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SÁBADO, DOMINDO, SEGUNDA-FEIRA E TERÇA-FEIRA 13, 14, 15 E 16 DE FEVEREIRO, 2010 | ANO 2 | Nº 105 | DIRETOR RICARDO GALUPPO | DIRETOR-ADJUNTO DARCIO OLIVEIRA | R$ 4,50

EDIÇÃO DE CARNAVAL

Alimentos Pimenta Tabasco quer Eletrônica Motorola divide


Murillo Constantino

Educação Marcos Magalhães,


ex-Philips, leva projeto revolucionário chegar aos 2 milhões de garrafas operações para garantir
para mais estados do Nordeste. ➥ P16 vendidas no Brasil em 2010. ➥ P24 melhor desempenho. ➥ P22

Geração Y provoca revolução no


consumo e no mercado de trabalho
Conectados praticamente o tempo todo, jovens baseiam desejos de compra em opiniões colhidas nas redes sociais
Eles são responsáveis por uma mudança com um teclado na mão, de computador saber o que comprar. Falam diretamente
No trabalho, os jovens têm sede de se
profunda no modo de consumir e tam- ou celular, gostam das marcas pela tec- com as empresas e não querem discutir promover logo. Nem todos criticam sua
bém de encarar o trabalho. Os jovens da nologia que oferecem, e não por seu problemas com subordinados, apenas fama de imediatistas e insubordinados.
geração Y, que nasceram praticamente nome. Consultam suas redes sociais para com os responsáveis diretos. ➥ P4

Keiny Andrade/AE

Os4dias
quevalem
6meses
paraaRua
25deMarço
Por quase seis meses a Rua 25
de Março, tradicional centro de
compras popular em São Paulo,
registra os lucros trazidos
pelos quatro dias de folia do
Carnaval. Uma única pluma de
faisão real chega a custar R$ 150.
Muitos lojistas financiam as
compras de escolas de samba. ➥ P30

BM&FBovespa CSN sobe proposta Prisão de Arruda


quer ser a 2ª bolsa em novo lance pela fortalece debate
do mundo até 2012 portuguesa Cimpor sobre ‘Ficha Limpa’
Bolsa fechou acordo com a A brasileira subiu de € 5,75 Se o governador licenciado
americana CME Group, para para € 6,18 a oferta por ação da do DF for condenado em
investimentos e parcerias. Elevou cimenteira e aceitou ficar com primeira instância, não
a fatia acionária e terá vaga no 1/3 do capital mais uma ação. poderia mais se candidatar
conselho. A Cetip também revelou A Oferta Pública de Aquisição por oito anos, segundo projeto
estratégia de parceria. ➥ P36/48 será encerrada no dia 17. ➥ P48 que tramita na Câmara. ➥ P12

▲ Dólar Ptax (R$/US$) 1,8662 1,8670


▲ Dólar Comercial (R$/US$) 1,8570 1,8590
Operação de aluguel de ações ▲ Euro (R$/€) 2,5391 2,5404
▼ Euro (US$/€) 1,3606 1,3607
incrementa estratégia de investimento ▲ Peso Argentino (R$/$) 0,4836 0,4843
■ Selic (meta/efetiva % a.a.) 8,75 8,65
Tomadores de empréstimo normalmente vendem o papel para, mais à frente, recomprá-lo por
▼ Bovespa (var.%/pontos) -0,41 65.854,97
um preço mais em conta. São operações que servem, portanto, de termômetro de baixa para
▼ Dow Jones (var.%/pontos) -0,44 10.099,14
o mercado à vista. O investidor pode pegar carona e se desfazer da ação em carteira. Trata-se,
▲ Nasdaq (var.%/pontos) 0,28 2.183,53 Um papo com a escritora
porém, de uma aposta de risco. Às vésperas da divulgação do resultado de 2009, Vale liderou
as operações de aluguel, nesta semana. Mas a ação preferencial acabou subindo 1,90%. ➥ P40
▼ FTSE 100 (var.%/pontos) -0,37 5.142,45 Marina Colasanti e uma viagem
▼ S&P 500 (var.%/pontos) -0,27 1.075,51 no cruzeiro de Roberto Carlos
▼ Hang Seng (var.%/pontos) -0,11 20.268,69
2 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

NESTA EDIÇÃO

Keiny Andrade/AE

Em alta Alfajores e pretzels no cardápio


Tim Boyle/Bloomberg Estas são algumas das novidades das 132 lojas Fran’s Café,
que têm como meta equilibrar a oferta de alimentos com
a de cafés e bebidas frias. Em 2009, a rede faturou R$ 60
milhões e quer chegar a R$ 80 milhões em 2010. ➥ P27

Telefônica teve lucro de R$ 2,2 bilhões


O resultado é inferior aos R$ 2,4 bilhões do ano anterior.
A receita líquida de R$ 15,8 bilhões da operadora,
que mantém a razão social Telesp, também apresentou
recuo de 1,1% em relação a 2008. ➥ P27

BM&FBovespa passa a deter Light investe R$ 700 milhões este ano


5% do capital do CME Group Os recursos serão aplicados na redução de perdas,
“Até o final de 2011, no mais tardar início como a instalação de 122 mil medidores eletrônicos e a
de 2012, vamos buscar o segundo lugar substituição de redes antigas por mais novas. Com isso,
no ranking global”, garante Edemir Pinto, quer evitar perdas elétricas de 500 GWh no ano. ➥ P28
presidente da bolsa brasileira. O CME
Group é dono das bolsas de ações Evandro Teixeira

e mercadorias Nymex, Comex, CBOT


e CME e também detém 5% da instituição Venda de artigos carnavalescos em alta
brasileira. No mês passado,
a BM&FBovespa fechou parceria com Com movimento concentrado entre setembro a janeiro,
o regulador de mercado e as três bolsas os lojistas de produtos para o Carnaval da Rua 25 de Março,
de valores do Chile para desenvolvimento na capital paulista, comemoram os bons resultados deste
de clearing de contrapartes e listagem de ano. Faturamento aumentou em até 30% sobre 2009. ➥ P30
produtos brasileiros no mercado chileno.
Acordo semelhante está em fase
de negociação no Peru e México. ➥ P36 O saboroso exemplo de Nova York
Criada na Big Apple, em 1992, a Restaurant Week
Debate sobre inelegibilidade se espalhou pelo mundo e hoje é realizada em mais de
100 cidades de diversos países. Este ano, no Brasil
se fortalece no Congresso serão 12 cidades, com cerca de 500 restaurantes. ➥ P18
As discussões sobre mudanças na
legislação eleitoral para endurecer
as regras de inelegibilidade deverão Quality planeja crescer com limpeza
se intensificar a partir da prisão do
governador do Distrito Federal, José A rede de franquias de lavagem de roupas vai se instalar
Roberto Arruda, decretada na quinta-feira em todas as capitais brasileiras como parte do plano de
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ). dobrar de 90 para 180 o número de lojas no país até 2014.
Na Câmara Federal foi instalado um grupo Este ano, prevê faturar R$ 45 milhões. ➥ P27
de trabalho que vai consolidar 14 propostas
encabeçadas pelo projeto de iniciativa Murillo Constantino O colorido e a descontração dos blocos
popular, chamado Ficha Limpa, que barra
a candidatura de políticos condenados Os blocos do carnaval de rua do Rio de Janeiro são
pela justiça em primeira instância. mostrados na coluna Fotojornalismo pelo veterano
Pelo menos 643 prefeitos ou ex-prefeitos fotógrafo Evandro Teixeira. Fantasias bem coloridas e muita
cumprem atualmente punições descontração são as características desses grupos. ➥ P20
por improbidade administrativa. ➥ P13

Andre Penner Vendas de cigarro recuam 7,3%


Apesar dessa queda, fruto das campanhas contra o
tabagismo, e do aumento dos impostos sobre o produto
em cerca de 41%, a receita da Souza Cruz, que lidera
o mercado nacional com participação de 62%, aumentou
em 9,3% no ano, para R$ 5,79 bilhões. ➥ P29

Educação desenhada em novo cenário Clima amarga os resultados da Guarani


Aposentado desde 2007, Marcos Magalhães trocou o Excesso de chuva no Brasil e estiagem prolongada em
mundo empresarial pela educação, fundando o Instituto de Moçambique, onde o grupo tem uma usina, provocou queda
Corresponsabilidade pela Educação (ICE). Ele quer mobilizar de 15,2% na produção de açúcar e de 4,8% na de etanol.
Slaviero de malas prontas empresários para produzir soluções educacionais. ➥ P16 Os custos dos produtos subiram 29,3%. ➥ P29
para o Rio de Janeiro e BH
Matthew Staver/Bloomberg
Com 21 hotéis espalhados pelos estados
de São Paulo, Paraná, Espírito Santo A FRASE
e Santa Catarina, a rede planeja consolidar
suas operações no Rio de Janeiro e Belo
Horizonte, capitais da região Sudeste,
“Os problemas fiscais da Grécia
onde ainda não está presente. “Nossa meta expõem as falhas do projeto
é inaugurar de dois a três hotéis por ano”,
anuncia Eduardo Campos, diretor-geral de moeda única na Europa”
do grupo, que no ano passado faturou
R$ 47 milhões, com expansão de 17% sobre
o ano anterior. Para 2010, a previsão é
de uma receita de R$ 60 milhões. Dedicado
à hotelaria de negócios, o grupo planeja Martin Feldstein, professor de Harvard, que advertiu, em 1997, que a união
instalar unidades para turismo e lazer, monetária na Europa criaria um conflito político maior. Ele considera
compensando a queda na ocupação no incompatível a existência de uma política monetária única no bloco com a
período entre dezembro e fevereiro. ➥ P26 liberdade que cada país tem de estabelecer sua política fiscal e de impostos.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 3

EDITORIAL

Murillo Constantino

STEPHEN ROMERO, VICE-PRESIDENTE MUNDIAL DE VENDAS DA MCILHENNY Geração Y faz


revolução com
zum zum zum
Jovens entre 18 e 30 anos são responsá-
veis por uma verdadeira revolução nos
padrões de atuação das empresas. Pouco
fiéis a marcas e empregos, querem ser
ouvidos e esperam, no ambiente corpo-
rativo, a mesma velocidade de ascensão
profissional que encontram na internet.
É a chamada geração Y, que faz das fer-
ramentas da web instrumento de consu-
mo, trabalho e relacionamento. Produ-
tos construídos por e para este público
não param de surgir.
O mais novo lançamento destinado à
geração Y foi feito nesta semana pelo
Google. Batizado de Buzz — versão in-
glesa do zum zum zum de fofoca —, a
invenção, além de reproduzir o modelo
de comunicação aberta de concorrentes
como Facebook, aparece integrada ao
e-mail, ao comunicador instantâneo e
ligado a outros sites.

Site Fiat Mio reúne


1,3 milhão de internautas
para desenhar o que pode
ser o carro do futuro

As iniciativas de aproximação com este


público são as mais diversas. A Telefôni-
ca, por exemplo, tem uma equipe de dez
pessoas destacada para monitorar e in-
teragir com o público das redes sociais.
No radar dessa área estão 20 mil blogs. A
Fiat prevê apresentar, em outubro, o
projeto Fiat Mio, que reúne uma série de
internautas em torno de ideias para a
construção do veículo. A comunidade
on-line tem 1,3 milhão de usuários úni-
cos, a maioria com menos de 30 anos.
E você? Já ouviu falar do eMule? Ana
Luiza, hoje com 10 anos, o descobriu
quando tinha 6. Dele, baixou várias mú-
sicas e filmes. Ana, personagem retrata-
do na matéria especial desta edição so-
bre a geração plugada, já faz parte de
uma nova categoria. Seu primeiro con-
tato com o computador foi aos 4 anos.
Ela nasceu na era da informática, e al-
guns especialistas consideram este pú-
blico os sucessores da geração Y, agora
chamada de “Z” — de zapear. ■

Comandada há sete gerações pela família McIlhenny, na Louisiana (EUA), a Tabasco


elegeu a brasileira Aurora como sua melhor distribuidora mundial em 2009, quando foi
comercializado no mercado brasileiro 1,7 milhão das inconfundíveis garrafinhas de 60 ml da
marca. Para 2010, a meta é chegar a 2 milhões de unidades. “Nossa aposta está no mercado
de food service”, diz Stephen Romero, vice-presidente de vendas da McIlhenny. ➥ P24

Diretor de Redação Ricardo Galuppo Natália Mazzoni, Nivaldo Souza, Regiane de Olivei- Publicidade Comercial Gian Marco La Barbera (Di- Palma (Coordenador Negócios), Rodrigo Louro
Diretor-adjunto Darcio Oliveira ra, Ruy Barata Neto, Thais Folego, Vanessa Correia retor), Juliana Farias, Renato Frioli, Valquiria Re- (Gerente MktD e Internet), Gisele Leme (Coorde-
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Sônego, Elaine Cotta, Fábio Suzuki, Françoise Ter- mento de imagem Antonio Moura, Henrique Pei- Operações Cristiane Perin (Diretora), Tarija Lan- Trimestral Semestral Anual
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4 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

DESTAQUE COMPORTAMENTO

A revolução da
geração Y e suas
redes sociais
Corporações terão de investir tempo e dinheiro para entender
hábitos e comportamentos do público que vive na internet


Ruy Barata Neto ainda dão os primeiros passos
rneto@brasileconomico.com.br no relacionamento com este
consumidor Y. “Os modelos
Lançado pelo Google nesta se- ainda são muito burocráticos”,
mana, o Buzz é a nova ferra- Consumidor Y afirma Barbosa.
menta para dar mais amplitude tem interesse variado, Mudar processos instaura-
à voz da conhecida Geração Y — não reconhece dos há décadas não é fácil, na
jovens entre 18 e 30 anos que opinião do diretor de marke-
dominam o mundo das redes especialistas e guia ting da Fiat, João Ciaco. Ele en-
sociais na internet. Estes novos seus interesses de trou na companhia, em 2001,
consumidores são os responsá- compra pelos amigos com a missão de iniciar um tra-
veis por uma verdadeira revolu- balho de posicionamento da
ção nos padrões de atuação das Martha Gabriel, empresa na internet. O setor
empresas nesta primeira déca- professora da Business sempre foi vertical — da fábrica
da do século XXI. E este poder School de São Paulo para a concessionária e dela
só cresce. A última invenção do para o consumidor. “Hoje a re-
Google, por exemplo, além de lação está subvertida”, diz Cia-
reproduzir o modelo de comu- co. “O que é colocado como
nicação aberta de concorrentes verdade pela concessionária é
como Twitter e Facebook, apa- questionado diretamente com
rece integrado ao email, ao co- a indústria e precisamos res-
municador instantâneo e ligado ponder”, diz Ciaco.
a outros sites. Tudo para facili- Por outro lado, a incorpora-
tar o compartilhamento de ví- dora Tecnisa é cautelosa nesta
deos, músicas, fotos e textos relação. A empresa tomou a
entre os usuários e os amigos. decisão de contratar um “va-
Quem terá que dormir — e gabundo”, nas palavras do di- Sempre conectados de alguma forma, por celular
principalmente acordar — liga- retor de internet, Romeo Busa- ou computador, os jovens querem acesso direto
do neste novo canal é o diretor rello, para ficar o dia inteiro fo- às empresas das quais consomem. À direita,
do segmento residencial da Te- cado na comunicação com esse embaixo, a página do projeto Fiat Mio
lefônica, Fábio Bruggioni. O público. Com o tempo, Busa-
executivo comanda uma equi- rello descobriu que “o cliente
pe de dez pessoas destacada on-line não tem razão, mas sim
para monitorar e interagir com razões e que não há fórmula
o público das redes sociais. To- para lidar com o ele”. “Cada
das as manhãs ele acessa a in- caso é um caso. O segredo do DESEMPENHO DAS REDES SOCIAIS EM 2009 NOS EUA
ternet pelo celular para saber o fracasso é tentar agradar todo
que se fala sobre a empresa no mundo”, diz o executivo. O número de visitantes únicos do Facebook crescer 105% entre 2009-2008
mundo virtual. No radar dessa
área estão 20 mil blogs. “Hoje Marketing
acesso as redes sociais antes As estratégias de comunicação 120
111,9 20 milhões
milhões 20
mesmo de ler o clipping dos para venda de produtos e servi-
100
jornais”, diz. ços começam a ser revistas pe- 15
80
A necessidade apareceu no las empresas por causa desse 54,5
ano passado, quando a compa- público. Na opinião de Martha 60 milhões 10
nhia enfrentou problemas ope- Gabriel, professora da Business 40
5
racionais de seu serviço Speedy. School de São Paulo, ainda são 20
2 milhões
A repercussão foi mais pesada poucas as que entenderam as 0 0
na internet. “A crise acelerou o peculiaridades desse consumi- Fonte: comScore DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009
interesse da empresa pelas mí- dor e fazem um trabalho ade-
dias sociais”, afirma Bruggioni. quado. “Consumidor Y tem in-
“Esta atividade ainda é um teresse variado, não reconhece O QUE A GERAÇÃO Y QUER DE UMA EMPRESA?
aprendizado, um processo, no especialistas e guia seus interes-
qual descobrimos que transpa- ses de compra pelos amigos”, 1 2
rência e gerenciamento de ex- diz Martha. Para chegar a ele, a
pectativas são fundamentais marca não pode se mostrar in-
para esse público. É preciso dei- teressada em vender. É neces- Verdade Diálogo
xar claro o que a empresa pode e sário falar a língua desse jovem
o que não pode fazer.” e oferecer alguma informação Antes as pessoas não Esse público rejeita
Para Alessandro Barbosa ou ideia instigante. “A regra é questionavam as empresas burocracia e não reconhece
Lima, presidente da consulto- dar antes de receber e escutar e nem tinham acesso a elas. Hoje padrões hierárquicos rígidos.
ria E.Life, especializada em antes de agir”. ■ colaborou Fa- os clientes não ficam calados Quer manter diálogo com
mídias sociais, as empresas biana Parajara e Regiane Oliveira se percebem falsas promessas. as marcas que consomem.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 5

LEIA MAIS Menos influenciados pela As gerações X e Y gostam Os jovens também causam
publicidade tradicional, os de novidades tecnológicas. mudanças no local onde
jovens querem falar direto com Com elas em mente, fabricantes trabalha. São tachados de
a empresa. Para atraí-los como de celular lançam produtos com impulsivos, imediatistas e
consumidores, é preciso acesso grátis à internet, loja insubordinados, mas nem todos
transparência e diálogo. virtual e a programas do Google. criticam essas características.

Mauricio Lima/AFP

Empresas se
beneficiam com
os hábitos jovens
Estratégias bem-sucedidas Sanzio Mello
de relacionamento na internet
podem ser eficientes para
inovação com novos produtos

Fabiana Parajara
Ruy Barata Neto
João Ciaco
redacao@brasileconomico.com.br Diretor de
marketing da Fiat
A Fiat prevê apresentar em ou-
tubro, no próximo Salão do “A rede social é uma grande
Automóvel no Brasil, o protóti- festa que está rolando, e a
po do que imagina ser o carro marca precisa saber que não
do futuro. Trata-se do resulta- pode mudar a música. Se
do final do projeto Fiat Mio, entrou na festa precisa se
que reúne uma série de inter- comportar no padrão dela”
nautas em torno de ideias para
a construção do veículo. A co-
munidade online existe desde
agosto do ano passado e reúne
1,3 milhão de usuários únicos,
segundo a empresa, a maioria
com menos de 30 anos. O carro
começará a ser produzido nos
próximos dias, a partir de 10
mil ideias coletadas no site.
O diretor de marketing da
empresa, João Ciaco, compara
as redes sociais às tradicionais
clínicas de comunicação para
testar lançamentos. É hábito
das montadores reunir clien-
tes pontuais para um teste
prévio de um carro novo e cor-
rigir defeitos antes de ele ir ao
mercado. “Com as diferentes
manifestações nas redes so-
ciais, temos uma clínica de
comunicação permanente”,
afirma Ciaco. As ideias para o
carro do futuro ficarão sob a
Creative Commons — licença
livre do pagamento de direitos
autorais e que pode ser usada
por qualquer um, desde que
citado o autor.
FAIXA ETÁRIA DO FACEBOOK E DO TWITTER NOS EUA Pelo mesmo caminho segue
O Boticário, que chegou a re-
Aumenta a audiência de jovens no Twitter lançar em edição limitada um
perfume por conta da manifes-
COM MENOS DE 24 ANOS ENTRE 25 E 24 ANOS COM MENOS DE 18 ANOS ENTRE 18 E 24 ANOS ENTRE 25 E 34 ANOS tação de consumidoras no
35 25 20 20,0% 19,7%
Orkut. Pelo mundo digital, a marca está na internet, mas
32,3% 23,0% 17,9% empresa ainda chegou à estu- como ela está na internet”.
30 16,2%
26,8% 20
25
18,8% 15 dante Mariana Gomes, de 18 “Com os consumidores presen-
20 15 anos, responsável por dar dicas tes nas redes sociais, por exem-
10 10,0% 10,0%
15 10
de beleza para consumidores plo, registramos um grande vo-
10 no site da empresa. A jovem foi lume de pedidos de informa-
5 5
5 descoberta por conta do traba- ção. Isso nos dá a chance de
0 0 0 lho independente de produzir orientá-los e de interagir com
DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 vídeos, desde os 15 anos, dando eles”, afirma Dutra. “No longo
dicas de beleza para as amigas. prazo, a presença da marca nas
Segundo Fernando Dutra, ge- redes sociais tem muito mais
rente executivo de serviços de efetividade para a imagem e
marketing de O Boticário, a para o relacionamento com o
3 4 5 meta é saber “não só que a consumidor.” ■

Benefícios Boas histórias Participação ■ FIAT ■ O BOTICÁRIO


Número de usuários únicos Visualizações dos vídeos sobre
Para ganhar, as companhias Para abrir um canal de A principal demanda do público é: do site Fiat Mio é de beleza de Mariana Gomes é de
hoje precisam oferecer comunicação, é preciso criar “eu quero fazer parte”. Não dá
produtos, informações,
serviços úteis e relacionados
ao seu posicionamento.
boas histórias em vídeo, textos
e áudio. Elas devem instigar o
compartilhamento com os amigos.
mais para ter apenas a voz do
fabricante no desenvolvimento de
serviços, produtos e comunicação. 1,3 milhão 1,5 milhão
6 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

DESTAQUE COMPORTAMENTO

Fabricantes se preparam para chegar


Decididos, críticos e infiéis ao mundo das marcas. Esse é o jovem da geração da internet, também chamado de

Elaine Cotta
ecotta@brasileconomico.com.br

Já ouviu falar do eMule? Pois


Ana Luiza, hoje com 10 anos, o
descobriu quando tinha 6. Dele,
baixou várias músicas, filmes da
série Harry Potter e também o
High School Musical. “Mas
quando meu pai descobriu, ele
não me deixou mais usar”, diz a
menina, que agora, tem horário,
fixado pelos pais, para ficar na
internet. Mesmo assim, no últi-
mo Natal, foi ela quem ajudou a
mãe a escolher a marca e o mo-
delo do novo celular, levando
em consideração custo e benefí-
cio do produto a partir de pes-
quisas na internet e de conver-
sas com amigos pelo MSN. Ela
também ajuda a avó a pesquisar
o preço do remédio de pressão
antes de ela decidir em qual far-
mácia comprar o medicamento
e conversa com os tios que mo-
ram em outra cidade, todos os
dias, usando Skype e a câmera
instalada no monitor do seu PC.
Ana está à frente da geração
Y. Seu primeiro contato com o
computador foi aos quatro anos,
quando começou a brincar com
joguinhos educativos instalados
pelos pais e disponíveis também
em alguns portais da internet.
Por isso, ela faz parte de uma
nova geração, que já nasceu na
era da informática, e que alguns
especialistas chamam de “gera-
ção Z” — de zapear — uma à
frente da já conhecida “geração
Y”, que define os jovens que
hoje estão na faixa dos 20 anos
e que já começam a entrar no
mercado de trabalho. (Leia ma-
téria na página 8).
“Essa é uma geração formada
por jovens extremamente ante-
nados, que recebem todos os
dias um grande volume de in-
formação”, escreve Anna Célia
Affonso dos Santos Ferreira, em
texto sobre o comportamento
desse consumidor para sua tese
de mestrado da Faculdade de
Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade
de São Paulo (USP). “São eles
que decidem o que comprar,
desde o eletrodoméstico, até o
carro da família”, completa Ro-
berto Meier, presidente da Asso-
ciação Brasileira das Relações Para conquistar o O jovem das gerações Y e Z não é não atendê-lo quando quer re- não quer dizer, no entanto, que
Empresa Cliente (Abrarec). A fiel a uma marca. Pelo contrário. clamar de um produto”, diz Si- eles não sigam a moda. É que,
propaganda tradicional — que “infiel” consumidor Costumam ser impacientes e não mantob. Por isso qualquer em- para eles, uma marca funciona
tanto influenciou outras gera- das gerações Y e Z, se atêm a uma única tecnologia, presa que queria conquistar a fi- como uma garantia de qualida-
ções - não tem o mesmo efeito as empresas têm de explica o professor Moysés Si- delidade desse jovem - que é es- de do produto e não como um
sobre esse jovem. As gerações Y mantob, coordenador do Fórum pontaneanente infiel a qualquer símbolo de status. É uma lógica
e Z estão mais atentas às percep- apostar em regras de Inovação da Fundação Getúlio marca - tem de seguir três dire- muito diferente da incorporada
ções de outros consumidores como transparência, Vargas (FGV), que há anos pes- trizes: 1) transparência; 2) hones- pelas gerações anteriores. E a
expostas em blogs e redes so- honestidade e quisa esse tema. Esses consumi- tidade e, 3) diálogo. “Quem qui- regra vale tanto para roupas,
ciais. “A comunicação com eles dores também são avessos a re- ser vender, seja o que for, para quanto para produtos eletroele-
tem que ser mais inteligente. diálogo. Esse jovem, gras como, por exemplo, ter de esse jovem tem que olhar para trônicos, carros e tecnologia.
Eles não acreditam em especia- ao contrário da falar com um subordinado ou isso ou vai morrer na praia. É um “O que pesa é ter uma boa expe-
listas”, diz Meier. Para conquis- geração anterior, com o telemarketing quando consumidor que vai testar tudo riência anterior com a marca”,
tar e manter esse consumidor, é quer reclamar do produto de uma antes de decidir o que comprar.” explica Renato Trindade, presi-
preciso entender que ele valori- vê a marca como empresa. “Eles olham as empre- Pesquisa da consultoria Brid- dente da Bridge Research, no
za — e muito — a transparência símbolo de qualidade, sas e o mercado como algo ou al- ge Research mostra que, para as estudo. “Eles têm uma percep-
nas relações de consumo. e não de status social guém igual a ele e não entende o gerações Y e Z, consumir é me- ção nova sobre produtos”, con-
Infidelidade espontânea motivo de um gerente ou diretor lhor que ostentar marcas. Isso clui o professor Simantob. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 7

ao consumidor do futuro
Z, e que já está na mira de várias companhias, especialmente as de tecnologia
Paulo Fridman/Bloomberg

A GERAÇÃO DO MILÊNIO

O jovem que sabe o que quer e


como alcançar tudo que almeja
Segura, com boa autoestima e criada por
pais atenciosos. Assim é a geração do milênio,
também conhecida por “Y” e, mais
recentemente, por “Z”. Eles também podem
ser distraídos, superficiais e insubordinados.
Tudo porque foram educados de maneira
diferente, num período com mais prosperidade
econômica, liberdade de expressão e acesso
irrestrito a fontes de informação. Por isso,
são mais conscientes dos problemas sociais
e ambientais e mais preocupados com qualidade
de vida. Mas são também menos pacientes
com regras do mundo corporativo - como Para atrair consumidores jovens
esperar na linha para ser atendido por um e antenados, fabricantes de celular
sistema de call center ou ao desembarcar lançam pacotes com internet
no concorrido mercado de trabalho. grátis ou programas do Google
Pesquisa realizada pela Fundação Instituto
de Administração (FIA/USP), com 200 jovens
de São Paulo, revelou que 99% deles só
se envolvem em atividades que gostam
e 96% acreditam que o objetivo do trabalho
é a realização pessoal.
Tecnologia tem que
Em países da Europa e dos Estados Unidos,
a geração Y já ocupa cerca de 25% dos cargos
de liderança. Pode até ser que boa parte deles
esteja na chamada nova economia - terminologia
ser avançada e barata
criada justamente para segmentar as empresas
de internet e que desenvolvem tecnologia Mobilidade, inovação e acesso Dos jovens brasileiros fala pelo celular, ele tecla”, afirma
inovadora (como Google e Facebook). Mas é fato rápido e seguro são algumas das o professor Moysés Simantob, do
incontestável que ninguém mais pode ignorar exigências das novas gerações
entre 14 e 18 anos, Fórum de Inovação da Fundação
o potencial desse consumidor. De acordo 88% têm celular Getúlio Vargas (FGV). Ele também
com levantamento da Organização Um celular à prova d’ água que é e 57% trocam usa o celular para acessar e-mails,
das Nações Unidas (ONU), eles já são recarregado com energia solar ou msn, Twitter ou qualquer outra
210 milhões de pessoas no mundo. um aparelho que dá acesso gra-
de aparelho a cada forma de comunicação disponível
No Brasil, representam 17% tuito a redes sociais e que permi- 14 meses, segundo na internet. A pesquisa também
da população, um mercado te baixar, também de graça, mú- pesquisa da Kantar mostra que eles são os principais
potencial de 40 milhões sicas da internet. Essas são as usuários das ferramentas disponi-
de consumidores. apostas das empresas de telefo-
Worldpanel bilizadas por fabricantes e opera-
nia celular para conquistar os jo- doras de telefonia móvel. Cerca de
vens das gerações X e Y. Mas não 80% usam SMS e 25% baixam ar-
basta. “A nossa forma de comu- quivos e jogos pelo celular.
nicação mudou muito nos últi- De olho nisso, a Motorola, por
mos anos por causa desse consu- exemplo, lançou uma linha de
midor”, afirma o gerente de aparelhos com acesso gratuito à
marketing da Nokia no Brasil, internet, incluindo várias redes
Marcelo Câmara. A empresa sociais e serviços do Google,
montou uma espécie de atendi- como o Google Maps. “Toda essa
mento online ao cliente no qual, nova linha de celular é baseada
por meio de blogs e redes sociais, no Android, que traz os aplicati-
conversa, tira dúvidas e anota as vos do Google”, explica Rodrigo
principais demandas e reclama- Vidigal, gerente de marketing da
ções — tudo em tempo real. Motorola. É a mesma adotada por
“Nosso último lançamento é outra fabricante, a HTC. “Fize-
um celular que dá acesso a uma mos essa escolha porque esses
loja virtual com 5 milhões de aplicativos são os mais consumi-
músicas, além de uma platafor- dos pelos jovens dessa geração,
ma que disponibiliza navegação que está no centro da nossa es-
O QUE E COMO O JOVEM Y OU Z COMPRA via GPS. Tudo de graça”, explica. tratégia para este ano.” ■
● O consumidor da era da internet não se influencia E tem mais: nesse sistema existe
com propaganda. Sua decisão de consumo é baseada ainda um serviço chamado social
na opinião de outros consumidores. location (localizador social) que
funciona como um rastreador
● Ele opta por empresas engajadas, transparentes e dispostas para que o jovem saiba onde está
a conversar de igual para igual com o consumidor final. o amigo — mas, claro, apenas se
esse tal amigo quiser ser real-
● O relacionamento com as marcas é feito de forma menos ostensiva. mente localizado.
Nas roupas, o importante é vestir bem e ser de boa qualidade. E não há dúvidas de que esse
público dá - muito - lucro. Pes-
● No caso dos eletroeletrônicos, o principal é ter uma boa experiência quisa da Kantar Worldpanel mos-
anterior com a marca. Nos celulares, a exigência é alta tecnologia. tra que 88% dos jovens brasileiros
com idade entre 14 e 18 anos pos-
● O celular impermeável recarregado com energia solar, da Sharp, e os suem telefone celular. E mais:
modelos com acesso a redes sociais da Nokia e Motorola são sucesso. 57% deles trocam de aparelho a
cada 14 meses. “Esse jovem não
8 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

DESTAQUE COMPORTAMENTO

Semprevisível

Sandra Lima,
diretora de recursos
humanos da Vivo,
tenta entender as
diferentes gerações
no processo de
trabalho

O emprego também é diferente


Impulsivos e dinâmicos, os jovens da geração Y forçam adaptação interna nos locais onde trabalham

Amanda Vidigal Amorim Jovens chegam Isadora Becker, de 25 anos, para que os funcionários pos- mos e pensarem com cautela”,
avidigal@brasileconomico.com.br acaba de completar o progra- sam trabalhar onde quiserem”, afirma Renata. Para os profis-
ao mercado de ma de trainee da Vivo. “Assim afirma Élcio de Moura, vice- sionais da geração X, que já pas-
Para as empresas, os jovens da trabalho com que terminei o programa fui presidente de marketing e pro- saram por crises financeiras
chamada geração Y contam com ambição por altos promovida a analista, e espero dutos da Siemens Enterprise graves, o imediatismo e a im-
características positivas para o chegar a gerência em pouco Comunications. Com mobilida- pulsividade não são caracterís-
mercado de trabalho. Apesar de cargos. Para atingir tempo”, afirma a jovem pro- de, os jovens podem trabalhar ticas tão marcantes.
serem tachados constantemente seus objetivos, fissional. Apesar de acreditar de outros locais, por exemplo. O professor da Fundação Dom
como impulsivos, imediatistas e eles estão dispostos que não tem problemas de su- Esse desapego é também Cabral, Anderson Sant´ana, diz
insubordinados, essas particu- bordinação, Isadora admite uma característica concreta da que esses conflitos são normais,
laridades são vistas com bons a encontrar a que essa é uma característica geração, que passou pela sua e que a humanidade é constituí-
olhos pelas empresas. empresa que lhes de sua geração. “Eu me dou primeira crise mundial em da por grandes mudanças. “Ge-
É assim que enxerga a dire- ofereça um cargo muito bem com minha gestora, 2008. “A crise econômica aju- rações diferentes são uma cons-
tora de recursos humanos da mas vejo que muitos colegas dou os jovens a serem mais cal- tante”, afirma. ■
Vivo, Sandra Lima. “Esses jo-
melhor. O que enfrentam dificuldades em re-
vens são competitivos, bus- acontecia na geração ceber ordens”.
cam sempre uma posição me- anterior, onde Para Renata Fillipi Lind- Jovens reconhecem suas características
lhor dentro da empresa”, afir- quist, diretora da Mariaca,
ma. Talvez por isso, a diretora
um profissional empresa de recursos humanos, Isadora Becker entende que guerras. “Pela primeira vez
veja algumas dificuldades nos passava anos um outro problema é que, sua geração muitas vezes não na história da gestão, estamos
locais de trabalho, já que ou- crescendo em uma como esses jovens atingem sabe esperar o momento e nem tendo um número maior de
tras gerações, também com postos altos em pouco tempo, dar tempo ao tempo. Ela mesma gerações convivendo”, afirma
características fortes, fazem mesma empresa, não adquirem maturidade para admite que, apesar de ter Anderson Sant´ana, professor
parte do quadro de funcioná- já não se repete exercer a função. “Vê-se mui- completado agora o processo da Fundação Dom Cabral.
rios. “As gerações precisam se tos jovens em grandes posições de trainee ao qual se inscreveu, As gerações a que o professor
educar, conviver com as dife- e que não têm jogo de cintura”, já sabe quando quer chegar ao se refere são a da guerra,
renças. Temos dentro da em- diz. “Isso é fundamental em cargo de gerência. Função que do pós-guerra, a X e a Y.
presa a geração X e a geração um cargo de direção.” está quatro postos acima do que Em algumas empresas é possível
Y, que são muito diferentes”, Essa inconstância dos jovens faz hoje. “Não quero falar sobre encontrar as quatro gerações
acredita Sandra. e sede de crescer em qualquer o tempo para isso, mas já tenho trabalhando juntas. E mesmo
Isso porque, enquanto os jo- lugar fez com que a Siemens to- na minha cabeça o prazo certo com tantos conceitos às vezes
vens se preocupam em subir masse algumas providências para chegar à gerência”, afirma díspares, elas conseguem se
rapidamente de cargo, os pro- para evitar que seus funcioná- a jovem de 25 anos. Essa é uma entender. “A grande questão
fissionais da geração anterior rios fossem para as concorren- das principais particularidades é considerar as diferenças,
têm como característica cres- tes. “Desenvolvemos vários de uma geração que não passou o que caracteriza cada geração”,
cer dentro da própria empresa. equipamentos tecnológicos por crises econômicas e nem afirma o professor. A.V.A.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 9

Companhia Aberta
CNPJ/MF nº 09.346.601/0001-25
NIRE 35.300.351.452

FATO RELEVANTE
A BM&FBOVESPA S.A. (“BVMF”), em cumprimento ao disposto no parágrafo 4º do artigo 157 da Lei nº 6.404/76 e à Instrução CVM nº 358/02, vem a público informar que, nesta data,
assinou com o CME Group, Inc (“CME”), holding que controla a Chicago Mercantile Exchange (CME), New York Mercantile Exchange (Nymex), Board of Trade of the City of Chicago,
Inc. (CBOT) e Commodity Exchange, Inc. (COMEX), Protocolo de Intenções para firmar um acordo de parceria estratégica preferencial global que contempla (i) investimentos e
acordos comerciais em bolsas internacionais, em bases iguais e compartilhadas; (ii) o desenvolvimento, em conjunto com o CME, de uma nova Plataforma Eletrônica de Negociação
de derivativos, ações (equities), renda fixa e quaisquer outros ativos negociados em bolsa e balcão; (iii) elevar sua participação societária para 5%, equivalente, nesta data, a
aproximadamente US$ 1 bilhão (hum bilhão de dólares); e (iv) indicar um representante para participar do Conselho de Administração do CME.

1. BVMF e CME como Sócios Estratégicos Preferenciais Globais


BVMF e CME passarão a ser “Sócios Estratégicos Preferenciais Globais” (Global Preferred Strategic Partners) para, em conjunto, identificar oportunidades de operações estratégicas
de investimento e de parcerias comerciais com outras bolsas do mundo, nos segmentos de ações e de derivativos. BVMF e CME procurarão realizar esses investimentos e/ou parcerias
em bases iguais e compartilhadas, respeitadas as restrições legais e regulatórias, bem como os históricos de relacionamento e especificidades da BVMF e do CME em relação à bolsa
em que se realizará o investimento e/ou parceria.
Todavia, quando não for possível ou apropriada a participação conjunta das duas bolsas – casos de restrição legal ou regulatória; quando a terceira bolsa, objeto da transação, não
queira ou não possa se associar à BVMF ou ao CME; ou, ainda, quando a participação conjunta das partes tornar impraticável a realização da operação – a Bolsa que estiver liderando
o investimento e/ou parceria, deverá prosseguir sozinha na operação.
Para a operacionalização da presente parceria estratégica preferencial global, os principais executivos (Comitê Estratégico) da BVMF e do CME se reunirão trimestralmente para
analisar os planos de investimento e de parcerias comerciais da BVMF e/ou do CME com quaisquer bolsas no mundo, bem como os atributos, afinidades e contribuições que elas
possam ter para com a bolsa objeto do investimento e/ou parceria.

2. Nova Plataforma de Negociação Multi-Mercado – única e integrada – mercados de ações, derivativos, câmbio, renda fixa, outros ativos de balcão e block trade
BVMF e CME desenvolverão conjuntamente, com base em tecnologia derivada do sistema de negociação CME Globex®, bem como em nova tecnologia a ser criada conjuntamente
pelas duas bolsas, uma nova plataforma eletrônica de negociação, com tempo de processamento de negócios inferior a um milissegundo, que contemplará sob uma mesma infra-
estrutura todos os segmentos de negociação existentes na BVMF, quais sejam:
• mercado à vista de ações;
• derivativos referenciados em ações, índices de ações, taxas de juro, taxas de câmbio e commodities;
• taxa de câmbio à vista;
• títulos públicos;
• títulos privados de renda fixa; e
• outros ativos de balcão.
Será também desenvolvido na nova plataforma um sistema de negociação de grandes lotes de ações (block trade).
O primeiro módulo a ser desenvolvido será o de derivativos, que substituirá, até o início de 2011, o atual GTS (Global Trading System), sistema eletrônico de negociação utilizado pela
BVMF em seu segmento de derivativos financeiros e de commodities, e câmbio a vista. O segundo módulo será implantado até o final de 2011, e substituirá os sistemas de negociação
MegaBolsa, Sisbex e BovespaFIX atualmente utilizados pela BVMF nos mercados de ações, títulos públicos federais e títulos privados de renda fixa, respectivamente.
Tanto a BVMF como o CME poderão explorar comercialmente a nova plataforma, compartilhando entre si as receitas de tal comercialização. A BVMF poderá comercializar livremente
a plataforma nas Américas do Sul e Central, no México e na China. Nas demais regiões, poderá fazê-lo desde que associada a uma operação de investimento e observadas
determinadas restrições relativas à listagem de produtos pela bolsa investida.
A BVMF e o CME serão co-proprietários da nova plataforma de negociação multi-mercado, compartilhando, em regime de co-autoria e através de licenças recíprocas, perpétuas e
irrevogáveis, a propriedade intelectual do sistema, bem como suas melhorias, versões (up grades) e softwares derivados.
Ainda como reflexo dessa nova parceria, o CME transferirá à BVMF, com base na tecnologia do sistema Globex®, todo o conhecimento necessário à operacionalização e ao
desenvolvimento da nova plataforma, passando a BVMF a deter total independência e autonomia para, inclusive, comercializá-la em determinadas regiões sob determinadas
condições.
Para a completa implementação de todas as etapas da nova plataforma, incluindo-se a aquisição de toda a tecnologia e propriedade intelectual a ela inerente, a BVMF estima
realizar investimentos da ordem de US$ 175 milhões (cento e setenta e cinco milhões de dólares) ao longo de 10 (dez) anos, com valor presente de US$ 100 milhões (cem milhões
de dólares).

3. Aumento da participação societária da BVMF no CME


A BVMF elevará sua participação societária no CME dos atuais 1,8% para 5%, igualando-se ao nível da participação societária que o CME detém na BVMF.
O investimento que a BVMF realizará é de aproximadamente US$ 620 milhões (seiscentos e vinte milhões de dólares), e deverá ser aprovado por Assembléia de Acionistas da BVMF a
ser oportunamente convocada. Dessa forma, somado à participação já detida, o investimento total da BVMF no CME passará a ser da ordem de US$ 1 bilhão (um bilhão de dólares)
a valor de mercado presente, e ficará sujeito a lockup até 26 de fevereiro de 2012, mesmo prazo a que está sujeito o investimento cruzado original das partes.

4. Participação da BVMF no Conselho de Administração do CME


Para a plena consecução dessa nova parceria, CME e BVMF cuidarão para que seus respectivos acionistas aprovem a inclusão de um representante de cada bolsa em seus Conselhos
de Administração. Assim, mantidos os investimentos recíprocos mínimos, cada bolsa terá um representante no Conselho da outra.

