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Licenciatura em Espanhol

Teoria da Literatura II
Ana Santana Souza
Ilane Ferreira Cavalcante

A narrativa e suas formas

Aula 01
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
RIO GRANDE DO NORTE
Campus EaD

GOVERNO DO BRASIL TEORIA DA LITERATURA II


Aula 01
Presidente da República A narrativa e suas formas
DILMA VANA ROUSSEFF
Professor Pesquisador/conteudista
Ministro da Educação ANA SANTANA SOUZA
ALOIZIO MERCADANTE ILANE FERREIRA CAVALCANTE
Diretor de Ensino a Distância da CAPES Diretor da Produção de Material Didáti-
JOÃO CARLOS TEATINI co
ARTEMILSON LIMA
Reitor do IFRN
BELCHIOR DE OLIVEIRA ROCHA Coordenadora da Produção de
Material Didático
Diretor do Câmpus EaD/IFRN ROSEMARY PESSOA BORGES
ERIVALDO CABRAL
Revisão Linguística
Diretora Acadêmica do Câmpus EaD/IFRN MARIA TÂNIA FLORENTINO DE SENA
ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE NASCIMENTO
Coordenadora Geral da UAB /IFRN Coordenação de Design Gráfico
ILANE FERREIRA CAVALCANTE LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA
Coordenador Adjunto da UAB/IFRN Diagramação
JÁSSIO PEREIRA GEORGIO NASCIMENTO
Coordenadora do Curso a Distância
de Licenciatura em Letras-Espanhol
CARLA AGUIAR FALCÃO

Ficha Catalográfica
Aula 01
A narrativa e suas formas

Apresentação
Apresentação e
e Objetivos
Objetivos

Esta é a primeira Aula de mais uma disciplina teórica sobre literatura. Em Teoria
da Literatura I, você estudou as principais correntes críticas do século XX e a análise
dos gêneros poéticos, principalmente os gêneros líricos. Em teoria da literatura II, o
foco passa a ser os gêneros narrativos e os recursos técnicos para a construção desses
gêneros. Esperamos que você aprecie a disciplina e se encante cada vez mais pela lit-
eratura. Ao final dessa primeira Aula, você deverá ser capaz de:

●● conhecer os fundamentos da teoria acerca dos gêneros narrativos;

●● conhecer a poesia épica e o romance; e

●● estabelecer algumas diferenças entre esses dois gêneros.

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Para Começar

Para a muito estranha embora muito famil-


iar narrativa que estou a escrever, não espero nem
solicito crédito. Louco, em verdade, seria eu para
esperá-lo, num caso em que meus próprios sen-
tidos rejeitam seu próprio testemunho. Contudo,
louco não sou e com toda a certeza não estou
sonhando. Mas amanhã morrerei e hoje quero
aliviar minha alma. Meu imediato propósito é
apresentar ao mundo, plena, sucintamente e sem
comentários, uma série de simples acontecimen-
tos domésticos. Pelas suas conseqüências, estes
acontecimentos, me aterrorizam, me torturaram e
Fig. 01 - O gato preto. me aniquilaram. Entretanto, não tentarei explicá-
los. Para mim, apenas se apresentam cheios de
horror. Para muitos, parecerão menos terríveis do que grotescos. Mais tarde, talvez,
alguma inteligência se encontre que reduza meu fantasma a um lugar comum,
alguma inteligência mais calma, mais lógica, menos excitável do que a minha e
que perceberá nas circunstâncias que pormenorizo com terror apenas a vulgar
sucessão de causas e efeitos, bastante naturais.

Edgar Allan Poe. O gato preto. Disponível em: <http://www.gargantadaserpente.com/


coral/contos/apoe_gatop.shtml>. Acesso em: 6 fev. 2013.

O fragmento que você lê acima é a parte inicial de um dos textos mais populares
do escritor americano Edgar Allan Poe. É possível perceber, logo a princípio, que se
trata de um texto narrativo, ou seja, conta uma história, traz um relato de acontecimen-
tos que podem ser fictícios ou não. Você pode ler o texto completo em <http://www.
gargantadaserpente.com/coral/contos/apoe_gatop.shtml>.

Nesse caso específico, o texto é um conto escrito por um escritor do século XIX,
um texto precursor do terror psicológico que faz tanto sucesso hoje em dia tanto em
narrativas literárias quanto em narrativas filmográficas. Com certeza você já leu ou as-
sistiu a Harry Potter ou à série Crepúsculo, não é mesmo? Todas essas séries nasceram a
partir das experiências com narrativas fantásticas ou sobrenaturais de escritores como
Mary Shelley, Edgar Allan Poe, E.T.A. Hoffman, entre outros. Mas, você saberia indicar
o que diferencia um conto, caso desse texto, de um romance ou de uma narrativa em
versos? Nesta Aula, vamos conhecer um pouco desses diferentes gêneros narrativos.

