Vous êtes sur la page 1sur 4

Superior Tribunal de Justiça

Revista Eletrônica de Jurisprudência

Imprimir

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.107.511 - RS (2008⁄0265338-9)

RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN


AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE PELOTAS
PROCURADOR : GILKA SANTOS SILVEIRA E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
INTERES. : J P DOS S (MENOR)
REPR. POR : RLP
ADVOGADO : INEZITA SILVEIRA DA COSTA E OUTRO(S)
EMENTA
ADMINISTRATIVO. CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. POSSIBILIDADE EM CASOS EXCEPCIONAIS –
DIREITO À SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. MANIFESTA NECESSIDADE. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA DE
TODOS OS ENTES DO PODER PÚBLICO. NÃO OPONIBILIDADE DA RESERVA DO POSSÍVEL AO MÍNIMO
EXISTENCIAL. NÃO HÁ OFENSA À SÚMULA 126⁄STJ.
1. Não podem os direitos sociais ficar condicionados à boa vontade do Administrador, sendo de suma importância que o Judiciário
atue como órgão controlador da atividade administrativa. Seria uma distorção pensar que o princípio da separação dos poderes,
originalmente concebido com o escopo de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como óbice à
realização dos direitos sociais, igualmente importantes.
2. Tratando-se de direito essencial, incluso no conceito de mínimo existencial, inexistirá empecilho jurídico para que o Judiciário
estabeleça a inclusão de determinada política pública nos planos orçamentários do ente político, mormente quando não houver
comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal.
3. In casu, não há impedimento jurídico para que a ação, que visa a assegurar o fornecimento de medicamentos, seja dirigida contra o
Município, tendo em vista a consolidada jurisprudência do STJ: "o funcionamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é de
responsabilidade solidária da União, Estados-membros e Municípios, de modo que qualquer dessas entidades têm legitimidade ad
causam para figurar no pólo passivo de demanda que objetiva a garantia do acesso à medicação para pessoas desprovidas de recursos
financeiros" (REsp 771.537⁄RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 3.10.2005).
4. Apesar de o acórdão ter fundamento constitucional, o recorrido interpôs corretamente o Recurso Extraordinário para impugnar tal
matéria. Portanto, não há falar em incidência da Súmula 126⁄STF.
5. Agravo Regimental não provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA Turma do Superior
Tribunal de Justiça: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a).
Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Eliana Calmon (Presidenta) e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro
Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Mauro Campbell Marques.

Brasília, 21 de novembro de 2013(data do julgamento).

MINISTRO HERMAN BENJAMIN


Relator

AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.107.511 - RS (2008⁄0265338-9)

RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN


AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE PELOTAS
PROCURADOR : GILKA SANTOS SILVEIRA E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
INTERES. : J P DOS S (MENOR)
REPR. POR : RLP
ADVOGADO : INEZITA SILVEIRA DA COSTA E OUTRO(S)

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Cuida-se de Agravo Regimental interposto contra decisão que
negou seguimento ao recurso.
A parte agravante aduz que não possui legitimidade para compor a presente relação processual (fl. 184, e-STJ).
Registra que o pedido formulado pelo recorrente é impossível, pois o procedimento em questão não foi padronizado pelo SUS (fl. 184,
e-STJ).
Afirma que as Súmulas 356⁄STF e 211⁄STJ foram mal utilizadas, porquanto o Município não prequestionou a matéria e, alem disso
pretende reexaminar provas (fl. 182, e-STJ).
Suscita que o acórdão recorrido se assenta em fundamentos constitucionais e infraconstitucionais aptos, qualquer um deles, para
manter o decisum (fl. 183, e-STJ).
Argui que o princípio da reserva do possível deve ser observado, pois trata-se de utilização de recurso público (fl. 188, e-STJ).
Pleiteia a reconsideração do decisum agravado ou a submissão do recurso à Turma.
É o relatório.
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.107.511 - RS (2008⁄0265338-9)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os autos foram recebidos neste Gabinete em 11.11.2013.
As preliminares levantadas pelo Município não possuem fundamentos suficientes para invalidar a decisão monocrática. O Recurso
Especial interposto pelo Ministério Público obedeceu a todas as regras processuais, inclusive prequestionou a matéria impugnada.
Além disso, não houve reapreciação de provas pelo decisum ora atacado; portanto, não houve a incidência da Súmula 7 do STJ.
O Agravo Regimental não merece prosperar, pois a ausência de argumentos hábeis para alterar os fundamentos da decisão ora
agravada torna incólume o entendimento nela firmado. Dessa forma não há falar em reparo na decisão, pelo que reitero o seu teor (fls.
164-167, e-STJ):
No que tange à responsabilidade em prover o tratamento de saúde da pessoa humana, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
firmou-se no sentido de que é dever do Estado fornecer gratuitamente às pessoas carentes a medicação necessária para o efetivo
tratamento médico, conforme premissa contida no art. 196 da Constituição Federal.
Ainda, considerando que o Sistema Único de Saúde é financiado pela União, Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, nos
termos do art. 198, § 1º, da Constituição Federal, pode-se afirmar que é solidária a responsabilidade dos referidos entes no
cumprimento dos serviços públicos de saúde prestados à população.
O direito constitucional à saúde faculta ao cidadão obter de qualquer dos Estados da federação (ou Distrito Federal) os medicamentos
de que necessite, sendo dispensável o chamamento ao processo dos demais entes públicos não demandados.
Desse modo, fica claro o entendimento de que a responsabilidade em matéria de saúde, aqui traduzida pela distribuição gratuita de
medicamentos em favor de pessoas carentes, é dever do Estado, no qual são compreendidos aí todos os entes federativos.
A propósito:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS.


