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[Recensão a] LOURENÇO, Eduardo – Heterodoxias, vol.

I das Obras Completas


Autor(es): Carvalho, Paulo Archer de
Publicado por: Imprensa da Universidade de Coimbra
URL URI:http://hdl.handle.net/10316.2/36786
persistente:
DOI: DOI:http://dx.doi.org/10.14195/1647-8622_12_23

Accessed : 9-Jan-2019 15:29:20

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Jornais Republicanos. 1848-1926. sustentaram uma alternativa republicana
Lisboa: Biblioteca Nacional de Portugal, ao liberalismo de modelo monárquico.
2011. Com a aceleração da crise deste modelo
no último quartel do século XIX e, sobre-
No âmbito do centenário da tudo, na transição do século, os jornais
República e da Constituição de 1911 republicanos não apenas recrudesceram,
e com o patrocínio da Assembleia da incorporando figuras de relevo das elites
República, a BN editou, na sua colecção intelectuais, como ocuparam um lugar
de Bibliografias|Inventários, um catálo- de vanguarda numa imprensa industrial e
go exemplar das publicações periódicas num jornalismo moderno que marcaram
portuguesas de inspiração republicana a entrada de Portugal na era mediática.
que Manuela Rêgo vinha preparando há
alguns anos com o escrúpulo e minúcia Luís Augusto Costa Dias
que se lhe reconhecem. Investigador Colaborador do CEIS20
Nas palavras da nota explicativa, o
trabalho regista os títulos (e anexa as
respectivas referências com maior ou
menor relevância, incluindo directores a
redactores e colaboradores) dos «jornais,
revistas e almanaques estritamente repu- LOURENÇO, Eduardo – Heterodoxias,
blicanos, entre os anos de 1848 e 1926», vol. I das Obras Completas. Lisboa:
quer dizer todas as publicações com ou sem Fundação Calouste Gulbenkian, 2011.
periodicidade, de venda avulsa, situadas 555 p. ISBN 978-972-51-1390-7.
no campo do republicanismo histórico e
rigorosamente político, portanto excluídos O pequeno universo editorial enri-
os «jornais da classe operária e trabalhado- queceu-se, em dezembro de 2011, com
ra, jornais anarcossindicalistas, socialistas o buraco negro da nossa inquietação.
ou comunistas […], mesmo que pudessem Sensatamente vai caminho por este rio
ser considerados de cariz republicano.» acima, Labirinto sem Minotauro: iniciadas
Instrumento precioso numa herme- as Obras Completas pelo volume que agrega
nêutica rigorosa de futuras pesquisas, as duas célebres Heterodoxias (I, 1949 e II,
este inventário dos jornais republicanos 1967) do influente e mais profundo pensa-
portugueses revela-se trabalho sistemático dor contemporâneo em língua portuguesa,
que compulsa a malha de publicações deste a virtude editorial reside outrossim na
campo político preciso: desde o apareci- revelação de inéditos ou textos ocasionais
mento das primeiras folhas clandestinas ao tempo dessas heterodoxias e de outros
que se seguem à Convenção de Gramido que, sob indicação expressa e consulta do
(1947), o ideário republicano desponta autor, aglutinam agora Heterodoxia III
com o termo das soluções plebeias no (2010). Ao enunciar que “não tenho para
liberalismo português (com A República, mim nenhum passado, senão na ordem
A Alvorada ou O Republicano, em 1848) sentimental”, Eduardo Lourenço [EL]
e vai prosseguir os ideais democráticos, subvaloriza assim a própria iniciativa (p.
pontilhando o território nacional de 387) na edição do plano sempre reescrito
publicações mais ou menos efémeras, e possibilitado agora com rigor gráfico
mais ou menos esclarecidas e ativas que e critério editorial coordenado por João

