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SÃO PAULO
2017
COTAS SOCIAIS
Trabalho de conclusão de curso
apresentado no curso de Graduação
em Direito da Faculdades Integradas
Rio Branco para obtenção de bacharel
em direito.
Orientador: Dr. Alessandro Cortona
SÃO PAULO
2017
Albuquerque, Glenda Pereira de.
Cotas Sociais / Glenda Pereira de Albuquerque. - 2017.
Trabalho de conclusão de curso apresentado no curso de
Graduação em Direito da Faculdades Integradas Rio Branco, São
Paulo, 2017.
Área de concentração: Direito, Leis e Cotas Sociais.
Orientador: Dr. Alessandro Cortona.
Agradeço à Deus por ter me dado saúde e inteligência para superar todas as
dificuldades e conseguir chegar onde hoje estou.
Agradeço aos meus pais, Carla e Raul, pelo amor, carinho, paciência e seus
ensinamentos e não medirem esforços para que eu pudesse levar meus estudos
adiante. Também à minha irmã, Lara, por ter me dado apoio, força e estar presente
como uma excelente irmã.
Ao meu namorado, pela paciência e apoio durantes estes quase três anos de
namoro e intensa convivência.
Agradeço à este meu orientador, Alessandro Cortona, pela paciência,
dedicação e ensinamentos que possibilitaram que eu realizasse este trabalho.
À esta faculdade e todo seu corpo docente, além da direção e a administração,
que realizam seu trabalho com tanto amor e dedicação, trabalhando incansavelmente
para que nós, alunos, possamos contar com um ensino de extrema qualidade.
RESUMO
O presente trabalho tem como compromisso a reflexão sobre a importância
da inclusão social das pessoas deficientes. Ao longo da história, os deficientes tiveram
grandes dificuldades para serem reconhecidos como cidadãos. Na Grécia Antiga os
recém-nascidos, frágeis ou com deficiência eram, por exemplo, jogados num abismo.
No Brasil, segundo dados do IBGE, há aproximadamente vinte e quatro milhões de
brasileiros com deficiência. A inclusão social do deficiente depende muito mais das
instituições do que do governo, pois este se mostrou até o momento ineficiente na
defesa da causa. O entendimento depende de toda a sociedade, devemos acordar
para a importância do deficiente na sociedade. Entendermos a causa dos deficientes
é fundamental na busca de uma sociedade mais igualitária e justa. A pior barreira que
o deficiente tem que enfrentar é a social, principalmente em decorrência do
preconceito. A cartilha quer demostrar que vivemos numa sociedade na qual todos
devem ser tratados de forma igual, na medida de suas desigualdades. Temos que
criar um modelo que tenha como premissa o cumprimento da legislação existente,
acompanhado de políticas públicas efetivas. O deficiente deve ser tratado como
cidadão portador de todos os direitos e garantias das demais pessoas.
Historicamente, a Ordem dos Advogados do Brasil sempre defendeu os interesses do
povo brasileiro, razão pela qual apresenta este trabalho na expectativa de contribuir
para a causa do deficiente.
ABSTRACT
The present work has as a commitment the reflection on the importance of the
social inclusion of the disabled people. Throughout history, disabled people have had
great difficulties in being recognized as citizens. In ancient Greece, newborns, fragile
or disabled, for example, were thrown into an abyss. In Brazil, according to IBGE data,
there are approximately twenty four million Brazilians with disabilities. The social
inclusion of the disabled depends much more on the institutions than on the
government, since the latter has so far proved ineffective in defending the cause.
Understanding depends on the whole of society, we must agree on the importance of
the disabled in society. Understanding the cause of the disabled is fundamental in the
search for a more egalitarian and just society. The worst barrier that the disabled has
to face is the social barrier, mainly due to prejudice. The booklet wants to demonstrate
that we live in a society in which everyone must be treated equally, in the midst of their
inequalities. We have to create a model that has the premise of compliance with
existing legislation, accompanied by effective public policies. The disabled should be
treated as a citizen with all the rights and guarantees of other people. Historically, the
Brazilian Bar Association has always defended the interests of the Brazilian people,
which is why it presents this work in the expectation of contributing to the cause of the
disabled.