5. Outras Oportunidades Conjuntas


(i) Operações com Derivativos de Balcão – Cooperação Mútua em Serviços de Contraparte Central – BVMF e CME explorarão oportunidades mútuas de desenvolvimento de seus
serviços de contraparte central para os mercados derivativos de balcão. Tais oportunidades poderão incluir acordos de compensação, administração de margens de garantia
e o uso da tecnologia e do know-how do sistema CME ClearPort® para o registro, a liquidação e o gerenciamento de risco de operações com derivativos de balcão.
(ii) Sistema Multilateral de Roteamento de Ordens e Distribuição de Market Data – BVMF e CME desenvolverão, em conjunto, sistemas multilaterais de roteamento de ordens
e/ou distribuição de dados de mercado (market data) envolvendo os mercados de ações e derivativos de bolsas globais que sejam, atual ou futuramente, suas parceiras.

6. Prazo
A presente Parceria Estratégica Preferencial Global tem prazo inicial de 15 (quinze) anos, com realinhamento dos seus aspectos estratégicos e comerciais no 5º e 10º aniversários.
Dentro desse prazo, ela permanecerá em vigor enquanto uma bolsa detiver, na outra, investimento mínimo de 2% (dois por cento) do capital social da investida.

7. Expansão e Internacionalização do Segmento de Ações (equities)


A presente parceria com o CME, e o desenvolvimento de uma nova plataforma de negociação Multi-Mercado, que representa o estado da arte em termos de tecnologia, garantirá
à BVMF as melhores condições para suportar o aumento do fluxo de ordens que vem ocorrendo não apenas em face da expansão e do desenvolvimento do mercado de capitais
no Brasil mas, também, em face do potencial aumento do fluxo decorrente do sistema de roteamento de ordens que a NASDAQ OMX está desenvolvendo para que intermediários
americanos (broker dealers) conectados a esse sistema possam enviar ordens de compra e de venda de ações negociadas na BVMF, e para que corretores brasileiros também
conectados a esse sistema possam enviar ordens de compra e de venda de ações negociadas na NASDAQ OMX.
Nesse sentido, esta parceria consolida as iniciativas da BVMF para oferecer aos seus usuários o melhor sistema de negociação disponível em termos de segurança, conectividade e
velocidade, assegurando uma sólida base tecnológica para o desenvolvimento do mercado de ações brasileiro.

São Paulo, 11 de fevereiro de 2010

Edemir Pinto Carlos Kawall Leal Ferreira


Diretor Presidente Diretor Executivo Financeiro,
Corporativo e de Relações com Investidores
10 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

OPINIÃO

Marcelo Mariaca Bill Fischer CARTAS


Presidente da Mariaca e professor da Professor do programa Technology O LEVIATHAN DO PT - ARTIGO DE ROBERTO FREIRE
Brazilian Business School Management, no IMD Brilhante a matéria do colunista, pois caso a senhora
Dilma ganhe a eleição estaremos de volta ao
totalitarismo, so que agora de esquerda reacionária
e corrupta e sindicalismo de pelegos.
Henio Ledo
Limeira (SP)

Excelente Opinião. Concordo em gênero, número


e grau. Infelizmente os cidadãos brasileiros em geral
Bônus na mira Lições do recall não sabem o que significa prática política e não
conhecem seus direitos e obrigações. O objetivo do
PT é agigantar o Estado brasileiro e tomar o espaco
que deveria ser ocupado pela Sociedade Civil.
A proposta do Banco Central de se adotar uma nova le- Por pelo menos duas décadas, a Toyota tem sido a É preciso que cada eleitor tome ciência desses
gislação para a remuneração dos executivos do setor maior referência da manufatura. O “jeito” Toyota tem objetivos do PT e responda nas urnas neste ano.
financeiro está em linha com discussões iniciadas em sido uma espécie de ‘caminho para o sucesso’. Seu Devemos trabalhar para a redução do Estado
reuniões com o G-20 e em iniciativas mais concretas, perfeccionismo, rigorosas expectativas de qualidade, a brasileiro e criar mais espaços para a iniciativa
privada. Quanto menos Estado, melhor.
como as colocadas em prática pela França depois da promessa de “tranquilidade” ao comprador de que o Celso
eclosão da crise mundial. Já no início do século, quan- carro estará livre de problemas e uma cultura organi- São Paulo (SP)
do começaram pipocar escândalos corporativos, os zacional que cumpriu estas promessas inúmeras vezes,
elevados bônus pagos aos executivos em decorrência são tarefas que a Toyota realizou melhor do que qual- Desespero de causa, Roberto Freire?
de resultados de curtíssimo prazo, obtidas por meio de quer outra empresa no planeta. A Dilma está chegando.
Carlos Alberto
estratégias agressivas, começaram a ser vistos como Na verdade, se refletirmos, fica claro que, dado o Recife (PE)
uma ameaça à saúde econômica das organizações no estado lastimável da indústria de automóveis, a
longo prazo. A discussão aprofundou-se com a crise. Toyota continua sendo referência. Apesar do recall O ETANOL ESTÁ PRONTO PARA SER
No Brasil, a proposta do Banco Central tem sido vis- de milhões de veículos — aparentemente o maior do COMMODITY? ARTIGO DE RICARDO GALUPPO
ta pelos próprios banqueiros como excesso de zelo, gênero na história — a Toyota ainda se destaca na in- Acredita-se que só a partir de abril será regularizada
a oferta de etanol, o que permitiria a formação
uma vez que nossas instituições financeiras são reco- dústria por fabricar carros que funcionam e por suas dos estoques reguladores como forma de enfrentar
nhecidamente mais conservadoras e cautelosas que inovações que certamente moldarão nosso futuro. a próxima entressafra da cana. Com a demanda
suas congêneres norte-americanas, por exemplo. No entanto, a Toyota fracassou em sua busca pelo mundial dos biocombustíveis e sua rápida expansão,
Além disso, as instituições brasileiras já começaram a crescimento, pois se esqueceu de dar atenção ao seu através do forte apelo ambiental, vale fomentar
fazer ajustes de forma espontânea, como anunciou o conhecimento adquirido. e implementar, além de uma política de estoques
Itaú-Unibanco recentemente. reguladores, outras medidas inovadoras e
reguladoras como a introdução de alternativas de
Apesar de serem bem-vindas práticas que desesti- matéria prima para a produção do álcool. O etanol
mulem os executivos a assumir riscos excessivos, a Dado o estado lastimável da poderá vir do Nordeste brasileiro por meio do cultivo
realidade mostra que os pacotes de remunerações e utilização do sorgo doce ou sacarino para produção
sempre foram um dos principais motores para atrair indústria de automóveis, a Toyota de álcool como alternativa para promover
talentos e motivar os executivos a buscar cada vez mais continua sendo referência - apesar a segurança do abastecimento e o equilíbrio
do mercado. Pesquisa e desenvolvimento
resultados melhores. Nas épocas de crise, as empresas do recall de milhões de veículos é o caminho para o progresso.
pisam no freio, movidas pelo instinto de sobrevivência Paulo Cesar Bastos
e senso de responsabilidade. Mas tão logo voltam os Salvador (BA)
tempos de bonança e a competição se acirra, elas vol- Segundo Paul Ingrassia, autor de um livro sobre a
tam a acelerar e desenvolvem pacotes mais atraentes. indústria automobilística chamado Crash Course, DIEESE DEFENDE REDUÇÃO DE JORNADA
SEMANAL PARA 40 HORAS
A novidade é que as organizações perceberam que um conhecimento que a Toyota deixou de lado foi Porque na nova emenda não se trabalha em um
não podem continuar a incentivar recompensas por “nunca construa... um novo produto, em uma nova modelo misto, em que as 4 primeiras horas extras não
resultados de curto prazo ou por decisões baseadas em fábrica, com mão de obra nova”. Estes três “nuncas” tenham custo acima do normal, as 16 horas seguintes
risco excessivo, que comprometem a sustentabilidade oferecem uma interessante percepção de como as 50% e depois 75%. O artigo fala em produtividade,
do negócio e abrem espaço para a prática de desvios organizações devem combinar o “saber” com seu mas muito do aumento veio da tecnologia e não das
éticos, como a manipulação de balanços e do preço de “crescimento” para terem sucesso no mercado glo- pessoas. O empregado brasileiro tem baixa
produtividade comparados
ações. Ressalve-se que não cabe ao governo intervir na bal. À medida que adentramos uma era de intenso com os da alemanha e dos EUA. Aqui é comum
gestão das empresas, como, por exemplo, impor limi- conhecimento, não é de se estranhar que “o saber” o retrabalho ou a falta de qualificação (até porque o
tes aos salários do executivo. A política de recompen- se tornará tão importante, se não mais, do que “o fa- patrão investe e depois o empregado vai embora e
sas é uma prerrogativa de cada empresa. Além do mais, zer”. Saber o que fazer, como fazer e para quem fa- fica por isso mesmo). O debate deve ser mais amplo.
limitar recompensas pode desestimular a inovação e o zer, será a chave para o sucesso. Será uma questão de Os empregados têm de parar de pensar em trabalhar
risco, que são pilares inabaláveis do empreendimento e saber mais do que as outras organizações e descobrir menos e ganhar mais e partir para o trabalhar mais e
ganhar mais. E trabalhar mais não significa uma mairo
do sucesso empresarial. como chegar a esse conhecimento. número de horas mas uma qualidade maior e uma
A situação da Toyota foi comentada por dois profes- maior produtividade. E mais, o governo deve parar de
sores do IMD, Bala Chakravarthy e Peter Lorange, no assaltar os trabalhadores com encargos altissimos e
Os bônus pagos em decorrência de livro Profit or Growth: Why You Don’t Have to Choose. incentivos a baixa produtividade. Pois no fim não nos
enganemos, quem paga a conta é a sociedade como
Os autores argumentam que as empresas que têm in-
resultados de curto prazo começaram tenção de crescer — e não somente de se proteger e de- um todo. Ou por produtos mais caros ou pelo alto
a ser vistos como ameaça à saúde fender posições no mercado — podem se expandir ao
grau de informalidade. Para o país é melhor menos
burocracia e mais competitividade. Assim os preços
econômica de empresas no longo prazo abrirem novos mercados ou oferecerem novas compe- caem e a sociedade tem um retorno maior.
tências, mas não ao mesmo tempo! Claramente, esta é Ricardo Martins
uma maneira alternativa de citar os três “nuncas” da Salvador (BA)
ETANOL
Uma das considerações óbvias é a necessidade de Toyota. Outra ainda é dizer que o crescimento global é
Na reportagem sobre Biocombustível do jornal Brasil
maior transparência e informação sobre os salários dos baseado no que você sabe e em, seletivamente, adqui- Econômico de ontem, existe uma coluna com
executivos, para que os acionistas possam avaliar se o rir novos conhecimentos. o seguinte título “Entenda: O que quer dizer etanol
que se paga aos gestores corresponde de fato ao seu de- É muito difícil emplacar a globalização bem suce- de primeira e segunda geração”, que explica
sempenho. Outra necessidade é evitar que os resulta- dida sem a garantia de algum conhecimento que dê a sucintamente biocombustíveis de segunda geração
dos de curto prazo sejam o fator preponderante na de- sua organização uma base para tirar vantagem. Tal- e etanol de segunda geração. Espera uma explicação
mais didática e um pouco mais completa.
finição da política de gratificações. vez a resposta seja se apoiar na oferta de produtos já Guilherme Saldanha
O mecanismo de stock options continua a ser uma existentes em novos mercados, ou então, seja fabri- São Paulo (SP)
boa prática, pois compromete o executivo com o de- car novos produtos em fábricas já existentes, com
sempenho do negócio, mas precisa de certos ajustes. mão de obra experiente, ou talvez seja empregar Cartas para Redação - Av. das Nações Unidas, 11.633 –
O executivo é um acionista diferente daquele que in- uma equipe de gerentes e funcionários experientes 8º andar – CEP 04578-901 – Brooklin – São Paulo (SP).
veste sua poupança no negócio. Em muitos casos, ele para resolver novos problemas em um mercado já redacao@brasileconomico.com.br
se comporta como acionista de curto prazo, interes- existente. O importante é sempre manter algo fami- As mensagens devem conter nome completo, ende-
reço e telefone e assinatura. Em razão de espaço ou
sado nos ganhos imediatos e resultados trimestrais, liar ao embarcar para algo novo. Contrariar isso é clareza, BRASIL ECONÔMICO reserva-se o direito de edi-
enquanto os outros acionistas vislumbram um hori- correr o risco de seguir o caminho errado para o su- tar as cartas recebidas.
zonte maior. ■ cesso, como fez a Toyota. ■ Mais cartas em www.brasileconomico.com.br.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 11

Henrique Manreza

Otimismo em São Paulo


A confiança do consumidor paulistano continuou a subir em fevereiro
e permaneceu em patamar recorde, segundo a Fecomercio (Federação
do Comércio do Estado de São Paulo). O ICC (Índice de Confiança do
Consumidor, ligado à percepção que pessoas fazem de emprego e de
renda) medido pela entidade aumentou 0,2% na comparação com janeiro,
para 159,0 pontos, avanço de 19,7% em relação a fevereiro de 2009.
No levantamento, resultados acima dos 100 pontos indicam otimismo.

Acesso à cultura, nosso maior desafio Andriy Petrenko/Dreamstime

Antoninho Marmo Trevisan


Empresário, educador e integrante do Conselho
de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES)

Economia forte, instituições po- Se as crianças


líticas sólidas e boas perspecti-
vas colocam o Brasil na posição sonharem em ganhar
de uma das nações mais promis- livros com o mesmo
soras do mundo neste começo ardor com que
de ano. No entanto, o pouco
acesso à cultura continua a ser desejam bonecas
um dos nossos pontos frágeis. ou pistolas de
Estas são as constatações que brinquedo, estaremos
podemos subtrair dos levanta-
mentos feitos pela revista Inter-
mais próximos da
national Living, publicação construção de um
americana que, desde o começo país melhor. Não há
da década, elabora a medição
informal do índice de desenvol-
riqueza maior do
vimento humano (IDH) de qua- que o conhecimento
se 200 países. Em 2010, os pri-
meiros colocados são, respecti-
vamente, França, Austrália,
Suíça, Alemanha, Nova Zelân-
dia, Luxemburgo, Estados Uni-
dos, Bélgica, Canadá e Itália.
O Brasil aparece em 38º -
nada mal, tendo em vista que fo-
ram 194 avaliados, mas ainda as-
sim numa posição menos honro-
sa que a do Uruguai (19º lugar),
da Argentina (26º) e do Chile
(31º). Nossas melhores pontua- A mesma pesquisa revela que problema é a expansão do nú- mercial, eles só são lembrados,
ções ocorreram nos quesitos de o uso da internet foi maior entre mero de bibliotecas públicas em boa parte dos lares brasilei-
liberdade e segurança (foram os mais jovens. No grupo de 15 a pelo País. Hoje, ainda faltam ros, quando os pais recebem a
analisados riscos de guerra e de 17 anos, por exemplo, a internet bibliotecas em mais de 300 lista de material escolar no iní-
ataques terroristas, e não a ques- é usada constantemente por municípios brasileiros. O de- cio do ano. Dessa forma, trans-
tão da violência urbana). Nossos 62,9% dos jovens. A seguir, vem safio de zerar esse déficit deve formam-se em símbolos da
piores desempenhos foram em o grupo de 10 a 14 anos de idade, ser encarado como uma dívida obrigação e da rotina, e deixam
infraestrutura e acesso à cultura. no qual 51,1% da população tem histórica, por todos nós. de ser identificados com aquilo
acesso à rede. Já o grupo de 50 Além de disponibilizarem li- que eles são de fato: compa-
Os jovens e a internet anos ou mais é o time dos des- vros variados para todos os tipos nheiros para todas as horas,
O que a International Living fez conectados, com uma partici- de público, as bibliotecas fun- principalmente as de lazer.
foi tabular aquilo que constata- pação de apenas 11,2%. cionam, principalmente nas ci- Transformar os livros em
mos na prática. O Brasil é um O uso do celular também está dades de menor porte, como es- objeto de desejo é uma missão
país que incorporou os valores cada vez mais difundido. Cerca paços importantes para a aqui- que deve ser encampada por
democráticos e que pratica a to- de 53,8% da população de dez sição da cultura e o exercício da toda a sociedade. Eles são ini-
lerância, mas ainda tem muitas anos ou mais de idade tinham arte e da criatividade. Salas são gualáveis na sua posição de ali-
lacunas a preencher. Na área de telefone celular para uso pessoal aproveitadas para cursos de tea- mentadores de corações e men-
infraestrutura, um dos nossos em 2008, segundo o IBGE. tro, música e artesanato, e tes. E é importante trabalhar
calcanhares de aquiles, estamos aquelas que recebem equipa- essa questão com uma ênfase
investindo fortemente, mas con- Faltam bibliotecas mentos para projeção se con- bastante grande junto às crian-
tinuamos distantes dos padrões Tudo isso indica que estamos vertem em pequenos cinemas. ças e aos adolescentes. Coloco
que nos permitiriam suprir nos- acompanhando o restante do Graças ao ambiente aconche- ênfase nos mais jovens porque é
sas demandas por energia, rodo- mundo em seu ganho de velo- gante e convidativo, as bibliote- justamente nos primeiros mo-
vias, ferrovias, hidrovias e fluxo cidade e no encurtamento de cas são opções excelentes para o mentos da vida que as pessoas
portuário. Em habitação, nosso distâncias. Mas é triste saber convívio de crianças e de jovens despertam para o novo e come-
déficit é de aproximadamente 7 que o interesse pelas novas que, sem essa alternativa, aca- çam a cultivar os valores e as
milhões de moradias. tecnologias não se faz acom- bariam ficando horas e horas na crenças que irão acompanhá-
No âmbito da Educação e da panhar por um embasamento rua, expostos a toda sorte de las pelo resto de suas vidas.
Cultura, é sabido que o Brasil su- intelectual que, no mínimo, riscos e estímulos negativos. Se as crianças sonharem em
perou problemas antigos, como tornariam mais interessantes e Infelizmente, porém, ainda ganhar livros com o mesmo ar-
a falta de acesso à escola. Além enriquecedoras as palavras nos falta trabalhar o apreço dor com que desejam as pistas
disso, segundo o IBGE, em 2008, que atravessam os caminhos pelo livro com a ênfase que ele de corrida, as bonecas e até as
56 milhões de pessoas de dez de fibra ótica... mereceria. Talvez porque os li- pistolas de brinquedo, estare-
anos ou mais de idade acessaram Temos que nos empenhar no vros não sejam promovidos por mos mais próximos da constru-
a internet pelo menos uma vez combate à má qualidade do meio de comerciais na televi- ção de um país melhor. Pois não
por meio de um computador. ensino e favorecer o acesso à são, nem tenham, por trás de- há riqueza maior do que o co-
Esse número equivale a 34,8% cultura. E um bom começo les, importantes marcas licen- nhecimento, e é desse tesouro
da população nessa faixa etária. para o enfrentamento desse ciadas a reforçar seu apelo co- que o Brasil mais precisa. ■
12 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

BRASIL

Ficha Limpa avança


com prisão de Arruda
Câmara discute projetos que restringem candidaturas de condenados pela Justiça

Sílvio Ribas Já há oito pedidos de Habeas corpus negado


sribas@brasileconomico.com.br Arruda precisou mudar sua ETAPAS DA INTERVENÇÃO
impeachment contra agenda no carnaval para aten-
A prisão do governador do Dis- o governador preso der a Justiça. Ontem, o minis- Fatos que podem levar à
trito Federal, José Roberto Ar- e quatro contra o tro Marco Aurélio Mello, do Su- nomeação de um interventor
ruda (sem partido), decretada premo Tribunal Federal (STF), para governar o Distrito Federal
na quinta-feira pelo Superior
governador interino, negou o pedido de habeas cor-
Paulo Octávio 1 O pedido de intervenção federal feito na
Tribunal de Justiça (STJ), deverá pus do governador. Com isso, quinta-feira pela Procuradoria-Geral da
reforçar o debate no Congresso ele continua na Superinten- República (PGR) seguiu a decisão do Superior
sobre mudanças na legislação dência da Polícia Federal, em Tribunal de Justiça (STJ) de decretar prisão
eleitoral para endurecer as re- Brasília, até a quarta-feira, preventiva do governador José Roberto Arruda
(sem partido) e de mais quatro envolvidos na
gras de inelegibilidade. Um com o fim do feriado. Sua pri- suposta tentativa de suborno ao jornalista
grupo de trabalho já foi instala- são deve-se ao fato de ter sido Edmilson Edson dos Santos, o Sombra
do na Câmara com o propósito acusado de tentar subornar
de consolidar 14 propostas, en- uma testemunha do esquema 2 O Ministério Público pediu a prisão preventiva
do governador porque ele tentou obstruir as
cabeçadas pelo projeto de ini- de corrupção que atingiu o go- investigações. O comprometimento dos três
ciativa popular (PLP 518, de verno distrital. Arruda pediu poderes e “indícios fortíssimos de esquema
2009), chamado de Ficha Lim- licença do cargo de governador criminoso de apropriação de recurso público”
pa, que barra candidatura de para a Câmara Legislativa na justificaram o pedido do procurador-geral da
República, Roberto Gurgel
políticos condenados pela Justi- quinta-feira, após o STJ decre-
ça em primeira instância. tar sua prisão preventiva. Com 3 O presidente do Supremo Tribunal Federal
O deputado Índio da Costa isso, o vice Paulo Octávio (STF), Gilmar Mendes, concedeu na própria
(DEM-RJ), relator do grupo que (DEM) assumiu o governo. quinta-feira prazo de cinco dias para que o
Executivo local se manifestasse sobre o pedido
analisa o Ficha Limpa (PLP A maior crise política da his- de intervenção. O prazo para que o governo
518/09) e as outras 13 propostas tória do Distrito Federal, inicia- apresente defesa começará a ser contada a
que tramitam em conjunto, res- da em novembro, é conhecida partir do momento em que sua Procuradoria
salta que, mesmo se forem como Mensalão do DEM. for oficialmente comunicada
aprovadas este ano, as mudan-
4 O pedido de intervenção deve ser analisado
ças só valerão a partir das elei- Novas reações pelo plenário do STF em data a ser definida.
ções municipais de 2012. A pre- O presidente Luiz Inácio Lula da Enquanto isso, o vice-governador, Paulo
visão é de que o texto final seja Silva disse ontem esperar que a Octávio (DEM), exercerá a função de chefe do
Executivo. Se o Supremo aceitar a intervenção,
votado em plenário até o fim de prisão de Arruda “sirva de caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva
março. Mesmo que proposta exemplo para que não possa nomear um interventor. O decreto deverá ser
fixe a validade das regras para as mais se repetir em lugar ne- referendado pelo Congresso num prazo de até
eleições de 2010, o Supremo nhum”. “Precisamos ser mais 24 horas. “Quando há intervenção, toda linha
sucessória desaparece (vice-governador,
Tribunal Federal (STF) teria de duros com a corrupção, com o seguida dos chefes do Legislativo e Judiciário)
ser consultado sobre a constitu- corrupto e com o corruptor”, desaparece”, disse o procurador
cionalidade da aplicação da lei comentou Lula, que aprovou o
este ano. De acordo com a gesto de Arruda ter se entrega- Fontes: STF e STJ
Constituição Federal, leis que do, evitando o constrangimento
alterem o processo eleitoral só PROPOSTAS DE LEI de sair de casa algemado.
são aplicadas um ano após o iní- Para o presidente nacional da
cio da sua vigência.
O presidente da Câmara, Mi-
14
é o número de projetos de lei
Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Ophir Cavalcante, o pe-
chel Temer (PMDB-SP), solici- que tramitam na Câmara no dido de intervenção federal tem
tou ao grupo de trabalho que vai sentido de endurecer as regras todos os fundamentos necessá-
analisar os projetos sobre inele- de inelegibilidade para os rios, a fim de sanar a “desorga-
gibilidade que cheguem a uma candidatos nas próximas eleições. nização institucional” e a “ver- TRÊS PERGUNTAS A...
proposta de consenso até mea- dadeira desordem política” no Camila Martins

dos de março, para colocá-la ESFORÇO COLETIVO Distrito Federal.


em votação. O Ficha Limpa re- A mesa diretora da Câmara
cebeu mais de 1,3 milhão de as-
sinaturas e prevê inelegibilidade
1,3 milhão
foi o total de assinaturas obtidas
Legislativa decidiu ontem ana-
lisar após o carnaval três pedi-
por oito anos após condenação pelo movimento que levou dos de impeachment contra o
em primeira instância e inclui ao projeto de lei de iniciativa governador, de oito que a casa já
dispositivos à legislação eleito- popular na pauta da Câmara, recebeu até o momento. Na
ral (Lei Complementar 64, de chamado de Ficha Limpa. quinta-feira, a Comissão de
1990). Entre eles, um prevê que Constituição e Justiça (CCJ) de-
parlamentares que cometerem DETENÇÃO TEMPORÁRIA verá aceitar pedidos de investi- ...ANTONIO FLÁVIO TESTA
quebra de decoro se tornarão gação de Arruda por crime de
inelegíveis mesmo se renuncia-
rem para evitar a cassação.
5 dias
é o período inicial da prisão
responsabilidade. Ontem, mais
quatro pedidos de impea-
Cientista político e pesquisador
da Universidade de Brasília (UnB)
Apesar da abertura , os líderes preventiva do governador José chmeant foram endereçados ao
partidários acham mais ade- Roberto Arruda, iniciada na governador interino. Os pedi- Caos político tende
quado impedir a candidatura última quinta-feira e confirmada dos sequer foram analisados,
dos que foram condenados só pelo Supremo Tribunal Federal. devido ao envolvimento da dez
a se agravar em caso
em segunda instância. parlamentares nos casos. ■ de intervenção federal
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 13

Divulgação

Lula pede e Meirelles deve seguir no BC COBRANÇA


O presidente Lula deveria se
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um evento em Goiânia reunir com opositores e
para deixar claro seu desejo de que Henrique Meirelles permaneça à defensores dos direitos humanos,
frente do BC até o final de seu mandato. “Da última vez não apenas com as autoridades,
que eu vim aqui, eu citei o nome do Meirelles e deu um bafafá danado. durante a viagem que fará ao
Desta vez, eu já não vou citar mais. Desta vez, eu disse ‘Meirelles fica Irã em maio, considerou ontem
no governo até o final, cumpra o seu mandato comigo até o final’”, a prêmio Nobel da Paz de 2003,
disse o presidente ao lado de Meirelles, em evento na capital de Goiás. a advogada iraniana Shirin Ebadi.

Celso Junior/AE

Arruda, preso na quinta-feira por tentar subornar


o jornalista Edmilson dos Santos, o Sombra,
testemunha do esquema de corrupção no DF

Qual o impacto político da O próprio ministro Marco Aurélio governador e deputados. para o brejo. Não só porque seriam
prisão do governador Arruda? Mello, do Supremo Tribunal Em 2002, o presidente Fernando investidos milhões em espetáculos, Festa dos 50 anos de
O fato abre espaço para muitas Federal, que sempre foi apegado Henrique Cardoso recebeu pedido mas porque o mal-estar provocado
leituras. A prisão do governador à formalidade técnica, reforçou para intervir no Espírito Santo pelos escândalos políticos tira o Brasília sofre perdas
(sem partido) pela Polícia Federal hoje (ontem) os argumentos e resistiu à ideia. Desta vez, brilho da festa. Os preparativos do governo
tem impacto simbólico para manter o chefe do Executivo também dificilmente o presidente É uma pena porque o sonho de do Distrito Federal para a
importante em favor da busca preso até o fim do Carnaval. Lula vai assumir a tarefa Juscelino Kubitschek se tornou comemoração dos 50 anos de
da ética na política, além de nomear um interventor. realidade e o desenvolvimento Brasília, no próximo dia 21 de
de representar um recado O senhor acredita que haverá O prejuízo político agora seria do Brasil foi interiorizado graças abril, sofreram o duro impacto
do Judiciário ao Executivo intervenção federal no DF? ampliar o caos. Por mais íntegro à nova capital. O brasiliense é um dos escândalos que atingiram
e Legislativo. Mas é bom lembrar A história recente mostra o quão que seja o nome indicado por cidadão orgulhoso das conquistas o Executivo e o Legislativo.
que Arruda foi preso por cometer dramático é para o Planalto Lula, ele pouco pode fazer do Distrito Federal, que tornou A programação deveria incluir
um crime comum (suborno) intervir em um ente da Federação. até dezembro, deixando a capital o Centro-Oeste a região mais rica atrações internacionais, como
ao tentar obstruir a Justiça. No caso de Brasília, a intervenção do país sem comando. do país, se considerar o aspecto o ex-beatle Paul McCartney,
Ao cometer esse grande vacilo, federal seria um duro golpe da renda per capita. Uma solução mas perdeu fôlego e deverá
ele entregou de bandeja para na autonomia do Distrito Federal, A festa do cinquentenário para esse problema seria o ter apenas artistas nacionais.
o Superior Tribunal de Justiça conquistada em 1990, com de Brasília está arruinada? próprio presidente Lula assumir Obras de revitalização também
os argumentos para sua prisão. a primeira eleição direta de A comemoração histórica já foi a celebração do cinquentenário. desaceleraram este ano. S.R.
14 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

BRASIL

JF Diorio/AE Itaci Batista/AE

Carlos Melo Tribunais têm acesso à lista PERFIL DAS CONDENAÇÕES


Cientista político, professor de condenados por
do Insper. Autor de Collor, improbidade administrativa ● Do cadastro do CNJ, 524 dos
o Ator e suas Circunstâncias condenados responderam por
enriquecimento ilícito em função
de ocupar função pública.

● Tiveram 963 condenados por


ação ou omissão que resultou

A lição de Arruda em prejuízo aos cofres públicos.

● E 1.027 pessoas foram


condenadas por violar
Durante mais de três meses, a sociedade acompanhou, princípios da administração
em horário nobre, cenas estarrecedoras: montes de di- pública, como: honestidade,
nheiro, provindos da corrupção, eram vistos transpor- imparcialidade, legalidade,
tados em sacolas, nas calças e nas meias de agentes pú- e lealdade às instituições.
blicos, eleitos pelo povo. Tudo isto, pelo menos apa-
rentemente, coordenado pelo próprio governador,
operado por um secretário de Estado e com a partici-
pação de deputados distritais. Alguns foram até mes-
mo capazes de entoar cânticos e orações de graças. Um
verdadeiro escárnio era transmitido à nação a partir do
governo do Distrito Federal.
A corrupção não é novidade na política e muito me-
nos por estas bandas, infelizmente. Há um sentimento
difuso de que política é assim mesmo. Mas, para usar
um clichê contemporâneo, “nunca na história deste
país”, foi noticiada com tanta crueza, clareza e riqueza
de detalhes, nunca foi negada com tanta desfaçatez e
hipocrisia. Ainda que essas cenas não surpreendam, o
fato é que a sociedade, mais que indignada, está cansa-
da. Mais que horrorizada, apática.
Um sentimento de impotência se estabelecia e isto
era o pior de tudo. No regime republicano, os poderes
se controlam, estabelecem um equilíbrio capaz de não
permitir que ninguém possa exorbitar o poder que lhe
foi conferido. Mas, a tese da República se mostrava
desmoralizada. A Câmara Distrital, instrumento ade-
quado para apuração dos fatos e punição dos responsá-
veis estava envolvida.
Tal era o poder do governador que, dentro da lógica
do esquema montado, nada o atingiria; um sistema
voltado para si, imune e autoprotegido. O mundo gira-

Cadastro reúne 643


ria, os cães ladrariam e a “caravana” passaria ao largo
de tudo. A construção de maiorias parlamentares nem
sempre serve apenas para sustentar governabilidade e
aprovar projetos. Serve também, em alguns casos,

prefeitos condenados
para blindar, como biombo, proteger, acobertar.
Quando instrumentos típicos da política institucio-
nal não bastam; quando se perde a capacidade de ação,
quando se esvai o sentido nobre da política junto com a
esperança de justiça, todos perdem, ou melhor, só a
malandragem ganha. Em momentos assim, descrê-se CNJ vai publicar lista de 2.514 Claudio Abramo, da CNJ, que fez a proposta ao órgão.
de tudo; a própria sociedade perde seu sentido coletivo condenações por improbidade Mas, nas condições aprovadas
e os indivíduos passam a ignorar que vivemos em gru- administrativa, mas preservará
Transparência Brasil, pelo CNJ, o cadastro público não
po. Incorreta, mas justificadamente, consolida-se o nomes dos acusados questiona utilidade vai disponibilizar o acesso aos
sentimento de que política é coisa para malandros. do cadastro sem nomes dos condenados. Assim,
Daniel Haidar se alguém quiser saber quem já
dhaidar@brasileconomico.com.br
que seja divulgado foi condenado por improbidade,
Claro que os envolvidos têm direito o nome dos terá que anotar o número do
à defesa; e eles o farão, como Ao menos 643 prefeitos ou ex- condenados processo da condenação (dispo-
prefeitos cumprem atualmen- nível ao público no cadastro) e
a Justiça entender e determinar. te punições por improbidade consultar, processo por proces-
Mas não será por meio de “esquemas” administrativa. so, no site de cada tribunal res-
É o cargo público com o ponsável pela sentença, quais são
maior número de citados no Ca- os nomes dos condenados.
Em virtude disto tudo e como uma forma de com- dastro Nacional de Condenados “Isso pode ser interpretado
bate a isto é que, hoje, a sociedade deve louvar e agra- por Ato de Improbidade Admi- como intenção do CNJ de ocul-
decer a ação do Ministério Público e a decisão do Supe- nistrativa (CNCIA), do Conse- tar os nomes. Quando alguém
rior Tribunal de Justiça (STJ). Algo precisava ser feito; lho Nacional de Justiça (CNJ). oculta informação, motivo tem.
as instituições tinham que agir de modo a resgatar o Prefeitos ou ex-prefeitos são Por que não colocam? ”, ques-
sentido de sociedade e mesmo da Política, com “P” 25% dos condenados. tiona o diretor-executivo da
maiúsculo. Ao fazê-lo, demonstram que a política é O cadastro lista 2.514 conde- ONG Transparência Brasil,
bem maior que os políticos, o Estado superior aos go- nações em última instância, sem Claudio Weber Abramo.
vernos e isto foi, institucionalmente, importantíssimo. possibilidade de recurso, que fo- Desse jeito, não é possível sa-
Claro que os envolvidos têm direito à defesa; e eles ram feitas desde 2008. O arquivo que administradores públicos ber, por exemplo, se o ex-prefei-
o farão, como a Justiça entender e determinar. Mas é atualizado a cada mês. pudessem consultá-lo para evi- to de São Paulo Paulo Maluf
não será por meio de “esquemas”, da coerção de tes- De todo esse grupo de conde- tar contratar pessoas ou em- consta no cadastro de condena-
temunhas, de sofismas e dissimulações. Na terça- nados, são cobrados R$ 142,3 presas já acusadas de desviar dos por improbidade adminis-
feira, 10 de fevereiro, a democracia e as instituições milhões de ressarcimento inte- recursos ou causar prejuízo aos trativa do CNJ, apesar de ele ter
do Brasil se fortaleceram. Isso é muito bom. Discor- gral de dano ao erário, R$ 26,9 cofres públicos. sido condenado ao menos uma
do do presidente Lula quando diz que “é ruim para a milhões por perda de bens e “Em outro estado e cidade, vez em última instância por esse
política”. Ruim foi o fato de termos deixado chegar a R$169,1 milhões em multas. ninguém fica sabendo disso. Aí o ilícito em um processo que foi
este ponto, bom é que sabemos que as instituições Em tese, a ideia do CNJ ao administrador contrata. Gerava iniciado em 1995 e cuja execução
podem reagir. É esta a lição que devemos levar a res- organizar o cadastro, com base problemas graves para o adminis- do ressarcimento só começou no
peito da prisão do governador José Roberto Arruda, a em decisões comunicadas por trador público e para a Justiça”, ano passado. Procurado, o CNJ
primeira deste tipo a ocorrer no país. Oxalá se cons- juízes de todo o país, era divul- diz o procurador de Justiça Felipe não informou se o ex-prefeito
titua como um precedente. ■ gar as condenações para evitar Locke Cavalcanti, conselheiro do Paulo Maluf está no cadastro. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 15

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16 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

INOVAÇÃO & EDUCAÇÃO SEGUNDA-FEIRA


ENGENHARIA
TERÇA-FEIRA
EMPREENDEDORISMO

O homem que mudou


o ensino de Pernambuco
Marcos Magalhães, do ICE, leva seu método de ensino e gestão para quatro estados

Regiane de Oliveira Pela ética da grama de Desenvolvimento de


roliveira@brasileconomico.com.br Centros de Ensino Experimental INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS
corresponsabilidade, (Procentro), com foco no ensino
Marcos Magalhães é mais co- Magalhães chama médio. O primeiro programa foi Valores
nhecido pelos seus anos de tra- outros agentes implantado em 2004, no Giná- Educação voltada para
balho à frente da Philips no Bra- sio de Pernambuco. o aprimoramento dos valores
sil. Aposentado desde 2007, sociais, como do aluno, a fim de formá-lo
nem parece que ele trocou o os empresários, a Modelo de ensino com sólida base de iniciativa,
mundo empresarial pela educa- assumirem seu papel O Procentro defende a adoção de liberdade e compromisso.
ção. O engenheiro pernambu- políticas de educação integral,
cano traduz com facilidade para na transformação em que o aluno fica na escola das
a linguagem econômica os pro-
blemas que a falta de qualidade
da realidade 7h30 às 17h. A principal diferen-
ça de outros programas de me-
Protagonismo
Visa formar jovens por meio
da educação trouxeram ao país. lhoria da educação é a constata- de práticas e vivência, na escola
Magalhães fundou o Instituto ção de que só a parceria entre os e na comunidade, que o levem
de Corresponsabilidade pela Edu- setores público e privado pode a atuar como parte da solução,
cação (ICE) para mobilizar a ini- levar à real melhoria do ensino. O e não do problema social,
ciativa privada a produzir solu- estado entra com a estrutura físi- pelo exercício da cidadania ativa.
ções educacionais inovadoras e ca das escolas e com professores
replicáveis, “O brasileiro tem em pré-qualificados, além de atuar
média sete anos de escolaridade,
enquanto a China tem 12, e a
como cogestor do projeto. O ICE
mobiliza a comunidade local,
Trabalho
O conceito da “cultura da
Coréia do Sul, 17. Isso reflete no inclusive empresários, oferece trabalhabilidade” tem como
PIB per capita desses países, por infraestrutura específica, como objetivo capacitar o jovem
exemplo”, afirma. bibliotecas, e novas tecnologias a compreender, inserir-se
Não são poucos os exemplos em conteúdo, método e gestão. e atuar no mundo do trabalho.
que Magalhães conta nos quais Essas ações têm dois focos: res-
a educação atrapalha a econo- gatar a dignidade do professor e
mia. É o caso de um estaleiro
em Pernambuco onde, de cada
também a do aluno carente.
Hoje, o projeto atende 103
Iniciativa
O empreendedorismo juvenil
mil jovens que se candidata- escolas em Pernambuco, 58 no visa desenvolver a capacidade
vam, apenas 30 tinham conhe- Ceará, 22 no Piauí e 3 em Sergi- de autogestão e cogestão
cimento mínimo de língua por- pe. “Deveríamos ativar mais de seu potencial, na
tuguesa e matemática. três no Maranhão, mas as mu- transformação, da realidade.
São os legados do tempo impe- danças políticas obrigam a co-
rial, diz Magalhães. “O Brasil foi o meçar tudo de novo.”
último país da América Latina a
ter uma universidade”, lamenta.
A meta é chegar a 160 escolas
em Pernambuco neste ano, au-
Associação
Com base no associativismo
O reflexo disso é um atraso tecno- mentar uma unidade no Ceará , juvenil, o programa busca
lógico que compromete o cresci- outras quatro no Piauí e uma em proporcionar variadas formas de
mento do país. “Os jovens fogem Sergipe. “Em Pernambuco, o auto-organização com objetivos
dos cursos de ciências e tecnolo- projeto anda sozinho e esse é sociais, esportivos e ambientais.
gia não por falta de interesse, mas nosso objetivo. Temos até uma
porque sabem que não têm con- unidade dentro da Secretaria de
dições de acompanhar”, diz.
Este cenário não é novidade,
Educação para cuidar do Pro-
centro”, explica Magalhães. ■
Prática
As práticas e vivências dos
afirma Magalhães. A diferença é alunos visam desenvolver
decidir fazer algo a respeito. competências pessoais e sociais
“Minha atuação começou por PARCERIA necessárias para a realização do
conta de um acaso que virou caso projeto pessoal e projeto social.
e depois causa”, brinca, com IQE trabalha alunos na base, da 1ª à 9ª série
ares de trovador pernambucano. O trabalho do Instituto de é simples: professor ensina,
Após constatar que um colégio
tradicional de Recife estava aban-
Corresponsabilidade pela Educação
(ICE) encontrou no Instituto de
aluno aprende. E se o aluno não Avaliação
A avaliação sistemática
aprende é porque o professor
donado, Magalhães decidiu pro- Qualidade em Educação (IQE) — não sabe”, diz Marcos Magalhães, dos alunos é a estratégia
mover a reconstrução do edifício uma iniciativa também nascida presidente do conselho do IQE. encontrada para adequar
com a ajuda de um grupo de em- no meio empresarial, na Câmara O trabalho no instituto está a prática pedagógica às reais
presários. Trata-se do Ginásio Americana de Comércio a cargo de Horácio Almendra, necessidades dos alunos.
Pernambucano, segunda escola (Amcham) —, a parceria ideal para ex-executivo da CE e Philips,
pública mais antiga do país, fun- o desenvolvimento de projetos. hoje aposentado.
dada em 1825 com o nome de Li- Com a missão de contribuir para A meta é que 75% dos alunos
ceu e reinaugurada pelo próprio a melhoria do processo do ensino dominem 75% dos conteúdos
D. Pedro II, em 1853. O colégio era e da aprendizagem nas escolas ao longo de três anos do projeto.
referência no Nordeste. Nele estu- da rede pública — investindo na Neste período, são formados
daram nomes conhecidos como formação e valorização do professores que irão replicar
Epitácio Pessoa, Ariano Suassuna, educador e na relação da escola a metodologia de ensino, que
Clarice Lispector e, por sorte, com sua comunidade —, o IQE tem tem como foco ensinar a ensinar;
também Marcos Magalhães. seu foco no ensino fundamental, buscar resultados; melhorar a
A reconstrução do edifício le- da 1ª à 9ª série. Mais de 1 milhão gestão e aumentar a participação
vou dois anos e consumiu investi- de alunos, de 3,5 mil escolas social. O programa tem custo
mentos de R$ 3 milhões. Mas fal- participaram do projeto. de cerca de R$ 8 por mês por
tava trazer de volta a qualidade A proposta é avaliar o sistema aluno. “As prefeituras gastam em
pela qual a escola ficou famosa. de ensino do município para média R$ 150 mensais por aluno,
Começou aí a trajetória do Pro- buscar os gargalos. “A dinâmica portanto R$ 8 não é muito.”
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 17

QUARTA-FEIRA QUINTA-FEIRA SEXTA-FEIRA


DIREITO SUSTENTABILIDADE TECNOLOGIA

Murillo Constantino

Magalhães: tudo começou Lélia Chacon


com um acaso, a vontade de Jornalista e editora do site e revista
ajudar uma escola do Recife Onda Jovem, do Instituto Votorantim

Cultura de inovação
começa na escola
O tema da inovação invade cada vez mais as esferas pú-
blica e privada, os meios empresariais e acadêmicos. A
mídia dá destaque, ajuda a fomentar os debates. O inte-
resse crescente evidencia o conceito como uma estraté-
gia para a competitividade em empresas e instituições,
mas inovação precisa ser mais do que isso para resultar
no sonho maior de uma sociedade sustentável, outro
tema que se espraia nos dias de hoje. Inovação tem de
virar cultura, ser cultivada na escola desde cedo.
O que significa criar uma cultura de inovação na es-
cola? Iniciativas como a da Feira Brasileira de Ciências
e Engenharia (Febrace), evento da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, dão uma boa pista. Este
ano, de 9 a 11 de março, acontece a 8ª edição da mostra
no campus da USP, reunindo projetos de alunos do en-
sino fundamental, médio e técnico. São estudantes de
13 a 20 anos, das escolas pública e particular.

