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Amor - O Início

Você perde o sono, a fome, sobe às nuvens e sente a vida virar de ponta-cabeça. Mas o que, afinal, faz com que uma
pessoa se apaixone por outra?

"Quer viver um grande amor? Pergunte-me como." Parece uma promessa de charlatão - afinal, não
existe nada mais imprevisível que a paixão, certo? Milhões de palavras foram gastas, ao longo dos
séculos, para descrever os mistérios dela. Do matemático Blaise Pascal ("o coração tem razões que a
própria razão desconhece") ao físico Albert Einstein ("como a ciência poderia explicar um fenômeno
tão importante como o amor?"), todas as maiores mentes da humanidade se declararam impotentes
frente aos mistérios e caprichos da paixão. Elas estavam erradas. A ciência está começando a
descobrir que existe, sim, lógica no amor. E, quem sabe, até uma fórmula. Matemáticos da
Universidade de Genebra estudaram 1 074 casamentos, analisando diversas características dos
cônjuges, e chegaram a uma fórmula do que seria o par ideal - com maior taxa de felicidade e menor
risco de separação. A mulher deve ser 5 anos mais jovem e 27% mais inteligente do que o homem (o
ideal é que ela tenha um diploma universitário, e ele não). E é preciso experimentar bastante antes de
decidir: uma análise feita pelos estatísticos John Gilbert e Frederick Mosteller, da Universidade
Harvard, apontou que, se você se relacionar com 100 pessoas durante a vida, suas chances de
encontrar o par ideal só chegam ao auge na 38ª relação. Faça tudo isso e você será premiado com
57% mais chance de ser feliz. Mas, se você achou essas condições meio sem sentido, ou no mínimo
difíceis de seguir, acertou. As conclusões são puramente estatísticas, ou seja, projetam um cenário
ideal e não levam em conta as decisões que as pessoas realmente tomam: praticamente todos os
casais estudados pelos cientistas suíços (para ser mais exato, 99,81%) não viviam seguindo à risca a
fórmula. Afinal, as pessoas não são equações. São uma pilha de neurotransmissores, hormônios - e
experiências.

Imagine que você está numa festa. Muita gente interessante, troca de olhares, azaração. Na dança do
acasalamento humano, os homens dão mais valor à beleza e à juventude - e as mulheres estão mais
preocupadas com o nível socioeconômico do parceiro (sim, isso inclui dinheiro). Você
provavelmente já sabe disso. É universal. "Num levantamento que fizemos com 10 mil pessoas, em
37 países, essas diferenças sempre se mantiveram - independentemente de local, habitat, sistema
cultural ou tipo de casamento", afirma o psicólogo evolutivo David Buss, da Universidade do Texas,
em seu livro A Evolução do Desejo. O que você não sabe é que essa diferença não é um clichê
sexista - tem uma explicação cerebral. Quando o homem olha uma foto de sua mulher ou namorada,
sua atividade cerebral se concentra nas áreas de processamento visual - como a área fusiforme, que
processa as imagens de rostos. Já quando a mulher vê o homem, aciona circuitos relacionados a
memória, atenção e motivação - como o corpo do núcleo caudato e do septo. Conclusão: para as
mulheres, a beleza realmente não é o principal.

Ela é importante. Mas não é um objetivo em si; é um instrumento que a mulher usa para descobrir
mais sobre o homem. Um estudo da Universidade de Michigan comprovou que, quando estão
cogitando ficar ou ter um caso passageiro, as mulheres costumam preferir homens de traços bem
marcados, masculinos. Mas, na hora de pensar numa relação séria, optam pelos que têm traços mais
delicados. Isso acontece porque os homens de traços duros costumam ser saudáveis e passar genes
de boa qualidade para os descendentes - e por isso são considerados instintivamente atraentes pela
mulher. Mas eles também geralmente têm mais testosterona - hormônio que aumenta a propensão à
violência e à infidelidade.

OS SEMELHANTES SE ATRAEM
Em 68% dos relacionamentos sérios (e 53% dos passageiros), as pessoas são apresentadas por um conhecido. Cerca
de 60% dos romances surgem em ambientes semiprivados, como escola, trabalho ou uma festa - lugares onde a
afinidade entre as pessoas é naturalmente maior. Só 10% dos romances se originam em bares e baladas.

