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Fraternalmente,
1. A constituição da Igreja
2. A expansão da Igreja
3. A institucionalização da Igreja
4. A deterioração da Igreja
5. Movimentos reformistas
6. A Reforma Protestante do século XVI
7. A expansão da Reforma e a Contrarreforma Católica
8. “Sola Scriptura” – Somente a Escritura
9. “Solus Christus” – Somente Cristo
10. “Sola Gratia” – Somente a Graça
11. “Sola Fide” – Somente a Fé
12. “Soli Deo Gloria” – Glória somente a Deus
13. “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est” – Igreja Reformada
sempre se reformando
Bibliografia sugerida
Filmes sugeridos
01 - A constituição da Igreja
Mateus 16.13 a 20
LEITURA DA SEMANA
SEG - Gênesis 12.1-9
TER - Deuteronômio 26
QUA - Salmo 100
QUI - Atos 1
SEX - Atos 2.1-40
SAB - Atos 2.41-47; 4.32-37
DOM - I Pedro 2.1-11
Não é um equívoco nem um exagero afirmar que a origem da igreja remonta aos
primórdios da criação, embora a sua constituição tenha passado por diferentes estágios.
Partindo do pressuposto que a igreja é o povo de Deus, separado do mundo e reunido
em torno do Senhor para adoração e serviço, concluímos que a semente do que se
entende por igreja remonta aos nossos primeiros pais, criados para a glória de Deus e
os primeiros responsáveis pela Missio Dei – a missão de Deus no mundo. Naquele
momento, a missão consistia em encher a terra e administrar as obras da criação (Gn
1.26-28; 2.15). Isso implicava em trabalho e descanso, relação familiar, convívio
amistoso com a natureza, sendo tudo feito para a glória de Deus e o desfrute do homem.
Já sob o impacto da Queda, a semente do que se denomina igreja brota em Abel
– “Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta” (Gn 4.4). Posteriormente, essa
semente brota na linhagem de Sete, terceiro filho de Adão e Eva – “Tornou Adão a
coabitar com sua mulher; e ela deu à luz um filho, a quem pôs o nome de Sete; porque,
disse ela, Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou. A
Sete nasceu-lhe também um filho, ao qual pôs o nome de Enos; daí se começou a
invocar o nome do Senhor.” (Gn 4.25,26). Perpassando a descendência de Sete, chega-
se a Noé. Após o Dilúvio, percebe-se claramente que a ideia de igreja está enraizada
na prática de Sem e seus descentes (semitas), sobretudo, Abraão, o pai dos hebreus.
Como observa Herman Bavinck, “Deus permitiu que as nações seguissem seus próprios
caminhos, e com Abraão e sua descendência, estabeleceu uma aliança, que também
separava externamente a igreja do mundo por meio do sinal da circuncisão e foi
confirmada ao pé do monte Sinai e elevada ao nível de aliança nacional.” (Dogmática
Reformada, vol. 4, Cultura Cristã, p. 281).
Assim, Israel tornou-se o povo chamado por Deus para a adoração, o serviço e
o testemunho perante as nações.
TÓPICOS PARA REFLEXÃO
1. O embrião da igreja
O antigo Israel é o embrião da igreja cristã. A história da igreja cristã está
visceralmente ligada à prática religiosa judaica.
Nas palavras de Bavinck, “em Israel, a igreja e o Estado não eram idênticos.
Havia uma diferença entre o sacerdote e o rei, o templo e o palácio, as leis religiosas e
as civis. Não obstante, os dois estavam tão estreitamente unidos que cidadãos e crentes,
a nação e o povo de Deus, coincidiam, e uma só lei divina controlava toda a vida de
Israel. (...) No entanto, depois do exílio, a existência nacional de Israel sofreu uma
mudança importante. Os judeus deixaram de ser um povo como os outros povos da terra
e se tornaram uma comunidade religiosa. Em toda cidade, dentro e fora da Palestina,
assembleias de crentes se reuniam no Sabbath (Sl 74.8; At 15.21) para lerem a Torá e
serem instruídas nela. O componente primário do culto conduzido ali era o ensino (Mc
1.21; 6.2). Para os judeus, esses encontros se tornaram cada vez mais o centro de sua
vida religiosa e, nas cidades de população mista ou predominantemente grega,
adquiriram uma organização independente. O templo de Jerusalém, de fato, continuou a
existir e ainda era honrado como localização da presença especial de Deus, embora os
judeus da diáspora adquirissem gradualmente um culto que tomava forma sem o templo
e o altar, o sacerdócio e os sacrifícios e consistia totalmente em pregação e oração.
Foram essas assembleias que, no tempo do Antigo Testamento, lançaram o alicerce
para a futura comunidade eclesiástica cristã.” (op. cit., p. 283-284).
Essas assembleias, identificadas pelo termo grego sunago̅ge̅, ocorriam em
casas denominadas “sinagogas”. Os cristãos, por sua vez, passaram a chamar suas
reuniões de ekkle̅sia (igreja). No Novo Testamento, Israel é substituído pela igreja de
Cristo, a “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de
Deus” (I Pe 2.9).
2. O fundamento da igreja
Após a solene confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt
16.16), Jesus faz uma importante declaração acerca da constituição da igreja cristã:
“sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão
contra ela.” (Mt 16.18).