Em vez de dar apenas respostas,


instigar o aluno a formular
mais perguntas, o motor de uma
cultura de inovação, ensina
a pensar e a desenvolver hipóteses

A coordenadora-geral da Febrace, professora douto-


ra Roseli de Deus Lopes, resume a iniciativa como uma
provocação para fomentar um novo paradigma na edu-
cação, cujo alicerce está na cultura investigativa, de
inovação, empreendedorismo e desenvolvimento de
projetos. Significa que a escola não pode ter mais hoje
uma postura estática de transmissão de conteúdos. Ela
tem de levar o estudante a ser um produtor de conheci-
mentos. Em vez de dar apenas respostas, instigar o alu-
no a formular mais perguntas, o motor de uma cultura
de inovação, que valoriza a observação, a criatividade,
ensina a pensar e a desenvolver hipóteses, treina a de-
terminação na busca de soluções e, assim, envolve o
aprendiz, mostra ao aluno seu próprio potencial.
Mas a palavra-chave da inovação é antiga: liberdade.
Sem ela, professores e alunos não têm a flexibilidade ne-
cessária para desenvolver conhecimentos. A escola precisa
abrir espaço para esse protagonismo. Espaço que propor-
cionou a um aluno, ex-participante da Febrace, o de-sen-
volvimento de um projeto de iniciação científica júnior
em microbiologia no Instituto Butantan, em São Paulo.
O garoto, apaixonado por biologia, não sentia no am-
biente escolar estímulo nessa área. A instituição só valo-
rizava, no seu entendimento, a robótica. Ao participar
da Febrace, foi orientado a buscar o apoio de professores
na escola e, contaminado pelo estímulo, foi atrás de
mais conhecimento no Instituto Butantan. Observador
interessado de insetos e outros bichos, ele notou que
perto de determinada aranha não cresciam fungos. Pes-
quisou e produziu um novo conhecimento: descobriu
propriedades antibióticas nos ovos das tais aranhas, que
ajudarão a criar medicamentos no futuro. O jovem al-
cançou a melhor colocação nestes oito anos de mostras
da Febrace, e obteve o segundo lugar geral na Feira In-
ternacional de Ciência e Tecnologia, a Intel, nos EUA.
Este ano, 52% dos finalistas da Febrace são oriundos
de instituições públicas, 17% de fundações e centros
educacionais e 31% de escolas particulares. Mil e du-
zentos projetos, em áreas diversas das ciências, foram
submetidos à avaliação de 145 mestres e doutores vo-
luntários, que pontuaram os finalistas por regiões: 32
projetos da região Norte, 69 do Nordeste, 123 do Sudes-
te, 15 do Centro-Oeste e 41 da região Sul. É, de fato,
uma provocação nacional e ótima contribuição para a
cultura da inovação na escola. ■
18 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

PORQUE HOJE É SÁBADO

DENISE BARRA

São Paulo,Vitória e mais 10


cidades em festa gastronômica Gladstone Campos/Realphotos

Boa comida a preços apetitosos, no Restaurant Week PARA SE DELICIAR

Cerca de 500 restaurantes preparam seus menus


O evento acontecerá em 12 cidades brasileiras neste ano
Alta gastronomia por valores cidades de diversos países. também devem participar,
mais acessíveis, sem perder No Brasil, 12 cidades participam mas as datas ainda não foram
o sabor e a beleza dos pratos. em 2010. Vitória e Curitiba confirmados no calendário do
Com essa ideia, nasceu são estreantes no circuito, além evento. Nos restaurantes que
o Restaurant Week, em Nova das pernambucanas Porto de participam do Restaurant Week,
Iorque, em 1992. Hoje, o evento Galinhas, Fernando de Noronha e que tem duração de duas
acontece em mais de 100 Gravatá. Os mineiros e gaúchos semanas em cada edição, o
Rafael Wainberg
menu completo sai por R$ 27, 50
no almoço e R$ 39 no jantar
e inclui entrada, prato principal
e sobremesa. Entre o dia
primeiro e 14 de março, o festival
movimenta os restaurantes de
São Paulo e Vitória. Em seguida,
o festival vai para Pernambuco,
entre 15 e 28 de março. Entre
10 e 23 de maio é a vez do Rio
de Janeiro. Os curitibanos irão
se deliciar entre 31 de maio a
13 de junho. Em Brasília, o evento
gastronômico sai do forno no dia
19 de julho e fica até primeiro de
agosto. Em Recife, a comida boa
por preços convidativos será
Crispy de maçã flambada com passas e sorvete de baunilha, do Chakras
servida entre 9 a 22 de agosto.

Em São Paulo serão 200 chefs


E mais de 500 mil clientes aguardados
O Restaurant Week chegou ao sommeliers da importadora A expectativa é que mais de
Brasil, pela primeira vez, no Casa Flora, com a linha 500 mil pessoas aproveitem
segundo semestre de 2007. de sul-africanos Twenty10, as delícias do festival na
O evento começou tímido os vinhos oficiais da Copa edição de março. Em cada
em São Paulo, com a adesão do Mundo, produzidos pela refeição é acrescido 1 real,
de 45 restaurantes. Neste Nederburg. Em agosto do ano para doar a instituições
ano, os organizadores passado, cerca de 400 mil de caridade. Os endereços dos
Fernando Reis Jr e Emerson pessoas visitaram os restaurantes estão no site:
O chef Sérgio Arno participa do evento gastronômico com seus restaurantes
Silveira receharam a folia restaurantes em São Paulo. www.restaurantweek.com.br
gastronômica com 200
estabelecimentos. Entre Rafael Wainberg

os participantes, a Lellis Vitória estreia


Trattoria, o Vicolo Nostro,
Gigetto, La Vecchia Cucina,
com 31 casas
algumas unidades do La Pasta Pela primeira vez, a capital
Gialla e o recém aberto capixaba entra no circuito
Armazém Sergio Arno. Muitos do Restaurant Week.
gostaram da experiência A festa de sabores e
e voltam a participar, como aromas acontecerá em
Vinheria Percussi, Brasil Vitória entre o dia primeiro
a Gosto, Marakuthai, Marcel, e 14 de março. Entre os
Thai Gardens, Obá, La Marie, 31 restaurantes participantes,
Ak Delicatessem, Ça-Va estão os badalados
e Arábia. Apróxima edição Aleixo, Sakê, Vero, Sushimar,
paulistana recebe duas O Mercador e Bully’s,
pizzarias: Bendita Hora e além dos gourmets Oriundi,
Speranza. Pela primeira vez, La Cave, Domus, Papaguth
haverá, em todos os e Tasca da Enseada.
restaurantes, sugestões O acréscimo de 1 real
de harmonização com na conta a cada refeição
cerveja pela beer sommelier será destinado à entidade
da marca Baden Baden. beneficente Núcleo
A harmonização com de Referência em Saúde
Trio de ceviche do restaurante La Vecchia Cucina, que será servido durante o Restaurant Week, em São Paulo
vinho será sugerida pelos de Vitória.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 19

Divulgação

No verão, troque o café por frapê É HOJE!


● Tradicional feijoada de carnaval
A bebida de origem grega leva gelo, água ou leite fresco, emulsificante natural do Caesar Park, no Rio de Janeiro.
e a fruta, café ou chocolate. O leite pode ser magro ou de soja. Tudo é batido ● Desfile das escolas de samba:
no blender e é acompanhado de chantilly e calda de chocolate ou caramelo. Águia de Ouro, Tom Maior, Mocidade
Na Suplicy Cafés Especiais, em São Paulo, o frapê é preparado em 18 sabores, Alegre, X-9 Paulistana, Gaviões
como Cappuccino, Banana, Manga, Framboesa e Coco. As novidades são o Coffee da Fiel, Império de Casa Verde,
Maltine, feito com Ovomaltine e café, o Prestígio, com leite de coco, chocolate Pérola Negra. No Sambódromo
e leite e o Tentação, com morango, chocolate e leite. De R$ 10,50 a R$ 12,50. do Anhembi, em São Paulo.

sabado@brasileconomico.com.br

Astor Piazzolla, Vinicius de Moraes e Herivelto Martins Para quem fica em A caipiroska Verão
No voz do cantor, agora romântico, Ney Matogrosso Juan Guerra/AE
São Paulo no Carnaval, tem uma refrescante
Depois de apresentações de PARA SE EMOCIONAR
o bar Pé de Manga, alquimia entre o
estreia, Ney Matogrosso na Vila Madalena, abacaxi e a menta.
retorna a São Paulo com seu lançou uma carta
novo trabalho, Beijo Bandido.
Numa versão bem diferente de caipirinhas, A caipiroska do
da pegada roqueira do show com 37 criações. Mesquita, à base de
anterior, Ney canta músicas vodca, tem tangerina
pop e românticas de artistas
consagrados música O “Festival macerada com
brasileira. Vestido de terno e Degustação” leva manjericão.
gravata, mas sem perder o à bandeja 10
brilho, Ney apresenta um A caipiroska Paulista
repertório que tem Hermínio caipirinhas especiais
Bello de Carvalho, com Doce servidas em copos faz uma mistura leve
de Coco, versões de A Bela e de 216 ml. Custa de kiwi, hortelã e mel.
A Fera, de Chico Buarque e
Edu Lobo, a música Segredo, R$ 120 por pessoa.
de Herivelto Martins e
No calor, os drinques
Marino Pinto e À Distância, A extensa carta da com frozen ganham
de Roberto e Erasmo Carlos.
bebida bem brasileira mais espaço em
A canção As Ilhas de
Piazzolla e Geraldo Carneiro, desfila opções com cinco versões,
também será interpretada sabores inusitados, por R$ 16,50 cada.
pelo cantor carismático.
Medo de Amar, de Vinicius de como gengibre, Ingredientes
Moraes e a popular Bicho De lichia, manjericão refrescantes como a
Sete Cabeças, de Geraldo e jabuticaba.
Azevedo, Zé Ramalho e água de coco, morango
Renato Rocha também e kiwi são novidades
estarão no palco do Citibank Uma das mais no cardápio de frozens.
Hall, entre 5 e 7 de março, pedidas é a caipirinha
em São Paulo.
Ingressos de R$ 80 a R$ 160. da Casa, que tem Para acompanhar as
Ney Matogrosso retorna a São Paulo em versão pop romântica
Tel: (11) 2846-6040 vodca, manga, caipirinhas, o bolinho
maracujá e lichia. de risoto de queijos e
Últimos dias para ver 100 releituras mineiras de Mona Lisa ervas faz sucesso, por
Exposição fica em cartaz até o dia 21, em Belo Horizonte As caipirinhas R$ 16, além dos mini
Jackson Tadeu especiais, que custam acarajés, por R$ 27.
Artistas contemporâneos
PARA VER E SENTIR como Yara Tupinambá, R$ 20 cada uma,
Fernando Pacheco e são os destaques. Em estilo rústico, o bar
Jarbas Juarez estão
entre os 100 mineiros
fica em meio a árvores
que fizeram uma releitura A caipisakê da Vila, centenárias, na antiga
da obra mais famosa em homenagem casa do Capim Santo.
do renascentista italiano ao bairro boêmio,
Leonardo da Vinci. Rua Arapiraca, 172
A exposição reune o maior leva saquê, framboesa, Vila Madalena - São Paulo
número de pinturas de amora e morango. Tel: (11) 3032-6068
versões de Mona Lisa em
uma única mostra e vai Divulgação

entrar para o Guiness Book. PARA SE DIVERTIR


Idealizada pelo artista plástico
e crítico de arte Glauco
Moraes, “Cem Mona Lisas
com Mona Lisa” coloca lado
a lado um universo de
abordagens críticas, poéticas
e até mesmo irreverentes
do quadro. A artista Mariana
Laterza fez uma Mona Lisa
com ares pós modernos,
vestida de tomara que caia,
cabelo curto, piercing no
rosto e tatuagem no braço.

Cem Mona Lisas com


Mona Lisa
No Palácio das Artes,
em Belo Horizonte
Av. Afonso Pena 1.537 - Centro
Nas Galerias Arlinda Corrêa
Lima e Genesco Murta
Entrada gratuita
Até 21 de fevereiro de 2010
Mona Lisa na interpretação da artista Mariana Laterza
Tel: (31) 3236-7400
20 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

FOTOJORNALISMO

ANTONIO MILENA

Os blocos
1

do carnaval
de rua
do Rio de
Janeiro
O Carnaval chegou
ao Brasil pelas mãos
dos portugueses. Isso
aconteceu no ano de
1641 e, então, a festa
atendia pelo nome
de entrudo. Esse, aliás,
é o nome de uma festa
portuguesa que acontece
não só no período que
antecede a Quaresma
mas, também, em festas
de aldeias e em romarias
religiosas. No Brasil,
o evento ganhou cores
tropicais e hábitos
próprios. Surgiram,
por exemplo, os blocos
de rua. Tradicionais
no Rio de Janeiro e em
outras cidades do país,
os blocos chamam
a atenção pela
descontração e pelas
cores. Foi nesse clima
que o fotojornalista
Evandro Teixeira
retratou a festa
popular mais
tradicional do Brasil.

2 3 4 5
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 21

O autor das fotos


Evandro Teixeira, nascido na Bahia, começou a carreira de fotógrafo
em 1958 no Rio de Janeiro. No início, cobria os principais eventos
políticos da então capital do país. Fez fotos do golpe militar de 1964,
no Brasil, e do Chile, em 1973. Fotografou vários Jogos Olímpicos
e Copas do Mundo. Esteve em visitas de reis e rainhas, viagens
presidenciais, peregrinações de papas. Desfiles de moda em Paris,
violência policial, seca no Nordeste. O cotidiano sempre foi o tema
das fotos do autor de nosso ensaio de hoje.

fotoreportagem@brasileconomico.com.br

Fotos: Evandro Teixeira


6

7 1 Folião na Cinelândia, 8
centro do Rio de Janeiro.

2 Já na zona sul, o bloco de


carnaval anima as ruas da Gávea.

3 Mascarado anima os
foliões na Cinelândia.

4 Carnaval de Veneza
vira inspiração para o folião
também da Cinelândia.

5 A cidade histórica de Paraty


também tem o seu bloco de rua.

6 Na Av. Rio Branco, uma das


mais movimentadas do Rio,
foliões descansam na calçada.

7 Foliões investem na fantasia


para o bloco da Cinelândia.

8 Na av. Rio Branco,


dupla se esconde atrás da
fantasia e anima os foliões.
22 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

EMPRESAS

Prejuízos com
celulares dividem
a Motorola
Empresa passará por cisão em 2011. Mas as duas
metades manterão ações negociadas em bolsa

Carlos Eduardo Valim Uma operação unirá and Home. A outra poderá utili-
cvalim@brasileconomico.com.br zar o nome por meio de licença
telefonia móvel e de uso gratuita.Os dois grupos
A Motorola será dividida em demais produtos vão repartir quase que pela me-
duas durante o primeiro trimes- voltados ao tade o faturamento anual da
tre de 2011. O esperado plano de empresa, que ficou em US$ 22
reorganização da companhia, consumidor final. bilhões no último ano.
anunciado na noite da última A outra abrangerá a O negócio mais problemá-
quinta-feira, determina que as linha de mobilidade tico da Motorola nos últimos
duas operações vão manter anos vem sendo o de apare-
ações negociadas em bolsa. que atende o mercado lhos móveis. No quarto tri-
Com a mudança, uma em- corporativo e mestre de 2009, as vendas de
presa combinará os negócios de governos, além de dispositivos móveis trouxe-
telefones móveis e demais pro- ram prejuízos operacionais de
dutos para consumidores fi- equipamentos de rede US$ 132 milhões.
nais. A outra fica com produtos A empresa, a primeira a co-
de mobilidade que atendem ao mercializar telefones celulares
mercado corporativo e os go- no início dos anos 80, foi duran-
vernos, além dos equipamen- te a década de 90 e primeira
tos de rede. Esta última terá metade dos anos 2000 a grande
como principais produtos os rival da finlandesa Nokia, que
rádios bidirecionais, computa- lidera o mercado desde 1998. Na
dores móveis, sistemas de se- época do lançamento do pri-
gurança pública, sistemas de meiro celular com flip (concha),
identificação por radiofre- o Startac, a empresa tinha cerca
qüência e infraestrutra de rede de dois terços de sua receita
sem fio. A divisão será realiza- vindo de aparelhos móveis.
da por meio da distribuição de Mas a empresa sempre en-
papéis entre os acionistas. frentou problemas após esgo-
Analistas de mercado e in- tar o período de vendas de
vestidores cobravam a separa- seus grandes sucessos. O seu
ção ou a venda de algumas ati- último “arrasa-quarteirão”
vidades. Nos últimos meses a foi a linha Razr, anunciada no
Motorola estudava negociar a fim de 2004, como um apare-
maior de suas divisões, a que lho de pouca espessura e de
produz conversores (set-top caráter “fashion”. Em um
box) e equipamentos de rede ano, teve seus preços dimi-
sem fio. Com o novo plano, os nuídos e se tornou o mais
dois focos da unidade foram se- MOTOROLA INC. vendido em todo o mundo,
parados. Cada um fará parte de superando os 120 milhões de
uma empresa diferente. Cotação da ação*, em US$ unidades. Em julho de 2006,
Os dois principais executi- chegou a 50 milhões.
vos da companhia, Sanjay Jha e 50 O papel da Motorola Nesse período, a Motorola DESEMPENHO RECEITAS
Greg Brown, vão assumir as alcançou seu pico na era a segunda maior empresa do
empresas. Jha, que já liderava o Bolsa de Nova York mercado global. Com o arrefe-
negócio de aparelhos móveis,
será executivo-chefe da Moto-
40 em fevereiro de
2000, quando foi
cimento das vendas da linha
Razr, não conseguiu criar um
US$ 22 bi US$ 7 bi
cotada a US$ 57 foi o faturamento foi a receita da Motorola,
rola’s Mobile Devices and Ho- 30 substituto e acabou perdendo a consolidado de 2009 no último trimestre
me. Brown assume a Enterprise posição para a Samsung e para da Motorola. No ano do ano, com as vendas
Mobility Solutions and Network. a LG Electronics. anterior, havia ficado de aparelhos móveis.
O executivo, que é no momento 20 A Motorola é atualmente a em US$ 30,1 bilhões. O negócio de equipamentos
o coexecutivo-chefe e presi- quarta colocada global em ven- No entanto, o prejízo corporativos para
dente da Motorola, chegou ao 10 das de aparelhos celulares. líquido caiu de acesso à internet
cargo com a demissão de Ed No Brasil, a Motorola, que US$ 2,4 bilhões para sem fio resultou em
Zander, o primeiro a comandar tem fábrica em Jaguariúna, no US$ 148 milhões, de 2008 US$ 2 billhões, enquanto
a organização sem pertencer à 0 interior de São Paulo, é a maior a 2009. O prejuízo operacional as vendas de equipamentos
família Galvin. 1994 2010** exportadora de eletroeletrôni- passou de US$ 2,4 bilhões de redes trouxe outros
A marca Motorola vai per- Fontes: Yahoo Finance, Nyse e Brasil Econômico
cos, segundo o Ministério do a US$ 148 milhões. US$ 2 bilhões.
tencer à divisão Mobile Devices *Em fim de período *Fechamento de ontem Desenvolvimento. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 23

Divulgação

Empresas negociaram R$ 783 bi na web


As transações on-line entre empresas no Brasil chegaram a R$ 783
bilhões no ano passado, crescimento de 21,5% ante os R$ 644,5 bilhões
alcançados em 2008, segundo a consultoria E-Consulting. Para 2010,
o levantamento da empresa aponta crescimento de 21%, o que fará
com que os volumes transacionados digitalmente entre empresas
alcancem o valor de R$ 947,9 bilhões. Segundo a E-Consulting,
os efeitos da crise do ano passado foram pouco sentidos nesse setor.

Tim Boyle/Bloomberg

Aposta com o
sistema do Google
A grande aliada da Motorola para
retomar a sua importância no
negócio de aparelhos móveis é
a empresa de internet Google.
O Motorola Droid, que foi lançado
em novembro do último ano,
representou não só o primeiro
aparelho da empresa a trazer
o sistema operacional do Google
para celulares como também
o primeiro dentre todas a
fabricantes a ter a segunda
versão do software, o Android 2.0.
Na Europa e América Latina, foi
lançado com o nome Milestone.
Considerado pela revista
americana Time como o principal
lançamento em telefones móveis
de 2009, ele esgotou em três
horas nas lojas de Londres,
no dia de seu lançamento. C.E.V.

Greg Brown, atualmente na presidência da


Motorola, assume a divisão Enterprise Mobility

80 ANOS DE HISTORIA
Uma empreendedora americana

1928 1947 1974 2004


Nasce, em Chicago, a Começa a produzir televisores. Vende a unidade de TV para a Panasonic Último blockbuster da
Galvin Manufacturing Nos anos 60, cria os aparelhos empresa, o Razr apareceu
Corporation, em cores no padrão de tela para o Natal e passou os dois
1983
produzindo fontes de retangular anos seguintes trazendo
energia para Consegue aprovação da agência de recordes de vendas globais
substituir baterias comunicações americana (FCC) para o
1969 DynaTac 8000x, o primeiro telefone
Neil Armstrong faz contato da celular comercial 2008
1930 Lua com a Terra num rádio Uma série de maus resultados
Adota o nome Motorola para dizer as famosas derruba o executivo-chefe Ed
1996
Motorola, quando palavras: “um pequeno passo Zander, o primeiro a suceder
começa a fabricar para um homem, um grande Lança o Startac, primeiro celular com as três gerações da família
rádios para carros salto para humanidade” flip, que faz grande sucesso Galvin no comando
24 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

EMPRESAS

A receita da Tabasco
para vender pimenta
no reino do dendê
Coroada como melhor distribuidora da marca no mundo, Aurora
tenta bater a meta de 2 milhões de unidades importadas em 2010


Arnaldo Comin gredientes selecionados e de
acomin@brasileconomico.com.br qualidade reconhecida”.
Embora esteja disponível em
Dedo-de-moça, chifre-de- mercearias e supermercados de
veado, piripiri, biquinho, co-
É mais fácil vender todo o país, num total de 20 mil
mari, pitanga, bode ou cambu- para países com estabelecimentos, metade das
ci. Desde os tempos de Cabral, tradição em comida vendas é dirigida ao mercado
quando um pote de especiarias profissional, que está no centro
valia quase seu peso em ouro,
condimentada como da estratégia para o produto.
pimenta é uma palavra que não o Brasil, mas os
sai da boca dos brasileiros. nossos maiores rivais Boca a boca
Nos últimos anos, os consu- Para fortalecer a marca nos ba-
midores vêm se acostumando a
acabam sendo as res e restaurantes, o caminho da
outro molho, com inspiração receitas de molho Aurora tem sido aproximar-se
mexicana e indiscutível apelo caseiro de pimenta dos profissionais da área. Entre
“made in USA” de marketing, as atividades de marketing es-
a Tabasco, uma das raras mar- Stephen Romero, tão a parceria com o projeto Bo-
cas com reconhecimento glo- vice-presidente da McIlhenny teco Bohemia, da Ambev, e a
bal dentro mercado de tempe- realização de concursos junto
ros prontos. aos estudantes da escola de co-
Embora esteja à venda no zinha do Senac, uma das mais
país desde 1975, o produto des- respeitadas do país.
lanchou mesmo nos últimos “Nos Estados Unidos, que
cinco anos, quando suas vendas ainda respondem por 60% das
mais que triplicaram, no emba- nossas vendas, usamos mais
lo do crescimento do mercado campanhas de massa, mas, em
de foodservice. O sucesso de mercados como o Brasil, as
vendas levou a brasileira Auro- ações são mais dirigidas. Mesmo
ra, tradicional comerciante de assim estamos estudando a rea-
importados finos, a ser eleita lização de uma campanha com
como melhor distribuidora comerciais de 15 segundos”,
mundial da Tabasco, fabricada adianta Romero.
pela família de origem irlandesa De acordo com a Aurora, a
e escocesa McIlhenny, que há Tabasco tem bom reconheci-
sete gerações comanda a produ- mento de marca no país. Pes-

Bombay leva
ção do condimento, no estado quisa encomendada ao instituto
americano da Louisiana. Insight aponta que o produto é
No ano passado, foram ven- conhecido por 71% da classe A e
didas no Brasil 1,7 milhão de 43% da classe B, o que facilita o
unidades, levando o país a ocu- crescimento contínuo nas ven-
par a 12ª posição em vendas, das, apesar do preço salgado do Distribuidora de alimentos presa de óculos Chilli Beans.
em um universo de 165 onde o molho. Enquanto o frasco pe- inaugura franquia de lojas “Ninguém sai de casa para com-
produto é distribuído. Na Amé- DE GOTA EM GOTA queno custa em média US$ 1,60 especializada em temperos finos prar tempero, então estar em
rica Latina, está em segundo (cerca de R$ 3) nos Estados Uni- um shopping é aproveitar um
lugar, entre o líder México e a Aumento nas vendas dos, no Brasil o preço sugerido é Nelo Linguanotto é um pequeno momento em que o consumidor
Venezuela, famosos pela culi- da Tabasco no Brasil de R$ 7, bem acima da média de empresário com pimenta nas está aberto à experimentação”,
nária superpicante. Para 2010, R$ 2,50 dos similares nacionais. veias. Seu avô, Nelusko, fundou diz Linguanotto, autor de livros
a meta da Aurora é atingir a co- “A diferença é que não conside- a tradicional marca Linguanotto de culinária e dono de um loja
mercialização de 2 milhões das ramos as marcas locais nossos de temperos desidratados, que com a marca Bombay no ele-
inconfundíveis garrafinhas de 40
40 39% concorrentes diretos”, diz Kari- por décadas abasteceu os su- gante bairro dos Jardins, em São
60 ml da marca. na Assami Hosokawa, gerente permercados de São Paulo. De- Paulo, onde também dá aulas
32%
Em entrevista ao BRASIL ECO- 30
para o produto na Aurora. pois de vender, retomar e passar sobre como usar adequadamen-
NÔMICO, o vice-presidente mun- 25% Para Romero, a ampla aceita- para frente de novo a empresa te os condimentos.
dial de vendas da McIlhenny, ção do produto garante uma di- da família nas décadas de 1980 e A empresa pretende investir
Stephen Romero, admite que 20 18% 18% ferencial importante como 1990, Linguanotto desde 1993 um total de R$ 320 mil até atin-
nem sempre é fácil vender o 14% marca de inserção global, mas comanda a Bombay, empresa gir seis quiosques próprios e de-
molho vermelho em um país 10
0 isso também gera inconvenien- criada por ele para abastecer o pois partir para a franquia do
onde pimenta é assunto sério. tes. “Nosso maior trunfo é tam- mercado de foodservice. modelo em outros estados.
“Sem dúvida o nosso produto é 0
bém uma maldição: a percepção Com tanta experiência acu- “Depois de ouvir tantas histó-
mais aceito em culturas onde a 2005 2006 2007 2008 2009 2010*
de tradição e qualidade é a me- mulada no mundo das especia- rias ruins de franqueados, estou
culinária condimentada faz lhor porta de entrada da Tabas- rias, o empresário lançou na se- desenvolvendo um modelo pró-
Fonte: Aurora *estimativa
parte do gosto local, mas o nos- co no mundo, mas a natureza mana passada um novo modelo prio, baseado na minha expe-
so principal concorrente acaba TOTAL tão concentrada do produto faz de negócio: quiosques especia- riência e no relacionamento es-
sendo as receitas de molho ca- 209% com que alguns consumidores lizados em temperos finos em treito com os parceiros no pro-
seiro”, explica. “Por isso a nossa levem mais de ano para termi- grandes centros comerciais. O jeto”, adianta Linguanotto.
aposta está no mercado de nar uma só embalagem”, la- primeiro, inaugurado no Mo- Embora a área de especiarias
foodservice, tentando entrar menta. “O que eu gostaria mes- rumbi Shopping, teve investi- renda prestígio para a marca
nos estabelecimentos que têm mo é poder vender tantas garra- mento de R$ 80 mil e segue Bombay, 75% do faturamento
como diferencial o uso de in- fas quanto a Coca-Cola.” ■ modelo parecido com o da em- da empresa, que foi de R$ 8,2
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 25

Fotos: Murillo Constantino

Origem do molho
■ NO VIDRINHO
Cada embalagem de 60 ml
de Tabasco contém
vem dos tempos
da Guerra Civil
720 gotas
Fundada em 1868, a fabricante
da Tabasco leva na bagagem a
Divulgação

■ NA FÁBRICA típica história de empreende-


Capacidade de produção nos dorismo à moda americana.
EUA em unidades por dia Cinco anos antes, Edmund McI-
lhenny, um proeminente ban-

1 milhão
queiro que havia se refugiado no
Texas durante a Guerra Civil,
recebeu de um viajante que ha-
via passado pelo México uma
porção de sementes de pimenta
■ NA GÔNDOLA que acabou plantando no jardim
Total de garrafas pequenas de casa, já de volta à Louisiana.
vendidas no Brasil em 2009 Satisfeito com o progresso do
cultivo, o patrono da família co- Produção da Tabasco

1,7 milhão
meçou a fazer experiências com
molhos, aproveitando um trun-
fo: a pequena localidade de
Avery Island, onde morava, foi
construída sobre uma imensa
segue estilo artesanal

mero, vice-presidente da McI-


■ NA MEMÓRIA rocha de sal que garante a base lhenny. Só depois disso a maté-
Conhecimento da marca da receita da pimenta, junto ria-prima segue para a fábrica
no país nas classes A e B com uma dose de vinagre. na Louisiana, capaz de produzir
Mais de 140 anos depois, 1 milhão de unidades de 60 ml

51% pouca coisa mudou na formula-


ção do condimento. A diferença
é que boa parte da produção da
cidade-sede da companhia é
usada para a seleção de semen-
do molho por dia.
Embora a clássica pimenta
vermelha continue como o car-
ro-chefe da McIlhenny - no Bra-
sil o produto responde por 70%
tes, que depois são transporta- das vendas - o fabricante vem
das para 12 países produtores, experimentando novos sabores.
como Peru, Equador, Honduras, No Brasil, além do original,
Costa Rica e África do Sul. estão disponíveis os molhos de
Depois de colhida, a pimenta pimenta verde, com alho, mais
é esmagada e em seguida passa as versões Chipotle (defumada)
por um primeiro estágio de fer- e a super picante Habanero. O
mentação. “Precisamos deixar produto mais recente, Sweet &
os barris de madeira abertos por Spicy, de tom adocicado, deve
Romero: de olho no potencial de um tempo para liberar os gases, ser uma das novidades que a
bares e restaurantes brasileiros se não eles simplesmente explo- distribuidora Aurora pode traz
diriam”, explica Stephan Ro- ao país este ano. ■ A.C.

sabor da Índia para shopping center


Além de revender milhões no ano passado, veio da que opera no país no segmento
Linguanotto,
distribuição para bares e restau- de temperos prontos com a divi-
marcas como rantes, com produtos de gran- são Masterfoods.
dono da
Bombay: rede
Kellogg’s e Sakura des fabricantes como Kellogg´s, A história se repetiu: os ame- de quiosques
no mercado Sakura e Açúcar União. Para ricanos primeiro compraram de temperos
ao estilo
este ano, a companhia pretende 50% e logo depois o resto das
profissional, empresa movimentar R$ 11 milhões, já ações. Linguanotto ficou à fren- Chilli Beans
importa temperos prevendo um aumento nas ven- te do negócio como executivo
in natura, que são das com a nova frente de negó- até 2003, quando o patrono da
cios nos shoppings. Mars, também de origem fami-
processados na sede liar, foi para o conselho e o co-
em São Caetano do Sul Tradição familiar mando foi para executivos con-
A exemplo da McIlhenny, fabri- tratados, o que desanimou o
cante da Tabasco, Linguanotto brasileiro. “Não tinha paciência
tem uma longa trajetória no mo- para isso e decidi sair fora para
delo familiar de negócio, o que montar meu próprio negócio.
rendeu o assédio dos grupos Tudo mundo diz que eu vendi a
multinacionais ao clã de origem empresa da família duas vezes,
italiana. Fundada nos anos 1930, mas a história não é bem as-
a Linguanotto cedeu 60% de sua sim”, ironiza.
participação em 1982 à america- Desta vez, porém, a identi-
na McKormick, que até fim da dade Linguanotto ficou defini-
década assumiu a totalidade do tivamente nas mãos da Mars,
negócio. A companhia acabou que acabou tirando a linha do
fechando as portas no Brasil e a mercado. À frente da Bombay,
família recuperou o uso da mar- Linguanotto não sente nostal-
ca por mais dez anos, até ser as- gia. “Esse negócio de marca
sediada pelo grupo Mars, dona familiar era importante há 30
da famosa marca Uncle Beans’s, anos. ■ A.C.
26 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

EMPRESAS

Andre Penner

Eduardo Campos: meta é


crescimento de 25% neste ano
Quality
projeta rede
de lavanderias
de Norte a Sul
Rede de franquias especializada Abertura de lojas
em lavagem de roupas quer ter
180 lojas no país até 2014
cresceu 30%
em 2009 e ritmo
Elaine Cotta deve ser mantido
ecotta@brasileconomico.com.br
em 2010. Até o
Dobrar de tamanho em quatro fim do ano,
anos é a meta da Quality Lavan- 25 unidades
deria, rede de franquias espe-
cializada na limpeza e conser- serão inauguradas
vação de roupas, que possui 90
lojas no país. “Queremos chegar
a 180 unidades”, afirma José FATURAMENTO
Ventura, gerente de expansão
do grupo. Mas para isso, diz, é
preciso estar presente em todas
R$ 45 mi
é quanto a Quality Lavanderia
as capitais do país - e faltam vá- pretende faturar em 2010.
rias, algumas bem importantes, O valor é 20% superior ao
como Rio de Janeiro, Porto Ale- resultado de 2008, ano em que
gre, Florianópolis e Curitiba, a rede também cresceu 20%.
além de Teresina, Recife, Cuiabá
e Campo Grande. EXPANSÃO

Slaviero Hotéis Em 2009, o número de aber-


tura de lojas foi 30% maior que
o de 2008 e o faturamento cres-
ceu 20%, para R$ 37,8 milhões.
180 lojas
em quatro anos. A Quality
quer dobrar de tamanho

planeja consolidar
Para este ano, a expectativa é de até 2014 e para isso planeja ter
expansão parecida. O fatura- pelo menos uma loja em todas
mento deve chegar aos R$ 45 as capitais, de Norte a Sul.
milhões e, até o final do ano, a
Quality pretende inaugurar INVESTIMENTO

atuação no Sudeste mais 25 lojas - das quais sete


ainda no primeiro trimestre.
“Estou muito otimista porque o
ano passado, mesmo com a cri-
se, foi muito bom”, afirma o ge-
R$ 300 mil
é quanto custa abrir uma franquia
da rede Quality Lavanderia.
Esse é o valor máximo, que inclui
Grupo quer inaugurar em breve unidades no Rio de Janeiro e rente de expansão do grupo. o ponto, equipamentos, energia
e treinamento dos funcionários.
Belo Horizonte, capitais da região onde ainda não tem operação Crise é boa para os negócios
Parte do bom desempenho da
rede deve-se à crise econômica,
que não chegou a afetar o Brasil,
Elaine Cotta ■ CRESCIMENTO No plano de expansão da rede mas deixou várias pessoas em
ecotta@brasileconomico.com.br O faturamento da rede - que atua quase que exclusiva- alerta. “Muita gente acha que o
deve fechar 2010 em mente na hotelaria de negócios emprego com carteira assinada
Rio de Janeiro e Belo Horizonte. - está a intenção de começar a não é mais garantido e, por isso,
Essas são as capitais da região
Sudeste do Brasil onde o grupo
Slaviero ainda não atua e que
estão na mira da rede. A empre-
sa planeja consolidar a sua ope-
R$ 60 mi
operar também hotéis voltados
ao turismo de lazer. “Hoje,
100% da nossa operação é vol-
tada para o turismo de negó-
cios”, afirma Campos. “Mas a
parte para um negócio próprio”,
explica Melitha Prado, advoga-
da especializada em varejo e
franquias. “E quando se opta
por isso, assumir uma franquia
ração ao longo dos próximos demanda cai muito nos meses dá mais garantias de sucesso do
anos. A rede, que conta com 21 de férias - entre dezembro e fe- que começar um negócio do
hotéis espalhados pelos estados vereiro. Queremos compensar zero”, diz a advogada, lembran-
de São Paulo, Paraná, Espírito isso diversificando a nossa do que, no Brasil, cerca de 95%
Santo e Santa Catarina, também atuação.” Em 2009, a taxa mé- dos negócios com marca própria
pretende inaugurar em breve dia de ocupação dos hotéis da não sobrevivem.
uma unidade em Porto Alegre, a rede foi de 65%, um percentual De acordo com a Associação
única capital dos estados do Sul que está dentro da média do Brasileira de Franchising
do país onde ainda não atua. mercado nacional. (ABF), o faturamento médio
Fundado em 1981, a Slaviero “Estamos em contato e ana- das franquias cresceu 14,5% no
Hotéis faturou R$ 47 milhões no lisando empreendimentos vol- ano passado. “Na Quality, a
ano passado - aumento de 17% tados ao turismo de lazer”, diz rentabilidade média do fran-
em relação ao ano anterior - e Campos, lembrando que em fe- queado varia de 25% a 35%”,
tem o objetivo de crescer 25% vereiro a rede fechou um con- diz Ventura, lembrando que o
neste ano, elevando para R$ 60 trato para a administração de custo de abertura de uma uni-
milhões o seu faturamento. “A um hotel com 107 apartamentos dade da rede varia de R$ 280
nossa meta é inaugurar de dois a no balneário Camburiú, em mil a R$ 300 mil, incluindo
três hotéis por ano daqui para a Santa Catarina. O hotel, que ponto, equipamentos e custos
frente”, diz Eduardo Campos, passa por reforma, será inaugu- com energia e também o trei-
diretor-geral do grupo. rado mês que vem. ■ namento dos funcionários. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 27

Fran’s Café aposta em alimentos


para atingir receita de R$ 80 milhões
Rede pretende equilibrar o faturamento das lojas, que hoje é 40% concentrado na venda de cafés
Divulgação

Regiane de Oliveira
roliveira@brasileconomico.com.br

A rotina de Henrique Ribeiro,


sócio-diretor do Fran’s Café, é
digna de dar inveja ao persona-
gem de George Cloney em
Amor sem Escalas . No filme,
Cloney vive executivo que tem
como hobby e profissão, viajar.
E Ribeiro não fica atrás. Está
em suas atribuições visitar to-
das as 132 lojas da rede no país,
ao menos duas vezes por ano.
As que estão na região de Ba-
rueri, na Grande São Paulo,
onde fica a sede da empresa,
recebem bem mais de duas vi-


sitas por ano. “Viajo porque
gosto”, diz. “Mas também para
ficar de olho na qualidade”. As
visitas de Ribeiro são conside- Viajo porque gosto, mas
radas fundamentais pela dire-
ção do grupo, que aposta na também para ficar de olho na
venda sugestiva de produtos qualidade. Ainda não temos
para aumentar a receita, o que lojas em Rondônia, Roraima,
depende muito do ambiente e
qualidade das operações. Isto Acre, Amapá, Paraíba,
significa ganhar mais a cada Pernambuco e Tocantins
compra e elevar o tíquete mé-
dio das lojas, de aproximada- Henrique Ribeiro,
mente R$ 16. sócio-diretor do Fran’s Café
Atualmente, os alimentos re-
presentam cerca de 20% das
vendas. O restante é dividido
igualmente entre os cafés e as Ribeiro. Na lista de candidatos gar às 145 lojas prometidas no cutivo afirma que falta pouco mês para abertura de franquias.
bebidas frias. A meta é equili- ao próximo cardápio estão alfa- ano passado, segundo Ribeiro, para a empresa mapear o Brasil. Mas, destes, talvez dois se con-
brar este resultado e ajudar a jores e pretzels. O cardápio é por atraso nas obras. “Temos Ribeiro está contando. “Ainda vertam em negócios”, explica.
aumentar a rentabilidade. No trocado três vezes ao ano. unidades em shoppings, como não temos unidades em Rondô- O problema, diz Ribeiro, é a di-
ano passado, o Fran’s Café fatu- Sorocaba e Valinhos, no inte- nia, Roraime, Acre, Amapá, Pa- ficuldade de encontrar em-
rou R$ 60 milhões em 2009, um Expansão rior de São Paulo, que estão raíba, Pernambuco e Tocan- preendedores com perfil e con-
resultado 20% superior ao de A estratégia de rentabilizar os atrasadas”, afirma. tins”, conta. Até o final do ano, dições financeiras — o valor
2008. A meta é chegar a R$ 80 resultados com a venda de ali- Até agosto, a rede planeja serão pelo menos mais onze médio de uma franquia é R$ 300
milhões neste ano. “Estamos mentos não diminui a vocação abrir 14 lojas, que estão em con- pontos de venda, todos já con- mil — para abrir uma unidade. A
fazendo um esforço para desen- expansionista do Fran’s Café. trato em mercados como Ceará, tratados, segundo Ribeiro. “Te- empresa oferece alternativas,
volver novos produtos”, conta A empresa não conseguiu che- Natal, Aracaju, Maceió. O exe- mos cerca de 80 pedidos por como os quiosques. ■

