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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E
CRESCIMENTO ECONÔMICO:
INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS*
*
Os autores agradecem os comentários e sugestões de Maria Tereza Pasinato.
**
Pesquisador da Diretoria de Pesquisa do IPEA.
***
Superintendente da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE.
****
Bolsista da Anpec/PNPE na Diretoria de Pesquisa do IPEA.
O IPEA é uma fundação pública
vinculada ao Ministério do
Planejamento e Orçamento, cujas
finalidades são: auxiliar o ministro na
elaboração e no acompanhamento da
política econômica e prover atividades
de pesquisa econômica aplicada nas
áreas fiscal, financeira, externa e de
desenvolvimento setorial.
Presidente
Fernando Rezende
Diretoria
Claudio Monteiro Considera
Luís Fernando Tironi
Gustavo Maia Gomes
Mariano de Matos Macedo
Luiz Antonio de Souza Cordeiro
Murilo Lôbo
ISSN 1415-4765
SERVIÇO EDITORIAL
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© IPEA, 1998
É permitida a reprodução deste texto, desde que obrigatoriamente citada a fonte.
Reproduções para fins comerciais são rigorosamente proibidas.
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
1 - INTRODUÇÃO ......................................................................................1
ANEXO.....................................................................................................37
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................38
RESUMO
Apesar de acreditarmos que uma reforma no sistema de seguridade possa vir a ter
efeitos positivos sobre a poupança, especialmente no que se refere à criação de um
ambiente favorável à sua expansão, devemos ressaltar que ela não é suficiente por
si só para um aumento substancial da acumulação de capital, devendo ser
acompanhada de um leque de mudanças no restante da economia.
ABSTRACT
In this study we analyze the relations between the social security, the aggregate
savings level and economic growth, opening space for the reflection on the reform
of the Brazilian social security system.
Although we believe that a reform of the social security system could have
positive effects on savings, because of its relation to the creation of an
environment favorable to savings expansion, we must stand out that it is not
enough by itself for a substantial increase of the accumulation of capital. Thus it
has to be followed by an ensemble of changes in the rest of the economy.
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
1 - INTRODUÇÃO
O caso brasileiro é claramente uma situação de risco, apesar das medidas tomadas
pelo governo no final de 1997.1 Essas medidas, por seu forte conteúdo recessivo,
só podem ser entendidas como emergenciais, ou seja, justificáveis até que as
necessárias medidas de ajustamento estrutural sejam implementadas. De outra
forma, recai-se em uma “armadilha de juros”: taxas de captação de recursos
excessivamente elevadas, embora possam ser um forte incentivo a que os
detentores de poupança emprestem seus recursos, são, do lado dos tomadores,
incompatíveis com o retorno dos investimentos no setor real da economia. Além
disso, os resultados sobre o custo de rolagem da dívida pública podem ser
desastrosos, realimentando o déficit fiscal com possíveis necessidades de
elevações ainda maiores das taxas de juros. Em conseqüência, paralisa-se o
investimento, levando concomitantemente à estagnação do crescimento.
1
Principalmente a elevação da taxa de juros de um nível de 140 pontos acima das taxas de 30 anos
dos títulos do Tesouro americano para 300 pontos (nível de fevereiro de 1998).
2
A taxa de fecundidade total (TFT), definida como o número médio de filhos nascidos vivos por
mulher durante o seu ciclo reprodutivo, caiu de cerca de 6 em 1950 para 3 em 1980.
3
Como resultado das elevadas taxas de natalidade correspondentes à geração que hoje se encontra
em idade fértil.
1
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
4
Por exemplo, o denominado Plano de Equivalência Salarial que corrigia as prestações segundo as
variações de salários, de forma completamente independente dos saldos a pagar, gerando os
chamados “resíduos”.
5
Este é o caso do PIS/Pasep, cuja incidência das contribuições em cascata sobre faturamento
contraria princípios elementares de tributação.
2
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
6
Keynes define a eficiência marginal do capital como “a taxa de desconto que tornaria o valor
presente do fluxo de anuidades das rendas esperadas do capital, durante toda a sua existência,
exatamente igual ao seu preço de oferta”, ou seja, a relação entre a renda esperada de um bem de
capital e seu preço de oferta. Keynes afirma que o investimento vai variar até o ponto em que a
eficiência marginal do capital seja igual à taxa de juros.
