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22/09/2018 Os níveis de leitura de “O Senhor dos Anéis”

O Senhor dos Anéis

Os níveis de leitura de “O Senhor


dos Anéis”
O Senhor dos Anéis, uma obra-prima da literatura fantástica, não é uma
leitura de simples passatempo nem uma alegoria super cial. Trata-se de
um livro teologicamente denso, no qual se encontram ressonâncias,
naturais e espontâneas, da fé católica de que estava imbuído o seu autor,
J. R. R. Tolkien.

Nesta primeira aula do curso O Senhor dos Anéis, Padre Paulo Ricardo
nos explica como podemos começar a ler esta obra fantástica para além
da superfície, quer dizer, em chave verdadeiramente teológica.

A finalidade deste curso é oferecer aos alunos do site uma das mais importantes — talvez a
mais importante e enriquecedora — chaves de leitura da trilogia O Senhor dos Anéis, de J. R. R.
Tolkien. Mas qual a razão disso, afinal?

O Senhor dos Anéis, como qualquer um será capaz de perceber, constitui um tesouro da
literatura fantástica que pode ser lido em diversos níveis de profundidade.

Tanto é assim que parte considerável dos leitores, justamente por não ter essa chave de leitura,
costuma encará-lo com certa “superficialidade”, como se não tivesse em mãos nada mais do
que outra das tantas obras de entretenimento infanto-juvenil disponíveis nas livrarias.

O Senhor dos Anéis, contudo, possui elementos importantes que o diferenciam, e muito, de
obras desse tipo. A história da Terra Média, com efeito, apresenta uma densidade teológica
ímpar, não no sentido de que cada um dos personagens que nela figuram remita,
deliberadamente, a algum aspecto da fé cristã de seu autor.

Tampouco queremos dizer com isso que o propósito de Tolkien ao escrevê-la fosse convencer-
nos, como um apologista de tinteiro, da verdade do catolicismo. A apologia, no fim das contas,
não se faz com literatura, mas com fatos e argumentos.

Ora, ainda que O Senhor dos Anéis não pretenda ser uma espécie de “catecismo à capucha”,
entrecortado por simbolismos bem disfarçados que, aos poucos e subrepticiamente, vão
inculcando no leitor os dogmas do Credo cristão, não se pode deixar de lado o fato de que
Tolkien era, sim, um católico assumido, cuja fé, de um modo ou de outro, acaba se
“plasmando” no curso espontâneo da narrativa.

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22/09/2018 Os níveis de leitura de “O Senhor dos Anéis”

De fato, todo bom escritor, à semelhança de um jogador de futebol envolvido na partida,


trabalha completamente esquecido de si; ele e a história tornam-se como uma só coisa, de
maneira que a narrativa que ali vai-se criando tende a expressar as ideias e concepções de vida
mais profundas do autor.

Foi Tolkien mesmo quem o disse numa carta de 2 de dezembro de 1953, endereçada ao amigo e
sacerdote Robert Murray. Nela, o criador da Terra Média admite que O Senhor dos Anéis é uma
obra fundamentalmente religiosa e católica, “inconscientemente no início, mas
conscientemente na revisão”. Foi na hora de passar o trabalho a limpo que Tolkien se deu conta
de toda a carga teológica com que ele, de forma inadvertida, escrevera a história do Anel.

Mas dizer que o Senhor dos Anéis pode ser lido em chave teológica não significa dizer que ele
seja, em si mesmo, uma “parábola teológica”. Trata-se, na verdade, de mostrar como o livro
revela, a quem sabe lê-lo com os “óculos” apropriados, a fé católica de quem o escreveu. É, por
assim dizer, como uma pintura por cujo estilo se pode deduzir, com os instrumentos adequados
de pesquisa, a escola e a nacionalidade do pintor.