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Tiago Pedroso de Lima (autor da tese nica de fazer o melhor parafuso” e adoptam
Existência e Filosofia. O ensaísmo de EL, um sistema filosófico “como quem diz usar
editada com o patrocínio do Centro de uma certa marca de camisas ou água de
Estudos Ibéricos – Iberografias, 2008) e Colónia” (p. 130); e em Bicórnio (1952).
Carlos Mendes de Sousa, sob chancela da impugnando a visão hermética, autotélica
Fundação Calouste Gulbenkian, início da ou finalista da «cultura portuguesa», mas
revelação dos vastos pinos da montanha nessa dialogia que ela suscita, a recitação
que só se desvenda na visível concretude de uma realidade cultural que mesmo sob
a quem às suas escarpas se acercar. perspetivas contraditórias ou divergentes
Tarefa reforçada, ou articulada, num “nos pertence” (pp. 160-161).
projeto que se prolongará nas próximas Este sentido de pertença (não se omita
décadas, pelo tratamento bibliológico o epigrama para a melhor revista que EL
e edição do espólio de EL à guarda da moveu, Raiz & Utopia) contra a ilusão abs-
Biblioteca Nacional a cargo de João Nuno trata da Filosofia e paralaxes legalistas da
Alçada, e que começa a disponibilizar vasto universalidade, como se a língua não fosse
material para a investigação especializada a Casa – mas contra essoutra e estranha tese
editar tematicamente, já em curso como isolacionista que fez escola em meio século
se noticiou no Jornal de Letras (n.º 1076, de ditaduras e de ditadores que exultavam
28-XII-2011 a 10-I-2012), desde Barbara o ditador – singularizam a atitude de EL;
Aniello (O Tempo da Música. A Música do que reconhece, num texto a vários títulos
Tempo) a Fr. Bento Domingues (Crença decisivo («Joaquim de Carvalho e a ideia de
e Descrença), Gilda Santos (sobre Jorge uma Filosofia Portuguesa», 1992), contra
de Sena), Roberto Vecchi e Margarida a burocracia especulativa, formalismo
Calafate (colonialismo e salazarismo), entre e dogmatismo filosóficos, mais nocivos
a correspondência, alguma já conhecida, hoje para um pensamento livre do que
e os célebres diários que se começaram a ingénuas sombras das crenças dogmáticas,
desvendar. Quer dizer: o mais pessoano que o mestre coimbrão “o foi não por
dos intelectuais portugueses, à maneira do ter tomado como objeto de predileção a
mestre, lega espólio imenso para estudo e realidade empírica da filosofia e cultura
reflexão. Mas ao contrário de Pessoa, que portuguesas, mas por nos ter mostrado que
deixou a dificílima arca da decifração, é o uma e outra se fundem e existem como
hermeneuta de Caeiro, da raiz camponesa expressões do universal concreto, pátrias
e especulativa das fragas beiroas de São do espírito, pátrias celestes para além da
Pedro de Rio Seco, quem guia os caminhos sua terrena e saborosa existência”. E sobre
da decifração através de uma vida intensa Carvalho prossegue EL, “Ensinando-me
de labor e medi(t)ação pública. isto ensinou-me tudo e para sempre me
Surpreendem, pois é sempre provável o preservou das miragens narcísicas do culto
esforço teórico de EL surpreender, textos do particular separado do universal. De
olvidados do tempo das primeiras hete- todas as suas magistrais lições de filosofia
rodoxias, da Vértice (1946) por exemplo, este seu antigo e não muito fiel discípulo,
sobre a inviabilidade de uma «filosofia é a única que não esquecerá” (p. 429).
portuguesa», em catilinária contra todos Sob a perspetiva do ensaísmo, tão útil
aqueles que, com Álvaro Ribeiro, pensam à historiografia e historiologia da cultura
a “Filosofia como qualquer coisa que se e aos estudos culturais nas suas possíveis e
aprende ou transmite tal e qual como a téc- quase improváveis articulações, sem o qual

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em rigor estes não se podem articular, EL organizadores seria irrazoável sugerir a
acentuou entre nós, de modo pioneiro, o indexação ideográfica, dada a errância
carácter descontínuo das produções cultu- ensaística e a cursiva dialética do autor, em
rais, ao arrepio de narrativas continuístas Casa de estatura (e estrutura) invulgar. De
e descrições apocalípticas. Reformular louvar, pois, o apêndice bibliográfico sobre
na sua historicidade, como já em 1966 a origem e percurso dos textos incluídos,
o autor propunha, a “corrosão essencial o que contribui para fixar a perspectiva
e íntima” destes escritos num horizonte textual da sua historicidade. Sugere-se
trágico da História da Cultura relevantes todavia, de futuro, a inclusão dos preciosos
do “pathos polémico e angustiado” de índices onomástico e toponímico, da maior
quem se sentia condenado a uma morte utilidade para estudiosos e leitores do que é
histórica, e cósmica, sem ser ouvido (pp. a primeira fixação do corpus da obra de EL.
213-215), configura assim a mais aliciante Estudo e reflexão que, contra a preia-mar
tarefa epistemológica. É certo que desde de elogios e prémios que justamente o
então, de há meio século (da crise de maio autor merece, deixa na vazante um rasto
de 68 aos genocídios eslavos da década de de materiais teóricos que possibilitarão a
90, do 25 de abril à construção precária de dialogia e crítica que ao longo da sua vida
uma Europa fragilizada, sabemo-lo hoje), e obra o consagrado filósofo e ensaísta ex-
o antigo Reino das ortodoxias e seus altos plora na apreensão imagológica do mixton,
muros das verdades insofismáveis cedeu e no termo de Platão, do ser e do não-ser
abriu brecha ao relativismo circundante; que estruturam a cultura portuguesa,
mas é mister que a crítica e os especialistas como qualquer mediação histórica do
da área não caiam hoje na fácil e domi- universal, à maneira herderiana, nos seus
nante tentação hermenêutica de converter mitos e suas ilusões. E sobre ilusões e
a heterodoxia em ortodoxia, como no paradigmas éticos, ou a sua transmutação,
uso dos poderes e das suas influências a infinita seriedade com que F. Pessoa e F.
públicas muitos tratam privadamente de Nietzsche viveram a morte de Deus, leia-se,
fazer. A pior homenagem que se pode para não a reproduzir aqui, a excepcional
fazer a Lourenço é, por isso, lê-lo sem o exegese sobre o luto de Deus, «À sombra de
crivo crítico bem desperto; e transformar Nietzsche» (p. 521-526), demonstração já
em último evangelho o que é relatório publicada (Gradiva, 2007) da inequívoca
de bordo sobre a precariedade dos dias e sagesse de um filósofo que na maturez se
eternizar o que é existência e historicidade, funde com o visível e o invisível dos dias
fissura do tempo que a consciência inau- que lhe dão a vida.
gura e onde se debate. E sobretudo não Mas se o papel investido fisicamente
atender ao subtil atravessamento irónico, na empresa do grosso volume contribuiu
«transcendental» à maneira martiniana um pouco mais para o aquecimento global,
e anteriana, escreveu Fernando Catroga é de longe superado pelo testemunho
(«O sempre sfumato rosto do tempo», JL, único contra o esquecimento global: o que a
cit., 27), que também em EL “interdita a autenticidade da obra de Lourenço exige,
univocidade da receção”. dada a singular relevância e profundidade,
Não se errará ao afirmar que nas é que se estude e se debata; e não procis-
próximas decúrias estas Obras Completas sões acríticas de ações de graças, e outras
estarão reservadas a útil instrumento manifestações rituais, a um homem que
de estudo, reflexão e consulta. Aos seus viveu para pensar e vive em função do