3
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Devemos ressaltar que existe uma forte correlação entre poupança e crescimento
econômico estabelecida em diversos estudos empíricos [ver Schmidt-Hebbel et
alii (1996) e Reis (1996)]. No entanto, a identificação dos laços precisos de
causalidade entre eles apresenta sérias dificuldades.
4
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Gráfico 1
Poupança e Investimento: Correlações para 16 Países Industrializados — 1975/87
Figura 1
Poupança - Investimento Correlações para 16 Países Industrializados
1975-87
20,47
18,56
Taxa de poupança (%)
16,66
14,75
12,85
10,94
9,04
7,13
5,22
6,90 8,35 9,81 11,26 12,72 14,17 15,63 17,08 18,54 19,99
7
Na verdade, estamos nos referindo aqui à taxa de crescimento “garantida” ou de equilíbrio, que
pode ser distinta da taxa de crescimento “natural” ou de pleno emprego que é determinada pela
taxa de crescimento da população e pelo aumento da produtividade do trabalho.
8
Os gastos em acumulação de capital humano são usualmente considerados como gastos em
consumo, apesar de sua função análoga ao investimento. Parece claro que máquinas tecnologica-
mente avançadas necessitam de operadores devidamente qualificados e educados.
5
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Gráfico 2
Passivos Ocultos da Seguridade Social em Sete Países da OCDE — 1990
(Em % do PIB)
Estados Unidos
EUA
Reino Unido
Japão
Itália
Alemanha
França
Canadá
6
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Neste quadro, a taxa de juros interna constitui o principal atrativo para o capital
internacional. Quando a taxa de juros de um determinado país é superior à taxa de
juros internacional, as poupanças dos países superavitários tenderão a ser investi-
das no país. No entanto, se a taxa de juros interna for menor do que a taxa de juros
internacional, em um modelo de economia aberta, haverá fuga de capitais. Quando
o risco é elevado a taxa de juros deverá situar-se em níveis extremamente altos
para captar poupança externa.10
9
A Coréia do Sul apresentou em 1996 um déficit em transações correntes de 5,9% do PIB para
uma poupança total de 38,2% do PIB. No caso brasileiro, estimou-se para 1997 um déficit em
conta corrente da ordem de 4,2% do PIB. Os países latino-americanos exibem sempre taxas de
poupança relativamente reduzidas, fazendo com freqüência uso “excessivo” da poupança externa.
10
O caso brasileiro ilustra tal afirmação, já que em meio à recente crise nos mercados financeiros
mundiais (outubro de 1997) o governo elevou a taxa de juros de 20,7% para 43,4% a.a. visando
inverter a fuga de capitais.
7
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 1
Brasil: Composição da Taxa de Poupança — 1980/97
(Taxas médias em % do PIB)
Período Poupança Poupança Poupança Poupança
do Governo Privada Externa Total
1980/85 1,6 15,3 3,2 20,1
1986/90 -0,9 19,0 0,3 18,4
1991 -1,5 19,2 0,4 18,1
1992 -3,3 23,3 -1,6 18,4
1993 -4,2 23,3 0,2 19,3
1994 -2,6 23,1 0,3 20,8
1995 -6,2 24,2 2,5 20,5
1996 -6,1 21,7 3,6 19,1
1997* -5,1 20,7 4,2 19,8
Tabela 2
Classificação de Risco da Dívida Externa de Longo Prazo — Setembro 1996
País Moody’s Standard & Poor’s
Brasil B1 B+
México Ba2 BB
Argentina B1 BB-
Chile Baa1 A-
Coréia A1 AA-
Malásia A1 A+
Tailândia A2 A
Indonésia Baa3 BBB
Fonte: IPEA.
Onde os critérios de classificação são os seguintes:
Investimento recomendável:
Moody’s: Aaa, Aa1, Aa2, Aa3, A1, A2, A3, Baa1, Baa2, Baa3.
Standard & Poor’s: AAA, AA+, AA, AA-, A+, A, A-, BBB+, BBB, BBB-.
Investimento não-recomendável:
Moody’s: Ba1, Ba2, Ba3, B1, B2, B3.
