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SÁBADO, DOMINDO, SEGUNDA-FEIRA E TERÇA-FEIRA 13, 14, 15 E 16 DE FEVEREIRO, 2010 | ANO 2 | Nº 105 | DIRETOR RICARDO GALUPPO | DIRETOR-ADJUNTO DARCIO OLIVEIRA | R$ 4,50
EDIÇÃO DE CARNAVAL
Keiny Andrade/AE
Os4dias
quevalem
6meses
paraaRua
25deMarço
Por quase seis meses a Rua 25
de Março, tradicional centro de
compras popular em São Paulo,
registra os lucros trazidos
pelos quatro dias de folia do
Carnaval. Uma única pluma de
faisão real chega a custar R$ 150.
Muitos lojistas financiam as
compras de escolas de samba. ➥ P30
NESTA EDIÇÃO
Keiny Andrade/AE
EDITORIAL
Murillo Constantino
Diretor de Redação Ricardo Galuppo Natália Mazzoni, Nivaldo Souza, Regiane de Olivei- Publicidade Comercial Gian Marco La Barbera (Di- Palma (Coordenador Negócios), Rodrigo Louro
Diretor-adjunto Darcio Oliveira ra, Ruy Barata Neto, Thais Folego, Vanessa Correia retor), Juliana Farias, Renato Frioli, Valquiria Re- (Gerente MktD e Internet), Gisele Leme (Coorde-
Brasília Simone Cavalcanti, Sílvio Ribas Rio de sende, Wilson Haddad (Gerentes Executivos), nadora MktD e Internet), Lea Soler (Gerente Tmkt
Editores Executivos Costábile Nicoletta, Fred Melo Janeiro Renata Batista, Ricardo Rego Monteiro Márcia Abreu (Gerente de Publicidade), Bárbara ativo), Silvana Chiaradia (Coordenadora Tmkt ati-
redacao@brasileconomico.com.br Paiva, Gabriel de Sales, Jiane Carvalho, Thaís Cos- BRASIL ECONÔMICO On-line Marcel Salim (Editor), Con- de Sá, Celeste Viveiros, Edson Ramão, Erico Bus- vo), Alexandre Rodrigues (Gerente de Processos),
ta Produção Editorial Clara Ywata Editores Arnal- rado Mazzoni, Michele Loureiro, Micheli Rueda (Re- tamante, Vinícius Rabello (Executivos de Negó- Denes Miranda (Coordenador de Planejamento)
BRASIL ECONÔMICO é uma publicação do Comin e Rita Karam (Empresas), Carla Jimenez pórteres), Rodrigo Alves (Webdesigner) cios), Andreia Luiz, Solange Ferreira dos Santos
da Empresa Jornalística Econômico S.A. (Brasil), Cristina Ramalho (Outlook e FS), Laura Arte Pena Placeres (Diretor), Betto Vaz (Editor), (Assistentes) Central de atendimento e venda de assinaturas
Knapp (Destaque), Márcia Pinheiro (Finanças) Cassiano de O. Araujo, Evandro Moura, Letícia 4007 1127 (capitais) 0800 600 1127 (demais
Presidente do Conselho de Administração Subeditores Claudia Bozzo (Brasil), Fabiana Paraja- Alves, Maicon Silva, Paulo Argento, Renata Ro- Publicidade Legal Marco Panza (Diretor Comercial), localidades). De segunda a sexta, das 7h às 20h
ra, Isabelle Moreira Lima (Empresas), Luciano Fel- drigues, Renato B. Gaspar, Tania Aquino, (Pagi- Ana Alves, Carlos Flores, Celso Nedeher (Executivos Sábado, das 7h às 15h
Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcellos trin (Finanças), Phydia de Athayde (Outlook e FS) nadores) Infografia Alex Silva (Chefe), Monica de Negócios), Alcione Santos (Assistente Comercial) atendimento@brasileconomico.com.br
Repórteres Aline Lima, Amanda Vidigal, Ana Paula Sobral, Rubens Neto Fotografia Antonio Milena
Diretor-Presidente José Mascarenhas Machado, Carlos Eduardo Valim, Carolina Alves, Ca- (Editor), Marcela Beltrão (Subeditora), Henrique Departamento de Marketing Samara Ramos TABELA DE PREÇOS
rolina Pereira, Cintia Esteves, Daniel Haidar, Danie- Manreza, Murillo Constantino (Fotógrafos), An- (Coordenadora) e Patricia Filippi (Planejadora)
Diretor e Jornalista Responsável Ricardo Galuppo la Paiva, Denise Barra, Domingos Zaparolli, Dubes gélica Bueno, Thais Moreira (Pesquisa) Trata- Assinatura Nacional
Sônego, Elaine Cotta, Fábio Suzuki, Françoise Ter- mento de imagem Antonio Moura, Henrique Pei- Operações Cristiane Perin (Diretora), Tarija Lan- Trimestral Semestral Anual
zian, Gustavo Kahil, Ivone Santana, João Paulo Frei- xoto Secretaria/Produção Shizuka Matsuno zillo (Assistente)
Redação, Administração e Publicidade tas, Juliana Elias, Karen Busic, Luiz Henrique Liga- R$ 247,50 R$ 495,00 R$ 990,00
Avenida das Nações Unidas, 11.633 - 8º andar, bue, Luiz Silveira, Lurdete Ertel, Marcelo Cabral, Ma- Departamento Comercial Departamento de Mercado Leitor Flávio Cordeiro Condições especiais para pacotes e projetos corporativos
CEP 04578-901, Brooklin, São Paulo (SP), ria Luiza Filgueiras, Mariana Celle, Mariana Segala, Diretor Executivo Heitor Pontes (Diretor), Nancy Socegan Geraldi (Assistente Dire- (circulação de segunda a sábado, exceto nos feriados nacionais)
Tel. (11) 3320-2000. Fax (11) 3320-2158 Marina Gomara, Martha S. J. França, Natália Flach, Assistente Executiva Sofia Pimentel toria), Carlos Madio (Gerente Negócios), Anderson Impressão: Oceano Indústria Gráfica e Editora
4 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
DESTAQUE COMPORTAMENTO
A revolução da
geração Y e suas
redes sociais
Corporações terão de investir tempo e dinheiro para entender
hábitos e comportamentos do público que vive na internet
“
Ruy Barata Neto ainda dão os primeiros passos
rneto@brasileconomico.com.br no relacionamento com este
consumidor Y. “Os modelos
Lançado pelo Google nesta se- ainda são muito burocráticos”,
mana, o Buzz é a nova ferra- Consumidor Y afirma Barbosa.
menta para dar mais amplitude tem interesse variado, Mudar processos instaura-
à voz da conhecida Geração Y — não reconhece dos há décadas não é fácil, na
jovens entre 18 e 30 anos que opinião do diretor de marke-
dominam o mundo das redes especialistas e guia ting da Fiat, João Ciaco. Ele en-
sociais na internet. Estes novos seus interesses de trou na companhia, em 2001,
consumidores são os responsá- compra pelos amigos com a missão de iniciar um tra-
veis por uma verdadeira revolu- balho de posicionamento da
ção nos padrões de atuação das Martha Gabriel, empresa na internet. O setor
empresas nesta primeira déca- professora da Business sempre foi vertical — da fábrica
da do século XXI. E este poder School de São Paulo para a concessionária e dela
só cresce. A última invenção do para o consumidor. “Hoje a re-
Google, por exemplo, além de lação está subvertida”, diz Cia-
reproduzir o modelo de comu- co. “O que é colocado como
nicação aberta de concorrentes verdade pela concessionária é
como Twitter e Facebook, apa- questionado diretamente com
rece integrado ao email, ao co- a indústria e precisamos res-
municador instantâneo e ligado ponder”, diz Ciaco.
a outros sites. Tudo para facili- Por outro lado, a incorpora-
tar o compartilhamento de ví- dora Tecnisa é cautelosa nesta
deos, músicas, fotos e textos relação. A empresa tomou a
entre os usuários e os amigos. decisão de contratar um “va-
Quem terá que dormir — e gabundo”, nas palavras do di- Sempre conectados de alguma forma, por celular
principalmente acordar — liga- retor de internet, Romeo Busa- ou computador, os jovens querem acesso direto
do neste novo canal é o diretor rello, para ficar o dia inteiro fo- às empresas das quais consomem. À direita,
do segmento residencial da Te- cado na comunicação com esse embaixo, a página do projeto Fiat Mio
lefônica, Fábio Bruggioni. O público. Com o tempo, Busa-
executivo comanda uma equi- rello descobriu que “o cliente
pe de dez pessoas destacada on-line não tem razão, mas sim
para monitorar e interagir com razões e que não há fórmula
o público das redes sociais. To- para lidar com o ele”. “Cada
das as manhãs ele acessa a in- caso é um caso. O segredo do DESEMPENHO DAS REDES SOCIAIS EM 2009 NOS EUA
ternet pelo celular para saber o fracasso é tentar agradar todo
que se fala sobre a empresa no mundo”, diz o executivo. O número de visitantes únicos do Facebook crescer 105% entre 2009-2008
mundo virtual. No radar dessa
área estão 20 mil blogs. “Hoje Marketing
acesso as redes sociais antes As estratégias de comunicação 120
111,9 20 milhões
milhões 20
mesmo de ler o clipping dos para venda de produtos e servi-
100
jornais”, diz. ços começam a ser revistas pe- 15
80
A necessidade apareceu no las empresas por causa desse 54,5
ano passado, quando a compa- público. Na opinião de Martha 60 milhões 10
nhia enfrentou problemas ope- Gabriel, professora da Business 40
5
racionais de seu serviço Speedy. School de São Paulo, ainda são 20
2 milhões
A repercussão foi mais pesada poucas as que entenderam as 0 0
na internet. “A crise acelerou o peculiaridades desse consumi- Fonte: comScore DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009
interesse da empresa pelas mí- dor e fazem um trabalho ade-
dias sociais”, afirma Bruggioni. quado. “Consumidor Y tem in-
“Esta atividade ainda é um teresse variado, não reconhece O QUE A GERAÇÃO Y QUER DE UMA EMPRESA?
aprendizado, um processo, no especialistas e guia seus interes-
qual descobrimos que transpa- ses de compra pelos amigos”, 1 2
rência e gerenciamento de ex- diz Martha. Para chegar a ele, a
pectativas são fundamentais marca não pode se mostrar in-
para esse público. É preciso dei- teressada em vender. É neces- Verdade Diálogo
xar claro o que a empresa pode e sário falar a língua desse jovem
o que não pode fazer.” e oferecer alguma informação Antes as pessoas não Esse público rejeita
Para Alessandro Barbosa ou ideia instigante. “A regra é questionavam as empresas burocracia e não reconhece
Lima, presidente da consulto- dar antes de receber e escutar e nem tinham acesso a elas. Hoje padrões hierárquicos rígidos.
ria E.Life, especializada em antes de agir”. ■ colaborou Fa- os clientes não ficam calados Quer manter diálogo com
mídias sociais, as empresas biana Parajara e Regiane Oliveira se percebem falsas promessas. as marcas que consomem.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 5
LEIA MAIS Menos influenciados pela As gerações X e Y gostam Os jovens também causam
publicidade tradicional, os de novidades tecnológicas. mudanças no local onde
jovens querem falar direto com Com elas em mente, fabricantes trabalha. São tachados de
a empresa. Para atraí-los como de celular lançam produtos com impulsivos, imediatistas e
consumidores, é preciso acesso grátis à internet, loja insubordinados, mas nem todos
transparência e diálogo. virtual e a programas do Google. criticam essas características.
Mauricio Lima/AFP
Empresas se
beneficiam com
os hábitos jovens
Estratégias bem-sucedidas Sanzio Mello
de relacionamento na internet
podem ser eficientes para
inovação com novos produtos
Fabiana Parajara
Ruy Barata Neto
João Ciaco
redacao@brasileconomico.com.br Diretor de
marketing da Fiat
A Fiat prevê apresentar em ou-
tubro, no próximo Salão do “A rede social é uma grande
Automóvel no Brasil, o protóti- festa que está rolando, e a
po do que imagina ser o carro marca precisa saber que não
do futuro. Trata-se do resulta- pode mudar a música. Se
do final do projeto Fiat Mio, entrou na festa precisa se
que reúne uma série de inter- comportar no padrão dela”
nautas em torno de ideias para
a construção do veículo. A co-
munidade online existe desde
agosto do ano passado e reúne
1,3 milhão de usuários únicos,
segundo a empresa, a maioria
com menos de 30 anos. O carro
começará a ser produzido nos
próximos dias, a partir de 10
mil ideias coletadas no site.
O diretor de marketing da
empresa, João Ciaco, compara
as redes sociais às tradicionais
clínicas de comunicação para
testar lançamentos. É hábito
das montadores reunir clien-
tes pontuais para um teste
prévio de um carro novo e cor-
rigir defeitos antes de ele ir ao
mercado. “Com as diferentes
manifestações nas redes so-
ciais, temos uma clínica de
comunicação permanente”,
afirma Ciaco. As ideias para o
carro do futuro ficarão sob a
Creative Commons — licença
livre do pagamento de direitos
autorais e que pode ser usada
por qualquer um, desde que
citado o autor.
FAIXA ETÁRIA DO FACEBOOK E DO TWITTER NOS EUA Pelo mesmo caminho segue
O Boticário, que chegou a re-
Aumenta a audiência de jovens no Twitter lançar em edição limitada um
perfume por conta da manifes-
COM MENOS DE 24 ANOS ENTRE 25 E 24 ANOS COM MENOS DE 18 ANOS ENTRE 18 E 24 ANOS ENTRE 25 E 34 ANOS tação de consumidoras no
35 25 20 20,0% 19,7%
Orkut. Pelo mundo digital, a marca está na internet, mas
32,3% 23,0% 17,9% empresa ainda chegou à estu- como ela está na internet”.
30 16,2%
26,8% 20
25
18,8% 15 dante Mariana Gomes, de 18 “Com os consumidores presen-
20 15 anos, responsável por dar dicas tes nas redes sociais, por exem-
10 10,0% 10,0%
15 10
de beleza para consumidores plo, registramos um grande vo-
10 no site da empresa. A jovem foi lume de pedidos de informa-
5 5
5 descoberta por conta do traba- ção. Isso nos dá a chance de
0 0 0 lho independente de produzir orientá-los e de interagir com
DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 DEZ/2008 DEZ/2009 vídeos, desde os 15 anos, dando eles”, afirma Dutra. “No longo
dicas de beleza para as amigas. prazo, a presença da marca nas
Segundo Fernando Dutra, ge- redes sociais tem muito mais
rente executivo de serviços de efetividade para a imagem e
marketing de O Boticário, a para o relacionamento com o
3 4 5 meta é saber “não só que a consumidor.” ■
DESTAQUE COMPORTAMENTO
Elaine Cotta
ecotta@brasileconomico.com.br
ao consumidor do futuro
Z, e que já está na mira de várias companhias, especialmente as de tecnologia
Paulo Fridman/Bloomberg
A GERAÇÃO DO MILÊNIO
DESTAQUE COMPORTAMENTO
Semprevisível
Sandra Lima,
diretora de recursos
humanos da Vivo,
tenta entender as
diferentes gerações
no processo de
trabalho
Amanda Vidigal Amorim Jovens chegam Isadora Becker, de 25 anos, para que os funcionários pos- mos e pensarem com cautela”,
avidigal@brasileconomico.com.br acaba de completar o progra- sam trabalhar onde quiserem”, afirma Renata. Para os profis-
ao mercado de ma de trainee da Vivo. “Assim afirma Élcio de Moura, vice- sionais da geração X, que já pas-
Para as empresas, os jovens da trabalho com que terminei o programa fui presidente de marketing e pro- saram por crises financeiras
chamada geração Y contam com ambição por altos promovida a analista, e espero dutos da Siemens Enterprise graves, o imediatismo e a im-
características positivas para o chegar a gerência em pouco Comunications. Com mobilida- pulsividade não são caracterís-
mercado de trabalho. Apesar de cargos. Para atingir tempo”, afirma a jovem pro- de, os jovens podem trabalhar ticas tão marcantes.
serem tachados constantemente seus objetivos, fissional. Apesar de acreditar de outros locais, por exemplo. O professor da Fundação Dom
como impulsivos, imediatistas e eles estão dispostos que não tem problemas de su- Esse desapego é também Cabral, Anderson Sant´ana, diz
insubordinados, essas particu- bordinação, Isadora admite uma característica concreta da que esses conflitos são normais,
laridades são vistas com bons a encontrar a que essa é uma característica geração, que passou pela sua e que a humanidade é constituí-
olhos pelas empresas. empresa que lhes de sua geração. “Eu me dou primeira crise mundial em da por grandes mudanças. “Ge-
É assim que enxerga a dire- ofereça um cargo muito bem com minha gestora, 2008. “A crise econômica aju- rações diferentes são uma cons-
tora de recursos humanos da mas vejo que muitos colegas dou os jovens a serem mais cal- tante”, afirma. ■
Vivo, Sandra Lima. “Esses jo-
melhor. O que enfrentam dificuldades em re-
vens são competitivos, bus- acontecia na geração ceber ordens”.
cam sempre uma posição me- anterior, onde Para Renata Fillipi Lind- Jovens reconhecem suas características
lhor dentro da empresa”, afir- quist, diretora da Mariaca,
ma. Talvez por isso, a diretora
um profissional empresa de recursos humanos, Isadora Becker entende que guerras. “Pela primeira vez
veja algumas dificuldades nos passava anos um outro problema é que, sua geração muitas vezes não na história da gestão, estamos
locais de trabalho, já que ou- crescendo em uma como esses jovens atingem sabe esperar o momento e nem tendo um número maior de
tras gerações, também com postos altos em pouco tempo, dar tempo ao tempo. Ela mesma gerações convivendo”, afirma
características fortes, fazem mesma empresa, não adquirem maturidade para admite que, apesar de ter Anderson Sant´ana, professor
parte do quadro de funcioná- já não se repete exercer a função. “Vê-se mui- completado agora o processo da Fundação Dom Cabral.
rios. “As gerações precisam se tos jovens em grandes posições de trainee ao qual se inscreveu, As gerações a que o professor
educar, conviver com as dife- e que não têm jogo de cintura”, já sabe quando quer chegar ao se refere são a da guerra,
renças. Temos dentro da em- diz. “Isso é fundamental em cargo de gerência. Função que do pós-guerra, a X e a Y.
presa a geração X e a geração um cargo de direção.” está quatro postos acima do que Em algumas empresas é possível
Y, que são muito diferentes”, Essa inconstância dos jovens faz hoje. “Não quero falar sobre encontrar as quatro gerações
acredita Sandra. e sede de crescer em qualquer o tempo para isso, mas já tenho trabalhando juntas. E mesmo
Isso porque, enquanto os jo- lugar fez com que a Siemens to- na minha cabeça o prazo certo com tantos conceitos às vezes
vens se preocupam em subir masse algumas providências para chegar à gerência”, afirma díspares, elas conseguem se
rapidamente de cargo, os pro- para evitar que seus funcioná- a jovem de 25 anos. Essa é uma entender. “A grande questão
fissionais da geração anterior rios fossem para as concorren- das principais particularidades é considerar as diferenças,
têm como característica cres- tes. “Desenvolvemos vários de uma geração que não passou o que caracteriza cada geração”,
cer dentro da própria empresa. equipamentos tecnológicos por crises econômicas e nem afirma o professor. A.V.A.
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 9
Companhia Aberta
CNPJ/MF nº 09.346.601/0001-25
NIRE 35.300.351.452
FATO RELEVANTE
A BM&FBOVESPA S.A. (“BVMF”), em cumprimento ao disposto no parágrafo 4º do artigo 157 da Lei nº 6.404/76 e à Instrução CVM nº 358/02, vem a público informar que, nesta data,
assinou com o CME Group, Inc (“CME”), holding que controla a Chicago Mercantile Exchange (CME), New York Mercantile Exchange (Nymex), Board of Trade of the City of Chicago,
Inc. (CBOT) e Commodity Exchange, Inc. (COMEX), Protocolo de Intenções para firmar um acordo de parceria estratégica preferencial global que contempla (i) investimentos e
acordos comerciais em bolsas internacionais, em bases iguais e compartilhadas; (ii) o desenvolvimento, em conjunto com o CME, de uma nova Plataforma Eletrônica de Negociação
de derivativos, ações (equities), renda fixa e quaisquer outros ativos negociados em bolsa e balcão; (iii) elevar sua participação societária para 5%, equivalente, nesta data, a
aproximadamente US$ 1 bilhão (hum bilhão de dólares); e (iv) indicar um representante para participar do Conselho de Administração do CME.
2. Nova Plataforma de Negociação Multi-Mercado – única e integrada – mercados de ações, derivativos, câmbio, renda fixa, outros ativos de balcão e block trade
BVMF e CME desenvolverão conjuntamente, com base em tecnologia derivada do sistema de negociação CME Globex®, bem como em nova tecnologia a ser criada conjuntamente
pelas duas bolsas, uma nova plataforma eletrônica de negociação, com tempo de processamento de negócios inferior a um milissegundo, que contemplará sob uma mesma infra-
estrutura todos os segmentos de negociação existentes na BVMF, quais sejam:
• mercado à vista de ações;
• derivativos referenciados em ações, índices de ações, taxas de juro, taxas de câmbio e commodities;
• taxa de câmbio à vista;
• títulos públicos;
• títulos privados de renda fixa; e
• outros ativos de balcão.
Será também desenvolvido na nova plataforma um sistema de negociação de grandes lotes de ações (block trade).
O primeiro módulo a ser desenvolvido será o de derivativos, que substituirá, até o início de 2011, o atual GTS (Global Trading System), sistema eletrônico de negociação utilizado pela
BVMF em seu segmento de derivativos financeiros e de commodities, e câmbio a vista. O segundo módulo será implantado até o final de 2011, e substituirá os sistemas de negociação
MegaBolsa, Sisbex e BovespaFIX atualmente utilizados pela BVMF nos mercados de ações, títulos públicos federais e títulos privados de renda fixa, respectivamente.
Tanto a BVMF como o CME poderão explorar comercialmente a nova plataforma, compartilhando entre si as receitas de tal comercialização. A BVMF poderá comercializar livremente
a plataforma nas Américas do Sul e Central, no México e na China. Nas demais regiões, poderá fazê-lo desde que associada a uma operação de investimento e observadas
determinadas restrições relativas à listagem de produtos pela bolsa investida.
A BVMF e o CME serão co-proprietários da nova plataforma de negociação multi-mercado, compartilhando, em regime de co-autoria e através de licenças recíprocas, perpétuas e
irrevogáveis, a propriedade intelectual do sistema, bem como suas melhorias, versões (up grades) e softwares derivados.
Ainda como reflexo dessa nova parceria, o CME transferirá à BVMF, com base na tecnologia do sistema Globex®, todo o conhecimento necessário à operacionalização e ao
desenvolvimento da nova plataforma, passando a BVMF a deter total independência e autonomia para, inclusive, comercializá-la em determinadas regiões sob determinadas
condições.
Para a completa implementação de todas as etapas da nova plataforma, incluindo-se a aquisição de toda a tecnologia e propriedade intelectual a ela inerente, a BVMF estima
realizar investimentos da ordem de US$ 175 milhões (cento e setenta e cinco milhões de dólares) ao longo de 10 (dez) anos, com valor presente de US$ 100 milhões (cem milhões
de dólares).
6. Prazo
A presente Parceria Estratégica Preferencial Global tem prazo inicial de 15 (quinze) anos, com realinhamento dos seus aspectos estratégicos e comerciais no 5º e 10º aniversários.
Dentro desse prazo, ela permanecerá em vigor enquanto uma bolsa detiver, na outra, investimento mínimo de 2% (dois por cento) do capital social da investida.
OPINIÃO
Henrique Manreza
BRASIL
Divulgação
Celso Junior/AE
Qual o impacto político da O próprio ministro Marco Aurélio governador e deputados. para o brejo. Não só porque seriam
prisão do governador Arruda? Mello, do Supremo Tribunal Em 2002, o presidente Fernando investidos milhões em espetáculos, Festa dos 50 anos de
O fato abre espaço para muitas Federal, que sempre foi apegado Henrique Cardoso recebeu pedido mas porque o mal-estar provocado
leituras. A prisão do governador à formalidade técnica, reforçou para intervir no Espírito Santo pelos escândalos políticos tira o Brasília sofre perdas
(sem partido) pela Polícia Federal hoje (ontem) os argumentos e resistiu à ideia. Desta vez, brilho da festa. Os preparativos do governo
tem impacto simbólico para manter o chefe do Executivo também dificilmente o presidente É uma pena porque o sonho de do Distrito Federal para a
importante em favor da busca preso até o fim do Carnaval. Lula vai assumir a tarefa Juscelino Kubitschek se tornou comemoração dos 50 anos de
da ética na política, além de nomear um interventor. realidade e o desenvolvimento Brasília, no próximo dia 21 de
de representar um recado O senhor acredita que haverá O prejuízo político agora seria do Brasil foi interiorizado graças abril, sofreram o duro impacto
do Judiciário ao Executivo intervenção federal no DF? ampliar o caos. Por mais íntegro à nova capital. O brasiliense é um dos escândalos que atingiram
e Legislativo. Mas é bom lembrar A história recente mostra o quão que seja o nome indicado por cidadão orgulhoso das conquistas o Executivo e o Legislativo.
que Arruda foi preso por cometer dramático é para o Planalto Lula, ele pouco pode fazer do Distrito Federal, que tornou A programação deveria incluir
um crime comum (suborno) intervir em um ente da Federação. até dezembro, deixando a capital o Centro-Oeste a região mais rica atrações internacionais, como
ao tentar obstruir a Justiça. No caso de Brasília, a intervenção do país sem comando. do país, se considerar o aspecto o ex-beatle Paul McCartney,
Ao cometer esse grande vacilo, federal seria um duro golpe da renda per capita. Uma solução mas perdeu fôlego e deverá
ele entregou de bandeja para na autonomia do Distrito Federal, A festa do cinquentenário para esse problema seria o ter apenas artistas nacionais.
o Superior Tribunal de Justiça conquistada em 1990, com de Brasília está arruinada? próprio presidente Lula assumir Obras de revitalização também
os argumentos para sua prisão. a primeira eleição direta de A comemoração histórica já foi a celebração do cinquentenário. desaceleraram este ano. S.R.
14 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
BRASIL
prefeitos condenados
para blindar, como biombo, proteger, acobertar.
Quando instrumentos típicos da política institucio-
nal não bastam; quando se perde a capacidade de ação,
quando se esvai o sentido nobre da política junto com a
esperança de justiça, todos perdem, ou melhor, só a
malandragem ganha. Em momentos assim, descrê-se CNJ vai publicar lista de 2.514 Claudio Abramo, da CNJ, que fez a proposta ao órgão.
de tudo; a própria sociedade perde seu sentido coletivo condenações por improbidade Mas, nas condições aprovadas
e os indivíduos passam a ignorar que vivemos em gru- administrativa, mas preservará
Transparência Brasil, pelo CNJ, o cadastro público não
po. Incorreta, mas justificadamente, consolida-se o nomes dos acusados questiona utilidade vai disponibilizar o acesso aos
sentimento de que política é coisa para malandros. do cadastro sem nomes dos condenados. Assim,
Daniel Haidar se alguém quiser saber quem já
dhaidar@brasileconomico.com.br
que seja divulgado foi condenado por improbidade,
Claro que os envolvidos têm direito o nome dos terá que anotar o número do
à defesa; e eles o farão, como Ao menos 643 prefeitos ou ex- condenados processo da condenação (dispo-
prefeitos cumprem atualmen- nível ao público no cadastro) e
a Justiça entender e determinar. te punições por improbidade consultar, processo por proces-
Mas não será por meio de “esquemas” administrativa. so, no site de cada tribunal res-
É o cargo público com o ponsável pela sentença, quais são
maior número de citados no Ca- os nomes dos condenados.
Em virtude disto tudo e como uma forma de com- dastro Nacional de Condenados “Isso pode ser interpretado
bate a isto é que, hoje, a sociedade deve louvar e agra- por Ato de Improbidade Admi- como intenção do CNJ de ocul-
decer a ação do Ministério Público e a decisão do Supe- nistrativa (CNCIA), do Conse- tar os nomes. Quando alguém
rior Tribunal de Justiça (STJ). Algo precisava ser feito; lho Nacional de Justiça (CNJ). oculta informação, motivo tem.
as instituições tinham que agir de modo a resgatar o Prefeitos ou ex-prefeitos são Por que não colocam? ”, ques-
sentido de sociedade e mesmo da Política, com “P” 25% dos condenados. tiona o diretor-executivo da
maiúsculo. Ao fazê-lo, demonstram que a política é O cadastro lista 2.514 conde- ONG Transparência Brasil,
bem maior que os políticos, o Estado superior aos go- nações em última instância, sem Claudio Weber Abramo.
vernos e isto foi, institucionalmente, importantíssimo. possibilidade de recurso, que fo- Desse jeito, não é possível sa-
Claro que os envolvidos têm direito à defesa; e eles ram feitas desde 2008. O arquivo que administradores públicos ber, por exemplo, se o ex-prefei-
o farão, como a Justiça entender e determinar. Mas é atualizado a cada mês. pudessem consultá-lo para evi- to de São Paulo Paulo Maluf
não será por meio de “esquemas”, da coerção de tes- De todo esse grupo de conde- tar contratar pessoas ou em- consta no cadastro de condena-
temunhas, de sofismas e dissimulações. Na terça- nados, são cobrados R$ 142,3 presas já acusadas de desviar dos por improbidade adminis-
feira, 10 de fevereiro, a democracia e as instituições milhões de ressarcimento inte- recursos ou causar prejuízo aos trativa do CNJ, apesar de ele ter
do Brasil se fortaleceram. Isso é muito bom. Discor- gral de dano ao erário, R$ 26,9 cofres públicos. sido condenado ao menos uma
do do presidente Lula quando diz que “é ruim para a milhões por perda de bens e “Em outro estado e cidade, vez em última instância por esse
política”. Ruim foi o fato de termos deixado chegar a R$169,1 milhões em multas. ninguém fica sabendo disso. Aí o ilícito em um processo que foi
este ponto, bom é que sabemos que as instituições Em tese, a ideia do CNJ ao administrador contrata. Gerava iniciado em 1995 e cuja execução
podem reagir. É esta a lição que devemos levar a res- organizar o cadastro, com base problemas graves para o adminis- do ressarcimento só começou no
peito da prisão do governador José Roberto Arruda, a em decisões comunicadas por trador público e para a Justiça”, ano passado. Procurado, o CNJ
primeira deste tipo a ocorrer no país. Oxalá se cons- juízes de todo o país, era divul- diz o procurador de Justiça Felipe não informou se o ex-prefeito
titua como um precedente. ■ gar as condenações para evitar Locke Cavalcanti, conselheiro do Paulo Maluf está no cadastro. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 15
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16 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
Murillo Constantino
Cultura de inovação
começa na escola
O tema da inovação invade cada vez mais as esferas pú-
blica e privada, os meios empresariais e acadêmicos. A
mídia dá destaque, ajuda a fomentar os debates. O inte-
resse crescente evidencia o conceito como uma estraté-
gia para a competitividade em empresas e instituições,
mas inovação precisa ser mais do que isso para resultar
no sonho maior de uma sociedade sustentável, outro
tema que se espraia nos dias de hoje. Inovação tem de
virar cultura, ser cultivada na escola desde cedo.
O que significa criar uma cultura de inovação na es-
cola? Iniciativas como a da Feira Brasileira de Ciências
e Engenharia (Febrace), evento da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, dão uma boa pista. Este
ano, de 9 a 11 de março, acontece a 8ª edição da mostra
no campus da USP, reunindo projetos de alunos do en-
sino fundamental, médio e técnico. São estudantes de
13 a 20 anos, das escolas pública e particular.
DENISE BARRA
Divulgação
sabado@brasileconomico.com.br
Astor Piazzolla, Vinicius de Moraes e Herivelto Martins Para quem fica em A caipiroska Verão
No voz do cantor, agora romântico, Ney Matogrosso Juan Guerra/AE
São Paulo no Carnaval, tem uma refrescante
Depois de apresentações de PARA SE EMOCIONAR
o bar Pé de Manga, alquimia entre o
estreia, Ney Matogrosso na Vila Madalena, abacaxi e a menta.
retorna a São Paulo com seu lançou uma carta
novo trabalho, Beijo Bandido.
Numa versão bem diferente de caipirinhas, A caipiroska do
da pegada roqueira do show com 37 criações. Mesquita, à base de
anterior, Ney canta músicas vodca, tem tangerina
pop e românticas de artistas
consagrados música O “Festival macerada com
brasileira. Vestido de terno e Degustação” leva manjericão.
gravata, mas sem perder o à bandeja 10
brilho, Ney apresenta um A caipiroska Paulista
repertório que tem Hermínio caipirinhas especiais
Bello de Carvalho, com Doce servidas em copos faz uma mistura leve
de Coco, versões de A Bela e de 216 ml. Custa de kiwi, hortelã e mel.
A Fera, de Chico Buarque e
Edu Lobo, a música Segredo, R$ 120 por pessoa.
de Herivelto Martins e
No calor, os drinques
Marino Pinto e À Distância, A extensa carta da com frozen ganham
de Roberto e Erasmo Carlos.
bebida bem brasileira mais espaço em
A canção As Ilhas de
Piazzolla e Geraldo Carneiro, desfila opções com cinco versões,
também será interpretada sabores inusitados, por R$ 16,50 cada.
pelo cantor carismático.
Medo de Amar, de Vinicius de como gengibre, Ingredientes
Moraes e a popular Bicho De lichia, manjericão refrescantes como a
Sete Cabeças, de Geraldo e jabuticaba.
Azevedo, Zé Ramalho e água de coco, morango
Renato Rocha também e kiwi são novidades
estarão no palco do Citibank Uma das mais no cardápio de frozens.
Hall, entre 5 e 7 de março, pedidas é a caipirinha
em São Paulo.
Ingressos de R$ 80 a R$ 160. da Casa, que tem Para acompanhar as
Ney Matogrosso retorna a São Paulo em versão pop romântica
Tel: (11) 2846-6040 vodca, manga, caipirinhas, o bolinho
maracujá e lichia. de risoto de queijos e
Últimos dias para ver 100 releituras mineiras de Mona Lisa ervas faz sucesso, por
Exposição fica em cartaz até o dia 21, em Belo Horizonte As caipirinhas R$ 16, além dos mini
Jackson Tadeu especiais, que custam acarajés, por R$ 27.
Artistas contemporâneos
PARA VER E SENTIR como Yara Tupinambá, R$ 20 cada uma,
Fernando Pacheco e são os destaques. Em estilo rústico, o bar
Jarbas Juarez estão
entre os 100 mineiros
fica em meio a árvores
que fizeram uma releitura A caipisakê da Vila, centenárias, na antiga
da obra mais famosa em homenagem casa do Capim Santo.
do renascentista italiano ao bairro boêmio,
Leonardo da Vinci. Rua Arapiraca, 172
A exposição reune o maior leva saquê, framboesa, Vila Madalena - São Paulo
número de pinturas de amora e morango. Tel: (11) 3032-6068
versões de Mona Lisa em
uma única mostra e vai Divulgação
FOTOJORNALISMO
ANTONIO MILENA
Os blocos
1
do carnaval
de rua
do Rio de
Janeiro
O Carnaval chegou
ao Brasil pelas mãos
dos portugueses. Isso
aconteceu no ano de
1641 e, então, a festa
atendia pelo nome
de entrudo. Esse, aliás,
é o nome de uma festa
portuguesa que acontece
não só no período que
antecede a Quaresma
mas, também, em festas
de aldeias e em romarias
religiosas. No Brasil,
o evento ganhou cores
tropicais e hábitos
próprios. Surgiram,
por exemplo, os blocos
de rua. Tradicionais
no Rio de Janeiro e em
outras cidades do país,
os blocos chamam
a atenção pela
descontração e pelas
cores. Foi nesse clima
que o fotojornalista
Evandro Teixeira
retratou a festa
popular mais
tradicional do Brasil.
2 3 4 5
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 21
fotoreportagem@brasileconomico.com.br
7 1 Folião na Cinelândia, 8
centro do Rio de Janeiro.
3 Mascarado anima os
foliões na Cinelândia.
4 Carnaval de Veneza
vira inspiração para o folião
também da Cinelândia.
EMPRESAS
Prejuízos com
celulares dividem
a Motorola
Empresa passará por cisão em 2011. Mas as duas
metades manterão ações negociadas em bolsa
Carlos Eduardo Valim Uma operação unirá and Home. A outra poderá utili-
cvalim@brasileconomico.com.br zar o nome por meio de licença
telefonia móvel e de uso gratuita.Os dois grupos
A Motorola será dividida em demais produtos vão repartir quase que pela me-
duas durante o primeiro trimes- voltados ao tade o faturamento anual da
tre de 2011. O esperado plano de empresa, que ficou em US$ 22
reorganização da companhia, consumidor final. bilhões no último ano.
anunciado na noite da última A outra abrangerá a O negócio mais problemá-
quinta-feira, determina que as linha de mobilidade tico da Motorola nos últimos
duas operações vão manter anos vem sendo o de apare-
ações negociadas em bolsa. que atende o mercado lhos móveis. No quarto tri-
Com a mudança, uma em- corporativo e mestre de 2009, as vendas de
presa combinará os negócios de governos, além de dispositivos móveis trouxe-
telefones móveis e demais pro- ram prejuízos operacionais de
dutos para consumidores fi- equipamentos de rede US$ 132 milhões.
nais. A outra fica com produtos A empresa, a primeira a co-
de mobilidade que atendem ao mercializar telefones celulares
mercado corporativo e os go- no início dos anos 80, foi duran-
vernos, além dos equipamen- te a década de 90 e primeira
tos de rede. Esta última terá metade dos anos 2000 a grande
como principais produtos os rival da finlandesa Nokia, que
rádios bidirecionais, computa- lidera o mercado desde 1998. Na
dores móveis, sistemas de se- época do lançamento do pri-
gurança pública, sistemas de meiro celular com flip (concha),
identificação por radiofre- o Startac, a empresa tinha cerca
qüência e infraestrutra de rede de dois terços de sua receita
sem fio. A divisão será realiza- vindo de aparelhos móveis.
da por meio da distribuição de Mas a empresa sempre en-
papéis entre os acionistas. frentou problemas após esgo-
Analistas de mercado e in- tar o período de vendas de
vestidores cobravam a separa- seus grandes sucessos. O seu
ção ou a venda de algumas ati- último “arrasa-quarteirão”
vidades. Nos últimos meses a foi a linha Razr, anunciada no
Motorola estudava negociar a fim de 2004, como um apare-
maior de suas divisões, a que lho de pouca espessura e de
produz conversores (set-top caráter “fashion”. Em um
box) e equipamentos de rede ano, teve seus preços dimi-
sem fio. Com o novo plano, os nuídos e se tornou o mais
dois focos da unidade foram se- MOTOROLA INC. vendido em todo o mundo,
parados. Cada um fará parte de superando os 120 milhões de
uma empresa diferente. Cotação da ação*, em US$ unidades. Em julho de 2006,
Os dois principais executi- chegou a 50 milhões.
vos da companhia, Sanjay Jha e 50 O papel da Motorola Nesse período, a Motorola DESEMPENHO RECEITAS
Greg Brown, vão assumir as alcançou seu pico na era a segunda maior empresa do
empresas. Jha, que já liderava o Bolsa de Nova York mercado global. Com o arrefe-
negócio de aparelhos móveis,
será executivo-chefe da Moto-
40 em fevereiro de
2000, quando foi
cimento das vendas da linha
Razr, não conseguiu criar um
US$ 22 bi US$ 7 bi
cotada a US$ 57 foi o faturamento foi a receita da Motorola,
rola’s Mobile Devices and Ho- 30 substituto e acabou perdendo a consolidado de 2009 no último trimestre
me. Brown assume a Enterprise posição para a Samsung e para da Motorola. No ano do ano, com as vendas
Mobility Solutions and Network. a LG Electronics. anterior, havia ficado de aparelhos móveis.
O executivo, que é no momento 20 A Motorola é atualmente a em US$ 30,1 bilhões. O negócio de equipamentos
o coexecutivo-chefe e presi- quarta colocada global em ven- No entanto, o prejízo corporativos para
dente da Motorola, chegou ao 10 das de aparelhos celulares. líquido caiu de acesso à internet
cargo com a demissão de Ed No Brasil, a Motorola, que US$ 2,4 bilhões para sem fio resultou em
Zander, o primeiro a comandar tem fábrica em Jaguariúna, no US$ 148 milhões, de 2008 US$ 2 billhões, enquanto
a organização sem pertencer à 0 interior de São Paulo, é a maior a 2009. O prejuízo operacional as vendas de equipamentos
família Galvin. 1994 2010** exportadora de eletroeletrôni- passou de US$ 2,4 bilhões de redes trouxe outros
A marca Motorola vai per- Fontes: Yahoo Finance, Nyse e Brasil Econômico
cos, segundo o Ministério do a US$ 148 milhões. US$ 2 bilhões.
tencer à divisão Mobile Devices *Em fim de período *Fechamento de ontem Desenvolvimento. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 23
Divulgação
Tim Boyle/Bloomberg
Aposta com o
sistema do Google
A grande aliada da Motorola para
retomar a sua importância no
negócio de aparelhos móveis é
a empresa de internet Google.
O Motorola Droid, que foi lançado
em novembro do último ano,
representou não só o primeiro
aparelho da empresa a trazer
o sistema operacional do Google
para celulares como também
o primeiro dentre todas a
fabricantes a ter a segunda
versão do software, o Android 2.0.
Na Europa e América Latina, foi
lançado com o nome Milestone.
Considerado pela revista
americana Time como o principal
lançamento em telefones móveis
de 2009, ele esgotou em três
horas nas lojas de Londres,
no dia de seu lançamento. C.E.V.
80 ANOS DE HISTORIA
Uma empreendedora americana
EMPRESAS
A receita da Tabasco
para vender pimenta
no reino do dendê
Coroada como melhor distribuidora da marca no mundo, Aurora
tenta bater a meta de 2 milhões de unidades importadas em 2010
“
Arnaldo Comin gredientes selecionados e de
acomin@brasileconomico.com.br qualidade reconhecida”.
Embora esteja disponível em
Dedo-de-moça, chifre-de- mercearias e supermercados de
veado, piripiri, biquinho, co-
É mais fácil vender todo o país, num total de 20 mil
mari, pitanga, bode ou cambu- para países com estabelecimentos, metade das
ci. Desde os tempos de Cabral, tradição em comida vendas é dirigida ao mercado
quando um pote de especiarias profissional, que está no centro
valia quase seu peso em ouro,
condimentada como da estratégia para o produto.
pimenta é uma palavra que não o Brasil, mas os
sai da boca dos brasileiros. nossos maiores rivais Boca a boca
Nos últimos anos, os consu- Para fortalecer a marca nos ba-
midores vêm se acostumando a
acabam sendo as res e restaurantes, o caminho da
outro molho, com inspiração receitas de molho Aurora tem sido aproximar-se
mexicana e indiscutível apelo caseiro de pimenta dos profissionais da área. Entre
“made in USA” de marketing, as atividades de marketing es-
a Tabasco, uma das raras mar- Stephen Romero, tão a parceria com o projeto Bo-
cas com reconhecimento glo- vice-presidente da McIlhenny teco Bohemia, da Ambev, e a
bal dentro mercado de tempe- realização de concursos junto
ros prontos. aos estudantes da escola de co-
Embora esteja à venda no zinha do Senac, uma das mais
país desde 1975, o produto des- respeitadas do país.
lanchou mesmo nos últimos “Nos Estados Unidos, que
cinco anos, quando suas vendas ainda respondem por 60% das
mais que triplicaram, no emba- nossas vendas, usamos mais
lo do crescimento do mercado campanhas de massa, mas, em
de foodservice. O sucesso de mercados como o Brasil, as
vendas levou a brasileira Auro- ações são mais dirigidas. Mesmo
ra, tradicional comerciante de assim estamos estudando a rea-
importados finos, a ser eleita lização de uma campanha com
como melhor distribuidora comerciais de 15 segundos”,
mundial da Tabasco, fabricada adianta Romero.
pela família de origem irlandesa De acordo com a Aurora, a
e escocesa McIlhenny, que há Tabasco tem bom reconheci-
sete gerações comanda a produ- mento de marca no país. Pes-
Bombay leva
ção do condimento, no estado quisa encomendada ao instituto
americano da Louisiana. Insight aponta que o produto é
No ano passado, foram ven- conhecido por 71% da classe A e
didas no Brasil 1,7 milhão de 43% da classe B, o que facilita o
unidades, levando o país a ocu- crescimento contínuo nas ven-
par a 12ª posição em vendas, das, apesar do preço salgado do Distribuidora de alimentos presa de óculos Chilli Beans.
em um universo de 165 onde o molho. Enquanto o frasco pe- inaugura franquia de lojas “Ninguém sai de casa para com-
produto é distribuído. Na Amé- DE GOTA EM GOTA queno custa em média US$ 1,60 especializada em temperos finos prar tempero, então estar em
rica Latina, está em segundo (cerca de R$ 3) nos Estados Uni- um shopping é aproveitar um
lugar, entre o líder México e a Aumento nas vendas dos, no Brasil o preço sugerido é Nelo Linguanotto é um pequeno momento em que o consumidor
Venezuela, famosos pela culi- da Tabasco no Brasil de R$ 7, bem acima da média de empresário com pimenta nas está aberto à experimentação”,
nária superpicante. Para 2010, R$ 2,50 dos similares nacionais. veias. Seu avô, Nelusko, fundou diz Linguanotto, autor de livros
a meta da Aurora é atingir a co- “A diferença é que não conside- a tradicional marca Linguanotto de culinária e dono de um loja
mercialização de 2 milhões das ramos as marcas locais nossos de temperos desidratados, que com a marca Bombay no ele-
inconfundíveis garrafinhas de 40
40 39% concorrentes diretos”, diz Kari- por décadas abasteceu os su- gante bairro dos Jardins, em São
60 ml da marca. na Assami Hosokawa, gerente permercados de São Paulo. De- Paulo, onde também dá aulas
32%
Em entrevista ao BRASIL ECO- 30
para o produto na Aurora. pois de vender, retomar e passar sobre como usar adequadamen-
NÔMICO, o vice-presidente mun- 25% Para Romero, a ampla aceita- para frente de novo a empresa te os condimentos.
dial de vendas da McIlhenny, ção do produto garante uma di- da família nas décadas de 1980 e A empresa pretende investir
Stephen Romero, admite que 20 18% 18% ferencial importante como 1990, Linguanotto desde 1993 um total de R$ 320 mil até atin-
nem sempre é fácil vender o 14% marca de inserção global, mas comanda a Bombay, empresa gir seis quiosques próprios e de-
molho vermelho em um país 10
0 isso também gera inconvenien- criada por ele para abastecer o pois partir para a franquia do
onde pimenta é assunto sério. tes. “Nosso maior trunfo é tam- mercado de foodservice. modelo em outros estados.
“Sem dúvida o nosso produto é 0
bém uma maldição: a percepção Com tanta experiência acu- “Depois de ouvir tantas histó-
mais aceito em culturas onde a 2005 2006 2007 2008 2009 2010*
de tradição e qualidade é a me- mulada no mundo das especia- rias ruins de franqueados, estou
culinária condimentada faz lhor porta de entrada da Tabas- rias, o empresário lançou na se- desenvolvendo um modelo pró-
Fonte: Aurora *estimativa
parte do gosto local, mas o nos- co no mundo, mas a natureza mana passada um novo modelo prio, baseado na minha expe-
so principal concorrente acaba TOTAL tão concentrada do produto faz de negócio: quiosques especia- riência e no relacionamento es-
sendo as receitas de molho ca- 209% com que alguns consumidores lizados em temperos finos em treito com os parceiros no pro-
seiro”, explica. “Por isso a nossa levem mais de ano para termi- grandes centros comerciais. O jeto”, adianta Linguanotto.
aposta está no mercado de nar uma só embalagem”, la- primeiro, inaugurado no Mo- Embora a área de especiarias
foodservice, tentando entrar menta. “O que eu gostaria mes- rumbi Shopping, teve investi- renda prestígio para a marca
nos estabelecimentos que têm mo é poder vender tantas garra- mento de R$ 80 mil e segue Bombay, 75% do faturamento
como diferencial o uso de in- fas quanto a Coca-Cola.” ■ modelo parecido com o da em- da empresa, que foi de R$ 8,2
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 25
Origem do molho
■ NO VIDRINHO
Cada embalagem de 60 ml
de Tabasco contém
vem dos tempos
da Guerra Civil
720 gotas
Fundada em 1868, a fabricante
da Tabasco leva na bagagem a
Divulgação
1 milhão
queiro que havia se refugiado no
Texas durante a Guerra Civil,
recebeu de um viajante que ha-
via passado pelo México uma
porção de sementes de pimenta
■ NA GÔNDOLA que acabou plantando no jardim
Total de garrafas pequenas de casa, já de volta à Louisiana.
vendidas no Brasil em 2009 Satisfeito com o progresso do
cultivo, o patrono da família co- Produção da Tabasco
1,7 milhão
meçou a fazer experiências com
molhos, aproveitando um trun-
fo: a pequena localidade de
Avery Island, onde morava, foi
construída sobre uma imensa
segue estilo artesanal
EMPRESAS
Andre Penner
planeja consolidar
Para este ano, a expectativa é de até 2014 e para isso planeja ter
expansão parecida. O fatura- pelo menos uma loja em todas
mento deve chegar aos R$ 45 as capitais, de Norte a Sul.
milhões e, até o final do ano, a
Quality pretende inaugurar INVESTIMENTO
Regiane de Oliveira
roliveira@brasileconomico.com.br
“
sitas por ano. “Viajo porque
gosto”, diz. “Mas também para
ficar de olho na qualidade”. As
visitas de Ribeiro são conside- Viajo porque gosto, mas
radas fundamentais pela dire-
ção do grupo, que aposta na também para ficar de olho na
venda sugestiva de produtos qualidade. Ainda não temos
para aumentar a receita, o que lojas em Rondônia, Roraima,
depende muito do ambiente e
qualidade das operações. Isto Acre, Amapá, Paraíba,
significa ganhar mais a cada Pernambuco e Tocantins
compra e elevar o tíquete mé-
dio das lojas, de aproximada- Henrique Ribeiro,
mente R$ 16. sócio-diretor do Fran’s Café
Atualmente, os alimentos re-
presentam cerca de 20% das
vendas. O restante é dividido
igualmente entre os cafés e as Ribeiro. Na lista de candidatos gar às 145 lojas prometidas no cutivo afirma que falta pouco mês para abertura de franquias.
bebidas frias. A meta é equili- ao próximo cardápio estão alfa- ano passado, segundo Ribeiro, para a empresa mapear o Brasil. Mas, destes, talvez dois se con-
brar este resultado e ajudar a jores e pretzels. O cardápio é por atraso nas obras. “Temos Ribeiro está contando. “Ainda vertam em negócios”, explica.
aumentar a rentabilidade. No trocado três vezes ao ano. unidades em shoppings, como não temos unidades em Rondô- O problema, diz Ribeiro, é a di-
ano passado, o Fran’s Café fatu- Sorocaba e Valinhos, no inte- nia, Roraime, Acre, Amapá, Pa- ficuldade de encontrar em-
rou R$ 60 milhões em 2009, um Expansão rior de São Paulo, que estão raíba, Pernambuco e Tocan- preendedores com perfil e con-
resultado 20% superior ao de A estratégia de rentabilizar os atrasadas”, afirma. tins”, conta. Até o final do ano, dições financeiras — o valor
2008. A meta é chegar a R$ 80 resultados com a venda de ali- Até agosto, a rede planeja serão pelo menos mais onze médio de uma franquia é R$ 300
milhões neste ano. “Estamos mentos não diminui a vocação abrir 14 lojas, que estão em con- pontos de venda, todos já con- mil — para abrir uma unidade. A
fazendo um esforço para desen- expansionista do Fran’s Café. trato em mercados como Ceará, tratados, segundo Ribeiro. “Te- empresa oferece alternativas,
volver novos produtos”, conta A empresa não conseguiu che- Natal, Aracaju, Maceió. O exe- mos cerca de 80 pedidos por como os quiosques. ■
EMPRESAS
Henrique Manreza
A Light investirá R$ 700 mi- Segundo a Na área de Sarapuí, que fica com que daqui para a frente os
lhões em 2010, dos quais R$ dentro do município de Duque ganhos de escala nos mercados MUDANÇAS NAS TARIFAS
200 milhões serão aplicados na
concessionária, de Caxias, por exemplo, ele ci- das distribuidoras passem a ser
redução de perdas, informou a demora para tou que a substituição dos me- levados em conta no cálculo das ● A Light marcou para o fim
ontem o vice-presidente de autorizar a instalação didores elevou o consumo em tarifas. Na prática, isso deverá do mês uma assembleia para
Relações com Investidores da 45%, devido principalmente à implicar, na maioria dos casos, assinar a adoção de um aditivo
empresa, Ronnie Vaz Moreira.
de medidores pelo incorporação de clientes que es- em reajustes menores. ao contratos das distribuidoras.
Segundo ele, entre os investi- Inmetro acabou tavam fraudando o sistema. A Aneel havia decidido por
mentos para combate às perdas por prejudicar Isso fica claro, comparando este aditivo por ter descoberto ● O aditivo faz com que sejam
está previsto a instalação de a média de crescimento do uma distorção na metodologia calculados nas tarifas os ganhos
122 mil medidores eletrônicos. o programa consumo no município no de cálculo dos reajustes, o que de escala nos mercados em
O objetivo da companhia é de redução de mesmo período, que foi de fez com que os consumidores que atuam as distribuidoras,
evitar 500 GWh de perdas elé- desperdício 13%. Além da incorporação de não fossem beneficiados com o com reajustes menores para
tricas neste ano, reduzindo o clientes que tinham energia repasse dos ganhos que as em- o consumidor final.
índice para abaixo da meta re- de energia clandestina, também estamos presas têm, como o aumento
gulatória de 38,68%, definida substituindo as redes antigas dos seus mercados, por exem- ● A Aneel estima que, desde
pela nova metodologia da por mais novas, garantindo plo. A estimativa da Aneel é de 2002, os clientes das
Aneel. Em 2009, a Light fe- que o número de cortes de que os clientes das distribuido- distribuidoras pagaram cerca
chou este indicador em 42,4%. energia reduza”, comentou. ras pagaram cerca de R$ 1 bi- de R$ 1 bilhão a mais.
Segundo Moreira, o progra- lhão a mais desde 2002. De
ma de combate às perdas da Reajustes acordo com Vaz Moreira, ainda
companhia foi prejudicado no A Light marcou assembleia para não são estimados os reflexos
ano passado pela demora do o próximo dia 26 de fevereiro desta medida para a empresa,
Inmetro em autorizar a instala- para referendar a adoção do mas há estimativa de que em
ção destes medidores. Em tele- aditivo aos contratos das distri- 2013 haja um impacto “leve-
conferência com analistas, ele buidoras, proposto pela Agência mente negativo” no lucro antes
citou como exemplo algumas Nacional de Energia Elétrica de despesas financeiras, impos-
áreas do Rio de Janeiro que já (Aneel). A proposta do aditivo tos, depreciação e amortizações
passaram por esta substituição. aos contratos de concessão faz (Ebitda). ■ Agência Estado
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 29
Wilton Junior/AE
Souza Cruz
vende menos
e lucra mais
Aumento de 23% no valor de O número de
venda compensou queda do
consumo e tributação maior
unidades vendidas
caiu 7,4% e os
Luiz Silveira tributos aumentaram
lsilveira@brasileconomico.com.br
cerca de 41%,
As vendas de cigarros caíram mas ainda assim
7,3% no Brasil em 2009, acom- a companhia
panhando uma tendência mun-
dial de combate ao tabagismo.
conseguiu elevar
Os impostos sobre os cigarros o lucro líquido
também foram aumentados em em 17,8%, para
aproximadamente 41%. Mas,
ainda assim, a Souza Cruz — lí- R$ 1,48 bilhão
der com 62% do mercado na- em 2009
cional de cigarros — conseguiu
ampliar sua receita líquida em
9,3%, para R$ 5,79 bilhões.
A explicação está na remar-
cação do preço dos cigarros, que
subiram em média 23% sobre
2008. O aumento dos preços
compensou a queda nas vendas
de cigarro, que recuaram 7,4%,
para 72,8 bilhões de unidades.
Também minimizaram os im-
pactos do forte aumento da carga
tributária sobre o cigarro. “Nos
últimos cinco anos, somente os
tributos sobre vendas [anuais] da
Souza Cruz aumentaram em mais
de R$ 2 bilhões e totalizaram
aproximadamente R$ 26 bi-
lhões”, afirmou a administração
da companhia em relatório. Só no Apesar da queda nas vendas, lucro da Souza Cruz se mantém
ano passado, a companhia pagou em alta pelo reajuste de 23% dos preços dos cigarros
R$ 6,33 bilhões em tributos.
Marcas premium
O aumento da tributação e a ção do portfólio de marcas”, A marca Dunhill, por exem- principal marca da Souza Cruz
queda no volume de vendas co- afirmou a companhia. plo, que substitui o Carlton no em volume (33,3 bilhões de ci-
locam pressão sobre os preços A estratégia ganhou ainda fim de 2008, manteve sua parti- garros), conseguiu crescer 0,4
dos cigarros, e levam as cigar- mais relevância em 2009 porque cipação de mercado na casa de pontos percentuais, para 28,3%
reiras a focar cada vez mais nas a competitividade dos cigarros 7%, o que para a Souza Cruz do mercado. É preciso lembrar
linhas premium. Além de ter contrabandeados aumentou mostra a “resiliência” do pro- que essas participações refe-
preços mais altos, esses cigarros com a elevação do Imposto so- duto ao aumento de preços. As rem-se apenas ao mercado le-
sofrem menos competição dos bre Produtos Industrializados vendas do cigarro Vogue, tam- gal, que é calculado em 27% do
produtos ilegais. (IPI) e do Programa de Integra- bém lançado no fim de 2008 consumo total de cigarros.
“A companhia manteve ao ção Social/Contribuição para o com forte apelo premium, cres-
longo de 2009 ações de marke- Financiamento da Seguridade ceram 52% sobre o volume da Lucro cresce
ting voltadas principalmente Social (PIS/Cofins), segundo a marca Capri, que substituiu. Como resultado da melhora de
para o segmento premium, com companhia. Como os cigarros Já a marca Hollywood, mais receita, o lucro líquido avan-
lançamento de marca, oferta de legais ficaram ainda mais caros, popular, perdeu 0,6 pontos per- çou 17,8% sobre 2008, para
edições limitadas e diversifica- a vantagem dos ilegais cresceu. centuais de mercado. O Derby, R$ 1,48 bilhão. ■
EMPRESAS
festeja o Carnaval
por seis meses
O movimento é maior entre setembro e janeiro, período em
que as escolas de samba preparam as fantasias, dizem lojistas
“
Alexandra Farah chega a custar R$ 150, ele im-
afarah@brasileconomico.com.br portou 10 toneladas de plumas
de avestruz para suprir a de-
Por quase um semestre, o carna- manda da maior festa popular
val faz a alegria dos lojistas da
Hoje viabilizo do Brasil. A pluma espigão, de
região da Rua 25 de Março, tra- muitos desfiles, qualidade inferior, custa R$ 260
dicional centro de comércio po- dando crédito o quilo, enquanto a mais sofisti-
pular paulista. Dono do Palácio cada sai por R$ 750.
das Plumas, Elias Ayoub, com
para as escolas O maior patrocinador oficial
três lojas especializadas em arti- do Carnaval paulistano é a pre-
Elias Ayoub,
gos caranavalescos, conta que o feitura de São Paulo, que subsi-
dono do Palácio das Plumas,
movimento mais forte acontece dia quase 100 agremiações. Os
na 25 de Março
de setembro a janeiro, quando os desfiles do grupo especial acon-
costureiros vão às compras para tecem hoje e amanhã e, segun-
confeccionar as fantasias. “Eu do dados da SPTuris, vão levar
começo a trabalhar logo após o 120 mil espectadores ao Sambó-
Carnaval, quando mostro as no- dromo, na zona norte da capital.
vidades para os carnavalescos e
eles fazem os protótipos. Na ver- Preferência popular
dade, os 15 dias que antecedem o O filme Lula, O Filho do Brasil
Carnaval são muito fracos”, diz pode não ter virado blockbuster
o lojista, casado com Pinah, a nos cinemas mas as máscaras
lendária musa do Carnaval da com o rosto do presidente de-
Beija Flor. Segundo Ayoub, neste vem estar, mais uma vez, entre
ano a empresa garantiu um au- os três adereços favoritos dos
mento de 30% na receita com os foliões no Carnaval que começa
quatro dias de folia, mas, como a hoje. Pelas vendas, os lojistas
maioria de seus colegas, não re- prevêem que em primeiríssimo
vela o montante total de vendas. lugar de popularidade neste ano
Distribuidor de cristais egíp- está o cantor Michael Jackson.
cios Asfour, principal concor- “Desde a sua morte, as fanta-
rente dos austríacos Swarovski, sias de Michael Jackson são
segundo Ayoub, em 2010 a muito procuradas e, para o Car-
maior novidade são as pedras naval, elas seguem como cam-
acrílicas sestavadas, imitando peãs de venda”, diz Pierre Sfeir,
cristais gigantes. Com 32 anos proprietário da Festas e Fanta-
de experiência, Ayoub afirma sias, que tem 34 anos de histó-
que entra ano sai ano, cristais e ria como uma das maiores da
plumas são sinônimo de folia. Rua 25 de Março. Nas semanas
Ele diz que cresceu bastante que antecedem o Carnaval, a
com o Carnaval. “Hoje viabilizo loja tem disponíveis cerca de 15
muitos desfiles, dando crédito mil itens, dos quais 8 mil de
para as escolas”. Isso porque a produção própria.
folia não sai barato. Nesta época, a União dos Lo-
Nas madrinhas, destaques jistas da 25 de Março e adjacên-
dos carros e rainhas da bateria, cias, a Univinco, que tem 3 mil
o faisão real é imbatível na pre-
ferência. Mas como a produção
mundial do luxuoso e caro fai-
são é pequena e uma pluma
lojas cadastradas - 350 de rua, o
restante em prédios e galerias -
calcula um volume de 400 mil
pessoas por dia pela região. Nú-
Estilistas trocam
mero que chega a um milhão no
final do ano, quando ocorre o Na alta-costura do Carnaval, uma fantasia de musa
OS CUSTOS DA FESTA maior movimento. Para 2010,
ano de Copa do Mundo, a previ-
R$ 150
é quanto chega a custar uma
são é de alta de 18% em relação
às vendas de 2009. Na Copa, os
Assim como a indústria da
moda, o mundo das fantasias é
Como a indústria
única pluma de faisão real. Para produtos verde-amarelo – cha- dividido por setores. Há o fast-
da moda, o mundo
reduzir os gastos, as agremiações péus, cornetas, perucas e óculos fashion, itens baratinhos e des- das fantasias é
usam plumas de avestruz. - fazem a festa dos lojistas. O cartáveis, usados pelos foliões dividido por setores.
A do tipo espigão, de qualidade perfil dos compradores mudou. amadores. E há a alta-costura,
inferior, custa R$ 260 o quilo. “Passei por três moedas, sobre- com looks riquíssimos, que
Tem o fast-fashion,
vivemos a todas e a atual é muito custam em média R$ 50 mil, itens baratinhos
DE OLHO NA COPA boa. Antes era só classe A, agora usados pelas musas das grandes e descartáveis,
entra na loja cliente de chinelo escolas de samba. Neste quesi-
18% com dinheirinho trocado. Che-
gam também em carros que pa-
to, as fantasias são confeccio- e a alta-costura, com
looks riquíssimos
é o crescimento esperado nadas sob medida com mate-
nas vendas da região, ram na porta e descem com o se- riais importados. Longe se vão
por causa da Copa do Mundo. gurança”, conta Sfeir. ■ Colabo- os dias de reinado dos paetês e
rou Amanda Vidigal Amorim das miçangas. Quem manda
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 31
Keiny Andrade/AE
A apresentadora Sabrina
Sato vestirá duas
fantasias, avaliadas
em R$ 50 mil cada
uma, patrocinadas
por fabricante de jeans
“
hoje são as plumas e os cristais. Salvador para fazer dois looks jo. Ele veste também Ana Hi- é o fato das fantasias de Sabrina
Como os valores são exorbitan- para a apresentadora Eliana ckmann e Claudia Leite. A pri- serem patrocinadas pela Sa-
tes e ninguém pensa em econo- usar em seu bloco. meira fantasia de Sabrina, hoje wary Jeans, de quem é garota
mizar, alguns dos estilistas Mas quem brilha mesmo na à noite, na Gaviões da Fiel, é propaganda. Geralmente quem
mais importantes da moda bra- ponte aérea São Paulo-Salva-
Faço meu vermelha, com detalhes geo- paga é a escola. Só de penas e
sileira passaram a se dedicar dor-Rio de Janeiro é Walério pé-de-meia com métricos. Ela vem à frente da cristais foram gastos R$ 50 mil
também ao Carnaval. Neste Araújo, o mais prolífico estilis- as fantasias bateria branca e preta. “Sabri- em cada. Em troca, a empresa
ano, Fause Haten, que já desfi- ta no Carnaval. “Nossa, o Wa- na representa o coração, o terá seu logo estamapado no
lou no São Paulo Fashion Week lério veste todo mundo. As ara- Walério Araújo, amor pelo Corinthias”, afirma roupão com o qual Sabrina en-
coleção inspirada no reinado de ras da loja dele ficaram vazias”, estilista Ian Acioli, personal stylist da trará na avenida. Fantasia se-
Momo, dedicou-se a criar as conta a apresentadora Sabrina apresentadora. No Rio, ela des- gue o enredo, não a moda. Mas
quatro fantasias de Alinne Sato, que este ano vai desfilar fila pelo Salgueiro como musa não tem como não se influen-
Rosa, vocalista da banda Cheiro duas roupas confeccionadas do futurismo. Sua fantasia é ciar. “Este ano, o estilo burles-
de Amor. Dudu Bertholini, da por ele. “Faço meu pé de meia prata, com um mocaino de pe- co e o futurismo vão estar em
grife Neon, também foi rumo a com as fantasias”, revela Araú- nas de faisão. Inédito neste ano todas”, diz Haten. ■ A.F.
32 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
CONSUMO POPULAR
EXPRESSAS
Contra a fraude,
todos estão de olho na
bomba de combustível
Lideranças do comércio varejista
de combustíveis de São Paulo,
governo e os consumidores se
empenham contra fraudadores,
que podem até perder a licença
de funcionamento. O produto
adulterado é apreendido e,
conforme o grau de impureza,
é destruído ou readequado.
Seu destino será o abastecimento
de viaturas policiais, ambulâncias
e veículos do corpo de bombeiros.
Para comunicar fraudes,
o contato é a Ouvidoria
da Secretaria da Fazenda
Divulgação
consumopopular@brasilconomico.com.br
Eduardo Nicolau/AE
Brás, comércio Philips aceita o desafio de melhorar as condições de iluminação e lança a RoadStar
O comércio do Brás conseguiu a do Brás (Alobras). Grandes redes, “Tráfico de alunos” e preços baixos
diferenciação que os empresários pequenos lojistas e revendedores
buscavam. Hoje a região agrega de moda (como são chamados assustam os donos de faculdades
aos seus produtos a marca da os ex-sacoleiros) encontram
qualidade aliada ao preço, que traz no Brás as mercadorias que Dirigentes de estabelecimentos da qualidade do ensino e também
consumidores de todas as regiões fazem o sucesso das confecções de ensino superior privados estão prepara um livro com uma
do país e do exterior. Mesmo antes brasileiras, diz o representante atentos ao que chamam de “tráfico radiografia do sistema privado
de fechar as contas do primeiro dos empresários. Makdissi de alunos”. A concorrência leva de educação. O trabalho mostra
trimestre, a expectativa é de que cita como prova da aceitação algumas escolas à prática que o setor gera anualmente
as 6 mil lojas do bairro paulistano a expectativa em relação de preços aviltantes. Grupos um faturamento de R$ 24 bilhões,
terão um crescimento de vendas ao próximo desfile do Shopping organizados entram em contato representando mais de 1% do PIB
acima de 8%, conforme estimativa Mega Polo, uma das empresas com alunos e os convencem a uma nacional. Proporciona mais R$ 1
Figueiredo, presidente do Semesp
de Jean Mikhael Makdissi Jr., associadas da Alobras. O evento saída em massa, mudando para bilhão de renda indireta, investe
diretor da Associação dos Lojistas ocorre entre 1º e 3 de março. faculdades com preços mais R$ 2 bilhões/ano (em acervo
em conta. No Sindicato dos de bibliotecas, equipamentos, “Ligado na
Estabelecimentos de Ensino obras e reformas), oferece 380 mil
Sonho de consumo no verão. Superior de São Paulo (Semesp), empregos, sendo 208 mil a Facul” orienta
o presidente Hermes Ferreira professores (109 mil mestres
Um sorvete que emagrece Figueiredo, alerta os donos das e doutores), e gera uma massa “O Semesp decidiu atingir o público
escolas e os alunos sobre a questão salarial anual de R$ 16 bilhões. jovem com informações através do
Em pleno pico do verão brasileiro, pesquisador Maurício Pupo, que Divulgação portal Ligado na Facul. Em dois
é possível ir a uma farmácia de desenvolveu o produto, o sorvete meses de funcionamento, o projeto
manipulação e pedir um sorvete conta com os benefícios da (www.ligadonafacul.com.br) já tem
emagrecedor. Segundo o planta com que se faz o chá 68% de novos acessos, média de 5
verde, a Camellia sinensis, que páginas por visita e tempo médio
Divulgação tem propriedades antioxidantes. de navegação de 15 minutos, um
Pupo explica que a farmácia de dos mais altos para esse tipo de
manipulação vai fazer a mistura mídia. Ligado na Facul tem 53%
dos chás num pote, como se fosse dos acessos direcionados a partir
leite em pó, com o aroma e o das redes sociais ou das
sabor que o cliente escolher. instituições de ensino particulares
“Então, é só colocar água gelada que colocaram nos seus websites a
ou leite desnatado e deixar logomarca do projeto com um link
no congelador, até virar sorvete.” para o portal. As Unidotas, vídeos
O pesquisador dirige o de humor do projeto, também
Departamento de Pesquisa fazem sucesso no You Tube: alguns
e Desenvolvimento do Ipupo vídeos contabilizam mais de 1.000
Consult, consultoria especializada acessos por dia”, diz o presidente
O chá verde que virou sorvete Semesp chama a atenção para a importância das instituições particulares
em nutricosméticos. do Semesp.
34 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
CRIATIVIDADE
DUAS PERGUNTAS A... Quando você começou O que você espera do projeto?
o projeto e por que você Posso dizer uma coisa que
...CINDY GALLOP decidiu realizá-lo? eu gostaria de ver acontecer.
Eu acho que há um nível muito Eu estou consciente do fato de
Criadora e cofundadora do baixo de força e estímulo que, infelizmente, para um grande
projeto If We Ran The World das pessoas em todo o mundo para número de pessoas e empresas,
mudar situações desagradáveis. a idéia de fazer o bem é
“Quero integrar as Todas têm boas intenções que inerentemente muito, muito
não realizam. Percebi que o mesmo chato. Quando você vai para
boas intenções de acontece com as corporações. a página inicial de um esforço
empresas e pessoas” Elas sabem que para ganhar social ou sem fins lucrativos,
dinheiro hoje precisam ser muitos já começam a bocejar.
socialmente responsáveis e tem Antes de fazer alguma coisa,
O portal If We Ran The World altos orçamentos para isso — mas, você sente: ‘Eu sei que isto
por enquanto é apenas um ainda desperdiçam muitos recursos é realmente bom para mim’.
projeto experimental. comprando páginas inteiras do Mas, meu Deus, aí você já está
Segundo Cindy Gallop Wall Street Jornal, dizendo: meio dormindo. Eu quero fazer
inicialmente estão “Olhe como somos uma empresa o conceito de bem atraente -
sendo angariadas ideias verde”. Mas ninguém lê. Estou sexy como o inferno para
e nada ainda pode ser tentando unir essas intenções os indivíduos, e muito sexy
anunciado como e trazer resultados efetivos para e atraente para as marcas
Cindy: “Quero que o bem seja realmente atraente para empresas e pessoas”
resultado concreto. as marcas e para as pessoas. e empresas.
Bloomberg
criatividade@brasileconomico.com.br
Fotos: divulgação
ANÚNCIO DA SEMANA
O anúncio da semana é brasileiro e foi publicado ontem nas páginas do site Ads Of
The World (.com) que relaciona as melhores propagandas do mundo. A publicidade ■ ficha técnica
promove a série FlashForward, prevista para começar no dia 23 deste mês no canal Agência: Publicis Brasil Direção de criação:
de TV fechada. A atração falará de casos de pessoas que subitamente têm um Hugo Rodrigues, Kevin Zung
Cliente: AXN
desmaio e conseguem ver o futuro de suas vidas. Os publicitários passaram a
Fotógrafo: Marcus Hausser
informação por meio do ícone das cartas de tarô. A peça acima faz parte de um Criação: Daniel D’Avila,
conjuto de anúncios em veiculação. Esta sairá em jornais nos próximos dias. Caso Sidney Araújo,Hugo Aprovação cliente:
fosse publicado no Brasil, nesta semana, o próprio anúncio seria premonitório, mas Rodrigues, Rodrigo Stefania Granito
para o ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda, preso na quinta-feira 11. Strozenberg, Marcelo Sato e Angelica Okamoto
FINANÇAS
CONSOLIDAÇÃO FINANCEIRA
Maria Luíza Filgueiras “Até final de 2011, no mais companhia listada na própria A bolsa brasileira, tunidades de investimentos e
e Mariana Segala tardar início de 2012, vamos BM&FBovespa e que uma even- acordos comerciais”, diz o exe-
mfilgueiras@brasileconomico.com.br buscar o segundo lugar no tual aquisição poderia causar que hoje tem valor cutivo. O contrato entre as bol-
msegala@brasileconomico.com.br ranking global”, afirma Edemir conflito de interesse. de mercado de sas tem prazo de 15 anos, com
Pinto, presidente da BM&FBo- “O acordo com o CME Group US$ 13,6 bilhões, reavaliações a cada cinco anos.
A BM&FBovespa deu passos lar- vespa — que pagará US$ 275,12 é amplo e irrestrito, mas países Acordos anteriores ficam
gos, ontem, para consolidar sua por nova ação do CME Group. em desenvolvimento são alvos quer ultrapassar a de fora do negócio. É o caso da
estratégia de avanço global. Com Dono das bolsas americanas de naturais”, diz o executivo. Hong Kong — que parceria fechada pela
um investimento de US$ 620 ações e mercadorias Nymex, “Queremos também construir vale US$ 17,9 bilhões BM&FBovespa no último mês
milhões, vai ampliar sua partici- Comex, CBOT e CME, o CME uma estrada de acesso a nossos com o regulador do mercado e
pação no capital do CME Group Group vai manter os 5% que já produtos, buscando o varejo —até, no máximo, as três bolsas de valores do
de 1,8% para 5%. Com isso, ga- detém da bolsa brasileira e americano, europeu e asiático.” o início de 2012. Chile, para o desenvolvimento
nhará uma cadeira no conselho também seu assento no conse- Maior do mundo, de clearing de contrapartes
de administração da maior bolsa lho de administração. Comitê naquele mercado e listagem
do mundo em valor de mercado. Os dois grupos querem ir às CME Group e BMFBovespa vão
a CME vale dos produtos brasileiros. Em
Assim, a bolsa brasileira preten- compras e firmar parcerias es- constituir um comitê de estra- US$ 18,9 bilhões duas semanas, a bolsa fechará
de dar, em dois anos, os passos tratégicas com outras bolsas tégia para definir os investi- acordo semelhante na Colôm-
necessários para sair da terceira pelo mundo. “Está tudo no nos- mentos conjuntos. As reuniões bia e está em fase final de ne-
posição e se tornar, ela mesma, a so foco, exceto a Cetip”, afirma dos membros acontecerão com gociação no Peru e no México.
segunda maior do mundo, à Pinto, ressaltando que a câmara intervalo máximo de 90 dias. O CME Group, por sua vez, já
frente da Bolsa de Hong Kong. de liquidação e custódia é uma “Vamos analisar e definir opor- mantém parcerias como as
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 37
Daniel Acker/Bloomberg
Tim Boyle/Bloomberg
até 2012
com o CME Group, a bolsa terá
autonomia para comercializar o te e vice-versa. No fim do ano
sistema livremente para os mer- passado, a BM&FBovespa fir-
cados da América do Sul, do mou acordo semelhante com a
México e da China — o que não é Nasdaq para o segmento Boves-
autorizada a fazer hoje com o pa. Vieira Neto destacou que a
de participação acionária no grupo americano Mega Bolsa, desenvolvido pela Nasdaq ainda tem um prazo de
New York Stock Exchange (Nyse seis a nove meses para concluir
Euronext) e apenas licenciado o sistema. Assim, o roteamento
bolsas da Malásia, Dubai e Co- gentes, “onde estão as oportu- pela BM&FBovespa. dos negócios com ações deve ser
reia. As bolsas latino-america- nidades mais atrativas de cres- O desenvolvimento do sis- realidade no último trimestre. ■
nas não deverão ser alvo de cimento e lucro”, destacou o tema, dito multimercado, vai
compra pela bolsa brasileira, presidente do grupo, Craig Do- custar à bolsa um investimento
segundo Pinto. nohue, em nota ao mercado. de US$ 175 milhões em dez
Apesar do apetite para con- anos. A transferência de tec- DESDOBRAMENTO
solidações, a prioridade da par- Aprovação nologia, segundo Vieira Neto,
ceria no momento é o desenvol- A parceria com o CME Group será “total”. Acordo anima fornecedores de tecnologia
vimento de uma base tecnológi- ainda precisará ser aprovada
ca de negociação, que abranja as pelos acionistas da BM&FBo- Partida A intenção de firmar acordos estabelecido com a CME em
operações de renda fixa, ações, vespa em assembleia a ser con- O ponto de partida do novo sis- com bolsas pelo mundo, embutida 2008. “Fizemos muitos trabalhos
commodities, câmbio e deriva- vocada. Uma está prevista até o tema é o Globex, a plataforma na parceria da BM&FBovepa com todas as maiores bolsas ao
tivos. A nova plataforma multi- fim de abril. usada atualmente pela CME. O com o CME Group, animou redor do mundo. Temos um bom
mercados também visa permitir Da parte do CME Group, o módulo de negociação de deri- fornecedores de tecnologia e permanente relacionamento
a redução do tempo de execução conselho autorizou um plano de vativos promete ficar pronto como a SunGard. É a empresa com elas”, afirmou ao BRASIL
das ordens de operações e am- recompra de até 2,32 milhões de até o fim deste ano, entrando que está desenvolvendo sistemas ECONÔMICO o presidente da
pliar o acesso de investidores de suas ações ordinárias classe A, em operação entre o fim de de conectividade para permitir unidade de corretagem
um mercado à bolsa do outro. negociadas na Nasdaq. O intuito 2010 e o início de 2011. Já o mó- a corretores estrangeiros acesso da SunGard, Gerry Murphy,
Para o CME Group, a parceria é de compensar a dispersão dulo de ações e renda fixa deve ao pregão a BM&FBovespa, destacando que a expansão
é uma forma de aumentar a sua causada pela emissão de novos ser finalizado até o fim do ano no âmbito do acordo para global da bolsa abre oportunidade
penetração em mercados emer- papéis para a BM&FBovespa. ■ que vem. Neste segmento, está o roteamento de ordens também para a sua empresa.
38 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
FINANÇAS
CONSOLIDAÇÃO FINANCEIRA
“
Maria Luíza Filgueiras
mfilgueiras@brasileconomico.com.br
Andre Dusek/AE
A Caixa Econômica Federal re- Carteira de crédito 8,8% do crédito ofertado pelo dito total. Nos empréstimos ■ RENTABILIDADE
gistrou no quatro trimestre um sistema financeiro. Em 2008, a para pessoas físicas, a expec- Retorno sobre
lucro líquido de R$ 972 milhões,
cresceu 55%, participação havia sido de tativa é de um crescimento de o patrimônio líquido foi de
valor que representa alta de para R$ 124 bilhões. 6,5%. O índice de Basileia che- 32,2% e para empresas, de ou-
57,4% em relação ao mesmo
período de 2008. No acumulado
do ano, o lucro chegou a R$ 3
bilhões, uma queda de 22% na
O banco foi
responsável por
8,8% dos recursos
gou ao final de dezembro em
17,5%, acima dos 11% exigidos
pelo Banco Central.
Segundo o vice-presidente
tros 29,3%.
Baixa renda
A estratégia de crescimento, se-
22,8%
comparação com o ano anterior. ofertados pelo de Controle e Risco da institui- gundo a presidente do banco
O resultado da Caixa fez com
sistema financeiro ção, Marcos Vasconcelos, a Cai- Maria Fernanda Ramos Coelho, ■ SOLIDEZ
que ela alcançasse no ano um xa espera um crescimento do será baseada na baixa renda e Ativos totais da instituição
retorno sobre patrimônio líqui- crédito de 28,2% para 2010. A por essa razão a instituição não somaram
do de 22,8%, o que representa instituição prevê ainda ultra- pode perseguir o “lucro máxi-
uma queda em relação aos
30,7% do ano anterior. A Caixa
explicou que, apesar da queda
na rentabilidade, esse indicador
ficou sete pontos porcentuais
passar os 9% de participação no
mercado. Em 2009, a participa-
ção de mercado da Caixa foi de
8,8%. “A economia vai crescer
forte em 2010, mas sabemos
mo”, como em outras institui-
ções financeiras. “Nosso mer-
cado não permite isso. Traba-
lhamos mais com crédito dire-
cionado, que possui taxas de ju-
R$ 341 mi
acima da projeção do orçamento que teremos uma concorrência ros regulamentadas”, disse. ■ PROJEÇÃO
do banco do ano passado. maior este ano”, disse. A Caixa estima que o crédito Crescimento esperado
Os ativos totais da instituição No entanto, a projeção de- total deve crescer 28,2% em da oferta de crédito é de
financeira chegaram a R$ 341,8 verá ser revista para cima, em 2010, mas o número deverá ser
bilhões, com expansão de
15,5% e a carteira de crédito to-
talizava em dezembro R$ 124,4
bilhões, o que representa cres-
cimento de 55,3% sobre o esto-
função do bom desempenho da
área habitacional no início do
ano. A expectativa é que a mo-
dalidade cresça 26,3%, mas o
comportamento em 2010 até
revisto devido ao desempenho
do setor habitacional no início
do ano. A projeção média do
mercado para todo o sistema fi-
nanceiro está em torno de 20%.
28,2%
que de dezembro de 2008. Isso agora indica que a expansão Para atender a esse crescimento,
fez com que a Caixa fosse res- será maior, o que exigirá uma a instituição planeja abrir 200
ponsável no ano passado por revisão na projeção para o cré- novas agências no ano. ■ A.E.
40 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
INVESTIMENTOS
Aline Lima
alima@brasileconomico.com.br
BOLSA JUROS
Giro financeiro Mercado futuro
R$ 7 bilhões
foi o volume negociado no segmento Bovespa da bolsa durante
10,24%
foi a taxa de fechamento do contrato futuro de DI com vencimento
o pregão de ontem, em um total de 432,5 mil transações. O em janeiro de 2011, o mais negociado da BM&FBovespa. Foram
Ibovespa caiu 0,41%, encerrando o dia cotado aos 65.854 pontos. transacionados 248,7 mil contratos, com volume de R$ 22,8 bilhões.
Máxima 66.133,39
64.625 20.400 1.137,5 900
Mínima 65.122,58
Fechamento 65.854,97
64.000 20.200 1.130,0 890
11h 12h 13h 14h 15h 16h 17h 18h 11h 18h 11h 18h 11h 18h
Fonte: BM&FBovespa
42 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
A SEMANA NO BRASIL
R$ 11 bilhões
■ MONTADORAS
R$
milhões
400 Projeto que cria novo Código de Processo Civil, elaborado por 12 juristas, poderá ser votado no Congresso até o fim deste semestre
R$
bilhões
10 junto com a decisão do governo
americano de tornar obrigatório
o uso de biocombustíveis nos
veículos criará uma grande
demanda para o etanol
ser garantidos, em parte,
pela entrada de grandes grupos
multinacionais. É o caso
da anglo-holandesa Shell, da
americana Bunge e do francês
brasileiro. A previsão é de que, Louis Dreyfus, que efetuaram
somente o mercado interno fusões e aquisições de usinas
exigirá 50 bilhões de litros de etanol no país nos últimos
■ VAREJO em 2015, mais que o dobro seis meses. Grupos nacionais
do volume produzido em 2009 também se movimentam em
que, de acordo com dados direção a essa atividade,
200
unidades
da Agência Nacional de Petróleo,
Gás e Biocombustíveis,
se aproximou dos 23 bilhões
de litros. Essa demanda
exigirá investimentos da ordem
como a Odebrecht que ultima
os detalhes de uma união entre
a ETH Bioenergia, seu braço
na área energética, com a Brenco.
Petrolíferas como Petrobras e
de US$ 50 bilhões em usinas, British Petroleum (BP) também
é a meta das Lojas ampliação da área plantada planejam reforçar investimentos
Cem até 2011. Hoje, e pesquisas para melhorar a nessa área, que contariam
Pesquisa pode dobrar produção de etanol com o mesmo volume de cana
são 180. Este ano serão produtividade do biocombustível. com o amparo do BNDES.
abertas 10 unidades
5
durante a crise de 2009. o período mais agudo do ano infraestrutura, e também de
A ECONOMIA De lá para cá, ficou evidente passado — 41,4% da carteira fiscalizador. Nos últimos sete
R$ bilhões que a era do Estado mínimo, de crédito era deles, marca anos, entretanto, agências
aventado por nomes como superior à dos bancos reguladoras sofreram
é o investimento a ex-dama de ferro inglesa privados. Estatais são intervenções. Mas pesquisa
previsto até 2014 para Margareth Thatcher nos importantes também para do instituto Millenium
programas de expansão anos 80 e 90, chegou ao fim. os Estados. Estatais mostra que 58% dos
florestal no Brasil No século 21, o governo voltou estaduais, como a Cemig, brasileiros são contra
definitivamente à ativa. ampliam seus tentáculos. privatização de estatais.
Evandro Monteiro Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 43
Rodrigo Coca/AE
A SEMANA NO BRASIL
Tim Boyle/Bloomberg
AS FRASES Os desafios
Divulgação
da Microsoft
■ A Microsoft mantém a força
nos seus negócios tradicionais,
Jonathan ao mesmo tempo que enfrenta o
Fenby desafio de crescer em operações
Diretor
da Trusted como internet e software para
Sources aparelhos móveis. Enquanto as
unidades de internet e
“O Brasil está entretenimento tiveram queda
muito sortudo de receita, o desempenho do
porque tem Windows 7 garantiu bons
resultados no segundo trimestre
coisas que a China fiscal, encerrado em dezembro.
precisa. Primeiro Foram vendidos 60 milhões
é a soja, depois o de licenças no período.
O lucro líquido ficou em
aço e, em terceiro, US$ 6,7 bilhões, alta de 60%
os alimentos” em comparação com o mesmo
sobre a posição atual do intervalo do ano anterior.
Brasil no comércio mundial
O risco é de o grande filão da
O recall da Toyota, que incluirá o híbrido Prius, vai custar à maior montadora do mundo cerca de US$ 1,5 bilhão
Bloomberg
companhia de Bill Gates, as
licenças, perderem espaço
com o crescimento da chamada Aumento desenfreado na produção pode gerar recalls?
computação em nuvem, na qual
toda infraestrutura é alugada ■ Com o anúncio do recall da Volkswagen Automotivos, Francisco Satkunas, afirmou ainda
Timoty pelas empresas. Além disso, do Brasil na quarta-feira, veio à tona a discussão que a alta na escala de produção e a variação
Geithner Apple e Google avançam na sobre o aumento do número de convocações da cadência também pode explicar o aumento
Secretário
do Tesouro
internet. A expectativa da para reparos de veículos pelas montadoras. de problemas nos automóveis fabricados.
dos EUA Microsoft, que tem o conjunto de Para analistas consultados pela reportagem “A variação da produção pode sim comprometer
patentes mais valioso dos últimos a desverticalização da produção de a qualidade em alguns modelos”, disse Satkunas.
“Isso nunca cinco anos, é que os lançamentos automóveis pode ser uma das causas para No Brasil, de janeiro a novembro do ano
acontecerá deste ano garantam o o grande número de recalls no mundo. passado, ocorreram 41 recalls, sendo cerca
com este país” crescimento em novos mercados. O conselheiro da Sociedade de Engenheiros de 700 mil clientes convocados.
sobre a rejeição dos bônus do
Tesouro dos EUA por investidores
Henrique Manreza
John Kolesidis/Reuters
Revoltados com as
medidas de austeridade
impostas pelo governo, os
funcionários públicos da
Grécia e outras categorias
profissionais realizaram
uma greve geral de
24 horas na quinta-feira,
enquanto as autoridades
europeias se mobilizavam
da defesa do euro.
“Não podemos pagar
pela crise”, dizia uma
das faixas levadas pelos
manifestantes.
No dia seguinte, líderes
dos 27 países da União
Europeia reuniram-se
em Bruxelas e definiram
um programa de ajuda
para os gregos, que ficaria
sob a tutela da UE, do FMI
e do BCE. Mas os termos
do apoio não foram
revelados e os mercados
queixaram-se da
incerteza que isso trazia.
Ben Bernanke prepara aumento do juro de curto prazo Jason Reed / Reuters
■ O presidente do Federal nas taxas de juros básicos no
Reserve (Fed) deu, na tarde de país. Isso aconteceria através
quarta-feira, pistas sobre sobre do aumento dessa taxa. Dessa
qual será o caminho de retirada forma, a autoridade monetária
dos estímulos injetados pelo americana espera encorajar os
governo no sistema financeiro bancos a alocarem recursos ao
ao longo da crise. Em discurso banco. E, assim, se enxugaria
preparado para o Comitê parte da liquidez existente no
de Serviços Financeiros do mercado. “Embora a economia
Senado, o executivo afirmou dos Estados Unidos continue
que, em um primeiro precisando de apoio de uma
momento, poderá utilizar política monetária relaxada,
a taxa depositada pelos bancos com juros básicos reduzidos,
Angelina Jolie em visita ao Haiti: a causa é nobre, mas pode atrapalhar ao Fed como importante em algum momento, o Federal
o trabalho humanitário feito por profissionais
instrumento de política Reserve precisará apertar as
Bernanke: novo ciclo de aperto
monetária em vez de mexer condições financeiras”, disse.
Angelina entre os escombros
■ Primeiro foi Sean Penn, que esteve por lá em 18 de janeiro, ainda
antes de a poeira do terremoto assentar. Uma semana depois, John Jason Reed / Reuters
FIM DE SEMANA
Este artigo deve ser lido por brasileiros estranhos como eu, que detestam a festa
“
Se tudo está mais caro e você Vinte e tantos anos depois trabalho. Ave, Maria. E quem não apareceria, a mulher do cartão
olha para conferir se tem Pepsa- E aí você tem de beber para supor- você nunca viu quer te abraçar de crédito não ligaria.
mar no bolso é porque já está tar a coisa. Ressacas a administrar com suores preguentos. Você não
curtindo o Carnaval. Cristo, por com o boldo escondido. E você está no menor clima, e a diferen- No Jogging
que eu odeio tanto o Carnaval? E lá estão as tem que participar dos eventos ça de temperatura fica evidente. E não faça caminhadas, nem dê
Este artigo deve ser lido por arquibancadas porque é casado, é filho, é amigo e Nem pense em demonstrar corridinhas. De manhã, jamais
brasileiros estranhos como eu. onde nunca me vai continuar bebendo. Se você cansaço. “Que é isso, cara?! apareça comendo melancia. Você
Na infância, eu era arrastado a tenta ficar sozinho para cometer o Come mais feijão!” E você tem de tem de estar bonito, mas não
bailinhos. As matinês me davam encaixarei porque absurdo de descansar, todos te estar em dia com seu humor, seu saudável. Carnaval é a festa da
medo e eu ficava entrelaçado às não suporto considerarão “o do contra”, “o senso de tolerância e sua alegria desmedida! Você tem de aparecer
pernas do meu pai. Eu não conse- sanduíches de chato”, “o que quer aparecer”, “o esfuziante. Só que eles sistemati- tomando cerveja às oito e meia,
guia usar as fantasias. Já me con- que gosta de ser diferente”. E o ca- camente teimam em sumir du- em copo americano. Dica: um
siderava mutante o suficiente. isopor. E lá vão lor. E os comentários da Leci rante todo o Carnaval. Pessoas espumante desce melhor para
Na adolescência, eu não via os camarotes que Brandão. E aquela profusão de como nós não merecem compai- quem não consegue deixar de
inocência nas marchinhas. Mi- cantam a diferença beldades que você não aguenta xão: “Você não é brasileiro!”. Je- emanar classe mesmo quando o
nha geração foi estragada pelos mais porque vê mais das mesmas sus, misericórdia... Dedinhos estômago está para ser furado
videocassetes libidinosos que entre você e curvas todos os dias na academia. para cima, havaianas coloridas, pela cabecinha do Alien.
não deixaram espaço para a a Adriane Galisteu E lá estão as arquibancadas purpurina por um mês inteiro. E se você aparecer com um li-
“loirinha de olhos claros de com aquela onde nunca me encaixarei por- E se eu quisesse ficar em casa vro num desses ambientes onde
cristal”. O desejo me fazia insis- que não suporto sanduíches de para fazer coisas bizarras, como ti- se respira molejo? Aí estará pe-
tir nos bailes. Quando tocavam magreza de plástico. isopor. E lá vão os camarotes que rar cochilos? E se eu quisesse ver os dindo para ser isolado numa câ-
“Bandeira branca, Amor”, eu E os dois milhões na cantam a diferença entre você e dois ou três filmes que ainda não vi mara bacteriológica. Resumin-
me lembrava do Charlie Brown. Praça Castro Alves? a Adriane Galisteu com aquela na TV paga? Claro que eu não que- do: sou obrigado a não ser eu du-
Depois veio a lambada, com magreza de plástico. E os dois ro ficar com Polly. Eu brincaria ex- rante quatro dias. Isso é muito
Beto Barbosa rebolando, e o axé, Nem Dodó. milhões na Praça Castro Alves? perimentos culinários, caçaria re- difícil para quem levou décadas
o assassino do Carnaval român- Nem Osmar Nem Dodô. Nem Osmar. ceitas, faria o bolo de chuchu da construindo um plano de saúde.
tico. E aquele samba reggae com Não se dorme bem. A Ivete e a minha mãe, com queijo canastra e No decorrer de toda essa
os sopros de trompete sempre Cláudia, a discípula de nariz feio, tudo. Mesmo que eu não fizesse agonia, há a possibilidade de eu
iguais em toda a praia. E o Carli- vão gritar a noite toda na festa em nada disso, que é o que geralmente me irmanar: todos comem pizza
nhos Brown. E num domingo que minha esposa gosta de ir para acontece com quem tem a oportu- quando a coisa aperta. Temos de
fui ouvir o Ocean Rain, do Echo pular em cima de uma cadeira, de nidade de fazer o que quiser, se- repor os carboidratos porque
& The Bunnymen. onde ela poderá cair para me dar riam dias em que o cara da dengue não é mole não, meu irmão. ■
Sábado, 13 de fevereiro, 2010 Brasil Econômico 47
LUÍS COLOMBINI
A afetação da juventude
“
Porque jovens vens que precisamos, com perfil de diversos colegas, todos direto- empresa, há cerca de 2.000 em
aberto. Em menor escala, uma
de trainee, é uma grana que não res de recursos humanos de gran-
profissionais vale o esforço. des empresas, expôs as tintas ne- das maiores construtoras na-
gras do quadro que enxerga: cionais passa por situação se-
chegam ao Emprego qualificado Sim, por mais que as coisas Há empresas que melhante. Numa petroquími-
mercado de Nesse momento, o diretor con- estejam melhorando, o Brasil optam contratar pelo ca, idem com batatas.
seguiu ganhar toda minha aten- ainda está longe do ideal. Há CEP - quanto mais
trabalho exigindo ção. Faz anos que existe essa bolsões de miséria, problemas
distante dos bairros Mimados e apressados
conversa de que depois dos 40 sociais, essa coisa toda. Mas Por que isso acontece? São três
altos salários, anos fica difícil encontrar bons também está sobrando empre- abastados estiver as principais razões:
promoções rápidas empregos. Mas essa história de a go qualificado. Para consolidar o candidato, melhor. * A nova geração é muito di-
juventude não querer ganhar um projeto de expansão, uma ferente das anteriores, sobretu-
Por mais que os
e cargos de chefia quase R$ 10.000 de saída é no-
vidade para mim.
grande consultoria levou dois
anos para preencher 1.100 va- caras do Morumbi
do no que diz respeito aos filhos
das classes média e alta. Muitos
- Peraí. Do que nós estamos gas. Ainda hoje, na mesma tenham boa dos novos trainees são meio ar-
falando? Desde quando essa rogantes, meio petulantes,
“Faz oito meses que tento con- grana não vale o esforço? Que
formação, os de meio despreocupados demais.
tratar um gerente para uma uni- jovens desprezam uma bolada bairros afastados “A maioria dos pais bem-suce-
dade em São Paulo e não consi- dessas? Quando eu me for- têm mais garra. didos não educa os filhos para o
go”, reclamou o diretor de re- mei, ganhava o equivalente valor da conquista”, resume o
cursos humanos de uma rede a uns R$ 600, e achava que
Ouvi de um diretor. “Como resultado, mui-
internacional de hotéis. “Não era uma grana preta, nun- consultor a seguinte tos jovens negam um alto salá-
encontro a pessoa certa. E, ca tinha visto tanto di- frase: Inglês e gestão rio inicial simplesmente porque
quando parece que achei, em nheiro de uma vez. não querem trabalhar no fim de
um mês ela vai embora”. Foi aí que o diretor, falan-
dá para ensinar. semana, ou não lhes agrada a
Nos últimos anos, muitos do por si e também em nome Fibra moral, não ideia de à disposição da empre-
bons hotéis e flats foram cons- sa, de ralar 10 horas por dia”.
truídos na capital paulista, um Simplificando, na opinião do
recorde. Até 2014, ano de Copa diretor: “Não querem deixar de
do Mundo no Brasil, outros se- ir para a balada ou viajar para a
rão erguidos, reformados e revi- praia quando quiserem”.
talizados. Toda a cadeia está *Quando aceitam o empre-
precisando de gente boa. A con- go, têm comportamentos e ati-
corrência é assim, um tira do tudes impensáveis no passado.
outro, fica mesmo difícil con- Negam-se, por exemplo, a fa-
tratar as melhores cabeças. zer tarefas que consideram
Bem, pelo menos isso é o que menores. Revisar projetos nem
eu achava. Mas o diretor nem pensar. Eles querem criá-los,
me deixou terminar o raciocí- de preferência monumentais,
nio. Quando eu estava pronun- quase sempre reinventando a
ciando a frase “a concorrência é roda, não raro considerando
assim”, ele me cortou: que tudo o que existiu antes
- Não tem nada a ver com deles não presta.
concorrentes oferecendo mais * Mimados, também fazem
ou menos. O problema está nas questão de reconhecimento,
pessoas. Os mais experientes de elogios e aplausos. Se dis-
têm dificuldade com tecnologia, cordam de algo, falam na hora.
com 150 e-mails por dia despe- Se são contrariados, pedem
jados no celular, com demandas demissão. “Eles sabem que vão
inimagináveis há dez anos. E os conseguir outro emprego em
mais jovens não querem nada pouco tempo, seja porque o pai
com nada – afirmou o diretor, é bem relacionado, seja porque
com a segurança dos justos. têm certeza de que, rapida-
mente, outra empresa vai fazer
Grana alta alguma proposta”.
Começo a achar que estou dian- Para driblar essa “afetação da
te de uma espécie de sectário juventude”, muitas empresas
corporativo, do qual pretendo têm “adotado” estudantes –
me livrar nos próximos 40 se- contratam-nos, no primeiro ou
gundos. Generalizações são segundo ano de faculdade,
sempre perigosas. Parece muito como estagiários e passam a
improvável não existir alguém consertar suas lacunas de for-
com 55 anos que maneje mação e informação (isso é bom
Blackberry ou não supra as ne- também porque já vão absor-
cessidades dos novos tempos. vendo a cultura da empresa).
Também não é por que o diretor Há empresas, pequenas, mé-
entrevistou as pessoas erradas dias e grandes, que optam por
durante oito meses que a juven- contratar pelo CEP – quanto
tude inteira precisa ser conde- mais longe dos bairros mais
nada. O problema parece estar abastados, melhor. “Mesmo
mais nele do que nos candida- que os caras do Morumbi e do
tos. Enquanto estou naquela de Jardim Paulistano tenham uma
digo-ou-não-digo-o-que-eu- formação melhor, os de bairros
acho, o diretor continuou: mais afastados têm mais garra,
- O salário inicial era de dedicação e determinação”, diz
R$ 5.800. Hoje oferecemos um executivo de uma grande
R$ 9.700 e talvez tenhamos de consultoria. E arremata com
subir isso. Para os desemprega- uma frase de efeito que vai ao
dos com maior senioridade, se- núcleo da questão: “Inglês e ge-
ria uma dádiva, pena que eles renciamento dá para ensinar,
não correspondam. Para os jo- Mariia Sniegirova/Dreamstime
fibra moral não”. ■
48 Brasil Econômico Sábado, 13 de fevereiro, 2010
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19
“A vida íntima
dos outros é íntima
e é dos outros.
O papel do observador
é patético”
Marina Colasanti, escritora
FOTO PATRICIA SANTOS
2 | Outlook | Sábado, 13.2.2010
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Cardápio
13.2.10
IDEIAS FORTES
de vida...
Há tempos o melancólico refrão da música de Tom Jobim não nos Seguindo seu manual
emociona mais. Hoje não são apenas as águas de março fechando o ve- de naturalista,
rão, o aguaceiro cai desde dezembro, sem dó nem piedade, e não deixa conde De Buffon
qualquer vestígio de saudades.
Também parece que perdemos a vontade de cantar “E, São Paulo,
previa que
São Paulo da garoa, São Paulo é terra boa”. Garoa é agora sinônimo de a minhoca de hoje
trovoada, tempestade, inundação, tempo abafado, condições que em seria o jacaré
nada lembram a romântica capital dos paulistas, antes definida por de amanhã;
sua chuva fina, fria e delicada. o mosquito,
O mesmo se pode dizer das marginais dos rios Tietê e Pinheiros; no uma águia no futuro;
passado locais bucólicos, cujas águas corriam livres e limpas. Por lá se e a formiga,
praticava canoagem, assim como se realizavam animados concursos
de natação. Já o espetáculo que presenciamos é bem diferente: as mar-
um hipopótamo.
ginais se converteram em cenário dileto para enchentes, viraram o Assim caminhava,
símbolo maior da poluição e da confusão que reina na cidade nestes senão a
meses, pretensamente calmos, das férias de verão. humanidade,
Mas, se tudo muda, o pior é que certos fenômenos permanecem; ou ao menos
melhor, insistem em se reapresentar. Nesses meses de temperatura a animalidade:
elevada, junto com o calor e as chuvas, chegam os famintos mosquitos evolutivamente.
e formigas. E não pense você, caro leitor, que esse é um castigo recen- E, enquanto
te. Ao contrário, desde que São Paulo é São Paulo — desde os tempos
em que não passava de um pequeno entroncamento para as tropas
não viravam
atravessarem —, nossa urbe já era descrita a partir de seus convidados o que ‘deveriam
inesperados: moscas, mosquitos e toda sorte de pequenos e incômo- ser’ — animais
dos seres voadores ou rastejantes. de grande porte —,
Gandavo, um mal-humorado viajante seiscentista português, além de esses minúsculos
demonizar o Brasil, dizendo que essa era uma terra sem F, L e R — fé, lei, habitantes
rei —, completava o quadro descrevendo uma verdadeira procissão de continuavam
insetos: “Essa terra está coberta de formigas, pequenas e grandes, e uma ‘afligindo fiéis
infinidade de mosquitos que perseguem toda gente e a todo o tempo”.
O conde De Buffon, conhecido naturalista que nos idos do século 18 e hereges’
nos definiu como um “povo infantil” — já que os indígenas não tinham
pelos e, segundo ele, mal balbuciavam —, sugeriu que a imaturidade do
continente americano era proporcional à prole de diminutos animais
que por aqui grassava, “dentre mosquitos, formigas e toda sorte de ma-
lefícios da terra”. Seguindo seu manual de naturalista, o conde previa
que a minhoca de hoje seria o jacaré de amanhã; o mosquito, uma águia
no futuro; e a formiga, quem sabe, um hipopótamo. E assim caminhava,
senão a humanidade, ao menos a animalidade: evolutivamente. E, en-
quanto não viravam o que “deveriam ser” — animais de grande porte —,
esses minúsculos habitantes continuavam “afligindo fiéis e hereges”.
Um oficial prussiano de passagem no país relatou seus tormentos du-
rante um baile realizado na fazenda paulistana da Mandioca, nos idos de
1819: “Às 8 horas, os braços, ombros e costas das damas, que trajavam
vestidos decotados da moda, já tinham sido tão picados por mosquitos
que, de tão vermelhos, assemelhavam-se a soldados após apanharem
de chicote. Até mesmo eu, que não dancei, mantive-me em constante
movimento, saltando como um gafanhoto, a fim de afastar os mosquitos
das minhas meias de seda. Não é para menos que os bailes aqui tenham
um raro valor. Primeiramente os mosquitos; segundo, o incrível calor
do qual tantas pessoas sofreram em um espaço limitado”.
Como se vê, o mundo tropical sempre cobrou caros pedágios dos
viajantes, e mesmo dos pobres patrícios. O fato é que nesse tipo de re-
lato as chuvaradas, os bichos de pé, as formigas e os mosquitos vira-
vam com frequência personagens principais, assim como definiam o
futuro (ou a falta de futuro) do país.
Não por acaso, Macunaíma teria afirmado que “muita saúva e pou-
ca saúde os males do Brasil são”. Nosso herói “sem nenhum caráter”,
conforme definição do próprio Mário de Andrade, de alguma maneira
vocalizava a máxima do cientista Saint-Hilaire, que esteve no Brasil
apenas de 1816 a 1822, mas logo pegou o espírito da coisa: “Ou o Brasil
mata as saúvas ou elas é que matam o Brasil”.
Enfim, assim estamos. Em pleno fevereiro, a aguaceira continua
castigando, sem sinal de trégua; comandos armados de formigas as-
saltando tudo que é doce; e os mosquitos tornando as nossas noites in-
sones. Se Deus fosse mesmo brasileiro, daria um jeito nessa história,
pois em São Paulo já ultrapassamos os quarenta dias de chuva de Noé.
Já Moisés, caso nascesse por aqui, faria bom usa das pragas tipicamen-
te nacionais: insetos subversivos e dilúvios tropicais. Pobres egípcios!
CRÔNICA
Humberto Werneck
ARQUIVO PESSOAL
Em busca da
empada perdida
Estavam os dois num pub em Londres, e lá pelas tantas Fernando Sa- Na caça ao tesouro,
bino perguntou a Michael Ould, cidadão britânico, se ele sentia sauda- contei o quanto
de de Belo Horizonte, onde vivera na década de 40. pude com o faro
Foi o que bastou para que o súdito de Sua Majestade se visse arrastado certeiro de minha
por uma onda de irresistível nostalgia. Mas nada de Pampulha, Serra do
Curral, Rua do Amendoim, essas belorizontices; a lembrança mais for- mãe. ‘Atualmente
te que Michael guardava da capital mineira era de uma empadinha. a melhor é a da Boca
Sim, uma empadinha. de Forno’, dizia ela.
Mas não qualquer uma, faça-me o favor: aquela de galinha (não se di- Na viagem seguinte:
zia “de frango”), ou de camarão, do Trianon, um bar que existiu na Rua ‘A da Tia Clara’.
da Bahia. Outro nativo talvez se ofendesse ao ver sua cidade resumida a Um dia me veio
um salgadinho na memória de um forasteiro. Mas não Sabino, que na ju- com esta: ‘Parece
ventude pudera regalar-se com as famosas empadinhas do Trianon.
Mais que famosas, mitológicas. E, como nenhuma outra, literárias.
mentira, mas agora
Duvida? Então leia o que diz Pedro Nava em Beira-mar, a respeito da- é a da cantina
quelas tentações douradas: “As maiores, as mais suntuosas empadi- do Hospital Mater
nhas que já comi no mundo. Eram pulverulentas apesar de gorduro- Dei’. Lá fui eu,
sas, tostadas na tampa, moles do seu recheio farto de galinha ou ca- sob um sol de verão,
marão. Desfaziam-se na boca. Difundiam-se no sangue”. Não espan- atrás da empada
ta que custassem 400 réis, um absurdo, no tempo em que, estudante hospitalar. Estacionei
de medicina, Nava se locupletava daquele bendito colesterol. em fila dupla, corri
Como as madeleines, capazes de desencadear em Marcel Proust as
mais sutis lembranças, as tais empadas belo-horizontinas transcende- à lanchonete e,
ram a condição de salgadinho, converteram-se em apetitosas musas. E na saída, tropecei
não inspiraram apenas Pedro Nava. As papilas lítero-gustativas de num primo,
Eduardo Frieiro e José Bento Teixeira de Salles, entre outros, também médico do hospital.
registraram as delícias do Trianon. Murilo Rubião não chegou a escre- ‘O que foi?’,
ver, mas se transfigurava ao falar delas — a tal ponto, conta Sabino, que perguntou, assustado.
o interlocutor ficava sem saber se o contista se referia às empadas ou, ‘Empadinha”,
para rimar, a namoradas que houvesse igualmente saboreado em sua
juventude, essas, imagina-se, menos gordurosas e nada pulverulentas.
berrei sem me deter.
Quanto a mim, não me canso de lamentar ter chegado com atraso a ‘Estragada?!’
um mundo em que as proustianas empadinhas do Trianon já se haviam
transformado em literatura. Retardatário, tive que me bastar com su-
cedâneos, alguns deles, é verdade, memoráveis. E vi a situação degrin-
golar quando troquei as Gerais pela Pauliceia. Sei que estou comprando
uma briga, mas vamos lá: a menos que você me prove o contrário, o que
eu adoraria, não há em São Paulo empadinha que se compare às de Belo
Horizonte — cujo grande problema, porém, e aqui vou comprar outra
briga, é uma desconcertante falta de regularidade. Há que garimpar.
Na busca ao tesouro, contei o quanto pude com o faro certeiro de
minha mãe. “Atualmente a melhor é a da Boca de Forno”, dizia ela. Na
viagem seguinte: “A da Tia Clara”. Um dia me veio com esta: “Parece
mentira, mas agora é a da cantina do Hospital Mater Dei”. Lá fui eu,
sob um sol de verão, atrás da empada hospitalar. Estacionei em fila
dupla, corri à lanchonete e, na saída, tropecei num primo, médico do
hospital. “O que foi?”, perguntou, assustado. “Empadinha”, berrei
sem me deter. “Estragada?!”, alarmou-se ele.
Para não falar nas recônditas maravilhas que não se compram no
comércio, pois em Minas subsiste a benfazeja instituição da “dona” —
tem sempre uma dona Fulana a quem se encomendam doces e salga-
dos. De uma delas não guardei o nome, mas deveria, pois eram ines-
quecíveis as suas empadas, miúdas, de massa fina e maleável, quase
ILUSTRAÇÃO GONÇALO VIANA resistente à mordida, dessas que dispensam volta ao forno — você
apanha direto na geladeira, de madrugada, e os dois se derretem.
Quis, claro, trazer uma provisão para São Paulo. Problema: a
“dona” acabara de sofrer um AVC. Com mal-contido espírito interes-
seiro, acompanhei a evolução do estado de saúde da empadeira, que
nunca vi mais gorda nem magra. De volta a São Paulo, o golpe: empa-
da como aquela, nunca mais.
Você pode achar que estou exagerando, mas senti, e sinto ainda,
uma pungente orfandade gastronômica.
BASTIDORES
O que só um
‘robertólogo’
poderia ver no
navio do Rei
Embora tenha passado anos sob
a couraça de crítico musical,
o jornalista Pedro Alexandre Sanches
é tão fã de Roberto Carlos quanto
qualquer outro no cruzeiro que
zarpou levando sua Realeza. Sobre
as águas do Atlântico, mergulhou
no cenário ‘mais surreal, feérico
e rodriguiano’ que jamais conheceu
H
faz shows em estádio, giná-
sio ou na tela da TV Globo.
Mas esta noite ele está diante
de uma plateia de “apenas”
mil pessoas. A orquestra não
se faz presente. O público não está à beira de
um ataque de nervos. É uma experiência
intimista como nunca dantes na história
deste “rei” da popularidade brasileira. Mas,
espere um pouco. Alguém pode me belis-
car? É possível que eu esteja mesmo em um
show (mais ou menos) íntimo de RC, no
alto de suas cinco grandiloquentes décadas
de música pop e de idolatria romântica?
Não, não estou sonhando. Estou embarca-
MARCOS DE PAULA/AE
Acima, o clássico brinde com o público durante a música Champagne, de Pepino di Capri,
inserida no show especialmente para o navio. Abaixo, dois integrantes da ‘espetacular’
multidão exibem as rosas que ganharam, desta vez distribuídas durante Comandante
do Seu Coração (imagem no canto da página) em vez de em Jesus Cristo. À esq.,
a chegada retumbante do ídolo, sobre um moderno triciclo onde se lê as iniciais RC
Carlos (& Erasmo & Wanderléa) (Boitem- Canções do dito cujo beliscar outra vez, se já não tivesse pedido. RC sem parar, se divertem a valer, bebem,
po). O outro livro, Roberto Carlos em De- tocam sem parar, Pois fui. E mergulhei dentro do cenário comem, dançam ao som ao vivo (e esco-
talhes (Planeta), de Paulo Cesar de Araújo, 24 horas por dia, mais surreal, feérico e rodriguiano que ja- lhido diretamente pelo dono da cabeça)
foi proibido. E o meu passou em brancas em todos os mais conheci. Não sei se em algum momen- dos grupos Exaltasamba e Calcinha Preta.
nuvens, o que de certo modo talvez tenha to me imaginei dentro do cérebro de Rober- Diante dos animadores de navio vestidos
sido bom — não fiz “sucesso”, mas tam- alto-falantes to Carlos, mas era como se isso estivesse de cangaceiros no show do Calcinha, me
bém não fui proibido. Somadas todas essas dos 14 andares acontecendo. Canções do dito cujo tocam pergunto se não estou no navio de outro
circunstâncias, nunca me imaginei en- do navio-edifício. sem parar, 24 horas por dia, em todos os rei, o do baião, Luiz Gonzaga. Mas como
trando no navio do Lobo Mau mais bonzi- É um cenário alto-falantes dos 14 andares daquele navio- anda brasileiríssima a mente desse Rober-
nho do pedaço (ou vice-versa?). coloridíssimo -edifício-crânio. Se vale a analogia, diria to Carlos (e que bom que defendi em meu
Não tenho a menor dúvida de que per- habitado por que a mente de RC é um cenário coloridíssi- livro a tese de que RC é o que é porque é o
tenço à imensa legião de fãs dele, embora uma multidão mo habitado por uma multidão desconcer- mais brasileiro de todos os brasileiros)!
tenha passado anos camuflado no couro tante, por um milhão de amigos (ou melhor, Léa conta que o “rei” traz a bordo uma
duro de crítico musical “malvado”. Mas
desconcertante, bem mais amigas que amigos) a persegui-lo comitiva de 150 pessoas, na qual inclui seu
nem por isso foi menor o susto de receber o por um milhão sem trégua, em ritmo de aventura. corpo de funcionários, de motoristas a se-
convite direto da doce jornalista Léa Pen- de amigos A multidão, no Emoções em Alto Mar, é guranças, todos em férias e acompanha-
teado, diretora de comunicação da em- (ou melhor, bem mais espetacular que o anfitrião. São mi- dos pelas respectivas famílias. Se esses
presa que cuida dos interesses profissio- mais amigas que lhares de mulheres (e alguns homens), a circulam incógnitos em meio à massa hu-
nais de RC (e assessora, por muitos anos, amigos) maioria de idade mais ou menos regulada mana, Roberto, ele mesmo, faz aparições
do “malvadíssimo” apresentador de TV com a do ídolo, a desfilar numa montanha esporádicas em sua própria cabeça. Dizem
Flávio Cavalcanti). Mais ainda: Léa me humana, ora em biquínis e maiôs, ora em que tem um andar inteiro reservado para
convidou, segundo suas palavras, como magníficos trajes de gala, oito e oitenta. ele (ninguém sabe qual é, e abundam fan-
“robertólogo”! Eu pediria para você me Curtem a vida adoidada(o)s, falam sobre tasias sobre passagens secretas e fundos
8 | Outlook | Sábado, 13.2.2010
BASTIDORES
Dizem que há
um andar inteiro
do navio reservado
para Ele. Mas
ninguém sabe
qual é e abundam
fantasias sobre
passagens secretas
e fundos falsos
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 9
Acima, o vencedor do karaokê, só com músicas adivinha de quem, tem a honra de receber
a medalha do próprio. Mais acima, às três da manhã, uma improvável aparição alvoroça
o cassino do navio: sereno, satisfeito e bonachão, RC aposta a própria sorte em fichas azuis.
À esq., o restaurante Roma devidamente ornamentado para o ‘Jantar de Gala’. Na pág.
oposta, acima, o comandante Michele di Gregorio posa com o Rei enquanto uma multidão,
já embarcada, se esgoela por Ele. Ainda na pág. oposta, abaixo, o calhambeque de Roberto
(que viajaria na popa), exposto no Porto de Santos antes de zarpar
10 | Outlook | Sábado, 13.2.2010
PROVOCAÇÃO
TEXTO CH I CO M A T T OS O
maginemos um rapaz. O Ayrton. Re- para os familiares, os amigos, a vizinhança, deirão de convicção. Vivemos tempos in-
I
Quando se viu,
cém-admitido em uma empresa de numa trajetória tão arrebatadora que não certos, mas nas ruas o que se vê é um fre-
contabilidade, ele vive a insegurança
um país inteiro tinha demora a virar canto de torcida, grito de nesi categórico. O que aconteceu com
donovato.Aquelenervosismo.Aque- aprendido a repetir, feirante, quem sabe até bordão de novela. O nossa hesitação? Onde foi parar a tibieza
la vontade de fazer parte das rodi- diante da mais Ayrton jamais saberá que foi o responsável que nos define? Será o “com certeza” um
nhas. Chega sexta-feira, e eis que o singela indagação, pela criação de uma expressão tão popular sinal de que o Brasil finalmente superou
Carlão do financeiro resolve convidar os co- o mesmo mantra — deve pensar que apenas repetiu algo que seu complexo de vira-latas? Ou, ao con-
legas para um churrasco. O Ayrton vai. Está incontornável. tinha ouvido na rua. O fato é que agora está trário, é sinônimo de uma histeria oca, tí-
intimidado, mas aos poucos começa a se sol- Vai passar feito, que o inconsciente nacional foi defi- pica de quem não tem a menor idéia de
tar. Conta um caso envolvendo seu tio-avô. o Carnaval na praia? nitivamente contaminado e não há o que porcaria nenhuma?
Não demora e está emplacando piadas, fa- impeça a frase de seguir ecoando, límpida e Eu não saberia dizer. Sei apenas que,
zendo aquela imitação do Pelé que todo
Com certeza! Gosta insuportável, até o fim dos tempos. cada vez que uma dessas expressões faz
mundo acha engraçada. Eufórico, Ayrton de jabuticaba? Histórias como essa devem ter marcado doer o meu ouvido, penso que o problema
sente que está integrado, que foi aceito pelo Com certeza! a gênese de outras expressões, como “fala talvez não seja dos outros, mas meu, de
grupo, que agora só falta descobrir o nome Torce pro sério”, “demorou” ou “com certeza”. Em minha atávica incapacidade de conectar-
da loirinha do RH que lhe sorriu outro dia no Corinthians? algum momento da última década, al- -me ao espírito do tempo, percebendo a
elevador. Nesse momento o Carlão lhe dá um Com certeza! guém decidiu que o “sim” tinha ficado dé- beleza existente na replicação de um fe-
tapa nas costas e pede que ajude a buscar Com certeza! modé — e, quando se viu, um país inteiro nômeno puramente verbal, como uma
umas cervejas no freezer da cozinha. É tinha aprendido a repetir, diante da mais grande corrente capaz de afirmar, de ma-
quando, dos subterrâneos verbais de seu in- singela indagação, o mesmo mantra in- neira definitiva, nossa indivisível huma-
consciente, o Ayrton resume seu contenta- contornável. Vai passar o carnaval na nidade. Mas cá entre nós: custava o Carlão
mento em uma expressão: praia? Com certeza! Gosta de jabuticaba? ir buscar a cerveja sozinho?
— Só se for agora! Com certeza! Torce pro Corinthians? Com
O pessoal ri. A frase pega, se espalha, ul- certeza! Com certeza! Com certeza! O escritor Chico Mattoso é autor de
trapassa os corredores da firma, se estende É como se o país tivesse caído num cal- Longe de Ramiro (Editora 34).
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 11
OS TIRAS
André Dahmer
12 | Outlook | Sábado, 13.2.2010
ZOOM
J.R.Duran
As vantagens
do jet lag
Se por um lado viajar sozinho implica momentos de solidão, carregados de uma melancolia juvenil, existe o contraponto
que possibilita tomar decisões banais sem estar atrelado ao fluxo que pontua a rotina do viageiro em seu lugar de origem
Eleitos
ELEITOS
FOTO DIVULGAÇÃO
É devagar, devagarinho
No saboroso Samba de Enredo — História e Arte, Alberto Mussa e Luiz Antonio Simas
criticam a desembestada correria dos desfiles contemporâneos
e demonstram erudição ao tratar do ‘mais brasileiro dos gêneros épicos’
TEXTO RON ALD O BRE SSAN E
ó faltou um CD para acom- Denunciam de as escolas se dissociarem do estereóti- Didi e outros compositores como dona
S
panhar a edição. Aí sim fica- o absurdo ‘desvario po da falta de cultura do morro, por outro Ivone Lara, Beto Sem Braço e Silas de Oli-
ria perfeito este Samba de rítmico’ que faz é um gesto de boa vontade para com o na- veira ganham deliciosas mini-biografias,
enredo — História e Arte (Ci- cionalista Estado Novo de Getúlio Vargas. além das próprias escolas de samba.
vilização Brasileira). Afinal,
com que os ritmistas Claro que as “apoteoses de fascinação” No capítulo “Encruzilhada” (1990-
ninguém tem a memória hoje teleco-tequem das patriotadas da época se refletem na -2009), a dupla instaura bem fundamen-
quilométrica do escritor Alberto Mussa e a mais de 150 batidas ruindade de muito samba de hoje. Mas a tada polêmica ao criticar a pasteurização
do historiador Luiz Antonio Simas para por minuto — dupla lembra que sambas críticos, como dos sambas de enredo, incentivada pelo
sambas de enredo — a grafia correta para praticamente uma Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fanta- engessamento comercial e televisivo dos
o “único gênero épico genuinamente bra- rave: ‘Não há sia , da Beija-Flor de 1989, beberam em desfiles. “A aceleração progressiva do
sileiro”. E embora muitos sambas cario- melodia cadenciada temas pouco conhecidos, como Seca do andamento descaracteriza o gênero”,
cas tenham letras imortais, quase sempre que se encaixe nesse Nordeste, da Tupi de Brás do Pina para o afirmam os autores, denunciando o ab-
são poesia indissociável da melodia e do carnaval de 1961, que desviava totalmen- surdo “desvario rítmico” que faz com
ritmo. À parte este reparo, é um livro glo- padrão. Não dá para te da tendência ufanista dominante. que os ritmistas teleco-tequem a mais de
rioso para entender melhor como inven- cantar mais de oito A virada dos 50 para os 60 trouxe os 150 batidas por minuto — praticamente
tamos um gênero que ornou gargantas fe- sílabas em quatro primeiros sambas que exploravam a ne- uma rave: “Não há melodia cadenciada
minis e varonis no maior espetáculo da compassos. gritude — cuja origem seria Machado de que se encaixe nesse padrão. Não dá para
Terra e que hoje vem perdendo criativi- Um desastre’ Assis, de Martinho da Vila, lá nos idos de cantar, bem audíveis e bem pronuncia-
dade e esplendor. 1959. Aí surge a época de ouro (de 1969 a das, mais de 8 sílabas em quatro compas-
Não é possível apontar com exatidão 1989), quando temos, ao lado dos temas sos. Um desastre”. Mussa e Simas deto-
qual teria sido o primeiro samba de enre- altissonantes, típicos dos anos desenvol- nam a pobreza dos enredos — politica-
do de verdade, aquele que responde a to- vimentistas da ditadura militar, sambas mente corretos, cheios de lugares co-
dos os requisitos — grande extensão de subversivos tanto na forma, no léxico e muns, ou tratando de empresas — e a
versos, poema mais apoiado em uma es- nos versos mais soltos, quanto no conteú- preferência por melodias leves. “Poucas
trutura narrativa que lírica, refrões, con- do — para lembrar de novo Martinho, que escolas de samba podem se orgulhar do
sonância com o enredo da escola de sam- em 1972 provocava fazendo a palavra “li- que têm levado para a avenida. Os sam-
ba, “cuja letra desenvolve, expressa ou berdade” desfilar pela avenida. Entre os bas da época de ouro são os únicos lem-
alude ao tema da escola, que se manifesta 70 e os 80, os grandes vultos históricos brados pelo grande público”. Para a du-
em fantasias, alegorias e adereços”. Ape- dão lugar para personalidades populares, pla, a padronização, que faz os sambas de
sar das controvérsias históricas, o samba lendas da mitologia brasileiras — e o pró- enredo de hoje parecerem inventados
de enredo mais antigo seria O Mundo do prio carnaval vira tema, como no excep- pela turma do Casseta & Planeta, poderia
Samba, da Unidos da Tijuca, de 1933. Já no cional É Hoje , da União da Ilha de 1982 ser quebrada somente se reduzindo a ve-
período clássico (1951 a 1968), as escolas (“Minha alegria atravessou o mar/ E an- locidade aos 130 BPM típicos dos anos 70
usavam personagens e eventos da história corou na passarela...”), criado por Didi, e 80. Afinal, já que estamos tratando da
do Brasil para colorir seus enredos — o um erudito procurador da República que gramática da beleza, do delírio e da escu-
que, se por um lado afirma uma vontade Faltou o CD vir junto com o livro compôs sambas de enredo mitológicos. lhambação, pra que tanta pressa?
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 15
Acadêmicos do
Grandes twittadas
Nosso Cancioneiro da semana
Uma coleção de livrinhos que desvenda a gênese
de alguns grandes álbuns da música brasileira
Pérolas, achados
e picaretagens.
os poucos, a riqueza da mú-
O melhor da filosofia
A
Em Eu Quero é Botar Meu
sica brasileira vem sendo
Bloco na Rua, o poeta em até 140 caracteres
mais lida do que ouvida. Nos
últimos anos têm surgido e tradutor Paulo Henriques
edições de letras de alguns Britto repõe na roda a obra
grandes compositores, como maior de um compositor
Chico Buarque e Caetano Veloso, e a memó- morto prematuramente,
ria da manifestação artística que mais visi- Sérgio Sampaio.
bilidade dá ao Brasil vem sendo resgatada, O pós-tropicalista tem @alecduarte Justo em ano de Copa: calendário gregoriano
recriada e reinventada por gente como José a companhia de Velô, o disco
Miguel Wisnik, Pedro Alexandre Sanches e
de Caetano Veloso desvendado se repete, e os dias de 2010 são os mesmos que os de 1982.
Carlos Calado, entre outros. Mas, ao lado
dos grandes ensaios ou biografias, há tam- por Santuza Campraia Neves Mau presságio? @rogerioceni A paradinha só virou notícia
bém espaço para edições espertas, focando
alguns aspectos essenciais da música. É o no mundo todo porque foi contra mim. Se fosse contra
caso da coleção Língua Cantada, da editora
carioca Língua Geral. goleiros que não pulam em pênalti, ninguém falaria nada.
Em Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua, revisita seu cancioneiro e descobre um Rio
o poeta e tradutor Paulo Henriques Britto de Janeiro que, violento, paradoxal e @xicosa Só o mingau do desprezo serve de mamadeira para
repõe na roda a obra maior de um compo- funkeiro, não encontra mais eco no liris-
sitor morto prematuramente — Sérgio mo mauricinho bossanovista. Lupicínio e um homem covarde. @mercadante Agora na Costa Rica, o
Sampaio. Capixaba, amigo de Raul Seixas, A Dor de Cotovelo, de Rosa Dias, trata do
Sampaio foi um autor maldito, que fazia último disco do autor de pérolas como Ju- presidente Arias transferiu prestígio e fez a sucessora,
questão de espezinhar fama, fortuna e pú- diaria e Caixa de Ódio — talvez ninguém
blico. Meu Bloco, seu grande sucesso, era tenha buscado a dor, da desilusão amorosa Laura, mulher. Por que não comparar com a vitória de
apenas a ponta do iceberg de uma obra que à tristeza metafísica, como grande tema
combinava rock, samba, folk, letras me- quanto o compositor gaúcho. A nota desa- Dilma? @vermartins Pedido de chefe é uma ordem: Minis-
lancólicas e versos incendiários. O pós- finada fica com Logo Parecia que Assim
-tropicalista tem a companhia de Velô, o Sempre Fora, caderno de fracos poemas tros cedem a apelo de Lula para permanecerem no cargo
disco de Caetano Veloso desvendado por em prosa de Pedro Luís inspirados no ál-
Santuza Campraia Neves, ponto de infle- bum Olho de Peixe , de Lenine e Marcos durante a campanha. @pdralex E que livro o Serra teria
xão na obra do baiano, em que o flerte com Suzano. O amadorismo deste em contra-
o rock, o rap e o pop inglês deu em canções ponto à profundidade na exploração dos dado pra Madonna? “Renda Mínima”? Não, esse seria o
hoje datadas como Podres Poderes ou an- outros quatro livrinhos fica como dica —
tológicas como O Quereres. Em Uma Pá- nem sempre um ótimo compositor pop Suplicy... @LuisFVerissimo O PT não quer outra coisa do que
tria Paratodos, Heloísa Maria Murgel Star- tem suficiente clareza do seu objeto de tra-
ling relaciona a obra de Chico Buarque à de balho. O bom é saber que há intelectuais a comparação. Em 1º lugar porque Serra representando
seu pai, Sergio Buarque de Holanda, no dispostos ao trabalho de desvendar a nossa
momento em que o cantor de Paratodos música com sabor e sem pedantismo. R . B . FHC é menos preocupante do que o Serra como novi-
dade. @Zekley Essa ideia de um debate entre FHC e Lula
vai causar uma semana de insônia no Serra. @carpinejar
Enquanto o livrinho sobre Lupicínio revela a dor do cantante gaúcho, Pedro Luís
ACHAMOS q estamos vendo e pegando após a décima-
perde-se em poemas amadores que deveriam tratar da obra de Lenine
-sétima latinha. @josesimaoband As cédulas vão ter tama-
nhos diferentes para as maiores caberem na meia e as
menores na cueca!
16 | Outlook | Sábado, 13.2.2010
ELEITOS
A lenda revista
Freddie Mercury, biografia de autor francês que chega
TEXTO D AN IE LA PAIVA
ma fortaleza resguarda os
U
avanços em direção à memó-
ria de Freddie Mercury, cujo
aniversário de 20 anos de
morte ocorre no ano que
vem. São poucos os livros que
oferecem uma espiada na vida de uma das
maiores vozes da história do rock mundial
— e um número ainda menor de títulos fo-
ram editados no Brasil. Freddie Mercury
(Planeta), de autoria do francês Selim
Rauer, observa o mito pelas frestas. Mas
compõe um cenário lúdico em que se vê
com novo olhar o nascimento, a ascensão e a
morte do artista.
Rauer busca a mitologia grega e o molde
dos roteiros de teatro para estruturar as 320
páginasdabiografia.Ex-diretordeteatro,ele
divide a trajetória do ídolo como se fosse uma
tragédia em três atos. Nas primeiras cenas,
mostra a transformação de Farrokh Bulsa-
ra, nascido na ilha de Zanzibar, na Tanzâ-
nia, em Freddie Mercury. Captura o lei-
tor ao detalhar episódios como o da
epifaniamusicalemquesurgeoso-
brenome Mercury.
O mito de Ícaro, que ga- O tesouro de Mercury
nha asas para fugir do exí- inclui mais de 300 milhões
lio e acaba morto pela falta de discos vendidos, 15 álbuns
de cautela no exercício de estúdio com o Queen,
da liberdade em pleno
voo, inspira a segun-
dois da carreira solo, além de
da parte do livro. compilações e ao vivo.
Nela,oleitorsede- E hinos que ficaram para a
para com um história, como We Are the
Freddie Mercury Champions, Radio Ga Ga,
que já é o grande Bohemian Rhapsody,
astro do Queen, e Under Pressure e I Want
que pode e deseja to Break Free
de tudo. Sexo, dro-
gas, os shows gi-
gantescos como os tin, herdeira e tida como a grande mulher de
da primeira turnê sua vida, dos familiares e dos discretos par-
sul-americana do ceiros do Queen, Brian May (guitarra), Ro-
grupo, que passou ger Taylor (bateria) e o aposentado John
pelo Estádio do Mo- Deacon (baixo). Para tanto, desenrolou
rumbi (São Paulo) em um currículo pomposo em que consta-
1981, e o da segunda vi- vam a formação em filosofia e especiali-
sita ao Brasil, no Rock in zação em artes e espetáculos pela Univer-
Rio, em 1985. No livro, sidade de Sorbonne, a autoria no blog do
ambas as passagens do jornal francês Le Monde, dois livros pu-
ídolo pelo Brasil blicados. Nada baixou as armas dos guar-
compõem apenas diões da memória do cantor.
brevesregistros.
A terceira parte da
IMAGEM DIVULGAÇÃO
obra narra o drama de
uma celebridade que
tenta esconder um se-
gredo a qualquer cus-
to. Ao final, o que fi-
cou para a história:
Mercury revelou o
que se espalhava
FOTO ROGER BAMBER / ALAMY
Bico e pose em
performances únicas
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 17
em forma de tragédia
agora ao Brasil, joga alguma luz sobre a história do cantor, obscurecida por familiares e membros do Queen
ELEITOS
FOTO DIVULGAÇÃO
na rede,
nos anos 90
o jeito
é pôr
na praça
No Brasil, começo de ano
é tempo de entressafra
de lançamentos na música pop.
Mas, no exterior, pelo menos
quatro grupos importantes
correram para colocar seus
novos CDs nas prateleiras
(claro, eles tinham vazado
na internet). Por aqui, apenas
as ‘inéditas’ do Massive Attack
já estão nas lojas
IMAGENS REPRODUÇÃO
no som dos quatro estudantes que prefere o cafofo da gravadora
da Universidade de Columbia independente Merge Records. O
(Nova York) não provocou sétimo álbum, Transference,
maiores emoções. Nesse sentido, inédito, isola elementos do DNA
Contra, cujo lançamento não está mais palatável, testados em
previsto no Brasil, é até agora HELIGOLAND, MASSIVE discos anteriores. Encontram-se
muito bem sucedido — o disco ATTACK os refrões em The Mistery Zone,
atingiu o topo das paradas da as guitarras diretas em Got
Billboard, comprovando que a Nuffin. No entanto, a banda
Robert Del Naja e Grant Marshall
referência afro se transformou diversifica com influências de
em marca benvinda na mistura
levaram sete anos para lançar o
fases anteriores ao sucesso nas
TURN ONS, THE HOT RATS
quinto álbum do Massive Attack.
com o rock. É um novo começo novelinhas gringas. Maturidade
Ícone do trip hop nos anos 90, Gaz Coombes e Danny Goffey, do
para o grupo, que, antenado, que vem em colheradas.
a dupla de Bristol (Inglaterra) Supergrass, inspiraram-se em Hot
disponibiliza suas músicas na
conta com as vozes de Tunde Rats (de Frank Zappa)
net sem grilar com a pirataria
Adebimpe, do hypado TV on e Pin Ups, disco de covers de
(www.vampireweekend.com).
the Radio, Damon Albarn e Guy David Bowie, para título e
Garvey (da Elbow) para se conceito deste projeto paralelo.
integrar à nova era. Tenta isso Nigel Godrich (do Radiohead)
também com um som mais assinou a produção, lançada em
orgânico, de baixo, bateria, janeiro lá fora e devidamente
teclados e guitarra. O disco vazada por aqui. Músicas de
chega no Brasil pela EMI. Não Velvet Underground, Beastie
é tão essencial quanto o último, Boys, The Cure e Elvis Costello
100th Window (2003). Mas é receberam revestimento de
um capítulo que merece atenção. guitarras sujas. Para quem gosta
da intensidade do som dos
inferninhos e não economiza em
qualidade. D A NIE L A PA IVA
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 19
FOTO DIVULGAÇÃO
cenário é a Londres nebu-
O
losa do final do século 19,
aquela vitoriana, do Jack, o
Estripador, que você já viu
em centenas de filmes para
dar medo. O protagonista,
o Lobisomem, se apodera do corpo de um
sujeito que carrega um passado trágico e
bambeia entre as angústias da vida, os tais
monstros existenciais na alma. Você tam-
bém já viu isso. A aldeia onde ocorrem as
mortes é feita de gente simples e apavora-
da, há um inspetor de polícia, esperto, ca-
paz de ver além do que está na cara. E tem
a mocinha corajosa, as cenas de cavalgada
solitária, um psiquiatra incapaz de enxer-
gar além do próprio ego, e pode lembrar de
outros hits que em O Lobisomem , filme
estrelado e produzido por Benicio Del
Toro, e dirigido por Joe Johnston, irá reco-
nhecer cada um deles.
É ruim o filme? Não exatamente. Pro-
dução caprichada, elenco idem, e até os
clichês em excesso poderiam ser muito di-
vertidos, afinal são o material dos clássi-
cos do gênero. Mas faltam nele aquelas
doses de charme e humor que transfor- Benicio Del Toro, ao lado de
mam um filme correto e esquecível em di- Anthony Hopkins (seu pai no
versão deliciosa — como Spileberg fez com filme) e da mocinha Emily
os Indiana Jones, só para dar um exemplo Blunt: elenco no capricho
que grudou na memória. O Lobisomem de Raviólis de grenouille com chicória: nem de longe lembra o anfíbio
ELEITOS
As caçarolas do Scandurra
No bistrô Le Petit Trou, entre galettes e canecas de sidra — a bebida que o músico e
restauranteur adora —, clientes e amigos refestelam-se e cantam Serge Gainsbourg
e Petit Trou é literalmente um O restaurante uma forma ou de outra pelo nobre e des- um reduto familiar para iniciados: em si-
L
buraquinho (como indica a nasceu da ‘ressacada’ pretensioso fermentado de maçã. dra, comida bretã e boa música. Hoje,
tradução do nome ). Pequeno de uma viagem O restaurante nasceu da “ressacada” de quem comanda as caçarolas é Andréia
e charmoso, o bistrô esconde que o músico uma viagem que o músico fez com a famí- Merkel, mulher de Edgard. Apaixonada
grandes surpresas. No exíguo lia à costa norte francesa, em 2005. Se ele por receitas, ela aprendeu francês de tanto
espaço de um antigo sobradi- fez com a família já tinha uma queda por sidra, voltou de lá ler “originais”, e a prática do fogão veio
nho reformado, rola muita coisa, desde à costa norte com uma certeza: ele adora sidra. Se ela com horas e horas de experiência, em casa,
2006. A mais recente vem dentro de uma francesa, estiver bem gelada, servida em um dia de ao lado de chefs e em cursos. Ainda no staff
garrafa e transcende as panelas e canecas. em 2005. Se ele calor, acompanhada, ou não, por um belo familiar estão a irmã, Maria Tereza, e a so-
É a nova sidra Le Petit Trou, que desde ja- já tinha uma queda prato de comida, a paixão se torna quase brinha, Carol. Subindo a escada que fica no
neiro colocou o clan Scandurra em per- por sidra, insuportável. fundo salão, chega-se ao bar Gainsbourg. É
manente festa. voltou de lá A viagem e a combinação de galette ali que, de tempos em tempos, Edgar reúne
Para embalar as comemorações, a tur- bretã (um crepe feito com trigo sarrace- amigos para uma soirée animée. Solo ou
ma do guitarrista (ex-Ira!) e restaurateur
com uma certeza: no) com sidra foram grandes inspirações acompanhado, tira um bom rock, enquan-
Edgard Scandurra, proprietário da casa, ele adora sidra para a criação do restaurante paulista- to vinte e poucos convivas se animam, re-
elaborou um festival de sidra, onde apre- no. A outra, ele puxou lá da infância: o gados a muita sidra e galette.
senta pratos feitos e servidos com a Le Pe- pai de Edgard teve um restaurante, e os As comemorações não se resumem ao
tit Trou. Coq au cidre, casserole de cama- filhos sempre acompanharam o movi- Festival da Sidra, que vai até o final de
rão com manteiga de lagostim ao molho de mento do salão e das cozinhas. Assim fevereiro. Antes dele acabar, Edgard vai
sidra, foie gras com maçã caramelizada e nasceu o Le Petit Trou, que carrega no reunir, nas noites de quarta-feira (a par-
geleia de sidra — estão todos lá, regados de nome e na decoração uma homenagem tir de 24 de fevereiro), alguns amigos no
ao músico fran- bar Gainsbourg. Arnaldo Antunes, Alex
cês Serge Gains- Antunes, Marisa Orth e Marcelo Jeneci,
bourg (autor da entre outros, vão desfiar o gogó no se-
famosa canção gundo andar do sobradinho, em meio, é
homônima). claro, a muita maçã.
Com três anos
de vida, a casa se L E PE TIT TR OU
transformou em R. VUPABUSSU, 71, PINHEIROS. TEL.: 3097-8589
SANTÉ!
Sidra é muito mais do que aquela
bebida doce e cheia de bolhinhas,
que embala festas e casamentos
populares. A sidra é, sim, uma
bebida sem frescuras, servida
em canecas de cerâmica, mas não
por isso de baixa qualidade.
De São Joaquim, em Santa
Catarina, Edgard trouxe a bebida
para ser batizada com o nome
do restaurante. Produzida
sem adição de gás carbônico,
com uma segunda fermentação
em tonéis, a sidra Le Petit Trou
é seca, cítrica e rústica. O elevado
teor alcoólico, de 11%, contribui
para dar à bebida a nobreza
Um pequeno e comportado salão recebe os convivas. No andar superior, o bar Gainsbourg se encarrega de quebrar o protocolo perdida nos trópicos. R$ 40.
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 21
FOTOS DIVULGAÇÃO
O Alvear
Palace Hotel,
no elegante
bairro da
Recoleta, em
Buenos Aires,
é o símbolo
de uma
Argentina rica
em glamour,
onde o topete
não é jogo
de cena
E
Grande, imponente e muito chique. O Alvear mais que a sua
Palace Hotel é uma joia portenha. De tão pre- fachada palaciana.
cioso foi declarado Monumento Histórico da
cidade de Buenos Aires, em 2003. Mas antes
Em seus 11 andares,
disso já tinha muito glamour. Nasceu para ser espalham-se 210
grande. Seu projeto, iniciado em Paris na década de 1920, em habitaciones. Fora
estiloLuísXIVeLuísXV,precisoude10anosparaserconcluí- as salas de business,
do no distinto, francês e aristocrático bairro da Recoleta, um o hotel conta com
dos mais nobres da capital. 12 salões de festa,
MasoAlvearémuitomaisqueasuafachadapalaciana.Em dois restaurantes,
seus 11 andares, espalham-se 210 habitaciones. Fora as salas
de business, o hotel conta com 12 salões de festa, dois restau-
três bares e um spa.
rantes, três bares e um spa. Tudo isso no mais impecável esti- Tudo isso no mais
lo clássico europeu, como os argentinos gostam. Cerca de impecável estilo
500 funcionários garantem um serviço de primeiríssima li- clássico europeu,
nha, o sobrenome do Alvear. como os argentinos
Os quartos, decorados no estilo Luís XV, apresentam gostam
toda a suntuosidade que se pode esperar de um palácio.
Toalhas de algodão egípcio, banheiros com jacuzzis, arran-
jos de flores e frutas sempre à disposição e outras amenida-
des fazem parte dos mimos ao hóspede. Para aumentar o
conforto, cada andar conta com um mordomo de plantão.
Ele é encarregado de satisfazer as mais variadas necessida-
des do hóspede: desde desfazer as malas, encaminhar as
roupas para a lavandeira, engraxar os sapatos até refazer a
mala antes do fatídico check-out. Outra exclusividade é o
tal personal shopper, um especialista em compras (de rou-
pas à obras de arte) com carro à disposição.
O restaurante La Bourgogne também é uma atração. Co-
mandado pelo francês Jean Paul Bondoux, é tido como um
dos melhores e mais exclusivos do país. Serve clássicos e
criações da estação em ambiente ultrarrequintado.
Já o L’Orangerie, com um ambiente mais informal, é palco
de um dos programas mais descolados da cidade, o Sunday
Brunch. Uma imensa e farta mesa repleta de frutos do mar,
carnes de caça, charcuterie e a finíssima pâtisserie do hotel
estão à disposição do domingueiro. Tudo regado com muitos
vinhos, no plural: brancos, tintos e espumantes. E esse mes-
mo ambiente ensolarado também é palco do tradicional chá
da tarde. Luxo em qualquer estilo. L.H.L.
No Alvear o estilo é inconfundível: a suntuosidade palaciana europeia está encarnada. Nos
ALVEAR PALACE HOTEL — WWW.ALVEARPALACE.COM quartos, a modernidade fica a cargo dos aparelhos hi-tech, já a decoração é conservadora
22 | Outlook | Sábado, 13.2.2010
A FIRMA
Juarez Guilherme
de Araújo F
César Pain ilho
FOTOS DIVULGAÇÃO
Lu dovina Garçom do
Garçom do Ludovina
F
alar de garçom sem citar música brega é um desafio e tanto. Juarez César Pain, de 46 anos, os 9 últimos carregando bandejas de
chope no tradicional Bar Brahma, no Centro da capital paulista, gosta que a profissão inspire músicas e confirma, com os casos que
conta, que o ofício vai muito além de apenas entregar o chope nosso de cada dia. “Já me aconteceu de ficar com o cartão de crédi-
to e senha do cliente que estava traindo a mulher no bar. Amigos dele chegaram, o sujeito saiu correndo e eu paguei a conta para ele.”
Nesse e em qualquer caso, Juarez segue o regra pétrea da garçonagem: jamais dizer ‘não’ ao cliente. “Dou um jeito de não falar essa
palavra. Se me pedem chope sem colarinho, digo que infelizmente a bebida precisa ser servida de outra maneira”, contorna, mineiro
que é. E tem mais. A velha jogada de entregar bilhetinhos via garçom para a moçoila da mesa ao lado nem sempre cola com Mr. Bean,
como ele é chamado pelos clientes mais chegados — olhe a foto de novo, ele é a cara do humorista inglês! “Eu observo bem antes. Pode
dar briga se a menina estiver acompanhada. Às vezes, percebo que é melhor não entregar, deixo o bilhete no bolso e não falo nada.”
Entre umas e outras, é gente que não paga a conta, gente que briga porque quer pagar a conta do amigo, e gente que avisa antes que
não vai colocar a mão no bolso. Hein? “É, teve essa uma vez. O sujeito chegou e disse que podiam bater nele, que ele não ia pagar nada”,
lembra Mr. Bean. Os amigos, no caso, pagaram a dolorosa. Mas a história mais marcante aconteceu com Cauby Peixoto. Em uma das
apresentações durante uma turnê no Brahma, o cantor perdeu a peruca por causa de uma fã que tomou chope demais. “Ela garrô ele,
caiu a peruca, né? Nem sei se eu devia contar isso”, ergue os ombros, mineiramente, embora apreciador de uma boa prosa.
Há um mês, Mr. Bean passou a servir no Ludovina, o novo empreendimento dos donos do Brahma, no bairro de Moema. É lá que co-
nheceu Guilherme de Araújo Filho, de 46 anos também, que veio da Paraíba em 1982 e desde então é garçom na cidade. De poucas pa-
lavras, também tem suas histórias. “Já levei até empurrão de uma mulher. Ela sempre aparecia com um cara e, um dia, veio com outro.
Foi só ela me encarar que me empurrou para um canto e explicou que aquele era o marido: o outro era só namorado.”
Tanto Mr. Bean quanto Guilherme concordam com a vocação inegável do garçom para conselheiro sentimental. Estão ali para ser-
vir a gelada e escutar, escutar, escutar. Histórias de vida, de morte, de casamento, de separação, de nada e de tudo. O aconselhamen-
to, nesse caso, consiste em soltar palavras de conforto e, no momento oportuno, oferecer mais um chope, ainda que com o risco de ou-
vir um Seu garçom me empresta algum dinheiro/ porque o meu deixei o com o bicheiro/ e vá dizer ao seu gerente/ que pendure esta
despesa/no cabile ali em frente... Escapamos de Reginaldo Rossi, mas não de Noel Rosa. Mais um chope, por favor. E com colarinho!
Outlook | Sábado, 13.2.2010 | 23
ESPORTES
TEXTO GA B R IE L PE NNA
A experiência do goleiro sãopaulino não foi páreo para a irreverência do jovem atacante santista. Neymar, em
2010, abusa do recurso que, com Pelé, em 1969, foi sutil ao mandar a milésima bola para as redes, no Maracanã
raticada há quase meio sécu- pretar se há abuso ou não do jogador. No “O pênalti já é, causa disso. Um dos exemplos mais mar-
P
lo no futebol, a paradinha fim do ano passado, o presidente da Fifa, por definição, cantes no futebol brasileiro é o do meia Só-
nas cobranças de pênalti Joseph Blatter, chegou a anunciar que ela uma relação crates, que não conseguiu enganar o go-
ainda provoca polêmica, seria proibida novamente, mas até aqui leiro da França nas quartas de final da
principalmente, quando nada foi mudado. Para o bem do futebol
desigual, que surge Copa de 1986 e bateu o pênalti nas mãos
bem executada. O recurso, brasileiro, que tem a ginga em seu DNA. da iminência dele. Ao lado do meia na lista dos que já
que ganhou fama pelos pés de Pelé e já foi Afinal, a paradinha não é mais que um de um gol. Não há fracassaram na paradinha estão craques
até proibido pela Fifa, tornou-se alvo de drible, uma finta de corpo em resposta à por que reclamar como o português Cristiano Ronaldo, o
uma nova celeuma após o clássico entre estratégia do goleiro de se antecipar à co- da paridade. corintiano Ronaldo Fenômeno e o atleti-
São Paulo e Santos, domingo passado, na brança de um pênalti — como fez o pró- Simbolicamente, cano Diego Tardelli.
