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TALITHA

TALITHA

Estudo especial:
Separata do ensaio Novidade

Tradução do idioma galilaico


a partir do manuscrito Benenatum
editado e traduzido por

PAULO DIAS

Recensão do PROTOMARCOS
E outros ensaios

MMXVIII

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TALITHA

TALITHA

O capítulo V do Conforme Marcos é de difícil


estudo, nem sempre se conforma com a
disposição de grupos de cinco versículos que
permitem reconstruir o texto evangélico original
a partir do exame dos papiros sobreviventes e
demais manuscritos.
Pela característica da escrita antiga o texto
se organizava (na contagem de letras) de cinco
em cinco do que chamamos hoje de versículos,
na verdade a base da contagem era a linha
subdividida em tantas e tantas letras,
mecanismos que permitiam controlar a
verificação, a cópia, a leitura e a escrita já que
os manuscritos eram compostos em tipos
grandes de letras juntas sem intervalo ou
pontuação ou espaço e exigiam a presença de
profissional especializado, o escriba que lia,
copiava, escrevia e arquivava os livros e
documentos.
A folha de papiro era quadriculada e as
letras desenhadas (jamais “escritas") mais ou
menos correspondiam aos quadradinhos. Este
capítulo marcano oferece, pois, algumas
dificuldades quanto a essa disposição

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TALITHA

tradicional, razão pela qual foi evitado nos


Ensaios anteriores: Protomarcos, Lendo
Marcos, Compromisso e mesmo sua Recensão.
O presente Ensaio contudo vai tratar deste
capítulo e de outros temas marcanos, sempre
baseado no manuscrito Benenatum: He Kaine
Diatheke (grego) ou ainda Diatiqa Chadita
(galilaico). A novidade deste documento,
preservado na Biblioteca Nacional em versão
impressa de 1584 por Benoît é apresentar o
texto da Peshitta (o Evangelho da Igreja
Oriental) no idioma caldeu ou sirocaldaico ou
arameu palestinense (ou galileu) ou
simplesmente galilaico.
Enfim, vale ressaltar que o Ensaio Novidade
(do qual o presente é uma separata) contém o
texto integral do Segundo Marcos em tradução
do galilaico.
Com vocês, Talitha.1

1
O verbo TALITHA quer dizer em galilaico levantar, e não é o nome
da menina; já em hebraico significa “adolescente”. Este ensaio
adopta alias a grafia Jesus que, embora escrita Yeshua, era assim
pronunciada, com J.

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TALITHA

TA L I T H A
Estudo especial:
Separata do ensaio Novidade
Tradução do idioma galilaico
a partir do manuscrito Benenatum
editado e traduzido por
PAULO DIAS
Recensão do PROTOMARCOS
E outros ensaios
MMXVIII

Marcos V
Mc 5,1-26

1. Jesus e seus Alunos chegaram à outra


margem do mar, na região dos gerasenos.
2. Logo que Jesus sai da barca, um homem
possuído por um espírito mau saiu de um
cemitério e foi a seu encontro.
3. Esse homem morava no meio dos túmulos e
ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com
correntes.
4. Muitas vezes tinha sido amarrado com
algemas e correntes, mas ele arrebentava as

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TALITHA

correntes e quebrava as algemas. E ninguém


era capaz de dominá-lo.
5. Dia e noite ele vagava entre os túmulos e
pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras.
6. Vendo Jesus de longe, o endemoninhado
correu, caiu de joelhos diante dele 7 e gritou
bem alto: "Que há entre mim e ti, Jesus, Filho do
Deus altíssimo? Eu te peço por Deus, não me
atormentes!"
8. O homem falou assim, porque Jesus tinha
dito: "Espírito mau, saia desse homem!"
9. Então Jesus perguntou: "Qual é o seu nome?"
O homem respondeu: "Meu nome é 'Legião',
porque somos muitos."
10. E pedia com insistência para que Jesus não
o expulsasse da região.
11. Havia aí perto uma grande manada de
porcos, pastando na montanha.
12. Os espíritos maus suplicaram: "Manda-nos
para os porcos, para que entremos neles."
13. Jesus deixou. Os espíritos maus saíram do
homem e entraram nos porcos. E a manada -
mais ou menos uns dois mil porcos - atirou-se
monte abaixo, mar adentro, onde se afogaram.