LISTA DE SIGLAS
ProUni -Programa Universidade Para Todos
ONU -Organização das Nações Unidas
UnB -Universidade de Brasília
MEC -Ministério da Educação
FUNAI -Fundo Nacional do Índio
IBGE -Brasileiro de Geografia Estatística
PR -Paraná
MS -Mato Grosso do Sul
EUA -Estados Unidos da América
Sisu -Sistema de Seleção Unificada
ENEM -Exame Nacional de Ensino Médio
IOF -Imposto Sobre Operações Financeiras
IPI -Imposto Sobre Produtos Industrializados
ICMS -Imposto Sobre Circulação De Mercadorias E Serviços
LBI -Língua Brasileira de Sinais
RGPS -Regime Geral de Previdência Social
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 9
2 CAPÍTULO I ................................................................................................... 12
2.1 O que são cotas? ............................................................................................ 12
2.2 Cotas raciais ................................................................................................... 12
2.3 Lei de cotas raciais nas universidades ........................................................... 14
2.4 Lei de cotas raciais nos concursos públicos ................................................... 15
2.5 Dúvidas mais frequentes sobre esse novo projeto de lei ................................ 16
2.5.1 Os candidatos negros só poderão concorrer pelo sistema de cotas? ............ 16
2.5.2 E se o candidato mentir? ................................................................................ 16
2.5.3 Qual o número mínimo de vagas no concurso para haver cotas? .................. 16
2.5.4 De onde veio a ideia da cota racial em concursos? ........................................ 16
2.5.5 Quanto tempo dura a lei? ............................................................................... 17
2.6 Argumentos contra as cotas raciais ................................................................ 17
2.7 Argumentos a favor das cotas raciais ............................................................. 19
3 CAPÍTUO II..................................................................................................... 22
3.1 Cotas Sociais .................................................................................................. 22
3.2 Cotas para estudantes de baixa renda ........................................................... 22
3.3 Lei de Cotas para estudantes de baixa renda ................................................ 22
3.4 Cotas para deficientes .................................................................................... 23
3.5 Lei de cotas para deficientes .......................................................................... 24
3.6 Ações com outros países................................................................................ 24
3.6.1 Portugal...... .................................................................................................... 24
3.6.2 Espanha.......................................................................................................... 24
3.6.3 França............................................................................................................. 24
3.6.4 Itália......... ....................................................................................................... 25
3.6.5 Alemanha........................................................................................................ 25
3.6.6 Áustria............................................................................................................. 25
3.6.7 Argentina.. ...................................................................................................... 25
3.7 Cotas em concursos públicos para deficientes ............................................... 26
3.8 Lei de cotas para deficientes em concursos públicos ..................................... 26
4 CAPÍTULO III ................................................................................................. 28
4.1 Direitos das pessoas com necessidades especiais ........................................ 28
4.2 Direito à Acessibilidade................................................................................... 28
4.3 Direito à Educação ......................................................................................... 28
4.4 Direito ao Esporte, Turismo e Lazer ............................................................... 28
4.5 Direito à Saúde ............................................................................................... 29
5 CAPÍTULO IV ................................................................................................. 30
5.1 Direitos das Pessoas com Deficiência ............................................................ 30
5.2 Lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência, lei número 13.146 ....... 37
6 PRECONCEITO ............................................................................................. 41
7 HISTÓRIA DE LUTA PELOS MEUS DIREITOS ............................................ 43
8 DEPOIMENTO DE UMA ESPECIALISTA...................................................... 45
9 CONCLUSÃO ................................................................................................. 46
10 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 48
9
1 INTRODUÇÃO
2 CAPÍTULO I
O projeto de lei 6.738/13 define a reserva de 20% das vagas para negros em
concursos para a administração pública federal direta; como ministérios, e também na
administração indireta; para autarquias, agências reguladoras, fundações públicas,
empresas públicas e sociedades de economia mista controlada pela União. Poderão
concorrer às vagas da cota racial todos que se declararem pretos ou pardos no ato da
inscrição no concurso, conforme os critérios do Instituto Brasileiro de Geografia
Estatística (IBGE). O projeto não inclui vagas no Legislativo e no Judiciário. A
aplicação das cotas será limitada ao prazo de 10 anos.