COISA DE PELE
Homens e mulheres preferem o odor de pessoas cujo sistema imunológico seja complementar ao deles (o que ajuda a
gerar descendentes saudáveis). Mas cuidado com a pílula anticoncepcional: ela pode distorcer essa comunicação
olfativa, fazendo a mulher perder a capacidade de reconhecer o que a atrai.
PAIXÃO = AVENTURA
Quer fazer o romance engatar? Procure fazer coisas novas e/ou excitantes junto com a outra pessoa - como viajar ou
andar de montanha- russa. É sério. Esse tipo de atividade eleva o nível de dopamina no cérebro, ativando os
mecanismos relacionados à paixão.

Ou seja: os machões não são bons pares. E parecem estar saindo de moda. Pesquisadores da
Universidade de Stirling, na Escócia, apresentaram uma série de fotos de homens para 4 791
mulheres de 30 países, entre eles o Brasil. E descobriram o seguinte: quanto melhor o sistema de
saúde de um país, mais as mulheres preferem homens com traços femininos. Isso acontece porque,
existindo menos doenças, as mulheres não dependem tanto de genes superfortes (presentes nos
machões) para gerar descendentes saudáveis. E passam a preferir homens com rosto delicado. Mas o
Brasil, caso você esteja se perguntando, ficou em último lugar no estudo - nossas mulheres, junto
com as mexicanas, são as que mais preferem homens com cara de machão (Bélgica e Suécia, por
outro lado, são o paraíso para os homens delicados). "Homens muito atraentes costumam ir atrás da
estratégia de reprodução mais conveniente para eles: as relações de curto prazo. Já os mais femininos
tendem a ser melhores provedores", afirmou a psicóloga Lise DeBruine, autora do estudo, ao jornal
inglês Guardian.

Seja como for, um pouquinho de feiúra pode até ajudar o homem. Um estudo feito em 2008 pela
Universidade do Tennessee avaliou 82 casais e descobriu que, quando a mulher é linda e o homem
apenas razoável, o casal se comporta de forma mais positiva, com mais harmonia e companheirismo.
A tese é que, como o homem está recebendo algo que valoriza muito, a beleza, ele dá duro para
manter o relacionamento - o que acaba melhorando seu convívio com a mulher.

CHEGUE MAIS PERTO


Vocês se olharam, se interessaram, alguém tomou a iniciativa de ir falar com o outro. Antes mesmo
de abrirem a boca, seus corpos já começaram a se comunicar. Sabe quando as pessoas dizem que
"bateu uma coisa de pele"? Isso realmente existe. E tem fundamento científico. Preferimos pessoas
cujo sistema imunológico seja complementar ao nosso, com quem possamos gerar descendentes
geneticamente mais variados, com maior capacidade de resistir a doenças. E, como ninguém tem
placa na testa dizendo qual tipo de sistema imunológico tem, o jeito que o corpo inventou de
perceber e comunicar isso foi o cheiro.

Ok, o cheiro combinou e vocês partiram para a conversa - que pode ou não dar certo. O que precisa
acontecer para que ela não acabe num silêncio constrangedor depois de 10 minutos? Sua história
pessoal, os valores da família, da comunidade, as relações que já viveu, tudo isso ajuda a moldar o
que você espera das pessoas - principalmente aquelas com as quais pretende ter algum tipo de
relacionamento amoroso. "Enquanto crescemos, vamos criando um conceito da pessoa por quem
iremos nos apaixonar, baseado nos exemplos que encontramos por aí. E os parceiros que
encontramos podem corresponder a essa expectativa ou não", explica Semir Zeki, neurologista da
University College London e autor de estudos sobre o cérebro das pessoas apaixonadas. Existem
muitos testes que ajudam a descobrir qual é o seu tipo de personalidade e saber quais outros
combinam com ele (em super.abril.com.br/revista/teste-do-amor você encontra um teste baseado nas
conclusões da americana Helen Fisher, antropóloga da Universidade Rutgers e uma das maiores
especialistas do mundo nas relações entre amor e cérebro).