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14. Os homens que guardavam os porcos


saíram correndo e espalharam a notícia na
cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o
que tinha acontecido.
15. Foram até Jesus, viram o endemoninhado
sentado, vestido e no seu perfeito juízo, ele que
antes estava possuído pela Legião. E ficaram
com medo.
16. Os que tinham presenciado o facto
explicaram para as pessoas o que tinha
acontecido com o endemoninhado e com os
porcos.
17. Então começaram a suplicar que Jesus
fosse embora da região deles.
18. Enquanto Jesus entrava de novo na barca,
o homem que tinha sido endemoninhado pediu-
lhe que o deixasse ficar com ele.
19. Jesus, porém, não deixou. E, em troca, lhe
disse: "Vá para casa, para junto dos seus, e
anuncie para eles tudo o que o Senhor, em sua
misericórdia, fez por você."
20. Então o homem foi embora e começou a
pregar pela Decápole tudo o que Jesus
tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.

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21. Jesus atravessou de barca novamente para


o outro lado do mar. Numerosa multidão se
reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia.
22. Aproximou-se um dos chefes da sinagoga,
chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus
pés, 23 e pediu com insistência: "Minha filhinha
está morrendo. Vem e põe as mãos sobre ela,
para que sare e viva."
24. Jesus acompanha Jairo. E numerosa
multidão o seguia e o apertava de todos os
lados.
25. E chegou uma mulher que sofria de
hemorragia já havia doze anos;
26. tinha padecido na mão de muitos médicos,
gastou tudo o que tinha e, em vez de melhorar,
piorava sempre mais.
27. A mulher tinha ouvido falar de Jesus. Então
ela foi no meio da multidão, aproximou-se de
Jesus por trás e tocou na roupa dele,
28. porque pensava: "Ainda que eu toque só na
roupa dele, ficarei curada."
29. A hemorragia parou imediatamente. E a
mulher sentiu no corpo que estava curada da
doença.

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30. Jesus percebe imediatamente que uma


força tinha saído dele. Então vira-se no meio da
multidão e pergunta: "Quem foi que tocou na
minha roupa?"
31. Os Alunos disseram: "Estás vendo a
multidão que te aperta e ainda perguntas: 'quem
me tocou?'"
32. Mas Jesus ficou olhando em volta para ver
quem tinha feito aquilo.
33. A mulher, cheia de medo e tremendo,
percebeu o que lhe havia acontecido. Então foi,
caiu aos pés de Jesus e contou toda a verdade.
34. Jesus diz à mulher: "Minha filha, tua Imuná
te curou. Vá em paz e fique curada
dessa doença."
35. Jesus ainda estava falando, quando
chegaram algumas pessoas da casa do chefe
da sinagoga e disseram a Jairo: "Tua filha
morreu. Por que ainda incomodas o Mestre?"
36. Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da
sinagoga: "Não tenhas medo; apenas tenhas
Ymuná!"

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37. E Jesus não deixou que ninguém o


acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu
irmão João.
38. Quando chegaram à casa do chefe da
sinagoga, Jesus viu a confusão e ouviu as
pessoas chorando e gritando.
39. Jesus entra e diz: "Por que essa confusão e
esse choro? A criança não morreu. Ela está
apenas dormindo."
40. As pessoas começaram a zombar dele. Mas
Jesus mandou que todos saíssem, menos o pai
e a mãe da menina, e os três Alunos que o
acompanhavam. Depois entraram no quarto
onde a menina estava.
41. Jesus pegou a menina pela mão e disse:
"Talitha cúmi" [que quer dizer: "Menina, - eu te
digo levanta-te!"]
42. A menina levantou-se imediatamente e
começou a andar, pois já tinha doze anos. E
todos ficaram muito admirados.
43. Jesus recomendou com insistência que
ninguém ficasse sabendo disso. E mandou dar
comida para a menina.