Lucro da Telefônica cai para R$ 2,2 bilhões


Ganho teve queda de 9% na O ano foi marcado pela interrup- Operadora pretende 11,46 milhões de usuários. Sobre atraindo investidores externos,
comparação com o ano anterior. ção por cerca de dois meses das o resultado, a empresa afirmou à destacando-se, este ano, a en-
Por causa dos problemas com o vendas de seu serviço de banda acelerar sua atuação, CVM, que “no caso específico de trada de um novo grande player
Speedy, base de usuários de larga Speedy, por ordem da por meio da São Paulo, destaca-se a intensi- multinacional pela aquisição de
banda larga aumentou só 3,2% Agência Nacional de Telecomu- valorização da ficação da atuação de operadores uma operadora fixa entrante”,
nicações (Anatel) em função de de TV por assinatura no setor de destaca a empresa no balanço.
O balanço da Telefônica, divul- problemas com a rede da empre- telefonia fixa, com telefonia fixa”. “No âmbito re-
gado na noite da última quinta- sa e com a qualidade do serviço convergência de gulatório, 2009 foi o primeiro Otimismo
feira, mostra que 2009 foi um que chegava ao consumidor. serviços de banda ano completo da portabilidade Mesmo com o recuo dos resulta-
ano de leve retrocesso financeiro A boa notícia ficou por conta numérica, permitindo ao setor dos, a empresa se mostra otimista
para a operadora. No acumulado do crescimento da base de usuá- larga e dados de telecomunicações fazer um em relação a 2010. “Com a apre-
de 2009, o lucro da Telesp, razão rios de banda larga, apesar dos balanço de seus impactos. O re- ciação da moeda local o setor en-
social da operadora fixa no Bra- problemas, que aumentou 3,2%, sultado deste processo para a so- frentará uma menor pressão sobre
sil, foi de R$ 2,2 bilhões, ante R$ chegando em dezembro a 2,636 ciedade foi um leve aumento no gastos com equipamentos impor-
2,4 bilhões no ano anterior. A re- milhões de clientes. Em TV por cancelamento de linhas fixas, tados”, diz o comunicado. A ope-
ceita bruta atingiu R$ 23,1 bi- assinatura, a operadora pratica- sendo que os impactos mais rele- radora acredita ainda que a com-
lhões, uma alta de 0,6% em rela- mente repetiu a alta do ano ante- vantes foram observados na petição no setor se manterá alta
ção ao mesmo período de 2008. rior, de 3%, totalizando 486,6 móvel”, diz o comunicado. em 2010. A Telefônica ainda
A receita líquida anual recuou mil clientes. Em telefonia fixa, a E a empresa não deixou de acrescenta que pretende acelerar
1,1%, para R$ 15,8 bilhões, en- situação foi mais complicada, comentar a entrada da Vivendi sua atuação, por meio da valoriza-
quanto o Ebitda caiu 10,4%, para com queda de 4% da base de no mercado nacional, que saiu ção da telefonia fixa, com conver-
R$ 5,9 bilhões. Com isso, a mar- clientes. A Telefônica perdeu 422 vitoriosa na disputa pela GVT. gência de serviços de banda larga
gem baixou de 41% para 37,2%. mil clientes e fechou o ano com “O mercado brasileiro segue e dados. ■ Redação com Reuters
28 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

EMPRESAS

Henrique Manreza

Algumas áreas do Rio de Janeiro já receberam


os novos medidores eletrônicos, parte do
programa de redução de perdas da Light

Light investe R$ 700 milhões em


2010 e foca em redução de perdas
Companhia quer reduzir índice de prejuízo elétrico para abaixo da meta regulatória definida pela Aneel

A Light investirá R$ 700 mi- Segundo a Na área de Sarapuí, que fica com que daqui para a frente os
lhões em 2010, dos quais R$ dentro do município de Duque ganhos de escala nos mercados MUDANÇAS NAS TARIFAS
200 milhões serão aplicados na
concessionária, de Caxias, por exemplo, ele ci- das distribuidoras passem a ser
redução de perdas, informou a demora para tou que a substituição dos me- levados em conta no cálculo das ● A Light marcou para o fim
ontem o vice-presidente de autorizar a instalação didores elevou o consumo em tarifas. Na prática, isso deverá do mês uma assembleia para
Relações com Investidores da 45%, devido principalmente à implicar, na maioria dos casos, assinar a adoção de um aditivo
empresa, Ronnie Vaz Moreira.
de medidores pelo incorporação de clientes que es- em reajustes menores. ao contratos das distribuidoras.
Segundo ele, entre os investi- Inmetro acabou tavam fraudando o sistema. A Aneel havia decidido por
mentos para combate às perdas por prejudicar Isso fica claro, comparando este aditivo por ter descoberto ● O aditivo faz com que sejam
está previsto a instalação de a média de crescimento do uma distorção na metodologia calculados nas tarifas os ganhos
122 mil medidores eletrônicos. o programa consumo no município no de cálculo dos reajustes, o que de escala nos mercados em
O objetivo da companhia é de redução de mesmo período, que foi de fez com que os consumidores que atuam as distribuidoras,
evitar 500 GWh de perdas elé- desperdício 13%. Além da incorporação de não fossem beneficiados com o com reajustes menores para
tricas neste ano, reduzindo o clientes que tinham energia repasse dos ganhos que as em- o consumidor final.
índice para abaixo da meta re- de energia clandestina, também estamos presas têm, como o aumento
gulatória de 38,68%, definida substituindo as redes antigas dos seus mercados, por exem- ● A Aneel estima que, desde
pela nova metodologia da por mais novas, garantindo plo. A estimativa da Aneel é de 2002, os clientes das
Aneel. Em 2009, a Light fe- que o número de cortes de que os clientes das distribuido- distribuidoras pagaram cerca
chou este indicador em 42,4%. energia reduza”, comentou. ras pagaram cerca de R$ 1 bi- de R$ 1 bilhão a mais.
Segundo Moreira, o progra- lhão a mais desde 2002. De
ma de combate às perdas da Reajustes acordo com Vaz Moreira, ainda
companhia foi prejudicado no A Light marcou assembleia para não são estimados os reflexos
ano passado pela demora do o próximo dia 26 de fevereiro desta medida para a empresa,
Inmetro em autorizar a instala- para referendar a adoção do mas há estimativa de que em
ção destes medidores. Em tele- aditivo aos contratos das distri- 2013 haja um impacto “leve-
conferência com analistas, ele buidoras, proposto pela Agência mente negativo” no lucro antes
citou como exemplo algumas Nacional de Energia Elétrica de despesas financeiras, impos-
áreas do Rio de Janeiro que já (Aneel). A proposta do aditivo tos, depreciação e amortizações
passaram por esta substituição. aos contratos de concessão faz (Ebitda). ■ Agência Estado
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 29

Wilton Junior/AE

Souza Cruz
vende menos
e lucra mais
Aumento de 23% no valor de O número de
venda compensou queda do
consumo e tributação maior
unidades vendidas
caiu 7,4% e os
Luiz Silveira tributos aumentaram
lsilveira@brasileconomico.com.br
cerca de 41%,
As vendas de cigarros caíram mas ainda assim
7,3% no Brasil em 2009, acom- a companhia
panhando uma tendência mun-
dial de combate ao tabagismo.
conseguiu elevar
Os impostos sobre os cigarros o lucro líquido
também foram aumentados em em 17,8%, para
aproximadamente 41%. Mas,
ainda assim, a Souza Cruz — lí- R$ 1,48 bilhão
der com 62% do mercado na- em 2009
cional de cigarros — conseguiu
ampliar sua receita líquida em
9,3%, para R$ 5,79 bilhões.
A explicação está na remar-
cação do preço dos cigarros, que
subiram em média 23% sobre
2008. O aumento dos preços
compensou a queda nas vendas
de cigarro, que recuaram 7,4%,
para 72,8 bilhões de unidades.
Também minimizaram os im-
pactos do forte aumento da carga
tributária sobre o cigarro. “Nos
últimos cinco anos, somente os
tributos sobre vendas [anuais] da
Souza Cruz aumentaram em mais
de R$ 2 bilhões e totalizaram
aproximadamente R$ 26 bi-
lhões”, afirmou a administração
da companhia em relatório. Só no Apesar da queda nas vendas, lucro da Souza Cruz se mantém
ano passado, a companhia pagou em alta pelo reajuste de 23% dos preços dos cigarros
R$ 6,33 bilhões em tributos.

Marcas premium
O aumento da tributação e a ção do portfólio de marcas”, A marca Dunhill, por exem- principal marca da Souza Cruz
queda no volume de vendas co- afirmou a companhia. plo, que substitui o Carlton no em volume (33,3 bilhões de ci-
locam pressão sobre os preços A estratégia ganhou ainda fim de 2008, manteve sua parti- garros), conseguiu crescer 0,4
dos cigarros, e levam as cigar- mais relevância em 2009 porque cipação de mercado na casa de pontos percentuais, para 28,3%
reiras a focar cada vez mais nas a competitividade dos cigarros 7%, o que para a Souza Cruz do mercado. É preciso lembrar
linhas premium. Além de ter contrabandeados aumentou mostra a “resiliência” do pro- que essas participações refe-
preços mais altos, esses cigarros com a elevação do Imposto so- duto ao aumento de preços. As rem-se apenas ao mercado le-
sofrem menos competição dos bre Produtos Industrializados vendas do cigarro Vogue, tam- gal, que é calculado em 27% do
produtos ilegais. (IPI) e do Programa de Integra- bém lançado no fim de 2008 consumo total de cigarros.
“A companhia manteve ao ção Social/Contribuição para o com forte apelo premium, cres-
longo de 2009 ações de marke- Financiamento da Seguridade ceram 52% sobre o volume da Lucro cresce
ting voltadas principalmente Social (PIS/Cofins), segundo a marca Capri, que substituiu. Como resultado da melhora de
para o segmento premium, com companhia. Como os cigarros Já a marca Hollywood, mais receita, o lucro líquido avan-
lançamento de marca, oferta de legais ficaram ainda mais caros, popular, perdeu 0,6 pontos per- çou 17,8% sobre 2008, para
edições limitadas e diversifica- a vantagem dos ilegais cresceu. centuais de mercado. O Derby, R$ 1,48 bilhão. ■

Clima tira Guarani da festa mundial do açúcar


Queda no rendimento por causa da queda de 4,8% na A produção da em 31 de dezembro de 2009, a executivo será ainda bem mais
e na produção de cana limita produção de etanol, e de 15,2% companhia conseguiu reverter remunerador que o etanol no
ganhos com preços recordes no açúcar. A empresa processou commodity caiu os prejuízos que vinha regis- começo da safra. A Guarani vai
14,1 milhão de toneladas de 15,2% por causa trando, com um lucro líquido de começar a produzir 100 mil to-
O clima impediu que a Açúcar cana, ou 2,2% a menos que na das chuvas no R$ 1,8 milhão. “O excesso de neladas de açúcar na usina Ta-
Guarani aproveitasse plena- safra anterior. O teor de sacaro- chuvas afetou todo o setor, e nabi e ampliou a capacidade da
mente os preços recordes do se da cana também ficou 6,6%
Brasil e da seca como já tínhamos feito hedge de usina São José em 50 mil tonela-
açúcar nesta safra. O excesso de abaixo do ciclo 2008/2009. em Moçambique, parte do açúcar a preços mais das. Assim, a Guarani vai desti-
chuvas no Brasil e a falta delas A alta dos preços dos dois apesar dos mais baixos, não foi possível capturar nar 65% da sua cana da safra
em Moçambique, onde a em- produtos no segundo semestre toda a alta”, diz o diretor finan- 2010/2011 ao açúcar, contra
presa tem uma unidade produ- do ano passado ajudou a com-
altos preços ceiro, Reynaldo Benitez. 56% na safra atual. A produção
tiva, derrubou a produção e fez pensar a diminuição da produ- em décadas Para 2010, a empresa investiu total chegará a 15,5 milhões de
os custos unitários dos produtos ção, e no terceiro trimestre de para destinar ainda mais cana toneladas de cana, perto da ca-
disparar 29,3%. Isso aconteceu seu exercício fiscal, terminado para o açúcar, que segundo o pacidade de 16 milhões. ■ L.S.
30 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

EMPRESAS

Rua 25 de Março Lojas de fantasias, na região da 25 de Março,


vendem o fast-fashion, as alegorias mais descartáveis,
que fazem sucesso entre os foliões amadores

festeja o Carnaval
por seis meses
O movimento é maior entre setembro e janeiro, período em
que as escolas de samba preparam as fantasias, dizem lojistas


Alexandra Farah chega a custar R$ 150, ele im-
afarah@brasileconomico.com.br portou 10 toneladas de plumas
de avestruz para suprir a de-
Por quase um semestre, o carna- manda da maior festa popular
val faz a alegria dos lojistas da
Hoje viabilizo do Brasil. A pluma espigão, de
região da Rua 25 de Março, tra- muitos desfiles, qualidade inferior, custa R$ 260
dicional centro de comércio po- dando crédito o quilo, enquanto a mais sofisti-
pular paulista. Dono do Palácio cada sai por R$ 750.
das Plumas, Elias Ayoub, com
para as escolas O maior patrocinador oficial
três lojas especializadas em arti- do Carnaval paulistano é a pre-
Elias Ayoub,
gos caranavalescos, conta que o feitura de São Paulo, que subsi-
dono do Palácio das Plumas,
movimento mais forte acontece dia quase 100 agremiações. Os
na 25 de Março
de setembro a janeiro, quando os desfiles do grupo especial acon-
costureiros vão às compras para tecem hoje e amanhã e, segun-
confeccionar as fantasias. “Eu do dados da SPTuris, vão levar
começo a trabalhar logo após o 120 mil espectadores ao Sambó-
Carnaval, quando mostro as no- dromo, na zona norte da capital.
vidades para os carnavalescos e
eles fazem os protótipos. Na ver- Preferência popular
dade, os 15 dias que antecedem o O filme Lula, O Filho do Brasil
Carnaval são muito fracos”, diz pode não ter virado blockbuster
o lojista, casado com Pinah, a nos cinemas mas as máscaras
lendária musa do Carnaval da com o rosto do presidente de-
Beija Flor. Segundo Ayoub, neste vem estar, mais uma vez, entre
ano a empresa garantiu um au- os três adereços favoritos dos
mento de 30% na receita com os foliões no Carnaval que começa
quatro dias de folia, mas, como a hoje. Pelas vendas, os lojistas
maioria de seus colegas, não re- prevêem que em primeiríssimo
vela o montante total de vendas. lugar de popularidade neste ano
Distribuidor de cristais egíp- está o cantor Michael Jackson.
cios Asfour, principal concor- “Desde a sua morte, as fanta-
rente dos austríacos Swarovski, sias de Michael Jackson são
segundo Ayoub, em 2010 a muito procuradas e, para o Car-
maior novidade são as pedras naval, elas seguem como cam-
acrílicas sestavadas, imitando peãs de venda”, diz Pierre Sfeir,
cristais gigantes. Com 32 anos proprietário da Festas e Fanta-
de experiência, Ayoub afirma sias, que tem 34 anos de histó-
que entra ano sai ano, cristais e ria como uma das maiores da
plumas são sinônimo de folia. Rua 25 de Março. Nas semanas
Ele diz que cresceu bastante que antecedem o Carnaval, a
com o Carnaval. “Hoje viabilizo loja tem disponíveis cerca de 15
muitos desfiles, dando crédito mil itens, dos quais 8 mil de
para as escolas”. Isso porque a produção própria.
folia não sai barato. Nesta época, a União dos Lo-
Nas madrinhas, destaques jistas da 25 de Março e adjacên-
dos carros e rainhas da bateria, cias, a Univinco, que tem 3 mil
o faisão real é imbatível na pre-
ferência. Mas como a produção
mundial do luxuoso e caro fai-
são é pequena e uma pluma
lojas cadastradas - 350 de rua, o
restante em prédios e galerias -
calcula um volume de 400 mil
pessoas por dia pela região. Nú-
Estilistas trocam
mero que chega a um milhão no
final do ano, quando ocorre o Na alta-costura do Carnaval, uma fantasia de musa
OS CUSTOS DA FESTA maior movimento. Para 2010,
ano de Copa do Mundo, a previ-
R$ 150
é quanto chega a custar uma
são é de alta de 18% em relação
às vendas de 2009. Na Copa, os
Assim como a indústria da
moda, o mundo das fantasias é
Como a indústria
única pluma de faisão real. Para produtos verde-amarelo – cha- dividido por setores. Há o fast-
da moda, o mundo
reduzir os gastos, as agremiações péus, cornetas, perucas e óculos fashion, itens baratinhos e des- das fantasias é
usam plumas de avestruz. - fazem a festa dos lojistas. O cartáveis, usados pelos foliões dividido por setores.
A do tipo espigão, de qualidade perfil dos compradores mudou. amadores. E há a alta-costura,
inferior, custa R$ 260 o quilo. “Passei por três moedas, sobre- com looks riquíssimos, que
Tem o fast-fashion,
vivemos a todas e a atual é muito custam em média R$ 50 mil, itens baratinhos
DE OLHO NA COPA boa. Antes era só classe A, agora usados pelas musas das grandes e descartáveis,
entra na loja cliente de chinelo escolas de samba. Neste quesi-
18% com dinheirinho trocado. Che-
gam também em carros que pa-
to, as fantasias são confeccio- e a alta-costura, com
looks riquíssimos
é o crescimento esperado nadas sob medida com mate-
nas vendas da região, ram na porta e descem com o se- riais importados. Longe se vão
por causa da Copa do Mundo. gurança”, conta Sfeir. ■ Colabo- os dias de reinado dos paetês e
rou Amanda Vidigal Amorim das miçangas. Quem manda
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 31

Keiny Andrade/AE

No Rio, a moda faz sua estreia na avenida


O Carnaval da garoa tem seu a pré-história aos dias atuais.
destaque, mas nada se compara “Desde muito tempo, quando
ao maior espetáculo da Terra, o homem cobriu seu corpo
o Carnaval carioca. Neste ano, pela primeira vez, seja por
pela primeira vez na história, uma necessidade de proteção, magia
escola de samba vai homenagear ou poder, ele descobriu um
a moda na Sapucaí. A passarela sentimento que, a partir de então,
do corpo vai virar a passarela iria definir toda a sua conduta:
da vestimenta quando a Porto a vaidade”, diz o carnavalesco
da Pedra entrar na avenida na Paulo Menezes, que fez 35 alas,
segunda-feira {a noite. O enredo, que terão, ao todo, 4,2 mil foliões.
“Com que roupa... Eu vou? Pro Segundo ele, a escola usou cerca
samba que você me convidou”, de R$ 5 milhões para contar
traça a história da moda desde a evolução dos adornos. A.F.

João Wainer/Folha Imagem

A apresentadora Sabrina
Sato vestirá duas
fantasias, avaliadas
em R$ 50 mil cada
uma, patrocinadas
por fabricante de jeans

passarela da moda pela do samba


chega a custar o mesmo que um apartamento. Segundo especialistas, futurismo e burlesco estarão nos Sambódromos


hoje são as plumas e os cristais. Salvador para fazer dois looks jo. Ele veste também Ana Hi- é o fato das fantasias de Sabrina
Como os valores são exorbitan- para a apresentadora Eliana ckmann e Claudia Leite. A pri- serem patrocinadas pela Sa-
tes e ninguém pensa em econo- usar em seu bloco. meira fantasia de Sabrina, hoje wary Jeans, de quem é garota
mizar, alguns dos estilistas Mas quem brilha mesmo na à noite, na Gaviões da Fiel, é propaganda. Geralmente quem
mais importantes da moda bra- ponte aérea São Paulo-Salva-
Faço meu vermelha, com detalhes geo- paga é a escola. Só de penas e
sileira passaram a se dedicar dor-Rio de Janeiro é Walério pé-de-meia com métricos. Ela vem à frente da cristais foram gastos R$ 50 mil
também ao Carnaval. Neste Araújo, o mais prolífico estilis- as fantasias bateria branca e preta. “Sabri- em cada. Em troca, a empresa
ano, Fause Haten, que já desfi- ta no Carnaval. “Nossa, o Wa- na representa o coração, o terá seu logo estamapado no
lou no São Paulo Fashion Week lério veste todo mundo. As ara- Walério Araújo, amor pelo Corinthias”, afirma roupão com o qual Sabrina en-
coleção inspirada no reinado de ras da loja dele ficaram vazias”, estilista Ian Acioli, personal stylist da trará na avenida. Fantasia se-
Momo, dedicou-se a criar as conta a apresentadora Sabrina apresentadora. No Rio, ela des- gue o enredo, não a moda. Mas
quatro fantasias de Alinne Sato, que este ano vai desfilar fila pelo Salgueiro como musa não tem como não se influen-
Rosa, vocalista da banda Cheiro duas roupas confeccionadas do futurismo. Sua fantasia é ciar. “Este ano, o estilo burles-
de Amor. Dudu Bertholini, da por ele. “Faço meu pé de meia prata, com um mocaino de pe- co e o futurismo vão estar em
grife Neon, também foi rumo a com as fantasias”, revela Araú- nas de faisão. Inédito neste ano todas”, diz Haten. ■ A.F.
32 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

CONSUMO POPULAR

PAULO VIEIRA LIMA

Ilustração: Alex Silva Tiago Queiroz/AE

EXPRESSAS

Contra a fraude,
todos estão de olho na
bomba de combustível
Lideranças do comércio varejista
de combustíveis de São Paulo,
governo e os consumidores se
empenham contra fraudadores,
que podem até perder a licença
de funcionamento. O produto
adulterado é apreendido e,
conforme o grau de impureza,
é destruído ou readequado.
Seu destino será o abastecimento
de viaturas policiais, ambulâncias
e veículos do corpo de bombeiros.
Para comunicar fraudes,
o contato é a Ouvidoria
da Secretaria da Fazenda

Surge uma nova classe média nos telefones (11) 3243-3676


e (11) 3243-3683 e o e-mail
é ouvidoria@fazenda.sp.gov.br

entre os consumidores brasileiros Chuvas afetam


produção e oferta
de alimentos básicos
Microempresários e profissionais A obra de Lamounier que há tempo não avançava e pulação antes situada abaixo da
que trabalham por conta mostra a razão por que pessoas linha de pobreza. Nesse quadro Os números ainda não estão
estão neste grupo emergente
e Souza recebeu vindas da chamada classe C ad- econômico e social, os mi- fechados, e os pesquisadores
como base um quirem hábitos dos estratos mé- croempresários ou os profissio- do Instituto de Economia Agrícola
Há pelo menos três anos o mer- conjunto de pesquisas dios mais antigos e próprios da nais que trabalham por conta em São Paulo admitem que
cado tende a não usar mais a de- tradicional classe média. A obra própria juntam-se ao grupo que uma conclusão sobre os estragos
finição de “baixa renda” para o do Ibope e contou de Lamounier e Souza recebeu se fortalece como população provocados pelo efeito deste
grupo de pessoas sem muito po- com o patrocínio como base um conjunto de pes- economicamente ativa. Soma- verão será possível somente
der aquisitivo. O fato é que esse da Confederação quisas do Ibope e contou com o se o fato de o país registrar um após o termino da temporada
público está em franco processo patrocínio da Confederação Na- dos mais baixos coeficientes de de chuvas. Por enquanto,
de inclusão no mundo da classe
Nacional da Indústria cional da Indústria. desigualdade social, atingindo o entre os setores atingidos, há
média. Essa situação é registra- O livro indica entre os fatores seu menor nível nos últimos 30 problemas na colheita de
da na maioria dos países emer- que determinam o surgimento anos. A nova classe média é uma hortaliças, queda na produção
gentes. O Banco Mundial estima de outra classe média os ganhos realidade. Falta saber se ela terá de leite e na oferta de grãos.
que 400 milhões de pessoas nos salários, o crescimento do condições de sustentabilidade, No caso dos grãos, a oferta de
pertençam à nova “classe média emprego formal acompanhado uma indagação que Bolivar La- feijão registra perda — ainda não
global” e faz projeção de que, de elevação da renda e a inserção mounier e Amaury de Souza oficializada — em torno de 30%
em 2030, a esse grupo de pes- social de grande parcela da po- respondem no livro. ■ a 50% nas principais regiões
soas se tenham incorporado 2 produtoras do estado. O milho e a
bilhões de indivíduos com po- soja têm perdas que variam entre
tencial econômico-financeiro e 10% e 20%, percentuais com
disposição para o consumo. O CLASSE C CHEGOU AO PARAÍSO, E AGORA? chances de alterações, pois as
dado é de 2007, mas continua plantas ainda podem ter alguma
atualíssimo e é citado pelos Comportamento Protagonismo recuperação do estado vegetativo
cientistas políticos Amaury de ou na maturação. O arroz
Souza e Bolivar Lamounier. Eles
mudou necessário está com a lavoura inundada
lançaram nesta semana em São Os ganhos nos salários têm sido Nem sempre ter dinheiro para e a colheita é muito difícil.
Paulo o livro A Classe Média uma realidade nas conquistas dos compras e contratação de Os temporais destruíram estradas
Brasileira — Ambições, Valores trabalhadores. Com maior poder serviços significa inserção na e avariaram equipamentos,
e Projetos de Sociedade. aquisitivo, fica mais fácil a adoção sociedade. Todo grupo precisa além de causar a falta ao trabalho.
A publicação explica o fenô- de velhos hábitos de consumo agir com a perspectiva de A situação leva ao aumento dos
meno de uma mobilidade social da tradicional classe média. influir nas grandes decisões. custos de produção.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 33

Divulgação

Varejo têxtil exige compromisso social


A partir de março, os varejistas da área têxtil só comprarão produtos
de indústrias comprometidas com a responsabilidade social. Será lançada
uma certificação que permite o controle dos fornecedores, principalmente
na questão da contratação de mão de obra ilegal. Quem vai certificar
é a Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abeim). Já em seu setor,
a entidade prevê aumento no número de lojas e espera que este ano
se encerre com mais de 180 mil pessoas empregadas.

consumopopular@brasilconomico.com.br

Eduardo Nicolau/AE

Luminosidade para os locais públicos


A iluminação pública tem de tornar a iluminação pública necessidade de manutenção. Essa
permanecido no rol das uma aliada das cidades, iluminação é conhecida pelo baixo
reclamações dos moradores melhorando as condições de uso consumo de energia e melhor
das cidades brasileiras. Além dos espaços públicos. A empresa direcionamento da luz, pois possui
da questão da segurança, acaba de lançar a RoadStar. lentes especiais que permitem que
os custos desse serviço acabam A luminária tem como alguns a projeção da luz seja feita com
em determinado momento de seus benefícios o LED com maior precisão, possibilitando
atingindo o contribuinte, porque a luz branca (4.000 Kelvins), projetos que satisfaçam o objetivo
tecnologia precisa ser atualizada. que traz mais conforto visual, de economia de energia sem
A Philips do Brasil está além de mais de 70 mil horas de prejudicar o desempenho,
anunciando que aceitou o desafio vida e consequentemente baixa a beleza e a segurança.
Divulgação

Qualidade dos produtos está mudando a imagem do comércio popular do Brás

Brás, comércio Philips aceita o desafio de melhorar as condições de iluminação e lança a RoadStar

que virou moda Divulgação

O comércio do Brás conseguiu a do Brás (Alobras). Grandes redes, “Tráfico de alunos” e preços baixos
diferenciação que os empresários pequenos lojistas e revendedores
buscavam. Hoje a região agrega de moda (como são chamados assustam os donos de faculdades
aos seus produtos a marca da os ex-sacoleiros) encontram
qualidade aliada ao preço, que traz no Brás as mercadorias que Dirigentes de estabelecimentos da qualidade do ensino e também
consumidores de todas as regiões fazem o sucesso das confecções de ensino superior privados estão prepara um livro com uma
do país e do exterior. Mesmo antes brasileiras, diz o representante atentos ao que chamam de “tráfico radiografia do sistema privado
de fechar as contas do primeiro dos empresários. Makdissi de alunos”. A concorrência leva de educação. O trabalho mostra
trimestre, a expectativa é de que cita como prova da aceitação algumas escolas à prática que o setor gera anualmente
as 6 mil lojas do bairro paulistano a expectativa em relação de preços aviltantes. Grupos um faturamento de R$ 24 bilhões,
terão um crescimento de vendas ao próximo desfile do Shopping organizados entram em contato representando mais de 1% do PIB
acima de 8%, conforme estimativa Mega Polo, uma das empresas com alunos e os convencem a uma nacional. Proporciona mais R$ 1
Figueiredo, presidente do Semesp
de Jean Mikhael Makdissi Jr., associadas da Alobras. O evento saída em massa, mudando para bilhão de renda indireta, investe
diretor da Associação dos Lojistas ocorre entre 1º e 3 de março. faculdades com preços mais R$ 2 bilhões/ano (em acervo
em conta. No Sindicato dos de bibliotecas, equipamentos, “Ligado na
Estabelecimentos de Ensino obras e reformas), oferece 380 mil
Sonho de consumo no verão. Superior de São Paulo (Semesp), empregos, sendo 208 mil a Facul” orienta
o presidente Hermes Ferreira professores (109 mil mestres
Um sorvete que emagrece Figueiredo, alerta os donos das e doutores), e gera uma massa “O Semesp decidiu atingir o público
escolas e os alunos sobre a questão salarial anual de R$ 16 bilhões. jovem com informações através do
Em pleno pico do verão brasileiro, pesquisador Maurício Pupo, que Divulgação portal Ligado na Facul. Em dois
é possível ir a uma farmácia de desenvolveu o produto, o sorvete meses de funcionamento, o projeto
manipulação e pedir um sorvete conta com os benefícios da (www.ligadonafacul.com.br) já tem
emagrecedor. Segundo o planta com que se faz o chá 68% de novos acessos, média de 5
verde, a Camellia sinensis, que páginas por visita e tempo médio
Divulgação tem propriedades antioxidantes. de navegação de 15 minutos, um
Pupo explica que a farmácia de dos mais altos para esse tipo de
manipulação vai fazer a mistura mídia. Ligado na Facul tem 53%
dos chás num pote, como se fosse dos acessos direcionados a partir
leite em pó, com o aroma e o das redes sociais ou das
sabor que o cliente escolher. instituições de ensino particulares
“Então, é só colocar água gelada que colocaram nos seus websites a
ou leite desnatado e deixar logomarca do projeto com um link
no congelador, até virar sorvete.” para o portal. As Unidotas, vídeos
O pesquisador dirige o de humor do projeto, também
Departamento de Pesquisa fazem sucesso no You Tube: alguns
e Desenvolvimento do Ipupo vídeos contabilizam mais de 1.000
Consult, consultoria especializada acessos por dia”, diz o presidente
O chá verde que virou sorvete Semesp chama a atenção para a importância das instituições particulares
em nutricosméticos. do Semesp.
34 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

CRIATIVIDADE

RUY BARATA NETO

E se nós comandássemos o mundo?


Cindy Gallop é uma consultora de marketing com 24 anos de carreira na área de tradução). O projeto é caracterizado como um jogo que começa com a pergunta:
publicidade e comunicação. Nesta semana, a profissional (ex-chefe de marketing “Se eu comandasse o mundo, eu gostaria de...”. As pessoas precisam responder em
global da rede BBH e que dirigiu campanhas de responsabilidade social para marcas 140 caracteres e depois passam para uma nova fase em que começam a construir
como Levi’s) colocou no ar um site com um caráter um tanto quanto utópico. uma plataforma de ação para resolver problemas sociais. Eles podem ser pequenos
Trata-se do If We Ran the World.com (Se nós comandássemos o mundo, em livre ou bem grandes. Gallop quer viabilizar esses projetos com corporações mundiais.

DUAS PERGUNTAS A... Quando você começou O que você espera do projeto?
o projeto e por que você Posso dizer uma coisa que
...CINDY GALLOP decidiu realizá-lo? eu gostaria de ver acontecer.
Eu acho que há um nível muito Eu estou consciente do fato de
Criadora e cofundadora do baixo de força e estímulo que, infelizmente, para um grande
projeto If We Ran The World das pessoas em todo o mundo para número de pessoas e empresas,
mudar situações desagradáveis. a idéia de fazer o bem é
“Quero integrar as Todas têm boas intenções que inerentemente muito, muito
não realizam. Percebi que o mesmo chato. Quando você vai para
boas intenções de acontece com as corporações. a página inicial de um esforço
empresas e pessoas” Elas sabem que para ganhar social ou sem fins lucrativos,
dinheiro hoje precisam ser muitos já começam a bocejar.
socialmente responsáveis e tem Antes de fazer alguma coisa,
O portal If We Ran The World altos orçamentos para isso — mas, você sente: ‘Eu sei que isto
por enquanto é apenas um ainda desperdiçam muitos recursos é realmente bom para mim’.
projeto experimental. comprando páginas inteiras do Mas, meu Deus, aí você já está
Segundo Cindy Gallop Wall Street Jornal, dizendo: meio dormindo. Eu quero fazer
inicialmente estão “Olhe como somos uma empresa o conceito de bem atraente -
sendo angariadas ideias verde”. Mas ninguém lê. Estou sexy como o inferno para
e nada ainda pode ser tentando unir essas intenções os indivíduos, e muito sexy
anunciado como e trazer resultados efetivos para e atraente para as marcas
Cindy: “Quero que o bem seja realmente atraente para empresas e pessoas”
resultado concreto. as marcas e para as pessoas. e empresas.

A estratégia Imagine alimentar 3 mil bocas


durante um período de dez horas? NA MESA DO CARNAVAL
do buffet para É isso que o banqueteiro Reinaldo
alimentar Abramovay, do restaurante Vila
dos Ipês, na capital paulista, faz
20 mil
sanduíches
3 mil foliões durante o Carnaval. Ele criou toda
do Carnaval a logística de atendimento de
de São Paulo uma operação desse tamanho, 600 quilos
que mobiliza 150 pessoas. Para de ravióli
atender 57 camarotes do Anhembi,
Abramovay sairá às 15 horas
de hoje da sua sede na Vila
Leopoldina, transportando cinco
400
de risoto
quilos
contêineres. Eles se transformam
em minicozinhas que ficarão
espalhadas em pontos estratégicos
do Sambódromo. “O segredo
20 mil
latinhas de cerveja
no negócio é: comida de pouca
manipulação e que se esquente
rapidamente”, diz Abramovay.

Empresária cria negócio para vender inspiração


Formada em jornalismo e pós- por projetos. A empresa de Karina
graduada em marketing, Karina
Arruda, de 32 anos, começou a
cursar, no segundo semestre do
ano passado, em Madri, na Espanha,
uma nova especialização em filosofia
contemporânea. As aulas reforçaram
a necessidade de criar um projeto que
transformasse a dinâmica

A criatividade dos
bons projetos não
surge debaixo
da luz fria de uma
não tem sede, todo mundo trabalha
de casa. “Não entendo como as
pessoas que trabalham com criação
têm que ir cumprir jornada de
trabalho definida”, diz. O novo
negócio chega para prestar serviço
a agências de publicidade e
diretamente a empresas. Como?
das relações entre clientes e sala de reunião levantando informações que inspirem
profissionais em sua área de atuação. os clientes a saber o que querem
A partir disso, Karina montou Karina Arruda, das agências de propaganda com as
o projeto da empresa Inspiral, que criadora da empresa Inspiral quais trabalham. “Queremos acabar
começa a atuar oficialmente a partir com a arrogância da publicidade”,
deste mês. Ela ainda mora em Madri, diz. Karina e sua equipe já
mas tem uma sócia em Brasília trabalharam em projetos do Terraço
e mais cinco funcionários — ela diz Shopping Brasília e Higienópolis
contar com mais 29 colaboradores em São Paulo. A empreendedora
entre acadêmicos e profissionais deve voltar ao Brasil em maio para
Karina: reuniões esporádicas em lugares abertos
de comunicação que são contratados tocar novos projetos ainda em sigilo.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 35

Bloomberg

Red Bull terá comercial criado por consumidor


O grande sucesso do Super Bowl americano, nesta semana, foram
comerciais criados a partir de dicas de consumidores comuns.
Na esteira, a marca de energético Red Bull promove até o próximo dia
24 deste mês uma ação na internet que busca reunir roteiros de clientes,
a partir dos quais serão criados a próxima propaganda da empresa.
O estilo da propaganda é peculiar; são em animação bem próxima
ao padrão dos cartoons usados pela revista americana New Yorker.

criatividade@brasileconomico.com.br

Fotos: divulgação

ANÚNCIO DA SEMANA

O anúncio da semana é brasileiro e foi publicado ontem nas páginas do site Ads Of
The World (.com) que relaciona as melhores propagandas do mundo. A publicidade ■ ficha técnica
promove a série FlashForward, prevista para começar no dia 23 deste mês no canal Agência: Publicis Brasil Direção de criação:
de TV fechada. A atração falará de casos de pessoas que subitamente têm um Hugo Rodrigues, Kevin Zung
Cliente: AXN
desmaio e conseguem ver o futuro de suas vidas. Os publicitários passaram a
Fotógrafo: Marcus Hausser
informação por meio do ícone das cartas de tarô. A peça acima faz parte de um Criação: Daniel D’Avila,
conjuto de anúncios em veiculação. Esta sairá em jornais nos próximos dias. Caso Sidney Araújo,Hugo Aprovação cliente:
fosse publicado no Brasil, nesta semana, o próprio anúncio seria premonitório, mas Rodrigues, Rodrigo Stefania Granito
para o ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda, preso na quinta-feira 11. Strozenberg, Marcelo Sato e Angelica Okamoto

Bush fez barulho nos EUA Google mergulha McCann


sem fazer propaganda na mídia tradicional Erickson
US$ 2,5 mi gastos Tailândia faz
no Super Bowl o tipo de
■ O Google, que sempre esteve propaganda
longe dos jornais, das revistas que deixa
e dos canais de TV, de repente todo mundo
começou a investir nas mídias com a
tradicionais. O último passo foi
nesta semana quando veiculou
marca na
o vídeo Parisian Love, há três cabeça
meses no YouTube, nos telões
Outdoor em Wyoming, Minnesota:
bom humor chama a atenção de todo o país do Super Bowl americano
com investimento de US$ 2,5 O anunciante é a marca Meiji. O conceito da
■ George W. Bush está tão distante da milhões. A empresa parece propaganda é “Leite deixa você mais forte”
memória de todo mundo que o outdoor caminhar para se tornar uma (Milk makes you stronger). A partir disso,
acima “causou” nos Estados Unidos marca de consumo como a o escritório da McCann Erickson da Tailândia
nesta semana. Fontes do site NPR (.com) Apple. Eric Schmidt, presidente criou uma série de adesivos que mostram
um jogador de rugbi e um lutador de sumô
afirmam que a peça é real e da cidade de do Google, manifestou-se sobre
(como esses aí em cima) fazendo força.
Wyoming, Minnesota. Os responsáveis o assunto no blog da empresa. O bacana foi colocar isso em portas giratórias
nem são publicitários. Seriam os donos “Gostamos tanto do vídeo de prédios. A ideia é mostrar que o consumidor
uma pequena empresa local ressentida que decidimos dividir isso com final é mais forte que os musculosos,
com a atual política de Barack Obama. uma audiência maior”, diz. o que dá vazão a mensagem.
36 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

FINANÇAS

CONSOLIDAÇÃO FINANCEIRA

Plataforma da CME vai permitir negociação integrada


de renda fixa, variável, commodities e câmbio

BM&FBovespa quer ser vice


Estratégia de avanço global da bolsa fica mais agressiva com a parceria firmada com o CME Group e o aumento

Maria Luíza Filgueiras “Até final de 2011, no mais companhia listada na própria A bolsa brasileira, tunidades de investimentos e
e Mariana Segala tardar início de 2012, vamos BM&FBovespa e que uma even- acordos comerciais”, diz o exe-
mfilgueiras@brasileconomico.com.br buscar o segundo lugar no tual aquisição poderia causar que hoje tem valor cutivo. O contrato entre as bol-
msegala@brasileconomico.com.br ranking global”, afirma Edemir conflito de interesse. de mercado de sas tem prazo de 15 anos, com
Pinto, presidente da BM&FBo- “O acordo com o CME Group US$ 13,6 bilhões, reavaliações a cada cinco anos.
A BM&FBovespa deu passos lar- vespa — que pagará US$ 275,12 é amplo e irrestrito, mas países Acordos anteriores ficam
gos, ontem, para consolidar sua por nova ação do CME Group. em desenvolvimento são alvos quer ultrapassar a de fora do negócio. É o caso da
estratégia de avanço global. Com Dono das bolsas americanas de naturais”, diz o executivo. Hong Kong — que parceria fechada pela
um investimento de US$ 620 ações e mercadorias Nymex, “Queremos também construir vale US$ 17,9 bilhões BM&FBovespa no último mês
milhões, vai ampliar sua partici- Comex, CBOT e CME, o CME uma estrada de acesso a nossos com o regulador do mercado e
pação no capital do CME Group Group vai manter os 5% que já produtos, buscando o varejo —até, no máximo, as três bolsas de valores do
de 1,8% para 5%. Com isso, ga- detém da bolsa brasileira e americano, europeu e asiático.” o início de 2012. Chile, para o desenvolvimento
nhará uma cadeira no conselho também seu assento no conse- Maior do mundo, de clearing de contrapartes
de administração da maior bolsa lho de administração. Comitê naquele mercado e listagem
do mundo em valor de mercado. Os dois grupos querem ir às CME Group e BMFBovespa vão
a CME vale dos produtos brasileiros. Em
Assim, a bolsa brasileira preten- compras e firmar parcerias es- constituir um comitê de estra- US$ 18,9 bilhões duas semanas, a bolsa fechará
de dar, em dois anos, os passos tratégicas com outras bolsas tégia para definir os investi- acordo semelhante na Colôm-
necessários para sair da terceira pelo mundo. “Está tudo no nos- mentos conjuntos. As reuniões bia e está em fase final de ne-
posição e se tornar, ela mesma, a so foco, exceto a Cetip”, afirma dos membros acontecerão com gociação no Peru e no México.
segunda maior do mundo, à Pinto, ressaltando que a câmara intervalo máximo de 90 dias. O CME Group, por sua vez, já
frente da Bolsa de Hong Kong. de liquidação e custódia é uma “Vamos analisar e definir opor- mantém parcerias como as
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 37

Daniel Acker/Bloomberg

FMI pede que governos reduzam dívidas


O chefe dos economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI),
Olivier Blanchard, pediu ontem aos governos que sejam mais ambiciosos
na redução da dívida pública, para que tenham margem de manobra
em tempos de crise. “O ensinamento da crise é claramente que os
objetivos em matéria de níveis de dívida devam ser mais exigentes
do que aqueles observados antes”, explicou Blanchard, coautor de um
trabalho de pesquisa intitulado “Repensar a Política Macroeconômica”.

