parecer
que isto tenha pouca relação com a razão ou a inteligência. Como
se diz: “O coração tem razões que a própria razão desconhece.”117a
Se alguém consegue cultuar dentro de si mesmo tamanha percepção
e apreciação pelo bem, então esta pessoa tem a “chave mestra.” Este
é o “bom caminho” a seguir na vida, aquele que contém todos os
outros bons caminhos. É a “estrada real” para a realização espiritual.
O Pentateuco termina com a letra lamed118 e começa com bêt119.
Juntando as duas, forma-se lev, coração. Este é, de fato, o órgão mais
crucial de todos. Para o judaísmo, o coração simboliza o assento da
liberdade, o elemento decisivo do ser humano. Quem tem “bom co-
ração”, ganhou tudo. Quem tem “mau coração”, perdeu a fortaleza
mais íntima
Ao ordenar-nos usar tsitsit (franjas), a Torá exorta “não errareis
indo atrás de (pensamentos de) vosso coração.”120 O “coração” pode
ser treinado e educado através das mitsvót, até o ponto em que es-
colhe o bem.
“Acima de tudo que vigias, vigia teu coração, porque dele ema-
nam os mananciais da vida.”121 O coração é o governante, enviando
instruções para o corpo, para que aja. “Compreenderás o temor ao
Eterno, e encontrarás o conhecimento de Deus...” – diz o sábio Salo-
mão – “porque a sabedoria entrará em teu coração, e o conhecimen-
to será prazeroso à tua alma.”122

Notas
107. T. B. Taanit 7a, Macót 10a.
108. T. J. Iebamót 1, 6 e a versão do Comentário sobre Avot atribuído a Rashi,
ad loc.
109. Acima, capítulo 1, Mishná 1.
110. T. B. Berachot 64a, Horaiot 14a.
111. T. B. Ketubót 103b; Bavá Metsia 85b.
111a. Literalmente, alguém que vê o que irá nascer.
111b. Salmos 37:21.
112. Salmos 34:12.
113. Deuteronômio 15:9.
114. Provérbios 22:9.
115. Jó 5:7
116. Avot 5, 13.
117. Deuteronômio 15:7-8.
117a. Blaise Pascal (1623-1662), Pensées, 4, 277.
118. Deuteronômio 34:12
119. Gênesis 1:1
120. Números 15:39
121. Provérbios 4:23.
122. Provérbios 2:5,10.

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