16
A política de cotas raciais foi criada nos Estados Unidos pelo presidente
Richard Nixon; republicano, racista e conservador, realmente não se enquadrava
como legítimo representante dos anseios de qualquer minoria. A situação de caos e
de violência instalados naquele país no final da década de 60 foi o que motivou a
política de cotas raciais nos EUA. Após a abolição da escravatura, seguiu-se um
século de segregação racial institucionalizada1; os conflitos raciais surgiram
justamente após o Estado ter legislado com base na raça, dividindo direitos em razão
da cor da pele. Do hospital até o cemitério, todas as instituições sociais eram
rigidamente separadas pela cor. Por isso até hoje o país se ressente pelo fato de
haver construído uma sociedade polarizada e dividida entre valores pertencentes aos
negros e valores do branco, com culturas e ambientes próprios. Mesmo assim, nos
EUA, as cotas vigoraram por menos de 10 anos e foram logo declaradas
inconstitucionais pela Suprema Corte.
Há muitas dificuldades para a importação do modelo de cotas raciais no Brasil,
pois aqui nunca houve uma política de segregação institucionalizada após a abolição
da escravatura. Ser negro no Brasil não significa ter uma barreira intransponível para
acesso a cargos de prestígio, como aconteceu na América do Norte.
Nos EUA, a renda era quase irrelevante, ainda que o negro fosse rico, era
vedado o seu acesso. Em nosso país, a duras penas, conseguimos formar uma
sociedade na qual são compartilhados todos os valores, com a formação de uma única
identidade nacional. O grande problema a impedir os negros no Brasil de assumirem
postos sociais de destaque é a pobreza, pois 70% dos pobres no Brasil são negros.
Se o problema de fato fosse o racismo, os negros seriam a maioria em concursos
públicos, mas infelizmente não são porque não conseguem ter acesso ao preparo
adequado, por não possuírem renda. Neste sentido, devemos implementar uma
política de cotas sociais para acesso às Universidades: por meio delas, os negros que
mais precisam da ajuda estatal serão integrados, sem haver o risco da polarização
entre duas “raças” distintas.
Para implementar uma política de distribuição de direitos, é preciso haver um
critério objetivo para identificação dos beneficiários. Talvez aqui resida o maior
problema para a cota racial, pois nunca houve neste país um critério objetivo para
identificação do negro, considerando que esta categoria é a soma de pretos mais
pardos. Nos EUA, a política foi conduzida a partir do critério objetivo da gota de
sangue, na qual basta uma gota de “sangue negro” na ascendência do indivíduo, para
que este também fosse considerado negro, apesar de sua aparência.
Desta forma, muitas instituições que adotaram a política de cotas raciais no
Brasil resolveram instituir “Tribunais Raciais” de composição secreta e que, baseados
em critérios secretos, decidem quem é pardo e quem é branco no País.
O racismo existente no Brasil se combate com punição exemplar. Não podemos
tolerar o racismo. Entretanto, o mito sobre a existência de raças humanas é
relativamente recente, as primeiras classificações raciais são do século XVIII. A
19
ajudaram a construir a riqueza do país. Uma chance para a cidadania. "Não haverá
tranquilidade nem sossego na América enquanto o negro não tiver garantidos os seus
direitos de cidadão… Enquanto não chegar o radiante dia da justiça… A luta dos
negros por liberdade e igualdade de direitos ainda está longe do fim", declarou Martin
Luther King. Embora esta cidadania de fato não tenha sido conquistada com tanta
facilidade. Commented [G.2]: fonte
Sabemos que o ideal seria que as escolas públicas fornecessem uma educação
de qualidade e que alcançassem o nível de muitas escolas particulares, contudo, para
alcançarmos esse ideal é necessário tempo e a política de cotas raciais é uma medida
mais rápida para combater a desigualdade.
Para muitos, essa política pode parecer injusta, mas, se refletirmos, injusto foi
o modo como tratamos os negros durante mais de trezentos anos com a escravidão.