Tim Boyle/Bloomberg

Nova plataforma será


dez vezes mais rápida
Objetivo é que sistema processe Para operações prevista ainda a elaboração de
as operações em um tempo sistemas específicos para a ne-
inferior a 1 milissegundo
de balcão, a bolsa gociação de grandes lotes de
estuda implantar ações — o block trade.
Mariana Segala o sistema de registro, Para as operações com deri-
msegala@brasileconomico.com.br vativos de balcão, a bolsa estuda
liquidação a possibilidade de implementar
O processamento de ordens na e gerenciamento o sistema de registro, liquidação
plataforma eletrônica de nego- usado pela Nymex e gerenciamento de risco utili-
ciação que será desenvolvida zado pela New York Mercantile
pela BM&FBovespa e pelo CME Exchange (Nymex), bolsa ame-
Group, será no mínimo dez ve- ricana também controlada pelo
zes mais rápido que nos siste- CME Group. Por lá, a ferramenta
mas atualmente utilizados pela Clear Port começou a ser utili-
bolsa. “As ordens serão proces- zada com derivativos de produ-
sadas em tempos inferiores a tos como petróleo e gás, abran-
um milissegundo”, disse o dire- gendo agora também as chama-
tor-executivo de Operações e das “soft commodities”, expli-
Tecnologia da Informação, Cí- cou Vieira Neto. “Ofereceremos
cero Augusto Vieira Neto. o serviço de clearing para os
Atualmente, as operações to- mercados de balcão”, destacou
mam de dez a 12 milissegundos. o presidente-executivo da bol-
O sistema suportará todas as sa, Edemir Pinto. Este segmento
classes de ativos — de ações a de negócios leva a bolsa para
moedas, títulos de renda fixa e uma área em que a Cetip detém
derivativos de balcão. No mo- grande fatia de mercado no país.
delo atual, a bolsa possui quatro “A parceria que firmamos
plataformas: o GTS no segmento agora com o CME Group, aliada
BM&F, o Mega Bolsa no seg- a outras parcerias como a que
mento Bovespa, além do Sisbex estamos desenvolvendo com a
e do Bovespa Fix, para a nego- Nasdaq, nos dá a sólida condi-
ciação de títulos públicos e pri- ção, em termos de tecnologia,
vados de renda fixa. “Eles serão de oferecer o que há de melhor
substituídos pela plataforma in- para o mercado”, destacou Pin-
tegrada”, destacou Vieira Neto. to. A bolsa já tinha, desde 2008,
A plataforma não só agilizará um acordo com a CME para o
os negócios na BM&FBovespa roteamento de ordens dos in-
como também poderá lhe ren- vestidores de uma bolsa para a
der outro tipo de dividendo. outra, permitindo que estran-
Sendo coproprietária do sistema geiros negociem os derivativos
do segmento BM&F diretamen-

até 2012
com o CME Group, a bolsa terá
autonomia para comercializar o te e vice-versa. No fim do ano
sistema livremente para os mer- passado, a BM&FBovespa fir-
cados da América do Sul, do mou acordo semelhante com a
México e da China — o que não é Nasdaq para o segmento Boves-
autorizada a fazer hoje com o pa. Vieira Neto destacou que a
de participação acionária no grupo americano Mega Bolsa, desenvolvido pela Nasdaq ainda tem um prazo de
New York Stock Exchange (Nyse seis a nove meses para concluir
Euronext) e apenas licenciado o sistema. Assim, o roteamento
bolsas da Malásia, Dubai e Co- gentes, “onde estão as oportu- pela BM&FBovespa. dos negócios com ações deve ser
reia. As bolsas latino-america- nidades mais atrativas de cres- O desenvolvimento do sis- realidade no último trimestre. ■
nas não deverão ser alvo de cimento e lucro”, destacou o tema, dito multimercado, vai
compra pela bolsa brasileira, presidente do grupo, Craig Do- custar à bolsa um investimento
segundo Pinto. nohue, em nota ao mercado. de US$ 175 milhões em dez
Apesar do apetite para con- anos. A transferência de tec- DESDOBRAMENTO
solidações, a prioridade da par- Aprovação nologia, segundo Vieira Neto,
ceria no momento é o desenvol- A parceria com o CME Group será “total”. Acordo anima fornecedores de tecnologia
vimento de uma base tecnológi- ainda precisará ser aprovada
ca de negociação, que abranja as pelos acionistas da BM&FBo- Partida A intenção de firmar acordos estabelecido com a CME em
operações de renda fixa, ações, vespa em assembleia a ser con- O ponto de partida do novo sis- com bolsas pelo mundo, embutida 2008. “Fizemos muitos trabalhos
commodities, câmbio e deriva- vocada. Uma está prevista até o tema é o Globex, a plataforma na parceria da BM&FBovepa com todas as maiores bolsas ao
tivos. A nova plataforma multi- fim de abril. usada atualmente pela CME. O com o CME Group, animou redor do mundo. Temos um bom
mercados também visa permitir Da parte do CME Group, o módulo de negociação de deri- fornecedores de tecnologia e permanente relacionamento
a redução do tempo de execução conselho autorizou um plano de vativos promete ficar pronto como a SunGard. É a empresa com elas”, afirmou ao BRASIL
das ordens de operações e am- recompra de até 2,32 milhões de até o fim deste ano, entrando que está desenvolvendo sistemas ECONÔMICO o presidente da
pliar o acesso de investidores de suas ações ordinárias classe A, em operação entre o fim de de conectividade para permitir unidade de corretagem
um mercado à bolsa do outro. negociadas na Nasdaq. O intuito 2010 e o início de 2011. Já o mó- a corretores estrangeiros acesso da SunGard, Gerry Murphy,
Para o CME Group, a parceria é de compensar a dispersão dulo de ações e renda fixa deve ao pregão a BM&FBovespa, destacando que a expansão
é uma forma de aumentar a sua causada pela emissão de novos ser finalizado até o fim do ano no âmbito do acordo para global da bolsa abre oportunidade
penetração em mercados emer- papéis para a BM&FBovespa. ■ que vem. Neste segmento, está o roteamento de ordens também para a sua empresa.
38 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

FINANÇAS

CONSOLIDAÇÃO FINANCEIRA

Modelo de negócio pode gerar


impacto positivo nos dividendos Masao Goto Filho/e-SIM

Alavancagem e equivalência patrimonial


devem compensar desembolso


Maria Luíza Filgueiras
mfilgueiras@brasileconomico.com.br

A origem dos recursos que serão Buscamos


usados pela BM&FBovespa para
adquirir os 3,2% adicionais no uma alternativa
capital do CME Group ainda de captação
está sendo definida e será dis- por emissão de
cutida em assembleia de acio-
nistas até o final de abril. Mas a renda fixa, já que
ideia, segundo a bolsa, é utilizar ter uma parte
um misto entre caixa e dívida ou em dívida melhora
apenas endividamento.
No final do terceiro trimestre nossa estrutura
de 2009, a companhia tinha de capital
R$ 2,24 bilhões em caixa, ex-
cluindo os R$ 980 milhões de ga- Carlos Kawall,
rantias depositadas, o que seria diretor financeiro da
suficiente para arcar com os cerca BM&FBovespa
de R$ 1,15 bilhão (US$ 620 mi-
lhões) pelas ações da CME.
Carlos Kawall Leal Ferreira,
diretor-financeiro e de relações
com investidores da BM&FBo-
vespa, diz que a captação pode
ser feita no mercado internacio-
nal ou doméstico, conforme as
condições econômicas. “Busca-
mos uma alternativa de renda
fixa, já que ter uma parte em dí-
vida melhoraria nossa estrutura
de capital”, diz Kawall.
Essa melhora se deve ao bai-
xo endividamento atual da bolsa
e à folga de caixa. “A dívida tem
um custo de oportunidade me-
nor do que o custo do capital
próprio. É um lucro sobre inves-
timento zero, ou seja, uma ala-
vancagem que melhora a renta-
bilidade da companhia”, expli-
ca Alexandre Assaf Neto, diretor
do Instituto Assaf. “É válido Kawall: equivalência
para empresas que têm pouca patrimonial traz impacto
dívida e quando as taxas de juro relevante do ponto de vista do
acionista da BM&FBovespa
estão baixas”, explica.
O endividamento da bolsa,
no terceiro trimestre, era de R$
14,13 milhões, contra um patri-
mônio líquido de R$ 19,64 bi- “Antes (com 1,8%) nos bene- Essa posição e a parceira para vativos e a posição competitiva
ESTRUTURA
lhões na data. ficiávamos através do recebi- outros negócios, como plata- da diretoria e conselho da
O aumento de participação ● Pagamento de R$ 1,15 mento de dividendos, mas com forma tecnológica e compras BM&FBovespa. O analista Jorg
no CME Group também vai ge- bilhão será feito por misto a equivalência o efeito é multi- internacionais, agradou o Friedemann tem preço-alvo de
rar mudança no demonstrativo de caixa e dívida ou totalmente plicado e é bastante relevante mercado financeiro. R$ 15 para a ação.
financeiro da BM&FBovespa. As por endividamento externo para o acionista da BM&FBo- O analista do Barclays Hen- O potencial de valorização é
participações acima de 10% em ou doméstico. vespa”, afirma Kawall. rique Caldeira avalia em rela- semelhante à estimativa da cor-
outras companhias devem ser “A contabilização era apenas tório que a bolsa brasileira tem retora Link, de R$ 15,20. Mesmo
registradas com equivalência ● A operação deve ser pelo valor que uma empresa co- um potencial de valorização com saída de caixa, os analistas
patrimonial, mas em caso de aprovada em assembleia locou na outra, mas agora na acima de seus pares mundiais, consideram que o modelo de
participações menores com in- da BM&FBovespa bem norma internacional é pelo va- graças à forte estimativa para negócio tem como característi-
fluência sobre a administração como a estrutura de funding. lor de mercado que a participa- volume, múltiplos de rentabi- ca a geração de caixa. Para 2010,
também podem ser registradas. A estimativa é que seja ção acionária representa, o que lidade e iniciativas recentes a estimativa inicial é que a
“Teremos 5%, mas temos feito até o final de abril. dá uma boa inchada no valor do que podem elevar os lucros na BM&FBovespa gere um caixa de
vínculos da parceria estratégi- negócio”, explica Assaf Neto. plataforma acionária e à larga R$ 950 milhões.
ca, como o assento no conselho ● As corretoras aprovaram escala que a parceria com o Apesar das avaliações po-
da CME e a formação de um co- a operação e reforçaram Aprovação do mercado CME pode gerar. sitivas, ontem as ações da
mitê estratégico de investimen- recomendações de compra. Com o acordo, a BM&FBovespa O Bank of America Merrill BM&FBovespa fecharam em
tos”, explica Edemir Pinto, pre- BofA Merrill Lynch tem torna-se um dos maiores acio- Lynch reforçou a recomenda- queda de 2,20%, a R$ 12,20.
sidente da BM&FBovespa. Si- preço-alvo de R$ 15 para nistas individuais do CME ção de compra para os papéis da Mas o dia foi negativo para o
gnifica um reconhecimento o papel; Link estima R$ 15,20. Group, atrás de algumas gesto- bolsa brasileira, destacando vo- mercado - o Ibovespa fechou
contábil muito maior. ras de fundos de índice (ETFs). lume crescente em ações e deri- em baixa de 0,41%. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 39

Andre Dusek/AE

Carteira de crédito do banco comandado por Maria Fernanda


Ramos Coelho cresceu 55% no ano passado.
Projeções para 2010 estão amparadas na baixa renda

Lucro da Caixa recua 22%


e soma R$ 3 bilhões em 2009
No quarto trimestre do ano passado, o resultado positivo disparou 57% e totalizou R$ 972 milhões

A Caixa Econômica Federal re- Carteira de crédito 8,8% do crédito ofertado pelo dito total. Nos empréstimos ■ RENTABILIDADE
gistrou no quatro trimestre um sistema financeiro. Em 2008, a para pessoas físicas, a expec- Retorno sobre
lucro líquido de R$ 972 milhões,
cresceu 55%, participação havia sido de tativa é de um crescimento de o patrimônio líquido foi de
valor que representa alta de para R$ 124 bilhões. 6,5%. O índice de Basileia che- 32,2% e para empresas, de ou-
57,4% em relação ao mesmo
período de 2008. No acumulado
do ano, o lucro chegou a R$ 3
bilhões, uma queda de 22% na
O banco foi
responsável por
8,8% dos recursos
gou ao final de dezembro em
17,5%, acima dos 11% exigidos
pelo Banco Central.
Segundo o vice-presidente
tros 29,3%.

Baixa renda
A estratégia de crescimento, se-
22,8%
comparação com o ano anterior. ofertados pelo de Controle e Risco da institui- gundo a presidente do banco
O resultado da Caixa fez com
sistema financeiro ção, Marcos Vasconcelos, a Cai- Maria Fernanda Ramos Coelho, ■ SOLIDEZ
que ela alcançasse no ano um xa espera um crescimento do será baseada na baixa renda e Ativos totais da instituição
retorno sobre patrimônio líqui- crédito de 28,2% para 2010. A por essa razão a instituição não somaram
do de 22,8%, o que representa instituição prevê ainda ultra- pode perseguir o “lucro máxi-
uma queda em relação aos
30,7% do ano anterior. A Caixa
explicou que, apesar da queda
na rentabilidade, esse indicador
ficou sete pontos porcentuais
passar os 9% de participação no
mercado. Em 2009, a participa-
ção de mercado da Caixa foi de
8,8%. “A economia vai crescer
forte em 2010, mas sabemos
mo”, como em outras institui-
ções financeiras. “Nosso mer-
cado não permite isso. Traba-
lhamos mais com crédito dire-
cionado, que possui taxas de ju-
R$ 341 mi
acima da projeção do orçamento que teremos uma concorrência ros regulamentadas”, disse. ■ PROJEÇÃO
do banco do ano passado. maior este ano”, disse. A Caixa estima que o crédito Crescimento esperado
Os ativos totais da instituição No entanto, a projeção de- total deve crescer 28,2% em da oferta de crédito é de
financeira chegaram a R$ 341,8 verá ser revista para cima, em 2010, mas o número deverá ser
bilhões, com expansão de
15,5% e a carteira de crédito to-
talizava em dezembro R$ 124,4
bilhões, o que representa cres-
cimento de 55,3% sobre o esto-
função do bom desempenho da
área habitacional no início do
ano. A expectativa é que a mo-
dalidade cresça 26,3%, mas o
comportamento em 2010 até
revisto devido ao desempenho
do setor habitacional no início
do ano. A projeção média do
mercado para todo o sistema fi-
nanceiro está em torno de 20%.
28,2%
que de dezembro de 2008. Isso agora indica que a expansão Para atender a esse crescimento,
fez com que a Caixa fosse res- será maior, o que exigirá uma a instituição planeja abrir 200
ponsável no ano passado por revisão na projeção para o cré- novas agências no ano. ■ A.E.
40 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

INVESTIMENTOS

Aline Lima
alima@brasileconomico.com.br

Aluguel de ação pode indicar tendência Bancos Sem açúcar


Fator Corretora destaca Spinelli reprova resultado
de baixa, mas é preciso ter prudência resultados do Banrisul trimestral da Açúcar Guarani
O Banrisul divulgou, nesta A Açúcar Guarani (ACGU3)
Quando o assunto é aluguel de ações, muito anúncio do resultado do quarto trimestre semana, os resultados referentes publicou ontem um lucro líquido
se fala sobre as vantagens financeiras de se de 2009, que seria feito naquele mesmo ao quarto trimestre e consolidado de R$ 1,8 milhão no terceiro
ter um rendimento extra aplicando no mer- dia, só que após o encerramento do pregão, de 2009. O lucro líquido trimestre fiscal referente
cado acionário. O investidor que disponibi- houve um aumento excepcional de procura recorrente do último trimestre ao exercício da safra 2009/10,
liza o ativo em carteira para que outro in- por aluguel. Foram alugadas cerca de 12 do ano foi de R$ 184,3 milhões, revertendo o prejuízo de
vestidor opere com ele por um determinado milhões de ações (posição equivalente a R$ 7,2% a mais se comparado R$ 113 milhões reportado
período de tempo ganha, com o emprésti- 400 milhões), quando a média diária gira a igual período do ano anterior. no ano anterior. Para o analista
mo, uma taxa. O percentual acordado entre em torno de 800 mil ações. O retorno anualizado sobre o de investimentos da corretora
as partes pode, muitas vezes, ultrapassar o O resultado veio menor do que o espera- patrimônio líquido (ROAE) do Spinelli, Max Bueno, os números
rendimento da renda fixa. Por isso, além do pelos investidores e as ações da Vale, de período foi de 23,4%. “O lucro vieram fracos na comparação
das perspectivas de valorização da ação em fato, iniciaram a sessão de quinta-feira em líquido do Banrisul foi bom. Veio com os pares do setor,
bolsa e dos dividendos a serem distribuídos baixa na BM&FBovespa. Em relação ao fe- acima das nossas estimativas principalmente pelo efeito da
pela empresa, o investidor ainda conta com chamento da véspera (quarta-feira), Vale e do consenso de mercado”, valorização cambial e da seca
o retorno do aluguel. PNA chegou a cair 3,10%. À tarde, no en- afirma Fernando Salazar, analista sobre as operações em
O que pouco se fala em relação ao mer- tanto, o papel já ensaiava uma reação, com da Fator Corretora, em relatório. Moçambique, além dos custos
cado de aluguel de ações é sobre as estraté- os analistas reavaliando a performance da Dentre os destaques positivos, com problemas climáticos no
gias que podem ser montadas tendo ele por mineradora. Resultado: acabou fechando a estão crescimento da carteira de Brasil. “Estes efeitos combinados
base. É frequente nessas operações que o quinta-feira em alta de 1,90%. crédito, melhora nos indicadores praticamente impediram que
tomador do empréstimo venda a ação alu- Para minimizar os riscos de uma estraté- de qualidade e aumento das a Companhia tirasse pleno
gada no mercado à vista, estimando uma gia baseada em tendência de baixa, Rogé in- receitas com prestação de proveito da conjuntura favorável
queda da cotação no curto prazo, para de- dica a busca por proteção (hedge) via mer- serviços. Em linhas gerais, experimentada pelo setor, de
pois recomprá-la por um preço menor. Em cado de opções. Uma operação complemen- Salazar ressalta que o resultado aumento de 99,1% em dólar
última instância, portanto, as operações de tar à estratégia de venda de ação no mercado do banco foi bastante positivo, nos preços médios do açúcar”,
aluguel acabam sendo um termômetro de à vista pode ser a compra de opção de com- com manutenção do ritmo mostra relatório publicado pelo
baixa do mercado acionário. pra do mesmo papel — estratégia comumen- de crescimento da carteira analista. No período de nove
“As posições de aluguel em aberto devem, te chamada de operação de caixa. “A opção de crédito e melhora nos meses encerrados em dezembro
sim, servir de análise para o investidor”, não vai remunerar na mesma proporção da indicadores de qualidade de 2009, a empresa de açúcar
afirma Luiz Rogé, diretor do portal In- ação no mercado à vista, mas em caso de e de inadimplência. A margem e álcool registrou lucro líquido
vestCerto. Para quem está de fora do merca- queda do papel, o investidor limita as per- financeira do Banrisul evoluiu de R$ 15,7 milhões, ante as perdas
do de aluguel mas enxerga nele um sinaliza- das”, explica Rogé. acima das grandes instituições. de R$ 241,4 milhões apuradas
dor de tendência de baixa, a estratégia mais Luiz Jurandir Simões de Araújo, professor “Vale ressaltar que não houve um ano antes. As ações ordinárias
óbvia seria se desfazer do papel que está sen- da Universidade de São Paulo, vê com certa surpresas para as estimativas da empresa recuaram 5,44%
do muito procurado pelos tomadores. reserva apostas baseadas em aluguel. “Não é de resultado do banco, que e foram vendidas a R$ 5,39 no
Como toda aposta — e, nesse caso, ar- olhando para a estratégia dos outros que o permaneceram dentro do pregão de ontem. “Seguimos com
riscada —, pode ser que dê errado. Tome- investidor vai construir a sua”, justifica. “O guidance fornecido no início do visão cautelosa quanto à empresa
se o exemplo recente das ações preferen- aluguel pode ser um termômetro, mas não ano. Para os próximos trimestres, e ao desempenho de suas ações,
ciais da Vale. Na quarta-feira, antes do deve ser decisivo para o investimento.” ■ esperamos redução gradual com preço-alvo estimado em
do índice de cobertura, maior 12 meses”, afirma o analista.
alavancagem e diversificação Considerando o valor da cotação
MAPA DA MINA de ativos para a manutenção de ontem, o preço-alvo proposto
da rentabilidade do banco em pela Spinelli sugere um potencial
As 30 maiores posições em aberto* elevados patamares”, completa negativo de 5,4%. No ano, os
Salazar, da Fator Corretora. papéis acumulam baixa de 3,75%.
AÇÃO SALDO, EM R$ MILHÕES AÇÃO SALDO, EM R$ MILHÕES

Vale PNA 2.275 Redecard ON 282,55


APIMEC DEBÊNTURES
Itau Unibanco PN 2.120 Eletrobras PNB 281,56
Petrobras PN
Petrobras ON
1.500
1.272
Ambev PN
Siderúrgica Nacional ON
260,59
236,92
Reunião Intervias
OGX ON 781,57 Lojas Renner ON 229,55 A Associação dos Analistas e A Concessionária de Rodovias
Gerdau PN 681,80 Profissionais de Investimento do do Interior Paulista (Intervias)
CPFL Energia ON 204,62
Mercado de Capitais (Apimec-SP) solicitou ontem à Comissão
Bradesco PN 633,03 Lojas Americanas PN 198,08 realizará reunião pública com de Valores Mobiliários (CVM)
Itausa PN 554,57 Telemar PN 196,59 a diretoria da BM&FBovespa, registro da distribuição de até
Cemig PN 552,68 BM&FBovespa ON 196,30 dia 24 de fevereiro, às 9h, no 250 mil debêntures simples,
auditório da bolsa. Na ocasião, não conversíveis em ações,
Banco do Brasil ON 538,11 BRF Foods ON 183,29
a BM&FBovespa receberá o todas nominativas e escriturais,
Usiminas PNA 532,73 Santander Brasil Unit 170,88 Selo de Assiduidade Apimec-SP da espécie com garantia real.
Vale ON 515,86 Eletropaulo PNB 141,07 pelo quarto ano consecutivo Segundo o comunicado da
MRV ON 314,87 GOL PN 127,09 de reuniões com a associação. empresa, cada debênture terá
O selo significa que a empresa atua o valor nominal de R$ 1 mil na
Gafisa ON 297,53 Vivo PN 122,10
em linha com as boas práticas data de emissão, que está sujeita
PDG Realty ON 293,95 Copel PNB 119,54 de governança corporativa, às condições favoráveis do
ou seja, transparência e equidade mercado de capitais, totalizando
Fonte: Prosper Corretora * Em 11/2/2010 na divulgação de informações. o montante de R$ 250 milhões.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 41

BOLSA JUROS
Giro financeiro Mercado futuro

R$ 7 bilhões
foi o volume negociado no segmento Bovespa da bolsa durante
10,24%
foi a taxa de fechamento do contrato futuro de DI com vencimento
o pregão de ontem, em um total de 432,5 mil transações. O em janeiro de 2011, o mais negociado da BM&FBovespa. Foram
Ibovespa caiu 0,41%, encerrando o dia cotado aos 65.854 pontos. transacionados 248,7 mil contratos, com volume de R$ 22,8 bilhões.

IBOVESPA RENDA FIXA


Ação Código Cotação (R$) Variação (%) Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.
Mínima Máxima Fechamento No dia No ano 12 meses No ano adm. (%) (R$)
ALL AMER LAT UNT N2 ALLL11 14,98 15,60 15,60 2,97 -4,29 BB R FIXA LP PREMIUM 50 MIL FICFI 11/FEV 9,19 0,90 1,00 50.000
AMBEV PN AMBV4 167,79 171,74 169,13 -1,62 -3,08 BB RENDA FIXA LP 50 MIL FICFI 11/FEV 9,12 0,90 1,00 50.000
B2W VAREJO ON BTOW3 36,92 37,96 37,50 0,35 -21,55 BB RENDA FIXA LP ESTILO FICFI 11/FEV 9,12 0,90 1,00 -
BMF BOVESPA ON BVMF3 11,93 12,38 12,04 -2,11 -1,71 CAIXA FIC EXECUTIVO RF L PRAZO 11/FEV 8,34 0,84 1,10 30.000
BRADESCO PN BBDC4 30,75 31,78 31,61 -0,03 -4,27 BB RENDA FIXA 25 MIL FICFI 12/FEV 7,91 0,79 2,00 5.000
BRADESPAR PN BRAP4 37,64 38,59 37,99 -0,94 -1,40 CAIXA FIC IDEAL RF LONGO PRAZO 11/FEV 7,79 0,78 1,50 5.000
BRASIL ON BBAS3 29,95 30,77 30,50 -1,68 2,69 BRADESCO FIC DE FI RF MERCURIO 12/FEV 7,45 0,76 2,50 5.000
BRASIL TELEC PN BRTO4 13,05 13,47 13,14 -0,90 -21,55 BB RF MIL FICFI 12/FEV 6,77 0,66 3,00 200
BRASKEM PNA BRKM5 12,80 13,27 12,95 -1,60 -8,03 BB RENDA FIXA 200 FICFI 12/FEV 5,79 0,59 3,50 50
BRF FOODS ON BRFS3 43,93 44,89 44,01 -1,98 -3,00 BB RENDA FIXA LP 100 FICFI 11/FEV 5,13 0,53 4,00 100
CCR RODOVIAS ON CCRO3 37,64 38,72 37,70 -1,82 -5,49
CEMIG PN CMIG4 30,41 31,15 30,68 -1,51 -2,91
CESP PNB CESP6 22,88 23,81 23,20 -3,09 -3,45
COPEL PNB
COSAN ON
CPLE6
CSAN3
39,05
23,61
40,00
24,40
39,60
24,36
-0,38
0,54
6,91
-4,84
DI
CPFL ENERGIA ON CPFE3 36,91 38,29 37,91 1,64 7,36 Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.
CYRELA REALTY ON CYRE3 22,23 23,06 22,90 -0,99 -6,53 12 meses No ano adm. (%) (R$)
DURATEX ON DTEX3 16,52 16,90 16,60 -1,78 2,47
BB REFERENCIADO DI ESTILO FICFI 12/FEV 8,76 0,89 1,00 ND
ELETROBRAS ON ELET3 24,22 24,70 24,33 -1,70 -6,52
CAIXA FIC DI LONGO PRAZO 11/FEV 7,20 0,72 2,00 100
ELETROBRAS PNB ELET6 29,35 30,17 29,82 -1,03 -5,49
BB REFERENCIADO DI 10 MIL FICFI 12/FEV 7,13 0,71 2,50 5.000
ELETROPAULO PNB ELPL6 37,71 38,47 38,20 0,29 10,72
REAL FIQ REF DI SUPREMO 12/FEV 7,08 0,69 2,70 10.000
EMBRAER ON EMBR3 9,73 10,05 10,04 0,20 5,57
NOSSA CAIXA REFERENCIADO DI 11/FEV 6,73 0,67 2,47 100
FIBRIA ON FIBR3 35,59 36,80 35,63 -2,78 -8,85
BB REFERENCIADO DI MIL FICFI 12/FEV 6,54 0,63 3,00 200
GAFISA ON GFSA3 26,20 27,00 26,60 -1,66 -5,81
HSBC FIC R DI LP POUPMAIS 12/FEV 5,55 0,53 4,00 30
GERDAU PN GGBR4 25,68 26,40 26,10 -0,38 -10,43
REAL FIQ REF DI EXTRA 12/FEV 5,46 0,50 4,20 100
GERDAU MET PN GOAU4 31,42 32,18 32,10 0,25 -8,08
BRADESCO FIC DE FI REF DI HIPER 12/FEV 5,18 0,47 4,50 100
GOL PN GOLL4 24,37 25,25 25,15 0,00 -3,57
SANTANDER FIC FI CLASSIC REF DI 12/FEV 4,80 0,42 5,00 100
ITAUSA PN ITSA4 11,13 11,48 11,47 0,61 -2,92
ITAUUNIBANCO PN ITUB4 36,00 37,40 37,08 -0,03 -3,66
JBS ON JBSS3 9,02 9,24 9,08 -1,84 -2,58
KLABIN S/A PN KLBN4 4,80 4,95 4,95 1,02 -6,78
LIGHT S/A ON LIGT3 26,04 26,49 26,35 -0,08 1,42
AÇÕES
LLX LOG ON LLXL3 8,63 9,30 9,20 2,79 -9,00
Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.
LOJAS AMERIC PN LAME4 12,25 13,12 12,91 -1,75 -16,87
12 meses No ano adm. (%) (R$)
LOJAS RENNER ON LREN3 36,09 38,04 36,41 -3,29 -7,35
MMX MINER ON MMXM3 14,34 15,60 15,50 4,94 25,51 BRADESCO FIC DE FIA 11/FEV 52,61 (3,68) 4,00 -
MRV ON MRVE3 13,03 13,45 13,30 -0,45 -5,67 ITAU ACOES FI 11/FEV 51,75 (5,14) 4,00 1.000
NATURA ON NATU3 32,56 33,80 33,00 -2,65 -9,12 BRADESCO FIC DE FIA IV 11/FEV 51,74 (3,71) ND -
NET PN NETC4 21,35 22,00 21,50 -0,56 -10,42 BRADESCO FIC DE FIA MAXI 11/FEV 51,18 (3,71) 4,00 -
OGX PETROLEO ON OGXP3 17,28 17,75 17,53 -1,68 2,51 SANTANDER FIC FI ONIX ACOES 11/FEV 49,68 (4,45) 2,50 100
P.ACUCAR-CBD PNA PCAR5 62,45 63,85 63,19 -1,11 -2,81 BB ACOES VALE DO RIO DOCE FI 11/FEV 41,47 0,62 2,00 200
PDG REALT ON PDGR3 15,97 16,51 16,20 -1,82 -6,63 CAIXA FMP FGTS VALE I 11/FEV 40,52 0,18 1,90 -
PETROBRAS ON PETR3 37,17 38,25 38,25 1,16 -8,16 ITAU ACOES VALE FUNDO DE INV 11/FEV 39,19 0,05 3,00 1.000
PETROBRAS PN PETR4 32,95 34,02 33,80 1,32 -7,88 ALFA FIC DE FI EM ACOES 11/FEV 37,51 (6,27) 8,50 -
REDECARD ON RDCD3 24,95 25,25 25,20 0,00 -13,10 BB ACOES PETROBRAS FIA 11/FEV 18,25 (9,25) 2,00 200
ROSSI RESID ON RSID3 13,57 14,00 13,63 -3,20 -10,92
SABESP ON SBSP3 30,97 31,50 30,97 -2,18 -9,92
SID NACIONAL ON CSNA3 56,16 57,80 57,80 -0,34 3,21
SOUZA CRUZ ON CRUZ3 60,61 62,33 61,75 -0,08 6,91 MULTIMERCADOS
TAM S/A PN TAMM4 35,01 36,38 36,10 0,84 -5,12
TELEMAR ON TNLP3 38,11 39,10 38,60 -1,03 -13,65 Fundo Data Rent. (%) Taxa Aplic. mín.
TELEMAR PN TNLP4 32,34 33,11 32,65 -0,18 -11,99 12 meses No ano adm. (%) (R$)
TELEMAR N L PNA TMAR5 52,70 53,63 53,49 -0,59 -14,02 ITAU PERS MULT AGRESSIVO FICFI 11/FEV 19,64 (0,16) 2,00 5.000
TELESP PN TLPP4 40,05 40,91 40,27 -0,81 -6,61 ITAU PERS MULT ARROJADO FICFI 11/FEV 14,70 0,21 2,00 5.000
TIM PART S/A ON TCSL3 7,30 7,62 7,59 1,88 6,15 SANTANDER FI CAP GAR 2 MULT 11/FEV 14,37 0,90 2,50 5.000
TIM PART S/A PN TCSL4 5,10 5,25 5,24 0,77 2,34 ITAU PERS MULT MODERADO FICFI 11/FEV 12,30 0,31 2,00 5.000
TRAN PAULIST PN TRPL4 47,89 48,70 47,89 -0,62 -5,46 ITAU PERS K2 MULTIMERCADO FICFI 11/FEV 10,26 0,79 1,50 50.000
ULTRAPAR PN UGPA4 80,00 82,25 81,85 0,00 2,17 CAPITAL PERF FIX IB MULT FIC 11/FEV 9,83 0,99 1,50 20.000
USIMINAS ON USIM3 45,75 46,99 46,00 -2,48 -8,17 BB MULTIM TRADE LP ESTILO FICFI 11/FEV 9,73 0,80 1,50 -
USIMINAS PNA USIM5 45,92 46,84 46,15 -1,70 -6,56 ITAU PERS MULTIE MULT FICFI 11/FEV 9,32 0,83 1,25 5.000
VALE ON VALE3 48,70 49,85 49,35 -0,68 -0,30 BB MULTIM CONSERV LP MIL FICFI 11/FEV 8,03 0,41 2,00 1.000
VALE PNA VALE5 42,24 43,16 42,74 -0,60 1,28 SANTANDER FIC FI ESTRAT MULTIM 11/FEV 4,93 (0,68) 2,00 50.000
VIVO PN VIVO4 50,90 52,80 51,70 -1,37 -4,65
IBOVESPA IBOV 64965 66128 65854 -0,41 -3,99 *Taxa de performance. Ranking por número de cotistas.
*Em pontos. Fonte: Economatica Fonte: Anbima. Elaboração: Brasil Econômico

IBOVESPA IBRX-100 SMALL CAP - SMLL MIDLARGE CAP - MLCX


66.500 (Em pontos) 21.000 1.160,0 930

65.875 20.800 1.152,5 920

65.250 20.600 1.145,0 910

Máxima 66.133,39
64.625 20.400 1.137,5 900
Mínima 65.122,58
Fechamento 65.854,97
64.000 20.200 1.130,0 890
11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h 18h 11h 18h 11h 18h 11h 18h
Fonte: BM&FBovespa
42 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

A SEMANA NO BRASIL

OS NÚMEROS NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL QUER AGILIZAR


AÇÕES NA JUSTIÇA PARA REDUZIR CUSTO BRASIL
■ COCA-COLA José Cruz/Agência Senado

Devido à Copa no país,


a empresa investirá em
produção e marketing
até 2014 um total de

R$ 11 bilhões

■ MONTADORAS

R$
milhões
400 Projeto que cria novo Código de Processo Civil, elaborado por 12 juristas, poderá ser votado no Congresso até o fim deste semestre

serão investidos pela


Daniel Haidar no Congresso. O projeto prevê por um oficial de Justiça. A mais Para o ministro do Superior
Volvo Latin America dhaidar@brasileconomico.com.br mudanças como a redução do polêmica propostao, entretanto, Tribunal de Justiça (STJ)
em novos produtos número de recursos, que só é a possibilidade de execução e presidente da Comissão
no biênio 2010/2011 ■ O novo Código de Processo poderiam ser apresentados após imediata da sentença judicial, de juristas do novo CPC,
Civil (CPC), elaborado para dar a divulgação da sentença, e a prática que, segundo Luiz Fux, este é um ponto que
celeridade aos processos de intimação feita por advogados, especialistas, será atacada pode ser revisto, apesar de crer
natureza civil, promete gerar o que eliminaria a necessidade através de mandado de que a medida desencorajaria
■ BALANÇO muita discussão até ser votado de a comunicação ser feita segurança ou medida cautelar. muitos recursos.

Lucro do Itaú Unibanco


referente ao exercício
de 2009 surpreeende
analistas ao superar Nova corrida para aumentar a produção de etanol exige US$ 50 bilhões
Antonio Milena
■ O aumento da frota nacional, Os investimentos deverão

R$
bilhões
10 junto com a decisão do governo
americano de tornar obrigatório
o uso de biocombustíveis nos
veículos criará uma grande
demanda para o etanol
ser garantidos, em parte,
pela entrada de grandes grupos
multinacionais. É o caso
da anglo-holandesa Shell, da
americana Bunge e do francês
brasileiro. A previsão é de que, Louis Dreyfus, que efetuaram
somente o mercado interno fusões e aquisições de usinas
exigirá 50 bilhões de litros de etanol no país nos últimos
■ VAREJO em 2015, mais que o dobro seis meses. Grupos nacionais
do volume produzido em 2009 também se movimentam em
que, de acordo com dados direção a essa atividade,

200
unidades
da Agência Nacional de Petróleo,
Gás e Biocombustíveis,
se aproximou dos 23 bilhões
de litros. Essa demanda
exigirá investimentos da ordem
como a Odebrecht que ultima
os detalhes de uma união entre
a ETH Bioenergia, seu braço
na área energética, com a Brenco.
Petrolíferas como Petrobras e
de US$ 50 bilhões em usinas, British Petroleum (BP) também
é a meta das Lojas ampliação da área plantada planejam reforçar investimentos
Cem até 2011. Hoje, e pesquisas para melhorar a nessa área, que contariam
Pesquisa pode dobrar produção de etanol com o mesmo volume de cana
são 180. Este ano serão produtividade do biocombustível. com o amparo do BNDES.
abertas 10 unidades

■ A discussão sobre a ■ O papel dos bancos estatais ■ O Estado, em tese, exerce


■ NEGÓCIO GOVERNO VOLTA presença do Estado na na concessão de crédito, por papel de investidor para
COM FORÇA PARA economia ganhou força exemplo, foi fundamental para projetos de longo prazo, como

5
durante a crise de 2009. o período mais agudo do ano infraestrutura, e também de
A ECONOMIA De lá para cá, ficou evidente passado — 41,4% da carteira fiscalizador. Nos últimos sete
R$ bilhões que a era do Estado mínimo, de crédito era deles, marca anos, entretanto, agências
aventado por nomes como superior à dos bancos reguladoras sofreram
é o investimento a ex-dama de ferro inglesa privados. Estatais são intervenções. Mas pesquisa
previsto até 2014 para Margareth Thatcher nos importantes também para do instituto Millenium
programas de expansão anos 80 e 90, chegou ao fim. os Estados. Estatais mostra que 58% dos
florestal no Brasil No século 21, o governo voltou estaduais, como a Cemig, brasileiros são contra
definitivamente à ativa. ampliam seus tentáculos. privatização de estatais.
Evandro Monteiro Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 43

“O Brasil se saiu bem da crise, mas não


pode se gabar disso. É hora de evitar falar
só de realizações e discutir estratégias,
para que o país cresça até 2050”
Marcio Holland, professor da Fundação Getulio Vargas

Rodrigo Coca/AE

SERRA E MADONNA, EM SÃO PAULO CSN importa


R$ 500 mi
Na quarta-feira, 10, em trilhos
a cantora Madonna
visitou o governador de ■ A CSN recebeu
São Paulo, José Serra, no ontem um lote
Palácio dos Bandeirantes. de 8 mil toneladas
Trouxe na bagagem de trilhos importados
uma proposta de da Espanha e da Itália.
parceria de sua ONG O produto de aço
é parte das 170 mil
SFK (Sucess For Kids) toneladas que a
com o estado. O encontro siderurgica comprou
durou pouco mais de uma no exterior para
hora e terminou com a construir 1.728 km
promessa do governador da Transnordestina.
de levar o trabalho De acordo com
da SKF ao Escola da a empresa, outras
100 toneladas serão
Família, um programa compradas pelo
que prevê a abertura governo federal,
de escolas nos fins por meio da Valec,
de semana com o por R$ 164 milhões.
intuito de promover Ao todo, os trihos
recreação, atividades da ferrovia que irá
esportivas e culturais. interligar o Piauí
ao porto de Pecém,
Segundo Serra, o trabalho
no Ceará, custarão
da SFK, que atende R$ 500 milhões.
25 mil crianças no mundo A empresa também
todo, oferecendo aulas estuda a aquisição de
semanais voltadas 100 locomotivas fora
ao desenvolvimento do país e 3 mil vagões
da autoestima e nacionais ao custo de
até US$ 600 milhões.
da capacidade de lidar
e enfrentar problemas,
casa perfeitamente com
a filosofia do Escola Parceria
da Família. O governo
do estado entraria no
nos caixas
projeto cedendo salas e eletrônicos
equipamentos para a SFK.
■ Banco do Brasil
(BB), Santander
e Bradesco
assinaram acordo
de compartilhamento
de seus caixas
eletrônicos. Segundo
o Banco Central,
o Brasil tem
João Paulo Dias 832 terminais para
Camargo Corrêa adquire 28,2% da cada um milhão
de habitantes. Cerca
Cimpor e dificulta a estratégia da CSN de 40% dos acessos
às máquinas acontece
■ Após a Votorantim adquirir valor por ação. Com isso, a por meio de terminais
17,3% das ações da Cimpor, esta Camargo já detém 28,7% e pode compartilhados, como
semana foi a vez da Camargo chegar a 31,7%, perto de seu na parceria já mantida
Correa comprar fatias da objetivo que não é o controle da
entre o BB e a Caixa
cimenteira portuguesa. Primeiro, empresa. Quem busca o controle
Econômica Federal,
comprou uma participação é a CSN, que teve seu trabalho
de 22,2% que pertenciam dificultado pela ação da Camargo
através da Rede
ao empresário Teixeira Duarte, Correa e da Votorantim. 24 horas, da Tecban.
pagando € 6,50 por ação. A siderúrgica brasileira tem até Os três bancos
Além disso, os brasileiros ainda 17 de fevereiro para convencer estimam uma
obtiveram a opção de compra os demais acionistas da Cimpor economia de cerca
de mais 3% pertencentes aos a aceitar sua Oferta Pública de 20% com
familiares de Teixeira Duarte. de Aquisição. Se isso ocorrer, o novo sistema.
Na sequência, A Camargo fez nova Votorantim, Camargo Corrêa O Itaú-Unibanco,
investida e adquiriu a participação e CSN terão que compartilhar maior banco privado
de 6,5% que a Bipadosa detinha o comando da Cimpor ou iniciar do país, ficou
Fábrica da cimenteira portuguesa Cimpor, disputadíssima pelas brasileiras
na cimenteira, pagando o mesmo outra fase da disputa pelo controle. de fora do acordo.
44 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

A SEMANA NO BRASIL

Tim Boyle/Bloomberg

AS FRASES Os desafios
Divulgação
da Microsoft
■ A Microsoft mantém a força
nos seus negócios tradicionais,
Jonathan ao mesmo tempo que enfrenta o
Fenby desafio de crescer em operações
Diretor
da Trusted como internet e software para
Sources aparelhos móveis. Enquanto as
unidades de internet e
“O Brasil está entretenimento tiveram queda
muito sortudo de receita, o desempenho do
porque tem Windows 7 garantiu bons
resultados no segundo trimestre
coisas que a China fiscal, encerrado em dezembro.
precisa. Primeiro Foram vendidos 60 milhões
é a soja, depois o de licenças no período.
O lucro líquido ficou em
aço e, em terceiro, US$ 6,7 bilhões, alta de 60%
os alimentos” em comparação com o mesmo
sobre a posição atual do intervalo do ano anterior.
Brasil no comércio mundial
O risco é de o grande filão da
O recall da Toyota, que incluirá o híbrido Prius, vai custar à maior montadora do mundo cerca de US$ 1,5 bilhão
Bloomberg
companhia de Bill Gates, as
licenças, perderem espaço
com o crescimento da chamada Aumento desenfreado na produção pode gerar recalls?
computação em nuvem, na qual
toda infraestrutura é alugada ■ Com o anúncio do recall da Volkswagen Automotivos, Francisco Satkunas, afirmou ainda
Timoty pelas empresas. Além disso, do Brasil na quarta-feira, veio à tona a discussão que a alta na escala de produção e a variação
Geithner Apple e Google avançam na sobre o aumento do número de convocações da cadência também pode explicar o aumento
Secretário
do Tesouro
internet. A expectativa da para reparos de veículos pelas montadoras. de problemas nos automóveis fabricados.
dos EUA Microsoft, que tem o conjunto de Para analistas consultados pela reportagem “A variação da produção pode sim comprometer
patentes mais valioso dos últimos a desverticalização da produção de a qualidade em alguns modelos”, disse Satkunas.
“Isso nunca cinco anos, é que os lançamentos automóveis pode ser uma das causas para No Brasil, de janeiro a novembro do ano
acontecerá deste ano garantam o o grande número de recalls no mundo. passado, ocorreram 41 recalls, sendo cerca
com este país” crescimento em novos mercados. O conselheiro da Sociedade de Engenheiros de 700 mil clientes convocados.
sobre a rejeição dos bônus do
Tesouro dos EUA por investidores

Henrique Manreza

A IMAGEM DA SEMANA Rodrigo Leite


redacao@brasileconomico.com.br

Euro: entre e fique à vontade


Ao estipular as chamadas “regras de o FMI sugeriu que novos integrantes da
convergência” para a adoção do euro, UE incapazes de se enquadrar nas “regras
o Tratado de Maastricht dispôs minuciosamente de convergência” pudessem adotar
sobre como participar da união monetária, o euro, mas sem direito a voto no BCE.
mas nada exigiu em troca da permanência Se as regras fossem tomadas ao pé da
no clube. Agora, diante da crise nas bordas letra e houvesse a possibilidade de expulsão,
do continente, o Banco Central pouquíssimos sobreviveriam: 13 dos
Europeu (BCE) deve ficar mais rígido 16 países estão fora da meta de 3%
do que nunca para aceitar novos membros. de déficit, inclusive as poderosas França
■ O prédio do Banco Real na empresa ou locar Assim, a Estônia, país mais próximo e Alemanha. Para este, ano a previsão
Avenida Paulista (fotografado todo o prédio para uma de entrar para a Eurozona, se esforçou é de que a dívida francesa chegue a 82,5%
por Henrique Manreza) será única companhia. no ano passado para manter seu déficit do PIB, e a alemã a 76,7% – o teto estipulado
abaixo dos 3% exigidos, e sua dívida é de 60%. A Comissão Europeia avalia que só
ocupado por outras empresas Enquanto a Brazilian estuda
equivale a apenas 10,9% do PIB. a Finlândia tem contas públicas “de baixo risco”.
até o fim do ano. Famoso por o melhor modelo de utilização Enquanto isso, a Grécia (déficit de 12,7 % O Brasil, não fosse o detalhe geográfico
exibir uma das melhores do edifício, o Santander, dono e dívida de 113% do PIB) nem cogita ressuscitar de ficar na América, teria algumas chances
decorações natalinas da do Real, faz a transferência a sua milenar dracma, abandonada desde 2002. de trocar o real pelo euro em poucos anos.
capital, o edifício passará dos funcionários para a nova A rigor, um país não precisa cumprir Tem superávit primário nas contas públicas,
para as mãos da gestora de torre da instituição, nenhum dos requisitos, nem mesmo câmbio estável e endividamento em torno
fundos Brazilian Capital. localizada na Avenida ser da União Europeia, para adotar de 40% do PIB. Mas ainda precisaria
unilateralmente o euro como moeda. reduzir a inflação (a no máximo 3,2%,
Valor do acordo: R$ 270 Juscelino Kubitschek. Os
Montenegro e Kosovo já o fizeram, assim contra 4,6% previstos neste ano) e adequar
milhões. Segundo Fábio paulistanos, por sua vez, como há países que por conta própria suas taxas de juros àquelas que são praticadas
Nogueira, diretor da gestora, esperam que a nova dona dolarizam suas economias. O que realmente na Europa – isso sim, algo que parece
as opções são de alugar os mantenha a tradição faz diferença é ter assento no conselho hoje mais improvável que a transmigração
andares para mais de uma natalina do prédio. do Banco Central Europeu. Em 2009, do país para o outro lado do Atlântico.
Chris Ratcliffe / Bloomberg Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 45

A SEMANA NO MUNDO “Ele é um leitor agradável, mas não existe


nada no iPad que eu olhe e diga ‘Ah, eu
queria que a Microsoft tivesse feito isso!’”
Bill Gates, capo da Microsoft, em um momento
de aparente despeito em relação ao iPad, tablet da Apple.