A igreja não é propriedade cultural de Israel, ela é de Deus. Não é um projeto
apenas nacional, é universal. Não é mera adaptação e continuação do judaísmo; é um
projeto concebido por Deus e levado a cabo por Cristo, que a comprou com o seu
próprio sangue (At 20.28; Tt 2.11-14).
Sobre a confissão de Pedro e a declaração de Jesus, Bavinck afirma: “As
palavras ‘esta pedra’ só podem se referir à pessoa de Pedro, mas ele é e demonstrou
ser uma pedra por meio de sua confissão de Jesus como o Cristo, uma confissão que ele
devia não a si mesmo, mas à revelação do Pai. Precisamente por essa razão, Jesus
prometeu a Pedro que edificaria sua igreja sobre Pedro como o confessor da filiação e
do messianismo de Jesus. Cristo, consequentemente, apresentou-se como o construtor
de sua igreja e Pedro, o confessor, como a pedra sobre a qual sua igreja se apoiaria. A
mesma imagem ocorre em Mateus 21.42; Atos 4.11; I Coríntios 3.10; Efésios 2.20;
Apocalipse 21.14 (cf. I Pe 2.4-6), mas é aplicada de forma diferente. Ali os apóstolos
são vistos como os construtores que, por meio de sua pregação, basearam a igreja sobre
Cristo como seu fundamento, mas aqui, em Mateus 16.18, Cristo é o construtor que
edifica sua igreja sobre Pedro, o confessor. Cristo também cumpriu sua promessa.
Pedro é o principal dos apóstolos, o principal fundador da igreja, o exemplo e o líder
de todos os confessores de Cristo ao longo dos séculos. Por essa razão, ele é sempre
mencionado primeiro nas listas dos apóstolos (Mt 10.2; Mc 3.16; Lc 6.14; At 1.13) [...]
Depois da ascensão de Jesus como primeira testemunha entre os discípulos, Pedro
ocupou o lugar central (At 1.15; 2.14; 3.1ss.; 4.8ss.; 5.3ss., 29ss.; 8.14; 10.5ss.; 12.3ss.;
15.7ss.) e também foi honrado por Paulo como o primeiro entre iguais (Gl 1.18; 2.7-9).
(op. cit., p.343-344).
Pedro não é a pedra fundamental da igreja. Ele é uma pedra entre as pedras
sobre a pedra principal, que é Cristo. Cristo é a pedra angular ou “pedra de esquina”, a
pedra que amarra e sustenta os lados do edifício (Is 28.16; Lc 20.17; I Pe 2.6).
3. A eclosão da igreja
A ekkle̅sia cristã, que teve o seu núcleo inicial com Jesus e os doze, logo após a
ascensão do Senhor já contava com umas 120 pessoas. Porém, coisas extraordinárias
estavam por acontecer na vida da igreja:
DISCUSSÃO
À luz deste estudo, que elementos constituem a base para a edificação e o crescimento
da igreja?
02 - A expansão da Igreja
Atos 13.1 a 3
LEITURA DA SEMANA
SEG - Atos 5.12-42
TER - Atos 6
QUA - Atos 7
QUI - Atos 8
SEX - Atos 9.1-31
SAB - Atos 9.32 – 10.48
DOM - Atos 11
DISCUSSÃO
O que falta à igreja, hoje, para alcançar maior expansão tanto geográfica quanto entre
os diversos segmentos da sociedade?
03 - A institucionalização da Igreja
Tito 1
LEITURA DA SEMANA
SEG - Atos 6.1-6
TER - Atos 15.1-34
QUA - Atos 20.13-36
QUI - Efésios 4.1-16
SEX - I Timóteo 3
SAB - I Pedro 5
DOM - I João 4
4. Os outros cristãos
É interessante registrar aqui a existência das outras tradições cristãs, a saber:
Cristãos coptas – São os descendentes dos antigos egípcios, que se
converteram ao Cristianismo no século I. Hoje, são cerca de oito milhões de
cristãos (10% da população egípcia), divididos em três grupos: 90% dos coptas
pertencem à Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, nativa do país; os cerca de
800.000 restantes estão divididos entre a Igreja Católica Copta e a Igreja
Protestante Copta.
Além dos cristãos coptas, há outras igrejas cristãs antigas, que se separaram de
Roma por volta do século V, por não aceitarem as definições cristológicas do Concílio
de Calcedônia (451). São elas:
Igreja Ortodoxa Síria – Tem raízes apostólicas, tendo sido fundada,
segundo a tradição, em 34, na cidade de Antioquia, pelo apóstolo Pedro. Está
concentrada na Síria, Turquia, Iraque e Índia, mas tem muitos fieis espalhados
pelo mundo, inclusive no Brasil;
Igreja Apostólica Armênia – Também tem raízes apostólicas. A Armênia
foi a primeira nação do mundo a declarar-se cristã, o que se deu em 301. A Igreja
Apostólica Armênia reúne hoje cerca de nove milhões de fiéis (Obs.: não é a
mesma denominação, também da Armênia, chamada Igreja Católica Armênia);
Igreja Ortodoxa Indiana – Segundo a tradição, foi fundada por Tomé, que
teria chegado à Índia em 52, onde instituiu a igreja e sofreu o martírio em 72;
Igreja Nestoriana – Foi um grupo liderado por Nestório, Patriarca de
Constantinopla (428–431). Apesar da divergência de compreensão da natureza de
Cristo, eram crentes sinceros e cheios de zelo missionário. Foram para a Pérsia e
depois se espalharam pela Arábia, Curdistão, China e Índia. Os cristãos
nestorianos formam hoje um grupo pequeno, sendo que muitos voltaram ao
catolicismo no século XVI;
Igreja Ortodoxa – Reivindica ser a mesma instituição anunciada
por Jesus e considera seus líderes sucessores dos apóstolos. Resultou do Cisma
do Oriente ou Grande Cisma, em 1054, sendo herdeira da cristandade do Império
Bizantino. É formada por uma comunhão de igrejas e conta com cerca de 250
milhões de fiéis, concentrados em países da Europa Oriental. As maiores igrejas
locais são a russa e a romena.
