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MARISETE DE MATTOS MORAIS

ENSINO SALESIANO EM SÃO LUIZ GONZAGA-RS:


INOVAÇÃO NA EDUCAÇÃO FEMININA
2

“A grandeza do homem se mede pelo seu


pensamento, não pela sua estatura.”
São João Dom Bosco - 1816-1888
3

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................... 4

1 DOM BOSCO E MARIA MAZZARELLO: UM ENCONTRO DE


SUCESSO .............................................................................................. 6

2 A CHEGADA E A TRAJETÓRIA DAS IRMÃS SALESIANAS EM SÃO


LUIZ GONZAGA (1958 A 2004)........................................................... 11
2.1 SÃO LUIZ GONZAGA NECESSITA DE UMA ESCOLA
RELIGIOSA FEMININA ........................................................................ 11
2.2 O ENSINO SALESIANO É IMPLANTADO EM SÃO LUIZ
GONZAGA ........................................................................................... 13
2.3 SISTEMA DE ENSINO SALESIANO ....................................... 20
2.4 GRAU DE ESCOLARIDADE MINISTRADA ............................ 24
2.5 NOVAS FESTIVIDADES NA CIDADE ..................................... 27

3 INSTALAÇÕES PRÓPRIAS E ADEQUADAS À DEMANDA DE


ALUNAS: CONSTRUÇÃO DO NOVO PRÉDIO................................... 32
3.1 LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL ......................... 38
3.2 CONSTRUÇÃO, MUDANÇA E APRIMORAMENTO DO PRÉDIO
NOVO DO INSA ................................................................................... 40
3.3 ESCOLA MARIA MAZZARELLO: EXTENSÃO EDUCACIONAL
............................................................................................................. 47

4 ANOS FINAIS DO ENSINO SALESIANO NA CIDADE: NOVOS


RUMOS ................................................................................................ 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 54


REFERÊNCIAS .................................................................................... 56
ANEXOS .............................................................................................. 57
4

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa foi desenvolvida como Trabalho de Conclusão do Curso


de História, pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões – URI, Campus de São Luiz Gonzaga, apresentada e aprovada em
2011. Tem como objetivo investigar a história do ensino salesiano em São Luiz
Gonzaga, bem como a vinda das freiras, a construção do prédio próprio do
colégio e a implantação da formação de professores. Serão também alvo de
pesquisa a repercussão e as transformações ocorridas no âmbito educacional,
cultural, social e econômico deste município após a implantação dessa
instituição de ensino.
Encontra-se dividida em quatro capítulos. O primeiro aborda o
surgimento do ensino salesiano e o encontro de Dom Bosco com Maria
Mazzarello, na qual deu origem ás filhas de Maria Auxiliadora.
No segundo capítulo, destaca os passos da negociação travada entre
os são-luizenses e as congregações religiosas, bem como a chegada das
irmãs, o sistema de ensino das escolas salesianas, os cursos ministrados
nesse educandário e as festividades implantadas na cidade a partir daquele
período.
O Capítulo III enfoca o lançamento da pedra fundamental, a construção
do prédio próprio para a escola e reaproveitamento do antigo espaço escolar.
O quarto e último capítulo trata dos anos finais do INSA na cidade e os motivos
que acarretaram o fechamento desse estabelecimento de ensino.
Assim, a pesquisa pretende enfocar a trajetória do ensino salesiano
feminino em São Luiz Gonzaga, desde seu início, em 1958, ao término de suas
atividades nos anos 2000. Para isso, será desenvolvida pesquisa bibliográfica
e de campo.
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A pesquisa bibliográfica é realizada em livros do acervo salesiano,


ainda existente na biblioteca, e na documentação arquivada no antigo prédio
daquele educandário. Também é fonte de pesquisa, livros de autores são-
luizenses e o Jornal A Notícia. A pesquisa de campo será efetuada com as ex-
alunas salesianas e pessoas que vivenciaram essa história.
Com estas ações, pretende-se investigar, pesquisar e registrar a
trajetória das Filhas de Maria Auxiliadora na cidade de São Luiz Gonzaga, para
que essa história não seja relegada ao esquecimento.
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1 DOM BOSCO E MARIA MAZZARELLO: UM ENCONTRO DE


SUCESSO

A congregação das irmãs salesianas surgiu do encontro de Dom Bosco,


com Maria Mazzarello. Ambos realizavam trabalhos com jovens carentes. No
ano de 1840, Dom Bosco criou a Congregação salesiana que atendia meninos
pobres de Turim. Já Maria Mazzarello, criou uma casa que abrigava e
ensinava meninas abandonadas ou órfãs, em Mornese, também localizada na
distante Itália.
João Bosco nasceu no Colle dos Becchi, uma localidade distante uns
cinco quilômetros de Castelnuovo, na Itália, no dia 16 de agosto de 1815. Aos
nove anos de idade, teve um sonho, no qual brigava com outros meninos,
dando e recebendo socos. Neste momento, surgem Jesus e Nossa Senhora.
Disseram-lhe que não seria com pancadas, mas com mansidão e caridade
que conquistaria amigos.
Nossa Senhora toma-lhe a mão com bondade. Joãozinho olha para os
seus amigos e percebe que eles viraram cães, cabritos ursos, gatos e outros
animais. A visão, então, lhe informa que esse será seu campo de trabalho, ao
crescer.
Ao olhar novamente, João Bosco percebe que os animais ferozes
transformavam-se em mansos cordeiros. Nesse ponto, João acorda e, no café
da manhã, conta seu sonho à família. Seus irmãos fazem piadas e sua avó
diz-lhe que sonhos são bobagens. Sua mãe, entretanto, comenta que talvez
ele se tornasse padre.
Em um local vizinho, o menino vai a um sermão do capelão Padre
Colosso. E espantado ao ver um menino no meio da multidão, o padre chama-
o e pergunta-lhe se compreendera algo do que fora explicado. João repete
todo o sermão, deixando o padre mais espantado ainda. Depois deste dia, o
padre oferece livros de meditação ao menino e ministra-lhe ensinamentos.
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Sua vida se torna complicada ao chegar a casa todos os dias com seus
livros. Seus irmãos o criticam por somente estudar e não ajudar no trabalho
braçal nas terras da família. Cansado, sai da casa de sua mãe e busca abrigo
em terras estranhas, trabalhando apenas por casa e comida. Após dois anos,
o Padre Colosso, supera dificuldades e leva o jovem para morar em sua casa.
Após a morte desse padre, João fica mais uma vez desamparado. Volta
à casa de sua mãe, que dividira as terras com os filhos para evitar novos
desentendimentos. O rapaz passa, então, a caminhar 10 quilômetros por dia
para estudar. Aos 20 anos, em 1835, após estudo e trabalho árduo, aquele
jovem resolve entrar para o seminário. São mais seis anos de estudos
intensos.
Sua ordenação a Sacerdote ocorreu no dia 5 de junho de 1841. João
Bosco passa, então, a falar de Deus e a catequizar os meninos pobres que o
procuram para ouvir palavras de carinho e conforto. No dia 8 de dezembro
daquele mesmo ano, iniciou o seu apostolado juvenil em Turim. Superou
muitas dificuldades em relação a local para instalação dos jovens, devido ao
grande número deles e ao barulho que provocavam.
Ao pensar que tudo tinha chegado ao fim, aparece um homem que lhe
oferece um local para instalar seu oratório. Num inverno após trabalho intenso
nas construções da igreja e demais instalações, Dom Bosco fica doente. Seus
meninos oram incessantemente pela sua recuperação. Na volta do calor, ele
se recupera e vai para a casa de sua mãe convalescer.
No dia 03 de novembro de 1846, Dom Bosco voltou a Turim
acompanhado de sua mãe. Era uma mãe para 500 meninos. Entretanto estes
meninos ficavam ali durante o dia, mas à noite não sabia onde eles iriam
dormir. A primeira tentativa de internato fracassou, mas Dom Bosco não
desistiu.
Seu trabalho destinava-se aos jovens pobres, que vinham do campo
para a cidade em busca de emprego e acabavam sendo explorados por
8

empregadores interessados em mão de obra barata. Também acolhia os


jovens que estavam na rua passando fome, convivendo com o crime e não
tinham conhecimento de Deus e de religião.
Em 1848, ao estourar a sangrenta primeira grande guerra da
Independência, milhares de homens tombaram, deixando suas famílias
abandonadas. Nas ruas de Turim, perambulavam os órfãos. Dom Bosco,
passou a pedir dinheiro aos ricos e às damas da aristocracia, batendo de porta
em porta até conseguir apoio para ampliar sua casa e abrigar os
desamparados.
Com o tempo, constrói uma igreja, amplia o internato, cria também,
escolas de alfabetização e artesanato, casas de hospedagem, ginásio e
campos de diversão para os jovens. Orienta-os para a vida profissional,
construindo oficinas, sapatarias e alfaiatarias.
Em novembro de 1849 é registrado o primeiro de muitos de seus
milagres: a multiplicação de castanhas. Em 26 de janeiro de 1854, Dom Bosco
funda a Sociedade ou Congregação Salesiana. Em 1872, cria a Congregação
das Filhas de Maria Auxiliadora, sob a coordenação de Maria Mazzarello.
Maria Domingas Mazzarello nasceu em 9 de maio de 1837, em
Mornese, Itália. Ajudava a mãe nos trabalhos domésticos e o pai, na lida dos
vinhedos. Durante uma epidemia de tifo, em 1857, Maria Domingas contraiu
essa doença. Mesmo tendo se recuperado, a força física não se revigorou,
impossibilitando-a de trabalhar na roça. Como alternativa, ela e uma amiga,
começaram a ter aulas de corte e costura com o alfaiate do lugar.
Mais tarde, abriram uma pequena oficina de costura no povoado, para
ensinar o ofício e também catequese, às meninas da região. Era crescente o
número de meninas atendidas, e como algumas não tinham para onde ir,
permaneciam ali. A notícia se espalha e a comunidade passa a ajudar as
meninas com mantimentos, lençóis, roupas e lenha.
9