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PAPIROS DO NOVO TESTAMENTO


Muito controvertida é a posição dos papiros no
estudo do NT. Em geral os primeiros códices parece
terem sido feitos em material de rascunho, em sobras
de couro e papiro recortados, toscamente, para servir
às notas: nem tão provisórias que pudessem ser
apagadas com facilidade, como cálculos e recados
(para o que se usavam as tabuinhas de cera e os
cacos de cerâmica, as óstracas), nem tão definitivas
que precisassem dos aparatos do rolo. Os tais
bloquinhos, pois, parece que eram usados para
cópias de recibos, notas promissórias, cheques,
cartas de crédito; substituíam as antigas tabuinhas de
argila, anteriormente, usadas para tal finalidade,
reservadas agora aos originais dos documentos.
Sobre tal matéria, em rústicos bloquinhos de
notas contábeis, Levi registrava os discursos de
Jesus enquanto ele os falava: ipsissima verba. Mais
tarde, cresceu muito a procura por tais notas, nem
sempre havendo o tempo necessário para transcrevê-
las ao rolo, ou, para montar os volumes (que eram
compostos de folhas coladas uma ao lado da outra,
com letra especial). De qualquer modo os “inventores”
do formato moderno dos livros são os cristãos
primitivos.
O papiro, lótus, uma cana d’água, um junco,
crescia no vale do Jordão, na Fenícia e no Nilo. A
folha (gr. charte /cárte/ ) era feita do palmito da planta
(gr. biblos), recortado, batido e alisado (Paroschi
op.cit. pág. 25ss.).

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A ‘carta’ tinha um formato médio de 18 x 25 cm,


subdividia o texto em colunas de 5-7 cm de largura,
com intervalos de 1-2 cm; o volume enrolado podia
atingir uma extensão de 10 m: o Evangelho de Mateus
completo, tal como o temos hoje.
O códice, todavia (as folhas de papiro coladas
por um lado, costuradas e encapadas de couro), seja
o livro no seu formato atual surgiu, todavia, em Roma
pelo início da era cristã; após o séc. III eram usados
somente os códices. Portanto, podemos afirmar que
todo fragmento evangélico proveniente, sob provas,
de um rolo, é anterior a este século.
O mais antigo fragmento comprovadamente
aceito pela comunidade acadêmica nestas condições
é o Papiro Rylands (P52) de ca. 120-130 E.C. Para os
outros dois textos aqui mencionados, ainda subsistem
dúvidas — de todo modo, porém, remetem-nos ao
primeiro século, quando os discípulos mais jovens e
alguns apóstolos ainda viviam.

“Quando vieres, traze-me a capa que deixei


com Carpo em Trôade, e os rolos, especialmente
os blocos de pergaminho” [gr. *tà biblía, málista
tàs membránas] Paulo em 2 Tim 4,13.

Os evangelistas em mais de uma ocasião nos


revelam particularidades surpreendentes sobre os
usos e costumes da época, especialmente no campo
da cultura, assim é que Paulo se torna, neste passo,

“O único escritor grego do séc. I A.D. a


mencionar o bloco de pergaminho” (no dizer de
Roberts apud Thiede, loc. cit. pág. 52).