22
3 CAPÍTUO II
As vagas para estudantes de escola pública são vistas como a melhor forma
de política de cotas (cotas sociais), uma vez que os argumentos de quem discorda da
medida são de que o problema brasileiro é social e não racial. Dessa forma, iria
abranger todas as raças e beneficiar aqueles que realmente não têm condições de
concorrer no vestibular com alunos vindos de escolas particulares.
Em 2010, a Universidade Federal do Rio de Janeiro decidiu destinar 20% de
suas vagas para alunos egressos das escolas públicas municipais e estaduais. Apesar
disso, a medida não inclui os estudantes negros e índios. É a oportunidade para os
alunos de rede pública cursarem o Ensino Superior, pois eles têm que concorrer com
alunos que vêm de escola particular. Isso torna, segundo especialistas, o direito à
educação mais igualitária, pois as escolas públicas são sucateadas e não oferecem a
estrutura e o conhecimento necessários para o ingresso na Faculdade.
3.6.1 Portugal
3.6.2 Espanha
3.6.3 França
3.6.4 Itália
3.6.5 Alemanha
3.6.6 Áustria
4% das vagas são destinadas aos deficientes nas empresas com mais de 25
empregados.
3.6.7 Argentina
4 CAPÍTULO III
5 CAPÍTULO IV
1) Comunicação;
2) Cuidado;
3) Pessoal;
4) Habilidades;
5) Sociais;
6) Utilização dos recursos da comunidade;
7) Saúde e segurança;
8) Habilidades acadêmicas;
9) Lazer;
10) Trabalho;
Pela aplicação deste princípio, todos os homens sociedade têm iguais direitos
e deveres. Afim de garantir a não discriminação de determinada classe por meio de
leis ou sentenças pelos legisladores e os operadores do Direito. Devendo-se analisar
o nível de desigualdade que se demonstra entre os destinatários de uma determinada
norma para buscar meios de tratamento desiguais para que todos os destinatários
sejam atingidos proporcionalmente às suas desigualdades, pois para tornar uma
sociedade igualitária devemos tratar de modo desigual os desiguais para que se
igualem aos iguais. A legislação tem a finalidade de proteger a pessoa, e no caso dos
deficientes, não deve existir sobreposição de direitos de uma categoria em relação a
outra, pois todos são especiais.
Assim, para que esta ideia seja aplicada, é necessário observar que as pessoas
com deficiência possuem necessidades especiais que as distinguem das outras. Por
isso, além dos direitos relativos a todos, estas devem ter direitos específicos, que
compensem, na medida do possível, as limitações e/ou impossibilidades a que estão
sujeitas.
Há leis federais e estaduais que disciplinam o acesso a esse público de acordo
com sua deficiência. Como a Lei nº. 8989/1995 que legaliza o direito das pessoas com
deficiência física, mental ou autistas em relação à isenção sobre imposto sobre
produtos industrializados (IPI), Imposto sobre operações financeiras (IOF) e imposto
sobre circulação de mercadorias e serviços (ICMS) na aquisição de veículos novos.
Podendo ser exercido apenas uma vez a cada dois anos, sem limite do número de
aquisições.
Em relação aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é
garantido constitucionalmente aos portadores de deficiência gozar de benefícios e
critérios diferenciados para a concessão da aposentadoria, com fulcro no art. 40, § 4º,
in verbis:
Art. 40. “Aos servidores titulares de cargos efetivos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas
autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de
caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo
ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas,
33
mais curto possível e sejam submetidas à revisão regular por uma autoridade ou órgão
judiciário competente, independente e imparcial. As salvaguardas deverão ser
proporcionais ao grau em que tais medidas afetarem os direitos e interesses da
pessoa.
5. Os Estados Partes, sujeitos ao disposto neste Artigo, deverão tomar todas
as medidas apropriadas e efetivas para assegurar às pessoas com deficiência o igual
direito de possuir ou herdar bens, de controlar as próprias finanças e de ter igual
acesso a empréstimos bancários, hipotecas e outras formas de crédito financeiro, e
deverão assegurar que as pessoas com deficiência não sejam arbitrariamente
destituídas de seus bens”.