Standard & Poor’s: BB+, BB, BB-, B+, B, B-.
A Tabela 3 mostra que a taxa de juros vigente no Brasil é bastante superior à taxa
de países industrializados, o que possibilita uma significativa captação de recursos
externos.
8
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 3
Taxa de Juros de Captação de Curto Prazo — 30/10/96
(Em % a.a.)
País Taxa Taxa Real
Rússia 80,0 48,30
Brasil 24,80 11,80
Argentina 7,25 7,05
Colômbia 28,10 6,5
México 29,34 -0,66
Turquia 74,73 -4,57
Estados Unidos 5,38 2,38
Alemanha 3,16 1,78
Japão 0,42 0,42
Fonte: The Economist (02/11/96).
Tabela 4
Brasil: Evolução da Dívida, Juros e Custos — 1993/97
1993 1994 1995 1996 1997*
Dívida Líquida Total (% do PIB) 32,7 28,1 29,9 34,4 34,2
Dívida Interna (% do PIB) 18,4 20,0 24,5 30,3 30,4
Dívida Externa (% do PIB) 14,3 8,1 5,5 4,0 3,8
Taxa de Desconto do Banco Central
(Fim de Período em % a.a.) 5.757 56 39 24 21
11
Uma revisão metodológica no cálculo da taxa de investimento revelou que no Brasil a formação
bruta de capital a preços constantes alcançou, em 1997, 17,7% do PIB contra 16,5% em 1996 e
16,7% em 1995. Neste quadro, os elevados déficits em conta corrente teriam representado pelo
menos em 1997 um aumento do nível de investimento e não do consumo público ou privado.
12
O déficit público nominal é aquele que inclui os juros nominais da dívida (juros reais mais
correção monetária), já o déficit operacional exclui dos juros nominais a correção monetária.
9
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Gráfico 3
Poupança Total em Percentagem do PIB — 1996
40
35
30
25
20
15
10
0 México
Reino Unido
Alemanha
Estados Unidos
Chile
Brasil
Holanda
Coréia
Itália
França
Canadá
Japão
10
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Assim, a análise que se segue tem por objetivo simplesmente especular sobre
algumas teorias de formação da poupança, sem qualquer pretensão de ser
exaustiva e muito menos de tentar qualquer comprovação empírica. De qualquer
forma, a simples reflexão sobre estas questões pode levar a algumas indicações
quanto ao relacionamento entre previdência e poupança.
11
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
13
Na medida em que em um regime de repartição não há direitos de propriedade bem definidos e a
partilha do “bolo” de recursos é feita pelo processo político — em que as gerações futuras não têm
representação a tendência a situações de free-riding parece inescapável.
14
Feldstein define como riqueza bruta do sistema de seguro social “o valor presente no ano t dos
benefícios de aposentadoria que poderiam ser eventualmente reivindicados por aqueles que
estejam integrando a força de trabalho ou já aposentados no ano t”. A riqueza líquida do sistema de
seguro social é definida como “a riqueza bruta menos o valor presente dos impostos de seguridade
social a serem pagos por aqueles que integram atualmente a força de trabalho”. São basicamente
calculados da seguinte forma: considera-se um trabalhador solteiro de idade a no ano t. Se ele se
mantiver solteiro e sobreviver até os 65 anos, terá direito a um benefício de seguro social do
montante ba,t. Feldstein estima que a taxa de benefícios anuais para um trabalhador aposentado em
relação à renda per capita disponível varia historicamente em média 41%; logo, ba,t é 0,41 vez a
renda disponível per capita no ano t + 65 - a (Yt+65-a). Finalmente, o valor futuro da renda
disponível é estimado pela projeção da renda atual a uma taxa de crescimento constante: Yt+65-a =
65-a 65-a
Yt (1+g) . Logo, os benefícios antecipados aos 65 anos são: ba,t = 0,41 Yt (1+g) . Durante a
aposentadoria, o benefício anual continua a crescer a uma taxa g; assim, na idade n > 65 o
n-65
benefício anual é ba,t (1+g) . Seja Si,j a probabilidade de que um homem de idade i sobreviva
pelo menos até a idade j e seja d a taxa segundo a qual o indivíduo desconta os benefícios futuros
n-65 (n-65)
esperados. Aos 65 anos, sua anuidade de seguridade social será: ∑ S65,n ba,t (1+g) (1+d)- ,
-(65-a)
n t
sendo superior ou igual a 65. No ano a futura anuidade vale: a,t A = S a,65 (1+d) ∑ S b
65,n a,t
n-65 -n+65
(1+g) (1+d) .