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Estas pequenas lascas de papiro nos dizem


muito, pois, sobre os primeiros tempos de
cristianismo e sobre a sociedade à qual se dirigia. Até
sobre a sua autoria: os rolos levavam uma etiqueta
(lat. titulus) sobre o lado exterior (com o nome da
obra) e, se não proviessem mesmo de Mateus,
Marcos, Lucas ou João, teríamos hoje uma infindável
variedade de títulos, ao passo que a tradição unânime
aponta os seus autores. E’ que a obra primitiva se
intitularia apenas “Evangelion” e depois (quando
surgisse o segundo), “Evangelion katá...” —
Evangelho conforme... — ou, até pela forma de se
intitularem os evangelhos demonstram que são
antigos, provenientes do século primeiro.i

PAROSCHI, Wilson, 1993, CRITICA TEXTUAL DO NOVO TESTAMENTO, S. Paulo,Vida Nova.

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Mc 6,53

E, quando já estavam no outro lado,


dirigiram-se à terra de Gennesarét,

O fragmento SQ7 do Conforme Marcos em Mc 6,53


possivelmente achado em Qumran entre os papiros
do mar Morto tem cinco linhas contendo entre vinte e
vinte e três letras cada linha, das quais sobreviveram
no total vinte e duas letras:
1. E(P)
2. YTO(N) E
3. E KAI TI
4. NNES
5. THESA
Na linha 4, os dois N de Gennesaret. Não
transcrevi a ordem interna do quadriculado. No
texto grego temos letras correspondentes. Trecho de
Marcos 6,53 em grego:
1. [SYNEKAN] E[PI TOIS ARTOIS]
2. [ALL’EN A]YTO[N E KARDIA PEPORO-
3. [MEN]E. 53 KAI TI [APERASANTES
4. [ELTHON EIS GE]NNES[ARET KAI]
5. [PROSORMIS]THESA[N 54 KAI] .

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Idioma Galilaico

Jesus falou Galilaico, ou Siro-caldaico, ou


Caldeu. Comumente chamado, por
simplicidade, de “aramaico”. Chamado
também, pelos estudiosos, de aramaico galileu
ou palestinense. A peculiaridade principal seria
o uso de um alfabeto distinto, chamemos de
Redondo, que hoje serve ao hebraico
manuscrito, além de estrutura gramatical
própria e vocabulário singular, mas de base
aramaica, mais ou menos como em portug.
dizemos aipim X mandioca ou pão X cacetinho.
Galilaico é o aramaico tal como recebido
pela tradição judia. O aramaico foi a fonte do
hebraico e do galilaico, este idioma que
floresceu de duzentos anos antes até
quatrocentos depois de Jesus (sec. II AEC - IV
EC), 2 hoje em dia falado muito pouco,
sobrevive dentro do árabe. Obras de relevo
como o Talmude e o Targum foram escritas em
galilaico. Parece nada haver mais distante do

2
A certa altura os bizantinos reuniram os calendários grego, hebraico
e latino e criaram a Era Comum, Ano Novo em 1° de janeiro, dia da
circuncisão de Jesus; devemos pois preferir a terminologia “antes” ou
da Era Comum AEC, depois EC, em vez de “antes do Cristo” a.C.

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nosso idioma, mas, palavras como o popular


"cabra" nordestino tiveram origem galilaica:
Kabra, homem, hebr. Gabar como em Gabriel,
"homem de Deus".

Isto foi através do Ladino, idioma que


combina galilaico, hebraico, espanhol e portug.
Outros termos: cutelo, Quteil (matador); touro
mediante o latim taurus, galil. Tur; cana, Qana;
amém, Amen; maná, Mana (significa "de
onde?"); mascate, Musqat; safira, Safir; cifra,
Sifra. Do fundo cultural greco-arameu
emergem compota Kompot, massa Matsa,
pizza Pitta, como se houvesse um Banco de
Palavras comum aos dois povos.
Era impregnado de grego; tendia a duplicar
os nomes: Cefas Pedro, Tomas Dídimo, Tabita
Dorcas, Paulo Saulo, José Hegesipo. Tendia a
traduzir ou explicar os termos, em grego, p.ex,
no evangelho “Rabi quer dizer mestre” ou
"Gabata que é Litóstroto" e outras frases do
mesmo jaez; ver Josefo; ver Talmude (Josefo:
Ant 20; Talmude Eruvin 53 b; Magilah 24 b).
E’ como português, galego e espanhol:
parece, dá para entender, mas é diferente.
Pequenas diferenças se acumulam e no fim
fazem um grande distanciamento, por
exemplo, em hebraico Shlos é o numeral 3 (sh
= x); (aram.) Tal = numeral 3. Contudo, (heb.)