Outras mocinhas da cidade também querem trabalhar nos


ensinamentos das meninas pobres. São bem recebidas, pois o trabalho já era
demasiado para as duas amigas o realizarem sozinhas, e não paravam de
chegar mais meninas necessitando de ajuda.
Em meados de 1863, o grupo fundou uma comunidade, as Filhas de
Imaculada. Nessa missão, a jovem Mazzarello destacava-se pela liderança e
alegria com que exercia as tarefas.
Em uma de suas viagens com seu oratório ambulante, no início de
outubro de 1864, Dom Bosco conheceu a congregação feminina, admirando-
se por realizar para as meninas o mesmo que ele fazia com os meninos.
Prometeu construir ali um colégio para os meninos.
A comunidade passou a doar suas economias e, quem não as tinha,
nas horas vagas, oferecia seu trabalho na construção do colégio. Depois de
longa preparação e construção de um prédio para o colégio, Dom Bosco
anuncia que as Irmãs de Imaculada vão ocupar o colégio como parte do ensino
salesiano.
As pessoas que ajudavam na construção revoltaram-se, sentindo-se
enganadas. Acreditavam que as meninas não fariam nenhum trabalho em
benefício das internas, pois não eram professoras, nem freiras. No entanto,
como Dom Bosco previra, o trabalho deu certo e, em 1872, nasceu o Instituto
das Filhas de Maria Auxiliadora, a Congregação das Irmãs Salesianas.
A irmã Maria Domingas foi eleita superiora por Dom Bosco. As duas
entidades passaram a exercer suas atividades, não só na Itália, mas
expandiram-se para todo o mundo.
Em 1875, Dom Bosco enviou a primeira turma de seus missionários
para a América do Sul. Em 1877, para manter contato com a grande família,
Dom Bosco cria o Boletim Salesiano. É uma revista ilustrada que informa as
ações dos salesianos pelo mundo, cartas dos missionários e a palavra de Dom
Bosco.
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O bispo do Rio de Janeiro visitara-o em Turim e pedira-lhe que


encaminhasse alguns salesianos para sua diocese. No dia 14 de julho de
1883, transferidos do Uruguai, chegaram ao Brasil sete salesianos.
Nessa época, a Congregação Salesiana tinha fama de ser símbolo da
renovação na área de educação. Essa congregação era bem vista por dedicar-
se aos jovens carentes, filhos de escravos, beneficiados com a Lei do Ventre
Livre, e aos jovens imigrantes italianos que vinham tentar a sorte no Brasil.
As Filhas de Maria Auxiliadora instalaram-se em São Paulo (Brasil) no
ano de 1892 e, em seguida, espalharam-se por todo o país. Desse período,
até 1917, implantaram o Instituto; de 1917 a 1942, consolidaram-no e, de 1942
a 1967, expandiram-no.
Madre Mazzarello teve pleurisia após longas viagens á França,
Espanha e Itália acompanhando suas filhas salesianas. Ao pedir para retornar
a Nizza na Itália, o médico deu-lhe apenas dois meses de vida. Chegou ao seu
destino com grande festa, o que a comoveu muito. Morreu no dia 14 de maio
de 1881, aos 44 anos. Em 1951, foi canonizada pelo Papa Pio XII.
Para poder manter a congregação, Dom Bosco passou a visitar toda a
Europa e pedir auxílio em dinheiro. Esse trabalho extenuante teve fim, quando
faleceu na madrugada de 31 de janeiro de 1988, aos 73 anos de idade. O
Papa Pio XI canonizou-o na Páscoa de 1934. Esses dois religiosos, Dom
Bosco e Maria Mazzarello, foram os grandes responsáveis por divulgar a
Congregação Religiosa Salesiana em diversos países da Europa e da
América.
No Rio Grande do Sul, as Filhas de Maria Auxiliadora chegaram em
1958, assumindo uma escola de meninas em São Luiz Gonzaga. Em 24 de
fevereiro de 1967, criaram a Inspetoria Nossa Senhora Aparecida (INSA) na
cidade de Porto Alegre, abrangendo também escolas dos estados do Paraná
e Santa Catarina.
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São Luiz Gonzaga foi a primeira cidade gaúcha a abrigar uma


congregação da ordem das salesianas, pois a comunidade havia se reunido
para implantar uma escola religiosa. A congregação feminina tomou seu
espaço na cidade e, a partir daí, cresceu, edificou prédio próprio, instalou do
ensino primário ao científico, bem como formou diversas turmas do Curso
Normal/Magistério.

2 A CHEGADA E A TRAJETÓRIA DAS IRMÃS SALESIANAS EM


SÃO LUIZ GONZAGA (1958 A 2004)

2.1 SÃO LUIZ GONZAGA NECESSITA DE UMA ESCOLA


RELIGIOSA FEMININA

Desde a década de 30 do século XX, a comunidade de São Luiz


Gonzaga almejava a construção de uma escola que ministrasse ensinamentos
religiosos às moças. A comunidade já havia arrecadado dinheiro para este fim.
Entretanto, a necessidade de um hospital foi prioritária e os fundos recolhidos,
destinados a sua construção.
Santos expressa:

Já em 1935-1936, houve uma campanha destinada a angariar


fundos pró-construção de um colégio religioso em São Luiz, que
atendesse a educação das meninas. (...) A comissão já havia
angariado a quantia de 4.134.100, que encontrava-se depositada nos
Bancos locais. Mais tarde essa importância foi transferida para a
construção do hospital de caridade; por ter sido essa obra julgada pela
coletividade, prioritária, ficando o colégio em segundo plano (1987, p.
199).

Na década de 50, a comunidade volta a lançar uma nova campanha


visando a fundação do Colégio. A Câmara Municipal reúne-se e decide
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conceder permissão para a vinda de religiosas, com o objetivo de fundar e


dirigir um colégio feminino na cidade.
O vigário Adílio Basso foi o responsável pelos entendimentos com as
religiosas, auxiliado pelos pedidos do Bispo Diocesano, Dom Luiz Felipe de
Nadal. Após longa jornada de negociações, a comunidade, a Comissão e as
autoridades optaram pela Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora
(FMA), que provinham da Itália e, no momento, realizavam missões pelo
Brasil.
Duas delegadas salesianas visitaram a cidade e, após enviarem o
relatório do que viram à Reverendíssima Inspetora Provincial, esta
encaminhou uma carta ao vigário, com sua proposta. Os são-luizenses
consideraram-na inteiramente aceitável.
As salesianas de Dom Bosco, aceitaram instalar-se na cidade, por que
esta era uma área ainda não explorada por suas missões. Para essa decisão,
pesou também o fato de essa obra já estar em andamento, ou seja, havia o
Ginásio Santo Antonio de Pádua, dos padres franciscanos, em pleno
funcionamento. Conforme a entrevistada Oliveira, “a vinda dessas religiosas
para São Luiz atendia a um duplo interesse: de um lado, a necessidade da
comunidade e, de outro, a necessidade de expansão da obra salesiana”
(2011).
O Ginásio possuía duas sessões de ensino na cidade, uma masculina e
outra feminina. O prédio destinado à educação feminina era dirigido por Zilá
Lobato Marques, também proprietária do espaço, e pelos padres. O local foi
então doado às irmãs salesianas e destinado à implantação da escola para
meninas.
Assim, as irmãs assumiram a educação feminina, implantando o Instituto
Nossa Senhora Auxiliadora. Essas freiras eram oriundas do Colégio Santa
Inês instalado na capital paulista e foram designadas para assumir a
administração dessa escola. Em reunião realizada no dia 20 de janeiro de
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1958, na sede da Congregação Salesiana, foram designadas as freiras que


seriam transferidas para São Luiz Gonzaga. Conforme a Ata nº 27 (Anexo A):

Aos nove dias do mês de janeiro do ano de mil novecentos e


cinquenta e oito, na sede da Congregação das Filhas de Maria
Auxiliadora, á Rua Três Rios, 362, nesta capital de São Paulo,
reuniram-se em Assembléia Geral os membros do Conselho e as
Diretoras das Casas de Congregação, sob a presidência da
Reverenda Madre Superiora, Madre Madalena Sanlorenzo. Aberta a
sessão pela Presidente, de conformidade com o que prescreve o
Artigo 4º dos Estatutos Gerais, procedeu-se a eleição da Diretoria de
diversas Casas da Congregação com o seguinte resultado: Para o
Instituto N. S. Auxiliadora de São Luiz Gonzaga, Estado do Rio
Grande do Sul, Irmã Maria Aparecida da Silva, Diretora; Irmã Maria
Colombo, Secretária; Irmã Maria Ângela de Britto, Tesoureira.

São Luiz Gonzaga, no momento da chegada das irmãs salesianas,


segundo Azzi:

era minúscula e sem recursos, [...] São Luiz era uma tapera. Nesse
ano contava com 11.000 habitantes. As ruas da cidade variavam de
acordo com o tempo que Deus dava. Ora era terra pura, ora era
horrível barro vermelho. As casas eram maltratadas pelas
intempéries. Em razão das distâncias dos principais centros urbanos,
a localidade ficara praticamente estagnada no tempo (2002, p. 43).

Essa pequena cidade, no entanto, é a primeira do Rio Grande do Sul, a


dispor de uma escola de ensinamentos das Filhas de Maria Auxiliadora (FMA)
e motivo de grande orgulho para a comunidade.

2.2 O ENSINO SALESIANO É IMPLANTADO EM SÃO LUIZ


GONZAGA

No dia 23 de fevereiro de 1958, as cinco irmãs da Congregação


Salesiana Filhas de Maria Auxiliadora, partiram de São Paulo, em um avião da
VARIG, acompanhadas da Ecônoma Inspetorial, Reverenda Irmã Elvira
Gaido, com destino a Porto Alegre. Após turbulenta viagem, motivada por forte
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temporal e uma irregularidade no motor do avião, tiveram que pousar no


campo de emergência de Tramandaí e seguir de ônibus, por duas horas, até
Porto Alegre.
Naquela cidade, foram acolhidas pelas Irmãs de São José do Colégio
Sevigné. Chegaram às duas horas e já às 13 horas embarcaram rumo à última
etapa da viagem: São Luiz Gonzaga.
Em 24 de fevereiro de 1958, às 15h30min, as freiras aterrissaram em
solo são-luizense. Vinham com o propósito de criar na cidade uma escola que
seguisse os ensinamentos salesianos criados por Dom Bosco e traziam na
bagagem uma pequena imagem de Nossa Senhora Auxiliadora. Esse dia
coincide com o aniversário de nascimento do falecido Padre Augusto
Preussler e com o primeiro aniversário de posse do Vigário em exercício na
paróquia.
Naquela data, Sua Santidade Pio XII, exercia o Pontifício da igreja
católica apostólica romana e o Núncio Apostólico no Brasil era exercido por
Sua Excelência Reverendíssima, Monsenhor Armando Lombardi. Era Bispo
Diocesano D. Luiz Felipe de Nadal e o Vigário, o Reverendo Sacerdote Adílio
Vitório Basso. O Presidente da República era Juscelino Kubitschek de Oliveira;
Governador do Estado, Ildo Meneghetti, Prefeito do município, o Coronel
Justino Marques de Oliveira; Superior da Pia Sociedade Salesiana, o
Reverendo D. Renato Ziggiotti, Governadora do Instituto das Filhas de Maria
Auxiliadora, a Vigária Geral Madre Ângela Vespa e a Inspetora era a Madre
Madalena Sanlorenzo.
O povo são-luizense recebeu calorosamente as irmãs salesianas. No
aeroporto, distante 15 quilômetros da cidade, encontravam-se 56 carros, com
membros da sociedade civil, militar, eclesiástica e autoridades locais. A
recepção, com foguetes, batidas de palmas e agitação geral na cidade, foi
caracterizada como maior até do que as organizadas para receber políticos de
destaque.
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Chegada das irmãs no aeroporto

Bispo Luiz Felipe de Nadal recepciona as irmãs

A disputa das famílias para ter a honra de levar uma das irmãs em seu
carro foi intensa. Após a organização, o desfile de automóveis, caminhonetes
e jipes rumou para a cidade. A primeira parada foi na Gruta Nossa Senhora
de Lourdes. Após, seguiram em passeata pelas principais ruas para,
finalmente, chegar no Hospital de Caridade onde as Irmãs franciscanas as
acolheriam.
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Irmãs salesianas com a Reverenda Ecônoma Inspetorial na frente do Hospital de


Caridade

Ao chegarem, as seis freiras já cativaram a todos, granjeando-lhes a


simpatia. Cinco delas permaneceram na cidade, entretanto a Ecônoma voltou
à Inspetoria. Segundo o Jornal do Dia dos Municípios, em entrevista com a
Irmã diretora, sobre suas impressões da cidade, respondeu:

Ótima impressão pela maneira cordial e amiga do bom povo de


São Luiz. Gratidão pela deferência com que fomos tratadas pelo Pe.
Adílio Vitório Basso, demais autoridades civis, militares e religiosas e
pela hospedagem carinhosa e fraterna das Revdmas. Irmãs
Franciscanas do Hospital de Caridade (Correspondende Prof. Vicente
Miguel Soares, 13/03/1958)

Aquela freira explicitou também o objetivo de assumir a direção do


ginásio feminino, onde já funcionavam seis classes e o curso de admissão,
com um total de 150 alunas.
A direção da escola ficou a cargo da Reverendíssima Irmã Maria
Aparecida da Silva, com a colaboração das Irmãs Maria Ângela de Brito, Maria
Colombo, Aparecida Geralda de Freitas e Irmã Lúcia Dallabona. Os
professores que já ministravam aulas no ginásio foram mantidos no corpo
docente salesiano.
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No livro Personalidades do Século em São Luiz Gonzaga, consta a


biografia da Irmã Maria Aparecida da Silva, por ser figura importante para a
cidade:

Nasceu na cidade de Nossa Senhora do Carmo do Parnaíba,


Minas Gerais, em 14 de março de 1919. Fez seus estudos no Colégio
salesiano Santa Inês, em São Paulo, onde, na convivência com as
Irmãs Salesianas, optou pela vida religiosa. Na sua juventude, foi
militante da Ação Católica, onde adquiriu uma rica experiência de
trabalho pastoral que, aliada à pedagogia salesiana, fez de Irmã Maria
uma excelente educadora, atuando durante 14 anos como professora
em Minas Gerais e Santa Catarina. Em São Luiz Gonzaga, foi a
primeira diretora do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, fundado em
1958, onde deixou a marca inconfundível de sua personalidade. (...)
Faleceu no dia 14 de janeiro de 1972 (Jornal A Notícia, 2000, p. 21).

As irmãs franciscanas da Sagrada Família, que já trabalhavam no


Hospital de Caridade, alojaram em suas dependências as irmãs salesianas,
até o aprimoramento de suas instalações. Já no dia 25, iniciam as atividades,
indo conhecer as dependências da escola onde iriam lecionar. O prédio
destinado à escola está situado na Rua Venâncio Aires, nº 2167, a uma quadra
da Igreja Matriz.

Fachada do prédio que abrigou a escola feminina


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Os primeiros dias são passados entre o hospital, o ginásio e a residência.


Entretanto a caminhada e o sol ardente do verão não impediram das irmãs
iniciarem seu trabalho.
Dia 26 de fevereiro, dois dias após a chegada, já se iniciaram as
inscrições para o curso ginasial. A primeira aluna a se matricular foi a jovem
Clarice Steffen. O contato inicial com as alunas e seus pais são de simpatia e
respeito mútuo. Era evidente a satisfação com a chegada das irmãs e o início
dos trabalhos na cidade.
No dia 4 de março de 1958, às 18 horas, as freiras transferiram-se para
a residência provisória localizada na Rua Venâncio Aires, nº 2068. Entretanto,
aquelas instalações eram precárias.
A casa, de dimensões mínimas, em que as freiras foram abrigadas
localizava-se a cem metros do Colégio. O imóvel possuía apenas uma sala
com nove metros quadrados, outra, com 5m que servia como escritório da
diretora, sala de visita e sacristia da capela. Outra de 3x6m destina-se a uma
cozinha, à despensa e refeitório, bem como um dormitório de madeira para as
religiosas. As freiras dispunham apenas de cama e alimento, muitas vezes
doado pelas pessoas que colaboraram para a vinda delas à cidade.
O Padre Adílio Basso, vigário da paróquia, promovera as adaptações
básicas necessárias no imóvel destinado às freiras e Mário Steffen,
juntamente com um funcionário, arrumaram o assoalho, vidros, portas,
janelas, reboco, pintura e limpeza do pátio. Aquele colaborador mandou,
inclusive, construir um galinheiro, pois, naquela época, a criação galinhas no
pátio era prática comum. Essas melhorias foram realizadas com dinheiro
próprio do construtor.
Enquanto isso, Mario Steffen encarregou as Senhoras Santinha Queiroz
e Nalda Steffen de adquirirem e utensílios domésticos e angariarem recursos
financeiros para a manutenção da casa. Essas senhoras percorreram a cidade
19

pedindo doações. Outras senhoras da comunidade ajudaram a ordenar a


casa.
A capela era pequena, sem bancos e castiçais. O altar foi emprestado
pelo vigário e decorado com a estátua de Nossa Senhora Auxiliadora trazida
pelas irmãs, a única existente na cidade.
Apesar da inadequação do ambiente, as freiras iniciaram seu trabalho,
mas logo as instalações iniciais do colégio tornaram-se escassas. Atualmente
a casa destinada às irmãs não existe mais e, em seu lugar, há uma nova
construção.
A partir de 1958, o Jornal A Notícia registra o desenvolvimento de São
Luiz Gonzaga, tanto nas atividades industriais, no comércio, na pecuária, na
agricultura, nas construções e no ensino. Centenas de edificações residenciais
particulares e comerciais foram realizadas, simples ou majestosas. O ensino
é revolucionado com a construção de quatro grupos escolares, dentre os quais
o INSA que, naquela data, conta com curso primário, ginasial e pleiteia o Curso
Normal.
Desde o início do ano de 1959, após a Prefeitura Municipal sancionar a
Lei nº 335, de 27 de novembro de 1958, o INSA passa a receber o auxílio em
dinheiro que era remetido para a sessão feminina do Ginásio Santo Antônio a
qual foi extinta (Anexo B). Naquela mesma data, orça a receita, prevê
despesas para o próximo ano, com subvenções de CR$ 54.600,00 para
despesas do educandário e CR$ 200. 000,00, para a construção do prédio.
Assim, as irmãs passam a obter mais ajuda para exercer suas funções.
O INSA foi autorizado a funcionar condicionalmente pela Portaria nº 179,
de 05 de fevereiro de 1959 (Anexo C). Essa autorização foi também divulgada
pelo Ministério da Educação e Cultura, no Diário Oficial (Seção I) no dia 21 de
fevereiro de 1959:
20

Diário Oficial divulga autorização para funcionamento do INSA

Nos anos seguintes, o município destinou consideráveis valores, bem


como subvenções para bolsas de estudos às alunas dos Cursos Ginasial e
Normal. O Prefeito João Loureiro sancionou a Lei nº 392, de 06 de fevereiro
de 1961, elevando as bolsas de estudos mantidas pela Prefeitura no Ginásio
Santo Antônio de Pádua e no Instituto Nossa Senhora Auxiliadora de treze
para quinze, no curso ginasial e de três para quatro no Curso Normal feminino
(Anexo D).

2.3 SISTEMA DE ENSINO SALESIANO

O Instituto das FMA, ou Salesianas de D. Bosco, constitui uma rede


mundial de educação e de solidariedade. Compromete-se com os princípios e
aspirações evangélicos, bem como com a forma de ensino do Sistema
Educativo de D. Bosco e Madre Mazzarello.
Essa obra propõe-se a ser uma casa que acolhe. Uma família em que
cada membro se sente amado e respeitado, aprendendo a amar e a respeitar
o outro e a conviver em paz. O Instituto salesiano caracteriza-se por sua
missão educativa destinada a crianças, adolescentes e jovens. Interage com
21

eles e colabora com a família e os acompanha em seu processo de


amadurecimento, de releitura permanente dos modelos de pensamento e de
comportamento, priorizando sempre os valores da pessoa.
Ainda hoje, o Instituto das FMA possui compromisso com obras sociais,
trabalhando juntamente com a Pastoral da Criança, Dioceses, Paróquias,
órgãos públicos e ONG’s, ministrando catequese e auxiliando menores em
risco, mulheres e famílias carentes.
Em São Luiz Gonzaga, paralelamente à educação formal, o INSA
sempre desenvolveu trabalho pastoral junto à Paróquia, privilegiando a
catequese e a assistência social na Vila Jauri e Vila Nossa Senhora
Auxiliadora. Esta última, de acordo com a pesquisa “Bairros de São Luiz
Gonzaga - Espaços e Memórias”, tem esse nome porque as irmãs Ana e
Leontilha, que ajudavam as famílias carentes da Vila, por volta dos anos 80,
excluíram o nome anterior, Matadouro, que consideravam feio e assustador e
passaram a chamá-la Vila Nossa Senhora Auxiliadora.
Vinte e seis normalistas participaram em 1980, de núcleo de voluntários
para trabalhar na área da saúde. Essas estudantes receberam treinamento e
informações sobre diversos assuntos relacionados à saúde para,
posteriormente, transmiti-los às pessoas carentes da comunidade.
Segundo o PPP da Inspetoria Salesiana Nossa Senhora Aparecida, o
INSA estabeleceu sua Missão e Visão da seguinte forma:

Missão: Educar para o sentido pleno da vida, com força


profética da pedagogia salesiana, crianças, adolescentes e jovens,
visando o compromisso com a construção do conhecimento, e dos
valores éticos, morais e transcendentes.
Visão: Ser referência educacional, em constante crescimento,
inovadora nos processos de ensinar, aprender e se relacionar,
trabalhando em rede, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de
pessoas éticas, competentes e felizes (2004, p. 18).

Segundo o Plano Pedagógico do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, o


objetivo dessa instituição de ensino é promover ao educando condições para
22

que desenvolva suas potencialidades e capacidades criativas, sempre na


busca consciente e livre de sua autorrealização. Como objetivos específicos,
busca oportunizar atividades que desenvolvam no educando hábitos de
higiene; senso de responsabilidade; relacionamento libertado e atitudes de
solidariedade.
A Educação Salesiana é fundamentada no Sistema Preventivo de Dom
Bosco e alicerçado no tripé: razão, religião e amorevolezza (afetividade,
amabilidade). A RAZÃO é o bom senso, a disciplina como aceitação das
regras de um convívio e de mútuo respeito dentro da escola. É a educação
para o senso critico, diante das propostas e apelos da sociedade, da família e
da religião.
A RELIGIÃO é a abertura para o transcendente, o absoluto, o espiritual,
o sagrado, que entre nós se manifesta na figura de Jesus Ressuscitado, o
Bom Pastor. A mensagem religiosa é essencial no processo educativo
libertador e para responder às necessidades dos jovens e outros integrantes
da comunidade educativa.
O AMOR na forma da amabilidade é um misto de caridade, de amizade
e de carinho. O educador sente-se bem em meio aos jovens, acredita neles e
demonstra seu amor nos fatos concretos do dia a dia.
A Escola Salesiana empenha-se em formar comunicadores, não apenas
receptores ou acumuladores de informação. Prepara pessoas capazes de
transformar as informações em conhecimentos e os conhecimentos em
sabedoria, pois ele não é algo que se transmite, mas que se constrói. Garante
qualidade de aprendizagem e da educação em todos os níveis, ciente de que
a educação para o trabalho, a profissionalização, o projeto de vida, são
instrumentos significativos para a inserção do jovem na sociedade moderna.
A pedagogia salesiana defende o comprometimento de todos para atuar
como uma família, ao redor de seus valores. O educador deve estar engajado
23

aos princípios para que possa atingir os jovens de diferentes origens.


