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Organização: Apoios: Apoios
Universidade
de Coimbra
transversalidades
fotografia sem fronteiras
2018
6 Geografias Efémeras:
as imagens e o lugar, o lugar das imagens
Rui Jacinto
tema 1
património natural, paisagens
e biodiversidade tema 2
espaços rurais, agricultura
20 Prémio tema
e povoamento
26 Alterações e riscos climáticos e seus efeitos
Ana Monteiro
68 Prémio tema
88 Fotografias a concurso
índice
tema 3
cidade e processos de urbanização
164 Transversalizando:
contribuição para um diálogo de saberes
Carlos Walter Porto-Gonçalves
197 Legendas
Geografias Efémeras:
as imagens e o lugar, o lugar das imagens
Rui Jacinto *
A verdadeira (r)evolução imagética a que se tem as- certos lugares invisíveis acabam por produzir algumas
sistido, nem sempre acompanhada duma adequada imagens icónicas, que se confundem com tais lugares,
literacia visual, é correlativa duma profunda mudança os passam a identificar e a que ficam perenemente
na relação que passámos a ter com a imagem e na ligadas.
maneira como esta interferiu e influenciou a nossa
perceção dos territórios. A permanente exposição a As imagens, como os demais documentos visuais,
um caudal vertiginoso de imagens, reais e virtuais, sobretudo os (foto)gráficos e os cartográficos, são pro-
verdadeiras ou nem tanto, alterou a noção de espaço duzidas por instrumentos cada vez mais sofisticados.
e de tempo, induziu novos mapas mentais, mudou a A cartografia, um dos métodos expeditos de represen-
cultura territorial e, portanto, o modo como lemos e tar os territórios, foi perdendo antigos pergaminhos
interpretamos os espaços que nos rodeiam, isto é, o até sucumbir perante as “abstrações da cartografia
nosso entendimento da geografia. automática ou ao traço esquemático”, abandonando a
pretensão de ser uma “ambiciosa obra-prima expres-
A fotografia vai resistindo a esta compressão do siva do esboço regional”1. Foi longo o caminho desde
espaço e do tempo como sobreviveu à morte que lhe que o homem começou a desenhar nas cavernas, a
foi anunciada com o advento das imagens em movi- fazer esquissos e croquis, ao correr da pena, duran-
mento. As imagens fixas encerram propriedades que te uma qualquer viagem, a pintar e, finalmente, a
perpetuam na memória pessoas e lugares, subtrain- fotografar, quando em plena revolução industrial se
do-os à voracidade do tempo e prolongando a sua re- aperfeiçoou a mecânica, a ótica e a química. A subse-
confortante presença, particularmente nos momentos quente mudança tecnológica, ao permitir a captação
mais pesados e nostálgicos de perda e ausência. As remota de imagens, massiva e automatizada, reduziu
imagens espelham, ainda, diferentes modos de ver a participação humana e substituiu os aviões por saté-
e de estar no mundo: os geógrafos expressam tais lites nestes processos. Se o detalhe alcançado relegou
representações através de mapas, os escritores (des) as saudosas fotografias aéreas para os arquivos, o
escrevem paisagens literárias nas páginas de suas nível de precisão da georreferenciação irá permitir
ficções, os pintores exprimem a sua visão quando navegar com maior facilidade até aos lugares mais
dão cor aos desenhos que esboçam sobre as telas. Os recônditos do planeta.
fotógrafos, com as suas câmaras, andam há mais de
século e meio a escrever com a luz, a retirar do anoni- A digitalização, que se esconde sob o manto frio e ri-
mato os lugares que os seus olhos conseguem alcan- goroso da matemática, responsável por uma verdadei-
çam. Ao eternizarem algumas paisagens esquecidas e ra revolução conceptual, acabou por democratizar a
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produção e o consumo de imagens, generalizar a sua aos de índole numérica (série estatística) ou visual
captação, emissão e receção em tempo real, primeiro (mapa, fotografia, etc.), são inestimáveis contributos
passo para uma monitorização constante onde nos que nos permitem restituir o passado, revelar aspetos
deixámos mergulhar. Esta permanente e fluida inte- invisíveis, escondidos ou condensar uma determinada
ração que mantemos com a fotografia, a exemplo do situação (Fremont, 1980: 97).
que aconteceu com outras artes, já levou a considerar
que “a imagem empírica virtual vem de qualquer es- O repositório fotográfico captado desde a invenção da
paço e de qualquer tempo, inserindo-se em qualquer fotografia é um inquestionável património visual ao
contexto, dela emana o Presente único, que concentra dispor das comunidades. A capacidade deste legado
todas as dimensões do tempo (a arte contemporânea em exorcizar tempos e espaços e tecer afetos que
pode utilizar toda a espécie de imagens da história alimentam e sedimentam o sentimento de pertença a
da arte). A desterritorialização das imagens permitiu um dado território, são importantes ativos a valorizar
esta abertura indefinida da obra de arte contemporâ- no reforço da identidade das pessoas e dos lugares.
nea, e é a condição para que se possa conectar com O empenho crescente em torno do estudo e da
qualquer outra sem criar um contexto novo definidor divulgação da fotografia, bem como da sua recolha,
(um território). No fundo, porque pode pertencer a conservação e arquivo, não decorre apenas do seu
um qualquer contexto, a imagem contemporânea valor artístico nem da sua importância documental.
é definitivamente sem contexto, desterritorializada Tal justificação não reside, unicamente, no facto de
(como se vê bem, por exemplo, nos retratos fotográfi- serem verdadeiras testemunhas para memória futura,
cos, ou na arquitectura – exemplos, a Casa da Musica, de revelarem facetas menos conhecidas da história
do Porto, de Rem Koolhas ou o Museu Guggenheim, dos lugares ou de sociabilizarem informação, dispersa
de Bilbao, de Frank Gerhy)”. Refere ainda o mesmo sobre diversos contextos territoriais, mas no suple-
autor que “uma especificidade dessa imagem é que mento de alma que aportam à reabilitação da autoes-
não reenvia para nenhuma outra imagem nem para tima, quase sempre debilitada, das comunidades mais
si própria, para nenhum referente (como a imagem fragilizadas.
da arte moderna), para nenhum sentido escondido,
para nenhum invisível. O seu sentido vai concentrar-se Além dos múltiplos discursos que permite sustentar,
inteiramente na sua presença empírica e esgotar-se o património visual é, como referido, um importante
na evidência dessa presença” 2. tónico para a reconstrução do percurso identitário
de pessoas e lugares. Tais imagens, embora estáticas
A compreensão da nossa relação com o espaço vivido e datadas, portanto, representativas dum determi-
exige meios, ferramentas e documentos que nos nado passado, além de desocultarem facetas menos
habilitem a interpretar as suas múltiplas interdepen- conhecidas da história, estimulam a afirmação da
dências. A palavra e a observação, fundamentais no cidadania na justa medida em que podem ttser base
trabalho de campo, precisam ser complementadas e pretexto refletir sobre os caminhos do futuro, onde
com documentos de natureza variada, que sejam as comunidades se empenham sobretudo em tempos
verdadeiros elementos de intermediação “entre o de maior angústia e incerteza. A fotografia encerra a
investigador e uma certa realidade a descobrir”. Os capacidade de estimular diferentes diálogos, com be-
documentos, embora “não sendo a realidade acaba nefícios recíprocos, tanto entre pessoas e territórios
por a transcrever e refletir”, da simples narrativa (texto) como áreas disciplinares. Ao estimular estes exercícios
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duma geografia poética, imagética e, porventura, ima- também uma imagem. Entre os homens e o espaço
ginada, não deixa de ser um importante impulso para em que vivem, uma das relações mais fundamentais
uma geografia da esperança que urge inventar. é a da percepção, do comportamento psicológico em
relação a um espaço vivido. (…) Os mecanismos da
O lugar das imagens, por tudo isto, não se pode confi- aculturação e da alienação impõem aos homens uma
nar aos museus e aos arquivos, mas extravasar para o certa imagem dos lugares onde vivem, do seu espaço,
espaço publico e interagir com a comunidade. A aten- da sua região. E essa imagem, aceite, recalcada ou
ção que merece a defesa e a divulgação do património recusada, constitui um elemento essencial das combi-
fotográfico, local e regional, é tanto mais importante nações regionais, o laço psicológico do homem com o
quanto, “em última instância, o espaço regional é espaço” (Fremont, 1980: 109).
1 Armand Fremont, 1980 (1976). A Região Espaço Vivido. Coimbra, Almedina, pp: 102.
2 José Gil, 2018. Caos e ritmo. Relógio d’ Água, Lisboa, pp: 410.
74.3.1.JPG Atrem Tikhonkov, Ucrânia | Galaxy on wheels | Europa (Ucrânia), 2018 (1)*
12
74.3.2.JPG Atrem Tikhonkov, Ucrânia | In the lower world | Europa (Ucrânia), 2018 (2)*
13
74.3.4.JPG Atrem Tikhonkov, Ucrânia | Miracle boy | Europa (Ucrânia), 2018 (3)*
14
74.3.6.JPG Atrem Tikhonkov, Ucrânia | You and me | Europa (Ucrânia), 2018 (5)*
16 Atrem Tikhonkov
Ucrânia
Window into the time
74.3.3.JPG Europa (Ucrânia), 2018 (6)*
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tema 1
20 prémio tema 1
187.1.1.JPG Alberto Picco, Portugal | Vestígios_de_Fronteira | Beira Baixa (Portugal), 2015 (7)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
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187.1.2.JPG Alberto Picco, Portugal | Vestígios_de_Fronteira | Beira Baixa (Portugal), 2015 (8)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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187.1.3.JPG Alberto Picco, Portugal | Vestígios_de_Fronteira | Beira Baixa (Portugal), 2015 (9)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
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187.1.4.JPG Alberto Picco, Portugal | Vestígios_de_Fronteira | Beira Baixa (Portugal), 2015 (10)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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187.1.5.JPG Alberto Picco, Portugal | Vestígios_de_Fronteira | Beira Baixa (Portugal), 2015 (11)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
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187.1.6.JPG Alberto Picco, Portugal | Vestígios_de_Fronteira | Beira Baixa (Portugal), 2015 (12)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
Estamos prestes a iniciar a terceira década do sé- e os riscos climáticos nos nossos dias obriga a regular
culo XXI e continuamos a andar em círculo à volta este trânsito, parar e estacionar, sair para o ar livre e
do conhecimento sobre os riscos que as alterações observar a bolha atmosférica em que estamos envol-
climáticas significaram nas últimas quatro décadas, vidos, discriminar a realidade das sombras e aliviar o
continuam a expressar hoje e podem vir a revelar no caminho dos obstáculos que nos embaraçam, confun-
futuro próximo. E porquê? Porque em toda a narrativa dem e baralham.
sobre este assunto faltou constantemente o marco
geodésico. Parqueemos então a mente para refletir um pouco.
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tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
saram a desenhar-se com um pano de fundo em que A escala espacial no discurso sobre o sistema
o conforto bioclimático é o da homotermia e ausência climático
de precipitação.
Uma boa parte do tumulto em torno dos comporta-
A variabilidade estacional deixou de marcar até a nos- mentos do sistema climático resulta da escala espacial
sa alimentação porque o cabaz pode ser o que pre- de abordagem preferida – a escala global.
tendermos já que temos disponível o que quisermos
ainda que importado do outro hemisfério. Esta narrativa à escala global sobre um sistema que
é caótico, é absolutamente ineficaz porque dificulta a
Assim, sem necessidade de observação para (sobre) compreensão da lógica dos estímulo-resposta.
viver e com a crescente ilusão de superioridade dos
seres humanos sobre o ecossistema graças à inovação O que podemos fazer para atenuar estas perdas e
tecnológica e à crença no poder ilimitado da ciência, danos? Se adotarmos outro comportamento temos
a vulnerabilidade da espécie relativamente ao sistema alguma garantia que este ou aquele episódio extremo
climático aumentou exponencialmente. não volta a suceder? Qual é o peso da nossa mudança
de atitude individual na resposta do sistema climático à
Construímos os espaços onde vivemos independen- escala global?
temente dos contextos climáticos locais e esperamos
que a ciência e a técnica encontrem soluções para nos Estas perguntas não têm resposta. No sistema climá-
devolver o conforto que queremos e, muitas vezes, o tico não há nenhuma garantia que se “nos portarmos
que nos é indispensável para garantir a saúde. bem, ele vai tratar-nos como queremos”. Provavel-
mente não, não vai.
A surpresa com os estados de tempo indesejados é cada
vez mais frequente e a memorização climatológica Então, é preciso compreender que estamos perante
passou a seguir caminhos ínvios que uma consulta um sistema aberto que troca energia e massa com o
rápida ao diagrama termopluviométrico podia ajudar exterior e que, como qualquer outro sistema, procura
a explicar muito rapidamente. afastar-se o mais possível do estado de entropia total
(desorganização).
Por isso, bombardeados pelas notícias alarmantes
sobre o Aquecimento Global, o desaparecimento dos Sem a motivação dada pela recompensa, como é
ursos polares, o degelo dos glaciares, o aumento do que podemos mobilizar os seres humanos a procu-
buraco na camada do ozono, a maior frequência de rarem conviver de modo mais harmonioso com o
extremos de temperatura, a desorganização das esta- seu sistema climático? Mudando a escala espacial de
ções do ano, etc., os seres humanos sentem-se preo- abordagem.
cupados, mas, não percebendo a mecânica do sistema
climático, consideram-se totalmente impotentes para À escala local é pedagogicamente fácil mostrar os
evitar estes desfechos indesejáveis. resultados provocados pelas escolhas das peças do
puzzle com que reconstruimos artificialmente os espa-
ços em que vivemos -materiais, volumetrias, grau de
impermeabilização, peso de mosaicos de água, propor-
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transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
ção de espaços verdes, emissões gasosas, atividades, Se adotarmos esta definição e recordarmos a maioria
número de pessoas, etc.- no sistema climático local. dos riscos climáticos com que temos sido confronta-
dos nos últimos anos, somos levados a perguntar se
À escala local podemos experimentar soluções di- o foco não tem sido dirigido demasiadamente para
ferentes e avaliar rapidamente as consequências no o comportamento dos elementos climáticos e muito
conforto bioclimático indoor e outdoor. Os custos da menos do que devia para a vulnerabilidade.
mudança e da experimentação são menores e contri-
buem para aprender a mecânica do sistema climático. Sabendo que o sistema climático é intrinsecamente
variável, fará sentido esperar um comportamento da
E, como, segundo a Teoria Geral e Sistemas, estamos temperatura, da precipitação ou do vento próximo da
perante uma cascata de soluções top-down e bottom- normal climatológica? Não. Esse valor na maioria dos
-up, o sentido da intervenção é indiferente para o casos nem coincide com algum dos registos. Então
resultado final. E o resultado final que nos interessa como definimos uma variação plausível de uma ex-
como espécie é a combinação termo-higro-anemomé- cecional? Em suma, quando é que podemos científica
trica e de composição química da baixa atmosfera que e legitimamente culpar o clima pelas perdas e danos
nos garante a sobrevivência. resultantes de temperaturas extremas, precipitações
intensas, secas ou ventos fortes?
Como o discurso mediatizado até agora tem sido re-
correntemente à escala global e pulverizado com toda A investigação científica tem produzido evidência
a controvérsia inerente à investigação científica, o ser neste domínio temático que ajuda a encontrar alguns
humano comum, o planeador e o decisor político, preo- limiares de variabilidade para cada lugar, mas verifica-
cupa-se, apoquenta-se, mas continua muito pouco es- mos que a maioria das perdas e danos resultantes dos
clarecido sobre os custos-benefícios se enveredar por riscos climáticos decorrem muito mais do incremento
outros paradigmas de qualidade de vida e bem-estar. da vulnerabilidade do que da excecionalidade. Mais,
parece muito mais eficaz agir sobre as vulnerabilida-
Por tudo isto, a trajetória mais expedita nesta temáti- des do que sobre o sistema climático.
ca dos riscos climáticos passará por adotarmos uma
perspetiva bottom-up em detrimento da vigente top- Assim, neste domínio onde tem predominado no pla-
down e uma práxis de adaptação em vez de combate. neta o que Alexandre O’Neill descrevia no País Relativo
como um “.... país engravatado todo o ano e a assoar-
se na gravata por engano...” (O’Neill, 1965), parece
Excecionalidade e normalidade em climatologia que começa a ficar muito claro como é urgente definir
novos marcos geodésicos, acreditar na importância
Apesar das múltiplas definições sobre risco e conse- das combinações locais people & place, das soluções
quentemente sobre risco climático, talvez seja preferí- à medida e das lógicas da economia circular que nos
vel simplificarmos. O risco climático que nos importa é podem permitir retirar alguns sinais de trânsito a que
aquele que provoca perdas e danos. Então, basta-nos nos habituamos mas que não têm passado de obstá-
a equação simples R=ExV em que R significa o risco, E culos à construção de vidas saudáveis e felizes.
traduz o evento climático e V a vulnerabilidade.
30 menção honrosa
11.1.1.jpg Yuri Pritisk, Rússia | The sitting baby and the lady with a carriage | Crimea (Rússia), 2016 (13)*
11.1.2.jpg Sphinx | Crimea (Rússia), 2016 (14)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
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11.1.5.jpg Yuri Pritisk, Rússia | Baby mammoth and Mouse | Crimea (Rússia), 2016 (17)*
11.1.6.jpg The aged man in a cloak | Crimea (Rússia), 2017 (18)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
menção honrosa 33
240.1.1.jpg Patrícia Naré Agostinho, Portugal | Relevos # 1 | Praia da Galé, Melides (Portugal), 2015 (19)*
240.1.2 .jpg Relevos # 2 | Praia da Galé, Melides (Portugal), 2017 (20)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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240.1.4.jpg Patrícia Naré Agostinho, Portugal | Relevos #4 | Dunas da Cresmina (Portugal), 2017 (21)*
240.1.5.jpg Relevos #5 | Dunas da Cresmina (Portugal), 2017 (22)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
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240.1.3.jpg Patrícia Naré Agostinho, Portugal | Relevos #3 | Praia da Galé, Melides (Portugal), 2017 (23)*
240.1.6.jpg Relevos #6 | Praia do Barril (Portugal), 2017 (24)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
36 menção honrosa
91.1.2.jpg José Carlos Nero, Portugal | As árvores sem nome #2 | Castelo Branco (Portugal), 2017 (25)*
91.1.4.jpg As árvores sem nome #4 | Castelo Branco (Portugal), 2017 (26)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
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91.1.1.jpg José Carlos Nero, Portugal | As árvores sem nome #1 | Castelo Branco (Portugal), 2017 (27)*
91.1.3.jpg As árvores sem nome #3 | Castelo Branco (Portugal), 2017 (28)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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91.1.5.jpg José Carlos Nero, Portugal | As árvores sem nome #5 | Castelo Branco (Portugal), 2017 (29)*
91.1.6.jpg As árvores sem nome #6 | Castelo Branco (Portugal), 2014 (30)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
menção honrosa 39
140.1.1.jpg João Pedro Costa, Portugal | Apanha de Percebes # 01 | Vila do Bispo (Portugal), 2017 (31)*
140.1.4.jpg Apanha de Percebes # 04 | Vila do Bispo (Portugal), 2018 (32)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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140.1.2.jpg João Pedro Costa, Portugal | Apanha de Percebes # 02 | Aljezur (Portugal), 2017 (33)*
140.1.3.jpg Apanha de Percebes # 03 | Aljezur (Portugal), 2017 (34)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
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140.1.5.jpg João Pedro Costa, Portugal | Apanha de Percebes # 05 | Vila do Bispo (Portugal), 2018 (35)*
140.1.6.jpg Apanha de Percebes # 06 | Vila do Bispo (Portugal), 2018 (36)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
Sobre cidades e espelhos: à guisa de introdução. Val- E assim o fazem incorporando muitas vezes paisagens
drada, uma das “cidades invisíveis” de Calvino (1990), naturais - concebidas por planejadores, Estado e
fora construída pelos antigos à beira de um lago. empreendedores urbanos - como sendo verdadeiros
Essa sua condição impressionava os visitantes que, patrimônios e partes de suas histórias.
ao chegarem a ela, deparavam-se, na verdade, não
com uma, mas com duas cidades: a primeira, emersa, Em razão disso, desenham-se novas imagens para
às margens do lago; a segunda, submersa, a imagem elas, incorporando-se os “espelhos d’água” naturais
da primeira refletida de forma invertida nas águas. existentes em suas margens. Prevalece, com isso,
Para as pessoas que ali viviam, a Valdrada espelhada o princípio da reflexividade, por meio do qual uma
nas águas, mesmo que de cabeça para baixo, era, cidade tem melhores performances quando se vê re-
como em uma fotografia, a imagem da cidade que se fletida em seu próprio espelho, operando-se, a partir
queria repassar para os que nela não habitavam; daí disso, uma reduplicação espetacular: “para que exista
a intenção de sempre fazê-la espetacular. Esta cons- patrimônio reconhecível, é preciso que ele possa ser
ciência, todavia, impedia que seus moradores, mesmo gerado, que uma sociedade se veja no espelho de si
que por um só instante, deixassem-se abandonar ao mesma, que considere seus locais, seus objetos, seus
acaso e passassem a viver mais espontaneamente, tal monumentos reflexos inteligíveis de sua história e de
a preocupação que tinham com as imagens a serem sua cultura” (JEUDY, 2005, p. 19).
projetadas.