Mas o que vai acontecer daqui para a frente no relacionamento tem mais a ver com a dança de
hormônios dentro da sua cabeça. Ou você já viu alguém tomar racionalmente a decisão de se
apaixonar? A natureza criou 3 mecanismos cerebrais que controlam o amor nos seres humanos:
luxúria, paixão/romance e ligação. O mecanismo da luxúria (desejo sexual) está ligado à quantidade
do hormônio testosterona - tanto em homens quanto em mulheres. Já o impulso da paixão e do
romance é alimentado pela dopamina. E o terceiro sistema, da ligação e do companheirismo, é
alimentado pela ocitocina (na mulher) e pela vasopressina (no homem). Os 3 sistemas são
independentes. Ou seja: uma mulher pode amar o marido, estar apaixonada pelo vizinho e sentir
atração pelo Johnny Depp, tudo ao mesmo tempo. Uma confusão só. "É como se houvesse uma
reunião de comitê na sua cabeça", brinca Helen Fisher. E, para complicar ainda mais as coisas, esses
sistemas interferem uns com os outros. Uma coisa leva a outra, principalmente quando as pessoas
vão para a cama. O sexo pode aumentar os níveis de dopamina - que provoca paixão e romance. E o
orgasmo provoca a descarga de ocitocina e vasopressina - os hormônios da ligação. É por isso que,
biologicamente, não existe sexo 100% sem compromisso. Você sempre corre o risco de acabar se
apaixonando por alguém com quem não tinha intenção de se envolver.

E assim foi para vocês. A noite foi incrível, e parece que a paixão está começando a rolar. Como ter
certeza? É fácil. Você vai ficar meio aéreo, passar a comer e dormir menos e ficar horas e horas
pensando na pessoa amada - um comportamento compulsivo, similar ao dos viciados em drogas. É
isso mesmo: o neurotransmissor da paixão, a dopamina, é o mesmo envolvido nos casos de
dependência química. E mexe com uma parte muito profunda do cérebro: o núcleo accumbens, que
controla o sistema de recompensa - mecanismo que faz o indivíduo buscar coisas prazerosas (como
comida, sexo ou amor). Ele tem uma influência incrivelmente forte sobre nós. "O sistema de
recompensa avisa o cérebro sempre que uma coisa boa está para acontecer. Ficamos altamente
motivados, antecipando o prazer que virá", diz Suzana Herculano-Houzel, neurologista da UFRJ e
autora do livro Sexo, Drogas, Rock`n`roll... & Chocolate - O Cérebro e os Prazeres da Vida
Cotidiana.

A partir de agora, sua felicidade depende da outra pessoa. Se ela telefona ou manda um e-mail, você
vai ao paraíso. Quando ela some, você vive uma agonia lenta, desesperada. Se você está sentindo
tudo isso, comemore. Está apaixonado.

Amor - O Meio
Morar junto. Casamento. Filhos. Tudo isso é muito bom - faz vocês ficarem mais ricos e viverem mais. Sim, a paixão
vai diminuir. Mas isso não é o fim.

Parabéns. Você encontrou sua cara-metade, namorou, começou uma relação estável. Vocês moram
juntos, saem juntos, fazem tudo juntos - suas personalidades estão grudadas, e é até difícil saber
onde uma começa e a outra termina (como as colunas desta página, que representam a união
absoluta, as das páginas anteriores, que representam a conexão entre duas pessoas, e as das próximas
páginas, cujo significado você vai ver daqui a pouco). Uma situação extremamente rara: entre os
mamíferos, apenas 3% das espécies são monogâmicas. Por que estamos entre elas? Há 3 milhões de
anos, nossos ancestrais desceram das árvores e começaram a andar eretos. Um pequeno passo para o
hominídeo, um grande salto para a humanidade e uma complicação danada para as fêmeas - que não
conseguiam mais carregar os filhotes nas costas, como fazem os chimpanzés. Como não tinha jeito
de colher raízes e se defender de leões e ao mesmo tempo segurar bebês nos braços, elas passaram a
precisar da proteção e do sustento masculino. Para o homem, seria muito dispendioso alimentar e
defender mais de uma mulher. Pronto: monogamia. Além disso, com o tempo, o cérebro humano foi
ficando maior. E aí as mulheres passaram a ter dificuldades para dar à luz bebês tão cabeçudos por
seu canal de parto estreito. A pélvis não podia crescer, ou os humanos não conseguiriam mais andar
eretos. Algumas mulheres conseguiram parir filhotes mais imaturos, garantindo a continuidade da
espécie. Mas significa que os bebês passaram a nascer ainda mais indefesos (um humano leva 18
anos para ficar adulto, 8 a mais que um filhote de chimpanzé) e dependentes da mãe. Aí, a natureza
veio em socorro das mulheres estafadas. Criou o terceiro mecanismo cerebral do amor - o da ligação
e do companheirismo. É um amor profundo, que deixa as pessoas calmas e seguras. Foi ele que
possibilitou a criação das famílias - e fez nossa espécie chegar aonde chegou. E tem várias vantagens
biológicas, como estender a vida do homem em 7 anos e a da mulher em 2 (ele porque passa a se
alimentar melhor, e ela porque fica mais rica ao incorporar a renda do marido). Em suma: a rotina
conjugal é boa. Mas tem uma consequência ruim - faz a testosterona despencar. Foi essa a conclusão
de um estudo da Universidade Harvard, que analisou os níveis hormonais de 58 homens. Sem
testosterona, os casais vão perdendo a vontade de sexo. E é aí que os problemas começam. Sem o
mesmo encantamento de quando estavam apaixonadas, as pessoas ficam menos tolerantes, e
começam a ver o outro como ele realmente é.