12
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
No entanto, a análise dos efeitos dos programas de seguridade social sobre o nível
de poupança das famílias desenvolvida, notadamente, por Martin Feldstein
caminha no sentido oposto. Segundo esse autor, em sistemas de seguridade social
capitaneados pelo Estado, os indivíduos esperam receber benefícios elevados
quando se aposentarem, logo terão uma tendência a reduzir sua poupança no
período ativo (Feldstein (1974)]. Tal hipótese é baseada no modelo de ciclo de
vida visto anteriormente.
14
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
No entanto, estudos empíricos, tanto para países desenvolvidos como para países
em desenvolvimento, demonstram uma pequena elasticidade da poupança em
relação à taxa de juros [Giovannini (1983)]. Nesse quadro, a poupança não seria
sensível a variações na taxa de juros, pelo menos não de maneira significativa. Isto
implica que uma reforma fiscal que resultasse em uma diminuição da taxa de juros
real não reduziria automaticamente o nível de poupança. Da mesma forma, uma
reforma financeira que aumente a taxa de juros reais não implicaria
automaticamente um crescimento da poupança privada. Dentro da mesma linha de
raciocínio, incentivos fiscais à poupança não seriam eficazes no sentido de
aumentá-la.
A relevância desta teoria para o caso de uma reforma previdenciária deve ser
relativizada à luz da experiência prática da maioria dos países. Com efeito,
incentivos fiscais para a poupança previdenciária têm sido a norma no mundo
capitalista, obedecendo ao princípio da tributação da renda diferida: as
contribuições para os planos previdenciários são dedutíveis da base de incidência
dos impostos sobre a renda, bem como os rendimentos auferidos pela aplicação
das reservas constituídas com estas aplicações; em contrapartida, tributa-se o
fluxo de renda dos benefícios assim obtidos, quando futuramente apropriados
pelas pessoas físicas.
15
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
O corolário é que, se uma parte dos consumidores não possui liquidez para
realizar sua cesta de consumo ótima, será obrigada a poupar se não puder efetuar
empréstimos. Os indivíduos tentarão aumentar o consumo corrente, mas tal fato
não será possível devido ao racionamento de liquidez. Nesse quadro, reformas
financeira e do mercado de capitais, no sentido de uma modernização e
liberalização, podem apresentar efeitos negativos no que se refere à poupança
[Schmidt-Hebbel, Servén e Solimano (1996)] na medida em que estas tornam
possível uma expansão dos empréstimos para consumo.
16
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
15
No Brasil, o déficit público consolidado pode ser calculado pelas necessidades de financiamento do
setor público (divulgadas pelo Banco Central) e pelas informações das contas nacionais fornecidas pelo
IBGE. Utiliza-se o conceito de “acima e abaixo da linha”, tomado emprestado da contabilidade de
balanços que define como “acima da linha” as rubricas de receitas e despesas do governo e como
“abaixo da linha” o financiamento dessas operações.
As contas nacionais permitem uma análise sobre os principais determinantes do déficit público
(carga tributária, subsídios, despesas de investimento etc.). Por outro lado, as necessidades de
financiamento do setor público procuram medir o déficit através do critério “abaixo da linha”, ou seja,
pelo financiamento concedido pelo sistema financeiro e pelo setor privado, não permitindo análise
sobre os fatores do endividamento. Teoricamente, os dois critérios deveriam apresentar resultados
iguais com sinal invertido, no entanto, tal fato não se verifica na prática devido aos diferentes critérios
de abrangência do setor público, à periodicidade de apuração e ao critério de apropriação das despesas.
18
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
conjunto de despesas correntes que se caracteriza por um alto grau de rigidez, por
exemplo, pela existência de um grande conjunto de programas do tipo entitlement
e de vinculações de fontes, permite pouco espaço para crescimento da poupança
governamental.