No mundo de hoje um anseio semelhante se faz per- Da reflexividade às paisagens. No jogo de reflexivida-
ceber em cidades que buscam, por meio de políticas de, em que a natureza também é envolvida, as novas
urbanas, tornarem-se competitivas. Neste caso, o paisagens a serem definidas tornam-se fundamentais.
espetáculo proporcionado é marcado por contrastes Para além da estética e da moldura que os mares, rios
e cisões, um atributo recorrente da vida cotidiana dita e lagos proporcionam, acrescentam-se nelas equipa-
moderna, na qual “o mais comum é que a consciência mentos de turismo, de lazer, de comércio e de consu-
do espectador passe do real ao imaginário, evadindo- mo em geral. Algumas experiências convertem-se em
se nas imagens do fascínio de uma outra vida que intervenções urbanísticas esteticamente arrojadas,
lhe é inacessível” (NUNES, 2009, p. 45). É dessa forma conformando cenários atrativos e sofisticados do pon-
que cidades contemporâneas parecem replicar, pelos to de vista do desenho, da arquitetura, das funções e
quatro cantos do mundo, a Valdrada de Calvino (1990). dos valores urbanos. Tornam-se, na verdade, Grandes
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tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
Projetos Urbanos (GPUs), caracterizados menos pelo local e regional que ainda acontece em vários cantos
tamanho físico apresentado que pela complexidade do planeta, como se vê no interior da Amazônia. Isso
assumida diante da realidade local (BOURDIN, 2006). porque o sentido que a natureza assume ao longo da
existência humana tem mudado substancialmente
Isso é o que verdadeiramente acontece com algumas com o tempo. Por isso, talvez seja mais prudente
cidades banhadas por importantes cursos fluviais e la- falarmos de paisagem natural em vez de natureza, a
gos, localizadas em vários pontos do planeta, onde os menos que concebamos esta última como uma natu-
GPUs ganham a forma de waterfront, como o Puerto reza segunda, distante, portanto, do espaço natural
Madero, às margens do Rio da Prata, em Buenos Aires de outrora.
(Argentina); a Expo 98, às margens do belo Tejo, em
Lisboa (Portugal); a HafenCity, no Rio Elba, em Ham- Como paisagem, entendemos, à maneira de Santos
burgo (Alemanha); a Docklands, no famoso Tâmisa, (1991), o conjunto de objetos e formas natural ou ar-
em Londres (Inglaterra); o Warterfront Toronto, no tificialmente criadas, resultantes de uma acumulação
grande lago Ontário, na cidade de Toronto (Canadá); de tempos no espaço, cuja apreensão nos é dada
e a Estação das Docas, na Baía fluvial de Guajará, na sensorialmente quando entramos em contato com
região amazônica, em Belém (Brasil). contornos espaciais, texturas, volumes, sons, cores,
odores etc. Para além do que os sentidos captam,
Não se trata, portanto, de um modelo de urbanização entretanto, as paisagens são governadas por relações
confinado a determinados países ou regiões. Pelo que elas apenas, como em uma fotografia, encarre-
contrário, aproxima-se muito mais da ideia de “urbani- gam-se de exteriorizar. Por isso, ao menor descuido,
zação planetária” (LEFEBVRE, 2014), caracterizada pela podem ser enganosas; menos em razão delas
padronização e homogeneização de paisagens, mas, mesmas, e mais em decorrência das maneiras pelas
igualmente e fundamentalmente, pela difusão gene- quais nós as apreendemos, se, por qualquer motivo,
ralizada de valores urbanos. Tais valores se estendem desconsideramos as relações que lhes dão sentido.
a diferentes pontos do planeta, seja por meio de uma Nesse sentido, deve-se ler as paisagens como se leem
urbanização mais difusa e pontual, seja através de as fotografias, acompanhadas de suas histórias, de
grandes aglomerações, que incluem espaços reconhe- suas narrativas, de suas relações.
cidamente dinâmicos do ponto de vista econômico,
mas que também alcançam realidades mais longe
desses epicentros da economia mundial, a exemplo da Das paisagens aos espaços. Em se tratando de pai-
floresta amazônica (SOJA, 2013). sagens fluviais, seguindo as mesmas reflexões de
Santos (1991), elas não têm nada de fixo e de imóvel. À
Considerando a importância do componente natural semelhança da “sociedade urbana” (LEFEBVRE, 2014)
que muitas vezes constitui essas novas paisagens que as define hoje, inserem-se em um mundo em
urbanas, cabe perguntar: de que natureza se está a movimento; daí se transformarem continuamente
falar? Evidentemente que os “espelhos d’água” não para se adaptarem às novas necessidades dessa
nos remetem a uma natureza intocada do passado, mesma sociedade, dela sendo inseparável, sempre a
mesmo que assim o pretendam; nem, tampouco, à compor os espaços que são produzidos socialmente.
natureza de múltiplas e intensas relações com a vida Estes, por sua vez, são bem mais que as paisagens
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transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
que os exteriorizam. Para Santos (1991), o espaço, dos “espaços de representação” de que nos fala Lefe-
nada mais é do que um casamento entre a paisagem bvre (2000), com simbolismos, experiências cotidianas
e a sociedade, sendo ipso facto uma forma-conteúdo. e imaginários, e, por isso, mostram-se intensamente
Nessa condição, os objetos materiais que o formam, imbricados à vida humana.
arranjados em forma de paisagem, não trazem em
si mesmos explicações; estas requerem articulações Mesmo que a presença do waterfront componha hoje
dos objetos com os processos que lhe ocasionaram também a paisagem amazônica, ainda é possível se
(SANTOS, 1991, p. 40). falar, do ponto de vista regional, de relações horizon-
tais, organicamente solidárias (SANTOS, 1996), de
Destarte, as paisagens fluviais que compõem os proximidades, portanto, entre os indivíduos, e destes
waterfronts, ainda que aparentemente se pretendam com a natureza ainda pouco transformada. Isso não
naturais, nas concepções em que são traçadas no inte- implica em dizer que os rios não são espaços de con-
rior de políticas urbanas, dessa maneira não podem templação. Eles também são, mas nessa função não
ser apreendidas. Isso porque o grau de artificialidade se esgotam, havendo outras a serem consideradas.
com que se inserem no cenário urbano revela a inten- Como vias, possibilitam a circulação de pessoas, que
sidade de processos históricos e sociais que nelas se através deles se comunicam; como fontes de recursos,
projetam, configurando rupturas nas relações que se permitem a alimentação de populações ribeirinhas,
estabelecem entre sociedade e natureza, entre cidade ao mesmo tempo em que saciam sua sede e ajudam a
e rio. fertilizar periodicamente, com a subida de suas águas,
as terras que se encontram às suas margens.
Mesmo que significativas situações de permanência
possam ser ainda reconhecidas, há um certo grau de A estreita proximidade da vida ribeirinha com o rio
negação da natureza nessa relação, uma vez que as confere ao elemento hídrico também, nesse caso,
múltiplas e intensas interações das populações com um uso doméstico rotineiro, prestando-se à limpeza,
os rios tendem a ser desfeitas em decorrência do pró- seja dos objetos, instrumentos e indumentárias de
prio ritmo imposto pela vida urbana, bem diferente do uso cotidiano; seja do corpo e também da alma de
que acontece, por exemplo, em várias comunidades comunidades rurais e de cidades que estão às suas
ribeirinhas do interior da Amazônia, onde a relação margens. Os mergulhos dessas populações nas águas
com o rio adquire certa proximidade, se confrontada de seus rios são representativos de práticas com
com outras realidades. fortes dimensões lúdicas e simbólico-culturais que
os definem como lugares de pertencimento. Deles
Nessa região, em várias situações, o elemento hídrico emergem lendas, mitos, histórias, estórias, tradições,
não é sempre um mero compósito de paisagens a religiosidades, enfim, uma infinita quantidade de
definir um “tableau regional”, aquele cujos gêneros de representações das águas que preenche talvegues,
vida, em caráter mais ou menos duradouro, fazem-se escava leitos, transborda margens, provoca “terras
impressos no solo pelo homem (LA BLACHE, 1946). caídas”, permitindo um rico movimento de erosão e
É possível, portanto, reconhecer realidades particu- sedimentação a definir formas e conteúdos fisiográfi-
larizadas onde os cursos fluviais são mais que isso. cos, sociais, econômicos e culturais.
Revelam-se como dimensões do vivido, como partes
44
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
Das paisagens ribeirinhas às paisagens beira-rio. Não As novas formas espaciais que consagram os water-
raro, no caso amazônico, é a vida ribeirinha que, nas fronts tendem a se distanciar, entretanto, dessa pers-
novas paisagens das cidades reinventadas, busca-se pectiva. Muitas vezes apresentados como espaços
recompor, como em uma volta nostálgica a uma re- públicos, acabam sendo reduzidos a meros espaços
gião do passado ou a uma Amazônia profunda, ainda coletivos, sem usos e apropriações pautados em um
muito presente no interior da floresta. A pretensa princípio de interesse comum e de acesso universal
multidimensionalidade da vida nela expressa, todavia, pleno. Isso porque tendem a conceber novos estilos
parece restrita à função de circulação, ou à de con- de vida diretamente associados às artificialidades e à
templação do “natural”. Dessa maneira, torna o rio um programação da vida urbana, como o lazer citadino,
espaço esvaziado de suas relações múltiplas para os que remete a uma forma de retorno à natureza, mas
citadinos que passam a admirar sua beleza, mas não com forte apelo à artificialidade do mercado e às es-
necessariamente a decifrar sua potencialidade de uso tratégias seletivas de apropriação do espaço.
e de representação sociocultural.
Nessa projeção de uma nova vida urbana, o “direito à
Diante da riqueza de vida e cultura que o rio permite cidade”, nos termos de Lefèbvre (1991), apresenta-se
criar e manter é impossível, entretanto, concebê-lo também como um possível direito ao rio. Diferente-
como simples paisagem desvinculada da vida que mente, entretanto, do que é postulado pelo filósofo
lhe dá sentido, pelo menos se pensarmos realidades francês, que vê naquele direito a possibilidade da
como a amazônica. Nessa região, para as populações liberdade do indivíduo e da plena apropriação e uso
e comunidades enraizadas à cultura da floresta, ele da cidade, destituída de sua condição precípua de
guarda o significado de um patrimônio coletivo. É, mercadoria, o direito à natureza acaba por se con-
por essa razão, um “comum”, no sentido que é dado verter naquilo que o mesmo autor denomina de um
a essa noção por Harvey (2012) e por Dardot e Laval “pseudodireito à cidade”, pois tende a ser apreendido
(2017). tão somente pela estética da paisagem, mutilada e
destituída de suas múltiplas relações com a vida hu-
Para o primeiro autor, a ideia de “comum” decorre mana que lhe dá sentido.
de práticas e de estratégias não mercantilizadas de
gestão estabelecidas ou criadas através de relação
entre um dado grupo e elementos do meio social e/ou Sobre espelhos e cidades: à guisa de conclusão. O
físico, tidos como essenciais para a vida, subsistência e direito à natureza, portanto, tende a entrar para a
benefícios coletivos (HARVEY, 2012). Em complemento, prática social em favor dos lazeres: “a ‘natureza’, ou
os dois últimos autores remetem o seu sentido a um aquilo que é tido como tal, aquilo que dela sobrevive,
princípio político anticapitalista que resguarda objetos torna-se o gueto dos lazeres, o lugar separado do
de naturezas diversas voltados para usos, apropria- gozo, a aposentadoria da ‘criatividade’” (LEFEBVRE,
ções e atividades coletivas dos indivíduos (DARDOT; 1991, p. 116). No caso dos rios, e parafraseando o
LAVAL, 2017). Como “comum”, as águas convertem-se mesmo autor ao se referir à vida camponesa, diríamos
também, naquele caso em particular, em uma espécie que, colonizada pela vida urbana, a paisagem beira-rio
de patrimônio, onde natural e cultural não estão perde as qualidades, propriedades e encantos da vida
separados. ribeirinha.
45
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
Por que isso ocorre? De multidimensional e multifun- waterfront do mundo globalizado, fazem-nos lembrar,
cional, os espaços ribeirinhos tendem a ser reduzidos mais uma vez, a Valdrada de Calvino (1990). Se nas
a apenas uma ou duas de suas funções e dimensões. águas buscam refletir suas imagens, não é com as
Por meio destas confinam-se notadamente aos águas que elas, de fato, buscam interagir e se relacio-
objetos e elementos que as exteriorizam, como uma nar. Nessas cidades, o mais importante não são os
fotografia sem história, uma espécie de cartão postal atos e relações que no seu interior acontecem, mas
a ser visto e admirado. Assim, as paisagens que eram principalmente as imagens límpidas e frias desses
ribeirinhas tendem a ser reduzidas a paisagens locali- atos e relações que nos “espelhos d´água” se proje-
zadas tão somente à beira do rio. tam. Por isso, “as duas Valdradas vivem uma para a
outra, olhando-se nos olhos continuamente, mas sem
Assim reduzidas, as cidades inspiradas no modelo se amar” (CALVINO, 1990, p. 55).
* Doutor em Geografia Humana. Professor Titular do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos – NAEA; Universidade Federal do Pará – UFPA (Brasil).
46
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
48133.1.2.JPG Marcelo Kengo Hayashida, Brasil | O beijo | Puerto Natales (Chile), 2017 (37)*
7.1.1.jpg Dina Teresa Diniz Alenquer, Portugal | Iceberg de gelo azul. Glaciares da Argentina | Patagónia (Argentina), 2017 (38)*
182.1.3.jpg Mohammad Shafai, Irão | Desert Harmony | Isfahan (Irão), 2017 (39)*
182.1.5.jpg Mohammad Shafai, Irão | Eyelash shadow | Isfahan (Irão), 2017 (40)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
93.1.1.jpg Guilherme Haruo Vieira Okano, Brasil | Campos Rupestres | Lapinha da Serra, Santa do Riacho (Brasil), 2016 (41)* 49
103.1.5.JPG Majid Shahbodaghi, Irão | Well mountain | Qeshm (Irão), 2018 (42)*
71.1.3.jpg Leandro Moraes Barbosa Lima, Brasil | Frade Franciscano | Paraúna, Goiás (Brasil), 2018 (43)*
146.1.6.jpg Renato Miguel Casal Nunes Martinho, Portugal | Percorrendo a Fenda | Ruta de Cares, Picos de Europa (Espanha), 2017 (44)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
5013.1.4.jpg Anastasiya Balyasnikova, Rússia | Gold and blue | Elbrus Region (Rússia), 2017 (45)*
99.1.3.jpg Kairo, Brasil | Céu lindo | Brasília (Brasil), 2018 (46)*
12.1.1.jpg Олег Богданов, Rússia | Челябинск | Челябинск (Rússia), 2017 (47)*
138.1.6.jpg Patricia Sánchez Maldonado, Espanha | Vida | Madrid (Espanha), 2017 (48)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
52244.1.1.jpg Luis Márquez Nogales, Espanha | Marismas del Guadalquivir 1 | Sevilla (Espanha), 2018 (53)*
249.1.3.jpg Pedro Henrique Graminha, Brasil | Natureza Agonizante | Torres del Paine (Chile), 2018 (54)*
195.1.1.jpg Jesús Avilés Galán, Espanha | Peñahueca, the end of summer | Peñahueca salt lagoon, Toledo (Espanha), 2017 (55)*
47.1.1.jpg Arseny Morozov, Rússia | Onego | Republic of Karelia (Rússia), 2018 (56)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
150.1.2.JPG Ana Clara Cordeiro Fernandes, Brasil | Simplicidade | Serras em direção a Região dos Lagos, Rio de Janeiro (Brasil), 2016 (57)* 53
160.1.2.jpg Luis Rogério Ramos Sodré, Brasil | Amanhecer na praia | Guaratuba/PR (Brasil), 2017 (58)*
191.1.3.jpg Jacobo Casal Alonso, Espanha | Nearby Iceland | Parque Nacional Peneda-Gerês, Melgaço (Portugal), 2017 (59)*
146.1.5.jpg Renato Miguel Casal Nunes Martinho, Portugal | Inversão Matinal | Asiego, Picos de Europa (Espanha), 2017 (60)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
54137.1.1.jpg José Costa Pinto, Portugal | De dentro para fora | Casmilo, Condeixa-a-Nova, Coimbra (Portugal), 2018 (61)*
40.1.3.JPG Victoria Kudrjavzeva, Rússia | Северный узор | Петрозаводск (Rússia), 2017 (62)*
23.1.1.jpg Éricklis Edson Boito de Souza, Brasil | Cascata do Parque Municipal da Arcângelo Busatto | Rio Grande do Sul (Brasil), 2018 (63)*
245.1.6.JPG Aline Maria do Nascimento, Brasil | Estalactites | Petar, São Paulo (Brasil), 2012 (64)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
117.1.3.jpg Hugo Monterio Santos, Portugal | Fogos Outubro 2017 - III | Alvoco das Várzeas, Oliveira do Hospital (Portugal), 2017 (65)* 55
238.1.5.jpg David Rengel, Espanha | Tears in the Forest | Cambodia (Cambodja), 2014 (66)*
162.1.2.jpg Francisco Manuel Duarte Mendes, Portugal | A desconcertante ausência do Verde no Pinhal d`EL Rei #2 | Pinhal do Rei, Leiria (Portugal), 2017 (67)*
246.1.3.jpg Rui Neto, Portugal | Desolação | Guarda (Portugal), 2017 (68)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
56208.1.1.jpg Larissa Aparecida Marques, Brasil | As colinas | Mauá - SP (Brasil), 2017 (69)*
61.1.2.jpeg Payam Teimouri, Irão | Happy alone2 | Sanandaj (Irão), 2018 (70)*
248.1.1.JPG Ahmed Elsakhawy, Egipto | The natural heritage | Ushguli (Georgia), 2016 (71)*
206.1.2.jpg Luiz Rodolfo Simões Alves, Portugal | Fragments | Pampilhosa da Serra, Serras do Açor (Portugal), 2017 (72)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
231.1.1.JPG Ahmad Aburob, Jordânia | Land of green | Salalah (Oman), 2017 (73)* 57
131.1.2.JPG Isabel Maria Ferreira Daniel Meira, Portugal | Canto da planície | Castro Daire, Alentejo (Portugal), 2017 (74)*
29.1.3.jpg Vladimir Kosarev, Rússia | Over the blue Altai | Altai (Rússia), 2016 (75)*
83.1.6.jpg Felipe Tomás Jiménez Ordóñez, Espanha | Los pulmones de la tierra VI | Campo de Montiel (Espanha), 2017 (76)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
58111.1.2.jpg Abhishek Sharma, Índia | View of Jaipur City | Rajasthan (Índia ), 2017 (77)*
57.1.2.jpg Ali Kasiri, Irão | Camels | Chabahar, Baluchestan (Irão), 2018 (78)*
157.1.6.jpg Maria Pinto, Portugal | Sanábria de branco | Sanábria (Espanha), 2018 (79)*
196.1.2.jpg Daniel Filipe Antunes Santos, Portugal | Indústria de mineração abandonada | Tharsis, Huelva (Espanha), 2017 (80)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
60186.1.5.JPG Laurentino Simão, Portugal | Reflexos de outros tempos | Moinho de Maré, Mourisca, Sado (Portugal), 2014 (85)*
223.1.4.JPG Nuno Martins, Portugal | Praia | Caldas da Rainha (Portugal), 2017 (86)*
123.1.2.JPG Rayhan Ahmed, Bangladesh | Travel | Munshiganj Sadar (Bangladesh), 2018 (87)*
158.1.5.jpg Luísa Serés, Espanha | Peice | Jökursárlón, Höfn (Islândia), 2018 (88)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
34.1.4.JPG Lugovets Victoria, Rússia | The lake in bloom | Altay (Rússia ), 2017 (89)* 61
121.1.2.jpg Natasha Sharma, Índia | The colorful Village | Himachal Pradesh (Índia ), 2017 (90)*
250.1.3.jpg Jhon Garay, Perú | Sembrío | Huánuco (Perú), 2015 (91)*
84.1.1.jpg Erica Satie Dantas Kogiso, Brasil | Shibazakura Festival 1 | Yamanashi-ken (Japão), 2015 (92)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
62126.1.5.jpg Sónia Raquel Neves de Almeida, Portugal | Rasgos de luz | Penalva do Castelo (Portugal), 2017 (93)*
215.1.5.JPG Prabu J, Índia | Nature's best technology ever | Polur (Índia ), 2013 (94)*
153.1.2.jpeg Márcio Filipe Marques da Fonseca, Portugal | S/título | Rio Noéme - Rochoso, Guarda (Portugal), 2018 (95)*
219.1.4.jpg Tria Khelif, Argélia | Jasmine | Ain Tmouchent (Argélia), 2018 (96)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
115.1.1.jpg Késia Oliveira, Brasil | Exótico banquete 1 | Londres (Inglaterra), 2016 (97)* 63
220.1.4.jpg Manuel Adrega, Portugal | Detalhes 04 | Odivelas (Portugal), 2017 (98)*
122.1.1.JPG Caroline de Souza Ferreira, Brasil | Borboletas se acasalando | Guapó, Goiás (Brasil), 2018 (99)*
219.1.1.JPG Tria khelif, Argélia | Flowers beauty | Argélia (Argélia), 2018 (100)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
64179.1.4.jpg Henrique Manuel Ferreira Velez, Portugal | Borboleta | Évora (Portugal), 2018 (101)*
94.1.3.jpg Thiago Zanetti, Brasil | Alimento urbano | Areia (Brasil), 2018 (102)*
118.1.3.jpg Cláudio Alves, Portugal | Prestes a levantar voo | Olival Basto (Portugal), 2018 (103)*
208.1.2.jpg Larissa Aparecida Marques, Brasil | O lagarto simpático | São Paulo - SP (Brasil), 2017 (104)*
tema 1 património natural, paisagens e biodiversidade
77.1.1.jpg Robison de Oliveira Camargo, Brasil | Cor negra | Rancharia - S.P. (Brasil), 2018 (105)* 65
34.1.1.JPG Lugovets Victoria, Rússia | Kazanova | Kamchatka (Rússia), 2016 (106)*
163.1.2.jpg João Aristeu da Rosa, Brasil | Pelicanos | Oceano Pacífico, Atacama (Chile), 2018 (107)*
5.1.4.JPG José António Rodrigues de Almeida Pereira, Cabo Verde | Guincho - Pandion Haliaetus | Baía das Gatas, S. Vicente (Cabo Verde), 2017 (108)*
tema 2
68 prémio tema 2
102.2.1.JPG Sujit Saha, Índia | Tale of Sheliboti River 1 | Medinipur, West Bengal (Índia), 2015 (109)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
69
102.2.2.JPG Sujit Saha, Índia | Tale of Sheliboti River 2 | Medinipur, West Bengal (Índia), 2015 (110)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
70
102.2.3.JPG Sujit Saha, Índia | Tale of Sheliboti River 3 | Medinipur, West Bengal (Índia), 2015 (111)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
71
102.2.4.JPG Sujit Saha, Índia | Tale of Sheliboti River 4 | Medinipur, West Bengal (Índia), 2015 (112)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
72
102.2.5.JPG Sujit Saha, Índia | Tale of Sheliboti River 5 | Medinipur, West Bengal (Índia), 2015 (113)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
73
102.2.6.JPG Sujit Saha, Índia | Tale of Sheliboti River 6 | Medinipur, West Bengal (Índia), 2015 (114)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
A especificidade que encontrávamos, no passado, nas Na maior parte dos países, as áreas rurais correspon-
dinâmicas das áreas rurais e urbanas foi sucessiva- dem a um mundo difícil de integrar nas categorias
mente abalada por episódios que facilmente se con- que têm prevalecido para avaliar os processos de
seguem identificar. Deixaram de ser ambientes sociais desenvolvimento. O produto, medido em unidades
estanques; criaram entre si graus de dependência que monetárias, desce; o emprego definha; a presença de
não mais deixaram de aumentar. Primeiro foi a absor- idosos e reformados amplifica-se nas comunidades
ção de ativos através de um verdadeiro abalroamento locais; e a vulnerabilidade a riscos naturais aumenta.