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seu pensamento. em Portugal.
Este Encontro Científico integrou a
Paulo Archer de Carvalho participação de vários especialistas e este
Investigador Integrado do CEIS20 / livro pretende contribuir para um mais
Bolseiro de Pós-Doutoramento da FCT profundo conhecimento do processo de
integração europeia de Portugal um tema
que, volvido um quarto de século sobre
a nossa adesão ao projecto comunitário,
continua a revestir-se de toda a pertinência
RIBEIRO, Maria Manuela Tavares e actualidade.
(coord.) - Portugal-Europa. 25 anos No que respeita ao conteúdo, o presente
de adesão. Coimbra: Almedina, 2011. volume coloca, uma vez mais, um desafio
(Estudos sobre a Europa, 10). 112 p. provocador que vem incentivar um diálogo
ISBN 978-972-40-4571-9. interdisciplinar e crítico, com inovação
e estímulo. Releve-se o debate sobre os
Maria Manuela Tavares Ribeiro, numa principais desafios com que Portugal hoje
iniciativa que nunca será por demais lou- se confronta na Europa e no Mundo com o
var, deu início à coordenação/publicação intuito de levantar novas questões e pistas
da Colecção Estudos sobre a Europa (editada de reflexão. Ao longo dos seis textos de
pela Almedina), que conta, já, com dez especialistas oriundos de diferentes áreas
volumes de reconhecido interesse para os do saber (História, Filosofia Política,
académicos, os políticos e para os que se Ciência Política, Relações Internacionais,
dedicam ao estudo e reflexão dos assuntos Economia) são colocadas, com particular
internacionais, muito particularmente, dos actualidade, questões como: negociação,
assuntos comunitários. construção europeia, integração europeia,
De referir, ainda, que esta Colecção integração económica, social e política
materializa uma pertinente análise sobre de Portugal, política externa portuguesa,
a Europa, de base histórica, mas sempre Politica Europeia de Segurança e Defesa,
com um carácter multi e pluridisciplinar, Política Comum de Segurança e Defesa,
concorrendo, deste modo, para o desen- NATO, autonomia, liberdade, Europa das
volvimento do espírito crítico e incentiva Regiões, proporcionalidade, subsidiarieda-
ao debate sobre temas europeus. de, relações transatlânticas, euromundismo
O volume Portugal-Europa. 25 anos e americanismo. Trata-se de temas sempre
de adesão é o resultado de um conjunto actuais e oportunos, num momento em
de reflexões apresentadas no decurso de que a União Europeia, em geral, e Portugal,
um colóquio sobre a mesma temática, em particular, repensam o seu destino e
organizado em 2009, pelo Grupo de se preparam para os desafios do “Novo
Investigação Portugal, Europa e o Mundo Século”.
do CEIS20 e que contou com o apoio do Neste contexto, não será demais ana-
Centro de Estudos Interdisciplinares do lisar e referir os aspectos mais relevantes
Século XX da Universidade de Coimbra dos artigos publicados neste número.
– CEIS20, da Faculdade de Letras da José Medeiros Ferreira, no seu artigo
Universidade de Coimbra, do Gabinete intitulado “Metamorfoses e Negociação na
em Portugal do Parlamento Europeu e União Europeia”, analisa com um olhar
da Representação da Comissão Europeia retrospectivo, ao mesmo tempo que pros-

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