Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
G2 – Ética II
Aluno: Thiago Nolasco; Professor: Edgar José
Qual a crítica de Schopenhauer a ética das leis morais puras e do dever de Kant ?
A crítica de Schopenhauer deferida à ética Kantiana se dá pelo fato de que toda
ética parte tem como princípio uma derivação de leis morais apoiadas à uma estrutura metafísica que, segundo Schopenhauer, deriva do sentido tropológico , isto é, do sentido figurativo que nós damos às leis físicas da natureza – como a lei da gravidade –, e que são, por excelência a priori a posteriori – são anteriores à experiência, mas completamente demonstráveis na experiência, no mundo –, e , portanto, Kant trata as leis morais como se tivesse a mesma “natureza” das leis físicas. Só que o erro consiste, argumenta Schopenhauer, em Kant, não somente montar toda uma estrutura legislativo-imperativa decorrente dessas leis, mas afirmar que tais leis são fundamento da moral: isso é uma petitio principii. Ou seja, Kant parte do pressuposto que as premissas, ou os axiomas de suas leis, são existentes universalmente e que temos que toma-los como verdadeiros, isto é, são leis morais puras. Mas a petição de princípios ocorre, conforme argumenta Schopenhauer, quando não somente a derivação da moral kantiana decorre de uma circularidade, ou , de uma tentativa de antecipação dos imperativos por meio das conclusões já contidas de alguma forma nas premissas, mas quando Kant parte do princípio que suas premissas são de fato universalmente verdadeiras e que temos que toma-las como reais, então, coloca Schopenhauer “ Quem nos diz que há leis às quais nossas ações devem submeter-se ? Quem vos diz que deve acontecer o que nunca acontece?”.
Então, onde está o quê da questão ? Kant, em um primeiro momento, tem os
méritos, como afirma Schopenhauer, de separar a ética de uma possível doutrina de princípios para alcançar a felicidade (viver em eudaimonia), ou cultivar virtudes. Pela primeira vez então, a ética estava separada dessas questões e se apoiava em uma metafísica , esta seria ,então, o pilar dos princípios da ética – uma ética pura. Todavia, voltando para o “quê” da questão, embora Kant tenha seus méritos, Schopenhauer argumenta que embora, de algum modo, seja correto estabelecer uma ética fundamentada nesses princípios a priori , não ocorre que, no momento que há aplicação desses princípios , eles sejam irrevogáveis , ou invioláveis, pois , para estes funcionarem como imperativos categóricos, como desejava Kant, há a necessidade deles derivarem de uma lei , que ,segundo Schopenhauer , é a lei da demonstração. Ou seja , para tais leis morais existirem , independentemente da regulamentação humana, elas necessitam de provas a posteriori da sua ocorrência , como no caso das leis físicas. Portanto, não se pode derivar a existência das leis puras da ética, sem demonstra-las ocorrendo na realidade, caso o contrário, tais leis se tornariam meras prescrições. Com isso, a via ontológica das leis, isto é, o âmbito da sua existência, só se dá na medida que ela pode ser demonstrada na realidade e passa a ser um princípio ,também, gnosiológico, isto é, a partir que eu passo a tomar conhecimento da ocorrência dessa lei na minha realidade, e ela passa a se tornar uma necessidade absoluta – uma está imbricada na outra. Schopenhauer chega a dar o exemplo da lei do “tu não deves mentir” , onde, na maioria das vezes ela não garante êxito e ,por isso, não se dá como uma necessidade absoluta.
Schopenhauer prossegue dirigindo sua crítica à um segundo princípio estabelecido
por Kant em sua moral : O princípio do dever absoluto. Schopenhauer argumenta ,de início, que a ideia do dever como princípio encontra as origens do seu formato nas doutrinas de prescrições teológicas, ou seja, ele argumenta que havia uma ética filosófica que estava sobre influência dessas doutrinas de prescrições durante um período cristão. Mas, como colocado, se voltarmos a atenção para tais conceitos, como o de dever, em sua significação ética , e analisa-lo a partir da ótica da metafísica, isto é, a partir da ótica da eternidade, separando-os dos pressupostos teológicos, os conceitos perdem o seu peso semântico,sua significação , em outras palavras, sem tais pressupostos , e a partir de uma análise de tais conceitos , como o do dever a partir dessa dimensão metafísica , o sentido de tais conceitos para uma moral universal caem por terra. Schopenhauer argumenta que Kant, mesmo ao tentar “substitui-los” , leva-los para esfera de uma moral universal sem as relações influências das prescrições teológicas, comete uma “contradictio in adjecto”. Ou seja, se Kant deseja que aja um “dever absoluto” , ou uma “obrigação incondicionada” comete uma contradição entre o que o conceito designa e prescreve, ou seja, o conceito aqui tomado como substantivo , e entre o adjetivo que caracteriza ou qualifica o conceito, pois a contradição ocorre quando tal emprego do adjetivo vai invariavelmente em sentido contrário ao que o substantivo já traz consigo. Portanto, a ideia de “dever absoluto” é uma “contradictio in adjecto” pois , como argumenta Schopenhauer “Cada dever é também necessariamente condicionado pelo castigo ou pela recompensa” , com isso, não há um dever “absoluto” , na medida que ele está condicionado a uma circunstância e , na medida que o fato de ser “absoluto” é percebido como uma contradição, o conceito de “dever absoluto” perde o seu status de categórico e passa a ser ,inevitavelmente, hipotético. E , mesmo se tentássemos então estabelecer o “dever condicionado” como um princípio ético, esse jamais poderia ser reconhecido como tal pois , na medida que ele estaria relacionado a uma condição de um sujeito, ele dependeria de uma ação ,dita por Schopenhauer, “egoísta e sem puro valor moral”. E , também, tal “dever” jamais poderia ser entendido como categórico na medida que sua ocorrência deriva de uma condição externa e sua aplicação jamais possa vir a ser universal. Isso ocorre devido ao fato do conceito de “dever” ,aponta Schopenhauer, ter parentesco com o conceito de “deve”, os dois parecem ter o mesmo parentes, mas a diferença de “deve” para o de “dever”, é que o “deve” em geral repousa ,geralmente, em uma mera coerção, enquanto o conceito de “dever” pressupõe um compromisso , uma aceitação do dever.