A doutrina e a jurisprudência se posicionou de forma favorável em relação a
aplicação igualitária das benesses da legislação para todas as pessoas com
deficiência, independentemente de sua categoria, assegurando assim princípio da
isonomia.
Em face disto, José Afonso da Silva (2001, p. 80) declara que:
"Quando se diz que o legislador não pode distinguir, isso não significa que a lei
deva tratar todos abstratamente iguais, pois o tratamento igual – esclarece Petzold –
não se dirige a pessoas integralmente iguais entre si, mas àquelas que são iguais sob
os aspectos tomados em consideração pela norma, o que implica que os ‘iguais’
podem diferir totalmente sob outros aspectos ignorados ou considerados irrelevantes
pelo legislador. Este julga, assim, como ‘essenciais’ ou ‘relevantes’, certos aspectos
ou características das pessoas, das circunstâncias ou das situações nas quais essas
pessoas se encontram, e funda sobre esses aspectos ou elementos as categorias
estabelecidas pelas normas jurídicas; por consequência, as pessoas que apresentam
os aspectos ‘essenciais’ previstos por essas normas são consideradas encontrar-se
em ‘situações idênticas’, ainda que possam diferir por outros aspectos ignorados ou
julgados irrelevantes pelo legislador; vale dizer que as pessoas ou situações são
iguais ou desiguais de modo relativo, ou seja, sob certos aspectos. (...).
Esses fundamentos é que permitem, à legislação, tutelar as pessoas que se
achem em posição econômica inferior, buscando realizar o princípio da igualização,
(...)".
Princípios "são normas que exigem a realização de algo, da melhor forma
possível, de acordo com as possibilidades fáticas e jurídicas” segundo José Joaquim
36
Gomes Canotilho (1988. p. 1123), como acontece com a finalidade que o princípio da
isonomia reproduz.
A exposição de Celso Antônio Bandeira de Melo sobre este tema (1993, p.21):
"o reconhecimento das diferenças que não pode ser feito sem quebra da
isonomia, se divide em três questões:
a) a primeira diz com o elemento tomado como fato de desigualação1 (fator de
́ inen);
discrim
b) a segunda diz com o elemento tomado como fator de desigualação (fator de
́ inen);
discrim
c) a terceira atina à consonância desta correlação logica com os interesses
absorvidos no sistema constitucional e destarte juridicizados2".
Em relação à empregos para portadores de deficiência, pontos que são motivo
de dúvidas e interpretações errôneas sobre a Lei de Cotas, como quais empresas
estão enquadradas nesta obrigatoriedade, quantas vagas devem ser preenchidas, as
bases legais e como as Superintendências Regionais do Trabalho regulamentam nos
casos de irregularidade por meio de aplicações de multas pelo descumprimento da
lei.
Houve resultados de fiscalização no estado de São Paulo, destacando a cidade
de Osasco, onde a então Subdelegacia do Trabalho local, em conjunto com a
sociedade em geral, conseguiu que cerca de 87,5% das empresas cumprissem a Lei
de Cotas (JAIME e CARMO, 2005, p.18)
Vinicius Gaspar Garcia aprofunda este debate em sua tese de doutorado cujo
título é “Pessoas com Deficiência e o Mercado de Trabalho – Histórico e Contexto
Contemporâneo”, com a ideia da racionalidade, fundamentando-se em registros do
Censo do IBGE 2000 e de registros do Ministério do Trabalho e Emprego, meios mais
confiáveis, pois a falta de dados confiáveis devia-se ao fato de que o tema sempre
esteve à margem dos órgãos fiscalizadores, que estiveram “amarrados” para colocar
a lei em prática, em razão de seus preconceitos.
Em dezembro de 2000 foram divulgados, pelo Programa Brasil Gênero e Raça,
os registros de 2.375 trabalhadores com deficiência no Brasil, números corrigidos em
5.2 Lei brasileira de inclusão da pessoa com deficiência, lei número 13.146
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e
cidadania”.
Pretende retirar barreiras, criar acessibilidade, construir moradias acessíveis,
modificar mobiliários entre outras providências, conforme seu artigo 3º, afim de não
“obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas”.