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TALITHA

Tal = ovelha (Talah); (aram.) Tala'a = ovelha;


(gal.) Tal = menina (Tala, Talita). Mais:
(aram.) TTAL = orvalho (t duro tt). E também:
(aram.) THAL = numeral 3 (t suave th). E ainda,
(aram.) THALITHI = terceiro. Em hebraico, TTAL
= colorido (lã) e THAL = ovelha.
O Galilaico foi estudado desde os anos
1700 i.e. 1781. Pesquisadores principais:
Roberts, Thomsom, Neubauer, Young,
Moulton, Hadley, Mahaffy, todos orientalistas
dos secs. 18 e 19, em geral da Alemanha. "Um
dos maiores expoentes foi Renan, in História
das Línguas Semíticas" seguidor de um destes
primeiros orientalistas, Eichhorn (1752-1827)
que foi seu orientador. Este sábio alemão
publicou junto com seu compatriota Schlozer
obras de grande valia. Renan preferia o nome
Sirocaldaico tendo em vista a semelhança entre
o Galileu e o idioma Caldeu, ou mesmo, Siro-
Árabe tendo em vista que o Aramaico
prossegue vivo ainda hoje neste idioma.
O Galilaico "era em geral considerado no
tempo de Jesus um dialeto do hebraico, hoje
achamos que fosse idioma independente, de
forte fundo arameu. Teria sobrevivido num
único livro, o Targum de Oncelos, ainda lido
hoje". Por exemplo, na Bíblia hebraica:
Bereshit (no princípio) in Gen 1,1. Mas no
Oncelos, Beqadima pois (aram.) Reshia =
cabeça; contudo, (heb.) Qadima = “político

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conservador” (a grosso modo; liter.


“orientação”).
O idioma propriamente "semita" (semita
não é povo e sim idioma), nome que Renan
critica, seria na verdade um grupo de
linguagens fortemente aparentadas entre si,
um dia faladas desde o litoral turco até o
Deserto de Gobi. Com dois ramos principais:
Semita Ocidental e S. Oriental. O Aramaico
seria do ramo Ocidental Noroeste (arameu e
canaanita), tendo em vista o centro inicial de
difusão: o Iraque (Caldeia). Entre os idiomas
semitas, temos o acadiano, o caldeu, o assírio;
o árabe, o copta; o nabateu. Contudo o copta
temos de ver à parte. O Cananita se divida em:
fenício, moabita, hebraico. O hebraico dito
"clássico" foi o de Esdras (400 AEC) que
introduziu o alfabeto Quadrado (assírio).
Tendência a trocar sonoridades hebraicas,
sobretudo s em vez de x e hiato no lugar de
ditongo, como se fosse em portug. me-u em
vez de meu e sadrez em vez de xadrez por
exemplo cf. Eruvin 53 b, “um galileu fala e nos
perguntamos, o que ele quer? Um asno,
hamor; ou vinho, hamor; o manto, hamar; um
cordeiro, emar; ou apenas ele diz algo,
amar...” hiato em 'emar e 'amar, ' = hiato; em
hebraico parece que o galilaico confunde todas
estas palavras numa só, AMeRe diga ámere.
Porque o galilaico era mais musical, evita as
asperezas do hebraico que tem três tipos de h