John Kolesidis/Reuters

FUNCIONÁRIOS GREGOS FIZERAM GREVE CONTRA O CONGELAMENTO DE SALÁRIOS

Revoltados com as
medidas de austeridade
impostas pelo governo, os
funcionários públicos da
Grécia e outras categorias
profissionais realizaram
uma greve geral de
24 horas na quinta-feira,
enquanto as autoridades
europeias se mobilizavam
da defesa do euro.
“Não podemos pagar
pela crise”, dizia uma
das faixas levadas pelos
manifestantes.
No dia seguinte, líderes
dos 27 países da União
Europeia reuniram-se
em Bruxelas e definiram
um programa de ajuda
para os gregos, que ficaria
sob a tutela da UE, do FMI
e do BCE. Mas os termos
do apoio não foram
revelados e os mercados
queixaram-se da
incerteza que isso trazia.

Jason Reed / Reuters

Ben Bernanke prepara aumento do juro de curto prazo Jason Reed / Reuters
■ O presidente do Federal nas taxas de juros básicos no
Reserve (Fed) deu, na tarde de país. Isso aconteceria através
quarta-feira, pistas sobre sobre do aumento dessa taxa. Dessa
qual será o caminho de retirada forma, a autoridade monetária
dos estímulos injetados pelo americana espera encorajar os
governo no sistema financeiro bancos a alocarem recursos ao
ao longo da crise. Em discurso banco. E, assim, se enxugaria
preparado para o Comitê parte da liquidez existente no
de Serviços Financeiros do mercado. “Embora a economia
Senado, o executivo afirmou dos Estados Unidos continue
que, em um primeiro precisando de apoio de uma
momento, poderá utilizar política monetária relaxada,
a taxa depositada pelos bancos com juros básicos reduzidos,
Angelina Jolie em visita ao Haiti: a causa é nobre, mas pode atrapalhar ao Fed como importante em algum momento, o Federal
o trabalho humanitário feito por profissionais
instrumento de política Reserve precisará apertar as
Bernanke: novo ciclo de aperto
monetária em vez de mexer condições financeiras”, disse.
Angelina entre os escombros
■ Primeiro foi Sean Penn, que esteve por lá em 18 de janeiro, ainda
antes de a poeira do terremoto assentar. Uma semana depois, John Jason Reed / Reuters

Travolta pousou pilotando um Boeing emprestado, cheio de


suprimentos, médicos e missionários religiosos. Durante esta
Irã enriquece urânio e sofre sanções
semana, quem deu as caras em Porto Príncipe foi Angelina Jolie. ■ O presidente do Irã, Mahmud sua capacidade de produzir
Jolie, Travolta e Penn são personalidades que costumam abraçar Ahmadinejad, voltou a desafiar urânio altamente enriquecido.
causas corretas, e suas visitas às ruínas haitianas são cercadas das o Ocidente com seus planos O Irã é capaz de enriquecer
melhores intenções. Mas essas celebridades precisam de segurança, nucleares: na quinta-feira, que urânio a “mais de 80%”,
comida, água e cama, entre outras mordomias. É impossível não marcou o 31° aniversário da mas “não o fará porque não
pensar nos recursos humanos e materiais que mobilizam, desviando Revolução Islâmica. Em seu precisa”, dissepara uma
o foco do trabalho humanitário feito por profissionais. Uma semana discurso, para centenas de manifestação oficial. O governo
antes de Travolta pousar no Haiti, a entidade Médicos Sem Fronteira milhares de pessoas em Teerã americano anunciou na semana
havia se queixado com os EUA da dificuldade de acesso de seus — com os jornalistas o reforço das sanções contra o
cargueiros ao aeroporto local. estrangeiros devidamente Irã, em particular contra o
A justificativa para essas visitas costuma ser a de chamar a atenção do confinados em uma palanque poderoso exército ideológico do
mundo para o drama do Haiti – como se o mundo ainda não tivesse oficial — o presidente declarou regime, a Guarda da Revolução,
percebido. Quem acaba chamando mesmo a atenção são os próprios Ahmadinejad diz que o país pode que o Irã converteu-se em impedindo-a de receber
enriquecer urânio a “mais de 80%”
artistas, cuja imagem sai um pouco mais polida desses eventos midiáticos. “uma nação nuclear” graças à dinheiro vindo do exterior.
46 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

FIM DE SEMANA

PAULO LIMA SORAGGI

Tudo que você


queria odiar sobre Carnaval... Nelson Antoine/AE

...mas tinha vergonha


de escancarar

Este artigo deve ser lido por brasileiros estranhos como eu, que detestam a festa


Se tudo está mais caro e você Vinte e tantos anos depois trabalho. Ave, Maria. E quem não apareceria, a mulher do cartão
olha para conferir se tem Pepsa- E aí você tem de beber para supor- você nunca viu quer te abraçar de crédito não ligaria.
mar no bolso é porque já está tar a coisa. Ressacas a administrar com suores preguentos. Você não
curtindo o Carnaval. Cristo, por com o boldo escondido. E você está no menor clima, e a diferen- No Jogging
que eu odeio tanto o Carnaval? E lá estão as tem que participar dos eventos ça de temperatura fica evidente. E não faça caminhadas, nem dê
Este artigo deve ser lido por arquibancadas porque é casado, é filho, é amigo e Nem pense em demonstrar corridinhas. De manhã, jamais
brasileiros estranhos como eu. onde nunca me vai continuar bebendo. Se você cansaço. “Que é isso, cara?! apareça comendo melancia. Você
Na infância, eu era arrastado a tenta ficar sozinho para cometer o Come mais feijão!” E você tem de tem de estar bonito, mas não
bailinhos. As matinês me davam encaixarei porque absurdo de descansar, todos te estar em dia com seu humor, seu saudável. Carnaval é a festa da
medo e eu ficava entrelaçado às não suporto considerarão “o do contra”, “o senso de tolerância e sua alegria desmedida! Você tem de aparecer
pernas do meu pai. Eu não conse- sanduíches de chato”, “o que quer aparecer”, “o esfuziante. Só que eles sistemati- tomando cerveja às oito e meia,
guia usar as fantasias. Já me con- que gosta de ser diferente”. E o ca- camente teimam em sumir du- em copo americano. Dica: um
siderava mutante o suficiente. isopor. E lá vão lor. E os comentários da Leci rante todo o Carnaval. Pessoas espumante desce melhor para
Na adolescência, eu não via os camarotes que Brandão. E aquela profusão de como nós não merecem compai- quem não consegue deixar de
inocência nas marchinhas. Mi- cantam a diferença beldades que você não aguenta xão: “Você não é brasileiro!”. Je- emanar classe mesmo quando o
nha geração foi estragada pelos mais porque vê mais das mesmas sus, misericórdia... Dedinhos estômago está para ser furado
videocassetes libidinosos que entre você e curvas todos os dias na academia. para cima, havaianas coloridas, pela cabecinha do Alien.
não deixaram espaço para a a Adriane Galisteu E lá estão as arquibancadas purpurina por um mês inteiro. E se você aparecer com um li-
“loirinha de olhos claros de com aquela onde nunca me encaixarei por- E se eu quisesse ficar em casa vro num desses ambientes onde
cristal”. O desejo me fazia insis- que não suporto sanduíches de para fazer coisas bizarras, como ti- se respira molejo? Aí estará pe-
tir nos bailes. Quando tocavam magreza de plástico. isopor. E lá vão os camarotes que rar cochilos? E se eu quisesse ver os dindo para ser isolado numa câ-
“Bandeira branca, Amor”, eu E os dois milhões na cantam a diferença entre você e dois ou três filmes que ainda não vi mara bacteriológica. Resumin-
me lembrava do Charlie Brown. Praça Castro Alves? a Adriane Galisteu com aquela na TV paga? Claro que eu não que- do: sou obrigado a não ser eu du-
Depois veio a lambada, com magreza de plástico. E os dois ro ficar com Polly. Eu brincaria ex- rante quatro dias. Isso é muito
Beto Barbosa rebolando, e o axé, Nem Dodó. milhões na Praça Castro Alves? perimentos culinários, caçaria re- difícil para quem levou décadas
o assassino do Carnaval român- Nem Osmar Nem Dodô. Nem Osmar. ceitas, faria o bolo de chuchu da construindo um plano de saúde.
tico. E aquele samba reggae com Não se dorme bem. A Ivete e a minha mãe, com queijo canastra e No decorrer de toda essa
os sopros de trompete sempre Cláudia, a discípula de nariz feio, tudo. Mesmo que eu não fizesse agonia, há a possibilidade de eu
iguais em toda a praia. E o Carli- vão gritar a noite toda na festa em nada disso, que é o que geralmente me irmanar: todos comem pizza
nhos Brown. E num domingo que minha esposa gosta de ir para acontece com quem tem a oportu- quando a coisa aperta. Temos de
fui ouvir o Ocean Rain, do Echo pular em cima de uma cadeira, de nidade de fazer o que quiser, se- repor os carboidratos porque
& The Bunnymen. onde ela poderá cair para me dar riam dias em que o cara da dengue não é mole não, meu irmão. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 47

LUÍS COLOMBINI

A afetação da juventude

Porque jovens vens que precisamos, com perfil de diversos colegas, todos direto- empresa, há cerca de 2.000 em
aberto. Em menor escala, uma
de trainee, é uma grana que não res de recursos humanos de gran-
profissionais vale o esforço. des empresas, expôs as tintas ne- das maiores construtoras na-
gras do quadro que enxerga: cionais passa por situação se-
chegam ao Emprego qualificado Sim, por mais que as coisas Há empresas que melhante. Numa petroquími-
mercado de Nesse momento, o diretor con- estejam melhorando, o Brasil optam contratar pelo ca, idem com batatas.
seguiu ganhar toda minha aten- ainda está longe do ideal. Há CEP - quanto mais
trabalho exigindo ção. Faz anos que existe essa bolsões de miséria, problemas
distante dos bairros Mimados e apressados
conversa de que depois dos 40 sociais, essa coisa toda. Mas Por que isso acontece? São três
altos salários, anos fica difícil encontrar bons também está sobrando empre- abastados estiver as principais razões:
promoções rápidas empregos. Mas essa história de a go qualificado. Para consolidar o candidato, melhor. * A nova geração é muito di-
juventude não querer ganhar um projeto de expansão, uma ferente das anteriores, sobretu-
Por mais que os
e cargos de chefia quase R$ 10.000 de saída é no-
vidade para mim.
grande consultoria levou dois
anos para preencher 1.100 va- caras do Morumbi
do no que diz respeito aos filhos
das classes média e alta. Muitos
- Peraí. Do que nós estamos gas. Ainda hoje, na mesma tenham boa dos novos trainees são meio ar-
falando? Desde quando essa rogantes, meio petulantes,
“Faz oito meses que tento con- grana não vale o esforço? Que
formação, os de meio despreocupados demais.
tratar um gerente para uma uni- jovens desprezam uma bolada bairros afastados “A maioria dos pais bem-suce-
dade em São Paulo e não consi- dessas? Quando eu me for- têm mais garra. didos não educa os filhos para o
go”, reclamou o diretor de re- mei, ganhava o equivalente valor da conquista”, resume o
cursos humanos de uma rede a uns R$ 600, e achava que
Ouvi de um diretor. “Como resultado, mui-
internacional de hotéis. “Não era uma grana preta, nun- consultor a seguinte tos jovens negam um alto salá-
encontro a pessoa certa. E, ca tinha visto tanto di- frase: Inglês e gestão rio inicial simplesmente porque
quando parece que achei, em nheiro de uma vez. não querem trabalhar no fim de
um mês ela vai embora”. Foi aí que o diretor, falan-
dá para ensinar. semana, ou não lhes agrada a
Nos últimos anos, muitos do por si e também em nome Fibra moral, não ideia de à disposição da empre-
bons hotéis e flats foram cons- sa, de ralar 10 horas por dia”.
truídos na capital paulista, um Simplificando, na opinião do
recorde. Até 2014, ano de Copa diretor: “Não querem deixar de
do Mundo no Brasil, outros se- ir para a balada ou viajar para a
rão erguidos, reformados e revi- praia quando quiserem”.
talizados. Toda a cadeia está *Quando aceitam o empre-
precisando de gente boa. A con- go, têm comportamentos e ati-
corrência é assim, um tira do tudes impensáveis no passado.
outro, fica mesmo difícil con- Negam-se, por exemplo, a fa-
tratar as melhores cabeças. zer tarefas que consideram
Bem, pelo menos isso é o que menores. Revisar projetos nem
eu achava. Mas o diretor nem pensar. Eles querem criá-los,
me deixou terminar o raciocí- de preferência monumentais,
nio. Quando eu estava pronun- quase sempre reinventando a
ciando a frase “a concorrência é roda, não raro considerando
assim”, ele me cortou: que tudo o que existiu antes
- Não tem nada a ver com deles não presta.
concorrentes oferecendo mais * Mimados, também fazem
ou menos. O problema está nas questão de reconhecimento,
pessoas. Os mais experientes de elogios e aplausos. Se dis-
têm dificuldade com tecnologia, cordam de algo, falam na hora.
com 150 e-mails por dia despe- Se são contrariados, pedem
jados no celular, com demandas demissão. “Eles sabem que vão
inimagináveis há dez anos. E os conseguir outro emprego em
mais jovens não querem nada pouco tempo, seja porque o pai
com nada – afirmou o diretor, é bem relacionado, seja porque
com a segurança dos justos. têm certeza de que, rapida-
mente, outra empresa vai fazer
Grana alta alguma proposta”.
Começo a achar que estou dian- Para driblar essa “afetação da
te de uma espécie de sectário juventude”, muitas empresas
corporativo, do qual pretendo têm “adotado” estudantes –
me livrar nos próximos 40 se- contratam-nos, no primeiro ou
gundos. Generalizações são segundo ano de faculdade,
sempre perigosas. Parece muito como estagiários e passam a
improvável não existir alguém consertar suas lacunas de for-
com 55 anos que maneje mação e informação (isso é bom
Blackberry ou não supra as ne- também porque já vão absor-
cessidades dos novos tempos. vendo a cultura da empresa).
Também não é por que o diretor Há empresas, pequenas, mé-
entrevistou as pessoas erradas dias e grandes, que optam por
durante oito meses que a juven- contratar pelo CEP – quanto
tude inteira precisa ser conde- mais longe dos bairros mais
nada. O problema parece estar abastados, melhor. “Mesmo
mais nele do que nos candida- que os caras do Morumbi e do
tos. Enquanto estou naquela de Jardim Paulistano tenham uma
digo-ou-não-digo-o-que-eu- formação melhor, os de bairros
acho, o diretor continuou: mais afastados têm mais garra,
- O salário inicial era de dedicação e determinação”, diz
R$ 5.800. Hoje oferecemos um executivo de uma grande
R$ 9.700 e talvez tenhamos de consultoria. E arremata com
subir isso. Para os desemprega- uma frase de efeito que vai ao
dos com maior senioridade, se- núcleo da questão: “Inglês e ge-
ria uma dádiva, pena que eles renciamento dá para ensinar,
não correspondam. Para os jo- Mariia Sniegirova/Dreamstime
fibra moral não”. ■
48 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010

BRASIL ECONÔMICO é uma publicação da Empresa Jornalística Econômico S.A, com sede à Avenida das
Nações Unidas, 11.633, 8º andar - CEP 04578-901 - Brooklin - São Paulo (SP) - Fone (11) 3320-2000
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ÚLTIMA HORA

CSN melhora proposta para ter 1/3 da Cimpor DERIVATIVOS


Cetip inicia conversas
A Companhia Siderúrgica Na- para conseguir seu objetivo, vido à sua estratégia diferencia- para firmar acordo
cional (CSN) fez ontem o que DISPUTA PELA CIMPOR após essa data, a OPA se encer- da em relação à concorrência.
provavelmente tenha sido seu ra. A CMVM suspendeu as ope- “A Camargo fez uma oferta para com a Clearstream
último lance na tentativa de ad- As fichas de cada um rações em Bolsa com as ações da um grande acionista. A CSN está
quirir uma participação acioná- Cimpor ontem, quando elas es- abrindo aos pequenos a possibi- Seguindo a estratégia da
ria na Cimpor: encaminhou à tavam cotadas a € 5,36. lidade de fazer um bom negó- BM&FBovespa, a Cetip também
CSN
Comissão do Mercado de Valo- A nova oferta da CSN ocorre cio”, diz Montenegro. quer se internacionalizar.
res Mobiliários (CMVM) de Por- A nova Oferta Pública de Aquisição da CSN é de depois de o empresário Benja- O analista Felipe Reis, do O primeiro passo foi dado ontem
tugal uma alteração em sua € 6,18 por ação e está condicionada à aquisição min Steinbruch sofrer três reve- Santander, não vê com bons com o início das conversações
de um terço das ações da Cimpor mais uma ação
Oferta Pública de Aquisição ses. Primeiro, a Votorantim ad- olhos a nova proposta da CSN. com a alemã Clearstream para
(OPA). Na proposta original, a quiriu a participação de 17,3% “Eles aumentaram a oferta e uma “possível cooperação
CAMARGO CORRÊA
siderúrgica brasileira se propu- que a Lafarge detinha na Cim- não terão controle da Cimpor. estratégica, comercial e
nha a pagar € 5,75 por ação da Ofereceu € 6,50 por ação e levou as participações por. Depois, a Camargo Corrêa Não faz sentido estratégico tecnológica”, diz comunicado
cimenteira portuguesa e vincu- do empresário Teixeira Duarte , 22,2%, e da comprou os 22,2% que perten- compartilhar o controle com a emitido pela empresa, que realiza
Bidaposa, 6,5%, e ainda conquistou a preferência
lava sua oferta à aquisição do por 3% pertencentes a familiares de Teixeira Duarte ciam ao empresário Teixeira Votorantim e a Camargo Corrêa, a custódia, registro e liquidação
controle da companhia, ou seja, Duarte e, na sequência, os 6,5% seus principais concorrentes em financeira e dos instrumentos de
50% mais uma ação. Ontem, VOTORANTIM que pertenciam à Bipadosa. Nos cimentos no Brasil”, diz. captação de bancos e companhias
contudo, data limite para qual- dois casos, o valor pago foi de € Vale registrar que a Cimpor no mercado de balcão. A Cetip
Adquiriu a participação de 17,3% que a Lafarge
quer alteração na OPA, a CSN 6,50 por ação, acima dos € 6,18 tornou-se alvo dos concorren- levou um golpe com o acordo
detinha na cimenteira. O valor da transação
passou a oferecer € 6,18 por não foi divulgado e envolve troca de ativos. agora oferecidos pela CSN. tes após seus principais sócios entre a BM&FBovespa e a CME
ação e reduziu sua pretensão. A Os brasileiros ainda firmaram um acordo O analista Pedro Montene- entrarem em conflito de inte- para ampliar a oferta de produtos
empresa aceitará ficar com um de preferência para a compra de 9,6% da gro, da corretora Brascan, avalia resses. Resta saber se CSN Voto- de derivativos. A Cetip é a maior
terço do capital mais uma ação. participação da Caixa Geral de Depósitos que mesmo 5% inferior, a oferta rantim e Camargo serão sócios depositária da América Latina
Os brasileiros têm até o dia 17 Fontes: empresas da CSN pode obter sucesso de- mais amigáveis. ■ e a única com ações em bolsa.

Previdência da Mapfre bate R$ 1 bilhão Paulo Octávio deixa comando do DEM Paulo Giandalia/ AE Divulgação

A Mapfre Vida e Previdência comemora a Pressionado por quatro pedidos de im-


marca de R$ 1 bilhão em reservas, alcan- peachment, o governador em exercício
çada em janeiro deste ano. O crescimento do Distrito Federal, Paulo Octávio, pediu
consistente que a empresa vem obtendo ontem licença da presidência regional do
no mercado é parte da reestruturação DEM. Em carta encaminhada à Executiva
bem-sucedida feita no modelo de parce- Regional do partido, Paulo Octávio disse
rias, ressalta Antonio Cássio dos Santos, que o afastamento permitirá a ele “ter
presidente da seguradora. A Mapfre conta maior liberdade de interagir com as de-
com 25 distribuidores para seus nove fun- mais legendas da capital federal”.
dos previdenciários. Bento Zanzini, vice- Paulo Otávio é vice-governadro do DF,
presidente de vida e previdência, acres- e assumiu depois que o governador José
centa ainda a importância da estratégia de Roberto Arruda foi preso na quinta-feira,
multigestão adotada. clientes, colocando à disposição deles dia 11. “Entendo que, para ter maior li-
Além da Mapfre, Credit Suisse Hed- um grupo de consultores para aconse- berdade de interagir com as demais le-
ging-Griffo e BNP Paribas engrossam a lhar nos investimentos e esclarecer dú- gendas do DF, faz-se necessário o meu li-
lista de colaboradores. “Oferecemos vidas sobre declaração de Imposto de cenciamento e de acordo com o Estatuto
gestão de primeira linha”, diz Zanzini. O Renda: “Começamos o ano com o pé di- indico para substituir-me o vice-presi-
executivo também destaca o programa reito e pretendemos fechá-lo com cres- dente deputado federal Osório Adriano”,
de relacionamento da Mapfre com seus cimento de 35%”. ■ Aline Lima diz a carta divulgada ontem. ■ AE

Jean Pierre PingoudBloomberg

Lucro da Femsa cresce sete vezes no trimestre


As vendas de bebidas não alcoólicas levaram o lucro da com- cados, puxado pela aquisição da marca de sucos Del Valle e da
panhia a 4 bilhões de pesos mexicanos (US$ 311 milhões) no água mineral Brisa na Bolívia. As receitas cresceram 27,6%
quarto trimestre de 2009, contra 586 milhões de pesos no sobre o mesmo trimestre do ano anterior, para 29 bilhões de
mesmo período de 2008. A Femsa é a maior engarrafadora pesos. Os principais fatores que puxaram esse resultado fo-
Coca-Cola na América Latina e no Brasil e vendeu sua divisão ram o aumento de 8,7% no volume de vendas, para 652 mi-
de cervejas — dona da Kaiser e da Bavária — para a holandesa lhões de unidades; a elevação dos preços médios; e um efeito
Heineken no mês passado. As receitas da divisão Coca-Cola positivo do câmbio mexicano sobre o balanço da companhia,
Femsa tiveram crescimento de dois dígitos em todos os mer- ao contrário do que havia ocorrido um ano antes. ■

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DESTAQUE MAIS LIDAS ONTEM ENQUETE


Sim
BM&FBovespa dá primeiro grande passo após fusão ● Recente descoberta da Petrobras anima analistas O problema no 63%
endividamento
A BM&FBovespa deu ontem o primeiro grande passo ● CVM cancela registro de companhia aberta da Parmalat de alguns países
após a abertura de capital, em 2007, e integração, na Zona do Euro
● Link: operação entre BM&FBovespa e CME é positiva
em 2008, dos lados de derivativos e ações. pode frear Não
A empresa ampliou de 1,8% para 5% a participação ● FMI pede que governos reduzam a dívida pública a recuperação 37%
na holding de bolsas Chicago Mercantile Exchange econômica?
(CME). O negócio foi avaliado em US$ 620 milhões. ● Caixa fecha 2009 com lucro líquido de R$ 3 bilhões Fonte: BrasilEconomico.com.br

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Outlook
SUPLEMENTO DE FIM DE SEMANA
BRASIL ECONÔMICO
13/FEVEREIRO/2010

19

“A vida íntima
dos outros é íntima
e é dos outros.
O papel do observador
é patético”
Marina Colasanti, escritora
FOTO PATRICIA SANTOS
2 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

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Cardápio
13.2.10

Este Pedro Alexandre Sanches, outrora malvado


crítico musical, só pode estar me provocando.
Um dia desses, e fiz referência a isso neste mesmo
espaço, ele entrevistou em meu lugar o Arnaldo
Antunes. Agora surgiu embarcado no Atlético*
de Roberto Carlos, meu maior sonho de consumo
lisérgico. A partir da página 6, o sortudo
jornalista, identificado a bordo como um
“robertólogo”, manda notícias da fragata real:
“É o cenário mais surreal, feérico e rodriguiano
que jamais conheci”. Guarde um pouco para mim,
Pedro. Na pág. 16, prosseguimos em regime
monárquico, com Queen e Freddie Mercury, cuja
biografia de um mercurólogo francês sai agora no
Brasil. Esta, aliás, é uma edição musicada. Mesmo
o literato Ronaldo Bressane, em sua resenha de
livro na pág. 14, escreve sobre Samba de Enredo.
Aqui aproveitamos para agradecer à revista Vogue
pela cessão das imagens digitalizadas do arquivo
pessoal de Marina Colasanti (pág. 26) e felicitar
a chegada de dois repórteres ao time que produz
este caderno, Natália Mazzoni e Gabriel Penna.
Não é o navio de Roberto Carlos, mas estamos
todos no mesmo barco. Fred Melo Paiva
*Este editor não escreve a palavra “cruzeiro”.
4 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

IDEIAS FORTES

Lilia Moritz Schwarcz


É a promessa
ADRIANA VICHI

de vida...
Há tempos o melancólico refrão da música de Tom Jobim não nos Seguindo seu manual
emociona mais. Hoje não são apenas as águas de março fechando o ve- de naturalista,
rão, o aguaceiro cai desde dezembro, sem dó nem piedade, e não deixa conde De Buffon
qualquer vestígio de saudades.
Também parece que perdemos a vontade de cantar “E, São Paulo,
previa que
São Paulo da garoa, São Paulo é terra boa”. Garoa é agora sinônimo de a minhoca de hoje
trovoada, tempestade, inundação, tempo abafado, condições que em seria o jacaré
nada lembram a romântica capital dos paulistas, antes definida por de amanhã;
sua chuva fina, fria e delicada. o mosquito,
O mesmo se pode dizer das marginais dos rios Tietê e Pinheiros; no uma águia no futuro;
passado locais bucólicos, cujas águas corriam livres e limpas. Por lá se e a formiga,
praticava canoagem, assim como se realizavam animados concursos
de natação. Já o espetáculo que presenciamos é bem diferente: as mar-
um hipopótamo.
ginais se converteram em cenário dileto para enchentes, viraram o Assim caminhava,
símbolo maior da poluição e da confusão que reina na cidade nestes senão a
meses, pretensamente calmos, das férias de verão. humanidade,
Mas, se tudo muda, o pior é que certos fenômenos permanecem; ou ao menos
melhor, insistem em se reapresentar. Nesses meses de temperatura a animalidade:
elevada, junto com o calor e as chuvas, chegam os famintos mosquitos evolutivamente.
e formigas. E não pense você, caro leitor, que esse é um castigo recen- E, enquanto
te. Ao contrário, desde que São Paulo é São Paulo — desde os tempos
em que não passava de um pequeno entroncamento para as tropas
não viravam
atravessarem —, nossa urbe já era descrita a partir de seus convidados o que ‘deveriam
inesperados: moscas, mosquitos e toda sorte de pequenos e incômo- ser’ — animais
dos seres voadores ou rastejantes. de grande porte —,
Gandavo, um mal-humorado viajante seiscentista português, além de esses minúsculos
demonizar o Brasil, dizendo que essa era uma terra sem F, L e R — fé, lei, habitantes
rei —, completava o quadro descrevendo uma verdadeira procissão de continuavam
insetos: “Essa terra está coberta de formigas, pequenas e grandes, e uma ‘afligindo fiéis
infinidade de mosquitos que perseguem toda gente e a todo o tempo”.
O conde De Buffon, conhecido naturalista que nos idos do século 18 e hereges’
nos definiu como um “povo infantil” — já que os indígenas não tinham
pelos e, segundo ele, mal balbuciavam —, sugeriu que a imaturidade do
continente americano era proporcional à prole de diminutos animais
que por aqui grassava, “dentre mosquitos, formigas e toda sorte de ma-
lefícios da terra”. Seguindo seu manual de naturalista, o conde previa
que a minhoca de hoje seria o jacaré de amanhã; o mosquito, uma águia
no futuro; e a formiga, quem sabe, um hipopótamo. E assim caminhava,
senão a humanidade, ao menos a animalidade: evolutivamente. E, en-
quanto não viravam o que “deveriam ser” — animais de grande porte —,
esses minúsculos habitantes continuavam “afligindo fiéis e hereges”.
Um oficial prussiano de passagem no país relatou seus tormentos du-
rante um baile realizado na fazenda paulistana da Mandioca, nos idos de
1819: “Às 8 horas, os braços, ombros e costas das damas, que trajavam
vestidos decotados da moda, já tinham sido tão picados por mosquitos
que, de tão vermelhos, assemelhavam-se a soldados após apanharem
de chicote. Até mesmo eu, que não dancei, mantive-me em constante
movimento, saltando como um gafanhoto, a fim de afastar os mosquitos
das minhas meias de seda. Não é para menos que os bailes aqui tenham
um raro valor. Primeiramente os mosquitos; segundo, o incrível calor
do qual tantas pessoas sofreram em um espaço limitado”.
Como se vê, o mundo tropical sempre cobrou caros pedágios dos
viajantes, e mesmo dos pobres patrícios. O fato é que nesse tipo de re-
lato as chuvaradas, os bichos de pé, as formigas e os mosquitos vira-
vam com frequência personagens principais, assim como definiam o
futuro (ou a falta de futuro) do país.
Não por acaso, Macunaíma teria afirmado que “muita saúva e pou-
ca saúde os males do Brasil são”. Nosso herói “sem nenhum caráter”,
conforme definição do próprio Mário de Andrade, de alguma maneira
vocalizava a máxima do cientista Saint-Hilaire, que esteve no Brasil
apenas de 1816 a 1822, mas logo pegou o espírito da coisa: “Ou o Brasil
mata as saúvas ou elas é que matam o Brasil”.
Enfim, assim estamos. Em pleno fevereiro, a aguaceira continua
castigando, sem sinal de trégua; comandos armados de formigas as-
saltando tudo que é doce; e os mosquitos tornando as nossas noites in-
sones. Se Deus fosse mesmo brasileiro, daria um jeito nessa história,
pois em São Paulo já ultrapassamos os quarenta dias de chuva de Noé.
Já Moisés, caso nascesse por aqui, faria bom usa das pragas tipicamen-
te nacionais: insetos subversivos e dilúvios tropicais. Pobres egípcios!

Lilia Moritz Schwarcz é professora titular do Departamento


de Antropologia da USP. É autora de O Sol do Brasil
(Companhia das Letras, Prêmio Jabuti 2009), entre outros.
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 5

CRÔNICA

Humberto Werneck

ARQUIVO PESSOAL
Em busca da
empada perdida
Estavam os dois num pub em Londres, e lá pelas tantas Fernando Sa- Na caça ao tesouro,
bino perguntou a Michael Ould, cidadão britânico, se ele sentia sauda- contei o quanto
de de Belo Horizonte, onde vivera na década de 40. pude com o faro
Foi o que bastou para que o súdito de Sua Majestade se visse arrastado certeiro de minha
por uma onda de irresistível nostalgia. Mas nada de Pampulha, Serra do
Curral, Rua do Amendoim, essas belorizontices; a lembrança mais for- mãe. ‘Atualmente
te que Michael guardava da capital mineira era de uma empadinha. a melhor é a da Boca
Sim, uma empadinha. de Forno’, dizia ela.
Mas não qualquer uma, faça-me o favor: aquela de galinha (não se di- Na viagem seguinte:
zia “de frango”), ou de camarão, do Trianon, um bar que existiu na Rua ‘A da Tia Clara’.
da Bahia. Outro nativo talvez se ofendesse ao ver sua cidade resumida a Um dia me veio
um salgadinho na memória de um forasteiro. Mas não Sabino, que na ju- com esta: ‘Parece
ventude pudera regalar-se com as famosas empadinhas do Trianon.
Mais que famosas, mitológicas. E, como nenhuma outra, literárias.
mentira, mas agora
Duvida? Então leia o que diz Pedro Nava em Beira-mar, a respeito da- é a da cantina
quelas tentações douradas: “As maiores, as mais suntuosas empadi- do Hospital Mater
nhas que já comi no mundo. Eram pulverulentas apesar de gorduro- Dei’. Lá fui eu,
sas, tostadas na tampa, moles do seu recheio farto de galinha ou ca- sob um sol de verão,
marão. Desfaziam-se na boca. Difundiam-se no sangue”. Não espan- atrás da empada
ta que custassem 400 réis, um absurdo, no tempo em que, estudante hospitalar. Estacionei
de medicina, Nava se locupletava daquele bendito colesterol. em fila dupla, corri
Como as madeleines, capazes de desencadear em Marcel Proust as
mais sutis lembranças, as tais empadas belo-horizontinas transcende- à lanchonete e,
ram a condição de salgadinho, converteram-se em apetitosas musas. E na saída, tropecei
não inspiraram apenas Pedro Nava. As papilas lítero-gustativas de num primo,
Eduardo Frieiro e José Bento Teixeira de Salles, entre outros, também médico do hospital.
registraram as delícias do Trianon. Murilo Rubião não chegou a escre- ‘O que foi?’,
ver, mas se transfigurava ao falar delas — a tal ponto, conta Sabino, que perguntou, assustado.
o interlocutor ficava sem saber se o contista se referia às empadas ou, ‘Empadinha”,
para rimar, a namoradas que houvesse igualmente saboreado em sua
juventude, essas, imagina-se, menos gordurosas e nada pulverulentas.
berrei sem me deter.
Quanto a mim, não me canso de lamentar ter chegado com atraso a ‘Estragada?!’
um mundo em que as proustianas empadinhas do Trianon já se haviam
transformado em literatura. Retardatário, tive que me bastar com su-
cedâneos, alguns deles, é verdade, memoráveis. E vi a situação degrin-
golar quando troquei as Gerais pela Pauliceia. Sei que estou comprando
uma briga, mas vamos lá: a menos que você me prove o contrário, o que
eu adoraria, não há em São Paulo empadinha que se compare às de Belo
Horizonte — cujo grande problema, porém, e aqui vou comprar outra
briga, é uma desconcertante falta de regularidade. Há que garimpar.
Na busca ao tesouro, contei o quanto pude com o faro certeiro de
minha mãe. “Atualmente a melhor é a da Boca de Forno”, dizia ela. Na
viagem seguinte: “A da Tia Clara”. Um dia me veio com esta: “Parece
mentira, mas agora é a da cantina do Hospital Mater Dei”. Lá fui eu,
sob um sol de verão, atrás da empada hospitalar. Estacionei em fila
dupla, corri à lanchonete e, na saída, tropecei num primo, médico do
hospital. “O que foi?”, perguntou, assustado. “Empadinha”, berrei
sem me deter. “Estragada?!”, alarmou-se ele.
Para não falar nas recônditas maravilhas que não se compram no
comércio, pois em Minas subsiste a benfazeja instituição da “dona” —
tem sempre uma dona Fulana a quem se encomendam doces e salga-
dos. De uma delas não guardei o nome, mas deveria, pois eram ines-
quecíveis as suas empadas, miúdas, de massa fina e maleável, quase
ILUSTRAÇÃO GONÇALO VIANA resistente à mordida, dessas que dispensam volta ao forno — você
apanha direto na geladeira, de madrugada, e os dois se derretem.
Quis, claro, trazer uma provisão para São Paulo. Problema: a
“dona” acabara de sofrer um AVC. Com mal-contido espírito interes-
seiro, acompanhei a evolução do estado de saúde da empadeira, que
nunca vi mais gorda nem magra. De volta a São Paulo, o golpe: empa-
da como aquela, nunca mais.
Você pode achar que estou exagerando, mas senti, e sinto ainda,
uma pungente orfandade gastronômica.

Humberto Werneck é jornalista e escritor.


É autor, entre outros, de O Pai dos Burros
(Arquipélago Editorial) e O Santo Sujo (Cosac Naify).
6 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

BASTIDORES

O que só um
‘robertólogo’
poderia ver no
navio do Rei
Embora tenha passado anos sob
a couraça de crítico musical,
o jornalista Pedro Alexandre Sanches
é tão fã de Roberto Carlos quanto
qualquer outro no cruzeiro que
zarpou levando sua Realeza. Sobre
as águas do Atlântico, mergulhou
no cenário ‘mais surreal, feérico
e rodriguiano’ que jamais conheceu

TEXTO P E D R O A LE X A NDRE SANC HES

á 200 anos Roberto Carlos só

H
faz shows em estádio, giná-
sio ou na tela da TV Globo.
Mas esta noite ele está diante
de uma plateia de “apenas”
mil pessoas. A orquestra não
se faz presente. O público não está à beira de
um ataque de nervos. É uma experiência
intimista como nunca dantes na história
deste “rei” da popularidade brasileira. Mas,
espere um pouco. Alguém pode me belis-
car? É possível que eu esteja mesmo em um
show (mais ou menos) íntimo de RC, no
alto de suas cinco grandiloquentes décadas
de música pop e de idolatria romântica?
Não, não estou sonhando. Estou embarca-
MARCOS DE PAULA/AE

do no navio Emoções em Alto Mar e, na


sexta-feira 5 de fevereiro, sou um dos mil
exclusivíssimos felizardos presentes.
Nem em sonho eu havia sequer me ima-
ginado ali, apesar de ter escrito e publicado
um livro centrado na figura desse cara,
Como Dois e Dois São Cinco — Roberto
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 7

FOTOS CLAUDIA SCHEMBRI/DIVULGAÇÃO

Acima, o clássico brinde com o público durante a música Champagne, de Pepino di Capri,
inserida no show especialmente para o navio. Abaixo, dois integrantes da ‘espetacular’
multidão exibem as rosas que ganharam, desta vez distribuídas durante Comandante
do Seu Coração (imagem no canto da página) em vez de em Jesus Cristo. À esq.,
a chegada retumbante do ídolo, sobre um moderno triciclo onde se lê as iniciais RC

Carlos (& Erasmo & Wanderléa) (Boitem- Canções do dito cujo beliscar outra vez, se já não tivesse pedido. RC sem parar, se divertem a valer, bebem,
po). O outro livro, Roberto Carlos em De- tocam sem parar, Pois fui. E mergulhei dentro do cenário comem, dançam ao som ao vivo (e esco-
talhes (Planeta), de Paulo Cesar de Araújo, 24 horas por dia, mais surreal, feérico e rodriguiano que ja- lhido diretamente pelo dono da cabeça)
foi proibido. E o meu passou em brancas em todos os mais conheci. Não sei se em algum momen- dos grupos Exaltasamba e Calcinha Preta.
nuvens, o que de certo modo talvez tenha to me imaginei dentro do cérebro de Rober- Diante dos animadores de navio vestidos
sido bom — não fiz “sucesso”, mas tam- alto-falantes to Carlos, mas era como se isso estivesse de cangaceiros no show do Calcinha, me
bém não fui proibido. Somadas todas essas dos 14 andares acontecendo. Canções do dito cujo tocam pergunto se não estou no navio de outro
circunstâncias, nunca me imaginei en- do navio-edifício. sem parar, 24 horas por dia, em todos os rei, o do baião, Luiz Gonzaga. Mas como
trando no navio do Lobo Mau mais bonzi- É um cenário alto-falantes dos 14 andares daquele navio- anda brasileiríssima a mente desse Rober-
nho do pedaço (ou vice-versa?). coloridíssimo -edifício-crânio. Se vale a analogia, diria to Carlos (e que bom que defendi em meu
Não tenho a menor dúvida de que per- habitado por que a mente de RC é um cenário coloridíssi- livro a tese de que RC é o que é porque é o
tenço à imensa legião de fãs dele, embora uma multidão mo habitado por uma multidão desconcer- mais brasileiro de todos os brasileiros)!
tenha passado anos camuflado no couro tante, por um milhão de amigos (ou melhor, Léa conta que o “rei” traz a bordo uma
duro de crítico musical “malvado”. Mas
desconcertante, bem mais amigas que amigos) a persegui-lo comitiva de 150 pessoas, na qual inclui seu
nem por isso foi menor o susto de receber o por um milhão sem trégua, em ritmo de aventura. corpo de funcionários, de motoristas a se-
convite direto da doce jornalista Léa Pen- de amigos A multidão, no Emoções em Alto Mar, é guranças, todos em férias e acompanha-
teado, diretora de comunicação da em- (ou melhor, bem mais espetacular que o anfitrião. São mi- dos pelas respectivas famílias. Se esses
presa que cuida dos interesses profissio- mais amigas que lhares de mulheres (e alguns homens), a circulam incógnitos em meio à massa hu-
nais de RC (e assessora, por muitos anos, amigos) maioria de idade mais ou menos regulada mana, Roberto, ele mesmo, faz aparições
do “malvadíssimo” apresentador de TV com a do ídolo, a desfilar numa montanha esporádicas em sua própria cabeça. Dizem
Flávio Cavalcanti). Mais ainda: Léa me humana, ora em biquínis e maiôs, ora em que tem um andar inteiro reservado para
convidou, segundo suas palavras, como magníficos trajes de gala, oito e oitenta. ele (ninguém sabe qual é, e abundam fan-
“robertólogo”! Eu pediria para você me Curtem a vida adoidada(o)s, falam sobre tasias sobre passagens secretas e fundos
8 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

BASTIDORES

FOTOS CLAUDIA SCHEMBRI/DIVULGAÇÃO

Dizem que há
um andar inteiro
do navio reservado
para Ele. Mas
ninguém sabe
qual é e abundam
fantasias sobre
passagens secretas
e fundos falsos
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 9

FOTO LEO LEMOS/REVISTA QUEM


falsos), e dali só sai para, por exemplo,
premiar os vencedores do karaokê de
canções adivinhe de quem.
A aparição principal é a do show. São seis
sessões, para dar conta de todo o público
pagante (o navio tem capacidade para
3.780 hóspedes, e é otimizado em duas via-
gens de cinco dias cada). O dono de nossas
cabeças inicia os trabalhos íntimo e pene-
trante, celebrando o fato de que “moramos
alguns dias na mesma casa, dormindo sob o
mesmo teto”. Mas aí se inicia um fenômeno
surpreendente. Sem orquestra, jogos de lu-
zes e outras pirotecnias, o rei está nu. Canta
genialmente e dá às interpretações nuan-
ces e sutilezas que seriam imperceptíveis
num ginásio. Está no controle completo da
situação. É a hora da estrela.
Ironicamente, o público não parece
acostumado a ficar em segundo plano
num show de RC. Sem a fúria louca de
som, cor e luz, a plateia parece intimidada
em gritar, uivar, cantar junto e gritar
“maravilhoso!” — e se encolhe, vai ao ter-
ceiro plano. Do outro lado do espelho, Ro-
berto está nitidamente feliz com a oportu-
nidade (é voz corrente que ele adora esses
cruzeiros), mas parece também inadapta-
do à situação de relativa intimidade.
No dia seguinte, uma fã idosa reclama
com Léa a ausência de Cavalgada — mas
como reproduzir a grandiloquência da- Sem orquestra, E eu, que fui lá tentar entender um pouco mântica e platônica é elemento essencial da
quela épica canção sexual sem os artifícios jogos de luzes menos de longe a mente dessa minha ob- equação. E, ao mesmo tempo, ele parece
e adereços de praxe, e como não desapon- e outras sessão, caio insone na madrugada de des- tão simples e sincero no ato de permitir que
tar a plateia diante desse vazio? pirotecnias, o rei pedida. Me ponho a vagar pelo convés, aca- seu capetinha apareça à beira da roleta, por
RC consegue. E não consegue. Estrelas está nu. bo entrando no cassino às 3 horas da manhã baixo da lã de brasileiríssimo cordeiro.
não mudam de lugar. Estrelas mudam de e dou de cara com... Roberto Carlos. Atrás do cordão de isolamento repleto
lugar. O show termina, mas continua lá
Canta genialmente Não é sonho, não precisa me beliscar. RC de velhinhas apaixonadas, canso de es-
fora, protagonizado por uma rica fauna e dá às interpretações está, sim, na roleta, apostando a própria perar que Roberto pare de apostar e parta
social, étnica e cultural. O público do na- nuances e sutilezas sorte em fichas azuis. A expressão é serena, rumo a alguma fresta secreta entre a rea-
vio, repito, é mais espetacular que o ídolo. que seriam satisfeita, bonachona. Ele sabe, e todo lidade e o sonho. Desisto, por ora, de
E o ídolo continua sendo o que é porque imperceptíveis mundo ali sabe, que estamos dentro de uma querer decifrar a esfinge. Entrego os
divide a dor e a delícia de ser o que é. num ginásio potente máquina capitalista — a paixão ro- pontos: vou dormir.