ANÁLISE DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INVIABILIDADE. COMPETÊNCIA DO STF RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DOS ENTES FEDERATIVOS. LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO ESTADO.
1. A presente divergência (legitimidade passiva da União nas pretensões de fornecimento de medicamentos) não guarda similitude
com a matéria submetida ao procedimento do art. 543-C do CPC no REsp 1.102.457⁄RJ.
2. Não cabe ao STJ examinar, no recurso especial, violação de preceitos e dispositivos constitucionais, tendo em vista a necessidade
de interpretar matéria cuja competência é exclusiva da Suprema Corte, nos termos do art. 102 da CF.
3. O funcionamento do Sistema Único de Saúde é de responsabilidade solidária da União, dos Estados e dos Municípios, de modo que
qualquer um desses entes têm legitimidade ad causam para figurar no polo passivo de demanda que objetiva a garantia do acesso a
medicamentos para tratamento de problema de saúde. Precedentes do STJ.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no Ag 1424474⁄BA, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJe 22⁄08⁄2013).

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO RECEBIDOS COMO AGRAVO REGIMENTAL. PRINCÍPIO DA


FUNGIBILIDADE. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DOS ENTES POLÍTICOS.
1. Esta Corte adota entendimento segundo o qual a responsabilidade dos entes políticos é solidária quanto ao cumprimento dos
serviços públicos de saúde prestados à população, haja vista o conteúdo do art. 198, § 1º da Constituição Federal, que determina o
financiamento do Sistema Único de Saúde pela União, Estados- membros, Distrito Federal e Municípios.
2. A presente demanda (legitimidade passiva da União para fornecimento de medicamentos) não guarda similitude com as matérias
submetidas ao procedimento do art. 543-C do CPC no RESP 1.102.457⁄RJ.
3. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental, ao qual se nega provimento.
(EDcl no AREsp 240.955⁄SC, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, DJe 20⁄08⁄2013).

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. ALEGADA NECESSIDADE DE SOBRESTAMENTO DO PROCESSO, EM FACE


DA SUBMISSÃO DO RECURSO ESPECIAL Nº 1.102.457⁄RJ À SISTEMÁTICA DE JULGAMENTO DE RECURSOS
REPETITIVOS. IMPROCEDÊNCIA. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO.
SOLIDARIEDADE ENTRE UNIÃO, ESTADOS E MUNICÍPIOS. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.
(...)
2 - O Superior Tribunal de Justiça, em reiterados precedentes, tem decidido que o funcionamento do Sistema Único de Saúde - SUS é
de responsabilidade solidária dos entes federados, de forma que qualquer deles tem legitimidade para figurar no polo passivo de
demanda que objetive o acesso a medicamentos.
3 - Agravo regimental a que se nega provimento.
(AgRg no REsp 1284271⁄SC, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe 02⁄08⁄2013).