que o mundo urbano provocou junto dos espaços O fator “escala” faz a sua gradual aparição, entalado
rurais, responsável por um enorme fluxo migratório entre uma elevada capitação das despesas públicas e
que dos campos se dirigiram para as cidades. A este a obrigatoriedade de satisfazer necessidades básicas
anátema sucedeu-se a adoção de dinâmicas empresa- da população presente.
riais inexoráveis que impuseram também o abandono
das atividades destes espaços rurais, após verificarem As profissões agrícolas tornaram-se minoritárias no
que, para o êxito das suas lógicas privadas, a concen- seio dos residentes dos espaços rurais. Mas as aces-
tração urbana seria um fator determinante. sibilidades melhoraram exponencialmente, estimu-
lando a adoção da função residencial. As tecnologias
E com esta evolução nas áreas rurais, foi-se perdendo da informação instalaram-se permitindo a plena
capacidade de produzir riqueza com expressão mer- inserção destes espaços nas redes virtuais, o artesa-
cantil. nato evoluiu com o (re)aproveitamento dos materiais
autóctones, do design e concebendo novas formas de
Os espaços rurais passaram a ser objeto de enormes comercialização e a criatividade social impulsionou
controvérsias, através de reflexões diversas e de novas profissões, relacionadas não só com a produção
propostas, quase sempre de pendor voluntarista, de bens e serviços, como também com a recuperação
mas, na sua maioria, desajustadas às realidades. Estes de atividades ou a introdução de outras ajustadas
espaços eram considerados no passado como fieis a uma procura que, sendo cada vez mais diversa, é
depositários das virtudes sociais; mas foram paulati- também mais exigente.
namente evoluindo para territórios aparentemente
inanimados, embora escondam padrões alternativos e Perante o reconhecimento destas fragilidades, mas
interessantes de desenvolvimento. também das respetivas potencialidades, não tem sido
fácil encontrar soluções que, simultaneamente, valori-
74
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
zem os recursos próprios destes espaços e que deem A agricultura recomeça, por outro lado, também a ser
justificação e coerência às intervenções públicas. entendida como um setor com futuro no âmbito das
áreas rurais. Desvalorizada nos últimos tempos como
A valorização da floresta será uma das opções. Reco- uma atividade menor e limitada na capacidade de
nhece-se que, no caso português, não tem sido fácil incorporar inovação, acusa na atualidade um dinamis-
o reconhecimento da importância que a floresta tem mo que importa sublinhar.
para as suas comunidades e também para o país.
Sem referir a sua expressão em espaços urbanos, Para além das questões de mercado, que limitaram
naturalmente intercalada, e a sua presença nas áreas no passado este setor, deverá reconhecer-se que
protegidas, a floresta é genericamente entendida se trata de uma atividade que predominantemente
como uma componente ambiental maioritariamente beneficia do fluxo de energia solar gratuita que dia-
capturada pelo foro privado, gerando rendimentos riamente recebemos do Sol e que, por efeito do seu
económicos que beneficiam apenas os respetivos aproveitamento, produz plantas alimentares e outras
proprietários. As funções nobres, de carácter am- que respondem as exigências das dietas humanas e
biental, paisagístico e social, desempenhadas pela à produção de inúmeros bens essenciais. O desprezo
floresta são raramente valorizadas pela sociedade. dessa energia gratuita e a consequente redução da
Muitas dessas funções, traduzidas em prestação produção agrícola deveria ser considerado, no mundo
de serviços ambientais não monetarizados, são atual que procura avidamente a sustentabilidade, um
fundamentais à vida das comunidades. A intervenção desperdício injustificável.
reguladora no ciclo da água, a conservação do solo,
a captura de carbono, a manutenção de sistemas É neste cenário que se tem de reconhecer as dinâ-
faunísticos diversificados são algumas das funções micas em curso, desde a multiplicação de mercados
essenciais desempenhadas pela floresta, ainda não locais orientados para a comercialização em natureza
reconhecidas como fundamentais para a preserva- de produtos com características únicas, até a explo-
ção da vida humana. rações tecnologicamente inovadoras e bem dotadas,
integrando práticas ambientalmente exigentes e
A ausência de uma maior proximidade da população garantindo elevados níveis de produtividade. O pa-
com a floresta e a dificuldade de reconhecimento do norama está a alterar-se e, como corolário, a atrair
sistema florestal como regulador da biodiversidade recursos humanos altamente qualificados.
do território, resultam, em Portugal, porventura não
só da reduzida expressão da floresta pública, como Um princípio deverá ser previamente retido. Todos os
também da falta de apropriação coletiva das funções espaços territoriais, sem exceção, têm recursos inte-
essenciais que a floresta cumpre. ressantes passíveis de serem explorados, valorizados,
transformados, comercializados e projetados. A lógica
Paralelamente aos serviços ambientais proporciona- mercantil que expulsou, num primeiro momento, as
dos pela floresta, poderá evocar também as diversas atividades económicas e, num segundo momento, o
componentes relacionados com a paisagem e o lazer, enquadramento público, deverá ser matizada através
aspetos que têm sido igualmente pouco valorizados. de outras lógicas que, não se afastando do mercado e
estabelecendo uma relação amigável com o ambiente,
75
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
se orientem para novos padrões de produção de bens frenesim que pode conduzir a que algumas destas
e serviços e para novos estilos de vida. iniciativas sejam apreendidas como extensões aplica-
das dos percursos formativos dos jovens diplomados,
Um primeiro fator determinante nesta exigente e completando e enriquecendo os períodos de aprendi-
necessária evolução é o conhecimento. Os fatores zagem em sala que tiveram nas escolas e faculdades
tradicionais que explicavam a localização das ativida- do ensino superior.
des estão globalmente obsoletos. A disponibilidade e
produção de conhecimento é a alavanca que permite, Um segundo fator essencial para reconhecer o poten-
na atualidade, organizar e valorizar os territórios e cial destas áreas obriga a que o padrão de desenvol-
captá-los para um padrão de desenvolvimento global. vimento deixe de estar refém da grilheta mercantil.
Não será fácil superar o que tem sido o pensamento
O fluxo de diplomados que saem das instituições de dominante que pretende atribuir valores de mercado
ensino superior é significativo e constitui um excecio- a tudo o que circula e que condiciona as comunidades.
nal veículo para levar o conhecimento aos diversos Mas é fundamental que os benefícicios ambientais,
territórios e às várias atividades. sociais e até económicos sejam identificados tendo
como referência o equilíbrio harmonioso dos ativida-
A criação de unidades de I&D espalhadas pelo ter- des, a resiliência responsável dos recursos e um am-
ritório e vocacionadas para estudarem os recursos biente social enriquecido pelo reforço qualificado das
territoriais específicos corresponde a uma tendência, relações humanas. E esta reorientação terá de estar
ainda pouco disseminada, mas que será determinante fundada em novas estratégias de intervenção pública
na valorização das dinâmicas locais. e de afetação criteriosa dos recursos coletivos.
78 menção honrosa
125.2.1.jpg Alfonso Ferrer Yus, Espanha | Comienza un nuevo día | Pirineo Aragonés (Espanha), 2017 (115)*
125.2.2.jpg Conduciendo el rebaño | Pirineo Aragonés (Espanha), 2017 (116)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
79
125.2.3.jpg Alfonso Ferrer Yus, Espanha | Recogiendo el rebaño | Pirineo Aragonés (Espanha), 2017 (117)*
125.2.5.jpg Un día más en el puerto | Pirineo Aragonés (Espanha), 2017 (118)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
80
125.2.4.jpg Alfonso Ferrer Yus, Espanha | Un buen pastor | Pirineo Aragonés (Espanha), 2017 (119)*
125.2.6.jpg Pirata, el perro | Pirineo Aragonés (Espanha), 2017 (120)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
menção honrosa 81
8.2.2.jpg Budanova Mary, Rússia | Small street | Samara region (Rússia), 2017 (121)*
8.2.3.jpg Neighbour | Samara region (Rússia), 2017 (122)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
82
8.2.1.jpg Budanova Mary, Rússia | Old yard | Samara region (Rússia), 2017 (123)*
8.2.4.jpg Musician | Samara region (Rússia), 2017 (124)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
83
8.2.5.jpg Budanova Mary, Rússia | Work | Samara region (Rússia), 2017 (125)*
8.2.6.jpg Rest | Samara region (Rússia), 2017 (126)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
1. Das representações às dinâmicas: os olhares depois. Imagens analógicas, zoons das máquinas foto-
geográficos sobre as realidades gráficas, álbuns de fotografias parecem obsoletos.
No início dos anos 2000, escrevíamos “geógrafos Em 2017, Rui Jacinto afirmava que “a fotografia peca
têm um olhar muito próprio sobre o mundo que os por se centrar, cada vez mais, na interação com os
cerca: apaixonam-se por povos, culturas, paisagens, gadgets do que com as pessoas e as paisagens que
lugares… Olham as estruturas para desvendar o retrata”, mas, apesar disto, a capacidade de dar
poder que as sociedades têm de criar e transformar visibilidade a territórios e notoriedade a pessoas se
territórios; olham as marcas deixadas nas paisagens mantem intacta.
para enxergar os processos que ali ocorreram. Inter-
pretam os ambientes que os cercam… Geógrafos têm O olhar geográfico é capaz de entrelaçar a multiplici-
a inquietude de estar sempre procurando descobrir dade de escalas e suas contradições: do planeta ou
o novo, ou o velho que pode se transformar e criar dos continentes aos países, da grande Amazônia, sul
novamente algo novo. De pesquisar, de se colocar americana, à brasileira, das metrópoles aos bairros
questões muitas vezes não respondidas, de deco- e destes à sua residência. Meu olhar nas dinâmicas
dificar processos sejam eles sociais, econômicos ou territoriais, no planejamento e gestão ambiental e
naturais. De buscar a compreensão das relações dos territorial fundamenta-se nos referenciais teórico-
seres humanos entre si e com seus territórios, sejam metodológicos das dinâmicas das frentes pioneiras
elas produtivas, sociais, culturais, religiosas. Sejam e do poder político de cada segmento social (Pierre
da natureza que for… De ver o eterno movimento de Monbeig e Claude Raffestin) e na simbiose das ex-
transformar, da vida, da sociedade, das relações. A periências locais, nacional e internacional. Assim, o
cidade lhes encanta, atrai e entristece; o campo apela conhecimento geográfico não dispensa a pesquisa
pela majestade dos grandes espaços ou a beleza da documental, a de campo e a observação direta do que
tradição, e ambos lhes enchem de questionamentos, o se quer conhecer. E, se complementa com registros
inexplicável continua suscitando indagações…” (Mello fotográficos, imagens de satélite, mapas.
& Théry). Mais de uma década depois, esta visão per-
siste, mas as realidades vêm sendo permanentemente Este contraste nos ensina a meditar sobre nossos
visualizadas com imagens digitais, obtidas pelos saté- comportamentos, sobre nossa inserção no país, sobre
lites ou pelos milhões de aparelhos inteligentes que o respeito ao ambiente natural e social.
captam o instantâneo, para ser esquecido segundos
84
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
Por isso, é gratificante ter sido convidada a contribuir destes dois universos, novos sistemas produtivos vêm
com Transversalidades 2018. As fotos selecionadas nos surgindo. Os grandes acreditam no potencial transfor-
presenteiam com magníficas paisagens e nos impul- mador da tecnologia, os pequenos nem sempre tem
siona à sua procura. As imagens da natureza nos fa- acesso a ela, mas isto não impede a velocidade das
zem pequenos, tamanha sua grandeza. Os contrastes transformações nos espaços rurais.
de cores, jogo de luzes, distinção e sombreamentos
nas fotos preto e branco nos permite sonhar. Neste Os problemas mais evidentes e impactantes, muitos
ano, o predomínio de paisagens humanizadas destaca deles advindos da mudança no uso do solo, notada-
as expressões fortes de mulheres trabalhadoras na mente para a agricultura, podem ser sintetizados nas
Índia (Sheliboti River 1 - Sujit Saha), idosos na Rússia (ainda) altas taxas de desmatamento na Amazônia,
e pastor de ovelhas, também idoso, na Espanha, nos poluição hídrica no Pantanal, desertificação no inte-
induz a supor que as dificuldades de sobrevivência, o rior do Nordeste, desabamentos na Serra do Mar e o
sofrimento, marcaram estas pessoas. desflorestamento dos resquícios de Mata Atlântica.
Todos ligados aos processos de ocupação do território
As imagens vencedoras trazem-me à memória flashes brasileiro. As dinâmicas frentes pioneiras para o últi-
da(s) Índia(s) que conheci em 2009 e 2013: o mundo mo bioma brasileiro – a floresta amazônica – possuem
urbano e suas contradições na habitação e na falta de marcadores muito claros: a dinâmica dos fluxos migra-
qualidade de vida nos slums, na forma de produzir o tórios ainda é significativa; a conversão de florestas
chapati ou o naan cotidiano, na pesca em rios poluídos em áreas agrícolas, o avanço dessas atividades, basea-
que vivi na primeira visita contrasta fortemente com das em sementes adaptadas ao clima equatorial e na
a Índia (2013) dos avanços tecnológicos, dos investi- qualidade do rebanho bovino, só para dar destaque a
mentos em educação, saúde e infraestrutura urbana alguns dentre eles.
e rural, da descoberta de remédios novos baseados
na biodiversidade e de mecanismos para tratamento Esses processos mostram, além disso, a grande defa-
hospitalar voltados à população excluída. Verdadeiro sagem entre o discurso dos governantes brasileiros
paradoxo para um ocidental, porém, nada muito longe e as dinâmicas territoriais amazônicas: a lentidão na
dos contrastes brasileiros, o que nos leva a pensar que ação contra a velocidade das dinâmicas territoriais,
talvez a única diferença sejam as castas formalizadas. nas contradições entre políticas públicas, nos conflitos
entre desenvolvimento e conservação ambiental.
2. Contradições nas visões do mundo agrícola A Amazônia, onde o processo é mais agudo, tornou-se
brasileiro uma região-laboratório. Concentra no Mato Grosso a
crescente agroindústria brasileira, assim como a pro-
Dois mundos diametralmente distintos no seio da dução agrícola (soja, bovinos, milho, arroz, algodão).
agricultura brasileira: de um lado, produtores inte- Distante dos principais portos de exportação (Santos,
grantes do segmento do agronegócio, do outro, pro- Paranaguá), em um primeiro momento, suas terras
dutores, majoritariamente pequenos, voltados para eram utilizadas para a produção; atualmente indús-
sua própria sobrevivência ou para a produção de pro- trias de transformação são implantadas com a finali-
dutos alimentares em mercados locais. No interstício dade de agregação de valor aos produtos e atração de
85
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
mão de obra mais qualificada. O setor agroindustrial é o aumento da produtividade e da produção, assim
um dos mais importantes das dinâmicas econômicas sendo, fortalece ainda mais suas noções de continui-
atuais, especialmente na região situada entre Rondo- dade desse modelo ao infinito. Não percebem que
nópolis e Sinop. mudanças climáticas poderá lhes atingir e, portanto,
não planejam ações preventivas, embora, seus discur-
Às margens deste sistema floresce uma agricultura sos incorporem todos os fatores e aspectos relevantes
diversificada envolvendo pequenos produtores, da sustentabilidade. Discursos totalmente articulados
assentados da reforma agrária que desenvolvem com ideais internacionais e nacionais.
experimentos com sistemas agroflorestais. Áreas
dos projetos de assentamentos agrários tornaram-se O futuro da sustentabilidade agrícola local depende
também laboratório de experiencias de sustentabili- de mudanças dos diversos sistemas agrícolas e de
dade: se os beneficiários dos projetos de colonização alteração comportamentais.
eram obrigados a desmatar, os assentados atuais
esforçam-se para manter a floresta, associando-a a
outros produtos. Os mercados onde estes produtos 3. Não repetir no século XXI as formas de explo-
são distribuídos são distintos: internacional e local, ração anteriores e incluir novos conceitos
respectivamente, China e Europa ou feiras e pequenos
comércios locais. A população envolvida, cuja maioria Fernando Pessoa dizia que “tudo em nós está em
é migrante, conseguiu atingir seus sonhos de melhoria nosso conceito de mundo; modificar o nosso conceito
da qualidade de vida? Para muitos a resposta é positi- do mundo é modificar o mundo para nós, isto é, é mo-
va; para outros, nem tanto. dificar o mundo, pois ele nunca será para nós, senão o
que é para nós...”
Apesar das altas taxas de desmatamento, o Mato
Grosso apresenta também iniciativas que visam a Conceitos evoluíram e referenciais se alteraram ao
conservação dos espaços naturais e a inserção social, longo da história da humanidade. Métodos e mecanis-
quando se atenta para as políticas públicas municipais mos para sua compreensão refletem tais mudanças.
de desenvolvimento sustentável. Experiências de Políticas e ações públicas devem ser refeitas ou
sustentabilidade no interior do mundo agrícola, na adaptadas em função destes novos rumos. O conceito
agricultura mecanizada e agricultura familiar podem de transição ecológica tem ganhado força na última
ser identificadas em Sorriso, Alta Floresta, Juína. Seus década e se consolida nos muitos meios sociais e
atores mostram este processo como alternativo aos técnicos. O mesmo, segundo alguns cientistas, pode
sistemas tradicionais e procuraram demonstrar que o revelar uma mudança social, tecnológica, institucional
desenvolvimento sustentável é possível se decorrente e econômica.
de novos caminhos realizados pela população, produ-
zindo por meio de sistemas não impactantes ao meio Mas, comportamentos são difíceis de serem alterados
ambiente. e, especialmente, os setores agrícolas demoram muito
mais.
Por outro lado, os produtores de grãos creem forte-
mente nas possibilidades tecnológicas para garantir Pesquisadores e suas redes contribuem para os avan-
86
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
ços dos conhecimentos assim como das sociedades, áreas de produção, nas paisagens naturais e humani-
com sua capacidade de resiliência. Estudos fornecem zadas, na complexidade analisada pela Geografia. É
importantes conclusões sobre a situação da Amazônia a complexidade visível. A possibilidade de apreensão
brasileira e sobre as condições socio-ecológicas da das dinâmicas concretas de uma nova forma de pro-
região, às quais as especificidades naturais, biológicas duzir com alta tecnologia pelos geógrafos é também
e sociais devem ser adaptadas. As noções de susten- apreendido nas fotografias da Transversalidades 2018.
tabilidade, de transição, de circularidade da economia,
de segurança alimentar podem ser movimentos Quando as reflexões sobre o futuro tomam como base
em direção a uma nova visão de mundo. Então, po- a história ambiental da Mata Atlântica, com todas as
demos nos perguntar porque tanta dificuldade em transformações que fizeram dela uma das mais amea-
implanta-los? No mundo do virtual, as informações çadas do planeta, aceitar que a “história se repita” no
são em tempo real, permitindo seu confronto com bioma amazônico é não avançar. A identificação de
a realidade. Estas realidades são sensíveis na práxis mecanismos que possam concretizar modelos de um
da Geografia, na paisagem e no mundo virtual. Os futuro com sustentabilidade (ambiental, econômica e
paradoxos opõem paisagens concretas com as virtuais social) não pode prescindir imagens reais, momentâ-
e discursos com ações, com comportamentos arcaicos neas do mundo natural e social. Por meio delas, po-
ou inovadores. demos descortinar milhares de ambientes. Por meio
delas, podemos reconstruir e reconverter. Podemos
O virtual das modernas tecnologias rastreadas pela avançar para um mundo melhor...
transversalidade das fotografias, estão visíveis, nas
* Professora Titular da Universidade de São Paulo (USP)/Brasil na Escola de Artes, Ciências e Humanidades.