19
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 5
Características do Sistema de Seguridade Social Chileno — 1981/94
21
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
haverá déficit público causado pelo sistema, o que contribui, como vimos, para
um aumento da poupança interna. A realidade chilena é, porém, algo diferente
desta concepção na medida em que o Estado se apresenta como garantia do
sistema em caso de bancarrota ou ainda se a taxa mínima de retorno não for
alcançada.17 Alguns autores [ver Uthoff (1997)] sustentam, inclusive, que na
prática não houve uma privatização do sistema de seguridade social, já que o
Estado regula a demanda (através das contribuições compulsórias), regula a oferta
(supervisionando as AFPs), financia parte das pensões e administra e financia o
antigo sistema.
17
Após a liquidação da AFP.
18
O déficit da seguridade social explicitado situa-se em torno de 126% do PIB no Chile.
22
PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Por outro lado, como já foi discutido, tal aprofundamento pode levar a um
afrouxamento das restrições de liquidez aumentando o consumo em detrimento da
poupança privada.20
20
Não nos propomos aqui a debater se os países em desenvolvimento deveriam estimular um
sistema financeiro baseado em instituições bancárias (modelos alemão e japonês) ou fomentar os
mercados de capitais (modelo anglo-saxão); para uma discussão mais ampla do tema, ver Beattie e
Mcgillivray (1995).
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 6
Desenvolvimento do Mercado de Capitais e dos Fundos de Pensões — 1980/92
(% do PIB nominal)
Ações Renda Interme- Patri- Reservas Fundos Fundos Fundos de Títulos M7-M1
Fixa diação mônio de Cias. de Mútuos Investimento Emitidos
Financeira Bursátil de Seguro Pensão de Capital por
Estrangeiro Empresas
1980 1,99 0,21 2,66 34,09 1,63 Nd 2,59 Nd 0,18 Nd
1981 1,15 0,29 4,50 21,60 1,54 0,93 2,09 Nd 0,29 27,94
1982 0,67 3,74 12,59 26,05 2,40 3,62 2,51 Nd 1,70 32,98
1983 0,33 6,17 3,62 14,60 2,58 6,41 0,55 Nd 1,50 31,53
1984 0,27 5,66 3,62 14,26 3,28 8,54 0,54 Nd 1,53 34,69
1985 0,36 11,62 10,13 14,36 3,51 10,93 0,78 Nd 1,57 40,33
1986 1,87 27,38 18,50 25,62 4,10 13,37 1,28 Nd 0,89 42,65
1987 2,85 33,66 28,92 29,85 4,67 14,92 1,56 Nd 1,49 47,61
1988 2,97 39,76 46,53 31,84 4,83 16,48 1,70 Nd 2,20 47,77
1989 3,61 51,82 40,95 41,60 5,74 19,69 1,43 0,42 3,75 54,78
1990 3,12 56,49 21,43 54,22 7,36 26,56 1,72 1,81 4,99 63,54
1991 6,53 42,03 31,82 95,90 8,69 34,54 2,90 3,27 6,14 66,57
1992 5,73 63,17 46,45 82,49 9,29 34,53 2,62 3,03 5,49 68,97
Fonte: Arrau (1994).
Nd: Não-disponível.
Tabela 7
Reforma do Mercado de Capitais Chileno — 1980/93
Data Reforma Conteúdo
21
A reforma caminha na direção da flexibilização dos limites e instrumentos disponíveis para o
investimento dos fundos de pensão e do fortalecimento das normas reguladoras. Para maiores
detalhes sobre seu conteúdo, ver Arrau (1994).
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Gráfico 4
Poupança a Preços Correntes no Chile — 1972/94
(Em % do PIB)
30
25
20
15
10
-5
-10
-15
1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994
Gráfico 5
Poupança a Preços Correntes no Chile — 1970/96
(Em % do PIB)
30
25
20
15
10
-5
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 8
Reforma Previdenciária e seus Efeitos sobre a Poupança — 1981/94
(Em % do PIB)
Efeitos Líquidos Poupança Contribuição Poupança Custos Fiscais
Totais Privada Criada Líquidaa Líquidab da Reformac
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Desde meados da década de 80, o Estado brasileiro perdeu seu papel de grande
gerador de recursos para financiamento do investimento interno, na medida em
que a poupança estatal tornou-se fortemente negativa. Tal fato é evidenciado pela
constatação de que, durante a década de 70, a poupança do Estado correspondeu a
mais de 1/3 da poupança interna [ver Werneck (1986)]. Na realidade, segundo
alguns autores, o ônus do ajuste relativo à crise do endividamento externo durante
os anos 80 recaiu essencialmente sobre o Estado, contribuindo assim para a erosão
de sua capacidade de gerar poupança. Desta forma, a redução da poupança
governamental não teria sido em hipótese alguma causada por um aumento dos
gastos em consumo do governo, que teriam se mantido constantes no período. A
diminuição da poupança estatal não foi compensada por um aumento da poupança
privada, o que evidentemente levou a uma redução da poupança interna (ver
Tabela 1 e Gráfico 6).