SILÊNCIO HORMONAL
Após o nascimento do primeiro filho, o nível de testosterona no homem cai até 33%. E atividades como brincar com
a criança ou abraçar a mulher fazem com que caia ainda mais. É um mecanismo criado pela evolução para que o
macho sossegue - e ajude a criar o filhote.

E aqueles casais que estão juntos há décadas e ainda se dizem apaixonados? Cientistas dos EUA
monitoraram o cérebro de pessoas nessa situação e constataram que as áreas do cérebro relacionadas
à paixão e ao romance realmente se acendiam quando elas pensavam na pessoa amada. A paixão
pode, sim, durar para sempre. Mas isso só acontece com algumas pessoas - e ninguém sabe por quê.
O fato é que, para a maioria, a paixão diminui com o tempo. E isso faz sentido. Seria difícil cuidar
dos filhos e tocar a vida atordoado por aquela intensidade do início de romance. Mas como fazer a
relação dar certo? Existem as recomendações que você já conhece (ter bom humor, não brigar por
bobagens etc.). Tudo isso funciona. Mas só se você adotar a postura correta - que nem sempre é a
mais óbvia. Um estudo da Universidade da Califórnia revelou que na Índia, onde 95% dos
casamentos são arranjados, os casais têm níveis mais altos de satisfação e amor do que no Ocidente.
É porque começam a relação sem esperar grande coisa: o amor nasce pequeno e cresce com o tempo.
Aqui, ao contrário, jogamos toda a esperança do mundo nos ombros da pessoa amada, e o amor
inevitavelmente vai diminuindo. O certo é não alimentar expectativas. Também tenha o hábito de
ficar um pouco longe da outra pessoa, pois isso atiça o sistema de recompensa do cérebro. "A
expectativa da recompensa é quase mais prazerosa que a recompensa em si", afirma o neurologista
Semir Zeki. E tome cuidado com o excesso de familiaridade. Um estudo feito nos anos 70 com
crianças israelenses criadas juntas num kibutz constatou que os meninos e as meninas se tornaram
grandes amigos depois de adultos. Mas nenhum deles se casou: foi impossível sentir desejo por
alguém tão familiar. O desejo está no que é novo. Falando nisso, não se acanhe. "A pornografia
aumenta os níveis de testosterona", afirma a antropóloga Helen Fisher. Ela recomenda que os
homens acessem sites eróticos. Seja como for, não se acomode. A evolução percorreu milhões de
anos para que vocês pudessem estar juntos. Aproveite a felicidade a dois - que, segundo um estudo
feito na Inglaterra, tem o auge aos 2 anos e 11 meses de relacionamento. A cizânia começa na
próxima página.

Amor - O Fim
Tudo acaba um dia. Geralmente, 7 anos depois que começou. Veja por que podemos abandonar (e até odiar) quem
amamos um dia.