Acima, o vencedor do karaokê, só com músicas adivinha de quem, tem a honra de receber
a medalha do próprio. Mais acima, às três da manhã, uma improvável aparição alvoroça
o cassino do navio: sereno, satisfeito e bonachão, RC aposta a própria sorte em fichas azuis.
À esq., o restaurante Roma devidamente ornamentado para o ‘Jantar de Gala’. Na pág.
oposta, acima, o comandante Michele di Gregorio posa com o Rei enquanto uma multidão,
já embarcada, se esgoela por Ele. Ainda na pág. oposta, abaixo, o calhambeque de Roberto
(que viajaria na popa), exposto no Porto de Santos antes de zarpar
10 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

PROVOCAÇÃO

FOTO LALO DE ALMEIDA/SAMBAPHOTO

Demorou: ‘sim’ virou


peça de museu da língua
portuguesa. Fala sério!

A substituição do ‘sim’ pelo ‘com certeza’


revela um Brasil que não hesita mais?
Com certeza! É como se o país tivesse caído num caldeirão de convicção.
Vivemos tempos incertos, mas nas ruas o que se vê é um frenesi categórico

TEXTO CH I CO M A T T OS O

maginemos um rapaz. O Ayrton. Re- para os familiares, os amigos, a vizinhança, deirão de convicção. Vivemos tempos in-

I
Quando se viu,
cém-admitido em uma empresa de numa trajetória tão arrebatadora que não certos, mas nas ruas o que se vê é um fre-
contabilidade, ele vive a insegurança
um país inteiro tinha demora a virar canto de torcida, grito de nesi categórico. O que aconteceu com
donovato.Aquelenervosismo.Aque- aprendido a repetir, feirante, quem sabe até bordão de novela. O nossa hesitação? Onde foi parar a tibieza
la vontade de fazer parte das rodi- diante da mais Ayrton jamais saberá que foi o responsável que nos define? Será o “com certeza” um
nhas. Chega sexta-feira, e eis que o singela indagação, pela criação de uma expressão tão popular sinal de que o Brasil finalmente superou
Carlão do financeiro resolve convidar os co- o mesmo mantra — deve pensar que apenas repetiu algo que seu complexo de vira-latas? Ou, ao con-
legas para um churrasco. O Ayrton vai. Está incontornável. tinha ouvido na rua. O fato é que agora está trário, é sinônimo de uma histeria oca, tí-
intimidado, mas aos poucos começa a se sol- Vai passar feito, que o inconsciente nacional foi defi- pica de quem não tem a menor idéia de
tar. Conta um caso envolvendo seu tio-avô. o Carnaval na praia? nitivamente contaminado e não há o que porcaria nenhuma?
Não demora e está emplacando piadas, fa- impeça a frase de seguir ecoando, límpida e Eu não saberia dizer. Sei apenas que,
zendo aquela imitação do Pelé que todo
Com certeza! Gosta insuportável, até o fim dos tempos. cada vez que uma dessas expressões faz
mundo acha engraçada. Eufórico, Ayrton de jabuticaba? Histórias como essa devem ter marcado doer o meu ouvido, penso que o problema
sente que está integrado, que foi aceito pelo Com certeza! a gênese de outras expressões, como “fala talvez não seja dos outros, mas meu, de
grupo, que agora só falta descobrir o nome Torce pro sério”, “demorou” ou “com certeza”. Em minha atávica incapacidade de conectar-
da loirinha do RH que lhe sorriu outro dia no Corinthians? algum momento da última década, al- -me ao espírito do tempo, percebendo a
elevador. Nesse momento o Carlão lhe dá um Com certeza! guém decidiu que o “sim” tinha ficado dé- beleza existente na replicação de um fe-
tapa nas costas e pede que ajude a buscar Com certeza! modé — e, quando se viu, um país inteiro nômeno puramente verbal, como uma
umas cervejas no freezer da cozinha. É tinha aprendido a repetir, diante da mais grande corrente capaz de afirmar, de ma-
quando, dos subterrâneos verbais de seu in- singela indagação, o mesmo mantra in- neira definitiva, nossa indivisível huma-
consciente, o Ayrton resume seu contenta- contornável. Vai passar o carnaval na nidade. Mas cá entre nós: custava o Carlão
mento em uma expressão: praia? Com certeza! Gosta de jabuticaba? ir buscar a cerveja sozinho?
— Só se for agora! Com certeza! Torce pro Corinthians? Com
O pessoal ri. A frase pega, se espalha, ul- certeza! Com certeza! Com certeza! O escritor Chico Mattoso é autor de
trapassa os corredores da firma, se estende É como se o país tivesse caído num cal- Longe de Ramiro (Editora 34).
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 11

OS TIRAS

QUADRINHOS DOS ANOS 10 - André Dahmer

FINDLEMUD - Rafael Sica

LINHA DO TREM - Raphael Salimena

PARADOX CITY - Arnaldo Branco

André Dahmer
12 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

ZOOM

J.R.Duran
As vantagens
do jet lag

A vida corporativa, social, moderna,


enfim a vida de hoje, exige que os mo-
mentos em que você deve repor as ener-
gias do seu corpo aconteçam em inter-
valos predestinados. O café da manhã, o
almoço, o jantar e até uma escapada rá-
pida para um cafezinho têm de ser pau-
tados pelos mesmos intervalos em que os
seus pares estão se dedicando às mesmas
tarefas. Se não for assim, você corre o
risco de perder o que acontece na sua es-
fera de controle. Até aí, nada de novo. É
para isso que servem os horários. Um
ritmo que marca o compasso do dia. Da
semana. De sua vida.
Se por um lado viajar sozinho implica
momentos de solidão, carregados de uma
melancolia juvenil, existe o contraponto
que possibilita tomar decisões banais sem
estar atrelado ao fluxo que pontua a rotina
do viageiro em seu lugar de origem.
O que quero dizer é que em geral o jet
lag parece ser uma fonte de aborreci-
mento para a maioria dos viajantes. Para
mim ele é motivo para pontuar o dia de
acordo com as necessidades do corpo e
não das convenções. Isso possibilita a
oportunidade de se viver 24 horas de
uma maneira diferente. Ou seja, me dei-
xo levar pelas vontades de meu corpo
desnorteado pelo fuso horário — quanto
maior, melhor — e aproveito para explo-
rar momentos diferentes em horários
inusitados. Almoço às 3h da manhã. So-
neca à 1h da tarde. Café da manhã no
meio do dia. Cinema à meia-noite. Lei-
tura de livro às 5h da manhã.
Trocar o dia pela noite, quando não se
tem mais remédio, pode-se converter em
uma experiência liberadora: seguir os
instintos básicos de alimentação em lugar
das regras da conveniência. Sem falar da
possibilidade de estar em dois lugares ao
mesmo tempo. Como isto é possível?
Simples. Um conference call com o Brasil,
com fuso horário de 12 horas, sem que
ninguém do outro lado da linha saiba a sua
exata locação. Ou, então, ligar para casa,
para dizer bom dia, quando você está indo
para a cama — falo de horários normais,
por favor — ainda no fim do dia anterior.
Mas a maior vantagem de viajar sozi-
nho é uma só. Você pode comer o que
você quiser, na hora em que tiver vonta-
de e no lugar que você decidir. Ponto. O
que é necessário para esse tipo de extra-
vagância, porém, é ter a força física —
pensando bem, será força física ou de es-
pírito? — para permanecer acordado.
Mas aí, meu caro, é uma outra história.

J.R.Duran é fotógrafo e escritor. É autor,


entre outros, de Cadernos Etíopes (Cosac Naify).
No Twitter: @jotaerreduran.
J.R.DURAN /FILE INC.

Se por um lado viajar sozinho implica momentos de solidão, carregados de uma melancolia juvenil, existe o contraponto
que possibilita tomar decisões banais sem estar atrelado ao fluxo que pontua a rotina do viageiro em seu lugar de origem
Eleitos

So sexy | A peça de acrílico espelhado do estúdio


Nada Se Leva não poderia ter melhor nome:
Fetiche. Com pernas de 44 cm de altura
e amarração de corselet, tem um espelho secreto
embaixo do tampo. Pra quê? Vai saber. Por R$ 1.981,
na Conceito Firma Casa.
14 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

ELEITOS

FOTO DIVULGAÇÃO

O escritor Mussa e o historiador Luiz Simas


arriscam-se no exercício do batuque

É devagar, devagarinho
No saboroso Samba de Enredo — História e Arte, Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas
criticam a desembestada correria dos desfiles contemporâneos
e demonstram erudição ao tratar do ‘mais brasileiro dos gêneros épicos’
TEXTO RON ALD O BRE SSAN E

ó faltou um CD para acom- Denunciam de as escolas se dissociarem do estereóti- Didi e outros compositores como dona

S
panhar a edição. Aí sim fica- o absurdo ‘desvario po da falta de cultura do morro, por outro Ivone Lara, Beto Sem Braço e Silas de Oli-
ria perfeito este Samba de rítmico’ que faz é um gesto de boa vontade para com o na- veira ganham deliciosas mini-biografias,
enredo — História e Arte (Ci- cionalista Estado Novo de Getúlio Vargas. além das próprias escolas de samba.
vilização Brasileira). Afinal,
com que os ritmistas Claro que as “apoteoses de fascinação” No capítulo “Encruzilhada” (1990-
ninguém tem a memória hoje teleco-tequem das patriotadas da época se refletem na -2009), a dupla instaura bem fundamen-
quilométrica do escritor Alberto Mussa e a mais de 150 batidas ruindade de muito samba de hoje. Mas a tada polêmica ao criticar a pasteurização
do historiador Luiz Antonio Simas para por minuto — dupla lembra que sambas críticos, como dos sambas de enredo, incentivada pelo
sambas de enredo — a grafia correta para praticamente uma Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fanta- engessamento comercial e televisivo dos
o “único gênero épico genuinamente bra- rave: ‘Não há sia , da Beija-Flor de 1989, beberam em desfiles. “A aceleração progressiva do
sileiro”. E embora muitos sambas cario- melodia cadenciada temas pouco conhecidos, como Seca do andamento descaracteriza o gênero”,
cas tenham letras imortais, quase sempre que se encaixe nesse Nordeste, da Tupi de Brás do Pina para o afirmam os autores, denunciando o ab-
são poesia indissociável da melodia e do carnaval de 1961, que desviava totalmen- surdo “desvario rítmico” que faz com
ritmo. À parte este reparo, é um livro glo- padrão. Não dá para te da tendência ufanista dominante. que os ritmistas teleco-tequem a mais de
rioso para entender melhor como inven- cantar mais de oito A virada dos 50 para os 60 trouxe os 150 batidas por minuto — praticamente
tamos um gênero que ornou gargantas fe- sílabas em quatro primeiros sambas que exploravam a ne- uma rave: “Não há melodia cadenciada
minis e varonis no maior espetáculo da compassos. gritude — cuja origem seria Machado de que se encaixe nesse padrão. Não dá para
Terra e que hoje vem perdendo criativi- Um desastre’ Assis, de Martinho da Vila, lá nos idos de cantar, bem audíveis e bem pronuncia-
dade e esplendor. 1959. Aí surge a época de ouro (de 1969 a das, mais de 8 sílabas em quatro compas-
Não é possível apontar com exatidão 1989), quando temos, ao lado dos temas sos. Um desastre”. Mussa e Simas deto-
qual teria sido o primeiro samba de enre- altissonantes, típicos dos anos desenvol- nam a pobreza dos enredos — politica-
do de verdade, aquele que responde a to- vimentistas da ditadura militar, sambas mente corretos, cheios de lugares co-
dos os requisitos — grande extensão de subversivos tanto na forma, no léxico e muns, ou tratando de empresas — e a
versos, poema mais apoiado em uma es- nos versos mais soltos, quanto no conteú- preferência por melodias leves. “Poucas
trutura narrativa que lírica, refrões, con- do — para lembrar de novo Martinho, que escolas de samba podem se orgulhar do
sonância com o enredo da escola de sam- em 1972 provocava fazendo a palavra “li- que têm levado para a avenida. Os sam-
ba, “cuja letra desenvolve, expressa ou berdade” desfilar pela avenida. Entre os bas da época de ouro são os únicos lem-
alude ao tema da escola, que se manifesta 70 e os 80, os grandes vultos históricos brados pelo grande público”. Para a du-
em fantasias, alegorias e adereços”. Ape- dão lugar para personalidades populares, pla, a padronização, que faz os sambas de
sar das controvérsias históricas, o samba lendas da mitologia brasileiras — e o pró- enredo de hoje parecerem inventados
de enredo mais antigo seria O Mundo do prio carnaval vira tema, como no excep- pela turma do Casseta & Planeta, poderia
Samba, da Unidos da Tijuca, de 1933. Já no cional É Hoje , da União da Ilha de 1982 ser quebrada somente se reduzindo a ve-
período clássico (1951 a 1968), as escolas (“Minha alegria atravessou o mar/ E an- locidade aos 130 BPM típicos dos anos 70
usavam personagens e eventos da história corou na passarela...”), criado por Didi, e 80. Afinal, já que estamos tratando da
do Brasil para colorir seus enredos — o um erudito procurador da República que gramática da beleza, do delírio e da escu-
que, se por um lado afirma uma vontade Faltou o CD vir junto com o livro compôs sambas de enredo mitológicos. lhambação, pra que tanta pressa?
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 15

Acadêmicos do
Grandes twittadas
Nosso Cancioneiro da semana
Uma coleção de livrinhos que desvenda a gênese
de alguns grandes álbuns da música brasileira
Pérolas, achados
e picaretagens.
os poucos, a riqueza da mú-
O melhor da filosofia

A
Em Eu Quero é Botar Meu
sica brasileira vem sendo
Bloco na Rua, o poeta em até 140 caracteres
mais lida do que ouvida. Nos
últimos anos têm surgido e tradutor Paulo Henriques
edições de letras de alguns Britto repõe na roda a obra
grandes compositores, como maior de um compositor
Chico Buarque e Caetano Veloso, e a memó- morto prematuramente,
ria da manifestação artística que mais visi- Sérgio Sampaio.
bilidade dá ao Brasil vem sendo resgatada, O pós-tropicalista tem @alecduarte Justo em ano de Copa: calendário gregoriano
recriada e reinventada por gente como José a companhia de Velô, o disco
Miguel Wisnik, Pedro Alexandre Sanches e
de Caetano Veloso desvendado se repete, e os dias de 2010 são os mesmos que os de 1982.
Carlos Calado, entre outros. Mas, ao lado
dos grandes ensaios ou biografias, há tam- por Santuza Campraia Neves Mau presságio? @rogerioceni A paradinha só virou notícia
bém espaço para edições espertas, focando
alguns aspectos essenciais da música. É o no mundo todo porque foi contra mim. Se fosse contra
caso da coleção Língua Cantada, da editora
carioca Língua Geral. goleiros que não pulam em pênalti, ninguém falaria nada.
Em Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, revisita seu cancioneiro e descobre um Rio
o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto de Janeiro que, violento, paradoxal e @xicosa Só o mingau do desprezo serve de mamadeira para
repõe na roda a obra maior de um compo- funkeiro, não encontra mais eco no liris-
sitor morto prematuramente — Sérgio mo mauricinho bossanovista. Lupicínio e um homem covarde. @mercadante Agora na Costa Rica, o
Sampaio. Capixaba, amigo de Raul Seixas, A Dor de Cotovelo, de Rosa Dias, trata do
Sampaio foi um autor maldito, que fazia último disco do autor de pérolas como Ju- presidente Arias transferiu prestígio e fez a sucessora,
questão de espezinhar fama, fortuna e pú- diaria e Caixa de Ódio — talvez ninguém
blico. Meu Bloco, seu grande sucesso, era tenha buscado a dor, da desilusão amorosa Laura, mulher. Por que não comparar com a vitória de
apenas a ponta do iceberg de uma obra que à tristeza metafísica, como grande tema
combinava rock, samba, folk, letras me- quanto o compositor gaúcho. A nota desa- Dilma? @vermartins Pedido de chefe é uma ordem: Minis-
lancólicas e versos incendiários. O pós- finada fica com Logo Parecia que Assim
-tropicalista tem a companhia de Velô, o Sempre Fora, caderno de fracos poemas tros cedem a apelo de Lula para permanecerem no cargo
disco de Caetano Veloso desvendado por em prosa de Pedro Luís inspirados no ál-
Santuza Campraia Neves, ponto de infle- bum Olho de Peixe , de Lenine e Marcos durante a campanha. @pdralex E que livro o Serra teria
xão na obra do baiano, em que o flerte com Suzano. O amadorismo deste em contra-
o rock, o rap e o pop inglês deu em canções ponto à profundidade na exploração dos dado pra Madonna? “Renda Mínima”? Não, esse seria o
hoje datadas como Podres Poderes ou an- outros quatro livrinhos fica como dica —
tológicas como O Quereres. Em Uma Pá- nem sempre um ótimo compositor pop Suplicy... @LuisFVerissimo O PT não quer outra coisa do que
tria Paratodos, Heloísa Maria Murgel Star- tem suficiente clareza do seu objeto de tra-
ling relaciona a obra de Chico Buarque à de balho. O bom é saber que há intelectuais a comparação. Em 1º lugar porque Serra representando
seu pai, Sergio Buarque de Holanda, no dispostos ao trabalho de desvendar a nossa
momento em que o cantor de Paratodos música com sabor e sem pedantismo. R . B . FHC é menos preocupante do que o Serra como novi-
dade. @Zekley Essa ideia de um debate entre FHC e Lula
vai causar uma semana de insônia no Serra. @carpinejar

IMAGENS REPRODUÇÃO A saudade é uma tristeza alegre. A nostalgia é um de-


sespero manso. @arnaldo_antunes Árvore, pode ser cha-
mada de pássaro, pode ser chamada de máquina, pode
ser chamada de carnaval. @fcorazza “Soninha posa nua
para calendário de ciclistas”. A culpa é da Fernanda
Young. @arnaldobranco Depois de todos esses anos, en-
tendo o Simonal. Também pagaria para uns caras tor-
turarem o meu contador... @marcobianchimtv Os comer-
ciais de cerveja na TV exibem aquelas gostosas q nós

Enquanto o livrinho sobre Lupicínio revela a dor do cantante gaúcho, Pedro Luís
ACHAMOS q estamos vendo e pegando após a décima-
perde-se em poemas amadores que deveriam tratar da obra de Lenine
-sétima latinha. @josesimaoband As cédulas vão ter tama-
nhos diferentes para as maiores caberem na meia e as
menores na cueca!
16 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

ELEITOS

A lenda revista
Freddie Mercury, biografia de autor francês que chega

TEXTO D AN IE LA PAIVA

ma fortaleza resguarda os

U
avanços em direção à memó-
ria de Freddie Mercury, cujo
aniversário de 20 anos de
morte ocorre no ano que
vem. São poucos os livros que
oferecem uma espiada na vida de uma das
maiores vozes da história do rock mundial
— e um número ainda menor de títulos fo-
ram editados no Brasil. Freddie Mercury
(Planeta), de autoria do francês Selim
Rauer, observa o mito pelas frestas. Mas
compõe um cenário lúdico em que se vê
com novo olhar o nascimento, a ascensão e a
morte do artista.
Rauer busca a mitologia grega e o molde
dos roteiros de teatro para estruturar as 320
páginasdabiografia.Ex-diretordeteatro,ele
divide a trajetória do ídolo como se fosse uma
tragédia em três atos. Nas primeiras cenas,
mostra a transformação de Farrokh Bulsa-
ra, nascido na ilha de Zanzibar, na Tanzâ-
nia, em Freddie Mercury. Captura o lei-
tor ao detalhar episódios como o da
epifaniamusicalemquesurgeoso-
brenome Mercury.
O mito de Ícaro, que ga- O tesouro de Mercury
nha asas para fugir do exí- inclui mais de 300 milhões
lio e acaba morto pela falta de discos vendidos, 15 álbuns
de cautela no exercício de estúdio com o Queen,
da liberdade em pleno
voo, inspira a segun-
dois da carreira solo, além de
da parte do livro. compilações e ao vivo.
Nela,oleitorsede- E hinos que ficaram para a
para com um história, como We Are the
Freddie Mercury Champions, Radio Ga Ga,
que já é o grande Bohemian Rhapsody,
astro do Queen, e Under Pressure e I Want
que pode e deseja to Break Free
de tudo. Sexo, dro-
gas, os shows gi-
gantescos como os tin, herdeira e tida como a grande mulher de
da primeira turnê sua vida, dos familiares e dos discretos par-
sul-americana do ceiros do Queen, Brian May (guitarra), Ro-
grupo, que passou ger Taylor (bateria) e o aposentado John
pelo Estádio do Mo- Deacon (baixo). Para tanto, desenrolou
rumbi (São Paulo) em um currículo pomposo em que consta-
1981, e o da segunda vi- vam a formação em filosofia e especiali-
sita ao Brasil, no Rock in zação em artes e espetáculos pela Univer-
Rio, em 1985. No livro, sidade de Sorbonne, a autoria no blog do
ambas as passagens do jornal francês Le Monde, dois livros pu-
ídolo pelo Brasil blicados. Nada baixou as armas dos guar-
compõem apenas diões da memória do cantor.
brevesregistros.
A terceira parte da
IMAGEM DIVULGAÇÃO
obra narra o drama de
uma celebridade que
tenta esconder um se-
gredo a qualquer cus-
to. Ao final, o que fi-
cou para a história:
Mercury revelou o
que se espalhava
FOTO ROGER BAMBER / ALAMY

como boato: carre-


gava o vírus HIV, cu-
jas complicações vi-
riam a matá-lo em 24 de
novembro de 1991.
O autor conta que tentou
se aproximar de Mary Aus-

Bico e pose em
performances únicas
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 17

em forma de tragédia
agora ao Brasil, joga alguma luz sobre a história do cantor, obscurecida por familiares e membros do Queen

JORGE MARINHO/ AG O GLOBO


‘O U2 encerra história do mito de Ícaro
Em 1985, o Queen
o capítulo da era contado pela lente de um ícone
(na foto, Freddie e
o guitarrista Brian dos mitos do rock, do rock — o nascimento, a TRECHOS
May) se
em que o público ascensão e a queda.
apresentou no
Rock in Rio: um era devoto da música
show que ficou na O que você descobriu sobre a
memória roqueira
e da personalidade relação entre os integrantes
do país (dos artistas)’ — do Queen?
Selim Rauer Eles eram muito próximos,
especialmente no começo.
Passavam muito tempo juntos no
palco, no estúdio, nas turnês. No
entanto, tinham estilos de vida
diferentes e precisavam se
distanciar de vez em quando.
Mercury protegia muito John
Deacon (baixista). Mas eles
viraram uma banda, o que quase
Como surgiu a ideia significa ser um corpo só. Essa
de uma biografia francesa união pode ser vista na capa do
sobre Freddie Mercury? álbum The Miracle (1989).
Queria escrever um livro sobre o
rock, e não havia nada Quem você apontaria como
originalmente em francês sobre figura marcante, a exemplo
Freddie Mercury. A história dele de Mercury, nos dias de hoje?
é muito fascinante. Tem um tom Para mim, o U2 encerra o capítulo
O verdadeiro tesouro de Mercury inclui de literatura. A vida e o trabalho da era dos mitos do rock, “ E n q u a n to B r i a n M ay esc u tava a
mais de 300 milhões de discos vendidos, 15 com o Queen são uma coisa em que o público era devoto apresentação que ele fazia da letra e da
álbuns de estúdio com o Queen (incluindo única, uma tragédia musical. Ao da música e da personalidade melodia de uma canção, My Fairy King ,
um póstumo), dois da carreira solo, além de mesmo tempo em que ele queria (dos artistas). Vivíamos um Freddie foi de repente para o quar to,
compilações e gravações ao vivo. E hinos criar uma obra monumental, período de utopia em que se para rabiscar alguns versos novos, en-
marcantes como We Are the Champions, não conseguia ser amado. Chegou acreditava que música e arte quanto murmurava palavras confusas.
Radio Ga Ga, Bohemian Rhapsody, Under a um ponto em que a música era a podiam transformar o mundo. May se sentou perto dele, esperando que
Pressure e I Want to Break Free. única maneira de encontrar O engajamento político do U2, se decidisse a continuar mostrando o
Coube à “plebe” colaborar para o renas- amor. Isso é muito humano. especialmente de Bono, é prova resto da melodia. Foi então que o guitar-
cimento da lenda na versão francesa, cuja disso. O público mudou muito, rista o ouviu dizer a si mesmo: ‘Mother
primeira tradução é justamente a que chega Você conseguiu se aproximar mas o U2 acertou ao trazer um Mercury, look what you have done to me,
ao Brasil. Rauer entrevistou David Evans e da família, do Queen ou novo som para o rock, e também I can not run, I can not hide’ (em tradu-
Peter Freestone, que lançaram a biografia de Mary Austin (que viveu compreendeu, como o Queen, ção livre: Mamãe Mercury, veja o que
Freddie Mercury: Memórias do Homem que com Mercury e tornou-se que a experiência deveria ser maior você fez, não posso mais fugir, não pos-
o Conhecia Melhor (Madras), e nomes como sua principal herdeira)? do que apenas escutar música. so mais me esconder)”
Hannes Rossacher, diretor de filmes e vi- É impossível chegar perto
deoclipes do Queen, e o fotógrafo Mick de Mary Austin. Ela não dá Sua visão sobre Mercury “Foi durante as sessões de improvi-
Rock. Fez também uma intensa pesquisa entrevistas, é discreta, não mudou após o livro? sação, no mês de agosto de 1981, que
durante cinco anos em biografias, artigos e fala muito sobre os seus Aprendi a amá-lo. Ele foi um um visitante se apresentou a eles: Da-
entrevistas. Tudo o que escapou da fortaleza sentimentos. Já a família de grande compositor, e sua voz v i d B ow i e. E l e c o nv i d o u a s i m e s m o
da máquina que move o Queen até hoje. Mercury — a irmã Kashmira e a é absolutamente incomparável. para gravar o que seria uma faixa histó-
Ele categoriza a trajetória de Mercury mãe Jer (que só participou de No palco, ele sempre dava mais rica, e sem dúvida a melhor do álbum:
com a de uma tragédia musical. Está mais uma biografia, lançada em 2006) do que se esperava, algo que Under Pressure.”
para uma ópera rock, enclausurada numa — só fala com o aval dos não encontrei em nenhum
misteriosa e dramática vida pessoal, e ex- empresários do Queen. Mas eu artista além de Maria Callas. “Nessa época, Mercur y só viajava
posta na criatividade artística. Ao lado, a sou um escritor, não um Fui profundamente tocado de Londres para Nova York de uma ma-
entrevista concedida ao Outlook. jornalista. Minha história é a pela sua teatralidade. neira: de Concorde. Assim como seu
círculo mais próximo, de cuja hospe-
dagem, passagens e despesas locais
IMAGEM DIVULGAÇÃO IMAGEM REPRODUÇÃO ele se encarregava. Nos primeiros
anos, hospedava-se em suítes presi-
denciais ou nos apartamentos do Wal-
dorf Astoria, no hotel Pierre ou no
magnífico Helmsley Park Lana Palace,
que dão para o Central Park, em Ma-
n h a tta n . U m a ú n i c a n o i te cu stava o
equivalente a 1.500 dólares.”

“As equipes de filmagem do Queen,


que não viam o cantor fazia um ano, fica-
ram desconcertadas quando se defron-
taram com seu ar espectral. Ele não era
mais do que uma sombra de si mesmo.
À esq., com e sem o bigode, Jim Beach comunicou discretamente à
no ‘antes e depois’ de sua equipe técnica que o cantor precisava
carreira; e na capa de
compilação solo, quando já ser poupado, a pretexto de uma doença
escondia o vírus HIV de fígado que havia se complicado.”
18 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

ELEITOS

FOTO DIVULGAÇÃO

Caiu EMI lança o


reencontro do
Massive Attack,
ícone do trip hop

na rede,
nos anos 90

o jeito
é pôr
na praça
No Brasil, começo de ano
é tempo de entressafra
de lançamentos na música pop.
Mas, no exterior, pelo menos
quatro grupos importantes
correram para colocar seus
novos CDs nas prateleiras
(claro, eles tinham vazado
na internet). Por aqui, apenas
as ‘inéditas’ do Massive Attack
já estão nas lojas

CONTRA, VAMPIRE TRANSFERENCE, SPOON


WEEKEND
Música em trilha de soap opera
Na estreia da banda Vampire norte-americana, de comercial de
Weekend, homônima, em 2006, Jaguar. Sinal de um caminho
a influência das batidas africanas fácil, certo? Não para o Spoon,

IMAGENS REPRODUÇÃO
no som dos quatro estudantes que prefere o cafofo da gravadora
da Universidade de Columbia independente Merge Records. O
(Nova York) não provocou sétimo álbum, Transference,
maiores emoções. Nesse sentido, inédito, isola elementos do DNA
Contra, cujo lançamento não está mais palatável, testados em
previsto no Brasil, é até agora HELIGOLAND, MASSIVE discos anteriores. Encontram-se
muito bem sucedido — o disco ATTACK os refrões em The Mistery Zone,
atingiu o topo das paradas da as guitarras diretas em Got
Billboard, comprovando que a Nuffin. No entanto, a banda
Robert Del Naja e Grant Marshall
referência afro se transformou diversifica com influências de
em marca benvinda na mistura
levaram sete anos para lançar o
fases anteriores ao sucesso nas
TURN ONS, THE HOT RATS
quinto álbum do Massive Attack.
com o rock. É um novo começo novelinhas gringas. Maturidade
Ícone do trip hop nos anos 90, Gaz Coombes e Danny Goffey, do
para o grupo, que, antenado, que vem em colheradas.
a dupla de Bristol (Inglaterra) Supergrass, inspiraram-se em Hot
disponibiliza suas músicas na
conta com as vozes de Tunde Rats (de Frank Zappa)
net sem grilar com a pirataria
Adebimpe, do hypado TV on e Pin Ups, disco de covers de
(www.vampireweekend.com).
the Radio, Damon Albarn e Guy David Bowie, para título e
Garvey (da Elbow) para se conceito deste projeto paralelo.
integrar à nova era. Tenta isso Nigel Godrich (do Radiohead)
também com um som mais assinou a produção, lançada em
orgânico, de baixo, bateria, janeiro lá fora e devidamente
teclados e guitarra. O disco vazada por aqui. Músicas de
chega no Brasil pela EMI. Não Velvet Underground, Beastie
é tão essencial quanto o último, Boys, The Cure e Elvis Costello
100th Window (2003). Mas é receberam revestimento de
um capítulo que merece atenção. guitarras sujas. Para quem gosta
da intensidade do som dos
inferninhos e não economiza em
qualidade. D A NIE L A PA IVA
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 19

O lado negro da força


Benicio Del Toro, um favorito para filmes cult, é o astro e produtor de O Lobisomem.
Mais um na lista de filmões-pipoca que traz grandes atores e clichês maiores ainda
TEXTO CR I S T I N A R A M ALHO

FOTO DIVULGAÇÃO
cenário é a Londres nebu-

O
losa do final do século 19,
aquela vitoriana, do Jack, o
Estripador, que você já viu
em centenas de filmes para
dar medo. O protagonista,
o Lobisomem, se apodera do corpo de um
sujeito que carrega um passado trágico e
bambeia entre as angústias da vida, os tais
monstros existenciais na alma. Você tam-
bém já viu isso. A aldeia onde ocorrem as
mortes é feita de gente simples e apavora-
da, há um inspetor de polícia, esperto, ca-
paz de ver além do que está na cara. E tem
a mocinha corajosa, as cenas de cavalgada
solitária, um psiquiatra incapaz de enxer-
gar além do próprio ego, e pode lembrar de
outros hits que em O Lobisomem , filme
estrelado e produzido por Benicio Del
Toro, e dirigido por Joe Johnston, irá reco-
nhecer cada um deles.
É ruim o filme? Não exatamente. Pro-
dução caprichada, elenco idem, e até os
clichês em excesso poderiam ser muito di-
vertidos, afinal são o material dos clássi-
cos do gênero. Mas faltam nele aquelas
doses de charme e humor que transfor- Benicio Del Toro, ao lado de
mam um filme correto e esquecível em di- Anthony Hopkins (seu pai no
versão deliciosa — como Spileberg fez com filme) e da mocinha Emily
os Indiana Jones, só para dar um exemplo Blunt: elenco no capricho
que grudou na memória. O Lobisomem de Raviólis de grenouille com chicória: nem de longe lembra o anfíbio

FRANK OCKENFELS / UNIVERSAL PICTURESS


Um dos mais A lista de atores premiados, admirados mos tempos, filmes como O Senhor dos
absurdos a reunir ou intelectuais que pintam em cena em Aneis, por exemplo, reúnem nomes ge-
elencão em filme filmões de sustos sempre existiu, é claro. niais, como Cate Blanchett e Sir Ian
Essa mania começou com força lá na dé- McKellen. Este, que ganhou título de sir
para faturar alto, cada de 70, época de ouro dos filmes-ca- por sua atuação espetacular no teatro bri-
Horizonte Perdido, tástrofe, como a série Aeroporto (no Ae- tânico, tomou gosto pela diversão, e nos
de 1973, pertence roporto 75 estavam o Oscarizado Charlton deliciou também em três X-Men. Vem aí
àquela categoria Heston, mais a dama Gloria Swanson, in- de novo em The Hobbit.
que de tão ruim terpretando a si mesma), Inferno na Tor- Robert Downey Jr., que a gente vê ago-
vira cult. Tinha re, de 1974 (esse juntou Steve McQueen, ra em Sherlock Holmes, na versão de Guy
Peter Finch Paul Newman, Faye Dunaway e até o Fred Pierce, foi e voltou das telas em todo tipo
Astaire!), O Destino de Poseidon, de 1972 de história e retornou, glorioso, no super-
e até Liv Ullmann, (com Gene Hackman, Ernest Borgnine, pipoca Homem de Ferro. E tem toda a safra
a musa de Bergman Shelley Winters) e outros. de adaptação de heróis de quadrinhos, re-
Um dos mais absurdos a reunir elencão filmagens de King Kong, histórias de fic-
em filme para faturar alto, Horizonte Per- ção científica, as aventuras que são a es-
dido, de 1973, nem era de medo, mas per- sência do cinema. Se são feitos com gran-
tence àquela categoria que de tão ruim des atores,muito melhor. O que fica é a
vira cult. Tinha Peter Finch e até Liv Ull- decepção com o uso de grandes atores e
O Lobisomem de Del Toro: apenas razoável mann no elenco, ela que sempre foi atriz orçamentos milionários sem causar na
de Ingmar Bergman, o melhor exemplo de gente aquele frisson de sair do cinema com
Del Toro não tem o humor de Um Lobiso- atriz séria, profunda, europeia. Nos últi- alegria de criança, tão boa a farra.
mem Americano em Londres, tampouco
se aprofunda nos conflitos homem/besta, AFP BLOOMBERG NEWS VIA BLOOMBERG

na linha O Médico e O Monstro. Também


não tem cena de deixar cabelo em pé.
Tudo, aqui, é apenas razoável — com
exceção dos atores, como Benicio e
Anthony Hopkins. Este último faz muito
cinemão de susto e depois do Oscar por O
Silêncio dos Inocentes , já encarnou o
Hannibal Lecter mastigando de tudo.
Numa das versões do canibal, aliás, o Dra-
gão Vermelho, estão outros atores dispu-
tados no cinema menos comercial, como
Emily Watson e Edward Norton. Já Benicio
Del Toro mergulha no cine pipoca, assim
com gosto, pela primeira vez. Charlton Heston, depois do Oscar por Ben Hur, virou herói de filmes-catástrofe; Sir Ian McKellen, um dos
maiores nomes do teatro inglês, fez O Senhor dos Anéis e Wolverine; e Robert Downey Jr agora é Sherlock
20 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

ELEITOS

Foie Gras com geleia de sidra Galette de vieiras e salada verde

As caçarolas do Scandurra
No bistrô Le Petit Trou, entre galettes e canecas de sidra — a bebida que o músico e
restauranteur adora —, clientes e amigos refestelam-se e cantam Serge Gainsbourg

TEXTO LUIZ H E N RIQUE LIGABUE FOTOS MARCE LA BE LTRÃ O

e Petit Trou é literalmente um O restaurante uma forma ou de outra pelo nobre e des- um reduto familiar para iniciados: em si-

L
buraquinho (como indica a nasceu da ‘ressacada’ pretensioso fermentado de maçã. dra, comida bretã e boa música. Hoje,
tradução do nome ). Pequeno de uma viagem O restaurante nasceu da “ressacada” de quem comanda as caçarolas é Andréia
e charmoso, o bistrô esconde que o músico uma viagem que o músico fez com a famí- Merkel, mulher de Edgard. Apaixonada
grandes surpresas. No exíguo lia à costa norte francesa, em 2005. Se ele por receitas, ela aprendeu francês de tanto
espaço de um antigo sobradi- fez com a família já tinha uma queda por sidra, voltou de lá ler “originais”, e a prática do fogão veio
nho reformado, rola muita coisa, desde à costa norte com uma certeza: ele adora sidra. Se ela com horas e horas de experiência, em casa,
2006. A mais recente vem dentro de uma francesa, estiver bem gelada, servida em um dia de ao lado de chefs e em cursos. Ainda no staff
garrafa e transcende as panelas e canecas. em 2005. Se ele calor, acompanhada, ou não, por um belo familiar estão a irmã, Maria Tereza, e a so-
É a nova sidra Le Petit Trou, que desde ja- já tinha uma queda prato de comida, a paixão se torna quase brinha, Carol. Subindo a escada que fica no
neiro colocou o clan Scandurra em per- por sidra, insuportável. fundo salão, chega-se ao bar Gainsbourg. É
manente festa. voltou de lá A viagem e a combinação de galette ali que, de tempos em tempos, Edgar reúne
Para embalar as comemorações, a tur- bretã (um crepe feito com trigo sarrace- amigos para uma soirée animée. Solo ou
ma do guitarrista (ex-Ira!) e restaurateur
com uma certeza: no) com sidra foram grandes inspirações acompanhado, tira um bom rock, enquan-
Edgard Scandurra, proprietário da casa, ele adora sidra para a criação do restaurante paulista- to vinte e poucos convivas se animam, re-
elaborou um festival de sidra, onde apre- no. A outra, ele puxou lá da infância: o gados a muita sidra e galette.
senta pratos feitos e servidos com a Le Pe- pai de Edgard teve um restaurante, e os As comemorações não se resumem ao
tit Trou. Coq au cidre, casserole de cama- filhos sempre acompanharam o movi- Festival da Sidra, que vai até o final de
rão com manteiga de lagostim ao molho de mento do salão e das cozinhas. Assim fevereiro. Antes dele acabar, Edgard vai
sidra, foie gras com maçã caramelizada e nasceu o Le Petit Trou, que carrega no reunir, nas noites de quarta-feira (a par-
geleia de sidra — estão todos lá, regados de nome e na decoração uma homenagem tir de 24 de fevereiro), alguns amigos no
ao músico fran- bar Gainsbourg. Arnaldo Antunes, Alex
cês Serge Gains- Antunes, Marisa Orth e Marcelo Jeneci,
bourg (autor da entre outros, vão desfiar o gogó no se-
famosa canção gundo andar do sobradinho, em meio, é
homônima). claro, a muita maçã.
Com três anos
de vida, a casa se L E PE TIT TR OU
transformou em R. VUPABUSSU, 71, PINHEIROS. TEL.: 3097-8589

SANTÉ!
Sidra é muito mais do que aquela
bebida doce e cheia de bolhinhas,
que embala festas e casamentos
populares. A sidra é, sim, uma
bebida sem frescuras, servida
em canecas de cerâmica, mas não
por isso de baixa qualidade.
De São Joaquim, em Santa
Catarina, Edgard trouxe a bebida
para ser batizada com o nome
do restaurante. Produzida
sem adição de gás carbônico,
com uma segunda fermentação
em tonéis, a sidra Le Petit Trou
é seca, cítrica e rústica. O elevado
teor alcoólico, de 11%, contribui
para dar à bebida a nobreza
Um pequeno e comportado salão recebe os convivas. No andar superior, o bar Gainsbourg se encarrega de quebrar o protocolo perdida nos trópicos. R$ 40.
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 21