Egar Allan Poe (1809 a 1849) foi autor, poeta, editor e crítico literário
norte-americano e fez parte do movimento romântico nos EUA. Criador do gêne-
ro ficção policial, Poe é um escritor situado historicamente no romantismo norte-
americano. Seus contos de terror psicológico, no entanto, são os mais conhecidos
textos de sua obra.

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Mary Shelley (1797 a 1851), dramaturga, ensaísta, biógrafa e escritora
inglesa mais conhecida por sua novela gótica Frankenstein: ou O Moderno Prom-
eteu (1818).

E. T. A. Hoffman (1776 a 1822) foi escritor, desenhista, crítico musical e com-


positor alemão. Admirado e louvado por alguns dos maiores escritores do século
XIX, é considerado um mestre da literatura fantástica.

Assim é

1. Os gêneros narrativos

Contar histórias sempre foi a arte de contá-


las de novo, e ela se perde quando as histórias não
são mais conservadas.

Walter Benjamin, O narrador.

Você viu, em Teoria da Literatura I, que Aris-


tóteles definiu, em sua Poética, os gêneros literários
na antiguidade clássica em três tipos principais: épi-
Fig. 02 - Contação de histórias. co, trágico e lírico. Sobre o gênero épico, aliás, ele
afirma, inclusive, que um dos aspectos que diferen-
ciam os gêneros entre si é a forma como lida com os personagens. No caso da poesia
épica e da tragédia, por exemplo, eles representariam os homens melhores do que
eles realmente o são e isso distinguiria esses gêneros da comédia, que representa os
homens piores do que eles realmente o são.

Para Aristóteles, o que diferencia o trágico, gênero que ele prioriza em contra-
posição aos demais, é que nele os personagens agem diante dos espectadores. E a
poesia épica, o que a torna diferente dos demais gêneros? Aristóteles afirma: “entendo
por épica a que enfeixa muitas fábulas” (2012, p. 28). Ou seja, o gênero épico contém
muitas histórias entrelaçadas em torno de um protagonista: o herói.

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A épica é, portanto, uma narrativa. Um gênero clássico que contém uma longa
narrativa. Vale lembrar que Aristóteles está sempre falando dos textos em verso. Essa
era a principal forma de registar o texto literário na antiguidade, logo é aquele que
Aristóteles considera em sua análise. Ao apresentar a origem das definições dos gêne-
ros narrativos, comentando a divisão aristotélica, Stalloni demonstra a diferença entre
os gêneros narrativos e os demais:
- uma representação defasada, mediatizada – e não direta, como no teatro
(na narrativa, a fala é contada);
- a presença implícita de uma voz, que é a do narrador;
- uma enunciação que varia segundo o poeta fale em seu próprio nome ou
confunda-se com a fala de uma personagem. (STALLONI, 2007, p. 74)

Podemos concluir, portanto, que a poesia épica pos-


sui um narrador que narra uma história para alguém (es-
pectador ou leitor) e com falas que representam a voz dos
personagens. Esses aspectos diferenciariam esse gênero
narrativo dos demais gêneros clássicos. Você já leu algum
poema épico? Os que Aristóteles cita de forma mais fre-
quente são a Odisseia e a Ilíada. Você os conhece? Pesquise
sobre eles! A Odisseia é a narrativa sobre o herói grego
Odisseus (mais conhecido como Ulisses, seu nome latino)
em sua viagem de volta da guerra de Troia para sua casa,
em Ítaca. Nessa viagem, Odisseus se depara com entes mi-
tológicos, com naufrágios, enfim, com inúmeras desventu-
ras e passa-se longo tempo até que consiga retornar para
casa e para a sua família, sua esposa Penélope e seu filho
Fig. 03 - Odisséia e Ilíada.
Telêmaco. Veja um trechinho dessa narrativa:

O homem canta-me, ó musa, o multifacetado, que muitos males padeceu,


depois de arrasar Troia, cidadela sacra. Viu cidades e conheceu costumes de
muitos mortais. No mar, inúmeras dores feriram-lhe o coração, empenhado
em Salvar a vida e garantir o regresso dos companheiros. Mas não conseguiu
contê-los, ainda que abnegado. Pereceram, vítimas de suas presunçosas lou-
curas. Crianções! forraram a pança com a carne das vacas de Hélio Hipérion.
Este os privou, por isso, do dia do regresso. Das muitas façanhas, Deusa, filha
de Zeus, conta-nos algumas a teu critério.
(HOMERO, 2007, p.13)