Esses grupos cristãos (com exceção do último) aceitam apenas os três primeiros
concílios: Concílio de Niceia (325), Concílio de Constantinopla (381) e Concílio de
Éfeso (431).
DISCUSSÃO
LEITURA DA SEMANA
SEG - Isaías 1
TER - Oseias 6
QUA - Gálatas 1
QUI - Gálatas 2
SEX - Gálatas 3
SAB - Gálatas 5
DOM - Apocalipse 22
Muitos foram os fatores que ameaçaram a igreja. Alguns serviram para o seu
fortalecimento e a consolidação da fé cristã. Outros, porém, contribuíram para o
enfraquecimento e a perda das qualidades cristãs. Vejamos:
3. A sedução do mundanismo
Os acontecimentos históricos apontados no estudo anterior, referentes aos rumos
tomados pela igreja cristã a partir de sua institucionalização e o seu atrelamento ao
poder temporal, conduziram-na a uma situação de progressiva deterioração. A Igreja
foi adquirindo poder econômico e político e perdendo poder espiritual. Como já foi
dito, de serva, transformou-se em senhora; de igreja perseguida, em igreja
perseguidora. A essa altura, os interesses temporais já falavam mais alto que a tradição
apostólica, ditando as aspirações e os rumos da Igreja.
Embora houvesse nas comunidades locais muitos sacerdotes piedosos e
tementes a Deus; gente simples e fiel aos princípios cristãos, que buscava a santidade e
testemunhava; homens e mulheres generosos que exercitavam a sua fé por meio das
boas obras em favor dos necessitados; homens que dedicavam suas vidas à missão
evangelizadora; muitos outros que se entregavam à vida monástica em busca de
santidade... fato é que boa parte do clero estava mais preocupada com poder político,
riquezas materiais, prazeres carnais, ou seja, uma vida mundana. A Igreja agia no
sentido de se tornar uma instituição cada vez mais poderosa econômica e politicamente.
Ela já não podia mais dizer como Pedro, pois, agora, tinha prata e ouro, mas não tinha
mais poder espiritual (At 3.6).
Os historiadores informam sobre a degradação que, no período medieval, tomou
conta. Nichols, por exemplo, escreve: “Não é exagero afirmar que, por toda a Europa,
sacerdotes escandalosos superavam, numericamente, os de vida honesta. Não somente a
ignorância e o abandono dos deveres eram frequentes, mas também a vida luxuriosa,
grossa imoralidade, roubo e simonia, isto é, a venda dos ofícios eclesiásticos. O alto
clero não era melhor, talvez pior. A simonia era a maneira regular e reconhecida de se
obter um bispado; e para alguns deles havia preço fixo. Nem o papado ficou isento. Seu
estado por mais de 150 anos, a partir de 890, era vergonhoso, vil ao último grau. O
ofício que tinha sido tão elevado por Gregório I e Nicolau, passou por toda a sorte de
desgraças.” (op. cit., p.72).
A Igreja mergulhou numa situação deplorável, ocorrendo o que adverte
Provérbios 29.18: “Não havendo profecia, o povo se corrompe.”
DSICUSSÃO
LEITURA DA SEMANA
SEG - I Timóteo 3
TER - I Timóteo 4
QUA - I Timóteo 6
QUI - II Timóteo 2
SEX - I Pedro 1
SAB - I Pedro 2.1-11
DOM - I Pedro 4
2. Movimentos reformistas
É importante lembrar que os nomes acima citados não foram vozes isoladas.
Havia um anseio geral por mudanças, traduzido em alguns movimentos populares de
cunho reformista, os quais foram cruelmente sufocados pela Igreja:
Petrobrussianos – Movimento liderado por Pedro de Bruys, sacerdote
católico que se desligou da Igreja, no sul da França. Praticavam um Cristianismo
simples e criam na salvação pela fé. Eram contra a religião institucionalizada, o
culto a Maria, o uso de imagens no culto, o celibato e o batismo de crianças.
Insistiam na autoridade da Bíblia sobre os pais da Igreja. Pedro de Bruys foi
queimado vivo em 1135. Sua obra foi continuada pelo conde D. Henrique, abade
de Cluny, que promoveu grande avivamento, sendo depois preso e condenado;
Valdenses – Movimento iniciado no século XII por um rico
comerciante de Lyon, França, chamado Pedro Valdo. Valorizavam a vida simples
e piedosa, bem como a pureza doutrinária com base somente nas Escrituras. Pedro
Valdo foi excomungado em 1184 e morreu em 1217. Seus seguidores foram
expulsos e se fixaram nos vales alpinos franceses, na Alemanha, no norte da
Itália, e na Europa Central e Oriental. Foram duramente perseguidos. Em 1645,
foram mortos uns 2.700 deles no sul da França;
Cátaros ou Albigenses – Movimento surgido no século XIII, no norte
da Itália e sul da França. Não se tem informações seguras sobre suas crenças.
