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Capitulo 5 A MENTE FEMININA NUM CINEMA MASCULINO Até a0 inicio dos anos 80, a imagem da mulher no cinema corresponde a um singular proceso de criaga0 de uma identidade pelos homens que a filmaram, dentro de arquétipos fechados e estruturas narrativas lineares. Ainda assim, em alguns momentos da Histéria do Cinema, as criticas feministas seriam absorvidas, ao ponto de se procurar atingir @ espectadora-mulher © incitar os seus mecanismos de identificagao. Nessa perspectiva, os anos 40 e 50 foram décadas de producao fi os denominados women’s films nica particularmente dirigidas as espectadoras, com Nao revestido de unanimidade conceptual, o género cinematogréfico pressupde a centralidade da presenca feminina ao longodetodaanarrativaeodire: jonamento a uma audiéncia também essencialmente feminina, mimetizando sonhos, perspectivas e ansiedades. No entanto, segundo Mary Ann Doane, 0 que passou a ser oferecido ao piiblico nao correspondeu a um maior realismo da imagem da mulher (nem sequer a um cerotismovespectacularizagao da imagem do homem), ‘mas a sua prépria idemtficagdo enquanto icone e objecto de desejo. 0 resultado da tentativa de colocagao da sua subjectividade no ecra traduzir-se-ia numa profunda instabilidade © incoevéncia, uma vez que a mulher que inicia a narrativa como voz principal termina invariavelmente silenciada. Asensivel Como exemplos da ‘impossibilidade de direeyao a um espectador feminino”, Mary Ann Doane cita Rebecca (Alfred Hitchcock: 1940) e Caught (Max Ophliis: 1949). Em ambos os filmes, segundo a autora, a fantasia feminina independentemente de ser realizada pelo marido, pelo amante ou pela fa Reflecte-se, por isso, uma manifesta obsessio com certos mecanismos ) 6 exibida como uma persegui¢ao que transmite medo e ansiedade. fisicos associados & feminilidade (como o masoquismo, a histeria ou a paranéia), numa estrutura que a autora revé em todos os filmes do género. Apesar de nao desenvolver o seu ponto de vista, é notério que o rosto de Joan Fontaine (ou Mrs. de Winter), em Rebecca, corresponde ao arquétipo da menina ingénua e apaixonada, que se subjuga & tortura psicoldgica exercida pela governanta da casa ¢ ao desafecto por parte do marido, No gesto teatral que protagoniza aquando do julgamento daquele em tribunal anova Mrs. de Winter chega a desmaiar perante a possibilidade de Maxim ser considerado culpado pelo homiefdio da primeira mulher magens 15 e 16: Fotogramas de Rebecea (Alfred Hitchcock: 1940), nos quais a governante da casa tortura psicologicamente a frgil Mrs. de Winter. Imagens retiradas de: hupsiwww: vdbeaver-com/fmidvdcompare/rebecca hima. Site consultado em 7 de Setembro de 2013. .J4 em Caught, Ophltis assume-se como cineasta de boas intengdes ao filmar uma mulher com maior grau de emancipagao. Leonora Eames personifica a avidez, encarando a actividade de modelo como um passaporte para conhecer 0 seu futuro ¢ idealmente rico marido. © sonho desvanece- se quando a jovem se apereehe da loucura e dos mecanismos de poder associados & fortuna de Smith Ohlrig, com quem casara, 0 desconforto perante a invisibilidade a que é votada consagra-se na cena em que incita © marido a encaré-la: “Look at me! Look at what you bought!/olha para mim! Olha para o que tu compraste!” Mais consciente, Leonora opta pela independéncia financeira ¢ por uma profissao onde a sua beleza nao é explorada, conquistando o progressivo interesse ¢ afecto de Larry Quinada, ‘Ao médico do consultério onde come¢a a trabalhar, caberd o exercicio da fungao masculina de salvador. 0 estatuto de heréi do filme é assumido quando demonstra a Leonora @ importéncia de sentimentos imateriais, a0 ‘mesmo tempo que a tranquiliza por ter ignorado 0 ataque eardiaco de Smith ¢ pelas condigies adversas que precipitam o final da gravider, Sobre este aspecto, pode estabelecer-se um paralelismo com outra obra de Ophliis, Letter from an unknow woman (1948), na qual a mulher invisive, apaixonada por um homem que nio & 0 seu marido, 6 tragicamente castigada com a morte do filho ¢, mais tarde, com a 1a propria morte, ‘Também em Caught, Leonora dé a luz uma crianga prematura que morre a0 nascer, libertando a mae da sua ligagao a Smith. A poesia das imagens de alguns dos mais belos filmes da Hist6ria do Cinema é assim contraposta aos, destinos tragicos das personagens femininas e das criancas concebidas sem. amor, Ao mesmo tempo, é também notéria uma devo¢ao comum prestada s personagens masculinas, as quais 6 atribuido o poder de resgate da folicidade plena. Reconhecendo o esforga de Hitchcock © Ophliis de nao- espectacularizagao da mulher enquanto objecto do vayeurismo masculino, Mary Ann Doane acaba por coneluir que as tentativas de ambos adquiriram, contornos obsessivos e muito stantes da subjectividade feminina. No mesmo sentido, também para Molly Haskell os woman's films representam a conjugacao perfeita dos desejos insatisfeitos de uma menina Virgem com os de uma escritora idosa: “A imagem final é a de tardes molhadas e desperdigadas.” Discordando com a generalizagao do conceito — por entender que deverao existir tantos tipos de filmes de mulheres como diferentes tipos de personalidades femininas —, a autora rclembra que um filme centrado nas relagdesentre homens édesignado como “drama”, nao sendo pejorativamente apelidado de “filme de homens”. Num nivel hierarquico inferior, os woman's films, como as telenovelas, serdo uma espécie de “pornografia emocional soft-core para donas de casa frustradas", com teméticas invariavelmente restritas a uma das seguintes categorias (por vezes, sobrepostas ou combinadas)

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