A LBI foi o primeiro Projeto de Lei da Câmara dos Deputados traduzido para
Libras (Língua Brasileira de Sinais) durante sua discussão e edição. Seu texto inicial
ficou acessível ao público durante seis meses, recebendo assim, entre contribuições
vindas do portal, de e-mails e ofícios, cerca de mil propostas.
Baseia-se na Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência, o primeiro tratado internacional de direitos humanos a ser incorporado
pelo ordenamento jurídico brasileiro com o status de emenda constitucional.
Possui como principal inovação o conceito de deficiência, sendo definida como
“o resultado da interação das barreiras impostas pelo meio com as limitações de
natureza física, mental, intelectual e sensorial do indivíduo”. Deixando de ser um
atributo da pessoa, passando a ser “o resultado das respostas inacessíveis que a
sociedade e o Estado dão às características de cada um”.
São inovações da Lei:
- Educação
Proibição das escolas privadas cobrarem a mais de alunos com deficiência;
Reserva de 10% de vagas às pessoas com deficiência nos processos seletivos
de cursos de ensino superior (graduação e pós-graduação), educação profissional
tecnológica e educação profissional técnica de nível médio, em instituições públicas
federais e privadas. As vagas remanescentes devem ser disponibilizadas para os
demais candidatos;
Obrigação de conteúdos sobre práticas de educação inclusiva e deficiência nos
cursos de ensino superior.
Habilitação e Reabilitação, Assistência Social e Saúde
Reconhecimento da habilitação e reabilitação com um direito da pessoa com
deficiência, com vistas a sua autonomia e participação social em igualdade de
condições com as demais pessoas;
39
1 Espaço público onde pessoas podem utilizar microcomputadores, a Internet e tecnologias digitais que
permitem coletar informações, criar, aprender e comunicar-se com outras pessoas.
40
- Moradia e Habitação
Adaptação das moradias para a vida independente. Com a adoção do poder
público à programas e ações estratégicas que apoiem a criação e manutenção de
moradias para a vida independente da pessoa com deficiência;
- Diretos civis e ações de combate ao preconceito
Direito a voto e a ser votado concedido à pessoas com deficiência intelectual,
ao casamento legal, sendo que o processo de curatela poderá recair exclusivamente
sobre direitos de natureza patrimonial e negocial;
Conciliação com o sistema penal relacionado ao preconceito, descriminação e
abuso contra a pessoa com deficiência;
Garantia de acessibilidade no acesso à Justiça para todos os envolvidos em
processos judiciais, em todos os polos.
- Mecanismos de políticas e defesa de direitos
Criação do Cadastro Inclusão, com a finalidade de coletar, processar,
sistematizar e disseminar informações georreferenciadas que permitam a
identificação e a caracterização das pessoas com deficiência, bem como as barreiras
que impedem a realização de seus direitos;
Na realização de inspeções e auditorias pelos órgãos de controle interno e
externo, deve ser observado o cumprimento da legislação relativa à pessoa com
deficiência e as normas de acessibilidade;
A reforma de todas as calçadas passa a ser obrigação do Poder Público, que
deverá tornar todas as rotas acessíveis.
41
6 PRECONCEITO
a escola prestou e não prestará mais, ele argumentou que trata-se de meninas
deficientes (Glenda e Isabella) ela disse em alto e bom tom, que isto é um problema
nosso e não da escola, e que por isso as escolas particulares resistem em aceitar
deficientes, pois os pais incomodam muito e os deficientes são muito caros para
escola e que deveríamos tirar as crianças da escola, e que ele preenchesse um
formulário que a escola devolveria o dinheiro da matrícula. Ficamos muito nervosos e
preocupados com a segurança das meninas. Estou informando este novo ocorrido
pois agora falaremos com advogados também, e acho que o acordo amigável que era
nossa intenção, não ocorrerá mais. Aguado sua opinião, que será muito importante.
Conto com a sua atenção e consideração. (ALBUQUERQUE, 2009).