FOTOS DIVULGAÇÃO

O Alvear
Palace Hotel,
no elegante
bairro da
Recoleta, em
Buenos Aires,
é o símbolo
de uma
Argentina rica
em glamour,
onde o topete
não é jogo
de cena

Esses argentinos são chiquérrimos


is um hotel à altura do orgulho argentino. O Alvear é muito

E
Grande, imponente e muito chique. O Alvear mais que a sua
Palace Hotel é uma joia portenha. De tão pre- fachada palaciana.
cioso foi declarado Monumento Histórico da
cidade de Buenos Aires, em 2003. Mas antes
Em seus 11 andares,
disso já tinha muito glamour. Nasceu para ser espalham-se 210
grande. Seu projeto, iniciado em Paris na década de 1920, em habitaciones. Fora
estiloLuísXIVeLuísXV,precisoude10anosparaserconcluí- as salas de business,
do no distinto, francês e aristocrático bairro da Recoleta, um o hotel conta com
dos mais nobres da capital. 12 salões de festa,
MasoAlvearémuitomaisqueasuafachadapalaciana.Em dois restaurantes,
seus 11 andares, espalham-se 210 habitaciones. Fora as salas
de business, o hotel conta com 12 salões de festa, dois restau-
três bares e um spa.
rantes, três bares e um spa. Tudo isso no mais impecável esti- Tudo isso no mais
lo clássico europeu, como os argentinos gostam. Cerca de impecável estilo
500 funcionários garantem um serviço de primeiríssima li- clássico europeu,
nha, o sobrenome do Alvear. como os argentinos
Os quartos, decorados no estilo Luís XV, apresentam gostam
toda a suntuosidade que se pode esperar de um palácio.
Toalhas de algodão egípcio, banheiros com jacuzzis, arran-
jos de flores e frutas sempre à disposição e outras amenida-
des fazem parte dos mimos ao hóspede. Para aumentar o
conforto, cada andar conta com um mordomo de plantão.
Ele é encarregado de satisfazer as mais variadas necessida-
des do hóspede: desde desfazer as malas, encaminhar as
roupas para a lavandeira, engraxar os sapatos até refazer a
mala antes do fatídico check-out. Outra exclusividade é o
tal personal shopper, um especialista em compras (de rou-
pas à obras de arte) com carro à disposição.
O restaurante La Bourgogne também é uma atração. Co-
mandado pelo francês Jean Paul Bondoux, é tido como um
dos melhores e mais exclusivos do país. Serve clássicos e
criações da estação em ambiente ultrarrequintado.
Já o L’Orangerie, com um ambiente mais informal, é palco
de um dos programas mais descolados da cidade, o Sunday
Brunch. Uma imensa e farta mesa repleta de frutos do mar,
carnes de caça, charcuterie e a finíssima pâtisserie do hotel
estão à disposição do domingueiro. Tudo regado com muitos
vinhos, no plural: brancos, tintos e espumantes. E esse mes-
mo ambiente ensolarado também é palco do tradicional chá
da tarde. Luxo em qualquer estilo. L.H.L.
No Alvear o estilo é inconfundível: a suntuosidade palaciana europeia está encarnada. Nos
ALVEAR PALACE HOTEL — WWW.ALVEARPALACE.COM quartos, a modernidade fica a cargo dos aparelhos hi-tech, já a decoração é conservadora
22 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

A FIRMA

Juarez Guilherme
de Araújo F
César Pain ilho

FOTOS DIVULGAÇÃO
Lu dovina Garçom do
Garçom do Ludovina

Juarez & Guilherme


Eles são chamados de ‘chefe’ e de ‘amigo’ por qualquer um, mas merecem
mais a alcunha de ‘campeão’. Da paciência, principalmente, e da primorosa arte
de ofertar, na medida certa, o ouvido amigo e o chope gelado
TEXTO N ATÁLIA MAZZON I

F
alar de garçom sem citar música brega é um desafio e tanto. Juarez César Pain, de 46 anos, os 9 últimos carregando bandejas de
chope no tradicional Bar Brahma, no Centro da capital paulista, gosta que a profissão inspire músicas e confirma, com os casos que
conta, que o ofício vai muito além de apenas entregar o chope nosso de cada dia. “Já me aconteceu de ficar com o cartão de crédi-
to e senha do cliente que estava traindo a mulher no bar. Amigos dele chegaram, o sujeito saiu correndo e eu paguei a conta para ele.”
Nesse e em qualquer caso, Juarez segue o regra pétrea da garçonagem: jamais dizer ‘não’ ao cliente. “Dou um jeito de não falar essa
palavra. Se me pedem chope sem colarinho, digo que infelizmente a bebida precisa ser servida de outra maneira”, contorna, mineiro
que é. E tem mais. A velha jogada de entregar bilhetinhos via garçom para a moçoila da mesa ao lado nem sempre cola com Mr. Bean,
como ele é chamado pelos clientes mais chegados — olhe a foto de novo, ele é a cara do humorista inglês! “Eu observo bem antes. Pode
dar briga se a menina estiver acompanhada. Às vezes, percebo que é melhor não entregar, deixo o bilhete no bolso e não falo nada.”
Entre umas e outras, é gente que não paga a conta, gente que briga porque quer pagar a conta do amigo, e gente que avisa antes que
não vai colocar a mão no bolso. Hein? “É, teve essa uma vez. O sujeito chegou e disse que podiam bater nele, que ele não ia pagar nada”,
lembra Mr. Bean. Os amigos, no caso, pagaram a dolorosa. Mas a história mais marcante aconteceu com Cauby Peixoto. Em uma das
apresentações durante uma turnê no Brahma, o cantor perdeu a peruca por causa de uma fã que tomou chope demais. “Ela garrô ele,
caiu a peruca, né? Nem sei se eu devia contar isso”, ergue os ombros, mineiramente, embora apreciador de uma boa prosa.
Há um mês, Mr. Bean passou a servir no Ludovina, o novo empreendimento dos donos do Brahma, no bairro de Moema. É lá que co-
nheceu Guilherme de Araújo Filho, de 46 anos também, que veio da Paraíba em 1982 e desde então é garçom na cidade. De poucas pa-
lavras, também tem suas histórias. “Já levei até empurrão de uma mulher. Ela sempre aparecia com um cara e, um dia, veio com outro.
Foi só ela me encarar que me empurrou para um canto e explicou que aquele era o marido: o outro era só namorado.”
Tanto Mr. Bean quanto Guilherme concordam com a vocação inegável do garçom para conselheiro sentimental. Estão ali para ser-
vir a gelada e escutar, escutar, escutar. Histórias de vida, de morte, de casamento, de separação, de nada e de tudo. O aconselhamen-
to, nesse caso, consiste em soltar palavras de conforto e, no momento oportuno, oferecer mais um chope, ainda que com o risco de ou-
vir um Seu garçom me empresta algum dinheiro/ porque o meu deixei o com o bicheiro/ e vá dizer ao seu gerente/ que pendure esta
despesa/no cabile ali em frente... Escapamos de Reginaldo Rossi, mas não de Noel Rosa. Mais um chope, por favor. E com colarinho!
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 23

ESPORTES

Uma paradinha. Para pensar


FOTO ALMEIDA ROCHA

Bastou Neymar deixar


Rogério Ceni desconcertado
(e a bola no fundo
da rede depois da parada
na cobrança do pênalti)
para que a falta de ética
voltasse a ser evocada.
Bobagem. Como o drible,
o que aconteceu foi
só a boa molecagem

TEXTO GA B R IE L PE NNA

FOTO AGÊNCIA ESTADO

A experiência do goleiro sãopaulino não foi páreo para a irreverência do jovem atacante santista. Neymar, em
2010, abusa do recurso que, com Pelé, em 1969, foi sutil ao mandar a milésima bola para as redes, no Maracanã

raticada há quase meio sécu- pretar se há abuso ou não do jogador. No “O pênalti já é, causa disso. Um dos exemplos mais mar-

P
lo no futebol, a paradinha fim do ano passado, o presidente da Fifa, por definição, cantes no futebol brasileiro é o do meia Só-
nas cobranças de pênalti Joseph Blatter, chegou a anunciar que ela uma relação crates, que não conseguiu enganar o go-
ainda provoca polêmica, seria proibida novamente, mas até aqui leiro da França nas quartas de final da
principalmente, quando nada foi mudado. Para o bem do futebol
desigual, que surge Copa de 1986 e bateu o pênalti nas mãos
bem executada. O recurso, brasileiro, que tem a ginga em seu DNA. da iminência dele. Ao lado do meia na lista dos que já
que ganhou fama pelos pés de Pelé e já foi Afinal, a paradinha não é mais que um de um gol. Não há fracassaram na paradinha estão craques
até proibido pela Fifa, tornou-se alvo de drible, uma finta de corpo em resposta à por que reclamar como o português Cristiano Ronaldo, o
uma nova celeuma após o clássico entre estratégia do goleiro de se antecipar à co- da paridade. corintiano Ronaldo Fenômeno e o atleti-
São Paulo e Santos, domingo passado, na brança de um pênalti — como fez o pró- Simbolicamente, cano Diego Tardelli.
Arena Barueri, em uma rodada do Cam- prio Ceni no lance do gol. Assim como o está mais para Não dá para negar, porém, que a pa-
peonato Paulista. chapéu, a caneta e o cortaluz, é uma ma- radinha coloca o goleiro em situação de
Dessa vez, o protagonista da jogada foi nifestação do jeito brasileiro de jogar fu-
um fuzilamento”, extrema desvantagem em relação ao ba-
outro santista, o jovem Neymar, de 18 tebol, fortemente marcado pelo improvi- sanciona José tedor. Mas isso faz parte das regras do
anos, que usou o breque para ludibriar o so e a individualidade. “O jogador brasi- Miguel Wisnik, jogo. “O pênalti já é, por definição, uma
experiente goleiro Rogério Ceni e abrir o leiro é naturalmente malandro, mas den- a favor da paradinha relação desigual, que surge da iminência
placar na vitória por 2 a 1 sobre os sãopau- tro das regras. Se proibirem algo, ele im- de um gol. Não há por que reclamar de
linos. Do alto dos seus 900 jogos com a ca- provisa novamente”, adianta logo o his- paridade. Simbolicamente, está mais
misa do tricolor paulista, o consagrado toriador e jornalista Marcos Guterman, para um fuzilamento”, diz o professor
goleiro não imaginava ser alvo de tama- autor do livro O futebol explica o Brasil de literatura e ensaísta José Miguel Wis-
nha ousadia. O primeiro a reclamar do (Contexto). nik, autor de Veneno Remédio — O fu-
lance foi o próprio Ceni, embora reconhe- Além de certa dose de molecagem, uma tebol e o Brasil (Companhia das Letras).
ça que também usa esse expediente nos paradinha bem-sucedida exige coragem e Para encerrar, uma provocação, em
pênaltis que bate. perícia do jogador. Não é um jogo de cartas defesa dos protetores de metas: por que
O protesto ganhou coro entre parte dos marcadas, como muitos dizem. O goleiro não conceder o direito à andadinha,
torcedores (principalmente sãopaulinos, pode simplesmente ficar parado, e o sujei- aquele passinho à frente antes da co-
é claro) e dos comentaristas: “Isso deveria to terá que decidir em instantes como fa- brança da penalidade? Sabemos o risco
ser proibido”, “só no Brasil pode”, “não é zer para tirar a bola do alcance dele. Para que o goleiro corre ao tentar se anteci-
justo com o goleiro”, “é falta de respeito”, piorar a situação, terá perdido o embalo da par no momento do pênalti, mas seria
bradaram. Mas, pelo regulamento, a pa- corrida que garantiria maior força ao chu- um consolo para quem, afinal de contas,
radinha é permitida e cabe ao juiz inter- te. Bons jogadores já cometeram erros por já está no paredão.
24 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

ESPORTES

Ricardo Fernandes
Cicinho, que gosta de sair pelos fundos,
quer sentar na janelinha
FOTO IMAGE FORUM

O mérito do processo trabalhista que garantiu a quebra do contrato de Cicinho com o Clube Atlético Mineiro nunca foi julgado

Atribui-se a João Saldanha uma frase Cicinho está cartolas são responsáveis pela má fama do rapaz, se ressarcir as despesas. Mas não.
sempre citada quando se discute a dife- de volta. Almeja futebol brasileiro fora dos gramados. Cicinho pulou fora e, depois, alegou que o
rença entre a técnica e o caráter de um jo- um lugar na Seleção Vamos aos fatos: Cicinho nasceu para o clube não vinha cumprindo o contrato.
gador de futebol. Se não foi Saldanha, o futebol no Botafogo de Ribeirão Preto, in- Dias depois, já treinava entre os jogado-
autor pode ter sido Flávio Costa, Vicente
que disputará terior de São Paulo. Foi ali que um empre- res do São Paulo Futebol Clube. Conse-
Feola ou qualquer outro treinador de pri- a Copa de 2010 sário bem relacionado descolou para ele guiu que um juiz de primeira instância o
meira grandeza da Seleção Brasileira. Se- e acha que o clube um lugar na equipe júnior do Clube Atléti- liberasse do compromisso com o Atlético.
gundo a lenda, um jornalista teria pergun- que revelou o seu co Mineiro. Em Belo Horizonte, teve casa e A justiça do trabalho em Minas Gerais
tado se esse treinador não temia convocar caráter para o Brasil comida enquanto reunia condições para anulou a decisão e a questão foi parar do
para a seleção jogadores com fama de en- é o caminho mais entrar em campo como profissional. Tribunal Superior do Trabalho. No início
crequeiros e maus elementos. E a resposta curto para a África Quando isso aconteceu, custou a firmar- de janeiro de 2004, com a justiça em fé-
teria sido mais ou menos a seguinte: “Não -se como titular. Mas como a equipe que rias, o ministro Yves Gandra Martins Fi-
estou atrás de marido para minha filha, defendia o clube mineiro em 2003 era uma lho achou que o caso merecia urgência e
mas de jogador para a Seleção.” Desde en- terra de cegos, acabou se tornando rei por chamou para si a responsabilidade de jul-
tão, sempre que o caráter de um jogador é ter um olho só. A escassez de talentos fez gá-lo. Martins, sãopaulino e filho de um
posto em dúvida, a mesma resposta é sa- dele ídolo de uma das torcidas mais fanáti- conselheiro do clube, deu razão a Cicinho
cada — e se aplica a qualquer tipo de joga- cas do Brasil. Cicinho tinha um salário à al- em nome do direito ao “livre exercício da
dor “malandro”. Na lógica dos que não es- tura de sua categoria, recebia em dia e era profissão de jogador de futebol.” Dali, o
tão atrás de “um genro” cabe o craque que aplaudido. Até que um dia qualquer, no processo seguiu para o arquivo. O mérito
é “malandro” porque gosta de passar a segundo semestre daquele ano, se cansou da questão nunca foi nem será julgado à
bola entre as pernas do adversário e o ou- de tudo aquilo e resolveu virar as costas luz do dia.
tro, que é “malandro” porque chega atra- para o clube com o qual tinha um contrato Cicinho está de volta. Almeja, certa-
sado ao treinamento, vindo direto da noi- em vigor. Resolveu ir embora. E foi. mente, um lugar na janelinha do avião
tada. Cabe até mesmo o jogador que é Na calada da noite, como acontece que levará a seleção para a Copa de 2010 e
“malandro” porque se acha no direito de com quem tem algo a esconder, arrumou acha que o São Paulo, clube que revelou
não cumprir o contrato que assinou. as tralhas e se mandou de BH. Não se des- seu caráter ao país, pode ser o caminho
Digo isso porque ouvi esse mesmo ar- pediu dos poucos amigos que fez. Sim- mais curto para a África. Certamente há
gumento a respeito de Cícero João de Cé- plesmente virou as costas e deu no pé. Ou nomes mais qualificados do que o dele
zare, o Cicinho, que acaba de retornar ao “evadiu-se do local” como fazem os ele- para ocupar a vaga — mas como não é
Brasil para vestir mais uma vez a camisa do mentos que agem com intenções furtivas. candidato a genro, não haverá espanto se
São Paulo. Dono de recursos técnicos li- O empregador, claro, tentou lutar por conseguir. Afinal, o futebol brasileiro tem
mitados — bem ao gosto de Carlos Alberto seus direitos. Afinal de contas, uma caminhos insondáveis, que Cicinho e
Parreira, o treinador que o convocou para transferência às claras para outra equipe seus amigos os conhecem bem.
servir à Seleção na última Copa do Mundo seria uma maneira de o Atlético, como o
—, Cicinho é a prova viva de que nem só os clube que de fato investiu na formação do Ricardo Fernandes é jornalista
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 25

EQUIPE DE APOIO
As principais estrelas brasileiras do futebol empregam um
grupo de profissionais especializados em diversas áreas.
Jogadores como Robinho e Ronaldo chegam a ter quase
um time de futebol trabalhando para eles

MASSAGISTA FISIOLOGISTA
Atua na prevenção e no tratamento de contusões. Atua na avaliação e no planejamento das atividades
Também costuma fazer parte das comissões físicas do jogador, identificando suas
técnicas das equipes potencialidades, necessidades e limitações.
Trabalha em conjunto com as comissões técnicas

COZINHEIRO
Na concentração, quem manda
é o nutricionista do clube. Em casa, cada
um tem o seu próprio cozinheiro
FISIOTERAPEUTA
A maioria dos jogadores trabalha com
ASSESSOR DE IMPRENSA o profissional empregado pelo clube. Vítima de
inúmeras contusões, Ronaldo tem um especialista
Gerencia o relacionamento do atleta com os
que o acompanha desde a Europa
meios de comunicação e organiza entrevistas
individuais e coletivas

EMPRESÁRIO
BLOGUEIRO/ TWITTEIRO
A maioria dos jogadores tem um, também
As redes sociais são um importante canal conhecido como agente. Costuma ser uma
de comunicação e aproximação pessoa de confiança, como um amigo ou
com fãs e torcedores. Por isso, parente. Esse profissional cuida de toda
alguns jogadores têm profissionais a vida financeira do jogador, das negociações
especificamente para produzir e divulgar com o clube aos contratos de publicidade
conteúdo nesses meios CONSULTOR DE CARREIRA
Atua como conselheiro no planejamento e na tomada
de decisões profissionais, durante e após a carreira
esportiva. O ex-craque Leonardo, hoje técnico
do Milan, contratou uma empresa especializada

MOTORISTA E SEGURANÇA
Em eventos públicos, os jogadores são acompanhados por, ao menos, dois seguranças.
Com medo da violência no país, o clube inglês Manchester City, dono dos direitos de
Robinho, contratou oito guarda-costas para protegê-lo durante os seis meses em que
ficará emprestado ao Santos
26 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

VIDA

Marina posa para foto no escritório de


seu apartamento, na cobertura de um
prédio em Ipanema, no Rio de Janeiro
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 27

“Este princípio democrático


de que todos devem ter a
sua voz, em si não vale nada”

Marina Colasanti, escritora


TEXTO C RI S T I NA RAM ALHO FOTOS P A TRICIA SAN TOS

Talvez tenha sido Miriam Etz, uma alemã que trouxe com o sotaque a mania de não dar satisfações
e um maiô duas peças de lã, e saiu para tomar sol no Arpoador em 1937. Os cariocas que se cutuca-
vam para ver ainda não sabiam, mas de um jeito assim tão espontâneo começava naquele ano a
partida para uma nova mulher: a que só faz o que quer. Miriam teve a filha Iracema, a Ira, uma loi-
ra de fechar o comércio, que seria capa com João Gilberto da revista O Cruzeiro na bossa nova, e
teria como melhor amiga a artista plástica e futura escritora Marina Colasanti. Talvez tenha sido
apenas coincidência, mas a moderna Marina nasceria em Asmara, na Etiópia, justo em 37, en-
quanto a Miriam mostrava o corpo lá na praia.
Ira Etz, Marina Colasanti, Bea Feitler (uma das maiores designers brasileiras, criadora das capas da
Rolling Stone, entre outras) foram as pioneiras de uma longa e linda linhagem de garotas petulantes e in-
dependentes, seguidas de perto por Leila Diniz, e que daria em sabidas como Fernanda Torres, Alice
Braga, Camila Pitanga. Moças intrépidas, de bem com as coisas boas da vida, um olho nos rapazes, outro
numa exposição em Londres, num dia liam filósofos bacanas e no seguinte costuravam, elas mesmas, o
biquíni preferido. Marina cresceu assim, mudando regras, fazendo arte, soltinha na lambreta ou em
alto-mar — foi a primeira a mergulhar na ainda hoje radical Laje Santo Antônio. Formou-se em artes
plásticas e para morar sozinha aceitou um emprego de redatora e depois colunista no Jornal do Brasil .
Anos depois, pularia para a revista Nova, então, acredite, um espaço revolucionário para as conquistas e
os dramas femininos.Ali Marina faria por anos uma coluna, e responderia cartas de mulheres bem dis-
tantes da Ipanema dourada. Ensinaria que toda mulher pode, sim, protagonizar sua própria vida.
Ela mostrou que não era preciso mais se curvar a um homem, embora eles fossem sempre benvin-
dos. E como vieram: o primeiro foi seu pai, Manfredo Colasanti, um aventureiro irresistível, que lu-
tou na ocupação da Etiópia (por isso Marina nasceu ali), veio para o Brasil morar no Parque Lage (casa
da tia de Marina, a cantora lírica Gabriela) e terminou ator. O segundo, seu irmão, Arduíno, que en-
trou para a história como o primeiro a desbravar o mar carioca, surfando, fazendo caça submarina,
atuando no cinema e deixando a mulherada indócil, lindo que era. O terceiro, Millôr Fernandes, a
quem Marina deu a mão, ajudou a criar o tabloide Pif Paf, namorou por dez anos e teve a filha Fabiana.
E tem, sempre, o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, há 38 anos casado com ela e pai de Fabiana,
que adotou, e de Alessandra, filha do casal.
Marina continua viajando, pintando - ela é quem ilustra as capas dos seus livros - e às vezes costu-
rando suas roupas. Não para de escrever: publicou dezenas de livros, crônicas, contos, ensaios, poe-
sias. Vai lançar o terceiro infantil de poemas Classificados e Nem Tanto, de poemas brincando com o
nonsense, e está relançando seu belo Contos de Amor Rasgado . Continua ganhando um punhado de
prêmios (4 prêmios Jabuti, em poesia, crônicas e em literatura infantil; vários prêmios da Fundação
Nacional do Livro Infanto Juvenil; O Melhor Livro do Ano, da Câmara Brasileira do Livro; Grande Prê-
mio da Crítica, da APCA, a Associação Brasileira de Críticos de Arte), e aberta às vozes de mulheres e
homens do seu tempo. Mas está a cada dia mais enxuta nas palavras (alguns contos são exercícios de
três linhas) e surpresa como o mundo anda com a língua solta, mesmo quando não tem nada a dizer.
28 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

VIDA

S
Sua biografia, que sairá no segundo
semestre, traz só histórias de infância?
O livro não é bem uma biografia, é
biografia no sentido de que tudo aquilo fez
parte da minha vida, mas é um olhar meu
sobre a guerra (de ocupação da Etiópia),
um olhar de criança. O título foi o Affonso
(Romano de Sant’Anna, seu marido e
escritor) que me deu de presente: Minha
Guerra Alheia. Começa a partir do
casamento dos meus pais, em 1935, numa
missa campal, um aquartelamento militar.
Meu pai estava indo para a guerra e ali os
soldados se preparavam até serem
chamados, ficavam acampados, ou
melhor, aquartelados, sendo preparados.

Sua mãe foi com ele para a guerra?


Não, ela ficou na Itália, na casa da sogra,
que mal conhecia. Foi lá que teve o
Arduíno (o irmão, surfista , mergulhador,
ator, uma lenda em Ipanema). As
mulheres não iam para a guerra, quer
dizer, iam nas Cruzadas, porque os
homens tinham de trepar, não conseguem
ficar sem trepar, então levavam
prostitutas. Mas no século 20, não. A
minha mãe iria só depois para a Etiópia,
onde eu nasci, em 1937.

Por que seu pai quis casar, sabendo


que iria na sequência para a guerra?
Pela razão natural: estava apaixonado armador brasileiro Henrique Lage, dono somos bandeirantes do Brasil, tomávamos
por ela. A foto do casamento deles é dos itas do Norte, e formam morar no banhos de represa, havia represas no
linda, num plateau, o comandante do Parque Lage, no Rio). Mas a minha avó quintal de casa. Meu tio Henrique mandou
meu pai foi o padrinho deles, minha mãe havia estado aqui em 1925, e isso que eu plantar árvores de frutas brasileiras,
de tailleur. estou falando de criança já era década tínhamos cacau, jambo, tem lá até hoje.
de 1940, muita coisa não era mais nada Não sei como moinha mãe deixava a gente
O que tem de memória sua no livro? daquilo que ela me dizia. Minha redação brincar ali, soltos.
Quais as sensações que você falava do céu estrelado, e minha avó
tem dessa infância? nos contava de montes de carne Você vai ao Parque Lage? Como é ver
Muita coisa. Dessa época inicial, na pendurados nas portas, cobertos de a casa onde você morou quando menina
África, tenho duas memórias, mesmo A vida íntima dos moscas, que ela viu na época. Antes de transformada em espaço público?
sendo bem pequena: o hidroavião em vir, também assisti aquele filme da Não vou lá nunca mais. Está depredado,
que a gente foi embora da Líbia, eu devia
outros é íntima e é Disney, o Alô Amigos (desenho de 1942 eu acho uma invasão na minha casa.
ter uns 4 anos. E a nossa casa: o muro dos outros. O papel que lançou Zé Carioca e apresentava o Cheguei a ser diretora de uma sociedade
branco com um cactus enorme, três do observador é Brasil com flamingos cor de rosa e de Amigos do Parque Lage, tentamos
degraus na porta, um cachorro. Depois patético. Em samba tocado com maracas). captar dinheiro para a restauração da casa,
tem a memória da Segunda Guerra, programas como Big não conseguimos, é tudo muito difícil. Não
quando nós fugíamos dos americanos, Brother, a intenção E a viagem? Ficou impressionada consigo ir lá e ver do jeito que está.
subindo a Itália. Fomos para uma casa no é um pouco sujinha. quando foi morar no Parque Lage,
Mar Adriático, e viajamos por todo o É para fazer sucesso aquele casarão, a floresta ao lado? Quando você percebeu que podia
país, fugindo do Sul para o Norte. Tem Nós viemos de Constellation (avião da Pan viver da escrita?
sensação de medo, de tudo, e de sem precisar do Air). Meu pai veio de navio, dois anos Sempre escrevi, mas minha vida mudou
diversão também. merecimento, antes. O Parque Lage não me quando comecei a escrever para o Jornal
o sucesso pelo impressionou porque era uma vila italiana, do Brasil. O Yllen Kerr (jornalista
A história vai até que época? sucesso, que não como as que eu via na Itália: uma vila da americano, gravurista, escrevia sobre
O livro termina com uma redação que é fruto de obra Renascença, típica, não era uma coisa motos, surfe, caça submarina) e o Millôr
eu fiz contando o que seria o Brasil, a nenhuma inusitada. A floresta, sim. Nós Fernandes me levaram para lá, achavam
nossa próxima viagem. brincávamos na floresta, o Arduíno e eu, que eu tinha texto bom. O Yllen era muito
lembro que a minha mãe colocava uns meu amigo, tinha um ateliê, sabia que eu
O que você imaginava que seria? macacões na gente, por causa dos queria ser independente, e para isso eu
Algum absurdo? mosquitos, andávamos perdidos naquela precisava trabalhar. Estudei artes
Alguma coisa eu sabia pela minha avó, mata, era uma felicidade enorme. Também plásticas, fiz pintura, gravura, mas não
porque ela e meu tio haviam estado no tínhamos vilas com enormes jardins e conseguiria ganhar a vida como artista
Brasil, quando a minha tia Gabriela florestas, mas aqui era uma mata tropical, plástica, pelo menos não tão
(cantora lírica, ela se casou com o completamente diferente. Dizíamos: rapidamente para já sair de casa.
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 29

Não tinha essa


expressão, sexy.
Nós queríamos ser
bonitas. As poucas
que iam para a
cama, era difícil,
não tinha pílula,
era um perrengue.
Eu saía para pescar,
para mergulhar.
Fui a primeira
mulher a mergulhar
na Laje Santo
Antônio, no Rio

Marina artista plástica, em 1966, no ateliê do amigo Yllen Kerr

Você namorou o Millôr, não foi? primeira mulher a mergulhar na Laje Santo
Namorei o Millôr por dez anos, tive uma Antônio, fui com o Arduíno, desci na
filha dele, a Fabiana, que hoje está com 43 apneia, só com o snorkel, não tinha roupa
anos, é tradutora. Mas logo depois me casei de mergulho, era um frio danado. Lembro
com o Affonso, então minhas duas filhas que eu voltava com o maxilar doendo,
(Marina teve Alessandra, com Affonso, hoje duro, de tanto morder a borracha do
com 37 anos) são filhas dele. A Alessandra é respirador. Era uma vida muito mais
atriz, roteirista. saudável: nos dias de prova oral, dos
exames finais do ano, a gente ia à escola
Marina, sempre aberta para Conta um pouquinho da sua época com biquíni por baixo da roupa.
entender a natureza humana
no JB. Você entrou num período
glamuroso do jornal, década de 1960. Você e o Arduíno eram próximos?
Era uma época maravilhosa, a redação Sempre. Arduíno e eu éramos e somos
ficava na avenida Rio Branco, um prédio muito companheiros, depois ele foi
lindo, antigo. Eu adorava o centro do Rio. trabalhar no cinema, eu no jornal,
Trabalhavam lá o Claudio de Mello e acabávamos nos vendo menos, mas até
Souza, o Reynaldo Jardim, o Roberto hoje somos unidos. Ele sempre vem
Drummond, muita gente boa . Fui almoçar comigo. E quando menina meu
subeditora, depois chefe de reportagem. pai não me deixava sair sozinha, era
Fui chefe do Fernando Gabeira por um sempre com ele. O Arduíno era lindo, as
período curto. Devo ao Gabeira o meu mulheres morriam por ele. Eu não
casamento, foi ele quem me apresentou ligava para isso, queria ser inteligente.
para o Affonso. Na escola, no colegial, você podia
escolher entre o clássico e o científico,
Estamos falando de passado, fui fazer o clássico, porque achava que
então vamos voltar mais para trás. era o mais difícil, o mais inteligente. Na
Você teve uma vida no Arpoador, Itália, os inteligentes iam fazer o
anos 60, foi garota da praia, não foi? clássico, tinham aulas de filosofia, de
Ah, era um grupo de amigos, todos filhos grego, era muito duro. Só descobri
de europeus, passávamos o dia inteiro na depois, no Brasil, que aqui o forte era o
praia, catando mariscos, pulando da científico. O clássico era dos burrinhos.
pedra do Arpoador. Eu, a Ira Etz, as
outras meninas, fazíamos maiôs duas Você tem saudades desse Rio de
peças, não eram biquínis, eram duas Janeiro dourado?
peças abaixo da cintura. Aí íamos Tenho uma saudade física do Rio, das
abaixando a altura da calcinha para baixo construções, da arquitetura antiga da
do umbigo. Nós fazíamos nossos cidade. Minha filha mora em Botafogo,
biquínis, fiz um todo amarrado de lado, fico triste de passar por lá e ver que as
copiando um calção doArduíno. casas do século 19 foram demolidas para
dar lugar a uns prédios horrendos. O Rio
A Miriam Etz, mãe da Ira, foi a primeira era muito harmonioso, e muito
a usar, não? Vocês todas eram provinciano também. Não tínhamos
modernas, tinham esse lado sexy? mais que dois ou três teatros. Eu via
A Miriam foi a primeira a usar. Não era muito teatro com a Tônia Carrero, que
imediatamente sexy, acho que nem tinha era amiga da mãe da Ira.
Marina, pré-adolescente,
essa expressão, sexy. Nós queríamos ser
nos anos dourados bonitas. As poucas que iam para a cama era O seu grupo era de mulheres
do Parque Lage, RJ difícil, não tinha pílula, era um perrengue. modernas, uma geração muito mais
Eu saía para pescar, para mergulhar. Fui a aberta doq ue as anteriores. Quando
30 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

VIDA

você começou a escrever para pré-feminismo, começo da década de sobre direitos, dando voz
mulheres, sobre mulheres? 1970, e a Fatima Ali (diretora da Nova) às mulheres, não era
Quando eu estava no JB, não havia percebeu que era um momento muito um consultório sentimental.)
redatores mulheres. Só repórteres. Não
bom para falarmos desses assuntos. A seção de cartas veio depois. A Fatima
existiam mulheres cronistas nos jornais,
Tentamos fazer uma revista que não me convidou para ser editora de
quer dizer, tinha a Elsie Lessa, no Globo,
e o Roberto Marinho a manteve lá até fosse sexista, que fosse a revista comportamento, era a trinca da (revista)
morrer. Então no JB resolveram que era feminina mais inteligente do Brasil. Cosmopolitan americana, que tinha
preciso uma redatora para escrever Fazíamos um jornal encartado nela, comportamento, sexo e trabalho. Então
sobre temas que os homens acham que dava um trabalho de cão, criávamos comecei a estudar comportamento. Nos
uma mulher quer ler: moda, culinária, livros-brinde, edições com grandes 18 anos que estive desempenhando esta
amenidades. E me convidaram a escre- romances da literatura brasileira, função, estudei muito, fiz um arquivo
ver sobre mulher. Um tempo depois fui inventávamos capas com mulheres Tentamos fazer da gigantesco, um Dedoc (o departamento
demitida do jornal, porque demitiram o pouco pintadas, de camiseta e cabelo Nova uma revista de documentação e pesquisa da editora
(Alberto) Dines (jornalista) e eu era da molhado. A Nova ajudou na tomada da que não fosse Abril) pessoal sobre comportamento,
equipe dele, fui junto. Então fui convi- consciência das mulheres numa época casamento, mulher, maternidade. Então
dada para escrever na Nova. de ditadura, tínhamos de mandar a
sexista, que fosse me preparei muito para responder às
revista inteira, com todos os textos, a feminina mais leitoras. A seção tinha um nome que eu
Você foi pioneira, antes só teve todas as legendas, todas as fotos para inteligente do Brasil. não gostava: “Qual o seu problema?” Eu
Carmen da Silva, em escrever para Brasília, e volta e meia a revista era Fazíamos um jornal dizia para a Fatima que não estava ali
revistas sobre temas feministas. censurada. Deixávamos passar uns encartado nela, para resolver problemas, para responder
Tinha esse lado de queimar sutiãs? quatro meses, mandávamos os mesmos criávamos sobre a rebimboca da parafuseta. Fiz
Não. Nunca tinha lido Simone de artigos de novo, tentando passar, mas livros-brinde, questão de dizer que só responderia uma
Beauvoir, aí um amigo me falou: “Você era tudo censurado outra vez (risos). carta por vez, e não responderia
tem de ler Betty Friedan” (uma das
inventávamos capas pessoalmente a leitora nenhuma.
feministas mais importantes do século E a seção de cartas? (Marina com mulheres
20). Vi e falei: é isso. Era uma época do respondia cartas de leitoras, falando pouco pintadas Você fazia ou fez terapia? Porque
precisa de uma bela capacidade de
análise para responder essas cartas.
Fiz análise 11 anos. Eu escolhia a carta
do mês, que nem sempre era o pior
problema, mas aquela que melhor
responderia a mais pessoas. Fazia a
leitura do texto por trás do texto de cada
carta, e pensava em qual possibilidade
era a mais próxima de solução. Devo
confessar que falei que não ia responder
pessoalmente, mas para muitas eu
respondi. Aquelas mulheres do
Nordeste, ou de uma aldeia, dizendo
“meu marido não me deixa sair”,
mulheres em situações desesperadoras,
à beira do surto. Quando a pessoa estava
surtada, quando não tinha a quem
recorrer, eu dizia: “Procure alguém para
falar, e se não tiver ninguém procure o
padre, o pastor da sua cidade”. Muitos
anos depois continuo ouvindo de gente
que deu o nome de Marina para a filha
por minha causa. Ou encontro mulheres
que me liam desde a adolescência.

Isso ajudou na sua literatura?


Me ajudou a perceber os sentimentos das
mulheres. Fiz um livro sobre isso, com
trechos de cartas de leitoras, chamado
Intimidade Pública. Eu me senti
autorizada a fazê-lo porque já que elas
enviavam as cartas para a publicação na
revista, sabiam que estavam expondo
suas histórias. Claro, não dei nomes, usei
apenas trechos, não identifiquei
ninguém. E nunca me apropriei da vida
dos outros para escrever meus próprios
livros, para criar minhas histórias.

Falando em vida dos outros,


o que acha dessa exposição cada
vez maior da vida de cada um?
Não gosto dessa exposição de hoje, não
desperta os melhores sentimentos em
quem vê. A vida íntima dos outros é
íntima e é dos outros. O papel do
observador é patético. E quem se expõe
é patético também, mostra o revés da
sua pele, mas não é a pele verdadeira, é
um jogo. Não é uma exposição por razão
filosófica ou moral, é como a pin up que
se desnuda no calendário do borracheiro
— é para a masturbação de quem vê.
Acho que em programas como Big
Brother, ou coisas assim, a intenção é
dupla, é um pouco sujinha. É para fazer
Marina, 11, e o irmão Arduíno, 12, em 1948, no dia
sucesso sem precisar do merecimento, o
em que aportaram no Rio, vindos de avião da Itália sucesso pelo sucesso, que não é fruto de
obra nenhuma, de nenhum trabalho.
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 31

Falo também da exposição em outro


grau, de todo mundo ter blog,
estar em redes sociais, dar opinião.
Eu não tenho blog, não gosto. Vou fazer
um site porque preciso ter um, mas
esse princípio democrático de que
todos devem ter sua voz em si não vale
nada. O que vale é o pensamento que
você emite conquistar espaço porque
tem conteúdo. Eo que eu vejo é a
exposição sem conteúdo nenhum.
A mulher leva
Qual é a sua opinião, hoje, um ábaco para
sobre a Nova ou as revistas a balada e fica
femininas em geral?
Não leio mais a Nova, está horrorosa.
no cálculo: transo
Mas todas as revistas falam de celulite, ou não transo?
de como seduzir os caras, é isso, E se ele for embora?
estamos presas a papéis, todos estamos, É uma matemática
os homens também estão presos a complicada.
papéis. A liberdade absoluta seria Mas no fim
impossível porque somos seres sociais, as gordas casam,
precisamos viver em sociedade. as magras casam...
O importante não é o papel.
É a justeza dos papéis, é o conforto
neles. E essas exigências são ligadas
à mídia, na vida real não é assim.

Bom, todo mundo tem


celulite e é preciso fazer a
dança do acasalamento...
Sim, e sempre houve e sempre haverá a
dança do acasalar, a imagem da dança é
perfeita, é o corpo tentando se encaixar
no ritmo alheio. Aliás, observar uma
pessoa dançando é um bom indício de
como será o relacionamento, se os
corpos se encaixam (risos). Aí hoje a
mulher fica nisso: transo ou não transo
na primeira vez, e se não transar e não
aparecer outro? E se transar e ele for
embora? Quer dizer, a mulher leva um
ábaco para a balada e fica no cálculo, é
uma matemática complicada. Mas no
fim as gordas casam, as magras casam. No alto, com o marido, o escritor Affonso Romano de Sant’Anna;
acima, na Biblioteca Nacional, em 1995, com Ruth Cardoso e Tônia Carrero
Como você era com suas filhas?
Sou de natureza liberal, mas sou muito
crítica. E porque sou crítica questiono de fada, que são para qualquer idade, e casa eu que pintei. Faço as capas de todos
os limites, e isso está errado. Tem que me seduzem enormemente. Faz dois os meus livros, só não faço mais gravura
dar limite. Eu falava para minhas filhas: anos lancei Minha Tia Me Contou, sobre porque trabalhava em metal, dava muito
não pode comer chocolate antes do as histórias que minha tia Gabriela trabalho.
almoço porque perde o apetite. Aí contava, com muito prazer, para mim e
minutos depois eu pensava comigo o Arduíno. Ela adorava contar histórias. Alguns dos seus textos e poemas
mesma: perde o apetite porque Na verdade, gosto da revelação dos são muito melancólicos, e você,
alimenta, os exércitos levam chocolate contos de fada, do prazer do mistério. neste papo, parece ser uma
no farnel, chocolate é energia, libera pessoa solar, de janela aberta.
endorfinas, alimenta, então pode. Aí Você havia parado de pintar, Uma coisa não está forçosamente ligada
dizia: pode comer o chocolate. Quer e voltou, fez a capa do seu a outra. Acho que para estar de janela
dizer, deixava as meninas loucas. O livro infantil Uma Ideia Toda aberta você tem de estar debruçada na
Affonso é quem botava os limites. Azul (premiado com o Jabuti). janela da vida. Escrevo sobre alegria ou
Outra coisa errada é que eu confiava Continua pintando? melancolia porque sempre prestei muita
demais nelas, não pode. Achava que Continuo, esses quadros todos aqui em atenção na vida.
se elas me dissessem “fomos dormir
na casa da fulana”, estavam na casa
da amiga. Anos mais tarde, descobria
que foram viajar, fizeram outra coisa. MAKING OF
Confiar demais não dá.
Numa entrevista tão feminina, foi inevitável perguntar
Já que falamos de filhos, você para Marina Colasanti como ela está assim bonita e
escreve também para crianças, está cintilante aos 73 anos. Ela diz que se preocupa em
lançando mais um livro infantil. manter o peso (“Sou magra, gosto de ser magra, quero
O que te atrai nesta literatura? ver alguns ossinhos, é da minha natureza”), e das
Em geral não escrevo para um público amigas, jura, é a única que não fez plástica ou colocou
muito infantil. Estou no terceiro livro de Botox (“Na minha cara ninguém tasca”). Sua imagem é
sorridente, solar, e a conversa foi longa, um calor danado
poesia infantil, Classificados e Nem
lá fora, no terraço do apartamento de cobertura, em
Tanto, um livro lindo, as ilustrações são Ipanema, onde vive desde que se casou com Affonso
gravuras do Rubem Grilo. São poemas Romano de Sant’Anna, há 38 anos. Os dois trabalham
curtinhos, na área do absurdo, em casa, cada qual no seu escritório — existe um de
brincando com o nonsense, de duas a cada lado do terraço. Dali dava para ver o marzão
três linhas minúsculas, sem métrica turquesa e Marina, sempre amável, no dia seguinte diz
certa, como anúncios classificados, do para esta repórter paulistana por e-mail: “Grande beijo,
tipo “centopeia procura”... O Rubem fez boa praia — vista daqui de cima está estupenda —
uma gravurinha para cada poema. Eu cuidado com o sol”. Eu, assanhadíssima depois de 45
me interesso pelo universo dos contos dias de chuvas em São Paulo, corri logo para a areia.
32 | Outlook | Sábado, 13.2.2010

VFI D
IMA DE PAPO

Garota de Ipanema
Marina Colasanti, além de menina cabeça, sempre teve um corpinho pronto para a vida ą beira-mar.
Mergulhava com o irmćo Arduíno, jogava frescobol, pegava jacaré com a mesma desenvoltura que escrevia livros,
pintava quadros, assim como as garotas privilegiadas da sua turma. “Nós fazíamos nossos biquínis. Eu fiz um todo
amarradinho na lateral, modelo que copiei de um calçćo do Arduíno”. Esta foto, Marina de cabelo curtinho,
foi tirada na década de 60, na época em que ela trabalhava no Jornal do Brasil.

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