Conforme Castro:

A educação na pedagogia salesiana acontece mediante a


convivência, essa deve ser uma presença qualificada, cada um com
sua identidade e seu lugar social assegurado. Vale reforçar, educando
é educando, educador é educador. Ninguém pode abrir mão de sua
função em nome ou em favor de outras posturas que não sejam éticas
e de compromisso. Aos educadores D. Bosco afirmava: “(...)
procurem, lutem em fazer-se amar pelos jovens para que eles aceitem
o que é proposto. (...) Procurem gostar daquilo que os jovens gostam
para que eles aceitem também o que for mais trabalhoso (...)
Educação é coisa do coração!” (2003, pp. 99-100).

O professor é mediador do conhecimento, organizador da ação


pedagógica, sistematizador de conteúdos, vivências e procedimentos, atento
às expressões da ciência e tecnologia, à influência da mídia, às novas
linguagens e aos valores essenciais da cultura humana e do Evangelho, ciente
de que o jovem é protagonista de sua própria transformação. A relação
professor-aluno transcende o transmitir conhecimento, e passa pela criação
de oportunidades básicas para que o sujeito construa o “saber”, o “saber-
fazer”, o “saber-ser” e o “saber conviver”.
A disciplina mantida pelas freiras era bastante rígida. O uniforme era
obrigatório, composto por uma blusa branca, saia abaixo do joelho e gravata
azul. Segundo a entrevistada Machado, havia uma linha nas salas de aula que
servia para as irmãs vistoriarem se a saia estava na altura correta, pois
algumas alunas a enrolavam na cintura para deixá-la mais curta (2011).
As salas de aula possuíam duas portas. A do fundo era para a Irmã
Diretora ou supervisora entrar de surpresa se houvesse barulho e/ou assistir
a aula. Entretanto, as irmãs priorizavam a harmonia entre todos, conforme a
pedagogia salesiana.
As irmãs iam sempre à missa ou realizavam novenas na capela do
Instituto. As internas, em número aproximado de 130 nos anos 90 iam a pé,
24

no mínimo duas vezes por semana, à igreja para assistir a missa. As freiras
deslocam-se de Kombi. Antes de entrar para a aula, rezavam de 10 a 15
minutos. Diariamente era realizada a cerimônia do “Bom-Dia”, com reza,
apresentações, leitura de pensamentos e recados escolares.

2.4 GRAU DE ESCOLARIDADE MINISTRADA

Anteriormente à abertura da escola salesiana, as moças de São Luiz


Gonzaga estudavam até a 8ª série na cidade de Caibaté, em internato da
escola religiosa, ou obtinham o ensino tradicional nas escolas estaduais.
Depois para obter educação profissional dirigiam-se para São Borja, Santo
Ângelo ou Cruz Alta. Segundo a entrevistada Chagas (2011) “as moças que
estudavam fora voltavam à cidade com atitudes refinadas e quem não tinha
condições de mandar as filhas para outras localidades, investiu a implantação
de uma escola desse patamar na cidade”.
No ano seguinte à chegada das irmãs salesianas, foram iniciadas quatro
turmas do curso primário, além das turmas ginasiais. Cogitava-se, ainda, a
abertura de um Curso Normal destinado à formação de professoras para o
ensino primário.
Os pais das meninas, entusiasmados com o método educacional
salesiano, passaram a reivindicar a abertura desse Curso Normal, pois o
Magistério era um benefício que ainda não existia em São Luiz Gonzaga e
nem mesmo na região. Na época, a formação profissional era oferecida
apenas para os homens.
A formação ao Magistério foi muito bem recebida, pois era a única
profissão que as mulheres podiam seguir. Segundo a entrevistada Oliveira
(2011):
25

Aos poucos, o curso Normal foi se tornando referência na


região e as famílias também agradeciam pelo fato de não precisarem
mais mandar suas meninas estudar fora da cidade, em centros mais
desenvolvidos. Isso foi um ponto muito positivo. Com o ingresso de
mais mulheres no mercado de trabalho, estas começam a se
sobressair no mundo econômico, embora os salários fossem baixos.

A partir do dia 24 de agosto de 1959, iniciaram-se as correspondências


com os órgãos públicos, pleiteando a Escola Normal. Pelo decreto legislativo
nº 1508, de 06 de junho de 1961, seu funcionamento foi oficializado por quatro
anos. Todavia, mesmo antes de ser aprovado o decreto, foram realizados os
exames admissionais e, em 01 de março de 1961, a primeira turma de
normalistas iniciavam as atividades escolares. De acordo com a entrevistada
Chagas (2011), “as turmas possuíam 50 alunas, pois todos queriam estudar
no INSA”.
Em 24 de abril de 1961, iniciou-se a Escola Noturna Santa Maria
Mazzarello, na qual era ministrado curso de alfabetização, instrução primária,
corte, costura, bordado, economia doméstica, formação religiosa e moral para
as alunas. Esse ensino é destinado exclusivamente para meninas pobres
acima de 13 anos, em regime de internato e inteiramente gratuito. Ministrou-
se também o ensino supletivo cujas alunas eram, em sua maioria, empregadas
domésticas ou operárias da cidade, no regime de externato.
A primeira turma de professorandas do Curso Normal formou-se no dia
10 de julho de 1964. A solenidade de colação de grau, dividida em duas partes,
realizou-se no Clube União Operária. Na primeira parte, houve a colação de
grau, com entrega de diplomas, juramento, palavras da oradora, do paraninfo
e entrega do prêmio Dom Bosco à primeira aluna da turma, Maria Ivone Neves
de Avila. A segunda parte da solenidade contou com um momento lítero-
musical, com orações, hinos, poesias, músicas cantadas e ao piano.
Em 1964, as freiras ampliaram o atendimento educacional implantando
o Jardim de Infância. Disponibilizou-se também internato vocacional,
26

destinado às meninas que desejavam fazer parte da vida religiosa salesiana.


Mais de uma dezena dessas jovens tornaram-se Filhas de Maria Auxiliadora.

Alunas de 1964 juntamente com as irmãs, vendo-se ao centro a Irmã Maria Aparecida da
Silva, diretora da instituição

Dias, em seu livro, destaca as instituições ilustres do Rio Grande do Sul,


nos anos de 1973/1977, e faz referência ao INSA:

O Instituto é colégio confessionalmente católico, distinguindo-


se pelo empenho em educar seus alunos num cristianismo autêntico
e consciente. Por sua filosofia, dá à educação religiosa a primeira e
máxima importância dentro da educação integral. (...) Conta
atualmente com 847 alunos, sendo: - 425 alunos do I Grau, - 184
alunas do II Grau/ Magistério, - 238 alunos do Curso Supletivo de II
Grau, para formação de professores leigos (1975, p. 112).

Segundo o Jornal A Notícia:

O Instituto Nossa Senhora Auxiliadora, mantém a escola de 1º


e 2º graus “Nossa Senhora Auxiliadora”, que para 1980, já matriculou
477 alunas de 1º grau, 280 de 2º grau - Curso Magistério - e 40
estagiárias estão assumindo classes na Escola de 1º grau incompleto
Maria Mazzarello, nas escolas estaduais e municipais. (...) Mantém
um curso de datilografia que funciona durante o ano letivo e no
período de férias; atualmente está atendendo a 30 alunos. No mesmo
Instituto funciona um internato vocacional para formar as jovens que
27

pretendem seguir a vida religiosa na Congregação das Irmãs


Salesianas (São Luiz Gonzaga, 02 de março de 1980).

Nos anos 2000, em parceria com outras entidades da comunidade, o


Instituto Nossa senhora auxiliadora desenvolve o Projeto Solidariedade que
contempla cursos de Office-Boy, empregada doméstica, trabalhos manuais,
chocolate caseiro e acompanhamento de famílias carentes. As alunas tinham
aulas de latim, francês e inglês além do ensino das disciplinas tradicionais.
Ao longo de sua trajetória, o INSA formou alunas, tanto no ensino
cientifico como nos cursos de formação ao magistério. Ministrou também, a
partir de 1979, na Escola Maria Mazzarello, o ensino misto. Para conseguir
vaga em qualquer dos cursos oferecidos, antes era realizado um exame
admissional, por causa da disputa de vagas.

2.5 NOVAS FESTIVIDADES NA CIDADE

No primeiro ano das irmãs na cidade, foram realizadas atividades


festejando o dia de Nossa Senhora Auxiliadora. Essa festa era revestida de
atividades inéditas e especiais aos moradores. Havia missa festiva, missa de
ação de graças com a presença do Exmo. Sr. Bispo Diocesano Dom Luiz
Felipe de Nadal, que abençoou a nova imagem de Nossa Senhora. Após,
seguiram em procissão com a imagem até a casa das irmãs. Em nota no Jornal
A Notícia, as irmãs agradeceram presença das autoridades civis, militares e
religiosas, bem como ao povo e às famílias, por comparecerem em evento tão
importante para o ensino salesiano.
Nos anos seguintes, essa festa passou a ser celebrada com solenidade
e participação de toda a sociedade. As alunas salesianas promovem liturgia,
poesias, e ainda realizam a coroação de Nossa Senhora como Rainha e
Mestra da Juventude são-luizense. Outras festividades incluídas foram a
28

devoção ao Coração de Jesus e o culto a Dom Bosco, fundador da


congregação salesiana.
Uma atividade conduzida pelas irmãs, e muito bem recebida pela
comunidade, era o oratório festivo dominical. Reuniam as crianças, jovens e
alunos de outras escolas para efetuarem brincadeiras de roda, orticã1,
catequese, receber bênção, merendar, praticar esportes e receber o famoso
pirulito, confeccionado pelas próprias irmãs.
O cineminha era o auge do dia. Na parte coberta, nos dias de chuva, ou
no pátio interno, em dias de sol, a plateia se acomodava em bancos, nas
beiradas das calçadas ou até mesmo no chão, para assistir. As imagens eram
passadas em forma de slides fixos, uma irmã com um alto-falante ia narrando
a história e lendo os comentários das imagens, pois estes geralmente estavam
escritos em italiano.
Os assuntos eram catequéticos, missionários ou algo formativo de
conhecimentos. O povo são-luizense, pois na hora do cineminha, os pais dos
alunos também se faziam presentes, assistiam com entusiasmo e atenção.
O dia acabava depois de um salesianíssimo “boa-noite” das freiras, e as
famílias voltavam para suas casas. Também as irmãs se recolhiam para
descansar depois de um dia agitado.
Realizavam exposições dos principais trabalhos elaborados pelas
alunas ao final de cada ano, dentre os quais se destacavam bordados,
confecções de corte e costura, decoração de espuma de nylon, cartazes,
pinturas á guache, trabalhos de didática, de pesquisa social, geográfica e
histórica do município de São Luiz Gonzaga, bem como jogos infantis e álbuns
do Concílio e Natal.