Vocês trocaram mensagens bobas pelo celular, dividiram brigadeiros de panela, assistiram TV juntos
largados na poltrona e dormiram de conchinha. Foram, enfim, o centro da vida um do outro. Mas
agora é cada um para o seu lado. E sempre fica um enorme ponto de interrogação: se era tão bom,
por que acabou? Para entender, é preciso voltar no tempo e fazer um passeio pelas savanas africanas,
3 milhões de anos atrás. O homem caçava e protegia a família. A mulher cuidava dos filhotes. Mas,
em determinado momento, os casais se separavam. O objetivo da família nuclear - nome técnico que
os antropólogos dão ao conjunto de pai, mãe e filhos - era garantir que o homem ficasse por perto
tempo suficiente para criar o filhote. Somente isso. Quando o filhote já estava crescidinho e não
exigia atenção integral da mãe (que por isso podia voltar a se virar sozinha), o pai estava livre para ir
embora e procurar outras fêmeas para procriar.

É daí que vem a chamada crise dos 7 anos. Esse é o período necessário para que uma criança se
torne minimamente independente. Um estudo da ONU revelou que o número de separações vai
aumentando a partir do 3o ano dos relacionamentos e atinge o pico no 7o ano - quando começa a
declinar. Ou seja: o 7o ano realmente é a hora da verdade da relação. No filme O Pecado Mora ao
Lado, de 1955, Marilyn Monroe faz o papel de uma mulher que se relaciona com um homem casado.
Sabe qual é o nome original do filme, em inglês? The Seven Year Itch, ou "A Coceira dos 7 Anos".
Porque é justamente nesse momento que a relação está mais ameaçada - pela comichão de trair.

As estatísticas variam, mas entre 50 e 60% dos homens têm sexo fora do casamento, contra 45 a
55% das mulheres. O aumento da infidelidade tem a ver com a independência delas, que já são quase
metade da força de trabalho e estão diminuindo rapidamente a distância financeira para os homens
(nos EUA, 22% das esposas já ganham mais do que os maridos). Mas as raízes disso estão dentro do
cérebro. Lembra-se de quando dissemos, na primeira reportagem desta série, que os sistemas
cerebrais (luxúria, paixão/amor e ligação) eram independentes? Isso tem um motivo - e não é
complicar os relacionamentos. Pelo contrário: surgiu para que nossos ancestrais pudessem buscar
estratégias reprodutivas diferentes. A mulher poderia ter um parceiro para protegê-la enquanto
gerava os filhos de outro, enquanto o homem poderia espalhar seus genes alegremente por aí, com
outras mulheres. A natureza não queria o ideal romântico de amor eterno. Ela queria que tivéssemos
um backup reprodutivo, um plano B genético, e nos meteu nessa confusão.

E as circunstâncias também influem: na hora de decidir trair ou não, a relação do casal, a


insatisfação com o parceiro, a oportunidade, tudo isso pesa.

Mas muita gente tem os genes, os hormônios, todas as oportunidades do mundo, e não trai. Nós não
somos robôs biológicos. É possível resistir ao desejo de trair. Mas é muito mais difícil resistir a outro
fenômeno, igualmente destrutivo para os relacionamentos: o ciúme. O mais engraçado é que esse
monstro de olhos verdes, como chamou Shakespeare, surgiu com o objetivo oposto - preservar a
relação monogâmica. Ao primeiro sinal de infidelidade, soa o alarme e a pessoa fica atenta. E, como
homens e mulheres desenvolveram estratégias distintas de reprodução, também sentem ciúmes de
coisas diferentes.

Como para o homem é muito dispendioso criar o filho de outro homem, ele sente mais ciúmes da
infidelidade sexual. Já para a mulher, não faria tanta diferença se o homem distribuísse apenas
esperma para as moças por aí; a grande ameaça é o envolvimento emocional, que coloca em risco a
proteção e o cuidado que o homem dá a ela e aos filhos.

Em 2006, o neurologista japonês Hidehiko Takahashi fez exames de ressonância magnética no


cérebro de homens e mulheres que comprovaram essas diferenças. Quando sente ciúmes, o homem
usa partes do cérebro ligadas a comportamentos agressivos e sexuais, como a amígdala e o
hipotálamo. Já nas mulheres, a área mais ativada durante as crises de ciúme é o sulco temporal
posterior superior, associado à percepção de emoções nas outras pessoas.