Outro ponto discutido, quando da análise do Recurso Especial, diz respeito à insuficiência de recursos financeiros para o custeio de
todas as obrigações que a Constituição e as normas infraconstitucionais impõem ao estado.
A teoria da reserva do possível, importada do Direito alemão, tem sido utilizada constantemente pela administração pública como
escudo para se recusar a cumprir obrigações prioritárias.
Não deixo de reconhecer que as limitações orçamentárias são um entrave para a efetivação dos direitos sociais. No entanto, é preciso
ter em mente que o princípio da reserva do possível não pode ser utilizado de forma indiscriminada.
Na verdade, o direito alemão construiu essa teoria no sentido de que o indivíduo só pode requerer do estado uma prestação que se dê
nos limites do razoável, ou seja, na qual o peticionante atenda aos requisitos objetivos para sua fruição.
Informa a doutrina especializada que, de acordo com a jurisprudência da Corte Constitucional alemã, os direitos sociais prestacionais
estão sujeitos à reserva do possível no sentido daquilo que o indivíduo, de maneira racional, pode esperar da sociedade (Krell.
Andreas J. Controle judicial dos serviços públicos na base dos direitos fundamentais sociais in SARLET, Ingo Wolfgang (org. ). A
Constituição Concretizada – Construindo Pontes entre o Público e o Privado . 2000, p. 41).
Ora, não se podem importar preceitos do direito comparado sem atentar para as peculiaridades jurídicas e sociológicas de cada país. A
Alemanha já conseguiu efetivar os direitos sociais de forma satisfatória, universalizou o acesso aos serviços públicos mais básicos, o
que permitiu um elevado índice de desenvolvimento humano de sua população, realidade ainda não alcançada pelo Estado brasileiro.
Na Alemanha, os cidadãos já dispõem de um mínimo de prestações materiais capazes de assegurar existência digna. Por esse motivo é
que o indivíduo não pode exigir do estado prestações supérfluas, pois isto escaparia do limite do razoável, não sendo exigível que a
sociedade arque com esse ônus. Eis a correta compreensão do princípio da reserva do possível, tal como foi formulado pela
jurisprudência germânica.
Situação completamente diferente é a que se observa nos países periféricos, como é o caso do Brasil. Aqui ainda não foram
asseguradas, para a maioria dos cidadãos, condições mínimas para uma vida digna. Neste caso, qualquer pleito que vise a fomentar
uma existência minimamente decente não pode ser encarado como sem razão, pois garantir a dignidade humana é um dos objetivos
principais do Estado brasileiro. É por isso que o princípio da reserva do possível não pode ser oposto a um outro princípio, conhecido
como princípio do mínimo existencial.
Desse modo, somente depois de atingido esse mínimo existencial é que se poderá discutir, relativamente aos recursos remanescentes,
em quais outros projetos se deve investir. Ou seja, não se nega que haja ausência de recursos suficientes para atender a todas as
atribuições que a Constituição e a Lei impuseram ao estado.
Todavia, se não se pode cumprir tudo, deve-se, ao menos, garantir aos cidadãos um mínimo de direitos que são essenciais a uma vida
digna, entre os quais, sem a menor dúvida, podemos incluir o pleno acesso a um serviço de saúde de qualidade.
Esse mínimo essencial não pode ser postergado e deve ser a prioridade primeira do Poder Público. Somente depois de atendido o
mínimo existencial é que se pode cogitar a efetivação de outros gastos.
Por esse motivo, não havendo comprovação objetiva da incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, inexistirá empecilho
jurídico para que o Judiciário determine a inclusão de determinada política pública nos planos orçamentários do ente político.
Finalmente, esclareça-se que, apesar de o acórdão ter fundamento constitucional, o recorrido interpôs corretamente o Recurso
Extraordinário para impugnar tal matéria. Portanto, não há falar na incidência da Súmula 126⁄STF.
Ausente a comprovação da necessidade de retificação a ser promovida na decisão agravada, proferida com fundamentos suficientes e
em consonância com entendimento pacífico deste Tribunal, não há prover o Agravo Regimental que contra ela se insurge.

Por tudo isso, nego provimento ao Agravo Regimental.


É como voto.

CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA
AgRg no
Número Registro: 2008⁄0265338-9 REsp 1.107.511 ⁄ RS
Número Origem: 70025946229

PAUTA: 21⁄11⁄2013 JULGADO: 21⁄11⁄2013


SEGREDO DE JUSTIÇA
Relator
Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN

Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON

Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. BRASILINO PEREIRA DOS SANTOS

Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


RECORRIDO : MUNICÍPIO DE PELOTAS
PROCURADOR : GILKA SANTOS SILVEIRA E OUTRO(S)
INTERES. : J P DOS S (MENOR)
REPR. POR : RLP
ADVOGADO : INEZITA SILVEIRA DA COSTA E OUTRO(S)

ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Serviços - Saúde - Tratamento
Médico-Hospitalar e⁄ou Fornecimento de Medicamentos

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : MUNICÍPIO DE PELOTAS


PROCURADOR : GILKA SANTOS SILVEIRA E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
INTERES. : J P DOS S (MENOR)
REPR. POR : RLP
ADVOGADO : INEZITA SILVEIRA DA COSTA E OUTRO(S)

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte
decisão:

"A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Og Fernandes, Eliana Calmon (Presidenta) e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Mauro Campbell Marques.

Documento: 1284133 Inteiro Teor do Acórdão - DJe: 06/12/2013

Vous aimerez peut-être aussi