Rejeitavam os sacramentos, a Trindade e a ressurreição como ensinada pela
Igreja. Viviam vida de renúncia e desapego das coisas materiais. Também
sofreram intensa perseguição;
Lolardos – Movimento religioso e político desenvolvido no final do
séc. XIV e início do séc. XV, pelos seguidores de John Wiclif. Semearam por toda
a Inglaterra a Palavra de Deus. Denunciavam as peregrinações, as superstições, as
indulgências, os santos e o uso de imagens. Muitos deles foram martirizados;
Irmãos da Vida Comum – Movimento iniciado na Holanda, no séc.
XIV, por Gerardo Groot (1340 – 1384), humanista, teólogo e pregador. Primavam
pelo estudo do Novo Testamento grego e propunham, como fundamento para
qualquer reforma, a esmerada educação da juventude. Deram grande impulso à
impressão de livros teológicos. Antes de 1500, já tinham publicado mais de 450
livros.
Esses foram, portanto, cristãos fiéis e corajosos, que lutaram pelo retorno da
Igreja à pureza do evangelho. Todos eles sofreram intensas perseguições e foram
sufocados de forma impiedosa. Mas, a luta e o sangue derramado não foram em vão (Jo
12.24 e 25). O fermento já estava levedando a massa para a vinda de um novo tempo.
3. A fermentação da Reforma
Já no limiar do séc. XVI, segundo o historiador Justo L. Gonzalez, “fora da
Itália a Renascença tomou um rumo bem diferente. Na Espanha, Inglaterra, França,
Alemanha e Países Baixos havia eruditos que sonhavam com uma restauração do
Cristianismo antigo, seguindo os métodos dos humanistas.” (Uma História Ilustrada do
Cristianismo, vol. 5: A Era dos Sonhos Frustrados, Vida Nova, p.152). Erasmo de
Roterdã (1466 – 1536) foi o mais expressivo, sendo por isso considerado o “príncipe
dos humanistas”. “Em resumo, o humanista holandês procurava uma reforma dos
costumes, a prática da decência e a moderação. Pouco a pouco foi conquistando a
admiração de boa parte dos eruditos da Europa, que se escandalizavam com as
atividades dos papas da Renascença.” (op. cit., p. 155).
Como disse Jesus, a implantação do reino de Deus se dá como um processo de
fermentação (Lc 13.20,21). A Reforma não se deu de um momento para outro; foi o
resultado de uma fermentação iniciada muito antes, como se viu nos tópicos anteriores.
Vários fatores foram decisivos para a eclosão da Reforma, a saber: a)
corrupção eclesiástica e depravação moral do clero; b) despreparo dos sacerdotes; c)
abandono do povo e consequente insatisfação popular; d) opressão religiosa e venda de
indulgências; e) proliferação de ideias reformistas com o advento da imprensa; f)
fortalecimento do anseio nacionalista; g) a busca de mudanças impulsionada pela
Renascença.
Pelo fato de estar a igreja edificada em Cristo, as forças infernais não prevaleceram
contra ela – não a igreja institucionalizada, mas o corpo vivo de Cristo, que é a
verdadeira igreja. Essa, sim, será sempre vitoriosa, como garante o próprio Senhor
Jesus (Mt 16.18).
DISCUSSÃO
LEITURA DA SEMANA
SEG - Habacuque 3
TER - Romanos 1.1-17
QUA - Romanos 3
QUI - Romanos 8
SEX - Romanos 12.1-2
SAB - Efésios 2
DOM - Efésios 1.1-14
1. A deflagração da Reforma
No limiar do século XVI, entrou em cena Martinho Lutero (10/11/1483 –
18/02/1546).
Lutero era um monge agostiniano alemão. Estudioso, tornou-se professor da
Universidade de Wittenberg, na Alemanha, onde viveu e começou a apresentar suas
ideias reformistas.
Em 31 de outubro de 1517, afixou nas portas da Igreja de Wittenberg, suas 95
teses contra as indulgências. Rapidamente, Lutero transformou-se no estopim da
Reforma.
Em 1518, Roma abriu um processo contra ele por heresia. Dois anos mais tarde,
o papa Leão 10 ameaçou puni-lo, caso não revogasse suas teses. Em dezembro de 1520,
Lutero queimou a bula papal, em protesto, além de um livro de leis católicas e várias
obras de seus opositores. Assim, rompia definitiva e irreversivelmente com Roma.
Quando Leão 10 ficou sabendo do escandaloso espetáculo de incineração, não hesitou:
em 03 de janeiro de 1521, lançou sobre o reformador a maldição da excomunhão.
O pregador das indulgências, Johann Tetzel (1465 – 1519), pediu a fogueira
para Lutero. Entretanto, alguns príncipes se colocaram do lado dele, pois acreditavam
em suas ideias e criam que, através dele, seria possível limitar o poder de Roma.