87
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
8815.2.4.jpg Maryam Alemomen Dehkordi, Irão | Shepherd's wife | Lordegan (Irão), 2017 (127)*
50.2.6.jpeg Marco António Areias Alves, Portugal | Sementeira | Santarem (Portugal), 2018 (128)*
122.2.2.jpg Gerson Turelly, Brasil | Cores | Campinas do Sul (Brasil), 2017 (129)*
82.2.1.jpg Clelgen Luiz Bonetti, Brasil | Nascer do sol na fazenda | Emiliano, São Paulo (Brasil), 2017 (130)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
124.2.6.jpg Avin Abbasi, Irão | Trees | Iran, Kurdistan, Bane (Irão), 2018 (131)* 89
120.2.4.jpg Manuel Adrega, Portugal | Socalcos 04 | Pinhão (Portugal), 2018 (132)*
45.2.3.jpg Jorge Vaz Viegas, Portugal | Eco-sistema-3 | Sintra (Portugal), 2018 (133)*
120.2.3.jpg Manuel Adrega, Portugal | Socalcos 03 | Pinhão (Portugal), 2018 (134)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
9073.2.1.JPG Ana Coscujuela, Reino Unido | Inicio de la trashumancia | Denuy, Huesca (Espanha), 2014 (135)*
73.2.2.JPG Ana Coscujuela, Reino Unido | Vuelta a casa | Denuy, Huesca (Espanha), 2014 (136)*
16.2.3.jpg Keyvan Jafari, Irão | See me | Sari (Irão), 2017 (137)*
127.2.4.jpg Mário João Gonçalves Roque, Portugal | Gentes das Terras de Sicó | Serra de Janeanes, Condeixa (Portugal), 2014 (138)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
9292.2.6.jpg Tran Van Tuy, Vietname | Transplanting season | Binh Thuan (Vietname), 2014 (143)*
18.2.4.jpg Javad Rezaei, Irão | Harvesting Saffron | Khorasan Razavi Province (Irão), 2017 (144)*
96.2.6.jpg Boshra Shirazi, Irão | Shalizar | Roudbar (Irão), 2018 (145)*
5.2.1.jpg Behmaram Mohammadreza, Irão | Desert women | East Azarbaijan (Irão), 2016 (146)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
36.2.1.jpg Nimai Chandra Ghosh, Índia | Agricultural study | West Bengal (Índia), 2018 (147)* 93
58.2.4.jpg Md. Akhlas Uddin, Bangladesh | Chilli Cultivation | Bogra (Bangladesh), 2017 (148)*
36.2.4.jpg Nimai Chandra Ghosh, Índia | Happy potato farmer | West Bengal (Índia), 2018 (149)*
41.2.2.JPG Alexandrina Pinto, Portugal | Colheita da azeitona II | Aldeia Viçosa, Guarda (Portugal), 2017 (150)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
9495.2.3.jpg Ehsan Jazini, Irão | Help mom | Esfahan (Irão), 2017 (151)*
80.2.2.jpg Danny Alveal Aravena, México | Haitian Migrant Worker cutting cane | La Altagracia (República Dominicana), 2015 (152)*
99.2.4.jpg Germano Ribeiro Neto, Brasil | Sertão da Paraíba | Paraíba (Brasil), 2018 (153)*
108.2.2.jpg Subrata Biswas, Índia | Rice Preparation | Purulia, West Bengal (Índia), 2017 (154)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
51.2.2.jpg Juan David Cortés, Espanha | Marinaleñas | Marinaleda (Espanha), 2012 (155)* 95
59.2.1.jpg Anna Ruzina, Rússia | Earth Life | Russian Federation, Krasnodar Region (Rússia), 2015 (156)*
86.2.4.jpg Panagiotis Kelepouris, Grécia | At the Olive factory | Aghios Nikolaos (Grécia), 2017 (157)*
75.2.5.jpg Samira, Irão | Powerful women | Kurdistan (Irão), 2018 (158)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
965.2.2.jpg Behmaram Mohammadreza, Irão | Hia | East Azarbaijan (Irão), 2018 (159)*
15.2.1.jpg Maryam Alemomen Dehkordi, Irão | Dance color | Saraghazide (Irão), 2017 (160)*
17.2.3.jpg Alireza Vahid, Irão | Hamun | Sistan (Irão), 2017 (161)*
57.2.5.jpg Hermano Noronha, Portugal | Esmola de Carne | Porto Judeu, Açores (Portugal), 2010 (162)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
106.2.5.jpg Truong Huu Hung, Vietname | Drying fish | Binh Thuan (Vietname), 2017 (163)* 97
31.2.1.jpg Cristian Sarmiento, Espanha | Tefes #1 | Kafountine (Casamance Region) (Senegal), 2017 (164)*
106.2.2.jpg Truong Huu Hung, Vietname | Harvesting salt | Phan Thiet (Vietname), 2017 (165)*
100.2.5.jpg Jaime Gomez, Espanha | Haenyeo 05 | Isla de Jeju (Coreia do Sul), 2017 (166)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
98
76.2.6.jpg Noora Najafi, Irão | Kandovan (the name of the village) | Tabriz province (Irão), 2016 (167)*
97.2.3.jpg Víctor Quintana González, Espanha | Intermedio | Palencia (Espanha), 2017 (168)*
75.2.2.jpg Samira, Irão | Uraman Takht | Kurdistan (Irão), 2018 (169)*
tema 2 espaços rurais, agricultura e povoamento
72.2.3.jpg Amin Dehghan, Irão | The old village | Irão (Irão), 2016 (170)* 99
72.2.2.jpg Amin Dehghan, Irão | Skating rink | Irão (Irão), 2016 (171)*
56.2.6.jpg Celia Cisneros Burbano, Espanha | vano6 | O Cebreiro, Lugo (Espanha), 2017 (172)*
103.2.5.jpg José Javier Duro Jiménez, Espanha | Complejo deportivo 5 | Soria (Espanha), 2017 (173)*
tema 3
116.3.1.JPG João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Cotidiano em cores 1 | Centro de Brasília (Brasil), 2018 (174)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
103
116.3.2.JPG João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Cotidiano em cores 2 | Centro de Brasília (Brasil), 2018 (175)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
104
116.3.3.JPG João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Cotidiano em cores 3 | Centro de Brasília (Brasil), 2018 (176)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
105
116.3.6.JPG João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Cotidiano em cores 6 | Centro de Brasília (Brasil), 2018 (177)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
106
116.3.4.JPG João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Cotidiano em cores 4 | Centro de Brasília (Brasil), 2018 (178)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
107
116.3.5.JPG João Antonio Benitz Rangel dos Santos, Brasil | Cotidiano em cores 5 | Centro de Brasília (Brasil), 2018 (179)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
O Mundo está a ficar cada vez mais urbano mente, as megacidades, 51 em cada 100 habitantes
urbanos reside, e continuará a residir em 2025, em
Em 2007, pela primeira vez na história da humanida- cidades de média e pequena dimensão (com menos
de, mais de metade da população mundial (3,3 mil de 500 mil habitantes).
milhões) vivia em áreas urbanas. A urbanização tem
vindo a intensificar-se e, em 2025, as megacidades
concentrarão 15,1% da população urbana (635.938 M), Vantagens e desvantagens da urbanização
quadruplicando os efetivos de população relativamen-
te a 1990 (153.300 M). Nesse ano, 37 cidades contarão No início do século XXI, algumas das maiores questões
com mais de 10 milhões de habitantes em todo o políticas e académicas prendem-se com o ambiente,
mundo. Dessas, apenas oito se localizarão em países a sustentabilidade, a qualidade de vida urbana e a
desenvolvidos: Tóquio, Nova Iorque, Osaca, Buenos saúde. Estas preocupações são também o resultado
Aires, Moscovo, Los Angeles, Paris e Seul. Na Europa, da progressiva urbanização do espaço.
serão sete as cidades com mais de quatro milhões de
habitantes: Roma, São Petersburgo, Barcelona, Ma- Os mais optimistas concordam que a urbanização, se
drid, Londres, Paris e Moscovo. bem gerida, se associa ao crescimento económico,
sendo um sinal positivo de desenvolvimento. Os movi-
Em 1990, os dois maiores aglomerados urbanos eram mentos populacionais para a cidade, em consequência
Tóquio e Nova Iorque, mantendo a posição hierárquica da modernização e da industrialização das socieda-
de 1980 (Tóquio: 16,9 M; Nova Iorque: 15,6 M). Em des, trazem benefícios diretos – emprego, aumento
2025, serão Tóquio, Deli e Xangai. O ranking está a mu- do rendimento – e indiretos – acesso aos serviços
dar, indicando claramente o futuro do desenvolvimen- de saúde, cultura e de educação – com resultados
to das megacidades centrado, essencialmente, nos potencialmente positivos no bem-estar e na saúde
países em desenvolvimento. Por exemplo, anualmente, das populações e das comunidades. Em 2017, cerca de
chegam a Deli 885 mil novos habitantes e 715 mil a 80% da população pobre reside em áreas rurais, sen-
Xangai. Em Nova Iorque, as previsões de crescimento do constituída, maioritariamente, por trabalhadores
indicam que o ritmo de chegada de novos habitantes é agrícolas. Também existe evidência científica de que
de 31 mil por ano. países ou regiões com taxas de urbanização elevadas
e estáveis têm bons indicadores sociais, incluindo os
Apesar da urbanização recente alimentar, essencial- de educação e de saúde. Tradicionalmente, a urba-
108
tema 3 cidade e processos de urbanização
nização tem sido benéfica para a saúde humana; em ar, a má gestão de resíduos e a contaminação da água
1990, a taxa de urbanização explicava 69% da espe- potável, com impactos na saúde, refletidos na baixa
rança média de vida à nascença (correlação positiva e esperança média de vida à nascença e nas altas taxas
significativa). de mortalidade infantil e de crianças de idade inferior
a cinco anos, por exemplo.
Todavia, os mais pessimistas advogam que a rápida
urbanização tem trazido novos problemas e novas O forte crescimento urbano nos primeiros anos do
formas de pobreza, incluindo o crescimento de slums. século XXI parece ser responsável pela inversão da
Argumentam contra o modelo de desenvolvimento associação positiva entre taxa de urbanização e espe-
económico e social que força a movimentação de rança média de vida que se tinha observado em 1990.
trabalhadores do campo para a cidade, à procura de Ou seja, verifica-se que a taxa de crescimento urbano
emprego. Os imigrantes transportam consigo a con- recente (observado entre 2010-2015) tem uma corre-
dição de pobreza e, quando chegam à cidade, muitas lação negativa e significativa de 55% com a esperança
vezes reforçam-na e perpetuam-na, porque ficam ex- média de vida à nascença em 2015. Este facto é ainda
postos e mais vulneráveis às más condições do meio mais evidente em países pobres (IDH baixo e médio).
ambiente urbano e suburbano, quase sempre como
resultado da incapacidade de planear áreas urbanas A população urbana dos países pobres tem uma carga
adequando-as às necessidades destas populações. dupla de problemas de saúde que incluem as doenças
Em 2015, 880 milhões de pessoas residiam em slums, transmissíveis e as que, tipicamente, se associam a
representando cerca de um quinto da população sociedades economicamente desenvolvidas, como as
urbana do mundo; nos países mais pobres da África doenças crónicas (incluindo as doenças mentais) e os
subsariana, o seu peso era de 55,2% (2014). acidentes. As taxas de prevalência destas doenças são
elevadas e estão associadas aos determinantes sociais
A exposição às más condições do ambiente físico (falta de condições da habitabilidade, por exemplo),
e social destes bairros está associada a padrões aos comportamentos (consumo de álcool e tabaco),
específicos de morbilidade e mortalidade, dominada estilos de vida sedentários e alteração dos padrões
especialmente por doenças infecciosas e parasitárias, alimentares.
sendo as crianças um dos grupos mais atingidos.
Em síntese, consideram-se cidades de sucesso aquelas
que são centros de empreendedorismo e inovação,
A cidade e a saúde atraindo talento e trabalhadores qualificados, gerando
grande produtividade, crescimento e bem-estar. Mas
De facto, apesar dos benefícios imputáveis à urba- algumas cidades crescem demasiado, potenciando
nização, a evidência vem demonstrar que ritmos megaproblemas: congestionamento, degradação am-
acelerados de crescimento da população urbana biental, inadequação/falta de habitação e formação
podem influenciar o desenvolvimento sustentável de guetos/slums. A gestão dos limites da expansão
e fazer precipitar os problemas inerentes ao meio urbana é complexa e o planeamento e a oferta das
ambiente (físicos e sociais). As três principais razões infraestruturas e serviços a essas populações quase
de degradação do ambiente físico são a poluição do sempre é desajustada.
109
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
equidade; de bem comum como síntese da ordem e das populações, na qualidade de vida, na qualidade do
da justiça. Ou seja, fazer a cidade à dimensão humana: ambiente, enquanto princípio básico do planeamento
planear para as pessoas e com as pessoas. urbano do século XXI. É como um retomar da Polis
para satisfação do bem-viver, o(s) bem(ns) comum(ns)
Neste contexto, devem ser equacionadas novas me- ou Eu-Zeinas, visando a felicidade possível do Homem
todologias e práticas que incorporem a equidade na no Mundo, de acordo com Aristóteles, no seu livro «A
redistribuição da riqueza produzida, na subsidiarieda- Política».
de, na justiça social, nos níveis de saúde e bem-estar
1 Este texto foi redigido tendo por base as seguintes publicações: NAÇÕES UNIDAS, 2015 – 2015 Millennium Development Goals Report,
1. SANTANA, P., 2009 – “Urbanização e Saúde”, in: JANUS 2009 – Portugal Nações Unidas, Nova Iorque, pp. 72.
no Mundo, Aspecto da Conjuntura Internacional. A Saúde no Mundo. Jornal
SANTANA, P., 2009 – “Por uma Cidade Saudável”, in: JANUS 2009 – Por-
Público / Universidade Autónoma de Lisboa (p. 80-82); 2. SANTANA, P.,
tugal no Mundo, Aspecto da Conjuntura Internacional. A Saúde no Mundo.
2009 – “Por uma Cidade Saudável”, in: JANUS 2009 – Portugal no Mundo,
Jornal Público / Universidade Autónoma de Lisboa (p. 83-84).
Aspecto da Conjuntura Internacional. A Saúde no Mundo. Jornal Público /
Universidade Autónoma de Lisboa (p. 83-84). SANTANA, P., 2009 – “Urbanização e Saúde”, in: JANUS 2009 – Portugal
no Mundo, Aspecto da Conjuntura Internacional. A Saúde no Mundo. Jornal
Bibliografia: Público / Universidade Autónoma de Lisboa (p. 80-82).
MONTGOMERY, M., 2008 – «The Health of Urban Populations in Deve-
Bases de Dados
loping Countries». United Nations Expert Group Meeting on Population
Distribution, Urbanization, Internal Migration and Development. UN/POP/ NAÇÕES UNIDAS, 2018 – 2018 Revision of World Urbanization Prospects,
EGM-URB/2008/11, 14 de Janeiro, Nova Iorque. https://esa.un.org/unpd/wup/Download/ (acesso em 7 de setembro de
2018).
NAÇÕES UNIDAS, 2017 – 2017 Sustainable Development Goals Report,
Nações Unidas, Nova Iorque, pp. 61. NAÇÕES UNIDAS, 2018 – Human Development Data (1990-2017), http://hdr.
undp.org/en/data (acesso em 7 de setembro de 2018).
NAÇÕES UNIDAS – Programa para o Desenvolvimento, 2016 – 2016
Human Development Report, Nações Unidas – Programa para o Desenvol-
vimento, Nova Iorque, pp. 271.
* Professora Catedrática do Departamento de Geografia e Turismo da Universidade de Coimbra e Coordenadora Científica do Centro de Estudos em
Geografia e Ordenamento do Território. Docente e investigadora nas áreas da Geografia da Saúde e Planeamento Urbano Saudável.
** Bolseira de Doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) no Doutoramento em Geografia na Universidade de Coimbra. Investigado-
ra no Centro de Estudos em Geografia e Ordenamento do Território.
111
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
113
114
129.3.1.jpg Nuno Henrique Rolo Morais, Portugal | Teatro Morto | Guarda (Portugal), 2018 (186)*
129.3.3.jpg Termas Mortas | Cró, Sabugal (Portugal), 2018 (187)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
116
129.3.2.jpg Nuno Henrique Rolo Morais, Portugal | Teatro Vivo | Guarda (Portugal), 2018 (188)*
129.3.4.jpg Termas Vivas | Cró, Sabugal (Portugal), 2018 (189)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
117
129.3.6.jpg Nuno Henrique Rolo Morais, Portugal | Estação Viva | Porto (Portugal), 2018 (190)*
129.3.5.jpg Estação Morta | Barracão, Guarda (Portugal), 2018 (191)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
associação correspondentes; e uma autonomia pelo concepção marxista-estruturalista. No seu livro ele
menos parcial (p. 173-174). Afirmou que a cidade seria definiu estrutura urbana como um “[…] conceito que
um fenômeno específico do Ocidente. especifica a articulação das instâncias fundamentais
da estrutura social no interior das unidades urbanas
Em 1916 R. E. Park, fundador da Escola de Sociologia consideradas” (p. 347).
Urbana de Chicago, publicou o texto “Proposição de
pesquisa sobre o comportamento humano em meio Mais recentemente as definições de cidade variam
urbano” republicado no livro The City em 1925. Ele afir- dependendo da tendência em que o autor está vin-
mou que a cidade “[...] é antes um estado de espírito, culado, como o geógrafo inglês D. Harvey no seu livro
um conjunto de costumes e de tradições, de atitudes A Justiça social e a Cidade (1973), para o qual a cidade
e de sentimentos organizados” (p. 156). L. Wirth um é um “[...] sistema urbano complexo no qual a forma
dos principais sociólogos da mesma Escola tornou-se espacial e o processo social estão em contínua intera-
conhecido pelo artigo clássico de 1938 “O urbanismo ção” (p. 383). Em seguida, o mesmo autor passou para
como modo de vida” no qual ele propôs uma definição o paradigma socialista e considerou a cidade como “o
sociológica de cidade, a partir de um número de cate- lugar das contradições acumuladas” (p. 386).
gorias básicas, quais sejam “[...] um estabelecimento
relativamente grande, denso e permanente de indiví- Desde 1980 J. Bastié e B. Dezert tinham proposto que
duos socialmente homogêneos” (p. 165). a noção de cidade deveria ser substituida pela de
“espaço urbano”, que eles definiram como um espaço
No mesmo ano o historiador do Urbanismo L. físico, um espaço-tempo, um espaço econômico, um
Mumford no seu livro A Cultura das Cidades elaborou espaço social e um espaço percebido e vivido (p. 434).
uma rica definição de cidade como um “[...] plexo No ano seguinte o geógrafo P. Claval publicou o livro
geográfico, uma organização econômica, um processo La logique des villes que começa com a ideia de que a
institucional, um teatro de ação social e um símbolo cidade é “[...] uma organização destinada a maximizar
estético de unidade coletiva” (p. 188). Outro urbanista a interação social” (p. 443). Em 1988 no Dictionnaire
norte-americano K. Lynch no livro A Imagem da Cidade, de l´urbanisme et de l´aménagement ele adicionou que
de 1960, a partir de uma perspectiva fenomenológica, três condições eram indispensáveis para o estabeleci-
afirmou que a cidade “existe mais do que a vista al- mento da cidade: a aglomeração de construções; cer-
cança, mais do que o ouvido pode ouvir” (p. 361). tos traços sociais da população e um certa dimensão
(p. 706).
O filósofo H. Lefebvre foi um dos intelectuais que mais
estudou as cidades, um tema secundário na Filosofia. O geógrafo brasileiro R. L. Correa definiu o espaço
No seu famoso livro O Direito à Cidade, de 1968, ele urbano como “[…] fragmentado e articulado, reflexo e
definiu a cidade como “a projeção da sociedade sobre condicionante scial, um conjunto de símbolos e cam-
o terreno” (p. 339). No livro A Revolução Urbana, de pos de lutas” (p. 488), no seu livro O Espaço Urbano
1970, ele afirmou que o urbano seria uma forma pura: (1989). Porém para o geógrafo M. Roncayolo (1990) a
um ponto de encontro, um lugar de reunião, a simul- cidade “[…] é um território particular ou uma combina-
taneidade (p. 341). Já o sociólogo espanhol M. Castells ção de territórios” (p. 506).
publicou o clássico A Questão Urbana em 1972, numa
119
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
Em 1994 o geógrafo brasileiro Milton Santos estabe- O autor do plano de expansão de Barcelona I. Cerdá,
leceu a diferença entre cidade que seria vinculada no livro Teoria General de la Urbanización (1867),
ao “particular, o concreto, o interno” no livro Técnica, introduziu a noção de “urbanización”, que designaria
espaço, tempo, enquanto que urbano corresponderia tanto “[...] um conjunto de ações tendendo a agrupar
ao “abstrato, o geral, o externo” (1994, p. 69). Para o as construções e a regularizar o seu funcionamento
autor a cidade seria ao mesmo tempo uma região e [...]”, quanto “[...] um conjunto de princípios, doutrinas
um lugar (p. 71). e regras que é preciso aplicar para que as construções
e seu agrupamento [...] contribuam para favorecer seu
No Dictionnaire La ville et l´urbain (2006), a geógrafa [...] desenvolvimento [...]”. No livro III o autor define
francesa D. Pumain caracterizou a cidade como “[…] urbe como um “[...] conjunto de habitações onde mo-
um meio de habitat denso, caracterizado por uma ram diversas famílias [...] reunidas por um sentimento
sociedade diferenciada, uma diversidade funcional, de ajuda mútua” (p. 48). Desde o início, portanto, há
uma capitalização e uma capacidade de inovação que diferentes visões sobre a noção de urbanização.
se inscrevem em múltiplas redes de interação e que
forma uma hierarquia, incluindo nós cada vez mais M. Castells no referido livro A Questão Urbana (1972)
complexos […]” (2006, p. 303). Já para F. Zoildo et al., no lugar da noção de “urbanização” ele preferiu
autores do Diccionario de urbanismo, geografia urbana utilizar a de “produção social de formas espaciais” (p.
y ordenación del território (2013), a cidade é um “núcleo 343). Por outro lado, M. Gottidiener e L. Budd (2005)
de população de certas dimensões e funções especia- consideraram que urbanização é tradicionalmente
lizadas em um território amplo” (p. 80). definida como um processo da formação da cidade e
de crescimento urbano (p. 184). Eles destacaram que
A discussão sobre a cidade pode ser concluída pelo o processo de urbanização nos países em desenvol-
comentário do livro L´Aventure des mots de la ville, pu- vimento pode ser mensurado pelo crescimento do
blicado por C. Topalov et al. (2010), com 1.493 páginas, número e tamanho de cidades (p. 186).
contendo 264 artigos, escritos por 160 autores em
oito línguas, o que demonstra a riqueza e a vastidão Outra possibilidade para examinar as definições de
do tema. Os diferentes textos e suas traduções processo de urbanização é recorrer aos dicionários.
confirmam a diversidade desse fenômeno universal: No Dictionnaire de la Géographie editado por P. George
cidade (português), città (italiano), city, town (inglês), em 1970 [1990] a urbanização seria o processo de
ciudad (espanhol), gorod (russo), medina (árabe), stadt desenvolvimento de cidades, em número de habitan-
(alemão) e ville (francês). tes, em extensão territorial e também em termos de
modo de vida (p. 486). No Dictionnaire de l’urbanisme
et de l’aménagement, (1988) P. Claval destacou dois
Processos de urbanização sentidos: “ação de urbanizar”; e “concentração cres-
cente das populações nas cidades (outrora) e nas
Embora haja diversos entendimentos desde a origem aglomerações urbanas (hoje)” (p. 682). No dicionário
da noção de urbanização, o debate não apresenta a Les mots de la géographie dirigido por R. Brunet, R.
mesma riqueza daquele realizado sobre o do conceito Ferraz e H. Théry (1993) a definição é mais sintética:
de cidade. “Desenvolvimento, expansão da população urbana”
120
tema 3 cidade e processos de urbanização
* Ph.D., Programa de Pós-Graduação em Geografia (Universidade Federal da Bahia) e Programa de Pós-Graduação em Planejamento Territorial e Desen-
volvimento Social (Universidade Católica de Salvador); Pesquisador CNPq 1-A
121
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
72.3.6.jpg Maria João Serpa do Vale, Portugal | Reflexos | Tokyo (Japão), 2018 (196)* 123
52.3.3.jpg Rodrigo Filipe Nunes Ribeiro, Portugal | A Cidade Eterna | Roma (Itália), 2017 (197)*
45.3.3.jpg Maria Oceja, Espanha | Views from the hills | Santander (Espanha), 2017 (198)*
96.3.1.jpg Raúl López, México | Panorámica de Zacatecas | Zacatecas (México), 2018 (199)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
12440.3.1.jpg Ary Attab Filho, Brasil | Corrimão | Bilbao (Espanha), 2017 (200)*
19.3.2.jpg Carlos Costa, Portugal | Escala | Casa da Musica, Porto (Portugal), 2018 (201)*
40.3.2.jpg Ary Attab Filho, Brasil | Espaços | Lisboa (Portugal), 2017 (202)*
19.3.1.jpg Carlos Costa, Portugal | Adagio | Casa da Musica, Porto (Portugal), 2018 (203)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
125
50.3.4.jpg António Coelho, Portugal | Ocenário | Parque das Nações, Lisboa (Portugal), 2016 (204)*
127.3.1.jpg Manuel Adrega, Portugal | Sombras na cidade 01 | Estação do Oriente, Lisboa (Portugal), 2016 (205)*
141.3.6.jpeg Helio Carvalho Dapena, Brasil | S/título | New York (Estados Unidos da América), 2017 (206)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
126104.3.2.jpg Walter Mateus Craveiro, Brasil | Mouzinho da Silveira | Porto (Portugal), 2015 (207)*
1.3.3.jpg Sergey Semenov, Rússia | The man in the suit | Saint-Petersburg (Rússia), 2017 (208)*
32.3.6.jpg Reginaldo Luiz Cardoso, Brasil | Banal cosmopolitanism VI | Belo Horizonte (Brasil), 2017 (209)*
82.3.5.JPG José Pedro Martins, Portugal | EXIT 05 | Casa da Música, Porto (Portugal), 2018 (210)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
131.3.1.jpg Tibor Soares, Brasil | Textura em tons de azul, cinza e dourado | Poços de Caldas (Brasil), 2018 (211)* 127
72.3.3.jpg Maria João Serpa do Vale, Portugal | Sky | Osaka (Japão), 2018 (212)*
82.3.4.JPG José Pedro Martins, Portugal | EXIT 04 | Casa da Música, Porto (Portugal), 2018 (213)*
104.3.3.jpg Walter Mateus Craveiro, Brasil | Minhocão | São Paulo (Brasil), 2015 (214)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
128
133.3.2.jpg João Nuno Marques, Portugal | Bairro da Areia Preta | Macau (China), 2018 (215)*
128.3.2.jpg Arseniy, Rússia | Tunnel | Saint-Petersburg (Rússia), 2009 (216)*
128.3.5.jpg Arseniy, Rússia | Formicary | Saint-Petersburg (Rússia), 2017 (217)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
85.3.6.jpg Jose Antonio Romero Paniagua, Espanha | OPORTO6 | Porto (Portugal), 2018 (218)* 129
32.3.1.jpg Reginaldo Luiz Cardoso, Brasil | Banal cosmopolitanism I | Brasília (Brasil), 2017 (219)*
131.3.3.jpg Tibor Soares, Brasil | Vertigem | São Paulo (Brasil), 2018 (220)*
6.3.1.jpg Mohammad Sahraei, Irão | Persian architecture | Kashan City (Irão), 2010 (221)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
130142.3.4.JPG Kessis Soares de Sena, Brasil | Autoconstrução | São Paulo (Brasil), 2018 (222)*
68.3.2.jpg Valdênio Rodrigues de Oliveira Gonçalves, Brasil | Sofrimento_2 | Bairro do Recife Antigo, Recife (Brasil), 2018 (223)*
71.3.2.jpg José Carlos Martins Silva, Portugal | A outra Luz da Cidade #2 | Óbidos (Portugal), 2017 (224)*
71.3.4.jpg José Carlos Martins Silva, Portugal | A outra Luz da Cidade #4 | Lisboa (Portugal), 2017 (225)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
114.3.4.jpg Andréa Bernardes e Silva, Brasil | Entropia - 4 | Arredores do Porto de Santos, Estado de São Paulo (Brasil), 2017 (226)* 131
18.3.3.JPG Julia Mihailenko, Brasil | Nature Takes Back | Jundiaí (Brasil), 2018 (227)*
140.3.3.jpg Hildon Monteiro Dutra, Brasil | Selva de Pedra | Bairro Cruzeiro, Nova Lima MG (Brasil), 2014 (228)*
133.3.6.jpg João Nuno Marques, Portugal | Tai-O | Tai-O, Hong Kong (China), 2018 (229)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
132113.3.1.jpg José Luis Zubiri, Espanha | Sin fábrica | Olite, Navarra (Espanha), 2015 (230)*
121.3.2.jpg David Gomez Rollan, Espanha | El sueño urbano chino 2 | Rizhao (China), 2015 (231)*
113.3.6.JPG José Luis Zubiri, Espanha | Sin dinero | Olite, Navarra (Espanha), 2015 (232)*
121.3.3.jpg David Gomez Rollan, Espanha | El sueño urbano chino 3 | Rizhao (China), 2013 (233)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
75.3.1.jpg Luis Arteaga, Espanha | Megalópolis I | Madrid (Espanha), 2017 (234)* 133
38.3.5.jpg Ehsan Barati, Irão | The other city.05 | Tehran (Irão), 2013 (235)*
118.3.5.jpg Amir Jamshidi, Irão | Graffiti | Tbilisi (Georgia), 2018 (236)*
125.3.3.jpg Mehdi Babadi, Irão | Three arches | Esfahan (Irão), 2017 (237)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
13465.3.5.jpg Ramon Vellasco Neves, Brasil | Conforto da rua | Rio de Janeiro (Brasil), 2018 (238)*
65.3.2.jpg Ramon Vellasco Neves, Brasil | S/título | Rio de Janeiro (Brasil), 2018 (239)*
31.3.3.jpg Luisa Naves Nabak Purcino, Brasil | Descanso entre gêneros | São Paulo/SP (Brasil), 2018 (240)*
89.3.5.jpg Javier Yárnoz Sánchez, Espanha | Buscando la sombra nº 5 | Vila Real de Santo António (Portugal), 2017 (241)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
55.3.4.jpg João Coutinho, Portugal | A Espera 4 | Cais do Sodré (Portugal), 2014 (242)* 135
55.3.3.jpg João Coutinho, Portugal | A Espera 3 | Estação de Metro do Marquês Pombal (Portugal), 2012 (243)*
92.3.3.jpg Polly Hummel, Portugal | O paraíso 3 | Brandenburg (Alemanha), 2014 (244)*
91.3.3.jpg Fardin Oyan, Bangladesh | Don't judge a book by it's cover | South Asia (Bangladesh), 2017 (245)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
13683.3.1.jpg Ernesto Barroso Machado, Cuba | Protagonista | Marianao, La Habana (Cuba), 2018 (246)*
101.3.2.jpg Fernanda Caroline Souza Silva, Brasil | Vivendo a selva | Cuiabá (Brasil), 2018 (247)*
108.3.3.jpg Edyta Pilichowska, Espanha | Small Biznez | Seville (Espanha), 2017 (248)*
141.3.1.jpg Helio Carvalho Dapena, Brasil | Through | New York (Estados Unidos da América), 2017 (249)*
tema 3 cidade e processos de urbanização
61.3.4.jpg Hugo Jorge Pires Ferreira, Portugal | A Cidade na 3ª Idade - 4 | Coimbra (Portugal), 2017 (250)* 137
109.3.3.jpg Ana Paula Lins Rodrigues, Brasil | Yes, Nós Temos Iglus 3 | Guadalupe, Rio de Janeiro (Brasil), 2018 (251)*
50.3.2.jpg António Coelho, Portugal | Dias difíceis no mercado | Mercado do Bolhão, Porto (Portugal), 2017 (252)*
41.3.1.jpg Anselmo Cunha, Brasil | Ocupação Saraí #1 | Rio Grande do Sul (Brasil), 2017 (253)*
tema 4
cultura e sociedade:
diversidade cultural e inclusão social
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
189.4.1.JPG Zahra Akhavan Saraf, Irão | Prohibited | Isfahan (Irão), 2017 (254)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
141
189.4.2.JPG Zahra Akhavan Saraf, Irão | Bewilderment | Isfahan (Irão), 2017 (255)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
142
189.4.3.JPG Zahra Akhavan Saraf, Irão | Cultural aging | Isfahan (Irão), 2017 (256)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
143
189.4.4.JPG Zahra Akhavan Saraf, Irão | Man with shopping plastic | Isfahan (Irão), 2017 (257)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
144
189.4.5.JPG Zahra Akhavan Saraf, Irão | Exercise | Isfahan (Irão), 2017 (258)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
145
189.4.6.JPG Zahra Akhavan Saraf, Irão | Father and son | Isfahan (Irão), 2017 (259)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
“Freedom’s just another word for nothing left to lose temor. Contudo, a ideia contemporânea de liberdade
And nothin’ ain´t worth nothing but it’s free” apresenta-se sob prismas diversos: se Amartya Sen
expande esta noção ligando-a ao desenvolvimento e
Kris Kristofferson, Me and Bobby McGee tornando-a, simultaneamente, o fim último e o meio
daquele; já o ideário neoliberal que encontrou o seu
espaço na teoria económica e se afirmou após os anos
80, colou a liberdade ao individualismo (“a sociedade
Vivemos um tempo de paradoxos. Ao mesmo tempo não existe; há homens e mulheres individuais, e famí-
que circulamos em números e velocidades inauditas à lias”, disse Margaret Thatcher) e fez da concorrência e
escala global, incrementamos o número de controlos do mercado princípios quase absolutos. A liberdade
e barreiras àqueles que se deslocam internacional- perdeu, assim, o sentido relacional profundo que, na
mente. Misturamo-nos cada vez mais, fazendo da Revolução Francesa, se materializava nos vínculos
miscigenação a norma em muitas regiões e países do com a fraternidade e a igualdade e que Bakunine tão
mundo, mas assistimos a laivos crescentes de intole- bem destacou, ao frisar que a liberdade não existe
rância e a expressões sistemáticas de racismo, mesmo sem igualdade e que é a associação das duas que
que a ciência tenha rejeitado o princípio biológico resulta em justiça. Mas a liberdade também é mais do
insustentável da existência de raças humanas. Vemos que o reconhecimento formal dos princípios em que
crescer as cidades, talvez a mais fantástica das pro- assenta a livre escolha dos cidadãos; é a capacidade
duções espaciais humanas, que se comportam como de estes poderem, efetivamente, exercer essa livre
motores de inovação, de criatividade e, também, escolha, afinal, colocar em prática “as condições con-
como espaços que incitam à colaboração e à tolerân- cretas da liberdade”, na expressão de António Sérgio.
cia, mas apercebemo-nos que estas encerram níveis
de injustiça espacial e desigualdade que ultrapassam, Contudo, a ocorrência de “tempos paradoxais” não
frequentemente, os registados no conjunto dos países é exclusiva do presente, como bem evidenciam a
a que pertencem. Vimos explodir e universalizar o transição para o mundo urbano-industrial liberal e ca-
discurso apologético da liberdade, valor essencial tor- pitalista no século XIX ou a génese do mundo bipolar
nado mais explícito com a Revolução Francesa e que nos anos subsequentes à 2ª Guerra Mundial. Relati-
corresponde a um dos denominados direitos naturais, vamente aos paradoxos contemporâneos, justifica-se
fundamentando o princípio moderno de cidadania posicionarmo-nos no início dos anos 90 do século XX,
baseado na escolha dos indivíduos, sem coação e sem momento em que, para alguns pensadores, o mundo
146
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
parecia estar liberto das peias e constrangimentos 2007-2008, a maior do sistema capitalista desde 1929,
políticos e económicos anteriores, anunciando-se uma que evidenciou as fragilidades e generalizou as críticas
nova era de prosperidade potencial, em que democra- a este modelo.
cia política e capitalismo se difundiriam globalmente,
emergindo como uma espécie de mantra da felicida- E tudo isto num contexto de forte incremento da
de. Entusiasmado com a queda da União Soviética e concentração da riqueza e das desigualdades, pouco
dos regimes de socialismo real no final dos anos 80 visível à escala dos países do mundo, mas clara ao
do século passado, Francis Fukuyama, em “O Fim da nível das suas regiões e dos seus grupos sociais (Bau-
História e o Último Homem”, declarou o liberalismo man, 2014). Nos EUA, na Austrália, no Reino Unido,
como o estado último e mais avançado da evolução no Japão, em Portugal e em diversos outros países,
económica da sociedade, aquele que garantiria a me- a concentração de riqueza nos grupos com maior
lhor qualidade de vida num quadro de democracia e rendimento (0,1%, 1%, 10% dos mais ricos) aumentou
de expressão das liberdades individuais. Coeva destas visivelmente entre a década de 80 e a crise de 2007-
ideias, a lógica “ultra” do neoliberalismo de Friedrich 08, embora com ritmos e intensidades variadas2.
Hayek e Milton Friedman encontrou espaço para se Como refere Bauman (2014), recorrendo a dados de
materializar, com a sua apologia extrema do mercado “Explorations in Social Inequality” e mencionando a Bu-
(privatizações, liberalização do comércio e do inves- siness Week, em 1990 o salário médio de um director
timento com forte financeirização, flexibilização – e geral de uma empresa norte-americana correspondia
precarização – das relações laborais) e da redução do a 84 salários de um trabalhador manual. Em meados
Estado. Após uma primeira experiência no Chile de dos anos 90, esta relação situava-se na proporção de
Pinochet, respaldada em termos económicos e políti- 135 para um, atingindo 531 vezes no ano 2000. Já no
cos pelos EUA, são as políticas internas de Margaret Reino Unido, ao longo dos últimos 30 anos, os ganhos
Thatcher e Ronald Reagan nos anos 80, ampliadas à dos altos executivos multiplicaram-se por 40, mas o
escala global pelas instituições ligadas ao Consenso salário médio apenas triplicou. Também no conjunto
de Washington de 1990 que vão sustentar a aplicação
1
dos países em desenvolvimento, as desigualdades in-
do projeto neoliberal em inúmeros países. Se, em ternas sofreram um incremento entre o decénio de 80
alguns casos, estas contribuíram para estabilizar as da centúria passada e os primeiros anos do presente
economias, na maioria os resultados redundaram século, com destaque para os estados da América
num crescimento económico abaixo do esperado, em Latina (o continente com maiores níveis de desigual-
aumentos das desigualdades e da pobreza (Stiglitz, dade) e, também, para a Ásia de Leste (Ravallion,
2002) e num incremento da frequência das situações 2014). É certo que diversos destes países registaram
de crise financeira, económica e social. Como destaca progressos evidentes nas variáveis sociais nos anos 80
David Harvey (2011), o capitalismo pouco regulado, e 90 do século XX, mas em muitos deles, com desta-
sob a forma de neoliberalismo, que se apropriou da que para a África subsaariana, os níveis de exploração
globalização através da desregulação do comércio (que incluem trabalho infantil, escravatura, exploração
internacional e do incremento da dependência por sexual) e pobreza mantiveram-se muito elevados.
via da internacionalização dos mercados financeiros e
da dívida é, atualmente, muito mais propenso a dolo- Mas este mundo, herdeiro do neoliberalismo, que
rosas crises sistémicas. De resto, foi a crise global de transformou a liberdade em mais injustiça social e
147
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
espacial ao desligá-la de outros valores essenciais, lutas que, num mundo globalizado, devem unir e não
marcado por uma imensa concentração da riqueza em fragmentar os desfavorecidos e, também, por apare-
que apenas 11 milhões de seres humanos (em 7 000 cer embrulhado num populismo triádico (Judis, 2016)
milhões), cada um deles contabilizando pelo menos e fácil (Rodrigues, 2018). Esta forma de populismo afir-
um milhão de dólares de “riqueza líquida”, possuem o ma o que o povo quer ouvir, cavalgando o seu descon-
equivalente a 2/3 do PIB mundial (Hay, 2013), procura tentamento e a sua desesperança, colocando-o contra
atualmente caminhos alternativos à deriva neoliberal. uma elite que é acusada de favorecer um terceiro gru-
Infelizmente, as propostas existentes apresentam po (por exemplo, os imigrantes ou os grupos étnicos
fortes dicotomias, tanto na sua base económica, como racializados, como os negros ou ciganos). Atuando no
nas matrizes social e política, emergindo os resultados quadro da democracia, vai acentuar o conflito entre
favoráveis ao Brexit, o sufrágio que elegeu Donald o “nós”, visto como povo, e as elites, mas, sobretudo,
Trump para presidente dos EUA, a destituição de o conflito, entre o “nós”, nação originária e única
Dilma Roussef no Brasil e o próprio Referendo que possuidora de direitos legítimos, e todos os outros
rejeitou o processo de Paz na Colômbia (envolvendo (imigrantes, descendentes, grupos étnicos minori-
o governo e as FARC), todos ocorridos em 2016 e tários, estrangeiros, crentes de outras religiões…),
sempre com resultados que apontam para a rutura ou considerados potencialmente perigosos, uma ameaça
o enfatizar do confronto, como exemplos do grau de para a qualidade de vida e a identidade. Ignora-se
divisão que existe nas sociedades contemporâneas. assim, não só a história das mobilidades humanas que
E se há experiências prometedoras que procuram conduziu às sociedades atuais, mas também o caráter
afastar-se do neoliberalismo e introduzir políticas que dinâmico da identidade dos povos, que muda tanto
valorizam, em maior ou menor grau, o estado social, e tão intensamente pela relação e pelo contato, para
uma certa redistribuição da riqueza, um esforço de além dos contributos contextuais de imigrantes, des-
regulação económica, algum incentivo à democracia cendentes e minorias para o cosmopolitismo criativo
participativa e, também, uma expansão dos princí- das cidades, a atenuação dos processos de envelheci-
pios, de jure e de facto, da igualdade em termos de mento, a satisfação das necessidades de emprego ou
género, de orientação sexual ou de pertença étnica, a competitividade das equipas desportivas.