Sentença judicial sobre o caso de Glenda Pereira Albuquerque e outro contra
Centro de Ensino Integrado Wellington. Número do processo: 020.10.002799/7. “O
(A) MM. Juiz (a) de Direito do(a) 4º Vara Cível do Foro Regional XII- Nossa Senhora
do Ó, Dr (a). Anna Paula de Oliveira Dala Déa, pelo presente, expediente expedidos
nos autora da ação em epígrafe, determina a Vossa Senhoria que procedo o
restabelecimento da prestação de serviço de uma auxiliar pedagógica às autoras
GLENDA PEREIRA ALBUQUERQUE e ISABELLA THEODORO FERREIRA, da
forma como anteriormente era feito no prazo de 48 horas sob pena de pagamento de
multa diária, que arbitro em R$500,00 (quinhentos reais).
45
1 Depoimento fornecido por Fátima Arruda, professora do colégio EMEF Lourides Del Porto e ex-
diretora da APE.
46
9 CONCLUSÃO
A luta dos deficientes trata-se de uma tarefa difícil, mas nos parece que
podemos defini-la como SUPERAÇÃO: lembremos os exemplos de Beethoven1,
grande compositor de música clássica, que ao final nem mesmo ouvia o que
compunha, ou de Antônio Francisco Lisboa, conhecido como “Aleijadinho”, que deixou
esculturas de grande valor cultural para o Brasil, ou até mesmo outros exemplos
quando analisamos o desempenho dos nossos atletas paraolímpicos, que sempre nos
trazem medalhas.
Por isso, segundo Stanislau Krynski, estudioso de crianças ou adolescentes
autistas ou deficientes mentais, com seu livro Deficiência Mental, publicado em 1969,
afirma que parece-nos imprescindível perguntarmos: “o que estamos realmente
fazendo hoje para que pessoas vivam melhor, diante da realidade científica atual?
Através de uma análise histórica do capitalismo e seus interesses antagônicos
entre as classes sociais as politicas sociais que representam conquistas do
operariado, por meio de lutas politicas e sociais, percebe-se uma estratégia do Estado
como meio de garantir a reprodução das relações sociais de produção e exploração
capitalista.
As políticas sociais do Estado tratam-se de uma criação instrumentalista e
mecanicista que não consideram a exploração capitalista e as forças sociais. As
medidas de cotas sociais só́ podem ser entendidas pela ideia capitalista de se adaptar
às transformações sociais.
Para atender a necessidade deste modelo econômico, as entidades que
representam e defendem pessoas com deficiência devem se empenhar no amparo do
direito ao trabalho para esta parcela da sociedade. O método constitui-se de que
enquanto as entidades exigem o cumprimento da legislação que garante a reserva de
cotas em ramos da economia, simultaneamente denunciam a impossibilidade de a
sociedade capitalista gerar trabalho para todos; para todas as pessoas sem
deficiência, quanto mais então para as pessoas com perda ou anormalidade de uma
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para
o desempenho de atividade (conceito de deficiência). Assim, as entidades que se
comprometem com um projeto de reforma social podem se converter em institutos,
estimulando e valorizando os princípios sociais e da cooperação entre os seus
educandos e os demais fragmentos da classe operária que está empenhada nas lutas
políticas e sociais.
A luta pela igualdade de oportunidades não deverá ser confundida com
privilégios em favor das pessoas com deficiência. Pelo contrário, deve eliminar
obstáculos, dificuldades, diferenças e preconceitos. Isto não consiste apenas em
direito de todos nós, mas se conferirmos condições concretas e efetivas para que
todos possam desenvolver-se no limite de suas aptidões, teremos condições de
eficiência e não de deficiência para todos.
48
10 BIBLIOGRAFIA
-BELFORT, S. M. G. D.L. Eliane Pinheiro. Guia dos Direitos das Pessoas com
Deficiência. OAB – SP.
- KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. Arménio Amado, 1974. Commented [G.5]: editora – ver modelo abnt
-MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 11. ed. SP:
Ed Malheiros. 1999.
49
- MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
-XAVIER, Silvia Cristina. Deficiência com Eficiência - Dos direitos da pessoa
portadora de deficiência. São Paulo: Visão, 2008 - p.
- ROUSSEAU, Jean Jacques. O Contrato Social. São Paulo, Martins Fontes, 2001.