Esses príncipes convenceram o Imperador Carlos V a convidar Lutero para ir à
corte em Worms. Lutero pôs-se a caminho e foi recebido com entusiasmo durante todo
o trajeto. Pregou em Erfurt, Gotha e Eisenach, antes de ser celebrado pelos habitantes
de Worms.
Na assembleia de Worms, entre os dias 16 a 21 de abril de 1521, instado com
ameaças a retratar-se de suas ideias e posições, Lutero declarou solenemente: “É
impossível retratar-me, a não ser que me provem que estou laborando em erro pelo
testemunho das Escrituras ou por uma razão evidente. Não posso confiar nas decisões
de Concílios e de Papas, pois é evidente que eles não somente têm errado, mas se têm
contraditado uns aos outros. Minha consciência está cativa da Palavra de Deus; e não é
seguro nem honesto agir-se contra a consciência de alguém. Assim Deus me ajude.
Amém.”
Após deixar Worms, Lutero estava protegido por um salvo-conduto que o
resguardaria de ser imediatamente preso. Porém, o imperador o declarou fora da lei e,
portanto, exposto ao cárcere e à destruição de seus escritos. Durante a viagem de volta,
o príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio, mandou sequestrá-lo e o escondeu no
castelo de Wartburg. Enquanto lá permaneceu, se pôs a traduzir a Bíblia para o alemão.
Assim, Lutero escapou da Inquisição.
Através da obra À Nobreza Cristã Alemã, convocou toda a Alemanha a unir-se
contra Roma. A Reforma estava, portanto, deflagrada e não tinha mais como ser
contida. Novos líderes foram surgindo, os quais deram grande ímpeto ao movimento
reformista.
A mão do Senhor estava com esses homens; por isso, ninguém seria capaz de
impedir a Reforma (Is 43.13).
DISCUSSÃO
LEITURA DA SEMANA
SEG - Salmo 19
TER - Salmo 119.1-18
QUA - Efésios 2.1-10
QUI - Romanos 5
SEX - Romanos 8
SAB - Hebreus 10
DOM - I Pedro 2
2. Os caminhos da expansão
Em seu livro Nossa Crença e a de Nossos Pais, David S. Schaff apresenta o
seguinte resumo sobre a expansão da Reforma nos seus anos iniciais: “Partindo da
Alemanha (Wittenberg), o movimento se alastrou à Suíça, tendo Zurique e Genebra
como centros principais. Na Dinamarca, Suécia e Noruega, o novo sistema suplantou
inteiramente o velho. Na Hungria, dividiu a população. Triunfou na Holanda, após a
mais a amarga perseguição. Na Inglaterra, cenas sangrentas se desenrolaram, antes que
as novas concepções se estabelecessem. Na Escócia, o povo e o Parlamento se uniram
para seguir João Knox, sendo implantado o sistema presbiteriano. Na França, as
perspectivas de reforma foram promissoras, mas teve de enfrentar a má vontade do rei,
que lhe moveu profunda perseguição, queimando a vinte e quatro ‘hereges’ em Paris, no
espaço de seis meses, sendo seis executados à sua própria vista. Cinquenta anos mais
tarde, com o massacre da noite de São Bartolomeu, 1572 (foram assassinados, num só
dia, em torno de 2.000 protestantes), o Partido Protestante foi quase aniquilado.”
(p.67).
Apesar de todas as reações contrárias, a Reforma estava consolidada e ganhava
o mundo. O movimento se expandiu para outros países da Europa e para algumas
províncias bálticas. Mais tarde, tomou conta dos Estados Unidos (desde o início da
colonização); e, a partir daí, alcançou vários outros países pelo mundo afora, graças
aos grandes empreendimentos missionários.
3. A Contrarreforma Católica
Comumente, se afirma que a chamada “contrarreforma católica” foi uma reação
à Reforma Protestante. Em parte, isso é verdade; mas, fato é que, já antes da reforma
protestante, a própria Igreja Católica implementava mudanças em “resposta à aspiração
generalizada de regeneração religiosa que permeava a Europa dos fins do século XV”
(Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, vol. 1, Vida Nova, p. 348).
Com o advento da Reforma Protestante, a Igreja Católica se viu forçada a
acelerar sua reforma interna. Três ações foram decisivas para a contrarreforma:
a) Criação, em 1534, da Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola
(movimento jesuítico). Num caminho inverso ao da vida monástica, “os jesuítas
ministravam aos pobres, educavam meninos e evangelizavam os pagãos (...) Quando
Inácio morreu, a Sociedade tinha cerca de 1.000 membros que administravam cerca de
100 fundações. Um século mais tarde, havia mais de 15.000 jesuítas e 550 fundações, o
que é testemunho da vitalidade contínua da contrarreforma.” (op. cit., p.349);
b) Recrudescimento da Inquisição (tribunal eclesiástico instituído no início do
séc. XIII, que investigava e julgava de forma sumária os acusados de heresia). A partir
de 1542, o Tribunal da Inquisição expandiu o seu trabalho, funcionando intensamente
principalmente nos impérios espanhol e português. Os historiadores falam em cerca de
150 mil julgamentos e 3.000 condenações à morte;
c) Realização do Concílio de Trento (entre 1545 a 1563). As principais
decisões do Concílio de Trento foram: “condenar a venda de indulgências, conforme
Lutero já as combatera e a igreja romana admitiu seu erro; condenou a intervenção de
príncipes nos negócios da Igreja; condenou a doutrina protestante de justificação apenas
pela fé e reafirmou que a salvação é pela fé e também pelas obras; que a missa deve ser
ressaltada em sua importância na liturgia; ainda confirmou cultos aos santos, à virgem
Maria e relíquias; reativou o Tribunal do Santo Ofício (Inquisição); reafirmou a
doutrina da infalibilidade papal, do pecado original, da existência do purgatório e dos
sete sacramentos (batismo, confirmação ou crisma, confissão, eucaristia ou comunhão,
matrimônio, ordem e extrema unção); confirmou a indissolubilidade do casamento, mas
o proibiu para membros do clero (celibato clerical) e criou seminários para formar
seus sacerdotes. Também estabeleceu decretos e metas para a unidade católica,
fortalecendo sua hierarquia.” (Dr. Armando Araújo Silvestre -
www.infoescola.com/historia/concilio-de-trento/).