muitos são os exemplos de sentido contrário, que le-
vam Noam Chomsky, em entrevista recente3, a afirmar Neste contexto do nacionalismo populista, vamos
que “este é um momento ameaçador e sinistro para a assistindo a propostas e práticas de enorme violência
espécie humana”. relativamente aos grupos excluídos, marginalizados
ou não conformes com a moral dominante, que des-
O regresso do protecionismo económico nacional, respeitam todos os princípios do Estado de Direito
prevalecente nos discursos de Donald Trump, de Democrático, de que são exemplo as perseguições
Marine Le Pen e de alguns políticos britânicos, que até aos Rohingya em Myamar, a penalização jurídica
pode constituir uma medida positiva na medida em dos homossexuais em muitos países do mundo ou a
que pode contribuir para a reconstrução de tecidos permissão para que milícias de bairro persigam e exe-
produtivos muito destroçados pela deslocalização cutem toxicodependentes e pequenos traficantes nas
e, por conseguinte, para a recuperação de algum Filipinas, desde que o atual presidente Duterte exerce
emprego, desvaloriza-se totalmente por cortar com o seu mandato. Relativamente aos migrantes, multi-
148
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
plicam-se os muros físicos em diversas fronteiras, de É que o território, que Bertrand Badie e sobretudo
Israel aos EUA e de Marrocos à Hungria, rejeitando-se Paul Virilio, de certa forma aniquilaram logo na pri-
aqueles que, em desespero, no Norte do Brasil ou no meira metade dos anos 90 do século XX, com base na
Mediterrâneo Europeu, configuram fluxos mistos, eco- emergência da organização espacial em rede baseada
nómicos e humanitários, tentando escapar à ausência no forte aumento da velocidade dos fluxos, imateriais
de empregos e oportunidades, à violência brutal mas também materiais, libertando, supostamente,
de conflitos como o sírio ou, simplesmente, à fome. os indivíduos dos constrangimentos espaciais e
Como parece hoje distante aquele momento idílico de proporcionando-lhes uma espécie de ubiquidade,
oportunidade, afirmado por Fukuyama, há 25 anos… mantém, afinal um razoável significado. É que os
povos territorializam-se, desenvolvendo ligações com
Espaços (e tempos) de esperança os seus lugares, um certo sentido de pertença que
lhes confere uma identidade geográfica. Ademais,
“Aprende a nadar companheiro, apesar dos incrementos na mobilidade internacional,
Que a maré se vai levantar, pouco mais de 3% da população mundial vive fora do
A liberdade está a passar por aqui seu país de nascimento, estando largamente reser-
Maré alta, Maré alta, Maré alta” vada para uma elite a capacidade de se deslocar de
forma mais ou menos livre, sem ter de enfrentar as
Sérgio Godinho, Maré Alta fronteiras muradas ou a expulsão por falta de vistos,
que a atividade empresarial permite cada vez mais
Mas este é, também, um tempo de esperanças. Afinal, comprar. Mesmo no quadro geopolítico, a geografia
os instrumentos que suportaram a globalização neoli- conta, e muito, uma vez que os fatores geográficos
beral, com os seus rápidos fluxos financeiros, o comér- são essenciais para perceber conflitos e tensões entre
cio internacional quase livre (até agora…) e a difusão países, estratégias militares associadas a barreiras ou
de modelos de reforma económica uniformes para os a aberturas naturais e, também, processos de intera-
vários países, servem também para aproximar povos ção e desenvolvimento humano, como nos explicam
indígenas de diversas partes do mundo, reforçar as Kaplan (2012) e Marshall (2015). É este território em
possibilidades de maior conhecimento dos cidadãos revalorização, capaz de produzir identidade (a escalas
(apesar das evidências crescentes de manipulação da diversas) e proporcionar contato, mesmo que a ritmos
opinião pública através da internet) e permitir maior lentos e fragmentados, entre os grupos não dominan-
intercâmbio (e aprendizagem) por parte das organiza- tes, que se deve constituir como oportunidade para
ções da sociedade civil que combatem o racismo, a ex- processos emancipatórios e lutas contra a injustiça
clusão ou a desigualdade de género. O alter-mundia- social e espacial que afetam todos os continentes.
lismo ou as formas de globalização não hegemónica,
nas palavras de Boaventura Sousa Santos, constituem E vão surgindo exemplos, positivos, construtivos e
um espaço-tempo de oportunidade, mesmo que a generosos, daqui e dali, que evidenciam este “remar
velocidade e a possibilidade de circulação das pessoas contra as correntes” da desigualdade e da concen-
sejam muito menores e mais “barradas” do que as do tração de poder. Em Portugal, perante a necessidade
capital, e as capacidades de organização e interligação de acolher refugiados no âmbito da crise europeia,
global deste bem mais significativas. o governo abriu a porta a mais de 5 000 pessoas
149
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
no âmbito do Programa de Recolocação da UE, mas Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela (El Sistema),
foi sobretudo a mobilização da sociedade civil, um por José António Abreu, em 1975, que visa promover
pouco por todo o país, que juntou ONGs, municípios, a inclusão social, a concentração, a autoestima e o
entidades religiosas, escolas, universidades e muitos reforço de competências relacionais entre os jovens
cidadãos, que revelou uma abertura ao acolhimento e de grupos desfavorecidos através da aprendizagem da
à integração que representa a outra face dos proces- música de orquestra. Esta iniciativa de inclusão social
sos de rejeição frequentemente enfrentados por estas através das artes teve um sucesso notável e expandiu-
populações e por outros imigrantes. Ainda no domínio se pelas várias regiões da Venezuela e, também, por
das migrações, o papel do número crescente de “Ho- muitos países do mundo, tendo chegado a Portugal
metown Associations” que envolvem migrantes originá- em 2007 com a designação Orquestras Geração, pela
rios de determinadas regiões (ou países) e que visam mão da Escola de Música do Conservatório Nacional,
promover ações de desenvolvimento nos territórios com apoio do Ministério da Educação, da Fundação
de origem (construção de equipamentos, desenvol- Gulbenkian e de outras entidades do 3º setor.
vimento de projetos educativos, de irrigação ou de
apoio ao comércio, etc.) é extremamente interessante São muitas as sementes de esperança num mundo
e tira partido das possibilidades contemporâneas do cada vez mais consciente das formas de exclusão
transnacionalismo imigrante. É que apesar dos insu- social e das assimetrias territoriais, que justificam
cessos e dos défices de sustentabilidade de muitas que milhões tentem migrar à procura das “áreas
destas iniciativas, elas vão incorporando novos modos luminosas”, na expressão feliz de Milton Santos, que
de relacionamento entre os migrantes e as autorida- emergem nas cidades e nos países desenvolvidos.
des públicas, para além de implicarem processos de Infelizmente, esta consciência está associada a uma
aprendizagem em termos de comunicação, inovação descrença nas virtudes da democracia que, em simul-
organizacional e planeamento, que ultrapassam a tâneo, parece incapaz de garantir a qualidade de vida,
mera avaliação dos resultados materiais. a segurança e a justiça para todos, e afasta o poder
efetivo dos cidadãos. Estes, em números cada vez
Mas não é apenas no campo das migrações interna- mais significativos, vão aderindo a projetos com uma
cionais que encontramos este tipo de iniciativas. O marca populista e autocrática, frequentemente sus-
microcrédito, baseado na concessão de empréstimos tentada por discursos fundamentalistas, xenófobos,
de pequenos montantes, com juros comportáveis, a misóginos e que apelam a princípios de natureza se-
pessoas com rendimentos muito baixos permitindo- curitária, capazes de suspender a liberdade e o Estado
lhes implementar pequenas iniciativas empresariais, de Direito. Contrariá-los, significa difundir e melhorar
que foi idealizado e implementado originalmente por as alternativas sociais, culturais e políticas, mostrando
Yunus no Bangladesh, nos anos 80 do século passado, que o melhor caminho não se faz contra os imigrantes
conheceu uma difusão significativa à escala mundial, e as minorias étnicas, mas com estes; que a luta con-
atingindo também os países desenvolvidos, tendo tra a desigualdade e a exclusão não assenta no iso-
um impacto significativo na melhoria da qualidade lamento mas na colaboração, enfim, que o território
de vida de milhões de pessoas pobres. Um exemplo é importante neste processo e que globalização não
bem distinto, mas igualmente de conteúdo notável, leva necessariamente o adjetivo “neoliberal”. Se não o
corresponde à criação do Sistema Nacional de Coros e fizermos, estaremos a permitir que retrocessos no do-
150
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
mínio da laicidade das sociedades, da liberalização das de evitar… mesmo que, hoje mesmo, o resultado da
práticas e dos costumes, da tolerância relativamente eleição num país próximo (o Brasil) traga no Bolso(na-
ao “outro” que escapa à normatividade, já em curso ro) perspetivas sombrias de legitimação da tortura,
nalguns países, se vão generalizando paulatinamente. redução dos direitos territoriais de indígenas e negros
Disto à ditadura (ou ao expansionismo violento) é um e possibilidade de intervenção musculada das forças
passo pequeno, que talvez ainda estejamos a tempo armadas. O lado sombrio do paradoxo, portanto…
153
62.4.2.jpg Kaveh Zakariaei Nejad, Irão | Growing with Brick | Isfahan (Irão), 2017 (262)*
62.4.5.jpg Growing with Brick | Tabriz (Irão), 2017 (263)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
154
62.4.4.jpg Kaveh Zakariaei Nejad, Irão | Growing with Brick | Tabriz (Irão), 2017 (264)*
62.4.6.jpg Growing with Brick | Tabriz (Irão), 2017 (265)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
95.4.1.jpg Farhad Motaei, Irão | Lonely mothers | Kurdestan (Irão), 2016 (266)*
95.4.2.jpg Lonely mothers | Kurdestan (Irão), 2016 (267)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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95.4.3.jpg Farhad Motaei, Irão | Lonely mothers | Kurdestan (Irão), 2016 (268)*
95.4.4.jpg Lonely mothers | Kurdestan (Irão), 2016 (269)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
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95.4.5.jpg Farhad Motaei, Irão | Lonely mothers | Kurdestan (Irão), 2016 (270)*
95.4.6.jpg Lonely mothers | Kurdestan (Irão), 2016 (271)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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138.4.3.jpg Sandipani Chattopadhyay, Índia | The prayer for the man kind | Dhaka (Bangladesh), 2018 (274)*
138.4.4.jpg Cultural Heritage Continued | Dhaka (Bangladesh), 2018 (275)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
160
138.4.5.jpg Sandipani Chattopadhyay, Índia | Precious Moment | Dhaka (Bangladesh), 2018 (276)*
138.4.6.jpg Time to re board | Dhaka (Bangladesh), 2018 (277)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
151.4.1.jpg Jesus Hellin, Espanha | Calle principal de Bojador | Campamentos Refugiados Saharauis (Argélia), 2017 (278)*
151.4.2.jpg Las afueras de Smara | Campamentos Refugiados Saharauis (Argélia), 2017 (279)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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151.4.3.jpg Jesus Hellin, Espanha | Hospital Militar cerca de Ausserd | Campamentos Refugiados Saharauis (Argélia), 2017 (280)*
151.4.4.jpg Plaza de Armas de Bojador | Campamentos Refugiados Saharauis (Argélia), 2017 (281)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
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151.4.5.jpg Jesus Hellin, Espanha | Entrega de agua dulce a las familias refugiadas | Campamentos Refugiados Saharauis (Argélia), 2017 (282)*
151.4.6.jpg Alumnos de primaria en clase de su colegio | Campamentos Refugiados Saharauis (Argélia), 2017 (283)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
Transversalizando:
contribuição para um diálogo de saberes
Carlos Walter Porto-Gonçalves *
Falar em transversalidade implica reconhecer que há ciais que iam buscar os negócios da China, o Oriente.
múltiplas versões, múltiplos lugares, múltiplas culturas, Desde então, a Europa se colocará como centro
múltiplos povos, múltiplos grupos/classes sociais. nomeando o outro continente que então passara a co-
Implica se perguntar porque tantos foram negados, nhecer como Índias Ocidentais e só a partir de então
olvidados e, assim, que não basta reconhecer que são a Europa ganhará centralidade política e econômica. E
múltiplos. Sabemos como os negócios e os negociantes como o poder não se sustenta somente na economia,
contribuíram para isso quando começaram a impor impôs seu sistema de saber como parte do sistema de
a ideia de ganhar dinheiro como leitmotiv do sistema poder. Epistemicídio. Assim, passaremos a ver o mun-
mundo que, surgido em 1492, nos governaria até hoje. do com a ideia eurocêntrica de conhecimento univer-
E falar de negócio é falar de negar o ócio e, assim, negar sal. O que se visa aqui com essas primeiras palavras é
outras relações com a vida, outros modos de estar no um diálogo de saberes que supere a colonialidade do
mundo, enfim, outras versões, outros lugares, outras saber e do poder (Quijano, 2005 [2000]).
culturas, outros povos, outros grupos/classes sociais.
Enfim, junto com a expansão, colonização. O que se critica aqui não é a idéia de pensamento
universal, mas, sim, a idéia de que há Um e somente
Assim, em 1492 o mundo começa a se desorientar. Um pensamento universal, aquele produzido a partir
Isso mesmo, a desorientar-se. Afinal, até ali todos os de uma província específica do mundo, a Europa e,
caminhos se dirigiam ao Oriente até que os turcos sobretudo, a partir da segunda metade do século
em 1453 tomaram Istambul, ou melhor, Constanti- XVIII, aquele conhecimento produzido a partir de uma
nopla. E essa desorientação leva às Índias Ocidentais sub-província específica da Europa, a Europa de fala
(ou Acidentais?) que encobrindo seus habitantes inglesa, francesa e alemã, enfim, a Europa da segunda
originários passará a ser denominada com múltiplos moderno-colonialidade, que teima em olvidar o co-
nomes (Nova Granada, Nova Inglaterra, Nova-Algum- nhecimento produzido na primeira moderno-coloniali-
-Lugar-Europeu) até que o nome América se consagre, dade, aquela de fala espanhola ou portuguesa.
sobretudo com as independências onde os filhos dos
colonos brancos nascidos nesse outro continente vão Com essa desprovincianização da Europa da idéia de
afirmar o nome América. pensamento universal o que visamos é o desloca-
mento do lugar de enunciação e, assim, proporcionar
Entendamos a desorientação: até 1453/1492 a Europa que outros mundos de vida ganhem o mundo, mun-
estava marginalizada dos principais circuitos comer- dializando o mundo. Insistimos que não se trata de
164
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
negar o pensamento europeu, o que seria repeti-lo mam os lugares, as regiões, os países, enfim, os terri-
com sinal invertido, mas sim dialogar com ele sabendo tórios que as conformam.
que é europeu e, portanto, um lugar de enunciação
específico, ainda que sabendo (1) que essa especifici- Assim, a cartografia da Terra foi grafada pelo Papa, em
dade não é igual a outros lugares de enunciação pelo 1493, com um meridiano, o de Tordesilhas e, desde o
lugar que ocupa na contraditória estrutura do sistema século XIX, a Ciência laica se encarregaria de remarcar
mundo moderno-colonial, (2) nem tampouco que esse um novo ponto zero de onde passa a recartografar o
lugar de enunciação europeu seja homogêneo e não mundo, agora a partir do meridiano de um subúrbio
abrigue perspectivas contraditórias, sejam de afirma- de Londres, Greenwich. Marca-se o globo como se
ção da ordem, sejam de perspectivas emancipatórias. marca o gado para lembrar que tem dono!
Enfim, o lugar de enunciação não é uma metáfora que
possa ignorar a materialidade dos lugares, enfim, a Embora a segunda moderno-colonialidade, aquela do
geograficidade do social e do político (Porto-Gonçal- Iluminismo, procure ignorar a verdadeira revolução no
ves, 2003). conhecimento da primeira moderno-colonialidade, é
preciso assinalar que a missão ibérica, ao mesmo tem-
Assim, falar de transversalidade é convidar a que se po em que estava consagrada pelo Deus cristão, se
desprovincianize a razão. Com a prática do negócio ancorava na melhor ciência matemática, cartográfica,
muitos foram considerados ociosos, preguiçosos náutica em suas grandes navegações. “Navegar é pre-
e indolentes, movidos por um tempo lento, afinal ciso, viver não é preciso2 ” (Fernando Pessoa), enfim,
entrávamos no tempo dos negociantes: time is Money. navegar é coisa do campo da técnica, da precisão, e os
A cartografia passou a medir o espaço pelo tempo, portugueses foram grandes navegadores, sobretudo.
em segundo e minutos de latitude e longitude com Não é incompatível a missão salvacionista e evange-
uma nova projeção, a de Mercator , que viria facilitar
1
lizadora com um saber rigoroso, técnico como, mais
em muito a vida dos mercadores. Assim, os povos tarde, na segunda moderno-colonialidade, se tentará
e regiões não-europeias do mundo passaram a ser fazer crer. A primeira máquina verdadeiramente mo-
alinhados numa linha do tempo que lhes era estranha, derna, o relógio, surgiu nos monastérios da Idade Mé-
imposta. Enfim, para promover a necessária despro- dia exatamente para controlar o tempo das orações
vincianização e o reconhecimento de outros lugares de modo objetivo (Mumford, 1942 e Porto-Gonçalves,
de enunciação é preciso trazer o espaço para dentro 1989). Na verdade, a ciência da segunda moderno-co-
da história e deixá-lo falar. A visão unilinear do tempo lonialidade está impregnada de um sentido religioso
silencia outras temporalidades/outras territorialida- de emancipação. Não nos cansamos de ouvir, ainda
des que conformam o mundo simultaneamente. Su- hoje, que a ciência opera milagres.
cessão e simultaneidade, sucessões simultâneas, eis
o espaço-tempo. O mundo não tem um relógio único. A América experimentará essa razão moderno-co-
Nesse sentido, é preciso abandonar essa visão linear lonizadora de um modo muito próprio. As primeiras
do tempo e que não é só um tempo abstrato, mas um cidades verdadeiramente planejadas racionalmente
tempo europeu, branco, burguês e fálico da segunda no mundo moderno-colonial surgiram na América,
moderno-colonialidade (Dussel, 2005 [2000]), e se onde o espaço da plaza foi concebido sob o signo do
abrir para as múltiplas temporalidades que confor- controle, da dominação. Já, ali, haviam desplazados.
165
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
1 A projeção de Mercator foi criada em 1569 por Gerhard Kremer (1512- NIETZSCHE, Friedrich 2000 Humano, Demasiado Humano (São Paulo,
1594), nascido nos Países Baixos. Companhia das Letras).
2 Viver não tem precisão técnica. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter Geo-grafías: movimientos sociales,
3 Machiavel soube vê-lo. Daí O Príncipe. nuevas territorialidades y sustentabilidad. Ed. Siglo XXI, México, D.F.,
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MUMFORD, 1942 Técnica e Civilização. (Barcelona, Editorial Ayuso).
* Professor Titular do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense. Pesquisador do CNPq. Membro do Grupo
Hegemonia e Emancipações do Conselho Latino-americanos de Ciências Sociais - Clacso. Ex-Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1998-
2000). Ganhador do Prêmio Chico Mendes em Ciência e Tecnologia do Ministério do Meio Ambiente, em 2004. Prêmio Casa de las Américas, Cuba,
2008. É autor de diversos artigos e livros publicados em revistas científicas nacionais e internacionais, sendo os mais recentes: “Geo-grafías: movimien-
tos sociales, nuevas territorialidades y sustentablidad”, ed. Siglo XXI, México, 2001; “Amazônia, Amazônias”, ed. Contexto, São Paulo, 2001; “Geografando
– nos varadouros do mundo”, edições Ibama, Brasília, 2004; “A globalização da natureza e a natureza da globalização”, Ed. Civilização Brasileira, Rio de
Janeiro, 2006; El Desafio Ambiental, Edições PNUMA/ONU, México, 2006.
167
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
168124.4.4.jpg Paulo Nunes, Portugal | O jugo | Pedrário, Montalegre (Barroso) (Portugal), 2015 (284)*
180.4.5.jpg António Alves Tedim, Portugal | Caretos de Lazarim | Lazarim (Portugal), 2016 (285)*
124.4.3.jpg Paulo Nunes, Portugal | Regresso à corte | Penedones, Montalegre (Barroso) (Portugal), 2016 (286)*
180.4.1.jpg António Alves Tedim, Portugal | Caretos de Lazarim | Lazarim (Portugal), 2016 (287)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
67.4.4.jpg Mohammad Rakibul Hasan, Bangladesh | Crama - A New Religion | Bandarban Hills (Bangladesh), 2010 (288)* 169
24.4.2.jpg Reza Isapour, Irão | Love | Ardebil (Irão), 2016 (289)*
67.4.3.jpg Mohammad Rakibul Hasan, Bangladesh | Crama - A New Religion | Bandarban Hills (Bangladesh), 2010 (290)*
24.4.5.jpg Reza Isapour, Irão | Mountain guest | Ardebil (Irão), 2017 (291)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
17017.4.2.jpg Nông Thanh Toàn, Vietnam | Buffalo market in the mountainous villages 2 | Simacai-Lao Cai-Viet Nam (Vietnam), 2017 (292)*
131.4.1.jpg Antonio Aragon Renuncio, Espanha | Somba. La Última Tribu 01 | Montañas de Atakora (Togo, África Occidental), 2012 (293)*
17.4.3.jpg Nông Thanh Toàn, Vietnam | Buffalo market in the mountainous villages 3 | Simacai-Lao Cai-Viet Nam (Vietnam), 2017 (294)*
131.4.2.jpg Antonio Aragon Renuncio, Espanha | Somba. La Última Tribu 02 | Montañas de Atakora (Togo, África Occidental), 2011 (295)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
177.4.1.jpg João Galamba, Portugal | Melasti (1) | Bali (Indonésia), 2018 (296)* 171
177.4.3.jpg João Galamba, Portugal | Melasti (3) | Bali (Indonésia), 2018 (297)*
70.4.2.jpg Sagar Gondaliya, Índia | Morning Discussion | Ahmedabad, Gujarat (Índia), 2016 (298)*
70.4.6.jpg Sagar Gondaliya, Índia | The Monk & man | Ahmedabad, Guajrat (Índia), 2017 (299)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
172186.4.5.jpg Robin Yong, Austrália | Honor and Roses | Venice (Itália), 2016 (300)*
186.4.3.jpg Robin Yong, Austrália | Through the Looking Glass | Venice (Itália), 2016 (301)*
110.4.5.JPG Jose F. Gálvez Pujol, Espanha | Toro de Fuego | Izaba (Espanha), 2017 (302)*
162.4.2.JPG Kelly Cristine Ribeiro (Keu Apoema), Brasil | Gravidade | Ainaro (Timor-Leste), 2018 (303)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
76.4.2.jpg Pranab Basak, Índia | Face of fact | West Bengal (Índia), 2015 (304)* 173
76.4.1.jpg Pranab Basak, Índia | Little lord | West Bengal (Índia), 2017 (305)*
28.4.3.jpg Sourangshu Gupta, Índia | The artist | West Bengal (Índia), 2015 (306)*
132.4.4.jpg Mansour Mohsen, Arábia Saudita | Varanasi | Varanasi (Índia), 2017 (307)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
174142.4.1.jpg Julia Rodrigues, Brasil | Noviça e Violão | Rio de Janeiro (Brasil), 2017 (308)*
103.4.3.jpg Shahab Naseri, Irão | Nowruz Ceremony | Kurdistan (Irão), 2017 (309)*
108.4.1.jpg Hamoon Mahmoudi, Irão | Chinese queen | Genting Hihlands (Malásia), 2016 (310)*
103.4.2.jpg Shahab Naseri, Irão | Nowruz Ceremony | Kurdistan (Irão), 2018 (311)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
61.4.1.jpg Arindam Dutta, Índia | Festive Ritual | Kolkata (Índia), 2010 (312)* 175
31.4.1.jpg G. B. G. Son, Bangladesh | Of Lights and Prayers | Loknath Temple, Dhaka (Bangladesh), 2017 (313)*
211.4.2.jpg Suvajit Mukherjee, Índia | Fire play | West Bengal (Índia), 2018 (314)*
147.4.4.jpg Carlos Elísio Teixeira Vasconcelos Silva, Portugal | Mexendo o alimento | Dornelas, Boticas (Portugal), 2018 (315)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
17637.4.6.jpg Vali Mohseni, Irão | Ghamat - travelling fishmonger | Bandar Abbas (Irão), 2015 (316)*
110.4.1.jpg Jose F. Gálvez Pujol, Espanha | Toro de Fuego | Izaba (Espanha), 2017 (317)*
9.4.2.jpg Homan Heidari Khayat, Irão | Tati | Kermanshah (Irão), 2016 (318)*
61.4.5.jpg Arindam Dutta, Índia | Festivity | Kolkata (Índia), 2011 (319)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
68.4.1.jpg Fernanda Carvalho, Portugal | S/título | Teerão (Irão), 2014 (320)* 177
68.4.3.jpg Fernanda Carvalho, Portugal | S/título | Teerão (Irão), 2014 (321)*
194.4.1.jpg Syed Mahabubul Kader, Bangladesh | Bishwa Ijtema (world ijtema) | Bangladesh (Bangladesh), 2018 (322)*
194.4.3.jpg Syed Mahabubul Kader, Bangladesh | Bishwa Ijtema (world Ijtema) | Bangladesh (Bangladesh), 2018 (323)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
178
232.4.3.jpg Amitava Chandra, Índia | 3. Nage-tribe dance_1 | Nagaland (Índia), 2014 (324)*
232.4.2.jpg Amitava Chandra, Índia | 2. Hornbill-tempo_1 | Nagaland (Índia), 2014 (325)*
237.4.3.jpg Iago Barreto Soares, Brasil | Sertão Indígena 3 | Ceará (CE), Monsenhor Tabosa (Brasil), 2016 (326)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
244.4.2.jpg De Bruyne, Bélgica | The Tribal Birds of Paradise | Wamena Region, Baliem Valley (Indonésia), 2016 (327)* 179
244.4.3.jpg De Bruyne, Bélgica | The Koteka | Wamena Region, Baliem Valley (Indonésia), 2016 (328)*
195.4.5.jpg Suraranjan Nandi, Índia | Tribal Market | Odisha (Índia), 2014 (329)*
69.4.5.JPG Shalet Mkamzungu, Quénia | Swift Catwalk | Marsabi County (Quénia), 2017 (330)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
180121.4.5.jpg Md. Akhlas Uddin, Bangladesh | Rohingya exodus | Cox's Bazar (Bangladesh), 2018 (331)*
125.4.6.jpg Md. Akhlas Uddin, Bangladesh | Rohingya exodus | Cox's Bazar (Bangladesh), 2018 (332)*
102.4.6.jpg Andreia Romana Silva Pereira, Portugal | Black feet an big smiles | Sapa (Vietnam), 2018 (333)*
125.4.1.jpg Miguel Lopez, Venezuela | Dia de pesca | Amazonas (Venezuela), 2017 (334)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
187.4.4.jpg António Costa Pinto, Portugal | Meninos da "Temba" | Tete (Moçambique), 2015 (335)* 181
187.4.5.jpg António Costa Pinto, Portugal | Meninos da "Temba" | Tete (Moçambique), 2015 (336)*
170.4.5.jpg Caíque dos Santos Bouzas, Brasil | Habilidade de criança | Salvador (Brasil), 2016 (337)*
170.4.3.jpg Caíque dos Santos Bouzas, Brasil | O chute | Salvador (Brasil), 2016 (338)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
182246.4.3.jpg Rocio Lozano Iglésias, Espanha | S/título | Hanoi (Vietnam), 2017 (339)*
246.4.4.jpg Rocio Lozano Iglésias, Espanha | S/título | Hanoi (Vietnam), 2017 (340)*
161.4.4.jpg Hélder Santana, Brasil | Trabalhador Rural, Morador Urbano | Passira, Pernambuco (Brasil), 2017 (341)*
161.4.3.jpg Hélder Santana, Brasil | Capoeira Inclusiva | Passira, Pernambuco (Brasil), 2017 (342)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
242.4.1.jpg Ebrahim Arabbeiki, Irão | Snake charmer Champion | Isfahan (Irão), 2018 (343)* 183
202.4.4.jpg Ruben Martin, Espanha | Ángeles | Sanframondi (Itália), 2017 (344)*
242.4.5.jpg Ebrahim Arabbeiki, Irão | The votive | Isfahan (Irão), 2016 (345)*
173.4.1.jpg Ana Caroline de Lima, Brasil | Auwê Up'tabi | Serra do Roncador, Mato Grosso (Brasil), 2018 (346)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
184226.4.2.jpg Victor Melo, Portugal | Héroes Cubanos II | Havana (Cuba), 2018 (347)*
226.4.4.jpg Victor Melo, Portugal | Héroes Cubanos IV | Havana (Cuba), 2018 (348)*
247.4.6.jpg Miriam Chacón Antón, Espanha | Andrés | Salamanca (Espanha), 2016 (349)*
247.4.4.jpg Miriam Chacón Antón, Espanha | Andrés_Cosas de casa | Salamanca (Espanha), 2016 (350)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
240.4.4.jpg Rafael Avancini, Brasil | Habitar em processo | São Paulo (Brasil), 2014 (351)* 185
240.4.6.jpg Rafael Avancini, Brasil | O primeiro banho de sol | São Paulo (Brasil), 2014 (352)*
105.4.1.jpg Elmira, Rússia | Rights | Amsterdam (Holanda), 2016 (353)*
90.4.1.JPG Laerte Rodrigues, Brasil | Air chair | Diadema (Brasil), 2016 (354)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
186223.4.4.jpg Mobina Shirmohammadi, Irão | Retirement | Ghanchian, Golestan State (Irão), 2018 (355)*
168.4.1.jpg Rafael Barbosa Pereira, Portugal | Conversas de ontem | Ericeira (Portugal), 2018 (356)*
224.4.2.JPG Sagar, Nepal | Crown of Currency | Kathmandu (Nepal), 2018 (357)*
238.4.1.jpg Adam Żądło, Polónia | Real Home | Malopolska (Polónia), 2018 (358)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
142.4.5.jpg Julia Rodrigues, Brasil | Dicotomia Carioca | Rio de Janeiro (Brasil), 2016 (359)* 187
252.4.5.jpg Carlos Barradas, Portugal | Ursula Maior e Ursula Menor | Rio de Janeiro (Brasil), 2015 (360)*
74.4.4.jpg Rafael M. Milani, Brasil | A cidade dos mortos coloridos 04 | Ilha Grande de Chiloé (Chile), 2018 (361)*
203.4.5.jpg Wagner Roger da Silva dos Santos, Brasil | S/título | Jauja (Perú), 2018 (362)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
188150.4.1.jpg Bernardo Cruz Moreno, Espanha | La soledad del sintecho - 01 | León (Nicarágua), 2018 (363)*
23.4.2.JPG Amirmohammad Sheikhpourkhani, Irão | Poverty | Kerman (Irão), 2018 (364)*
150.4.3.jpg Bernardo Cruz Moreno, Espanha | La soledad del sintecho - 03 | León (Nicarágua), 2018 (365)*
20.4.1.jpg Febbie Gracia, Indonésia | Abyssinians | Jerusalem (Israel), 2015 (366)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
183.4.3.jpg Rafael Frois Tecchio, Brasil | Enfermo | São Paulo (Brasil), 2015 (367)* 189
166.4.3.JPG Mark Levitin, Rússia | Roofless school | Zhongdong, Ziyun, Guizhou (China), 2016 (368)*
183.4.2.jpg Rafael Frois Tecchio, Brasil | Crisálida | São Paulo (Brasil), 2015 (369)*
166.4.4.JPG Mark Levitin, Rússia | Basketball match | Zhongdong, Ziyun, Guizhou (China), 2016 (370)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
190233.4.4.jpg Javier Pedro Fernández Ferreras, Espanha | Vertedero 4 | Cambodia (Camboja), 2014 (371)*
233.4.2.jpg Javier Pedro Fernández Ferreras, Espanha | Vertedero 2 | Cambodia (Camboja), 2014 (372)*
136.4.1.jpg Inês Carrola Costa, Portugal | Realidades Cruzadas | Cancelo, Ilha de Santiago (Cabo Verde), 2018 (373)*
136.4.4.jpg Inês Carrola Costa, Portugal | Oficina de latão | Cancelo, Ilha de Santiago (Cabo Verde), 2018 (374)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
192196.4.4.jpg Jeremiah Gilbert, Estados Unidos da América | Kashgar Livestock Market #4 | Xinjiang Uyghur Autonomous Region (China), 2014 (379)*
196.4.1.jpg Jeremiah Gilbert, Estados Unidos da América | Kashgar Livestock Market #1 | Xinjiang Uyghur Autonomous Region (China), 2014 (380)*
239.4.4.jpg Sergio Garcia Ros, Espanha | Agua | Near Migori (Ketia), 2017 (381)*
146.4.2.jpg Severino Junior, Brasil | Peso da vida | Salvador (Brasil), 2016 (382)*
tema 4 cultura e sociedade: diversidade cultural e inclusão social
254.4.1.jpg Tadeu Vilani, Brasil | Lagoa do Peixe I | Tavares, Rio Grande do Sul (Brasil), 2018 (383)* 193
254.4.4.jpg Tadeu Vilani, Brasil | Lagoa do Peixe IV | Tavares, Rio Grande do Sul (Brasil), 2018 (384)*
160.4.2.jpg Lateaf Sabur, Iraq | A chalange | Baghad (Iraq), 2018 (385)*
24.4.6.jpg Reza Isapour, Irão | Children bricks worker | Ardebil (Irão), 2016 (386)*
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
80.4.3.jpg Cristiano Burmester, Brasil | Shoemaker | São Paulo / SP (Brasil), 2016 (391)* 195
80.4.6.jpg Cristiano Burmester, Brasil | Print technician | Riobamba (Equador), 2016 (392)*
19.4.4.jpg Farhad Rashvand, Irão | Job | Gazvin (Irão), 2016 (393)*
19.4.6.jpg Farhad Rashvand, Irão | Carpet bazar | Gazvin (Irão), 2016 (394)*
legendas
198
legendas
ment of potato farming in internet while the chil- Since droughts occured in 1999 caused emigration esa tradición centenaria, los trabajos de buceo se
dren is busy to collect potato from the field. of more than 300,000 native people and destruc- realizan sin equipos suplementarios de respiración,
tion of environment and wildlife around the lake alcanzándose profundidades de más de diez metros
150
especially extinction of Sistan Cow. The wetlands y apneas por encima de los dos minutos.
A azeitona do Vale do Mondego. have been replaced mostly by lifeless salt flats and Desde la niñez, el mar y el buceo han sido la base
decaying reed stands. The wildlife, the towns, the en la subsistencia de las Haenyeo. A pesar de los
151
fisheries, and the agriculture that once surround- esfuerzos realizados para preservar este trabajo
Help baby to mother in difficult circumstances. ed the Hamun have all fallen away, giving rise to artesanal, la tradición no tendrá legado en una si-
152 a wasteland. Winds that were once cooled by the guiente generación. Ellas son las últimas.
waters of the wetlands now drifting dust, sand, Desde 2016 las Haenyeo forman parte del Patrimo-
The work days last about twelve hours. They earn
and salt from the dried lakebeds onto the surround- nio Cultural Inmaterial de la Humanidad (UNESCO).
about 3,500 pesos per week (64 euros). Just to cov-
ing villages, and these sand drifts have submerged
er the most basic needs.Sugarcane is an important 167
nearly 100 villages beneath dunes in a landscape.
industry in rural areas. Sugarcane is an important A historical village that is made in the stones.
Getting water quota.
industry in rural areas. The period of cane harvest,
known as “”the harvest,”” is labor-intensive, car- 162 168
ried out. Na ilha Terceira, o culto do Espírito Santo está do- La Red Nacional de Silos, impulsada en su origen
The vast majority of temporary workers in a sub- cumentado desde 1492, data em que já se fazia o por el Servicio Nacional del Trigo (fundado en 1936
contract modality is entirely Haitian migrants. Império e se distribuía o bodo, no dia de Pentecos- durante la Guerra Civil Española) fue un proyecto
tes, à porta de uma capela pertencente ao hospital desarrollado a partir de 1940 que pretendía dotar a
153
do Espírito Santo. las zonas agrícolas españolas de una serie de alma-
Agricultor de 80 anos trabalhando na própria la- cenes de cereal (silos y graneros).
As festas do Espírito Santo começam no domingo
voura. Entre los años 1945 y 1986 se construyeron por
imediatamente a seguir à Páscoa, tendo como pon-
154 to alto o domingo de Pentecostes e o da Trindade. todo el territorio español más de 600 silos y casi
Durante cada semana das festividades veneram-se 300 graneros.
Agriculture - “The true culture of India.” It is a culture
as insígnias do Divino na casa do Imperador, reza-se El declive de la red comienza en 1984, primeramen-
of working together. Agriculture has a deep sense of
o terço à noite no Império perante a coroa e a ban- te con la finalización del régimen de monopolio
oneness and attachment with family, selflessness in
deira. Na última sexta-feira, os bois são enfeitados triguero llevado hasta entonces por el Estado Es-
relations, which is not seen in other countries.
e realiza-se a “procissão do vitelo”. Posteriormente, pañol, y con la posterior entrada en la Comunidad
155 sacrificam-se os animais necessários para o bodo Económica Europea en 1986, asumiendo una Polí-
“The role of women” answered the mayor JM que o Imperador oferecerá no domingo aos convi- tica Agricola Común.
Sanchez Gordillo when I asked him about the keys dados, retalha-se a carne para a sopa, o cozido e a A principios de este siglo la red deja de ser plena-
of Marinaleda´s success in its political and social alcatra do jantar e para as pensões a distribuir pelos mente operativa, y la propiedad de muchas de las
struggle. pobres da freguesia. No sábado faz-se a distribui- unidades de almacenamiento son trasmitidas a las
ção de esmolas, compostas de carne, pão e vinho, Comunidades Autónomas. Estas últimas, pertene-
156 benzidas pelo padre. cientes a la llamada red secundaria (Castilla y León
“Its a question of discipline, when you’ve finished cuenta con 197 unidades), son las que a día de hoy
163 se encuentran, en la mayoría de los casos, en un
washing and dressing each morning, you must
tend your planet” - this rule of the Little Prince’s life 57/5000. Salt production in vietnam is very much. avanzado estado de dejadez y deterioro.
is followed by 85-year-old Marina. Every morning They are harvesting salt.
169
she gets up at 6 o’clock for tending her house and
164 Rural texture.
garden.
At dawn a group of sailors carry supplies from the
157 170
beach to the boats to go fishing. The port of Ka-
At the olive press, sacks are emptied and the olives fountine, in the Senegalese region of Casamance, The spectacular architecture of Sar Agha Seyyed
begin the process of becoming oil. attracts every morning its locals and hundreds of is popularly known as ”The yard of the building
go-getters coming from neighbouring West African above is the roof of the building below”.
158 countries. In this area, fish is the precious pearl of In remote rural and deprived Iran. , Tranquility and
Powerful women. the ocean and the commercial activity around fish- simplicity space and location soul polished natural
ing is the sustenance for many of the inhabitants environment, the viewer brings to ecstasy.
159 Sar Agha Seyyed - Chahar Mohal Va Balkhtiari - Iran
inside and outside the region.
Wednesday’s sunshine ceremony and sculpt on fire Sar Agha Seyyed architecture is unique. The build-
on the eve of the New Year. 165 ings have been built into the mountain and are
Seasoned fish are dried and packaged for sale to interconnected. The spectacular architecture of Sar
160
consumers. Agha Seyyed is popularly known as ”The yard of
Wedding ceremony in the village of Saraghazide in the building above is the roof of the building be-
summer. 166
low”. Courtyards and roofs both serve as pedestri-
La mayoría de las Haenyeo (palabra cuyo significa- an areas similar to streets.
161
do literal es “mujer del mar”) viven en la isla vol-
Hamun lake,south-eastern of Iran. The pictures are cánica de Jeju, Corea del Sur. Documentos de 1629 171
taken in 2017. This is fed bye Helmand river which ya registraban la existencia de estas mujeres reco- Entertainments of children in different cultures in
originates in Afghanistan Hindu Kush mountains. lectoras de abulones y algas marinas. Manteniendo the third world countries:
200
legendas
175 mó parte de la Provincia de Nueva Galicia durante Dia ou noite, os cubiculados são os mesmos.
los siglos de dominación española; en 1546 inició
Silhuetas projetadas no céu. 210, 213
actividades mineras, principalmente extracción de
176 plata; no existió una fundación formal de la ciudad, Portugal - Porto - Casa da Música
quien descubrió la riqueza argentífera en esta re- É uma tarde fria de Janeiro.Na rua, chove. Decido
Reflexo no chão e sombras sobre a parede.
gión fue Juan de Tolosa oriundo de la Villa de Tolosa entrar no edifício.Sem tempo. Lentamente. Eu,
177 (Guipúzcoa) nacido hacia 1520. sozinho e a minha máquina fotográfica. Caminho
Silhueta iluminada parcialmente e sombra sobre Zacatecas tuvo un papel preponderante en la con- sem pressa.
parede. quista y evangelización del Norte de México y Sur Defino um trajecto totalmente diferente... Sigo o
de Los Estados Unidos. percurso verde das obrigatórias informações de
178 Zacatecas hoy en día se puede llamar Ciudad Es- SAÍDA. Diferente. Estranho, mesmo.
Sombras projetadas sobre parede de azulejos. tudiantil, solamente la Universidad Autónoma de
Zacatecas cuenta con más de 30 mil alumnos, de O que vejo?
179 Uma nova visão...
una población de 120,000 habitantes.
Sombras projetadas sobre parede de azulejos. En los últimos 20 años se ha convertido en un des- ... Cores,
tino turístico importante por sus museos y otros ... Linhas,
180-185
atractivos, aquí se encuentra uno de los museos de ... Contrastes,
H22404461 Arte Contemporáneo más importantes de Latino ... Geometria.
186 América: El Museo Manuel Felguérez.
Por su riqueza arquitectónica en 1993 la UNESCO O que sinto?
Cine-Tearto da Guarda abandonado. Um convite para um novo olhar.
inscribió al Centro Histórico en la Lista de Sitios Pa-
187 trimonio Cultural de la Humanidad.
A “SAÍDA” transforma-se numa entrada para uma
Ruínas das termas do Cró. 200 nova visão.
188 Arquitetura moderna, uma escada e um corrimão Regresso para a chuva.
Teatro Municipal da Guarda em actividade. bem diferentes do usual. Missão cumprida!
YES...
189 201, 203
As imagens a concurso foram todas recolhidas na 211
Hotel das termas do Cró em funcionamento.
Casa da Musica no Porto, na procura de perspecti- O novo pôr do Sol que o homem contemporâneo
190 vas inovadoras do local. deve contemplar.
Estação da Casa da Música em funcionamento.
202 212
191 A área de circulação de uma empresa faz projeções Um observatório mais perto do céu.
Estação do Barracão desactivada. de luz.