Gráfico 6
Evolução da Poupança no Brasil —1971/97
(Em % do PIB)
35
30
25
20
15
10
-5
-10
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
Fonte: IBGE.
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 9
Resultado Primário do Governo Federal — 1997
Saldo do Saldo da Previdência Saldo do Seguro Resultado Primário do
Tesouro1 Social2 Desemprego3 Governo Federal
Tabela 10
Gastos com Pessoal e Número de Servidores Estaduais — 1995
Fonte: Mare.
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
outra forma seria aplicada na formação de capital físico, seja desviada para o
financiamento do déficit previdenciário.
22
Para uma apresentação completa das bases da projeção, assim como do cenário macroeconômico
e parâmetros utilizados no modelo, consultar Oliveira, Beltrão e Souza (1998).
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Gráfico 7
Déficit(-), Superávit(+) RGPS em cada Ano para Diferentes
Alternativas — 1998/2028
(Em % do PIB)
0%
-1%
-2%
-3%
-4%
-5%
-6%
-7%
1998 2003 2008 2013 2018 2023 2028
BASE PEC-33
23
Pela emenda PEC-33, os professores do ensino fundamental em efetivo exercício em sala de aula
continuariam a fazer direito à aposentadoria quando completassem 30 e 25 anos, respectivamente
se homens ou mulheres. Ocorre que, ao nível federal praticamente não há docentes de ensino
fundamental.
24
Esse limite etário seria usado para os novos entrantes no sistema.
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 11
Economias Proporcionadas pela PEC-33 — 1998/2000/2007
(Em R$bilhões de 1996)
RJU Federal
Redutor do valor dos benefícios acima 0,04 0,08 0,12 1,46
de R$ 1.200
Limites de idade para AP TSa 0,92 1,22 1,55 23,41
Eliminação da aposentadoria especial 0,17 0,24 0,31 4,91
para professoresb
Subtotal RJU federal 1,13 1,54 1,98 29,78
RJU-estadual/municipal
Redutor do valor dos benefícios acima 0,05 0,11 0,17 2,09
de R$1.200
Limites de idade para AP TSa 1,31 1,75 2,21 33,48
Subtotal RJU estadual/municipal 1,36 1,86 2,38 35,57
INSS
Eliminação da aposentadoria especial 0,39 0,52 0,62 5,61
Limites de idade AP TS 0,94 1,44 2,03 42,18
Subtotal INSS 1,33 1,96 2,65 47,79
Total geral 3,82 5,36 7,01 113,14
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
unicamente por conta do afiliado. Os fundos de pensão abertos podem ter fins
lucrativos contrariamente às entidades fechadas. As entidades abertas possibilitam
o acesso à previdência privada para aqueles que não dispõem de acesso aos fundos
fechados como, por exemplo, pequenos empresários e autônomos com renda
superior ao teto de aposentadoria do sistema de previdência público.
Tabela 12
Efeitos Econômicos e Financeiros da PEC-33 sobre o RGPS
(Em R$ bilhões de 1996)
INSS 1998 1999 2000 Acumulado
1998/2007
Gastos
1. Sistema atual 56,57 60,88 65,46 799,26
2. Pec-33
2.1. Fim de aposentadorias especiais 56,20 60,38 64,87 794,30
2.2. Limite de idade para aposentadorias por tempo de serviço 55,47 59,37 63,50 764,55
Receitas
1. Sistema atual 51,32 55,34 59,62 723,87
2. Pec-33
2.1. Fim de aposentadorias especiais 51,33 55,36 59,66 724,52
2.2. Limite de idade para aposentadorias por tempo de serviço 51,55 55,80 60,31 736,85
Déficit
1. Sistema atual 5,25 5,54 5,83 75,39
2. Pec-33
2.1. Fim de aposentadorias especiais 4,87 5,01 5,21 69,78
2.2. Limite de idade para aposentadorias por tempo de serviço 3,92 3,57 3,19 27,70
Fonte: Grupo de Seguridade Social/IPEA.