Na análise do já citado Dr. Armando A. Silvestre, a contrarreforma foi um
“esforço teológico, político e militar de reorganização católica e de confronto
ao protestantismo; e todas as suas doutrinas católicas foram discutidas para responder
às críticas doutrinárias dos protestantes. Também as guerras e conflitos entre católicos
e protestantes se estenderam por décadas, culminando com a atroz Guerra dos Trinta
Anos que dilacerou metade da Europa, terminando apenas em 1648, com a Paz de
Vestfalia, e a demarcação dos territórios e fronteiras políticas e religiosas católicas e
protestantes.”
Os caminhos da Reforma não foram fáceis; foram marcados por muita luta e
derramamento de sangue, mas o esforço não foi em vão. Pela graça de Deus, a Reforma
triunfou e inaugurou um novo tempo, transformando radicalmente a realidade de muitos
povos. As marcas da Reforma são indeléveis. Diante disso, devemos nos sentir
desafiados e motivados a sustentar a fé cristã reformada, contribuindo assim para
promover a vida abundante oferecida por Cristo Jesus (Jo 10.10).
DISCUSSÃO
No contexto em que você vive, quais são as evidências dos benefícios proporcionados
pela Reforma Protestante? O que a sua igreja faz hoje para ampliar esses benefícios?
08 - “Sola Scriptura” – Somente a Escritura
II Reis 22
LEITURA DA SEMANA
SEG - Salmo 119.1-24
TER - Salmo 119.25-48
QUA - Salmo 119.49-72
QUI - Salmo 119.73-96
SEX - Salmo 119.97-120
SAB - Salmo 119.121-144
DOM - Salmo 119.145-176
O texto bíblico central deste estudo relembra a história do rei Josias, que
empreendeu uma profunda reforma religiosa em Israel, a partir da redescoberta do
Livro da Lei do Senhor.
Pode-se dizer que a Reforma Protestante foi uma redescoberta do Livro da Lei
do Senhor. O entendimento da ênfase reformada à supremacia da Escritura deve
considerar a tendência que prevaleceu na Idade Média, em que a interpretação dos Pais
da Igreja, as decisões conciliares e os decretos papais falavam mais alto do que a
Escritura. Esse legado ficou conhecido como “a tradição da Igreja”. Em muitos
aspectos, a tradição da Igreja é uma expressão do ensinamento bíblico; porém, ela
inclui questões que não expressam exatamente o ensino escriturístico, que se opõem
frontalmente à Escritura e que vão além dela.
No período anterior à Reforma, a Igreja se conduzia muito mais pela tradição
do que pelo ensino da Escritura. Por isso, o anseio reformista propunha, antes de tudo,
um retorno à Escritura. Esse retorno à Escritura foi decisivo para abalar a estrutura
eclesiástica vigente e desencadear a Reforma Protestante. Em seu discurso na Dieta de
Worms, Lutero declarou que a sua consciência estava cativa à Palavra de Deus.
A Reforma foi, antes de tudo, um movimento em direção à Escritura. Foi a partir
da redescoberta da Escritura que se desencadeou a onda de mudanças com
desdobramentos que impactaram definitivamente diversos povos e nações.
DISCUSSÃO:
“Somente a Escritura!” De modo geral, isso tem sido verdade na igreja evangélica
brasileira?
09 - “Solus Christus” – Somente Cristo
Atos 4.5 a 12
LEITURA DA SEMANA
SEG - Isaías 53
TER - João 1
QUA - Romanos 3
QUI - Hebreus 7
SEX - Hebreus 8
SAB - Hebreus 9
DOM - I Pedro 1
DISCUSSÃO
Sempre houve no ser humano a pretensão de se tornar o autor da sua própria salvação.
Em sua opinião, por que alguns têm dificuldade em reconhecer que é somente em
virtude dos benefícios da obra de Cristo que o homem pode ser salvo?
10 - “Sola Gratia” – Somente a Graça
Efésios 2.1 a 10
LEITURA DA SEMANA
SEG - Efésios 1.1-14
TER - Romanos 3.21-31
QUA - Romanos 4
QUI - Romanos 5
SEX - Romanos 6
SAB - Romanos 11
DOM - Tito 2.11-14
As obras humanas se tornam totalmente inúteis quando realizadas com o
propósito de se alcançar a justificação diante de Deus. A salvação só é possível em
virtude da maravilhosa graça de Deus disponibilizada na pessoa de Cristo Jesus. Em
Romanos 3.23 e 24, Paulo afirma claramente: “todos pecaram e carecem da glória de
Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em
Cristo Jesus.”