1
Era um jogo de duas equipes, com bola que utilizava a cabeça para rebater. Um dos primeiros
jogos de competição que chegou ao Brasil por intermédio das irmãs italianas e tornou-se popular
nas escolas.
29

Para a elaboração desses trabalhos, as alunas utilizavam materiais da


natureza, caseiros e descartáveis como porongos, galhos secos, cachos de
coqueiro, cardos, carretéis e outros. Conforme o Jornal A Notícia:

O trabalho que as dedicadas Irmãs salesianas vêm realizando


é altamente elogiável, pois atinge os fundamentos de nosso futuro,
por que prepara com bases sólidas os lares que se hão de formar,
através das alunas que tiverem a ventura de frequentar os cursos do
conceituado educandário (São Luiz Gonzaga, 23 de dezembro de
1962)

Nos fins de semana, abria-se espaço para o Oratório Juvenil, ou


Clubinho do INSA, no qual eram atendidas crianças carentes dos bairros
próximos. Durante o período que ficaram na cidade, as freiras procuraram
manter vínculos educacionais com a juventude, os alunos, suas famílias e a
comunidade em geral. Conforme a entrevistada Chagas (2011) “os oratórios
implantaram na cidade a solidariedade. Antes, não se tinha essa prática, após
a chegada das irmãs é que a comunidade passou a realizar atos beneficentes
juntamente com elas.”
No ano de 1981, centenário da morte da Santa Maria Mazzarello, foi
aberto solenemente no dia 1º de janeiro o Ano de Centenário da Santa, em
todo o mundo. Em São Luiz Gonzaga, realizou-se missa na Igreja Matriz em
sua homenagem. Fizeram-se presentes pais, alunos, ex-alunos e benfeitores
daquela instituição de ensino.
Um evento realizado pela Congregação das FMA era o Congresso sobre
o Sistema Preventivo de D. Bosco. Na comemoração dos 500 anos de
Evangelização da América Latina, 100 anos de presença das FMA no Brasil,
25 anos da Inspetoria Nossa Senhora Aparecida, a Família Salesiana das
Inspetorias Salesianas São Pio X e Nossa Senhora Aparecida, promoveram o
6º Congresso sobre o Sistema Preventivo de Dom Bosco em São Luiz
Gonzaga.
30

O referido Congresso foi realizado de 15 a 17 de maio de 1992 com a


participação de bispos diocesanos da região, autoridades são-luizenses, irmãs
salesianas da cidade e, vindas de cidades de todo o Estado, alunas,
comunidade em geral, bem como pessoas de Santa Catarina, Paraná, Minas
Gerais e Distrito Federal.
Realizaram-se palestras, apresentações artísticas e debates acerca da
educação salesiana, pois, ao final do congresso foram assumidos
compromissos de transformar o trabalho com a juventude em “um jeito novo
de evangelizar”, segundo seu lema.
O INSA também se destacava nos desfiles realizados na cidade. O
Jornal A Notícia explicita a apresentação desta escola, no desfile de sete de
setembro de 1983, quando as alunas chamaram a atenção da comunidade
com faixas reivindicatórias. Os estudantes caminharam de mãos dadas,
utilizando roupas de sacos de farinha, para poder atingir o público com seu
objetivo: favorecer as classes populares, buscar melhorias para a educação e
pedir a união da sociedade.
A ex-alunas salesianas ainda mantêm vários costumes salesianos,
fazem orações frequentes e, nos encontros que realizam, ainda brincam com
mesmas brincadeiras, cantam as mesmas canções e revivem os momentos
de alunas salesianas. Receberam uma sala no momento do aluguel do prédio
do INSA, entretanto devido ser no terceiro piso e algumas já estarem com
idade avançada, passaram a realizar suas atividades na capela.
Na cidade, ainda não havia bandas marciais. O INSA introduziu essa
prática, que logo se espalhou para outras escolas e hoje realizavam
belíssimas apresentações nos desfiles e festividades. O primeiro instrutor da
banda foi o Sargento Roque Forte que, mesmo depois do encerramento das
atividades da instituição, a pedido das irmãs, prosseguiu com o exercício da
banda em pleno funcionamento até hoje.
31

Outro evento implantado pelas salesianas na cidade foi a realização do


Natal Luz todos os anos. Ainda hoje as ex-alunas e professoras da Escola
Básica realizam este evento com o qual a URI sempre elabora e apresenta
grandes espetáculos.
A trajetória das irmãs salesianas na cidade deixou um grande legado.
Tornou-se anual a Coroação de Nossa Senhora, que continua a ser realizada
pelas ex-alunas, bem como as exposições de trabalhos, os congressos,
seminários e apresentações da Banda Marcial URI/INSA.
32

3 INSTALAÇÕES PRÓPRIAS E ADEQUADAS À DEMANDA


DE ALUNAS: CONSTRUÇÃO DO NOVO PRÉDIO

As instalações destinadas às irmãs salesianas, ficaram insuficientes


em pouco tempo, pois não atendiam mais à demanda de alunas. O
espaço também era precário para a efetivação de uma ação educacional
eficiente. Assim, logo foram realizadas algumas reformas urgentes, mas,
desde 1957, mesmo antes da chegada das freiras, já se visava à
construção de um edifício novo.
Ao fim daquele ano, o presidente da Comissão pró-construção do
novo Ginásio renunciou. Assumiu, então, a seguinte comissão:
Presidente: Coronel Moacir Avelar Aquistapace; 1º Vice-Presidente:
Orestes Alves do Amaral; 2º Vice-Presidente: Odil Martins; 3º Vice-
Presidente: Floriano Gonçalves dos Santos; 1º Secretário: Major Oli
Hastenpflug; 2º Secretário: Elias Possap; 1º Tesoureiro: Francisco Duda;
2º Tesoureiro: Luiz Sandri e Consultor Jurídico: Dr. Plínio Moreira.
Em seguida, construiu-se um pavilhão para salas de aulas,
instalações sanitárias, moradia para as irmãs e também materiais básicos
para trabalhos. Essas melhorias eram indispensáveis para que pudessem
aguardar mais alguns anos até a construção do novo prédio.
33

Construção das instalações sanitárias

Sala de aula

Sala da direção
34

Sala dos professores

Secretaria

Vista parcial da biblioteca


35

Material de desenho

Sala de geografia

Em 24 de março de 1959, ocorreu a inauguração das reformas nas


dependências do Ginásio. Pela manhã, foi realizada uma missa campal,
seguida de discursos e agradecimentos ao trabalho ministrado. Ao meio-
dia, foi servido churrasco, e a festa prosseguiu à tarde com diversos
divertimentos.
As irmãs receberam vários telegramas felicitando a inauguração das
obras. Dentre essas manifestações, destacaram-se as do Bispo
Diocesano Luiz Felipe de Nadal, Fernando Ferrari, Deputado Gustavo
Langsch, Mário Vieira Marques e da Irmã Diretora da Inspetoria.
36

A partir destas reformas, a Comissão passou a pleitear recursos dos


governos federal, estadual e municipal para a construção do novo prédio.
A comunidade são-luizense novamente se reuniu para angariar fundos.
Os tesoureiros da comissão estavam encarregados de receber as
doações.
A Prefeitura Municipal já havia doado um terreno da quadra 419,
conforme a Lei nº 310, de 22 de novembro de 1957 (Anexo E), na
administração do Prefeito Justino Marques de Oliveira, nos seguintes
termos:

Art. 1º: É o Executivo autorizado a fazer doação à


Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora, de um terreno do
município, situado a leste da cidade, quadra 419, com as
seguintes confrontações e dimensões: Norte - com a Rua
Venâncio Aires, Sul - com a Rua 1º de março, com a dimensão
de 130 metros nas duas faces, Leste - com a Rua Fernando
Machado, Oeste - com a Rua José Bonifácio, tendo 105 metros
nestas duas últimas faces.
Art. 2º: A doação constante do artigo anterior destina-se
para a construção de um Ginásio Feminino, dirigido pela
mencionada Congregação Religiosa, e caso não seja utilizada,
para o fim a que se destina, no prazo de dois anos, reverterá ao
patrimônio do Município.

Anteriormente a essa doação, o referido imóvel fora destinado ao


Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários, destinado à
construção da Vila dos Comerciários. Entretanto, como as obras não
foram realizadas no período estipulado, o terreno reverteu ao município.
Naquele local, havia apenas arbustos chamados espinilho. Aquele terreno
teve escritura lavrada no 1º Cartório de Notas, desta cidade, no dia 09 de
março de 1959, sob o nº 1813-55, no livro 140.
Em 23 de fevereiro de 1959, a Irmã diretora, Maria Aparecida da
Silva, compareceu à Coletoria Estadual da cidade para pagar o imposto
de transmissão de propriedade “intervivos”, sobre o valor de
37

CR$350.000,00, referente à doação do terreno urbano, realizado pela


prefeitura (Anexo F).
Em 1960, foram necessárias novas eleições para a nova diretoria
da Comissão Pró-construção do INSA, pois alguns integrantes dela foram
transferidos para outras cidades. A nova comissão ficou assim
constituída: Presidente: Plínio Moreira, 1º Vice: Orestes Alves do Amaral,
2º Vice: Odil Martins, 1º secretário: Victor Hugo Pereira Marcello, 2º
secretário: Luiz Sandri, 1º Tesoureiro: Francisco Duda, 2º Tesoureiro:
Bruno Kieling. Para o Conselho Consultivo, foram empossados: Padre
Adílio Basso, Prefeito Municipal João B. Loureiro, e o Ten.Cel. Milton
Chagas Azambuja comandante do 3º RC da cidade.
As comissões trabalhavam arduamente para conseguir dinheiro
para a construção do novo prédio. Ponto importante era a colaboração do
povo são-luizense. Conforme reportagem do Jornal A Notícia:

A Escola Normal Nossa Sra. Auxiliadora atualmente em


funcionamento no velho prédio da Rua Venâncio Aires, mesmo
tendo sofrido as adaptações mínimas necessárias ao seu
funcionamento já não comporta mais a demanda de alunas que
lá vão em busca de ensinamentos. Por isso mesmo, a cidade
reclama com urgência a construção do prédio novo,
devidamente instalado, contando para isso com o irrestrito apoio
de seu povo que unido ao Poder Público não se omitirá em mais
esta cruzada. (...) (São Luiz Gonzaga, 28 de dezembro de 1962,
p. 5)

A cidade estava otimista. Entretanto, somente anos mais tarde,


pode-se realizar o lançamento da pedra fundamental e iniciar a
construção do prédio próprio para as instalações do Instituto Nossa
Senhora Auxiliadora (INSA).
38

3.1 LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL

Juntamente com a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, ocorreu a


bênção da pedra fundamental do INSA. Essa festividade estava marcada
para o dia nove de abril, sendo transferido para o dia onze, devido à
intensa chuva que se abateu sobre a cidade. A festa, entretanto, realizou-
se no dia 24 de maio de 1961 (Convite - Anexo G).
A solenidade foi iniciada com uma missa festiva na Igreja Matriz e
devota Procissão luminosa em honra de Nossa Senhora Auxiliadora,
realizando-se na Praça da Matriz a coroação da imagem. Após, foi
realizada a bênção da pedra fundamental do novo edifício com a presença
de D. Luiz Felipe de Nadal, bispo diocesano.
O Deputado César Pietro, presidente da Comissão de Finanças da
Assembleia Legislativa, encaminhou telegrama destinado ao Dr. Nicolau
Soares e às lideranças do PSD e PTB cumprimentando as lideranças da
cidade, pelo lançamento da pedra fundamental. De tão importante obra.
Aquele parlamentar reforçou ainda que a eficiência no ensino, a pregação
moral e cristã, constituem-se em fatores que honram o país.
Ao final do ano de 1961, o Presidente João Goulart, encontrava-se
em visita a São Borja. Uma comitiva local do PTB deslocou-se até aquela
cidade com reivindicações a serem pleiteadas, dentre as quais se
destacava o pedido de auxílio para a construção do prédio do INSA. O
Presidente, após a exposição por parte da comissão executiva do trabalho
que estava sendo realizado na cidade pelas dedicadas irmãs salesianas,
prometeu, de forma enfática, destinar ajuda substancial para a construção
do prédio para abrigar aquele conceituado educandário.
Enquanto não se iniciavam as obras no edifício novo, novas
instalações eram construídas no local antigo. No dia 24 de março de 1962,
realizou-se a inauguração do pátio e da parte nova, pois naquele
39

momento, já eram ministradas aulas do Primário, do Ginásio e do Curso


Normal e até um curso noturno de educação doméstica.
Naquele dia, procederam-se orações, bênçãos, hinos,
apresentações de ginástica moderna, poesia e discursos. O corte da fita
inaugural foi efetuado pelo Prefeito Municipal, João Loureiro, seguindo da
visita dos presentes às novas instalações do estabelecimento.
O lançamento oficial da pedra fundamental das obras do novo
prédio ocorreu somente dois anos mais tarde, em 24 de maio de 1963
(Convite - Anexo H). Conforme o Jornal A Notícia:

Teremos o lançamento da pedra fundamental do prédio


novo, fato de transcendental importância na vida e no
desenvolvimento do município, que dentro de breve verá
orgulhosamente filhos seus tornarem-se educadores, depois de
terem sido aqui mesmo educados. Prestigiar a construção do
Instituto N. Sra. Auxiliadora é prestigiar os seus próprios filhos,
além de colaborar para a grandeza moral e cultural de nossa
pátria (São Luiz Gonzaga, 28 de dezembro de 1962, p. 5)

Desse evento, participaram todas as alunas, autoridades


municipais, políticas, religiosas e militares. Destacam-se a presença do
Bispo Diocesano de Santo Ângelo, D. Aloísio Lorscheider, do Frei
Armando Seibert, Deputado Gustavo Langsch, Juiz da Comarca, Dr. Alaor
Terra, Prefeito Municipal, João B. Loureiro, além da grande massa
popular. As alunas executaram interpretações e números de cultura
religiosa, recebendo aplausos.
Devota procissão partiu do Instituto Nossa Senhora Auxiliadora,
seguindo pela Rua Venâncio Ayres até o local da construção. Neste
último, Nossa Senhora foi coroada. Ocorreu também o lançamento da
pedra fundamental e a bênção dos alicerces e do terreno pelo Bispo
Diocesano.
A cimentação simbólica foi realizada por várias autoridades são-
luizenses. Os discursos de lançamento enalteceram a construção, a
40

importância da obra para a cidade, a presença do Bispo e, principalmente,


a dedicação e desprendimento das irmãs salesianas, que já se haviam
consolidado como educadoras da juventude feminina.

Cimentação da pedra fundamental pelo Juiz de Direito, Dr. Alaor Terra. Acima, à
esquerda, Dom Aloísio Lorscheider, bispo diocesano; Frei Armando Seibert; Prefeito
João Loureiro e Deputado Gustavo Langsch

3.2 CONSTRUÇÃO, MUDANÇA E APRIMORAMENTO DO


PRÉDIO NOVO DO INSA

A construção do novo prédio foi iniciada logo após o lançamento da


pedra fundamental. O prédio inicial compreendia apenas o espaço dos
três pisos.
Pela Lei nº 581 de 18 de novembro de 1965, o Instituto Nossa
Senhora Auxiliadora é considerado de utilidade pública pelos relevantes
serviços prestados à comunidade no setor de ensino. O Prefeito Municipal
que sancionou essa lei foi Olinto Salvador Moroso Bressan (Anexo I).
41

No início do ano de 1969, é divulgada na imprensa local, pelo


Presidente da Comissão Pró-construção do ginásio, Sr. Dinarte Vieira
Marques e pelo tesoureiro, Sr. Hélio Braga Caetano, o resultado das
arrecadações de 1968. O saldo é de NCr$ 18.418,17, conforme aprovado
pela Irmã diretora, que se despedia da cidade, Anna Francisca Braga.
O balancete completo é divulgado em 23 de março de 1969.
Conforme o Jornal A Notícia:

Balancete INSA - 31 de janeiro a 31 de dezembro de 1968


RECEITA:
Caixa 4 838,62
Contribuições escolares 71 300,20
Campanha Pró-construção 18 418,17
Empréstimo Banco do Brasil 3 000,00
Bolsas escolares 6 607,83
Auxílio Federal 8 000,00
Auxílio municipal 5 000,00
Auxílio Professores particulares 1 116,72
Campanha Pró-vocações e missas 927,65
Diversos 9 151,80
DESPESA:
Dívidas de anos anteriores 2 802,04
Alimentos, vestuário, medicamentos 7 933,12
Combustível 150,66
Água, luz, telefone 1 700,39
Manutenção, construção Casa 3 115,90
Obras sociais 2 277,57
Material didático, biblioteca 7 919,82
Empréstimo Banco do Brasil 3 000,00
Móveis 6 000,00
INPS, FGTS 7 809,10
Remuneração professores civis 14 380,10
Construção 60 316,02
Custeio formação de professores 3 990,00
Diversos 5 373,78
Total: 128 420,99
Saldo 1969: 1 402,01
Irmã Matilde Prim, Diretora
Irmã Maria Quintão de Castelo, Tesoureira
(São Luiz Gonzaga, 23 de março de 1969).

Por volta de junho de 1968, embora a obra ainda não estivesse


totalmente pronta, as freiras mudaram-se para o novo prédio, e a escola
42

começou a funcionar. Naquele ano, já se realizavam formaturas do Curso


Ginasial na Capela e formatura do Curso Normal no Salão Superior do
Novo Auxiliadora. Infelizmente, naquela ocasião, a fachada frontal do
prédio desabou pó causa de um temporal e foi reconstruída somente nos
anos 80.

Auxiliadora em construção

Novo Auxiliadora.

Em janeiro de 1971, a diretora substituta, Irmã Eva Elíquia Winimko,


solicita a verificação do prédio situado na Rua José Bonifácio, para fins
43

de mudança de sede, ao Inspetor Seccional (Anexo J). A autorização é


expedida em 25 de fevereiro do mesmo ano, baseada nas melhores
condições do novo prédio: construção de alvenaria e concreto, sendo que
o anterior era em parte de madeira, áreas livres, cobertas, salas de aulas
ampliadas, salas especiais, melhor localização e condições de higiene
(Anexo K).
Conforme a Portaria nº 10, de 09 de agosto de 1971, o Inspetor
Seccional do Ensino Secundário de Santo Ângelo-RS, Alberto Paetzold,
resolve conceder reconhecimento ao Ginásio Nossa Senhora Auxiliadora,
situado na Rua José Bonifácio, s/n, para funcionamento permanente do
primeiro ciclo secundário (Anexo L). As considerações efetuadas durante
a inspeção são:
a) Funciona com o 1º ciclo desde 1959, não constando nenhuma
nota desabonadora em todo o período de funcionamento;
b) O Corpo docente em exercício está em situação legalizada;
c) Possui número de salas de aula para as séries dos cursos em
funcionamento e mais as seguintes salas especiais: direção, secretaria,
tesouraria, sala de visitas, de estudos sociais, de ciências, de material
audiovisual, de costura, de passar roupa, além de sala dos professores,
biblioteca, sala, capela, cozinha, copa, refeitório, lavanderia, salão de
educação física e auditório;
44

Sala de aula

Biblioteca

Sala de materiais audiovisuais


45

Sala de Ciências

Sala de Estudos Sociais/Sala dos Professores

d) O material didático existente é bom e atende os objetivos do


seu aluno;
e) O arquivo está em boa ordem, funcionando com eficiência e
com escrituração regularizada com seguros indicativos da identidade de
cada aluno, da regularidade e autenticidade de sua vida escolar;
f) A matrícula está e sempre esteve limitada à capacidade de
suas instalações por turno e por série, de acordo com os aumentos
46

sucessivos do prédio, que está em boas condições de conservação e


apresenta aspecto de verdadeira casa de educação e ensino.
No dia 27 de maio de 1979, inaugurou-se a quadra de esportes do
INSA, cuja programação estendeu-se ao longo dia. As atletas e ciclistas
saíram da Praça da Matriz até a escola com o fogo simbólico.
Houve missa na Quadra de Esportes dirigida pelo Padre Marcos
Sandrini, seguida da bênção da quadra, coroação de Nossa Senhora pelo
3º ano do Magistério, inauguração da pista de corrida, da caixa de salto e
da cancha. Ao meio- dia, serviu-se churrasco, saladas, risoto, maionese,
salgados, doces, bebidas e, além disso, ouviu-se música ao vivo com o
Grupo Os peregrinos.
À tarde, alunas salesianas e de outras escolas realizaram
competições de jogos na quadra. Também se realizaram leilões, tendas
de doces e salgados e grande variedade de diversões. A construção ficou
a cargo do Engenheiro Dr. Miguel Catellan Filho.
Por volta dos anos 80, foi construído o Salão de Atos. A construção
do Ginásio de Esportes, liderada pela Irmã Leopolda Notari, foi a última
obra doa prédio.

INSA em 1975, antes da construção do Salão de Atos


47

Retirada das árvores para construção do ginásio esportivo

O jornal A Notícia do dia 27 de fevereiro de 1983, publica


reportagem sobre a trajetória das Irmãs na cidade, e assim se expressa:

25 anos de lutas, de trabalho e de progresso aconteceram


aqui nesta terra abençoada, por que foi regada pelo sangue dos
mártires. O trabalho continua! Temos os olhos voltados para a
juventude (belos horizontes), sujeito e agente da educação
libertadora para que, futuramente, a sociedade se transforme e
haja novos céus e novas terras, porque há Comunhão e
Participação, mediante um mundo mais fraterno. (São Luiz
Gonzaga, 27 de fevereiro de 1983)

Os vinte e cinco anos do INSA na cidade foram celebrados com


missa, procissão, jogos infantis e adultos, cinema, apresentações
artísticas, corais e gincanas. Também se comemoraram os 75 anos das
ex-alunas salesianas, sendo elas convidadas a participar das festividades
daquela semana.

3.3 ESCOLA MARIA MAZZARELLO: EXTENSÃO


EDUCACIONAL
48

Mesmo com a construção do novo prédio, o antigo Ginásio feminino


não foi desativado. Com necessidade de ampliar ainda mais o ensino,
aquele espaço passou a servir como Escola de Aplicação para o Curso
Normal a partir dos anos 70.
As alunas normalistas ministravam as aulas durante sua preparação
como professoras, supervisionadas diária e diretamente pelas irmãs. A
partir de então, estas disponibilizaram as instalações daquele prédio para
o curso primário masculino e feminino. No novo prédio, o ensino era
exclusivamente feminino, apenas mais tarde quando as turmas do
Mazzarello, concluíam a 5º série é que passaram a oferecer ensino misto
nas duas instituições.
Realizavam-se as formaturas do Jardim de Infância, com togas,
becas e entrega de diplomas aos formandos. Ao final do ano de 1970,
formaram-se 33 crianças nesse curso.
Essa extensão do ensino salesiano passou a chamar-se Maria
Mazzarello, ou apenas “Mazzarello”, como era chamado carinhosamente
pelo povo de São Luiz. Em 1982, com longa experiência educacional,
passou a ter administração própria, com quadro de professores e
funcionários. Ministrava-se, então, Ensino Fundamental incompleto, ou
seja, ensinamentos de 1ª a 5ª séries e pré-escola.
Em 2001, o Mazzarello funde-se novamente ao INSA, juntando as
duas instituições no prédio situado na Rua José Bonifácio.
49

4 ANOS FINAIS DO ENSINO SALESIANO NA CIDADE:


NOVOS RUMOS

Por volta dos anos 80, a escola passou por situações de


instabilidade financeira. No início daquele ano, o corpo docente reuniu-se
para discutir a filosofia da escola, realizar atividades lúdicas e reflexivas,
quando também foi levantada a difícil situação financeira enfrentada pela
instituição.
Em nota do encontro ao Jornal A Notícia, a Diretoria limitou-se a
repetir as palavras do Professor Rúbio, Presidente do Sindicato dos
Estabelecimentos de Ensino Secundário, Primário e Comercial do Estado
do Rio Grande do Sul:

A crise está se acentuando agora, mas vem de anos


atrás. As causas são várias, mas ultimamente se acentuou por
causa da limitação da anuidade, o aumento crescente dos
salários dos professores em índices superiores ao da anuidade
e a limitação do valor das bolsas do governo. (...) Quando o
governo diz que auxilia significa que ele compra vagas, paga
bolsas. Mas é um benefício que presta à família, não à escola.
Auxilio direto às escolas, isso não existe (São Luiz Gonzaga,
1980).