E a internet está piorando o ciúme. Uma pesquisa feita por psicólogos canadenses com 308
voluntários descobriu que as redes sociais, como Orkut e Facebook, alimentam o ciúme. Sabe por
quê? Nada menos do que 74,6% das pessoas adicionam ex-namorados ou rolos como amigos nessas
redes - que depois o cônjuge atual vai fuçar atrás de indícios.

Com ou sem ciúme, a verdade é que boa parte dos relacionamentos está destinada a acabar. E esse
momento pode ser muito difícil. "A natureza realmente exagerou no que diz respeito ao fim dos
relaciomentos", diz Helen Fisher. Quando uma pessoa é abandonada, sua reação se divide em duas
fases. A 1a é o protesto. É quando a a pessoa fica fazendo promessas, doida para reatar. Isso pode ser
muito inconveniente. Mas ela não tem culpa. É o corpo agindo. "O cérebro estava acostumado com
aquela recompensa [a pessoa amada], então faz você insistir mais e mais para tentar consegui-la de
novo", explica a neurologista Suzana Herculano-Houzel. O pânico de ver que não está dando certo
pode acionar o sistema de estresse do organismo, que por sua vez estimula novamente a produção de
dopamina - ironicamente, fazendo a pessoa se sentir ainda mais apaixonada.

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Depois vem a 2a fase: aceitação. Depois de ver que o amado não irá mesmo voltar, muita coisa pode
passar pela cabeça da pessoa - depressão, confusão, frustração. Até mesmo ódio. Mas por que sentir
algo tão ruim por alguém que se amou? É que o ódio e o amor passam pelas mesmas partes do
cérebro - a ínsula e o putâmen. "A diferença entre os dois é que, no ódio, existe mais capacidade de
planejar as ações. No amor, o julgamento está prejudicado", diz o neurologista Semir Zeki, da
University College London. Então o ódio é mais racional que o amor? Não necessariamente. Mas ele
tem sua função: é uma defesa do organismo para nos fazer seguir em frente. Em vez de ficarmos
remoendo eternamente as dores, passamos a não querer mais ver a pessoa. "Assim como o cérebro
associava coisas positivas a uma pessoa, ele pode passar a associar só sentimentos ruins, negativos",
diz Suzana Herculano-Houzel. Todos nós sofremos e fazemos sofrer. E, se isso servir de consolo, as
celebridades também se separam e sofrem, talvez até mais do que as pessoas comuns. Já ficou
famosa a chamada "maldição do Oscar", que atingiria as vencedoras do Oscar de melhor atriz. Nos
últimos 12 anos, apenas duas atrizes não se divorciaram após ganhar o Oscar. E logo após o prêmio
deste ano, o marido da vencedora, Sandra Bullock, foi pego tendo um caso extraconjugal.

Tem gente que mata (e se mata) por amor. Mas a maioria das pessoas supera as dores emocionais da
separação. Um estudo feito pela Universidade Northwestern mostrou que terminar uma relação não é
tão ruim quanto pensamos que vai ser - geralmente leva metade do tempo que achamos. Isso
acontece porque a mente tende a voltar a seu estado inicial: cientistas da Universidade de
Massachusetts provaram que, após um ano, as pessoas que ganham na loteria apresentam os mesmos
níveis de felicidade que as que se tornam tetraplégicas. Ambas voltam aos níveis de felicidade que
tinham antes do fato extraordinário. E a melhor coisa para curar um coração partido é começar outro
relacionamento. Disso você já sabe. Releia a primeira reportagem desta série, levante a cabeça,
sacuda a poeira, vá à luta. Se não há bem que não se acabe, também não há mal que sempre dure.
Força na peruca!

CERCADOS POR DARWIN


O adultério ajudou na evolução da espécie: é um plano B da natureza para que homens e mulheres possam buscar
estratégias evolutivas diferentes.

DE SOLA
Após estudar 144 homens e mulheres recém-separados, a Universidade do Colorado comprovou: quem leva o pé na
bunda sofre mais. O curioso é que a pessoa sofre mesmo se já estivesse infeliz na relação - e pode até se reapaixonar
por quem a chutou.

A VIDA CONTINUA
Num estudo da North-Western, que acompanhou a vida amorosa de 70 universitários, a recuperação pós-rompimento
levou em média 10 semanas - metade do tempo que os recém-separados esperavam.

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