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TALITHA

= rr. Mas como sempre passa água debaixo da


ponte, o falar hebraico de hoje é bem parecido
com o antigo som galilaico.
Portanto, tendência ao trocadilho, ao
chiste. Os galileus liam Moisés pelo texto grego
dito em hebraico, como mostra o evangelho e
motiva estranheza dos pesquisadores, que se
perguntam porque motivo o evangelho cita
Moisés em texto mais parecido ao grego do que
ao hebraico.
Tendia a adocicar a sonoridade semita,
cortava as guturais transformando em /a/ e
enfim, lia a Torah pelo texto grego (exemplos:
mais fácil um camelo passar pelo buraco de
uma agulha... Trocadilho entre aram. GAMAL e
gr. KAMILOS e a Porta da Agulha. Coais o
mosquito e engolis o camelo...Trocadilho entre
aram. GAMLA (mosca) e GAMAL (camelo) por
causa de galileus e judeenses pronunciarem
diferente).
Tendência a trocar sonoridades hebraicas.
Estes idiomas na verdade se diferenciavam
pelo uso político. Na Antiguidade, livros eram
um valioso bem de raiz, um capital, como uma
fazenda. Assim, os governos buscavam
incrementar e valorizar ou mesmo explorar
politicamente cada variedade local de
linguagem. Mais ou menos como RJ X SP:
semáforo ou sinal; em outros locais, sinaleira.
Isso aparece em documentos oficiais, por

18
TALITHA

exemplo, e nos respectivos CETs. Assim sendo


temos o idioma de Edessa: siríaco. De Sebaste:
samaritano. De Babel: caldeu, hebreu, arameu
(trilinguismo). De Jerusalém: hebraico. Seriam
todos o mesmo idioma, se não fossem
mantidos separados à força por incrementos
culturais de toda ordem.
Diferem assim na estrutura gramatical e no
vocabulário. O Galilaico (hebraico galileu)
parece o Siríaco; contudo o hebreu da Judeia
deveria parecer o Caldeu, tendo em vista a
enorme mole de emigrados judeus vindos da
Caldeia; e de facto em grande parte o caldeu
era entendido ali. Contudo o Galilaico fica o
mais perto possível do hebraico, tanto que em
conjunto os três dialetos que faziam este
idioma antigamente são: o hebraico galileu, o
samaritano, o judeu. Contudo usam três
alfabetos distintos: redondo, pontudo e
quadrado. Hoje em dia uma relativa unidade se
estabeleceu no idioma hebraico por causa da
prolongada Diáspora, a pronunciada variedade
dos três dialetos se abrandou. O exemplo mais
famoso disso está no "xibolet" (espiga de trigo)
da Bíblia, no Livro dos Reis. O hebreu judaico
falava com chiado e o galilaico, com sibilante:
sibolet. No idioma de Eça de Queirós, um
cibolete significa "motivo de confusão". O
Galilaico está "presente no evangelho cf. Mt
16,17; 26,46; Mc 5,41; 15,34; Jo 5,2; 19,13".
O povo "Galileu" era o sincretismo, étnico entre

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TALITHA

gregos e árabes. Também chamados Fenício;


Cananeu. O Targum de Oncelos seria Galileu
por excluir tanto o hebreu quanto o arameu.

YMUNAH

Emunah é honestidade, sinceridade, verdade;


em galilaico Ymuná. «João escreveu para
alimentar a fé» em hebraico Emunah, verdade;
em galilaico Ymuná implica ver um ponto de
todos os lados: os aspectos positivos e
negativos, mesmo sendo a vida de Jesus. Se o
leitor de Jo tem olhos apenas para
determinados aspectos de Jesus, não é leitor,
e sim vaquinha de presépio; para evitar isso,
para levar seus leitores a pensar, Jo coloca uns
absurdos no meio da narrativa, para as pessoas
atentarem. «Deus é justo» em hebraico Qana,
ou Tsadiq, conforme o caso.
Justamente em Qana [Caná] ocorreram
as bodas. Para entender Jo, tem que olhar os
elementos do romance, tipo, onde, em que

20
TALITHA

passagens de Jo, as pessoas bebem e comem?