Feito este preâmbulo, a primeira coisa que devemos ter em mente é que Tolkien não tinha, ao
menos de antemão, o projeto de escrever O Senhor dos Anéis. Suas histórias fantásticas, tais
como as que compõem O Silmarillion, publicado postumamente, surgiram do seu interesse pela
criação de línguas fictícias: era preciso dotá-las, não só de uma gramática, mas também de uma
mitologia, ou seja, de um pano de fundo cultural em que elas ganhassem vida e sentido.

O Hobbit, por sua vez, nasceu como que por acaso. A frase que dá início à aventura: “Numa toca
no chão vivia um hobbit”, escrita a esmo numa página em branco que Tolkien encontrara em
meio a pilhas e pilhas de provas, exigia uma explicação. O que era, afinal, um “hobbit”?

Um hobbit nada mais é do que um reflexo do próprio autor — um pequeno burguês, afeito à
vida do campo e apegado ao conforto do lar, mas que, de uma hora para outra, se vê chamado a
tomar parte em grandes acontecimentos (Tolkien, vale a pena lembrar, era apenas um discreto
professor universitário que, por obrigação militar, esteve nas trincheiras da Primeira Guerra
Mundial).

A história de Bilbo Bolseiro, nesse sentido, mostra antes de tudo a capacidade que todos nós
temos de realizar grandes sacrifícios, de sair do nosso costumeiro comodismo para entregar-
nos, às vezes com grande heroísmo, a empresas que desafiam os valores ou, melhor dizendo,
os contra-valores do mundo que nos rodeia.

A aventura de O Hobbit, além disso, guarda claros paralelismos com a passagem evangélica do
jovem rico. Assim como o rapaz que se dirigira a Cristo, Bilbo é uma pessoa honesta,

cumpridora de seus deveres e de vida ordenada; é, numa palavra, um cidadão exemplar. Mas
também aqui falta uma coisa, decisiva, aliás, para sair da “mediania”: “Vai, vende tudo o que
tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu” (Mt 19, 21). A vida humana foi feita para dar

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22/09/2018 Os níveis de leitura de “O Senhor dos Anéis”

mais de si, para chegar à santidade.

Devido ao sucesso de O Hobbit, lançado em 1937, Tolkien se viu “obrigado” a continuar a


história. É daí que surge O Senhor do Anéis, concebido fundamentalmente com o fim de dar
unidade narrativa ao livro já publicado e ao que, mais tarde, corresponderia a O Silmarillion.

A saga, que hoje é uma trilogia de sucesso, foi escrita originalmente como um único livro, de
mais ou menos 1200 páginas. Sua divisão e publicação em três tomos se deveu mais a questões
editoriais e econômicas — a Segunda Guerra Mundial acabara havia pouco menos de uma
década — do que propriamente literárias. Sua motivação de fundo, em todo caso, foi sempre o
interesse de Tolkien por línguas e mitologia.

Como dito acima, ao longo de todo este curso procuraremos ler O Senhor do Anéis à luz das
influências e realidades teológicas que, em virtude da mentalidade católica de seu autor, o
perpassam e embasam.

Esta leitura, porém, não será de tipo alegórico, já que o próprio Tolkien se opunha a essa forma
de abordar as suas histórias. Por isso, o nosso interesse aqui não estará centrado em estabelecer
analogias estritas entre este personagem e aquela figura bíblica, como acontece, por exemplo na
caso de As Crônicas de Nárnia, em que a presença de Cristo se “materializa” num personagem
em concreto, o leão Aslam.

Em O Senhor dos Anéis, ao contrário, podemos identificar Jesus, não neste ou naquele
personagem, mas em vários deles ao mesmo tempo e segundo distintos aspectos e pontos de
vista, de modo semelhante a como várias personalidades do Antigo Testamento prefiguravam,
cada uma à sua maneira, as perfeições e as virtudes do Messias prometido. Assim, por
exemplo, vemos a Cristo profeta em Gandalf, a Cristo sacerdote em Frodo, e a Cristo rei em
Aragorn, ainda que nenhum deles esgote todas as riquezas e papéis de Nosso Senhor.

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