Observe que há um narrador, que pede ajuda às musas para contar a história
daquele que “muitos males padeceu, depois de arrasar Troia”. Nessa narrativa, afirma
ele, irá contar as inúmeras dores, as aventuras e desventuras que ele (o herói) e seus
companheiros viveram até o dia de seu regresso. Esse narrador pede ainda que a de-
usa, filha de Zeus, (ele se refere à Atenas), conte também algumas dessas aventuras
desse herói.

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Observe também que o herói é representado de forma bastante positiva, ele
é forte, valoroso e bom (pois estava “empenhado em salvar a vida e garantir o re-
gresso dos companheiros”), embora nem sempre logre seus intentos. A culpa de seu
fracasso, no entanto, não é dele, mas dos companheiros, que são “vítimas de suas
presunçosas loucuras”.

A narrativa épica também se caracteriza por tratar de um tema vasto, ou seja,


de uma guerra entre nações, de uma viagem infindável em busca de algo, enfim, de
várias aventuras vividas por um determinado herói.

Outro fato importante é que o narrador, que no poema épico narra, em geral,
narra na terceira pessoa do verbo, uma técnica bastante comum na narrativa tradi-
cional. Ele é senhor do conhecimento de toda a história, do seu início ao fim, pois
narra algo que aconteceu em um passado muito distante, mítico, até. Tanto é que,
afirma Benjamin (1985, p.210), “a memória é a mais épica de todas as faculdades.” É
por meio da memória e da experiência que o narrador épico expõe as aventuras do
seu herói.

A poesia épica é um poema longo, cuja figura central é um herói superior aos
homens comuns, que carrega em si os valores de seu povo (de sua nação) e que sofre
as consequências de uma batalha decorrente de ações humanas e divinas. Sua nar-
rativa, lembra Stalloni(2007, p.78)

[...] ancora-se na história de um país, do qual ela fornece a crônica, amplamente


alimentada por mitos e lendas. Mas, no decorrer do tempo, essa representação dos
fundamentos do mundo desliza mais para o lado da lenda, até vir a colocar-se de-
liberadamente no terreno do imaginário maravilhoso.

Além da Odisseia e da Ilíada, que representam os


fundamentos da civilização ocidental, todas as nações
possuem uma narrativa épica fundadora, caso do Gil-
gamesh, que narra a história da antiga Mesopotâmia
ou do Bewolf, marco da literatura anglo-saxã. Em lín-
gua portuguesa, o texto fundador é o longo poema
épico escrito por Camões, que narra as aventuras de
Vasco da Gama: Os Lusíadas. Observe o início do Can-
Fig. 04 - Os Lusíadas. to I desse poema:

As armas e os barões assinalados


Que, da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Trapobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,

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E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas


Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando:
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

(CAMÕES, 1986, p.71)

No fragmento, você percebe que o narrador promete espalhar por toda parte a
história heroica do povo lusitano, ao narrar as aventuras daqueles navegantes que via-
jaram “muito além da Trapobana”, que devastaram as terras da África e da Ásia, levan-
do o império lusitano a expandir-se. Esses feitos, diz ele, imortalizaram esses Barões
assinalados – os navegantes.

Agora que você conhece um pouco melhor essa narrativa fundadora, que é a
poesia épica, que tal conhecer outras formas narrativas, igualmente antigas e também
muito importantes para a construção das sociedades? Antes disso, no entanto, dê uma
paradinha e faça um breve exercício de fixação do conteúdo já estudado.

Mãos à obra

1. Indique os elementos que constituem cada um dos gêneros


a seguir, não apenas de acordo com o que você compreendeu
desta Aula, mas com a leitura de outros textos, como A poética
de Aristóteles, que você encontra no material complementar
desta Aula.

a) Poesia épica
b) Tragédia
c) Comédia

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Assim é

2. O caso do romance

O primeiro indício da evolução que vai culminar na morte da narrativa é o


surgimento do romance no início do período moderno.
(BENJAMIN, 1985, p. 200).

Para o teórico Walter Benjamin, o surgimento do romance marca uma crise da


narrativa e seu fim, pensando no parâmetro da narrativa tradicional e na epopeia, con-
siderada por ele a origem do gênero romanesco. Em seu ensaio O narrador, Benjamin
aponta a experiência e a memória como a origem da narrativa humana.

Experiência e memória se uniam à voz do narrador mítico original (o parâmetro,


aqui, é Homero, o criador da Odisseia). Esse narrador tradicional contava histórias base-
adas em sua experiência, em seus conhecimentos e em sua memória. Essas histórias
eram contadas oralmente, em locais públicos, assim essa era uma experiência coletiva,
compartilhada.

O romance, por sua vez, diz ele, é um gêne-


ro da modernidade, da burguesia, do homem
individualista e do leitor solitário. “A origem do
romance é o indivíduo isolado, que não pode
mais falar exemplarmente sobre suas preocupa-
ções mais importantes e que não recebe consel-
hos nem sabe dá-los.” (BENJAMIN, 1985, p. 201).
É tanto que, para Benjamin, o primeiro grande
Fig. 05 - Dom Quixote e Sancho. livro do gênero romanesco é o Dom Quixote, de
Miguel de Cervantes. O livro que traz um herói
em conflito consigo mesmo e com o mundo e,
nas palavras de Benjamin, “sem a menor centelha de sabedoria” (1985, p.201). Além
disso, cuja narrativa se baseia não em um conhecimento passado pela experiência
(caso da épica), mas, pretensamente, em manuscritos encontrados pelo narrador. Dom
Quixote narra as desventuras de um personagem que, em conflito com a realidade,
escolhe o sonho e vive suas fantasias ao mesmo tempo cômicas e dramáticas.

Mikhail Bakhtin, em seu ensaio Epos e Romance, também percebe o liame entre a
poesia épica e o romance. Mas, diz ele, o romance, embora marque o fim da narrativa
tradicional, indica o início de uma nova forma de narrar. Ele acredita também que o
romance é o gênero do mundo moderno e, por isso, diz ele, é um gênero em devir, ou
seja, em formação:

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Ao lado dos grandes gêneros, só o romance é mais jovem do que a escritura
e os livros, e só ele está organicamente adaptado às novas formas da percep-
ção silenciosa, ou seja, à leitura. [...] O estudo dos outros gêneros é análogo
ao estudo das línguas mortas; o romance é como o estudo das línguas vivas,
principalmente as jovens.
(BAKHTIN, 1990, p.397)

A semelhança entre o épico e o romanesco está na junção de múltiplas narrati-


vas em um mesmo gênero. Está também na presença da mediação de um narrador e
na importância do herói. Mas o herói romanesco está longe de ser o mesmo tipo de
herói do épico. Enquanto, na poesia épica, o herói é construído a partir de aspectos
positivos, representa os homens naquilo que eles têm de melhor ou superior, está em
comunhão com os deuses e representa uma coletividade, na narrativa romanesca, o
mundo do herói e ele mesmo estão ao revés.

O herói do romance é problemático, permeado dos


mais diversos conflitos. De acordo com Lukács, em sua Teoria
do Romance, os heróis romanescos estão sempre em busca,
não possuem um percurso traçado, constroem seus próprios
caminhos e também apresentam maior densidade psicológica.
Evidentemente, isso se dá em diferentes graus, de acordo com
o tipo de romance e com sua maior ou menor familiaridade
ao mundo contingencial e moderno a que ele remete. Ou seja,
um romance histórico ou que resgate uma lenda do passado,
por exemplo, como O guarani, de José
Fig. 06 - O guarani. de Alencar, pode apresentar um herói
mais positivo e mais próximo do herói
tradicional. Já um romance mais ligado ao mundo contem-
porâneo, como Vidas Secas, de Graciliano Ramos, apresenta
um herói tão problemático, Fabiano, que está em conflito com
a sociedade (ele e sua família não têm casa, não têm emprego,
não têm renda); está em conflito com o outro (não consegue
se comunicar plenamente com ninguém, nem mesmo com sua
família); está em conflito com a natureza (pois depende das
condições climáticas para ter onde morar e onde trabalhar); e
está em conflito consigo mesmo (não articula bem a lingua- Fig. 07 - Cartaz do filme
gem e, portanto, não consegue articular seu pensamento). Vidas secas.

O narrador do romance também difere do narrador épi-


co. O narrador romanesco é inseguro, não fala com base em sua sabedoria ou em sua
experiência, mas reflete sobre o mundo e sobre a existência. Georg Lukács afirma que
o mundo helênico (da épica)” [...] é homogêneo e, nem a separação entre o homem
e o mundo, nem a oposição do Eu e do Tu saberiam destruir essa homogeneidade”.
(LUKÁCS, [19- ], p. 31). Já o romance, diz ele, “é a epopeia de um tempo em que a
totalidade extensiva da vida não é já dada de maneira imediata, de um tempo para o

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qual a imanência do sentido ‘a vida se tornou problema, mas que, apesar de tudo, não
cessou de aspirar à totalidade.” (LUKÁCS, [19- ], p.61).

A própria estrutura do romance está em constante modificação. Ele pode ser uma
longa narrativa, também pode apresentar recursos técnicos inovadores (discurso indi-
reto livre, monólogo interior, fluxo de consciência). O romance pode absorver outros
gêneros (cartas, por exemplo, caso do romance epistolar), enfim, ele pode se construir
de maneiras completamente distintas e ainda assim permanecer um romance, posto
que preso a uma estrutura narrativa longa, com a presença de um herói e de múltiplas
pequenas narrativas que o complementam.

Mas, por enquanto, vamos passar adiante e refletir sobre outras narrativas tam-
bém presentes na modernidade em nossa próxima aula. Antes disso, porém, mais um
pequeno exercício se faz necessário.

Mãos à obra

1. Estabeleça um quadro comparativo entre a epopeia e o ro-


mance, esclarecendo o que distingue esses dois gêneros no que
tange a cada elemento apresentado na tabela abaixo.

ASPECTO/ GÊNERO EPOPEIA ROMANCE

Narrador

Herói

Estrutura

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Já sei!

Nesta Aula, você estudou os primórdios da divisão entre os gêneros, a partir da


teoria de Aristóteles. Conheceu a constituição da poesia épica a partir de alguns aspec-
tos como o narrador e o herói tradicionais, assim como compreendeu o que diferencia
esse gênero de outros, caso do romance. Você também aprendeu os aspectos que
constituem o romance como um gênero em eterna construção.

Autoavaliação

Faça uma pesquisa entre os gêneros narrativos que você conhece ou já leu e
identifique os traços épicos ou romanescos que esses livros possuem. Para isso, pes-
quise mais acerca da poesia épica e do romance. Por exemplo, que poesia épica você
poderia identificar como base da cultura hispânica? E no Brasil? Você conhece textos
de nossa literatura que possam ser considerados épicos?

Leitura complementar

Que tal conhecer um pouco mais sobre teoria da narrativa? Leia a conferência do
professor e pesquisador Davi Arrigucci Jr sobre Teoria da narrativa: as posições do nar-
rador. Esse material está disponível em <http://pt.scribd.com/doc/61633264/TEORIA-
DA-NARRATIVA>.

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Referências

ARISTÓTELES. Poética. Disponível em:<http://www.dominiopublico.gov.br/download/


texto/cv000005.pdf>. Acesso em: 15 de janeiro de 2012.

BAKHTIN, Mikhail. Epos e romance. In: ______. Questões de literatura e de estética: a


teoria do romance. 2 ed. São Paulo: HUCITEC, 1990.

BENJAMIN, Walter. O narrador. In: _______.Obras escolhidas: magia e técnica, arte e


política. 4. ed. Trad. de Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1985.

CAMÕES, Luis de. Os lusíadas. Porto: Porto Editora, 1986.

HOMERO. Odisseia. 3. ed.Tradução de Donaldo Schüler. Porto Alegre: L&PM, 2007.

LUKÁCS, Georg. Teoria do romance. Trad Alfredo Margarido. Lisboa: Editorial Pre-
sença, [19- ].

STALLONI, Yves. Os gêneros literários. 3. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2007.

Fonte das figuras


Fig. 01 - http://joaoesocorro.files.wordpress.com/2011/12/061008_gato-preto.jpg

Fig. 02 - http://www.pequenopolisba.com.br/wp-content/uploads/2012/04/historias.jpg

Fig. 03 - http://3.bp.blogspot.com/_gfzqx7A3CkI/S-MKYiVjf6I/AAAAAAAAAE4/GgKwZt_JgQo/
S724/210420_0_5%5B1%5D.jpg

Fig. 04 - http://viveastuasescolhas.blogspot.com.br/2012/11/os-lusiadas.html

Fig. 05 - http://3.bp.blogspot.com/-GH5L_G4PJoM/ULlUl6nEuCI/AAAAAAAAA70/0MBelyfB1Q0/s1600/Don_Quixote.jpg

Fig. 06 - http://2.bp.blogspot.com/_mXn6WUW8hlk/S1HwNuxkJOI/AAAAAAAACfw/QblJeYqY8bY/s400/jose_
alencar+O+Guarani.jpg

Fig. 07 - http://www.meucinemabrasileiro.com/filmes/vida-secas/vidas-secas-poster01.jpgFig. 08 -

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