No tempo que antecedeu a Reforma Protestante do século XVI, a salvação era
apresentada como um prêmio que poderia ser alcançado com muito esforço pessoal,
inclusive o investimento financeiro, por meio da aquisição dos títulos de indulgência. O
valor da indulgência se justificava em função de um dogma criado pela Igreja, diga-se
de passagem, sem respaldo bíblico, denominado “purgatório”. O purgatório seria um
estado ou condição em que as almas daqueles que já morreram permanecem
aprisionadas, até que sejam purgados pecados remanescentes que impedem sua
ascensão ao paraíso. As ações em favor das almas que sofriam no purgatório incluíam
tanto missas em sua intenção, quanto a aquisição dos títulos de indulgência, os quais
acelerariam o processo. Embora esse conceito tenha sido defendido por alguns dos Pais
da Igreja, os reformadores foram unânimes em condená-lo, defendendo o ensino bíblico
de que a justificação do pecador diante de Deus só é possível em virtude da graça
divina, sendo, portanto, ineficaz qualquer esforço humano.
Contra a venda das indulgências, Lutero apregoava em suas teses: “O
verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus.”
(Tese nº 62).
Segundo Joel Beeke, “Lutero insistia que um pecador é incapaz de prover ou
mesmo de se apropriar da salvação. Ao dizer isso, Lutero atacou o sistema de
indulgências, peregrinações, penitências, jejuns, purgatório e mariolatria da Igreja
Católica. Ele percebeu que a única maneira de derrotar o sistema baseado em obras da
Igreja Católica era atingir a raiz da controvérsia: graça gratuita versus livre-arbítrio.”
(Vivendo Para a Glória de Deus, Editora Fiel).
De fato, o ensino bíblico acerca da salvação como graça de Deus, abalou o
sistema religioso que fazia da salvação um produto que devia ser adquirido com o
esforço pessoal e o pagamento em dinheiro.
Os reformadores redescobriram e proclamaram uma doutrina inequivocamente
sustentada pela Palavra de Deus!
DISCUSSÃO
Que práticas religiosas, comuns em nossos dias, contrariam o ensino bíblico de que é
somente pela graça que o homem pode ser salvo?
11 - “Sola Fide” – Somente a Fé
Romanos 3.21 a 31
LEITURA DA SEMANA
SEG - Mateus 25.31-46
TER - Romanos 5.1-11
QUA - Romanos 6
QUI - Gálatas 2
SEX - Gálatas 3
SAB - Efésios 2.1-10
DOM - Tiago 2.14-26
A justificação pela fé tornou-se o ponto central da Reforma Protestante.
A tradição reformada sempre deu muito valor ao ensino bíblico da justificação.
Exemplo eloquente é o Catecismo de Heidelberg, que, em resposta à pergunta: “Como
você é justo para com Deus?” responde: “Só pela fé em Jesus Cristo. Mesmo que me
acuse a consciência de haver pecado gravemente contra todos os mandamentos de Deus,
e de não haver jamais guardado qualquer deles, e mesmo que eu esteja ainda inclinado
a todo pecado, não obstante, sem merecer de forma alguma, só pela sua graça, Deus me
assegura e credita a mim a perfeita expiação, justiça e santidade em Cristo, como se eu
nunca houvesse pecado ou sido pecador, como se eu tivesse sido perfeitamente
obediente, como Cristo foi obediente por mim. Tudo o que preciso fazer é aceitar o
dom de Deus com um coração crente.”
Na definição dos teólogos de Westminster, a “justificação é um ato da livre
graça de Deus para com os pecadores, no qual ele perdoa todos os seus pecados, aceita
e considera as suas pessoas justas aos seus olhos, não por qualquer coisa neles operada
ou por eles feita, mas unicamente pela perfeita obediência e plena satisfação de Cristo,
a eles imputados por Deus e recebidos só pela fé.” (Catecismo Maior de Westminster,
questão nº 70 ).
Segundo J. I. Packer, “o interesse pela justificação varia de acordo com o valor
atribuído à insistência bíblica de que o relacionamento entre Deus e o homem é
condenação. Os teólogos medievais posteriores levavam isto mais a sério do que
quaisquer teólogos desde o período apostólico; eles, no entanto, procuravam a
aceitação mediante as penitências e as boas obras meritórias. Os reformadores
proclamavam a justificação pela graça apenas por meio da fé, exclusivamente no
fundamento da justiça de Cristo, e incorporavam a doutrina de Paulo em declarações
confessionais pormenorizadas. Os séculos XVI e XVII foram o período clássico da
doutrina.” (Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vida Nova, p.391).
DISCUSSÃO
LEITURA DA SEMANA
SEG - I Crônicas 29.1-22
TER - Salmo 19
QUA - Salmo 104
QUI - Salmo 148
SEX - Efésios 1
SAB - I Pedro 1.3-21
DOM - Apocalipse 21.9 – 22.5
Em Êxodo 20.1 a 5, está escrito: “Então, falou Deus todas estas palavras: Eu
sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás
outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança
alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da
terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus
zeloso...”
Por meio do profeta Isaías, o Senhor declara: “Eu sou o Senhor, este é o meu
nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de
escultura.” (Is 42.8).