214
192 204 Durante 4 anos andei pelas ruas das cidades Porto,
Bosphorus. Um local belo, calmo e que gostei particularmente em Portugal e de São Paulo, no Brasil, guiado pela
de produzir este panorama. 3 imagens numa só, luz, fotografando como se os dois espaços, sepa-
193, 195 momentos antes de iniciar uma noite de chuva. O rados pelo Oceano Atlântico, a 7.000 km de dis-
Early mist in the city. local é bem iluminado e numa paisagem noturna tância, fossem um único território urbano. Como
pareceu muito interessante. Toda a arquitectura en- resultado surge uma nova cidade imaginária.
194
volvente é bem conjugada.
Local por onde semanalmente o fotógrafo passa. 215
Nas proximidades de um dos locais onde trabalha. 205 Alguns bairros, propriedade do estado, resistem à
Região onde vivem diversos conhecidos dele. Na grande cidade a velocidade de cruzeiro é sem- pressão imobiliária de Macau.
pre uma constante.
196 216
Edifícios reflectidos na água. 206 Oddly shaped “well courtyards” that St Peters-
Sem legenda. burg is famous for, as developers tried to squeeze
201
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
in low-income apartments behind more expensive espera que esta tendencia continúe hasta alcanzar Those pieces detached from their context do ex-
street-view flats. el 70-80% de población urbana para el año 2030, perience the continuity once again. A union which
similar al porcentaje urbano de los países europeos. tends to construct another reality in parallel with
217
El rápido desarrollo económico y urbano conviven the plural reality of Tehran.
Modern buildings in Russia are so dense that you con las formas de vida y pensamientos tradicionales
can not see the horizon or the sky. 236
de las generaciones mayores. Esto crea situaciones
en donde en apenas unos metros conviven las for- Art attack urban space.
218
mas de vida tradicionales con las nuevas. Pero las
Arquitetura de Oporto. 237
zonas de casas rurales y huertos en los barrios de
las ciudades tienen los días contados frente al avan- The historical and ancient texture of Isfahan is still.
219
ce imparable de los nuevos edificios. Complete not demolished.The colors and roles that
As etiquetas são diferentes, mas os espaços são are ignored. And are in complete destruction.
iguais. A mesmidade do mundo disfarçada pelas 233
aparências. 238
Los dueños de las viejas casas unifamiliares situadas
en zonas absorbidas por la ciudad acaban vendien- Conforto da rua.
220
do sus terrenos o cambiándolos por un apartamen- 239
Vista de um prédio e sua vertigem em padrão in-
to de futura construcción. Aquellos que se resisten
finito. Rua.
acaban presionados hasta que ceden ahogados
221 por los escombros, la basura o el corte de los su- 240
Doors and windows of old houses in Iran made of ministros. Antes de comenzar las obras, los restos Um homem lê jornal nas pontas dos pés entre duas
wood with colored glass. de la vida que albergaron esos hogares son visibles mulheres de fisionomia cansada.
Unfortunately, these types of buildings, which have como una imagen de los millones de vidas que han
cambiado para siempre a lo largo de todo el país. 241
a history in the culture of ancient Iranian architec-
ture, have given way to apartment building. Lo que antes fue una habitación infantil en un po- Vivências urbanas.
blado es ahora un recuerdo nostálgico condenado
222 al derrumbe inminente ante el avance de la nueva 242
A crise econômica atrapalhou progressivamente a Rizhao. Mãe e Filho esperam pela chegada do eléctrico na
finalização das casas na periferia. A cada andar, um estação do Cais do Sodré. No regresso do festival
234
novo projeto inacabado. da cor, as suas roupas coincidem com a passagem
La industrialización y los constantes cambios de do eléctrico e criam um belo momento visual.
223 modelos económicos a nivel global son desde hace
siglos una de las causas fundamentales del éxodo 243
Descaso com a história arquitetônica de herança
portuguesa, no bairro do Recife Antigo, na cidade rural hacia las grandes ciudades de todo el mundo. Mulher espera pelo metro. As cores da sua indu-
de Recife. Auténticas megalópolis de dimensiones monstruo- mentária são semelhantes às da carruagem do me-
sas que absorben todo a su alrededor. Un proce- tro e criam um belo momento visual.
224, 225 so de urbanización despiadado que extiende sus
244
Esta foto faz parte da série “A outra Luz da Cida- fronteras más allá de los distritos de la periferia,
de”. que progresivamente van perdiendo su identidad O paraíso está bem perto de Berlim.
territorial para pasar a formar parte de urbes ma-
226 245
sificadas donde florecen otros problemas como la
Paisagismo. exclusión social o la contaminación. We do not see the 3rd gender people as human
beings many times. But they are also ordinary peo-
227 235 ple like us, they have good or bad qualities. If we
Até que a natureza toma de volta o que lhe per- Work on this series entered upon in the summer of give them a chance, they will also do something
tence. the year 2010, by selecting four zones in Tehran. good...
Choosing the routes inside the zones was decided
228 246
out of an experimental intuition and in most of the
Monte Santo. cases odd streets and byways were preferred. The Personaje común de la sociedad cubana, conocidos
passages that somehow are the invisible borders como vendedores de viandas y/o frutas, que de al-
229
of the zones, the splits which break new passages guna manera abastecen los pueblos de cuba, iróni-
Outrora uma vibrante aldeia piscatória, Tai-O tem camente, han creado corazas para defenderse de
through the zones all over the city. In these routes,
assistido a um significativo abandono da sua prin- los bajos recursos del país modificando sus instru-
uncommon places might come across which can
cipal actividade. As oportunidades oferecidas em mentos de pesaje y han desarrollado una retórica
unleash the desire of a photographer to acquire
Hong Kong, tão próxima, têm levado a um êxodo impresionante capaz de convencer al cliente de que
each and everything in its own naked reality.
das famílias mais jovens, originando um envelheci- el producto vendido pesa lo correcto, pero más tris-
After a while, certain pieces of the city were col-
mento da população. te es su historia... muchos viajan largas horas de sus
lected, displaying the world quite contrary to the
official reality of Tehran. A form of a city with no provincias originarias para establecerse indebida y
230, 232
clear and relevant connection to its picture, a form permanentemente en la capital, dejando familias
Sin nada. atrás, con el objetivo de florecer, pero desgracia-
not originated from the countable particulars of the
231 city, neither a borrower nor a lender. An image of damente hay algo en sus costumbres y en su forma
the city in its own state of being, a form of the city de ser que se quedan a medio camino porque se
Recientemente la población urbana China ha su-
which is “there”. disocian con el ritmo capitalino y caen en un bucle
perado a la rural por primera vez en la historia. Se
202
legendas
de costumbres del que no pueden salir. Lamenta- 255 tantly to attend the last prayer to the GOD.Trains
blemente esta historia se vuelve muy abundante. The little girl and the perplexity.... are over crowded & people take lot of risk to travel.
The current transportation can’t accommodate the
247 256 huge number of pilgrims.
Pecado em volta e eu procurando calma. Revolta e Is it possible to be will Culture old?
magoa e eu procurando alma. Me sinto em busca 273
In olden times in Iran,Men had priority over wom-
de ser livre dentro dessa jaula. Vivendo a selva a luz en. Pilgrim passengers are anxiously waiting to Tongi
do dia que eu conheço a fauna. And the equal rights of women and men were a railway station to attend the last prayer of Ijtema
joke.Still now... festival. Trains are mostly over crowded & running
248
late than the scheduled time.
A street hat dealer talking of the phone. 257
274
Still in iran,In the general culture of Society family
249
livelihood is a men’s task. The belief is Ijtema prayer not only for personal
What is she thinking? What is she looking at? What benefit rather for the society. GOD will bring peace
is passing through her eyes? 258 to everybody’s life. Nation flag symbols the entire
From the old until the present until the future, people of Bangladesh.
250
there have been exercise in our culture.
Os idosos enfrentam vários desafios no seu dia a 275
dia nas cidades. Para além da solidão, muitas das 259 All age people are praying. The prayer for every-
nossas cidades não estão preparadas para pessoas The love between father and son and the family body minor to adult & rich to poor.
com mobilidade reduzida. Os idosos, principalmen- of friendship are an integral part of Iranian culture.
te os que vivem nas zonas mais antigas das cidades, 276
enfrentam todos os dias os empedrados irregulares, 260 Every moment of the prayer is precious.God is
ruelas estreitas e íngremes. Nesta série de imagens, 18/5000 everywhere , prayer can be done from train win-
mostro alguns desses desafios enfrentados pelos Go to the usual place. dow.
mais velhos e sós.
261 277
251 Small children small houses. Now the time to go back to own home. Similar
Exterior de casa que fez parte da experiencia de condition of the returning train. Huge life risk & ex-
262
moradia popular do final dos anos 40, início dos ertion has to be taken to travel. Major drawback to
anos 50 para a população de baixa renda. Das 50 Look tired. provide healthy transportation to pilgrims.
construídas, hoje restam apenas 22 casas.
263 278-283
252 Little mother. Diálogos en el tiempo - 1975 a 2017 - es el paso
O mercado do Bolhão é um local emblemático, del tiempo, hice una investigación en el archivo fo-
264
para mim é um lugar bonito, desde a sua arquitec- tográfico que tienen en los campamentos, seleccio-
tura, mercado aberto, tendas e os aromas de cada Every where. nando y escaneando diferentes imágenes de como
uma das bancas. No entanto é usado por muitas 265 era la vida, condiciones y recursos que tenían entre
pessoas que aí se deslocam diariamente para fazer 1.976 y 1.978. Realicé la misma fotografía como
Carriage.
compras. Muitos são os moradores mais velhos que está hoy en día para visualizarlo en un díptico com-
quiz captar numa série que tirei em 2017. Esta ima- 266-271 parativo del paso del tiempo.
gem é uma dessa série, um casal de idosos que des- Drought, lack of welfare and educational facilities, 284
ce a escadaria, ao que segundo questionei, mesmo low income, old age, etc. could be numbered as
com as suas dificuldades não trocam este mercado Vacas jungidas para transportar o estrume que há-
the main reasons for villagers migrating to the
por nada. de fertilizar a terra.
cities. Men travel to cities around to earn money,
253 and young people are not willing to live in the vil- 285, 287
lage after their marriage; meanwhile, mothers re- Os caretos são personagens mascaradas que estão
Localizado no coração de Porto Alegre, o prédio
main in the village. The lives of mothers here are associados a festividades no nordeste transmonta-
que hoje dá vida a Ocupação Saraí já serviu de
accompanied by loneliness, illness and difficulty of no e representam muito provávelmente uma tradi-
moradia para dezenas de pessoas em situação de
work, among which loneliness is the basic cause ção pagã que sobreviveu até aos nossos dias.
vulnerabilidade social. As primeiras delas chegaram
of their sorrow; in whatever way, they spend their Figuras incontornáveis da cultura e folclore trans-
em 2006, época em que completavam-se seis anos
days looking forward to seeing their husbands and montano , os caretos nos dias dedicados ao En-
de abandono da estrutura por seu proprietário.
children. The present collection looks at the lives trudo realizam todo o tipo de tropelias ao mesmo
Desde então, ocorreram três despejos. Mesmo as-
of Kurdish women living in loneliness in Kurdistan tempo que dançam ao som de música tipicamente
sim, cerca de 20 famílias seguem na luta pelo direi-
villages. transmontana derivada da combinação da gaita de
to a moradia em uma das regiões mais valorizadas
da Capital gaúcha e sonham com o dia em que 272 foles, bombo e caixa.
poderão dormir sem medo de amanhecer na rua. Há uma associação diabólica a estas figuras, pen-
BISWA IJTEMA is the second largest Muslim re-
sa-se que desde a introdução do cristianismo nesta
254 ligious gathering of the world after Mecca. Every
região. E é em Lazarim que as tradicionais másca-
year this event is organised in DHAKA , the capital
Symbol of should be and should not be in Iranian ras comuns a todos os caretos são especialmente
of Bangladesh.People from across the country visit
culture for women. diabólicas.
DHAKA by train to attend this event & most impor-
As máscaras de Lazarim representam figuras histó-
203
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
ricas como bispos, reis e romanos, figuras místicas cido país existe un valle encantado donde el tiempo 298
como bruxas e diabos e figuras de animais como o se detuvo siglos atrás. En las montañas de Atakora. The image was taken in morning time at old city
burro, a corsa, o porco, etc. El hogar de la tribu Tamberma. Casas tradiciona- of ahmedabad where people used to meet at com-
Os trajes destes caretos de Lazarim são feios à base les, fetiches, espíritus ancestrales, arcos y flechas... mon place, have cup of tea & discuss / read current
de palha, barbas de milho ou folhas remetendo-nos pura naturaleza. happening in city.
para a natureza e a vida no campo. Hoy en día viven en busca del equilibrio. Un equi-
É com esta secular tradição - OS CARETOS DE LA- librio perfecto. Perfecto para con ellos y para con 299
ZARIM - que participo no Transversalidades 2018. el medio ambiente. Sin demasiado contacto que The image was taken at old city of ahmedabad
contamine el alma... sin distracciones. Serenidad where a monk was walking & a man was walking
286
permanente. Disfrutando de la familia, el sol, la with him with bare foot to greet him.
Fim da tarde e hora de os animais recolherem às luna y las estrellas. Viviendo con la Madre Natura-
cortes. 300
leza, protegiendo el medioambiente, preservando
su identidad... buscando permanentemente la paz.. Masked Costumers in Medieval clothes.
288, 290
Mro, also known as Murong, an indigenous com- 295 301
munity living for hundreds of years in the south- Guerrera Tamberma en el interior de su “tata”. En A Fairy Tale at the Venice Carnevale.
eastern hills of Bangladesh were frustrated for not Togo, en el interior de este precioso y desconocido
302
having formal religion. The myth depicts that like país, existe un valle encantado en donde el tiempo
other tribes God offered them a religion and lan- se detuvo siglos atrás. En las montañas de Atakora. Izaba, un pequeño pueblo del Pirineos navarro, ju-
guage alphabet but the script written on banana El hogar de la tribu de los Tamberma. Casas tra- lio del 2017 una antigua tradición recorre sus calle
leaf was eaten by the bearer cow. They used to dicionales, fetiches, espíritus ancestrales, arcos y “El Toro De Fuego” me explican los ancianos del
punish the representative cow in a festival which flechas… naturaleza en estado puro… lugar que un joven muchacho carga a hombros un
became their most distinctive ritual. Among other Famosa por sus increíbles chozas fortificadas de viejo artilugio pirotécnico y entrada la noche lo ha-
11 tribes in the same hills, Mro is the only half-nude dos pisos (que se han convertido en un símbolo del cer correr calle arriba y abajo persiguiendo a niños
community who are illustrious for their Dance and Togo), estas fortalezas conocidas como “”tankie- y mayores como si de un encierro taurino se trata-
Music. In 1984, a man named Manley Mro came tas”” o “”tatas”” fueron ideadas por los habitan- se, entre risas y carreras de los mas mayores y el
up as the redeemer who brings them out of this ca- tes de Atakora hacia el siglo XVIII para protegerse asombro de pequeños y foráneos, viejas tradiciones
tastrophe. He first introduced Mro Alphabet as well de las incursiones esclavistas de los guerreros del que quedan grabadas de generación en generación
as scripted their lost religion which is now known reino de Dahomey, de merodeadores y de bestias como historia latente de un pueblo.
as “Crama”. In the course of three decade, the salvajes. Esta área ha sido nombrada Patrimonio de 303
Mro in major numbers have converted to Crama la Humanidad por la UNESCO.
(or Khrama). Now it is working as spiritual and phil- Velho trajando vestes tradicionais em campanha
Casas de barro que servían de fortaleza desde la
osophical catalyst for change in the community and eleitoral para o parlamento de Timor-Leste, um si-
que defenderse de sus atacantes. Siempre en busca
leading to a socio-cultural transformation. nal de autoridade. Ele é possivelmente um lia na’in,
de protección, estos guerreros han estado luchan-
uma liderança tradicional local, o portador da pa-
do contra las tribus vecinas que recibieron armas
289 lavra.
y suministros de los europeos. Todo esto por una
Every human being aspires for true and pure love. causa, la esclavitud. Han tenido una sola opción: 304, 305
But no one has a definite definition of it. luchar por la libertad y la paz... BAHURUPI artists in West Bengal easily meta-
291 Hoy en día viven en busca del equilibrio. Un equili- morphose into different mythological characters
brio perfecto. Perfecto para consigo mismos y para during a performance, but are finding it hard to
The Sabalan mountain range in winter. High snow
con el medio ambiente. Sin demasiado contacto change their work roles with changing times.This
and blizzards and the difficult lives of people on the
que contamine el alma… sin distracciones. Sereni- once-popular folk art form is now vanishing in rural
slopes of this mountain.
dad permanente. Disfrutando de la familia, del sol, West Bengal. Its practitioners have for generations
292, 294 la luna y las estrellas. Coexistiendo con la madre earned modest amounts from their performances.
In Vietnam, buffaloes are very valuable, they re- naturaleza, protegiendo el ecosistema, preservan- But because audiences now increasingly prefer
place people for paddy rice. Every week, buffalo do su identidad… cultivando permanentemente la other forms of entertainment, the younger gener-
markets are held for people to trade and find buf- paz. ations from Bahurupi families are being forced out
faloes for agriculture. 296 of the profession.
293 O “Melasti” é celebrado em Bali anualmente como 306
Dos niños de la etnia Tamberma miran la majes- ritual de purificação, o qual serve para limpar o Afemale artist is making sculpture.
tuosa sabana desde su casa-torre hecha de estiér- mundo do pecado e do mau Karma, através do
acto simbólico de receber a “Tirta Amerta” (néctar 307
col de vaca, barro y paja. Estas fortalezas de dos
pisos conocidas como “”tankietas”” o “”tatas”” dos Deuses), que é a água sagrada do mar. The Sadu have about 4 million people in India and
fueron ideadas por los habitantes de Atakora ha- 297
Nepal, covered by the ashes of the bodies they
cia el siglo XVIII para protegerse de las incursiones burn, who get married and do not feel and worship
Parte da cerimónia Melasti tem lugar na praia, onde except in worship.
esclavistas de los guerreros del reino de Dahomey y
se recebe a “Tirta Amerta” e se purifica a “buana
de los merodeadores y las bestias salvajes. La zona
alit” (alma de cada um) e a “buana agung” (a terra 308
ha sido nombrada Patrimonio de la Humanidad por
e as suas criaturas) de maus pensamentos, más in- Noviça se preparando para tocar durante missa em
la UNESCO.
flucências e mau Karma, sendo toda a negatividade uma pequena capela do interior do Rio de Janeiro.
En Togo, en el interior de este hermoso y descono-
lançada ao oceano.
204
legendas
309, 311 319 of Bangladesh newly arrived till now, more than
Nowruz, the first day of Iranian solar year coincid- The women are performed a festive ritual named 700.000 thousand of Rohingya Muslims people
ing with Farvardin 1st, is one of the most ancient “Chaat Puja”by standing on a river. entered in Bangladesh through different borders
celebrations of Iranians survived from ancient times of Myanmar-Bangladesh. And there are old, near-
320, 321 ly 500.000 thousand Rohingya refugees. Total
especially among Kurds. People from different parts
of Iran still celebrate the event at the time of hold- Irão 2014. Rohingya refugee enters in Bangladesh about 12
ing which is the beginning of Spring. Nowruz is the million. Every day refugees are increasing among
322
greatest celebration of Kurds (who have their own them; there are more number of women, pregnant
canlendar, language, music, clothing, dancing, cul- Thousands of muslim are praying namaj at Ijtema woman, children and old people. According to the
ture, and customs, special to themselves) and they field. UNHCR sources, 50 thousand Rohingya children
welcome it each year by holding a magnificent cer- will be born within the next six months in Rohingya
323
emony. refugee camp, Ukhiya, Cox’s Bazar, Bangladesh.
Boys, girls and women are praying yo Allah.
Customarily, the village elder starts the big fire first,
333
then some of the youths light their torches and 324
climb up the village. The ceremony continues with Crianças nas montanhas de Sapa brincam e ven-
The celebration of a war-victory by the naga-tribe dem pulseiras da sorte...
local Kurdish music playing and color-clothed men which they used to undertake in a real-war, through
and women dancing. cultural-performance. 334
310 Dos niños de la etnia Yekuana caminan al rio para
325
Chinese. la pesca del dia.
The superlative power as warriors is being displayed
312 by the naga-tribe through cultural-display. 335
The women of the family are performed a festive Meninos a jogar futebol na rua.
326
ritual with the fire in hand. Aldeia Olho D’água dos Canutos do Povo Tabajara.. 336
313 Crianças na rua em carro abandonado.
327
The minority Hindu community of Bangladesh gath- The tribal people use to express themselves with 337
ers at the Loknath temple for praying on a special very peculiar clothes and decorations, such as nat- Mesmo após o banho, as crianças ainda continuem
occasion called Rakher Upavas. They lit up earthen ural fur, woven fabrics and feathers. The man on jogando bola. No melhor estilo freestyle, elas se di-
lamps and pray for their dear and near ones. the picture wears a Bird of Paradise. These beautiful vertem até os momentos finais.
314 birds in particular play an important role in the cul-
ture of these tribes. 338
Devotee plays with fire to show their dedication
Garoto prepara o chute para o gol. Ali, estão
towards the god. 328
crianças que podem pagar pela escolinha e outras
315 The ‘dress’ of the men is the penis gourd called a que não. O Trobogy, como praticamente todos os
koteka, which has a distinctive shape in each of the bairros de Salvador, sofre com a violência. Ali, elas
Durante a confeção, é necessário ir mexendo para
three main tribes. estão focadas apenas no esporte, longe da dura
não agarrar e assim ganhar sabores da água que
coze. realidade do bairro.
329
205
transversalidades 2018 fotografia sem fronteiras
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