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
Tabela 13
Participação dos Ativos nas Aplicações Totais dos Fundos de Pensão — 1994/97
(Em %)
1994 1995 1996 1997
Ações 39,1 29,5 30,9 28,7
Títulos públicos 3,8 4,4 5,7 3,5
Papéis bancários 23,9 26,5 29,0 37,0
Debêntures 1,9 5,2 4,8 3,9
Ativos imobiliários 19,0 20,7 18,0 15,3
Operações internas 9,7 11,3 9,1 9,4
Outros 2,6 2,5 2,4 2,2
Fonte: Abrapp.
Gráfico 8
Ativos dos Fundos de Pensão — 1996
(Em % do PIB)
ATIVOS DOS FUNDOS DE PENSÃO (EM % DO PIB) 1996
140
120
100
80
60
40
20
0
Reino Unido
Suécia
Canadá
Estados Unidos
Japão
Chile
Holanda
África do Sul
Brasil
França
Suíça
Argentina
Alemanha
Dinamarca
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante notar que a ampliação da poupança é limitada pelo fato de que, após
um período de crescimento dos fundos de pensão, chega o momento em que os
participantes se aposentam e começam a sacar seus recursos. A partir daí toda a
expansão da poupança relativa ao sistema previdenciário decorrerá essencialmente
do crescimento demográfico.
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
ANEXO
As novas contas foram divulgadas a preços correntes, sendo que não mais
produzir-se-ão dados a preços constantes de um ano-base, mas somente a preços
do ano anterior, o que resulta em uma redução da diferença entre as séries a preços
correntes e a preços constantes, à exceção dos anos de inflação alta. Elimina-se
assim o problema do aumento da diferença entre a taxa de investimento
(poupança) a preços correntes e a preços constantes à medida que se afastava do
ano-base (ver Tabelas 14 e 15).
Tabela 14
Evolução da Taxa de Investimento (FBCF) a Preços Constantes de 1980 e a
Preços Correntes — 1990/95
(Em % do PIB)
Ano Correntes Constantes
1990 21,6 15,5
1991 18,8 15,2
1992 18,9 14,0
1993 19,2 14,4
1994 19,6 15,3
1995 19,2 16,6
Fonte: IBGE.
Tabela 15
Novo Sistema de Contas Nacionais: Taxa de Investimento (Poupança Total) a
Preços Correntes e Constantes — 1990/97
(Em % do PIB)
Preços Constantes Preços Constantes Preços Constantes Preços Correntes
(1990) (1995) (1996)
1990 20,7 20,6 19,3 20,7
1991 19,5 19,4 18,2 18,1
1992 18,3 18,2 17,1 18,4
1993 18,5 18,5 17,3 19,3
1994 20,0 20,0 18,7 20,8
1995 20,6 20,5 19,2 20,5
1996 20,5 20,4 19,1 19,1
1997* 21,9 21,1 19,8 Nd
Fonte: IBGE.
* Estimativa IPEA/DIPES/GAC.
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
BIBLIOGRAFIA
ALESSIE, R., LUSARDI, A., ALDERSHOF, T. Income and wealth over the life
cycle: evidence from panel data. Review of Income and Wealth, Série 43, n. 1,
Mar. 1997.
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_______. Social security and savings: new time series evidence. National Tax
Journal, v. XLIX, June 1996.
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PREVIDÊNCIA, POUPANÇA E CRESCIMENTO ECONÔMICO: INTERAÇÕES E PERSPECTIVAS
SINGH, A. Pension reform, the stock market, capital formation and economic
growth. Issa Review, v. 49, n. 3, 1995.
STIGLITZ, J. E. Some lessons from the East Asian miracle. The World Bank
Research Observer, v. 11, n. 2, Aug. 1996.
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