Quando tentava a Jesus no deserto, o diabo, de forma indevida, reivindicou
adoração. “Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a
ele darás culto.” (Lc 4.8).
No período que antecedeu a Reforma, esse mandamento estava sendo
afrontosamente desrespeitado, visto que o sistema eclesiástico fazia prevalecer a
pompa e o sacramentalismo (sistema de fé centrado em atos religiosos, como se eles
pudessem, em si, conferir a graça de Deus à pessoa que os realiza). A hierarquia
eclesiástica se colocava acima dos demais mortais, em especial o Papa, que era
designado como o pontifex maximus (lit. “supremo construtor de pontes”),
supostamente dotado de infalibilidade. O culto aos santos, especialmente a Maria, era
amplamente incentivado e praticado. A veneração das relíquias era oficialmente
promovida entre o povo, tendo se tornado um lucrativo negócio. Homens e objetos
haviam usurpado um lugar que pertence exclusivamente a Deus. Daí, o brado
altissonante dos reformadores: Soli Deo Gloria – Glória somente a Deus!
DISCUSSÃO
Você acha que há na igreja evangélica, hoje, práticas que tentam roubar a glória que é
devida somente a Deus?
13 - “Ecclesia Reformata et Semper Reformanda est” –
Igreja Reformada sempre se reformando
Romanos 12.1 e 2
LEITURA DA SEMANA
SEG - Mateus 5.13-16
TER - Mateus 7.15 a 27
QUA - II Tessalonicenses 2.13-17
QUI - Tiago 2.14-26
SEX - Tiago 2.19-27
SAB - I Pedro 1.1-12
DOM - I Pedro 1.13-25
À luz de Romanos 12.1 e 2, pode-se dizer que, a Igreja Reformada que
está sempre se reformando, é como um sacrifício que queima continuamente perante o
Senhor: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso
corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional...”
(v.1). Também é uma igreja que não se conforma com este século e busca
continuamente a transformação segundo a vontade do Senhor expressa em sua Palavra:
“E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa
mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”
(v.2).
3. Fé reformada e compromisso
Para que serve a fé reformada? É possível que muitos respondam rapidamente e
de forma acertada: para promover a glória de Deus. De forma geral, isso é verdadeiro.
Porém, há outros aspectos que confirmam a relevância da tradição reformada e
precisam ser considerados.
É fato que a igreja reformada tem lastro histórico. Além disso, é submissa ao
Espírito e tem consciência de sua vocação. Por isso, sua contribuição se torna não
apenas relevante, mas indispensável. Os reformadores do século XVI fizeram uma
leitura correta de sua época, identificaram os anseios da sociedade e, à luz da
Escritura, detectaram os desvios da Igreja. Por isso, sua obra se tornou tão relevante, a
ponto de revolucionar o mundo e ecoar até hoje.
Para se mostrar relevante, é imprescindível que a igreja se mantenha conectada
com a nossa época. Não podemos ceder à tentação de nos refugiarmos nos castelos
seguros da história e da teologia do século XVI, ignorando os desafios do século XXI.
Uma das principais evidências de que somos uma igreja verdadeiramente
reformada é a nossa relevância para o tempo e o lugar em que nos encontramos. Deus é
glorificado na adoração da igreja, mas o é também no seu serviço ao mundo através da
missão. É precisamente isso que o Senhor Jesus ensina, conforme Mateus 5.13 a 16.
Disse ainda Jesus: “Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos
tornareis meus discípulos.” (Jo 15.8).
Ser igreja reformada, apenas no sentido de se guardar uma tradição, pode levar
à estagnação e à negação deste princípio vital da Reforma: Igreja reformada e sempre
se reformando conforme a Palavra de Deus.
A igreja verdadeiramente reformada não recua ante ao desafio de ser também
contemporânea. Firmada na Palavra, apoiando-se em sua teologia e guiada pelo
Espírito, ela cumpre de maneira eficaz o seu papel neste mundo.
Concluindo, podemos afirmar acerca da igreja reformada que está sempre se
reformando:
Tem raízes históricas, mas vive no mundo atual – O amor à Bíblia e o
apego à tradição reformada, sem a conexão com o tempo atual, podem levar a uma
deformação. A igreja não pode negar o tempo atual e ignorar seus desafios e
oportunidades;
Tem ousadia para considerar, à luz da Bíblia, as questões atuais, a
fim de oferecer respostas aos problemas do nosso tempo – Suas raízes
históricas e o seu apego às Escrituras devem lhe dar vitalidade e inspiração para
encarar os problemas de hoje, apresentando respostas para os anseios e
necessidades desta época;
Não teme as tensões do tempo atual nem as incertezas do futuro – As
tensões resultantes deste tempo, marcado por tantas transformações, e de um futuro
incerto, não podem intimidar a igreja. Ela não pode recuar, buscando conforto e
segurança entre suas quatro paredes, que podem ser tanto de alvenaria quanto de
uma teologia descompromissada. A igreja reformada não está aprisionada ao
passado e não teme o tempo atual nem o futuro, pois, “se Deus é por nós, quem
será contra nós?” (Rm 8.31).
DISCUSSÃO:
A sua comunidade é reformada? O que confirma isso?
Quais são os desafios a serem enfrentados hoje pela igreja reformada? Como enfrentá-
los?
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA: