Vous êtes sur la page 1sur 6

AARÃO BRITO – O MAGISTRADO DA TOGA IMPOLUTA

AARÃO ARARUAMA DO REGO BRITO era filho legítimo do Capitão Antonio


Raimundo de Oliveira Brito, homem culto e austero, e D. Leopoldina Fausta de
Moraes Rego, sendo seus irmãos Enéas de Oliveira Brito e o cônego Hemetério
Brito , vigário de Viana. Nasceu na então Vila de Rosário – MA, a 1º de julho de
1864, ano em que seu pai fora nomeado alferesda Companhia Avulsa nº 4 da
reserva da Guarda Nacional. A edição de O Paiz de 4 de junho de 1864, p.2, registra:

“Rosário. – Por portaria da presidência, de 4 do corrente, foi nomeado, sobre


proposta do respectivo comandante, o sargento Antonio Raimundo de Oliveira
Brito, para o posto de alferes da companhia avulsa nº 4 da reserva da Guarda
Nacional dessa vila, que se acha vago por falecimento de Felix Antonio Martins
Neves”.

E na “Pacotilha”, de 11de janeiro de 1883, p.3, lê-se:

“Foram agregados os seguintes oficiais: O Capitão comandante da extinta


companhia avulsa nº4, da reserva do município do Rosário, Antonio Raimundo de
Oliveira Brito, ao nº 13 do mesmo município”.

Formou-se na Faculdade de Direito de Recife, em 1889 , tendo feito os


exames preparativos no Liceu Maranhense .

Numa das suas viagens à capital pernambucana, em 1887, portanto antes de


bacharelar-se em Direito, foi náufrago do vapor “Bahia”, um dos mais importantes
navios que ligavam os portos do Nordeste ao Sudeste.

No dia 24 de março o “Bahia” navegava à altura da praia de Ponta de Pedra, no


norte do Estado de Pernambuco. Por volta das 23h, foi avistado, navegando em sua
direção, outro navio. A despeito das tentativas de mudar bruscamente a rota, o
“Bahia” acabou sendo violentamente atingido a bombordo pelo vapor “Pirapama”,
da Companhia Pernambucana de Navegação a Vapor. Havia cerca de duzentas
pessoas a bordo, entre tripulantes e passageiros, incluindo parte do 15º Batalhão
de Infantaria do Exército Brasileiro. Muitos atiraram-se ao mar ainda sem roupas,
agarrando-se aos mastros ou quaisquer coisas que flutuassem, na tentativa de
salvar-se. Em menos de dez minutos o “Bahia” estava no fundo do mar. Nos dias
seguintes ao desastre, trinta cadáveres flutuaram por entre os destroços, inclusive
o do Comandante, o 2º Tenente Aureliano Isaac. Entre os poucos sobreviventes
achavam-se Aarão Brito e seu colega Joaquim Pires.

Essa tragédia ficou profundamente marcada no inconsciente coletivo, sendo


relembrada nos jornais durante muitos anos, como se pode notar, por exemplo, no
“Diário do Maranhão”, de 25 de março de 1909, num artigo intitulado “TRISTE
ANIVERSÁRIO”:

“Passa hoje mais um aniversário da horrível catástrofe que teve lugar na


costa do vasto território brasileiro, entre Paraíba e Recife, com o naufrágio do
vapor “Bahia”, que abalroou com o “Pirapama”, da Companhia Pernambucana. A
horrível tragédia que enlutou grandíssimo número de famílias, em quase todo o
Brasil, também veio trazer profundo desgosto ao Maranhão, roubando-lhe
preciosas vidas, das quais, com justo motivo, se recordam hoje, parentes e amigos.
Dos sobreviventes à catástrofe estão atualmente entre nós, segundo pronto nos
lembra, uma senhora, que hoje é casada, e era então muito jovem, e o ilustrado Dr.
Aarão Brito, Juiz de Direito da Comarca de Viana, aos quais, por certo, a data que
passa lhes traz ao espírito a cruel lembrança dos sofrimentos e da luta
experimentados” (grifo meu).

Formado, Aarão Brito veio fazer carreira no Maranhão, sendo nomeado Promotor
Público de Viana, em 11 de novembro de 1891. Foi também Juiz Municipal e de
Órfãos do Baixo Mearim e Juiz de Direito da Comarca de Imperatriz, de 1896 a
1900.

No “Relatório” apresentado ao Exmo. Sr. Capitão-Tenente Manoel Ignácio Belfort


Vieira pelo 1º Vice-Governador Dr. Casimiro Dias Vieira Júnior, em 2 de fevereiro
de 1895, traz o seguinte informe: “De conformidade com o disposto no §4º do art.
14 da lei nº 19 de 15 de outubro de 1892, resolvi, por ato de 11 de junho último,
conceder aos Bacharéis Aarão Araruama do Rego Brito e Sebastião da Cunha Lobo,
Juízes de Direito, o 1º da Comarca de Imperatriz e o 2º da de Barra do Corda, a
permuta que solicitaram das respectivas comarcas” (grifo meu).

O Diário do Maranhão, de 18 de outubro de 1894, à p.2, registra: “O Dr. Aarão Brito


já assumiu o exercício de Juiz de Direito na Barra do Corda”. Portanto, tal permuta
ocorreu antes.

O historiador Galeno Edgar Brandes, em seu respeitável “Barra do Corda na


História do Maranhão”, à pág. 247, conta-nos que Aarão Brito “teve pela sua frente
os julgamentos mais sérios da nossa história. Na área das sedições, no crime e nos
conflitos de natureza social, que, até os dias de hoje, merecem exame e estudo pela
sua natureza controvertida, pelos aspectos antropológicos dos personagens neles
envolvidos e ainda confrontos entre grupos políticos e econômicos dominantes.
Basta citar que, contrariando a muitos pesquisadores e agradando a pessoas com
representação no meio daqueles anos, absolvera os caciques que formaram a linha
de frente da hecatombe do Alto Alegre, pronunciando apenas o chefe Caboré”.

Sobre seu casamento, havido em Barra do Corda, O Norte, de 5 de julho de 1902,


p.3, registra :
“Civil e religiosamente, consorciaram-se no dia 1º do corrente mês [1/7/1902], o
Ilm.º Sr. Dr. Aarão Araruama do Rego Brito e a Exma. Sr.ª D. Firma Francisca de
Sousa. Foram paraninfos do ato civil os Ilmos.Srs. Ten. Cel. Pedro José Pinto, Cel.
Fortunato Ribeiro Fialho, Ten. Cel. José Leonilda Cunha Nava, e as Exmas. Sras. D.
D. Maria Bonna e Aurora Nava, e do religioso os Ilmos.Srs. Dr. Raimundo Bonna e o
Ten. Cel. José Nava e sua Exma. esposa. Em regozijo a esse ato e como
demonstração de grande apreço em que é tido nesta localidade o Ilustre Sr. Dr.
Aarão, os seus amigos ofereceram-lhe e à sua Exma. esposa, no dia de ontem, no
palacete Catete, um esplêndido baile, uma festa entusiasta em que a alegria se
casara perfeitamente com a satisfação que entre os manifestantes e os
manifestados se notou durante essa animada diversão. O Dr. Aarão, com sua Exma.
família, pretende seguir amanhã para a cidade de Viana, sua nova Comarca.
Fazemos sinceros votos para que ali goze dos seus jurisdicionados a mesma
elevada consideração com que a Barra do Corda sempre o distinguiu”.

O Dr. Aarão Brito deixa a Comarca de Barra do Corda, seguindo para a de Viana,
para a qual havia sido transferido, no dia 7 de julho de 1902, a apenas uma semana
de seu casamento, causando profunda comoção a todos os seus moradores. O
mesmo jornal O Norte, de 12 de julho de 1902, noticiando o ocorrido, assim
exprimiu-se:

“Numeroso concurso de senhoras e cavalheiros levou até a rampa os ilustres


viajantes [Aarão e sua esposa], demonstrando assim o apreço e consideração em
que eram tidos entre nós. Desejamos-lhes ótima viagem”.

Nomeado Juiz da 1ª Vara da capital, em 1909, deixa a Comarca de Viana,


embarcando no vapor “Brasil”, rumo a São Luís, no dia 10 de setembro de 1909 , a
fim de assumir o exercício do seu novo cargo.

O Jornal do Brasil (RJ) dá conta que, a 6 de dezembro de 1909, “acompanhado de


sua Exma. família, chega à Capital [então no Rio de Janeiro] o Sr. Dr. Aarão Brito”.

NaPacotilha, de 27 de fevereiro de 1913, p.1, subscreve-se:

“Informa-se que está nomeado Chefe de Polícia do Estado, o Sr. Dr. Aarão A. do
Rego Brito, Juiz da 2ª Vara, que ontem recusara esse cargo, conforme dissemos,
baseados em declarações feitas, sem reservas, por S. Ex.ª. Em matéria de segurança
pública, a guarda da propriedade, nada teremos que pedir ao novo funcionário,
pois S. Ex.ª lê os jornais, necessariamente, e sabe quais as necessidades da nossa
população. O Dr. Aarão Brito achará, na chefatura, o exemplo do seu antecessor, o
Dr. Lisboa, filho, a quem se não podem regatear elogios, pela correção com que se
manteve no cargo, elogios esses que, partindo de nós, são insuspeitos”.
Vale ressaltar que por duas vezes o Dr. Aarão Brito assumira este importante cargo
na Segurança Pública do Estado. A primeira no governo do Dr. João Costa
(1º.abr.1901 a 4.2.1902) , quando ainda Juiz de Direito em Barra do Corda, e esta
segunda, na administração do Dr. Luís Domingues.

Em 22 de abril de 1913, deixa o cargo de Chefe de Polícia por ter sido nomeado
Desembargador do Superior Tribunal de Justiça, em lugar do Des. Tasso Coelho. O
Estado do Pará, de 25 de abril de 1913, sob o título “Justa Nomeação”, tece os mais
estimados encômios ao Dr. Aarão Brito, em face de tal nomeação, enaltecendo-lhe
as qualidades de juiz, cujo vulto “se destacava, apesar da modéstia com que
procurava esconder sua invulgar capacidade intelectual”.

Por decreto de 3 de junho de 1914, o Governo confirmou sua nomeação para


Desembargador do Superior Tribunal .

Sensível às injustiças sociais e contra elas militando bravamente, Aarão Brito


manifestou também sua indignação através da imprensa, como o mostra a
Pacotilha, de 28 de maio de 1918, p.4, em artigo intitulado “Por que não temos
justiça”, em que revela-nos “o caso de um pobre homem que foi absolvido pelo júri
desta capital, na sua última sessão e, até hoje, portanto há um ano, apodrece
ilegalmente na penitenciária porque ainda não apareceu um filho de Deus que
requeresse um habeas-corpus em seu favor”. Para esse fim, entretanto, não se
apropriou apenas do arsenal jurídico à sua disposição, como também fez-se
nomear Conselheiro de Honra da União Operária Maranhense (Vide A União, Rio
de Janeiro, de 20 de fevereiro de 1919, p.2.).

Carreira sempre ascendente, talvez uma das últimas promoções a que fora
laureadoo registrou O Jornal, S. Luís, de 23 de agosto de 1922, à pág. 4:

“Assumiu ontem o exercício interino do cargo de Procurador Geral do Estado, o


Desembargador Aarão Brito, durante o impedimento do funcionário efetivo,
Desembargador Pereira Junior”.

Às 12:00 h do dia 26 de novembro de 1922, acometido de um “acesso malárico de


caráter maligno, de brusca e fatal evolução”, morre o impoluto magistrado, após
quatro dias de obstinado padecimento, infenso a todos os desvelos da ciência.

S. Exa. Dr. Raul Machado, Governador do Estado, decretou luto por três dias.

A imprensa local e nacional dedicou-lhe amplo necrológio, dos quais transcrevo o


do Diário de São Luís, de 26 de novembro de 1922, p.3:
“Nos dias amargos que atravessamos, cheios de incertezas e de vacilações de todas
as conquistas da civilização, afigurando-se que o Direito e a Justiça para nós
entraram em franca bancarrota, é de todo para desanimar a notícia do
desaparecimento de um homem como o Dr. Aarão Brito, que no meio da
hecatombe da nossa magistratura era dos poucos que se conservam de pé.

Senhor de muito saber jurídico e de um caráter adamantino, constituía, de fato, no


nosso Tribunal da Relação, uma garantia contra os abusos do poder ou as
deficiências da ignorância na defesa dos direitos de quantos fossem bater ali à
porta da Justiça. Com a sua morte, abre-se, na verdade, um vácuo que será difícil de
preencher, mormente se o Governo, na escolha que fizer para tal fim, não se deixar
influenciar apenas pelo merecimento do escolhido, tendo em vista não só os reais
interesses de Justiça, senão também a gloriosa conduta do falecido a substituir, que
naquela cátedra, elevando bem alto a dignidade da magistratura com o seu
edificante exemplo, prestou ainda os mais inestimáveis serviços à causa pública no
Maranhão. A toda a sociedade maranhense, como a família do saudosíssimo morto,
enviamos, com toda sinceridade, as nossas condolências.

– Pegaram as alças do rico ataúde, os Srs. Raul Machado, Presidente do Estado,


Bezerra de Meneses, Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Alfredo de Assis,
Henrique Couto e Adolfo Eugênio Soares.

– Na ocasião de baixar ao túmulo o corpo do saudoso extinto, o Dr. Costa Gomes fez
uma comovente peroração, estudando a vida do morto ilustre.

O enterro, que esteve a cargo da conceituada casa Baltasar Pereira & Irmão,
realizou-se hoje pela manhã. Sobre o rico ataúde viam-se coroas com as seguintes
inscrições: “Ao pai extremoso, gratidão de Ademar e Waldemar”; “Saudade eterna
de sua mulher e filhos: Lágrimas de suas irmãs”; “Ao bom amigo Aarão Brito,
saudades de Raul Machado”; Dr. Mundico e família: “A Faculdade de Direito do
Maranhão ao seu catedrático Dr. Aarão Brito”; “O Superior Tribunal a Aarão Brito,
tributo de saudosa recordação e homenagem ao caráter e alevantadas virtudes do
inesquecível e leal companheiro”; “Ao Dr. Aarão, saudades de Wllysses Rodrigues”.

Aarão Brito é patrono da cadeira nº 1 da Academia Barra-Cordense de


Letras, fundada e ocupada atualmente por Dr. Fernando Eurico Lopes Arruda.

Vous aimerez peut-être aussi