Arena Barueri, em uma rodada do Cam- prio Ceni no lance do gol. Assim como o está mais para Não dá para negar, porém, que a pa-
peonato Paulista. chapéu, a caneta e o cortaluz, é uma ma- radinha coloca o goleiro em situação de
Dessa vez, o protagonista da jogada foi nifestação do jeito brasileiro de jogar fu-
um fuzilamento”, extrema desvantagem em relação ao ba-
outro santista, o jovem Neymar, de 18 tebol, fortemente marcado pelo improvi- sanciona José tedor. Mas isso faz parte das regras do
anos, que usou o breque para ludibriar o so e a individualidade. “O jogador brasi- Miguel Wisnik, jogo. “O pênalti já é, por definição, uma
experiente goleiro Rogério Ceni e abrir o leiro é naturalmente malandro, mas den- a favor da paradinha relação desigual, que surge da iminência
placar na vitória por 2 a 1 sobre os sãopau- tro das regras. Se proibirem algo, ele im- de um gol. Não há por que reclamar de
linos. Do alto dos seus 900 jogos com a ca- provisa novamente”, adianta logo o his- paridade. Simbolicamente, está mais
misa do tricolor paulista, o consagrado toriador e jornalista Marcos Guterman, para um fuzilamento”, diz o professor
goleiro não imaginava ser alvo de tama- autor do livro O futebol explica o Brasil de literatura e ensaísta José Miguel Wis-
nha ousadia. O primeiro a reclamar do (Contexto). nik, autor de Veneno Remédio — O fu-
lance foi o próprio Ceni, embora reconhe- Além de certa dose de molecagem, uma tebol e o Brasil (Companhia das Letras).
ça que também usa esse expediente nos paradinha bem-sucedida exige coragem e Para encerrar, uma provocação, em
pênaltis que bate. perícia do jogador. Não é um jogo de cartas defesa dos protetores de metas: por que
O protesto ganhou coro entre parte dos marcadas, como muitos dizem. O goleiro não conceder o direito à andadinha,
torcedores (principalmente sãopaulinos, pode simplesmente ficar parado, e o sujei- aquele passinho à frente antes da co-
é claro) e dos comentaristas: “Isso deveria to terá que decidir em instantes como fa- brança da penalidade? Sabemos o risco
ser proibido”, “só no Brasil pode”, “não é zer para tirar a bola do alcance dele. Para que o goleiro corre ao tentar se anteci-
justo com o goleiro”, “é falta de respeito”, piorar a situação, terá perdido o embalo da par no momento do pênalti, mas seria
bradaram. Mas, pelo regulamento, a pa- corrida que garantiria maior força ao chu- um consolo para quem, afinal de contas,
radinha é permitida e cabe ao juiz inter- te. Bons jogadores já cometeram erros por já está no paredão.
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ESPORTES
Ricardo Fernandes
Cicinho, que gosta de sair pelos fundos,
quer sentar na janelinha
FOTO IMAGE FORUM
O mérito do processo trabalhista que garantiu a quebra do contrato de Cicinho com o Clube Atlético Mineiro nunca foi julgado
Atribui-se a João Saldanha uma frase Cicinho está cartolas são responsáveis pela má fama do rapaz, se ressarcir as despesas. Mas não.
sempre citada quando se discute a dife- de volta. Almeja futebol brasileiro fora dos gramados. Cicinho pulou fora e, depois, alegou que o
rença entre a técnica e o caráter de um jo- um lugar na Seleção Vamos aos fatos: Cicinho nasceu para o clube não vinha cumprindo o contrato.
gador de futebol. Se não foi Saldanha, o futebol no Botafogo de Ribeirão Preto, in- Dias depois, já treinava entre os jogado-
autor pode ter sido Flávio Costa, Vicente
que disputará terior de São Paulo. Foi ali que um empre- res do São Paulo Futebol Clube. Conse-
Feola ou qualquer outro treinador de pri- a Copa de 2010 sário bem relacionado descolou para ele guiu que um juiz de primeira instância o
meira grandeza da Seleção Brasileira. Se- e acha que o clube um lugar na equipe júnior do Clube Atléti- liberasse do compromisso com o Atlético.
gundo a lenda, um jornalista teria pergun- que revelou o seu co Mineiro. Em Belo Horizonte, teve casa e A justiça do trabalho em Minas Gerais
tado se esse treinador não temia convocar caráter para o Brasil comida enquanto reunia condições para anulou a decisão e a questão foi parar do
para a seleção jogadores com fama de en- é o caminho mais entrar em campo como profissional. Tribunal Superior do Trabalho. No início
crequeiros e maus elementos. E a resposta curto para a África Quando isso aconteceu, custou a firmar- de janeiro de 2004, com a justiça em fé-
teria sido mais ou menos a seguinte: “Não -se como titular. Mas como a equipe que rias, o ministro Yves Gandra Martins Fi-
estou atrás de marido para minha filha, defendia o clube mineiro em 2003 era uma lho achou que o caso merecia urgência e
mas de jogador para a Seleção.” Desde en- terra de cegos, acabou se tornando rei por chamou para si a responsabilidade de jul-
tão, sempre que o caráter de um jogador é ter um olho só. A escassez de talentos fez gá-lo. Martins, sãopaulino e filho de um
posto em dúvida, a mesma resposta é sa- dele ídolo de uma das torcidas mais fanáti- conselheiro do clube, deu razão a Cicinho
cada — e se aplica a qualquer tipo de joga- cas do Brasil. Cicinho tinha um salário à al- em nome do direito ao “livre exercício da
dor “malandro”. Na lógica dos que não es- tura de sua categoria, recebia em dia e era profissão de jogador de futebol.” Dali, o
tão atrás de “um genro” cabe o craque que aplaudido. Até que um dia qualquer, no processo seguiu para o arquivo. O mérito
é “malandro” porque gosta de passar a segundo semestre daquele ano, se cansou da questão nunca foi nem será julgado à
bola entre as pernas do adversário e o ou- de tudo aquilo e resolveu virar as costas luz do dia.
tro, que é “malandro” porque chega atra- para o clube com o qual tinha um contrato Cicinho está de volta. Almeja, certa-
sado ao treinamento, vindo direto da noi- em vigor. Resolveu ir embora. E foi. mente, um lugar na janelinha do avião
tada. Cabe até mesmo o jogador que é Na calada da noite, como acontece que levará a seleção para a Copa de 2010 e
“malandro” porque se acha no direito de com quem tem algo a esconder, arrumou acha que o São Paulo, clube que revelou
não cumprir o contrato que assinou. as tralhas e se mandou de BH. Não se des- seu caráter ao país, pode ser o caminho
Digo isso porque ouvi esse mesmo ar- pediu dos poucos amigos que fez. Sim- mais curto para a África. Certamente há
gumento a respeito de Cícero João de Cé- plesmente virou as costas e deu no pé. Ou nomes mais qualificados do que o dele
zare, o Cicinho, que acaba de retornar ao “evadiu-se do local” como fazem os ele- para ocupar a vaga — mas como não é
Brasil para vestir mais uma vez a camisa do mentos que agem com intenções furtivas. candidato a genro, não haverá espanto se
São Paulo. Dono de recursos técnicos li- O empregador, claro, tentou lutar por conseguir. Afinal, o futebol brasileiro tem
mitados — bem ao gosto de Carlos Alberto seus direitos. Afinal de contas, uma caminhos insondáveis, que Cicinho e
Parreira, o treinador que o convocou para transferência às claras para outra equipe seus amigos os conhecem bem.
servir à Seleção na última Copa do Mundo seria uma maneira de o Atlético, como o
—, Cicinho é a prova viva de que nem só os clube que de fato investiu na formação do Ricardo Fernandes é jornalista
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EQUIPE DE APOIO
As principais estrelas brasileiras do futebol empregam um
grupo de profissionais especializados em diversas áreas.
Jogadores como Robinho e Ronaldo chegam a ter quase
um time de futebol trabalhando para eles
MASSAGISTA FISIOLOGISTA
Atua na prevenção e no tratamento de contusões. Atua na avaliação e no planejamento das atividades
Também costuma fazer parte das comissões físicas do jogador, identificando suas
técnicas das equipes potencialidades, necessidades e limitações.
Trabalha em conjunto com as comissões técnicas
COZINHEIRO
Na concentração, quem manda
é o nutricionista do clube. Em casa, cada
um tem o seu próprio cozinheiro
FISIOTERAPEUTA
A maioria dos jogadores trabalha com
ASSESSOR DE IMPRENSA o profissional empregado pelo clube. Vítima de
inúmeras contusões, Ronaldo tem um especialista
Gerencia o relacionamento do atleta com os
que o acompanha desde a Europa
meios de comunicação e organiza entrevistas
individuais e coletivas
EMPRESÁRIO
BLOGUEIRO/ TWITTEIRO
A maioria dos jogadores tem um, também
As redes sociais são um importante canal conhecido como agente. Costuma ser uma
de comunicação e aproximação pessoa de confiança, como um amigo ou
com fãs e torcedores. Por isso, parente. Esse profissional cuida de toda
alguns jogadores têm profissionais a vida financeira do jogador, das negociações
especificamente para produzir e divulgar com o clube aos contratos de publicidade
conteúdo nesses meios CONSULTOR DE CARREIRA
Atua como conselheiro no planejamento e na tomada
de decisões profissionais, durante e após a carreira
esportiva. O ex-craque Leonardo, hoje técnico
do Milan, contratou uma empresa especializada
MOTORISTA E SEGURANÇA
Em eventos públicos, os jogadores são acompanhados por, ao menos, dois seguranças.
Com medo da violência no país, o clube inglês Manchester City, dono dos direitos de
Robinho, contratou oito guarda-costas para protegê-lo durante os seis meses em que
ficará emprestado ao Santos
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VIDA
Talvez tenha sido Miriam Etz, uma alemã que trouxe com o sotaque a mania de não dar satisfações
e um maiô duas peças de lã, e saiu para tomar sol no Arpoador em 1937. Os cariocas que se cutuca-
vam para ver ainda não sabiam, mas de um jeito assim tão espontâneo começava naquele ano a
partida para uma nova mulher: a que só faz o que quer. Miriam teve a filha Iracema, a Ira, uma loi-
ra de fechar o comércio, que seria capa com João Gilberto da revista O Cruzeiro na bossa nova, e
teria como melhor amiga a artista plástica e futura escritora Marina Colasanti. Talvez tenha sido
apenas coincidência, mas a moderna Marina nasceria em Asmara, na Etiópia, justo em 37, en-
quanto a Miriam mostrava o corpo lá na praia.
Ira Etz, Marina Colasanti, Bea Feitler (uma das maiores designers brasileiras, criadora das capas da
Rolling Stone, entre outras) foram as pioneiras de uma longa e linda linhagem de garotas petulantes e in-
dependentes, seguidas de perto por Leila Diniz, e que daria em sabidas como Fernanda Torres, Alice
Braga, Camila Pitanga. Moças intrépidas, de bem com as coisas boas da vida, um olho nos rapazes, outro
numa exposição em Londres, num dia liam filósofos bacanas e no seguinte costuravam, elas mesmas, o
biquíni preferido. Marina cresceu assim, mudando regras, fazendo arte, soltinha na lambreta ou em
alto-mar — foi a primeira a mergulhar na ainda hoje radical Laje Santo Antônio. Formou-se em artes
plásticas e para morar sozinha aceitou um emprego de redatora e depois colunista no Jornal do Brasil .
Anos depois, pularia para a revista Nova, então, acredite, um espaço revolucionário para as conquistas e
os dramas femininos.Ali Marina faria por anos uma coluna, e responderia cartas de mulheres bem dis-
tantes da Ipanema dourada. Ensinaria que toda mulher pode, sim, protagonizar sua própria vida.
Ela mostrou que não era preciso mais se curvar a um homem, embora eles fossem sempre benvin-
dos. E como vieram: o primeiro foi seu pai, Manfredo Colasanti, um aventureiro irresistível, que lu-
tou na ocupação da Etiópia (por isso Marina nasceu ali), veio para o Brasil morar no Parque Lage (casa
da tia de Marina, a cantora lírica Gabriela) e terminou ator. O segundo, seu irmão, Arduíno, que en-
trou para a história como o primeiro a desbravar o mar carioca, surfando, fazendo caça submarina,
atuando no cinema e deixando a mulherada indócil, lindo que era. O terceiro, Millôr Fernandes, a
quem Marina deu a mão, ajudou a criar o tabloide Pif Paf, namorou por dez anos e teve a filha Fabiana.
E tem, sempre, o escritor Affonso Romano de Sant’Anna, há 38 anos casado com ela e pai de Fabiana,
que adotou, e de Alessandra, filha do casal.
Marina continua viajando, pintando - ela é quem ilustra as capas dos seus livros - e às vezes costu-
rando suas roupas. Não para de escrever: publicou dezenas de livros, crônicas, contos, ensaios, poe-
sias. Vai lançar o terceiro infantil de poemas Classificados e Nem Tanto, de poemas brincando com o
nonsense, e está relançando seu belo Contos de Amor Rasgado . Continua ganhando um punhado de
prêmios (4 prêmios Jabuti, em poesia, crônicas e em literatura infantil; vários prêmios da Fundação
Nacional do Livro Infanto Juvenil; O Melhor Livro do Ano, da Câmara Brasileira do Livro; Grande Prê-
mio da Crítica, da APCA, a Associação Brasileira de Críticos de Arte), e aberta às vozes de mulheres e
homens do seu tempo. Mas está a cada dia mais enxuta nas palavras (alguns contos são exercícios de
três linhas) e surpresa como o mundo anda com a língua solta, mesmo quando não tem nada a dizer.
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VIDA
S
Sua biografia, que sairá no segundo
semestre, traz só histórias de infância?
O livro não é bem uma biografia, é
biografia no sentido de que tudo aquilo fez
parte da minha vida, mas é um olhar meu
sobre a guerra (de ocupação da Etiópia),
um olhar de criança. O título foi o Affonso
(Romano de Sant’Anna, seu marido e
escritor) que me deu de presente: Minha
Guerra Alheia. Começa a partir do
casamento dos meus pais, em 1935, numa
missa campal, um aquartelamento militar.
Meu pai estava indo para a guerra e ali os
soldados se preparavam até serem
chamados, ficavam acampados, ou
melhor, aquartelados, sendo preparados.
Você namorou o Millôr, não foi? primeira mulher a mergulhar na Laje Santo
Namorei o Millôr por dez anos, tive uma Antônio, fui com o Arduíno, desci na
filha dele, a Fabiana, que hoje está com 43 apneia, só com o snorkel, não tinha roupa
anos, é tradutora. Mas logo depois me casei de mergulho, era um frio danado. Lembro
com o Affonso, então minhas duas filhas que eu voltava com o maxilar doendo,
(Marina teve Alessandra, com Affonso, hoje duro, de tanto morder a borracha do
com 37 anos) são filhas dele. A Alessandra é respirador. Era uma vida muito mais
atriz, roteirista. saudável: nos dias de prova oral, dos
exames finais do ano, a gente ia à escola
Marina, sempre aberta para Conta um pouquinho da sua época com biquíni por baixo da roupa.
entender a natureza humana
no JB. Você entrou num período
glamuroso do jornal, década de 1960. Você e o Arduíno eram próximos?
Era uma época maravilhosa, a redação Sempre. Arduíno e eu éramos e somos
ficava na avenida Rio Branco, um prédio muito companheiros, depois ele foi
lindo, antigo. Eu adorava o centro do Rio. trabalhar no cinema, eu no jornal,
Trabalhavam lá o Claudio de Mello e acabávamos nos vendo menos, mas até
Souza, o Reynaldo Jardim, o Roberto hoje somos unidos. Ele sempre vem
Drummond, muita gente boa . Fui almoçar comigo. E quando menina meu
subeditora, depois chefe de reportagem. pai não me deixava sair sozinha, era
Fui chefe do Fernando Gabeira por um sempre com ele. O Arduíno era lindo, as
período curto. Devo ao Gabeira o meu mulheres morriam por ele. Eu não
casamento, foi ele quem me apresentou ligava para isso, queria ser inteligente.
para o Affonso. Na escola, no colegial, você podia
escolher entre o clássico e o científico,
Estamos falando de passado, fui fazer o clássico, porque achava que
então vamos voltar mais para trás. era o mais difícil, o mais inteligente. Na
Você teve uma vida no Arpoador, Itália, os inteligentes iam fazer o
anos 60, foi garota da praia, não foi? clássico, tinham aulas de filosofia, de
Ah, era um grupo de amigos, todos filhos grego, era muito duro. Só descobri
de europeus, passávamos o dia inteiro na depois, no Brasil, que aqui o forte era o
praia, catando mariscos, pulando da científico. O clássico era dos burrinhos.
pedra do Arpoador. Eu, a Ira Etz, as
outras meninas, fazíamos maiôs duas Você tem saudades desse Rio de
peças, não eram biquínis, eram duas Janeiro dourado?
peças abaixo da cintura. Aí íamos Tenho uma saudade física do Rio, das
abaixando a altura da calcinha para baixo construções, da arquitetura antiga da
do umbigo. Nós fazíamos nossos cidade. Minha filha mora em Botafogo,
biquínis, fiz um todo amarrado de lado, fico triste de passar por lá e ver que as
copiando um calção doArduíno. casas do século 19 foram demolidas para
dar lugar a uns prédios horrendos. O Rio
A Miriam Etz, mãe da Ira, foi a primeira era muito harmonioso, e muito
a usar, não? Vocês todas eram provinciano também. Não tínhamos
modernas, tinham esse lado sexy? mais que dois ou três teatros. Eu via
A Miriam foi a primeira a usar. Não era muito teatro com a Tônia Carrero, que
imediatamente sexy, acho que nem tinha era amiga da mãe da Ira.
Marina, pré-adolescente,
essa expressão, sexy. Nós queríamos ser
nos anos dourados bonitas. As poucas que iam para a cama era O seu grupo era de mulheres
do Parque Lage, RJ difícil, não tinha pílula, era um perrengue. modernas, uma geração muito mais
Eu saía para pescar, para mergulhar. Fui a aberta doq ue as anteriores. Quando
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VIDA
você começou a escrever para pré-feminismo, começo da década de sobre direitos, dando voz
mulheres, sobre mulheres? 1970, e a Fatima Ali (diretora da Nova) às mulheres, não era
Quando eu estava no JB, não havia percebeu que era um momento muito um consultório sentimental.)
redatores mulheres. Só repórteres. Não
bom para falarmos desses assuntos. A seção de cartas veio depois. A Fatima
existiam mulheres cronistas nos jornais,
Tentamos fazer uma revista que não me convidou para ser editora de
quer dizer, tinha a Elsie Lessa, no Globo,
e o Roberto Marinho a manteve lá até fosse sexista, que fosse a revista comportamento, era a trinca da (revista)
morrer. Então no JB resolveram que era feminina mais inteligente do Brasil. Cosmopolitan americana, que tinha
preciso uma redatora para escrever Fazíamos um jornal encartado nela, comportamento, sexo e trabalho. Então
sobre temas que os homens acham que dava um trabalho de cão, criávamos comecei a estudar comportamento. Nos
uma mulher quer ler: moda, culinária, livros-brinde, edições com grandes 18 anos que estive desempenhando esta
amenidades. E me convidaram a escre- romances da literatura brasileira, função, estudei muito, fiz um arquivo
ver sobre mulher. Um tempo depois fui inventávamos capas com mulheres Tentamos fazer da gigantesco, um Dedoc (o departamento
demitida do jornal, porque demitiram o pouco pintadas, de camiseta e cabelo Nova uma revista de documentação e pesquisa da editora
(Alberto) Dines (jornalista) e eu era da molhado. A Nova ajudou na tomada da que não fosse Abril) pessoal sobre comportamento,
equipe dele, fui junto. Então fui convi- consciência das mulheres numa época casamento, mulher, maternidade. Então
dada para escrever na Nova. de ditadura, tínhamos de mandar a
sexista, que fosse me preparei muito para responder às
revista inteira, com todos os textos, a feminina mais leitoras. A seção tinha um nome que eu
Você foi pioneira, antes só teve todas as legendas, todas as fotos para inteligente do Brasil. não gostava: “Qual o seu problema?” Eu
Carmen da Silva, em escrever para Brasília, e volta e meia a revista era Fazíamos um jornal dizia para a Fatima que não estava ali
revistas sobre temas feministas. censurada. Deixávamos passar uns encartado nela, para resolver problemas, para responder
Tinha esse lado de queimar sutiãs? quatro meses, mandávamos os mesmos criávamos sobre a rebimboca da parafuseta. Fiz
Não. Nunca tinha lido Simone de artigos de novo, tentando passar, mas livros-brinde, questão de dizer que só responderia uma
Beauvoir, aí um amigo me falou: “Você era tudo censurado outra vez (risos). carta por vez, e não responderia
tem de ler Betty Friedan” (uma das
inventávamos capas pessoalmente a leitora nenhuma.
feministas mais importantes do século E a seção de cartas? (Marina com mulheres
20). Vi e falei: é isso. Era uma época do respondia cartas de leitoras, falando pouco pintadas Você fazia ou fez terapia? Porque
precisa de uma bela capacidade de
análise para responder essas cartas.
Fiz análise 11 anos. Eu escolhia a carta
do mês, que nem sempre era o pior
problema, mas aquela que melhor
responderia a mais pessoas. Fazia a
leitura do texto por trás do texto de cada
carta, e pensava em qual possibilidade
era a mais próxima de solução. Devo
confessar que falei que não ia responder
pessoalmente, mas para muitas eu
respondi. Aquelas mulheres do
Nordeste, ou de uma aldeia, dizendo
“meu marido não me deixa sair”,
mulheres em situações desesperadoras,
à beira do surto. Quando a pessoa estava
surtada, quando não tinha a quem
recorrer, eu dizia: “Procure alguém para
falar, e se não tiver ninguém procure o
padre, o pastor da sua cidade”. Muitos
anos depois continuo ouvindo de gente
que deu o nome de Marina para a filha
por minha causa. Ou encontro mulheres
que me liam desde a adolescência.
VFI D
IMA DE PAPO
Garota de Ipanema
Marina Colasanti, além de menina cabeça, sempre teve um corpinho pronto para a vida ą beira-mar.
Mergulhava com o irmćo Arduíno, jogava frescobol, pegava jacaré com a mesma desenvoltura que escrevia livros,
pintava quadros, assim como as garotas privilegiadas da sua turma. “Nós fazíamos nossos biquínis. Eu fiz um todo
amarradinho na lateral, modelo que copiei de um calçćo do Arduíno”. Esta foto, Marina de cabelo curtinho,
foi tirada na década de 60, na época em que ela trabalhava no Jornal do Brasil.