Nos anos 90, uma extensão da Universidade Regional Integrada do


Alto Uruguai e das Missões - URI estabeleceu-se no prédio das irmãs para
implantar a universidade. Neste período, no turno da manhã, havia aulas
do científico e do magistério. À tarde, eram aulas do primário e, à noite,
funcionava, então, o curso superior. Mais tarde, a universidade mudou-se
para um dos prédios alugados da Coopatrigo.
50

Saída dos alunos, no período em que funcionavam no mesmo prédio a escola


salesiana e a universidade

Mesmo com as dificuldades enfrentadas, foi somente a partir dos


anos 2000, que o INSA encerrou seus trabalhos. Segundo Machado, “o
INSA fechou por causa da diminuição do número de alunos, pois abriu
uma nova escola particular na cidade, o CIPEL, e muitos alunos
transferiram-se” (2011).
Conforme Chagas:

No tempo da irmã Leopolda, que era criativa e dinâmica e


ótima administradora, ela elaborava estratégias para manter os
alunos na instituição, após sua saída, os alunos foram para
outras escolas, diminuindo o número de alunos salesianos. O
número de alunos pagantes começou a cair e a escola se tornou
inviável pelos altos custos de manutenção (2011).

O Projeto Político-Pedagógico da INSA estabelece:

No ano de 2000, o Curso Ensino Médio - Normal deixou


de formar novas turmas, devido ao fim do convênio de Compra
de Vagas que existia, até então, com o governo do Estado. Em
2001, após ter sido realizada uma pesquisa institucional,
orientada pelo Sindicato das Escolas Particulares (SINEPE),
51

ocorreu a fusão das Escolas Maria Mazzarello e Instituto Nossa


Senhora Auxiliadora, reunindo os alunos das duas instituições
no prédio do INSA (2004, p. 15).

Após o fechamento da Escola Maria Mazzarello, em 2004, a Irmã


Maria Alzira Nascimento e Silva, então Diretora da escola, realizou os
trâmites e a negociação com a URI. No dia 09 de novembro, houve
reunião entre as Irmãs Alzira e Terezinha, representantes do INSA e os
Professores Sonia Terezinha Vieira de Medeiros e Luiz Fernando Peixoto
Wesz, para unificação das atividades educacionais.
Naquela ocasião não houve reunião com os pais ou aviso prévio
para a comunidade. A diretora apenas avisou que estavam fechando a
escola, na qual permaneceriam apenas três irmãs (Solange Sanches,
Gema Olivo e Marta Schwatz) para continuar o ensino salesiano na
cidade, aos cuidados da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai
e das Missões - URI. Conforme divulgaram as duas instituições no Jornal
A Notícia:

O INSA (Instituto Nossa Senhora Auxiliadora) e a URI


(Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das
Missões), vêm a público informar à população de São Luiz
Gonzaga e Região, a unificação das atividades educacionais
entre estas duas instituições. Os principais pontos que
nortearam esta composição se resumem no que segue:
*As duas instituições filantrópicas, com objetivo de
aprimorar e fortalecer a sua nobre missão de educação celebram
parceria, unificando as atividades da Educação Infantil, do
Ensino Fundamental, do Ensino Médio e Ensino Superior
(Universidade);
* A parceria com a conjugação de forças entre o INSA e a
URI, tem como objetivo primordial, oferecer melhores condições
de ensino à população de São Luiz Gonzaga e Região;
*A garantia de plena e indissolúvel continuidade de
Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino
Superior;
* A administração do INSA, será exercida pela URI,
assumindo a condução do ensino em todos os seus estágios
desde a Educação Infantil ao Ensino Superior, a partir do ano
52

letivo de 2005, como decorrência, desde já assumirá o processo


de matrículas para o próximo ano letivo;
* A presença salesiana na instituição faz parte desta
parceria e, portanto o INSA manterá na obra a atuação direta de
Irmãs Salesianas;
* As duas instituições filantrópicas, considerando suas
tradições de zelo e seriedade na condução e formação de
crianças, jovens e adultos e, em respeito e consideração á
comunidade de São Luiz Gonzaga e Região, tem a convicção de
que esta parceria trará a curto, médio e longo prazo, benefícios
a todos! (Ano 71, Nº. 6.603, 10 de novembro de 2004).

A população ficou espantada com a atitude inesperada das irmãs,


entretanto acreditam no sucesso da parceria e depositaram confiança no
novo empreendimento. A filosofia continuaria a mesma, as atividades
tradicionais, como a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, foram mantidas,
e o corpo docente, preservado.
No dia 13 de dezembro de 2004, a URI assume a direção da
instituição e realiza todas as atividades no novo prédio. A partir daí, a
Instituição passa a denominar-se URI/INSA.
Em 2010, a URI iniciou a compra do prédio. Entretanto, ainda
conserva, embora de forma menos rigorosa, o ensino salesiano e boa
parte dos docentes. A partir daí, aquele prédio passou por reformas,
pinturas e remodelações internas, desfazendo as características de
escola salesiana.

Prédio da URI, 2011.


53

Atualmente, o prédio da Escola Maria Mazzarello, depois de anos


desativado, está sendo reformado. Ao ser tirado o reboco do referido
prédio, revelou-se a existência de pedras da antiga redução jesuítica.

Prédio do antigo Mazzarello em reforma, 2011.

Assim, as freiras salesianas, que chegaram com grande entusiasmo


e ótima recepção da população, despediram-se da cidade sem pompa e
reverências pelo belo trabalho realizado com as moças e para a
comunidade são-luizense.
No período em que estiveram na cidade, ela cresceu em todos os
aspectos: cultural, educacional, religioso, social e econômico. Enfim, esta
trajetória trouxe grande desenvolvimento para São Luiz Gonzaga.
54

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho de pesquisa, realizado para conclusão do Curso de


História, teve como delimitação do tema “a chegada e a trajetória das
Irmãs salesianas em São Luiz Gonzaga (1958 a 2004)”. As hipóteses
foram confirmadas: a chegada das freiras foi uma grande conquista, pois
revolucionou a educação das moças, desde a educação infantil até a
formação de educadoras. As mudanças na cidade ocorreram em todos os
aspectos, e as comunidades da região passaram a enviar suas filhas para
aquela escola.
As freiras foram recepcionadas com pompa maior até do que a
destinada a ilustres políticos que visitavam esta cidade. O povo são-
luizense acolheu-as com carinho e dedicou-se a colaborar para a melhoria
das condições de vida delas e do ensino na cidade.
A educação feminina foi valorizada a partir de então. As moças, que
saiam da cidade, ou não tinham escolaridade avançada, passaram a
frequentar a escola salesiana. O Curso Normal foi uma das maiores
conquistas para a cidade, pois até o momento, as mulheres não possuíam
formação profissional. Mais de vinte turmas foram formadas e grande
parte seguiu a vida de educadoras, buscando novas formações.
No aspecto cultural e religioso, diversos eventos comemorativos
foram implantados na cidade. A festa do Sagrado Coração de Jesus,
procissões, orações, a Banda Marcial, o Natal Luz e, principalmente, a
Festa de Nossa Senhora Auxiliadora. Esta última realiza-se até hoje pelas
ex-alunas salesianas que formam um núcleo de orações, mesmo após o
encerramento daquela Instituição.
Em relação ao desenvolvimento econômico, o Jornal A Notícia
registrou grande salto no comércio, na indústria e na construção civil.
55

Casas, tanto majestosas quanto modestas, foram construídas. Assim, a


partir de 1958, São Luiz Gonzaga desenvolveu-se significativamente.
A comunidade são-luizense sempre foi muito unida no tocante às
melhorias para a cidade. Ajudou na construção do Hospital de Caridade,
incentivou as negociações para a vinda de religiosas, esforçou-se para
realizar melhorias na residência delas e a adquirir utensílios domésticos
e doou instalações ou terreno para implantação daquele instituto.
Esses resultados consolidaram-se a partir da realização de
pesquisa bibliográfica e de campo. As entrevistas orais ou escritas
constituíram-se em fonte relevante para a pesquisa. Foram rememorados
acontecimentos marcantes, dados importantes, realizações e conquistas
do longo da trajetória salesiana na cidade.
É inegável a influência das freiras na formação das professoras de
São Luiz Gonzaga e da região. Quase tudo o que se fez em matéria de
educação na cidade desde a chegada das freiras, deve-se aos seus
ensinamentos. Assim, a comunidade são-luizense tem uma dívida de
gratidão com essas mulheres que aqui viveram e trabalharam em prol da
educação.
Enfim, a trajetória das irmãs salesianas deixou uma grande marca
na história, na educação e no povo são-luizense. Lamentou-se na cidade
a perda de uma instituição de ensino tão conceituada, entretanto a
universidade passou a dedicar-se a ministrar tanto a educação das
crianças e jovens, como contribuir para o conhecimento acadêmico.
56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AZZI, Riolando. As filhas de Maria Auxiliadora no Brasil: Cem anos de


História. São Paulo: Inspetorias do Instituto das Filhas de Maria
Auxiliadora - Brasil, 2002. v. 2 e 3.

CASTRO, Afonso de. Formação salesiana: trabalho, educação e ética.


Campo Grande: UCDB, 2003.

CHAGAS, Maria Madalena Melo das. Trajetória das irmãs salesianas em


São Luiz Gonzaga. São Luiz Gonzaga, 05 nov. 2011. Entrevista
concedida a Marisete de Mattos Morais.

DIAS, Antonio Zymmer Gonçalves. O Rio Grande do Sul e seus


administradores 1973/1977. 2.vol, Carazinho: Editora Arte e
Organizações Zymmer, 1975.

INSPETORIA SALESIANA NOSSA SENHORA APARECIDA. Projeto


Político Pedagógico. Porto Alegre: Salesianas, 2004.

JORNAL A NOTÍCIA. São Luiz Gonzaga - RS, 1958-2011.

JORNAL DO DIA DOS MUNICÍPIOS. Santo Ângelo - RS, 1958-1965.

Lei nº 310, de 22 de novembro de 1957

MACHADO, Jobely Aquino. Trajetória das irmãs salesianas em São Luiz


Gonzaga. São Luiz Gonzaga 27 out. 2011. Entrevista concedida a
Marisete de Mattos Morais.

OLIVEIRA, Maria Ivone de Avila. Trajetória das irmãs salesianas em São


Luiz Gonzaga. São Luiz Gonzaga, 10 nov. 2011. Entrevista concedida a
Marisete de Mattos Morais.

PERSONALIDADES do século em São Luiz Gonzaga - Biografias. São


Luiz Gonzaga: Jornal A Notícia, 28 de julho de 2000.

Portaria nº 10, de 09 de agosto de 1971.

SANTOS, Pedro Marques dos. São Luiz - Sua história e sua gente - 1687
- 1987. São Luiz Gonzaga: Palotti. Série Missões, V. V. 1987.
57

ANEXOS
58

ANEXO A: Cópia da Ata nº 27 de 9 de janeiro de 1958


59

ANEXO B: Lei Municipal nº 335, de 27 de novembro de 1958


60

ANEXO C: Portaria nº 179, de 05 de fevereiro de 1959


61
62

ANEXO D: Lei Municipal nº 392, de 06 de fevereiro de 1961


63

ANEXO E: Lei Municipal nº 310, de 22 de novembro de 1957


64
65

ANEXO F: Comprovante de pagamento de imposto de transmissão


de propriedade “intervivos”
66

ANEXO G: Convite para a benção da pedra fundamental, realizada


no dia 24 de maio de 1961
67

ANEXO H: Convite do lançamento oficial da pedra fundamental


realizado em 24 de maio de 1963
68

ANEXO I: Lei Municipal nº 581, de 18 de novembro de 1965


69

ANEXO J: Solicitação de verificação do prédio situado na Rua José


Bonifácio, para fins de mudança de sede
70

ANEXO K: Autorização para mudança de sede expedida em 25 de


fevereiro de 1971
71

ANEXO L: Portaria nº 10, de 09 de agosto de 1971


72

ANEXO M: Entrevista nº 1: Jobely Aquino Machado


73
74
75
76
77

ANEXO N: Entrevista nº 2: Maria Madalena Melo das Chagas


78
79
80
81
82

ANEXO O: Entrevista nº 3: Maria Ivone de Avila Oliveira

Monografia Curso de História - URI SÃO LUIZ GONZAGA

ENSINO SALESIANO EM SÃO LUIZ GONZAGA: INOVAÇÃO NA


EDUCAÇÃO FEMININA

Acadêmica: Marisete de Mattos Morais


Orientadora: Professora Anna Olívia do Nascimento

ENTREVISTA COM EX-ALUNAS SALESIANAS

Nome: Maria Ivone de Avila Oliveira Data: 10/11/2011

1. Quais as necessidades da comunidade são-luizense em obter uma


escola religiosa feminina?
Na época da criação daquela escola, São Luiz Gonzaga se ressentia da
ausência de uma escola de nível ginasial que acolhesse a clientela
feminina, pois os rapazes já dispunham de uma escola desse tipo,
atendida pelos padres franciscanos. Assim, um ginásio feminino
contemplaria as aspirações da comunidade estudantil são-luizense.

2. Foram feitas algumas tentativas anteriores de implantação de uma


escola religiosa?
Algumas tentativas anteriores nesse sentido resultaram infrutíferas, sem
que se saibam exatamente as razões dessas negativas. No momento,
porém, que as salesianas se estabeleceram aqui, o problema começou a
ser equacionado.

3. Quais motivos levaram à escolha da Congregação Filhas de Maria


Auxiliadora?
Foi indicação de pessoas influentes da comunidade e também por
decisão das lideranças da referida congregação que desejava ampliar seu
âmbito de ação educacional e de apostolado. Assim, a vinda dessas
religiosas para São Luiz atendia a um duplo interesse: de um lado, a
necessidade da comunidade e, de outro, a necessidade de expansão da
obra salesiana,

4. Como foi a recepção da cidade, no momento da chegada das irmãs


salesianas?
A chegada das salesianas motivou uma grande festa. Estava tudo pronto
para recebê-las. A casa estava montada, os espaços mobiliados e as
83

alunas matriculadas na escola até então existente, cuja diretora era Zilá
Lobato Marques. Na verdade, aquela escola era uma extensão do Ginásio
dirigido pelos freis franciscanos e destinado exclusivamente à educação
dos meninos.

5. Que mudanças ocorreram? Quais as repercussões de âmbito


social, cultural e econômica a cidade enfrentou?
As mudanças foram enormes. Afinal, as religiosas salesianas
implantaram um novo jeito de ensinar. Elas inauguraram aqui a filosofia
de Dom Bosco, o idealizador dessa nova prática pedagógica, cuja base é
“ora et labora”, isto é, oração e trabalho. As feiras trouxeram também a
prática dos jogos, dos recreios orientados, do orticã (hors de champ) uma
disputada prática esportiva que embalava inclusive as tardes de domingo
em que a maior “pedida” era aproveitar o espaço da escola para as
alegres brincadeiras esportivas e culturais supervisionadas pelas freiras
que se alegravam em poder estar mais tempo perto das meninas, mesmo
em fins de semana. No âmbito social, as repercussões também se faziam
sentir: indicação de livros, aulas de canto, apresentação de peças teatrais,
aulas de música, aulas de dança, ginástica, as famosas “indústrias” em
homenagem a Nossa Senhora Auxiliadora. Enfim, foram tantas novidades
trazidas pelas freiras nesse campo, que isso causou uma verdadeira
revolução na forma de dar aulas e de educar. Na área econômica, de
certa forma, também é possível reconhecer alguma mudança, pois, à
medida que mais pessoas puderam concluir seu curso “Normal”, ou curso
de 2º grau na área do magistério, houve mais mão de obra para atuação
nessa área e novos salários foram incorporados à economia local.

6. Onde as meninas estudavam antes de existir esta escola?


No chamado Ginásio (dirigido por Zilá Lobato Marques), mas que era uma
extensão do Ginásio masculino dos freis franciscanos. Ali era feito o curso
ginasial, pois os anos iniciais ou o curso primário como se dizia na época,
era realizado nas escolas primárias então existentes.

7. Quando a senhora começou a estudar nesta instituição? Em que


curso?
Iniciei meus estudos nessa escola no ano de1958 para cursar a 1ª série
do ginásio.

8. Que atividades as irmãs realizavam na cidade além de ministrar o


ensino das jovens moças?
Várias atividades de cunho social e cultural.
84

9. Quais motivos levaram á construção de um novo prédio para o


funcionamento desta instituição?
A doação de um terreno pela administração municipal e o fato de que
casa estava ficando muito pequena para o número de alunas que
buscavam vagas.

10. O que havia nestes domínios antes da construção do prédio?


O terreno estava baldio.

11. Como ocorreu a edificação? Quanto tempo demoraram as obras?


A construção do prédio foi realizada graças aos esforços de toda a
comunidade com doações de material, mão de obra e dinheiro.

12. Qual a contribuição do povo de São Luiz para essa construção?


A contribuição foi destacada e importante e envolveu a comunidade
inteira. Foi um ótimo trabalho de união e de solidariedade comunitária.

13. Como se deu a implantação da Escola Maria Mazzarello como


extensão do INSA?
Depois que o INSA ocupou a casa nova, recém construída, as instalações
antigas ficaram obsoletas. Para dar uma destinação adequada ao prédio,
a direção decidiu criar ali uma escola de pré e primeiro grau (séries
iniciais) que funcionou por muitos anos.
14. Como eram a educação e a disciplina ministradas pelas freiras
salesianas? O que ensinavam às alunas?
De cunho eminentemente religioso, a educação se pautava nos
ensinamentos de Dom Bosco. Além disso, como vinham de centros
maiores e algumas, da Europa, trouxeram algumas técnicas pedagógicas
mais modernas e revolucionarias. Fizeram muitas mudanças positivas na
maneira de estudar, nas avaliações e nos experimentos que sugeriam.
Trouxeram novidades nos brinquedos, nos jogos, no formato das aulas e
nas relações humanas e sociais. Enfim, as salesianas apresentaram
alterações substanciais nas práticas educativas, que iam desde o modo
de organizar as salas, com limpeza, higiene e organização até às práticas
pedagógicas e métodos de estudo, com premiações ao bom desempenho
das alunas e incentivos à leitura.

15. Que grau de escolaridade era ministrado?


Ministravam o ensino de 1º e 2º grau (curso Normal).

16. Quais as principais dificuldades enfrentadas pelas FMAs na cidade?


Embora não tenha elementos para afirmar isso, penso que talvez se
ressentissem da distância de casa e do fato de virem para tão longe dos
85

grandes centros onde viviam. Mas, a meta era a evangelização por meio
da educação, superavam a distância e a saudade de casa, como muito
trabalho, dedicação e amor ao que faziam. Por isso, deixaram aqui muitas
marcas e muitas sementes de trabalho, de fé e de dedicação à causa que
abraçaram.

17. No tocante à formação de profissionais da educação, como a


comunidade recebeu essa novidade? Ocorreu maior valorização da
mulher perante a sociedade?
Penso que a novidade foi absorvida de forma natural. Aos poucos, o curso
Normal foi se tornando referência na região e as famílias também
agradeciam pelo fato de não precisarem mais mandar suas meninas
estudar fora da cidade, em centros mais desenvolvidos. Isso foi um ponto
muito positivo.
Com o ingresso de mais mulheres no mercado de trabalho, estas
começam a se sobressair no mundo econômico, embora os salários
fossem baixos.

18. Quais motivos levaram ao fim desta instituição na cidade?


Como esse é um fato relativamente recente, fica difícil formular uma
avaliação sobre as razões que determinaram o fim dessa importante
instituição. Penso, no entanto, que o oferecimento do ensino de 2º grau
com a Habilitação de Magistério das séries iniciais, estabeleceu uma
forma de concorrência impossível de superar. O número de alunos
pagantes começou a cair e a escola se tornou inviável pelos altos custos
de manutenção. Outros fatores também se somaram a esse. De todos,
porém, o que me pareceu mais grave foi o descaso das “forças vivas” da
comunidade que viam o INSA ir fenecendo sem uma tentativa de
oxigenação daquela importante e tradicional instituição de ensino.

19. Na etapa final desta instituição em São Luiz Gonzaga, foi ministrado
ensino misto, ou seja, disponibilidade de matrículas para sexo feminino e
masculino?
Sim, a oferta de ensino era mista.

20. Outras informações:


Penso que a comunidade são-luizense ainda não teve a capacidade de
avaliar a importância da obra salesiana nesta cidade e na região. Afinal
de contas, toda a ação educativa (ou quase toda) que se faz na cidade e
na região desde a chegada das salesianas deve-se a elas.
Assim, é inegável a influência que essas freiras exerceram e exercem
sobre as professoras de São Luiz e da região. Para o bem e para o mal,
86

quase tudo o que se fez em matéria de educação em São Luiz Gonzaga


e na região desde a chegada das salesianas, deve-se aos ensinamentos
delas. A comunidade tem, portanto, uma imensa dívida de gratidão com
essas mulheres que vieram de longe e aqui deixaram parte da vida e da
juventude. Elas aqui viveram, sofreram, se alegraram com as conquistas
de suas alunas, se integraram à vida da comunidade e, enfim, se tornaram
integrantes desse imenso processo que é a educação de crianças e
jovens deste país.

Autorizo a utilização desta entrevista, na pesquisa: “Ensino


Salesiano em São Luiz Gonzaga: Inovação na Educação Feminina”.

Maria Ivone de Avila Oliveira


Assinatura
(entrevista concedida por e-mail)

São Luiz Gonzaga/RS, 10 de novembro de 2011.

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