Em dois grandes momentos: em Qana, e na
Ceia; justamente quando Jesus vai morrer, e
justamente ao iniciar e findar o livro. Tem mais
um momento, no meio do romance: quando
Jesus multiplica comida, e as pessoas correm
para ele como um milagreiro.
«Saindo aqueles espíritos imundos,
entraram nos porcos; e a manada se
precipitou por um despenhadeiro no mar,
eram quase dois mil, e afogaram-se no
mar»: Mc 5:13 (muito porco demais! as
aldeias eram pequenas, de pouco povo);
cf. Jo 11:39 - «disse Jesus: tirai a pedra.
Marta, irmã do defunto, disse-lhe: senhor,
já cheira mal, porque é já de quatro dias
(...) disse-lhes Jesus: desligai-o» (judeus
não tocavam em artigos funerários); cf.
«estavam ali postas seis talhas de pedra,
para as purificações dos judeus, e em cada
uma cabiam dois ou três almudes» in Jo
2:6 (total de setecentos e vinte litros); cf.
Mc 11:20 «eles, passando pela manhã,
viram que a figueira se tinha secado desde
a raiz».

Se o evangelho retrata um suposto


milagre de Jesus, coloca bem do lado um
absurdo qualquer que torna o suposto milagre
irreal, inverossímil, tipo, em Gadara os porcos,
em Betânia o mau cheiro do corpo, em Qana a

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TALITHA

bebedeira (o número excessivo de doses de


vinho), na figueira o ressecamento, contudo
houve outros eventos reais, que fogem ao
esquema.

CAMADAS HISTORIAIS NO EVANGELHO

As fontes do Evangelho “(...) inicialmente foram


diversas coleções de parábolas, ensinos e sermões
fragmentários: isto se reflete no ‘Gnóstico de Tomé’ e
as partes de Mateus que entraram no livro de Q” (JN).
E’ a camada mais antiga nesta prospecção crítica: a
mais nuclear. Das palavras de Jesus recolhidas por
Mateus é que se edificará a Segunda Revelação. A
tradição dizia, baseando-se em Pápias (séc. II), que
ali estavam as “Doutrinas” gr. tá logía do Mestre.

22
TALITHA

“Depois, o relatório de testemunhas, como no


evangelho ‘Dos Ebionitas’ hoje incorporado em
Mateus” (JN).

E acrescentemos, em Marcos. A existência deste


evangelho ‘dos Hebreus’ é bem documentada pela
tradição mais antiga, a saber: referida por Pápias,
Irineu, Hegesipo, — do séc. II; Orígenes, Jerônimo,
Teodoreto, Nicéforo, Clemente, Panteno, — sécs. III
e IV.ii

“Documentos outros vieram em seguida, como


na sinopse da Paixão dos Canônicos (JN).”

Não devemos contestar a historicidade destes


relatos, tendo em vista que no ano de 66 E.C. os
arquivos de Jerusalém foram incendiados (J.
Jeremias, op. cit. pag. 169) e, portanto, perderam-se
os registros que poderiam ampliar a sua base
histórica; o “facto”iii é que nos relatos da Paixão os
Evangelhos são, em geral, mais rigorosos como
documentos de crônicas.
A quarta camada historial dos Evangelhos seria
a das tentativas biográficas. Evidentemente, um
Mateus hipotético, porque não possuímos este
suposto original.iv
Mateus e Lucas, como hoje conhecidos, teriam
se inspirado em Marcos como hoje o conhecemos.
Nele e também, cada qual em fontes de seu exclusivo
conhecimento; há uma ‘fonte Q’ (o livro Q), comum
aos dois. Em Lucas chega a transparecer uma ‘fonte
pereiana’ que ocupa sua parte central, devendo ser a

