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Hitói d

nmi mndil
Roger E. Backhouse

Hitói d
nmi mndil

dçã
Cl M Pini
ítl iinl:The Penguin History of Economics
Cpyit © R B, 2002. Pnin B Ltd, Rin
Unid, 2002
Cpyit © Edit Etçã Libdd, 2007, p t tdçã

Revisão Gzil Ct Pint, Rid Jnn


Assistência editorial Andé Rin, m Mizmi
Edição final de texto Anl Bjdn
Projeto gráfico Edilbt Fnnd Vz
Composição Jnn C. Bmnn / Etçã Libdd
Capa Nn Bittnt / Lt & Imm

Ilustração da capa Antni DitIl RMN


Cnltt.
© BPK, Blim, Campo/ di
©Rialto
Jö P. And
Almn, Blim. Gmäldli

A editora agradece a Claudia Pavani pela consultoria técnica.

CIP-BRASIL – CAALOGAÇÃO NA FONE


Sindit Ninl d Edit d Liv, RJ
B122
B, R, 1951-
Hitói d nmi mndil / R E. B ;
tdçã Cl M Pini. – Sã Pl : Etçã
Libdd, 2007
432 p.

dçã d: T Pnin ity  nmi


Apêndi
Inli biblif
ISBN 978-85-7448-127-2
1. Hitói nômi I. ítl.

07-2611. CDD 330.09


CDU 330(091)

Todos os direitos reservados à


Edit Etçã Libdd Ltd.
R Dn Eli, 116 | 01155-030 | Sã Pl-SP
l.: (11) 3661 2881 | Fx: (11) 3825 4239
www.tlibdd.m.b
sumário

agradecimentos 13

prólogo 15
a h   15
o q  ? 17
o       21
a h  q 23

1 o mundo antigo 25
H  H 25
a
(o econômico — Oikonomikos
)  Xf 27
o e   p 32
a  j   34
a   q  qz 38
r 40
cõ 43

2 a idade média 45
a   r 45
o j 47
o   49
o  51
d c m à   56


o r   Xii   
  58
n o     h 65
cõ 68

3 o surgimento da visão de mundo


moderno — o século Xvi 71
o r    
  71
a rf 74
a   e-  76
o  78
mq 80
a e  s     81
a i  t 84
a    Xvi 86

4 ciência, política e comércio na


inglaterra do século Xvii 87
a 87
c    ry sy 87
F  94
p  —  
 h      1620 98
a     100
a x  j     - 102
a    h 
 1690 107
a   i   Xvii 111

5 absolutismo e iluminismo na França


do século Xviii 113
p  e  113


c    
  Xviii 115
c   z
    118
o f
a i 124
125
t 130
o    Ancien Régime 135

6 o iluminismo escocês do século Xviii 137


a 137
Hh 139
H 141
s J s 144
a sh 149
d  h   152
a   155
sh   laissez-faire 157
o   
f   Xviii 159

7 a economia política clássica,


1790-1870 161
d ff  à   161
o     ff 165
a   167
a à   171
p      e 179
dh 182
Jh s m 185
K mx 189
cõ 198


8 a separação entre História e teoria
na europa, 1870-1914 201
a fz   201
J, W     203
a   ah   á 208
a  h    h
 g-bh 214
a   , 1900-1914 219

9 a ascensão da economia
norte-americana, 1870-1939 223

af
 -
  XiX  223
Jh b ck 226
a   229
th v 234
Jh r. c 238
p  - 240
e    - 242
a     247
a

 -
 XX  250

10 dinHeiro e ciclo econômico,


1898-1939 251
o    Wk 251
o   f 254
a    
  
g-bh:  mh  Ky 257
260
a  - 266
a Teoria geral  Ky 271
a  ky 274
a     -
   -s g m 278

10
11 econometria e economia matemática,
de 1930 até o presente 281
a z   281
a     
 284
a s e    
  290
Fh, t   c cw 293
a s g m 298
t  q  301
t  j 309
a z   ( ) 313

12 economia do bem-estar e socialismo,


de 1870 até o presente 317
s   317
o e   -  319
a e  l 322
o     324
e  -, 1930-1960 328
F    f  
cõ 332
334

13 os economistas e a política, de 1939


até o presente 339
o    f   339
e ky  j
 341
if
a   
  346
350
e   354
cõ 360

11
14 eXpandindo a disciplina, de 1960
até o presente 363
e  363
i  365
a  hx 368
n     371
o     XX 377

epílogo: os economistas e
sua História 381

nota sobre a literatura 385


reFerências 403

índice remissivo 411

12
agradecimentos

Boa parte deste livro foi escr ita durante meu período de
Leitorado de Pesquisa na Br itish Academy de 1 a 2000. Sou
grato à British Acad emy por seu apoio e aos muitos colegas que
leram vários esboços e cujos comentár ios detalhados ajudaram-
me a eliminar muitos er ros e melhorar a argumenta ção. São eles
Mark Blaug, Anthony Brewer, Bob Coats, Mary Morgan, Denis
O’Brien, Mark Perlman, Geert Reuten e Robert Swanson.
Gostaria de agradecer também aos assinantes da lista de e-
mail da History of Economics Society que atenderam a meus
pedidos de pequenas informações (geralmente datas) que não
consegui descobr ir por conta própria (Bob Dimand rev elou-se
uma mina de infor mações). Sou muito grato também a Fátima
Brandão e Antóni o Amoldovar por me convidarem a ministrar
um curso na Universidade do Porto que me ajudou a selecionar
idéias sobre como organizar o material na segunda metade do
livro. Stefan McGrath, da Penguin Boo ks, encorajou-me a em-
barcar neste projeto e foi paciente quando estourei em muito
o prazo inicial. Ele também me forneceu sugestões preciosas,
assim como Bob Davenport, cuja edição de texto no esboço
final foi exemplar e me poupo u muitos er ros. Nenhum a dessas
pessoas, é claro, tem responsabi lidade por algum er ro que possa
persistir.
gostaria dePoragúltimo,
radecermas seguramente
a minha f amília:não menos
Alison, importante,
Robert e Ann.

13
prólogo

a h  
Este livro aborda a história das tentativas de compreender fenô-
menos econômicos. Ele trata do que foi distintamente descrito
como a história do pensamento econômico, a história das idéias
econômicas, a história da análise econômica e a história das dou-
trinas econômicas. Ele não se interessa, senão incidentalmente,
pelos fenômenos econômicos em si, mas sim pela maneira como
as pessoas tentaram entendê-los. Tal como a história da filosofia
ou a história da ciência, esta é um ramo da história intelectual.
Para ilustrar esse ponto, o assunto do livro não é a Revolução
Industrial, a ascensão da grande empresa ou a Grande Depressão
— é como pessoas como Adam Smith, Karl Marx, John Maynard
Keynes e muitas figuras menos conhecidas perceberam e analisaram
o mundo econômico.
Escrever a história das idéias econômicas demanda a tessi-
tura de muitas histórias diferentes. Exige, evidentemente, narrar
a história das pessoas que estavam produzindo as idéias — os
próprios economistas. Exige também cobrir a história econô-
mica. Os cientistas naturais podem imaginar, por exemplo, que a
estrutura do átomo e a estrutura molecular do DNA são hoje as
mesmas que no tempo
fazer suposições de Aristóteles.
comparáveis. O mundo Economistas
que se lhesnão podem
apresenta
mudou radicalmente, mesmo ao longo do último século. (Talvez
haja algum sentido em que a “natureza humana”tenha sido sempre
a mesma, mas a importância e o significado precisos disso não são
claros.) A história política também é importante, pois os aconte-
cimentos políticos e econômicos estão inextricavelmente ligados

15
história da economia mundial

e os economistas têm-se envolvido ou não, com igual freqüência,


direta ou indiretamente, na política. Eles tentaram influenciar a
política, e as preocupações políticas os influenciaram. Por fim, é
preciso considerar as transformações em disciplinas afins e no clima
intelectual subjacente. Os preconceitos e os modos de pensar dos
economistas são inevitavelmente formados pela cultura em que eles
produzem. A história da economia precisa, portanto, mencionar
as histórias da religião, da teologia, da filosofia, da matemática e
da ciência, além da economia e da política.
Dificulta a questão o fato de que as relações entre essas várias
histórias não são simples. Não se justifica alegar, por exemplo, que
as conexões se fazem exclusivamente da história econômica ou
política para as idéias econômicas. As idéias econômicas se alimen-
tam da política e influenciam o que acontece em economia (não
necessariamente do modo como seus inventores pretendiam); os
três tipos de história são interdependentes. O mesmo vale para a
relação entre a história da economia e a história intelectual em
geral. Os economistas tentaram aplicar em sua própria disciplina
as lições aprendidas da ciência — fosse ela a ciência de Aristóteles,
de Newton ou de Darwin.Eles são influenciados por movimentos
filosóficos como o Iluminismo, o positivismo ou o pós-moder-
nismo, e por influências de que não temos a menor consciência.
Mas as conexões também se fazem na direção oposta. A teoria
de seleção natural de Darwin, por exemplo, foi fortemente in-
fluenciada pelas idéias econômicas de Malthus. Em suma, as idéias
econômicas são um elemento integrante da cultura.
Um fator que contribui para a interdependência da economia
e outras disciplinas e a vida intelectual em geral é que, ao menos
até recentemente, a economia não era uma atividade exercida por
um grupo demodernas
disciplinares especialistas chamados “economistas”.
simplesmente As fronteiras
não existiam; além disso, o
papel das universidades na sociedade mudou de maneira radical.
Entre os responsáveis pelo desenvolvimento de idéias econômicas
estavam teólogos, advogados, filósofos, empresários e funcionários
públicos. Alguns tinham cargos acadêmicos, mas muitos outros
não. Adam Smith, por exemplo, era um filósofo moral, e suas

16
prólogo

idéias econômicas integravam um sistema de ciência social mui-


to mais amplo radicado na filosofia moral. Além disso, as pessoas
que escreveram o cânone convencional da literatura econômica
ocuparam diversas posições nas sociedades em que viveram, razão
por que as comparações entre tempos diferentes devem ser muito
cautelosas. Quando o autor do século XIII Tomás de Chobham
escreveu sobre comércio e finanças, ele estava oferecendo um
guia para padres confessores. O equivalente atual de sua obra
talvez devesse ser buscado não na moderna economia acadêmica,
mas nas encíclicas pontifícias. Gerard Malynes e Thomas Mun,
que escreveram na Inglaterra do século XVII e são considerados
contribuintes para a nossa compreensão das taxas de câmbio e do
comércio exterior, eram, respectivamente, funcionário público e
mercador.Talvez devessem ser considerados precursores de pessoas
como Jacques Polak, do Fundo Monetário Internacional, ou o
financista James Goldsmith.
Ao escrevermos uma história da economia cobrindo qualquer
período mais extenso que o século passado,não temos outra escolha
senão selecionar uma grande variedade de literatura escrita por
pessoas diferentes para fins diferentes em circunstâncias diferentes.
Aliás, uma das coisas mais interessantes em história é observar o
que aconteceu com as idéias quando elas foram consideradas por
diferentes autores e usadas para diferentes fins. Isso significa que é
preciso ter o cuidado de não tratar escritores do passado como se
fossem economistas acadêmicos modernos.

o q  ?

Até
que aqui, a discussão
são economia se apoiou no
e fenômenos pressupostomas
econômicos, de ésabermos o
fato sabido
que economia é um termo difícil de definir. A definição mais
amplamente usada do tema talvez seja a de Lionel Robins:
“Economia é a ciência que estuda o comportamento humano
como relação entre fins e meios escassos que têm usos alterna-
tivos.”1 Os fenômenos que associamos à economia (preço,dinheiro,

1
história da economia mundial

produção, mercado, barganha) podem ser vistos ora como conse-


qüências da escassez, ora como maneiras pelas quais as pessoas
tentam superar o problema da escassez. A definição de Robbins
percorre um longo caminho para captar as características comuns
a todos os problemas econômicos, mas ela representa uma visão
muito específica e limitada da natureza desses problemas. Por que,
por exemplo, as operações de empresas multinacionais em países em
desenvolvimento ou o planejamento de uma política para reduzir o
desemprego em massa deveriam ser vistos como algo que envolve
escolhas sobre o uso de recursos limitados? É irônico, talvez, que
a definição de Robbins seja de 132, nas profundezas da Grande
Depressão, quando o principal problema econômico mundial era
a ociosidade de recursos imensos de capital e trabalho.
Uma definição mais natural é a do grande economista vi-
toriano Alfred Marshall, que definiu economia como o estudo
da humanidade nos negócios ordinários da vida. 2 Sabemos o que
ele quer dizer com isso, e é difícil discordar, embora sua definição
seja muito imprecisa. Ela poderia ser precisada dizendo-se que a
economia trata de produção, distribuição e consumo da riqueza
ou, com mais precisão ainda, trata de como a produção é orga-
nizada para satisfazer necessidades humanas. Outras definições
incluem as que definem economia como lógica da escolha ou
como estudo de mercados.
Talvez seja tão importante o que essas definições dizem
quanto o que não dizem. O tema da economia não é definido
como a compra e venda de bens, os mercados, a organização de
empresas, a bolsa de valores ou mesmo o dinheiro. Todos esses
são fenômenos econômicos, mas em algumas sociedades eles não
ocorrem. Por exemplo, pode haver sociedades em que o dinheiro
não exista não
produção (ou seja
cumpra uma por
realizada função apenasoucerimonial),
empresas, em que a
em que as transações
sejam realizadas sem mercados. Essas sociedades enfrentam proble-
mas econômicos — como produzir bens, como distribuí-los, etc.
— apesar de os fenômenos que normalmente associamos à vida
econômica estarem ausentes. Fenômenos como empresas, bolsa de
valores, dinheiro, etc. são mais bem apreciados como instituições

1
prólogo

que surgiram para solucionar problemas econômicos mais funda-


mentais, comuns a todas as sociedades. É preferível definir a econo-
mia, portanto, em relação a esses problemas mais fundamentais do
que em relação a instituições que existem em algumas sociedades,
mas não em outras.
Quem quiser escrever uma obra sistemática sobre “princí-
pios de economia” terá de se decidir por uma definição específica
do tema e trabalhar dentro dela, mas o historiador não precisa
agir assim. Ele pode partir das idéias que compõem a economia
contemporânea — idéias que são encontradas no ensino de eco-
nomia e estão sendo desenvolvidas por pessoas reconhecidas como
economistas. Estas, porém, não oferecem uma definição exata
porque as fronteiras da disciplina são imprecisas. Acadêmicos, jor-
nalistas, autoridades públicas, políticos e outros autores (inclusive
romancistas) desenvolvem e trabalham com idéias econômicas.
As fronteiras do que constitui a economia são ainda mais confun-
didas porque as questões econômicas são analisadas não só por
“economistas”, mas também por historiadores, geógrafos, ecolo-
gistas, cientistas de gestão e engenheiros. (Esses textos podem não
ser o que economistas profissionais considerariam uma economia
“boa” ou “séria”, e podem estar eivados de argumentos falaciosos,
mas essa é outra questão — ainda tratam de economia.) Abordar o
tema com esse viés pragmático pode parecer menos desejável do
que definir economia em termos do seu assunto.Na prática,porém,
é uma abordagem operável e, provavelmente, corresponde ao que
a maioria dos historiadores realmente faz, ainda que professem
trabalhar dentro de uma definição analítica estrita do tema.
Uma vez decidido o que constitui a economia contempo-
rânea, pode-se trabalhar da frente para trás, investigando as raízes
das idéias
gumas encontradas
dessas até onde levarão
raízes claramente se estiverpara
decidido
fora doa chegar. Al-
tema (por
exemplo, para a mecânica newtoniana ou a Reforma), e o histo-
riador da economia não irá além. Outras conduzirão a idéias que
o historiador decidirá se ainda contam como economia, apesar
de sua apresentação e de seu conteúdo poderem ser diferentes
dos encontrados na moderna economia, e essas serão incluídas

1
história da economia mundial

na história. O resultado dessa escolha é que, quanto mais longe


retrocedermos na história, mais discutível será se algumas idéias
são “econômicas” ou não. Quando as pessoas declaram, como
fazem, que determinado indivíduo ou grupo é o “fundador” da
economia, elas estão declarando que autores mais antigos não
devem ser considerados economistas.
Isso suscita duas questões importantes sobre a escritura da
história da economia. Onde ela deve começar? E a nossa perspec-
tiva do passado não estará distorcida por ter sido obtida na ótica
da economia atual?
Alguns historiadores defenderam que a economia pro-
priamente dita só começou depois de ingressarmos no mundo
moderno (digamos, no século XV ou XVI), ou até mesmo no
século XVIII, quando Adam Smith sistematizou uma parte
considerável do trabalho de seus predecessores. A economia,
prossegue o raciocínio, trata de analisar o comportamento hu-
mano e a maneira como as pessoas interagem por inter médio dos
mercados e reagem às mudanças no seu ambiente econômico.
Os primeiros autores, afirma, tinham preocupações muito dife-
rentes, como as questões morais e teológicas, sobre a justiça do
mercado ou sobre emprestar com juros, e sua obra não deveria
ser classificada de economia.
Há um grande problema nesse raciocínio, porém: simples-
mente não é possível traçar uma clara linha divisória entre o que
constitui análise econômica e o que não, ou entre o que constitui
economia “real”ou “propriamente dita” e o que não. Por exemplo,
os argumentos teológicos e morais sobre a justiça de atividades co-
merciais pressupõem uma compreensão de como opera a economia.
O conteúdo econômico dessa escrita pode estar meio oculto ou
obscuro, masestão
econômicas está lá. A visão também
presentes subjacente
na neste livro é que
Antigüidade, as idéias
e que essas
idéias antigas são relevantes na tentativa de identificar as srcens
da economia moderna. Mais ainda, até mesmo no século presente,
a economia trata de questões normativas (questões sobre o que
deve ser feito), algumas delas paralelas às tratadas pelos antigos.
Os economistas discutem eternamente se esta ou aquela política

20
prólogo

melhorará o bem-estar da sociedade.Pode estar fora de moda pensar


que isso envolve ética ou moralidade, mas os pressupostos éticos
subjazem à economia moderna tal como acontecia no pensamento
de Aristóteles sobre o mercado.O Velho Testamento contém muitas
idéias econômicas, bem como a poesia de Homero. Numa história
geral da economia, talvez não seja preciso se debruçar sobre esses
textos, mas eles fazem parte da história.
Minha argumentação pode ser resumida dizendo que a eco-
nomia não tem um começo ou um “fundador”; as pessoas sempre
pensaram em questões que hoje consideramos parte da economia.
Neste livro, começa-se com a Grécia antiga e o mundo do Velho
Testamento, pois é preciso começar em algum lugar, mas eles não
representam o começo dos estudos econômicos.

o      


A abordagem esboçada acima, centrada no que tem sido chamado
de “filiação de idéias econômicas”, hoje está fora de moda. Numa
sociedade pós-moderna, a moda é destacar a relatividade histórica
das idéias e desacreditar qualquer tentativa de ver idéias passadas
da perspectiva do presente. Mas quem escrever uma história do
pensamento econômico necessariamente verá o passado, até certo
ponto, da perspectiva do presente. O simples focar em idéias “eco-
nômicas” implica selecionar idéias passadas segundo uma categoria
moderna. Por mais que tentemos, jamais conseguiremos escapar
por completo de nossos conceitos prévios associados às perguntas a
que estamos tentando responder.É melhor declarar esses conceitos
o mais explicitamente possível do que fingir que eles não existem.
O
queobjetivo deste
ela é hoje, livro
neste é explicar
início como
de século a economia chegou ao
XXI.
Uma abordagem comum é escrever uma história cobrindo
o cânone aceito de textos “importantes” sobre economia. Mas isso
significa apenas apoiar-se nos juízos que outros fizeram no passado.
Não evita o problema da escolha pessoal de materiais influenciada
pelos próprios interesses. O que geralmente acontece é que os

21
história da economia mundial

historiadores principiam com um cânone convencional — uma


lista de obras, personagens ou movimentos que são considerados
representantes da economia do passado. Eles, então, modificam
isso, aumentando a ênfase em alguns lugares, reduzindo em outros,
em resposta às questões que lhes interessam e às evidências que
encontram. Se a economia mudou, o mesmo aconteceu com as
visões sobre o que constitui o cânone apropriado.
Abordar o passado na perspectiva do presente pode resultar,
porém, em relatos que formam histórias muito pouco convin-
centes. Quando o caso relatado é de progresso dos primórdios
toscos à “verdade” alcançada pelos amigos, contemporâneos
ou outros heróis do historiador, o resultado é o que veio a ser
chamado de “história whig”, conforme os whigs do século XIX
que contaram a história da Grã-Bretanha dessa maneira, e os
leitores estão certos em sua desconfiança. Mas a atitude whig é
partilhada por muitos economistas, alguns dos quais escreveram
histórias da economia. Eles acham difícil aceitar que as teorias
e as técnicas de sua própria geração (para as quais eles próprios
contribuíram) possam não ser superiores às de gerações ante-
riores. Os críticos de tal obra estão certos quando argumen-
tam que essa abordagem não compreende questões históricas
importantes e resulta, muitas vezes, numa caricatura do que real-
mente aconteceu.
Analisar o passado para compreender o presente não precisa
significar, porém, contar a história como se ela fosse de progresso.
As razões por que as idéias evoluíram do jeito que evoluíram
incluirão acidentes históricos, interesses adquiridos, preconceitos,
incompreensões, erros e toda sorte de coisas que não se encaixam
em causas do progresso. O relato pode envolver algumas linhas de
investigação desaparecendo
dera economia. ou se afastando
Pode-se descobrir, do que
olhando para trás,hoje
que segerações
consi-
anteriores estavam fazendo perguntas diferentes — talvez, até


Membros do partido liberal-conservador que surgiu depois da revolução
de 16 e que pretendia subordinar o poder da Coroa ao Parlamento in-
glês. [N. T.]

22
prólogo

mesmo, perguntas que achamos difíceis de entender —, resultando


em uma noção problemática de progresso.

a h  q


A história relatada neste livro reflete claramente algumas vi-
sões convencionais sobre o que constitui economia — alguns
tópicos são incluídos porque é “óbvio” que deveriam estar lá.
O editor (para não mencionar muitos leitores) ficaria chateado
se o texto não trouxesse nada sobre Adam Smith, David Ricardo,
Karl Marx ou John Maynard Keynes. Ele é perceptivelmente uma
história da economia, tal como o termo é normalmente entendido.
Contudo, ele parte do cânone convencional tanto na importância
relativa que atribuí a figuras diferentes como em muitos dos tópicos
que contém. Ele também procura situar as pessoas num contexto
histórico apropriado — um que elas poderiam ter reconhecido.
O livro não está organizado em tor no das “grandes figuras”
do passado, como já foi comum. Os capítulos começam tipi-
camente com uma discussão do contexto histórico e seguem
dali para as idéias econômicas que surgiram. A ênfase na história
econômica, na política e na intelectual varia ao longo do livro,
mas em geral é menos destacada à medida que a história avança.
A razão principal disso é que,quando se discutem períodos em que
a economia se distinguia menos claramente de outras disciplinas,
é mais importante discutir as idéias fora da economia. À medida
que a economia foi-se desenvolvendo numa matéria acadêmica
ao longo do século XIX, os problemas que os economistas en-
frentavam passaram a ser, cada vez mais, os que surgiam dentro da
disciplina. Por todo
e circunstâncias dasoquais
livro,surgiram
também,idéias
a ênfase é dada às comunidades
econômicas, em vez de
centrá-la em indivíduos:no que poderia ser frouxamente chamado
de sociologia da profissão econômica. A posição dos economistas
(ou, mais precisamente, a posição de pessoas que refletem sobre
assuntos econômicos) na sociedade mudou, e isso influenciou a
maneira como as idéias se desenvolveram. Os capítulos que tratam

23
história da economia mundial

de materiais antigos, portanto, contêm muita história geral. À


medida que a história se desenvolve, porém, as idéias econômicas
tornam-se muito mais proemine ntes e a histór ia geral passa a de-
sempenhar um papel menor. No século XX, quando a economia
havia-se tornado uma disciplina predominantemente acadêmica,
as idéias econômicas estavam-se transformando por razões subs-
tancialmente internas à disciplina.
O livro cobre o cânone convencional, mas este é questio-
nado de muitas maneiras. O mundo islâmico penetra a história
medieval. A filosofia política e o desafio hobbesiano são elemen-
tos importantes no capítulo sobre a Inglaterra do século XVII.
Smith é visto como um filósofo moral e colocado no contexto
do Iluminismo escocês. Malthus é retratado não só como econo-
mista puro ou demógrafo, mas como alguém que contribui para
debates políticos contemporâneos. As contribuições teóricas de
autores franceses e alemães do começo do século XIX são co-
locadas ao lado das de suas contrapartes inglesas. Chamberlin é
discutido no contexto da economia industrial norte-americana,
e não no da polêmica britânica sobre custo. A lista poderia con-
tinuar. A mudança mais significativa, porém, é que o século XX
constitui uma parte primordial do relato (quase metade do livro).
Ao cobri-lo, procurei dar um quadro o mais amplo possível do
assunto. Com o objetivo central de explicar como a disciplina
chegou ao seu estado presente, destaquei claramente os desdo-
bramentos no interior de seu “núcleo” teórico. No entanto, não
são a história toda.
Ao contar essa história, apoiei-me inevitavelmente em
histórias escritas por especialistas nos vários períodos cobertos
pelo livro. As “inovações” mencionadas no parágrafo anterior são
todas extraídas
me afastar dessas convencional
da história obras. O número de ao
reflete, pontos
menosemem
que pudeo
parte,
acervo de obras recentes sobre a história do pensamento econô-
mico — e isso é particularmente verdadeiro para o século XX.
Minhas dívidas principais foram levadas em conta nas sugestões
de leitura no final do volume.

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