23
TALITHA

contribuição da família do Rabi Ioshua. Apontamos


também, modernamente, a influência das tradições
de Antioquia e de Cesaréia, respectivamente, sobre
Mateus e Lucas; e da comunidade romana, sobre
Marcos.” E esta seria uma camada textual posterior.

i
Observação de Hengel, citada em THIEDE loc. cit. pág. 36. A
titulação de um escrito varia segundo a época. Naquele tempo os
títulos eram breves e de uma só palavra, para caber na etiqueta, cf.
esses títulos de obras antigas: Bíblia, Ilíada, Odisséia, Evangelho,
Dhammapada, Eneida, etc. etc. etc. Quando o leitor abria o volume
encontrava logo no canto superior um sumário, cf. “No princípio Deus
criou os céus e a terra” (Gen 1,1) em Homero, Ilíada I,1 “Canta, ó
Musa! A coragem de Aquiles, o filho de Peleu” ou, como em Marcos,
“Princípio do Evangelho de Jesus” (Mc 1,1). Na época medieval, já
nos códices, com folha de rosto, os títulos eram extensos. Quando a
obra era custosa e se destinava a um público mais exigente, levava
uma etiqueta maior, com mais palavras, seguida de uma introdução
no rolo, cf. De Bellum Gallicum ( “Toda a Gália se divide em três
partes, a primeira, habitada pelos belgas; a segunda pelos aquitanos;
a terceira, pelos celtas... gauleses”) ou Antiquitates Iudaicas ou,
ainda, Heródoto, “Clio! Estas são as pesquisas de Heródoto de
Halicarnasso, que as publica, na esperança de porventura preservá-
las, a fim de que não desapareça a memória dos homens que as
fizeram.” O título imponente dos Atos, gr. Prácseis Apóstolon, indica
que se destinava aos intelectuais; nesse caso o autor iniciava não
por um sumário, mas, por uma dedicatória, cf. At 1,1, “Em meu
primeiro livro, Teófilo” ou, como em Lc 1,1, “Tendo muitos tentado
empreender uma descrição das coisas que entre nós aconteceram”.
Naturalmente, o título grego original da Boa Nova seria, a rigor:
*EYAGGÉLION.
ii
Pápias (HE III,39,1); Irineu (HE V,8,2); Hegesipo (HE IV, 22,4);
Jerônimo (Contra Rufinum VIII,77; De Vir. ill II; In Matt. 6,11; In Ezech.
18,7; Adv. Pel. III,2 et al.; Orígenes (In Matt. 25,14); Epifânio

24
TALITHA

(Panarion I,29, 7 e 9); Teodoreto (Haer. Fab. II,1); Clemente (Strom.


II,ix,45,5) – apud LAPIDE op. cit. pág. 13 n. 1 e caput, no texto: “Foi
em hebraico, e muito provavelmente em Jerusalém, que nasceu a
literatura sobre Jesus (...) uma coleção de logia (...) um evangelho
primitivo (...) não o sabemos precisamente (...) um ‘evangelho dos
Hebreus’, atestado por pelo menos dez Padres da Igreja.” A
enumeração de todos os argumentos, em todos os autores, seria
fastidiosa.
iii
Usamos esta expressão latina para indicar os acontecimentos de
inequívoca ocorrência histórica, por oposição a “fato”, os eventos
diacrônicos em geral.
iv
“Separar entre a documentação antiga o que tem valor e o que não
tem é uma das trabalheiras dos pesquisadores (...) tarefa muito mais
complicada, a de que todos os pesquisadores do Jesus históricos se
dão, é tentar discernir, nos evangelhos canônicos, o que pode ser
considerado realmente de Jesus e o que é elaboração posterior
(R.P.Toledo).” A suposição de um Mateus original se apóia,
naturalmente, em Pápias (séc. I-II) que viu, parece, este livro; ou dele
teve conhecimento.

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